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Solange de Oliveira
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Direitos autorais, venda e distribuição cedidos pelo autor à Planeta Azul Editora www.planetazuleditora.com.br | e-mail: planetazul2014@yahoo.com.br Copyright © 2014 by Solange Oliveira Todos os direitos desta edição reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressa do autor. ISBN: 978-85-8255-133-2
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Vida Eterna é a certeza de que no mundo existe muito mais do que aquilo que nossos olhos podem ver. Portanto, temos bem mais chances de vencer nossos demônios e continuarmos a existir se mantiver nossos corações preenchidos pelo amor.
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Dedico este livro para meu marido Juares, o qual me apoiou, e para a minha filha Caroline, por ter me incentivado.
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Agradeรงo a Deus por sempre estar ao meu lado.
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ionísio, rapaz simples, classe média, cursava o ