Momentos em Três Tempos

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Direitos autorais, venda e distribuição cedidos pelo autor à Planeta Azul Editora www.planetazuleditora.com.br | e-mail: planetazul2014@yahoo.com.br Copyright © 2013 by Maria de Lourdes Brandão Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. ISBN: 978-85-8255-024-3 Projeto gráfico e editoração eletrônica: Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Revisão: Guilherme Coimbra e Aped - Apoio e Produção Editora Ltda. Capa: Zélia de Oliveira Foto da autora: A Floresta de Selingestadt CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros – RJ B818m Brandão, Maria de Lourdes. Momentos : em três tempos / Maria de Lourdes Brandão. - Rio de Janeiro : APED, 2013. ISBN 978-85-8255-024-3 1. Poesia brasileira. I. Título. 13-1120.

CDD: 869.91 CDU: 821.134.3(81)-1

20.02.13 22.02.13 042950 Este livro foi revisado de acordo com o novo acordo ortográfico da língua portuguesa exceto o prefácio do escritor, poeta e crítico português, Cláudio Lima. Aped - Apoio & Produção Editora Ltda. Rua Sylvio da Rocha Pollis, 201 – bl. 04 – 1106 Barra da Tijuca - Rio de Janeiro – RJ – 22793-395 Tel.: (21) 2498-8483/ 9996-9067 www.apededitora.com.br aped@wnetrj.com.br

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para o manfred

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“a poesia é um recurso mágico, que permite dar forma ao que desconhecemos”

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a vida ĂŠ feita de momentos momentos tecem a trama da vida

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Sumário

A minha leitura de MOMENTOS................ 13 a espera................................................... 25 a espera...........................................................27 cansaço...........................................................28 só.....................................................................29 paixão.............................................................30 tu.....................................................................31 a poesia...........................................................32 raça maldita....................................................33 amor perdido...................................................34 é bom...............................................................35 pecado.............................................................36 para onde?.......................................................37 para um homem que vai chegar......................38

o amor.................................................... 41 basta de sofrer!................................................45 amor ao entardecer.........................................47 bom dia............................................................48 a floresta de selingestadt ................................49 na basílica de seligenstadt ............................51 11

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anoitecer à beira-mar......................................53 confissão.........................................................54 madrugada 1...................................................56 madrugada 2...................................................57 noite de lua cheia.............................................58 a casa da montanha........................................59 é bom sentir o amor.........................................61 medo................................................................63

a caminhada........................................... 65 um dia.............................................................67 ondas...............................................................68 momento de paz..............................................69 entardecer........................................................70 a nascente.......................................................71 angra dos reis (no icar)...................................72 fukushima (na televisão).................................73 momento de lucidez.........................................75 poetas e loucos................................................77 as rugas...........................................................78 outono em detroit.............................................79 balanço ...........................................................80 último momento ..............................................81 tempos “mudernos”.........................................83 receita sábia....................................................86 sombra arredia................................................87 eterno descanso...............................................89

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A minha leitura de MOMENTOS

Muitos poetas e teóricos da poesia, tantos caminhos e modelos de aproximação à sua mais genuína e delimitada matriz têm tentado, que não raras vezes se perdem, pávidos e confusos, em tramas de labirinto indevassáveis; deixam-se conduzir em roda livre a pioneirismos mal formulados e mal assimilados, em que o autêntico e o legível cedem a um processo caótico de mero e estéril verbalismo. No que concerne à poesia ocidental moderna (conceito e espaço cada vez mais vazios e artificiais), essa obsessão pelo novo e fratural tem originado frequentes equívocos, sofismas e perplexidades. Pode o poema deixar de cumprir um desígnio de natureza lírica e vernácula, em discursividade partilhável na dupla componente estética e canónica? É-lhe permitido levar o arrojo a extremos de insignificância e dissolução semântica, reduzindo-se a uma arbitrária expressão de ludicidade verbal? Ténues embora, vão surgindo indícios de um despertar para esta problemática; uma como que correção de rota, rumo a Ítaca. Ou seja, à consciencialização, por parte de poetas e poetólogos, de que o discurso poético não pode constituir-se em puzzle críptico e elítico, acessível apenas a meia dúzia de confrades, com 13

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o aplauso acéfalo e manipulado de outra meia dúzia de seguidores. É suspeitável, até, que no próprio seio dessas academias vanguardistas e iconoclásticas, a compreensão da verbosidade que destilam se fique mais por divagação aleatória do que se fundamente em razoável suporte estético-doutrinário. Não se deduza destas observações que preconizo uma poética básica e destituída de ousadia inovadora. Seria a mais retrógrada e aberrante atitude, ignorando que a poesia, em qualquer idioma, será sempre o mais dinâmico e inventivo instrumento da sua identidade cultural, lexical e artística. O que aqui se denuncia — e muitos outros muito melhor o têm feito — é o vezo de um hermetismo árido e de uma prolixidade desmotivadora, quando não de uma verborreia invertebrada, arvorados em última e intocável encíclica do credo poético. Certamente que cabe à poesia, como a mais acessível e democratizada expressão artística, promover a beleza e a bondade, no mais fiel e elevado espírito que Sócrates atribuiu a tais conceitos. “Liberdade livre” na famosa síntese de Rimbaud, dela se espera, antes de mais, que devasse os estados interiores do ser humano e exalte os sempre maravilhosos prodígios da natureza, sem outros constrangimentos que os impostos pelo código deontológico a que a atividade literária também deve submeter-se. O que de todo a não impede de buscar originalidade e inovação, de explorar as esferas da simbologia e da metáfora, de experimentar todas as virtualidades linguísticas e todos os voos da imaginação. *** Pretendo com esta breve introdução falar de uma poeta (grifo poeta e não poetisa, por entender que a poesia não tem sexo, mesmo quando deliciosamente erótica) que sabe o sentido e o sabor de cada palavra com que, num vagar de apuro formal, vai dando expressão aos sentimentos, às pulsões, aos picos de plenitude e às quedas depressivas que alternam o seu e o nosso biorritmo. Chama-se Maria de Lourdes Brandão, é luso-brasileira, jornalista de mérito reconhecido, tem-se afirmado como entusiasta 14

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e incansável interlocutora entre os dois povos irmãos e as duas culturas interagentes. Abstraindo da sua obra de ficção, reportagem, memorialismo e biografia, fixemo-nos na sua dimensão poética, aferível através de títulos tais como Vivências (1994), O Suspirar do Tempo (1997) e, agora, este Momentos. Por dificuldades de recolha minimamente abrangente, excluem-se as representações em antologias e outras obras coletivas, assim como a variada colaboração poética em jornais e revistas de ambos os lados do Atlântico. A ela se deve, anote-se, a organização e publicação de uma Antologia de Poetas Portugueses e Brasileiros (1996), enaltecida pelas autoridades e aplaudida pela imprensa de ambos os países. Maria de Lourdes Brandão não precisa de se refugiar em qualquer reduto de linguagem para ocultar desertos de sentimento. Nela, as emoções, os impulsos, os momentos reflexivos constituem-se em despertadores de criatividade, rejeitando que seja a passiva palavra, por associações indutivas, a comandar e fixar o “produto” poético. A inspiração (palavra e conceito obsoletos para certos iluminados das novíssimas teorizações) é-lhe a força motriz de um lirismo límpido, acessível, disciplinado. No primeiro dos citados livros e logo no primeiro poema selecionado, podemos ler: Não minto quando confesso esta verdade papel-lápis-palavras são coisas abstractas mas a mim, ajudam-me a viver (Vivências, p. 9) E é a partir desta atitude, “de alma e coração abertos de par em par” (Id. p. 10), que ela revela o seu mundo, ora organizado e racional, ora caótico e absurdo; um mundo onde é testemunha e denunciante de tudo quanto constantemente constitui ameaça à 15

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natureza e à humanidade. Mas esse mesmo mundo onde também são possíveis coisas nobres e sublimes como o amor, a amizade, a solidariedade e o altruísmo. Por isso pode exclamar: É tão bom sentir a beleza no desfolhar de uma rosa no corpo de uma mulher na tristeza de um adeus (Obra citada, p. 23) e, em sentido inverso: Esquecemos pessoas. Apagamos amores na cinza do tempo enquanto outros ficam gravados a fogo. A fogo, no sangue e na memória. Mágoas deixam cicatrizes. Injustiças deixam revoltas. Um dia, começam as perguntas Por quê? Para quê?

(Id, p. 56)

Em O Suspirar do Tempo vamos deparar com os mesmos ideais, idênticas preocupações e presságios, porventura mais apurados e aprofundados, fruto da vivência de um tempo que deixa após si um suspirar de fluidez e uma vertigem de irreversibilidade. Mas também a respiração de um tempo primordial, sem extensão nem domínio sobre os seres e as coisas. Leia-se: O suspirar do tempo passou por mim ao de leve trazido pelo vento Senti um arrepio. Era um arfar cansado. Um gemido triste Um suspiro contido desde pré-históricas eras, em que não havia terra homens mulheres feras 16

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nem céu mar estrelas cavernas (O Suspirar do Tempo, p. 25) É, todavia, no tempo real, histórico e fungível, que a vida e a arte se inscrevem. E MLB sabe-o; apreende que importa carregá-lo de sentido em ambos os domínios. Carpe Diem, aconselhava Horácio, que era sábio e não visava, certamente, incitar o destinatário a um mero aproveitamento edonista e amoral da vida terrena. Subjaz a tal conselho a busca de uma racional e plena gestão da pluridimensional capacidade de conferir um sentido à vida. MLB navega essa rota, subscreve esse código de conduta. Bem evidente, aliás, na escolha da epígrafe de Alfonse Lamartine reproduzida no limiar da obra: Vi demais Senti demais Amei demais, durante a vida (Obra citada, p. 17) Em poemas ora de longo fôlego, ora de composição breve, concomitantes a um lirismo expressivo, confessional, aqui e ali residualmente autobiográfico, deparamos com composições de diferente teor, exprimindo puras estesias diante da natureza usufruída (Angra dos Reis, o rio Douro), bem como preocupações sociais e denúncias de injustiças que inquinam as relações do homem com o seu semelhante — a camponesa agarrada à enxada por quem A vida passou, nem sentiu… Velha suja cansada, agarrada à enxada, de sol a sol trabalhava… trabalhava… (Id., p. 54) 17

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e com os animais, seus fiéis e dóceis coabitantes — o cão inseparável do cego, “patético vulto” deambulando de praça em praça com seu exausto violino, sempre ele e o cão, unidos pela mesma solidão (Ibdem, p. 63) Nada é indiferente nem subestimável à sensibilidade e à perspicácia do poeta autêntico, imerso num tempo histórico, tenso e instável, com tantos valores secundarizados em benefício de padrões pautados por um imediatismo febril e irresponsabilizante. MLB não cavalga essa onda; se, por um lado, não rejeita as coisas boas e gratificantes que a existência e os afetos partilhados proporcionam, a um nível mais profundo de introspeção e questionamento, à luz de uma mundividência mais desencantada, não deixa de impregnar o seu discurso poético de um halo de desilusão, se não de um ressumo de pessimismo. Todos os dias, dentro de mim cresce um espaço vazio devorado pelas chamas Vulcão em erupção (Ibdem, 95) E mais adiante: Já vai longa a caminhada, o olhar perdido neste mar sem fim a mão parada no branco papel esta angústia do não saber dizer um pensar que explode sem palavras possíveis a humilhante certeza da pequenez humana os olhos cansados de procurar sem ver (p. 117) 18

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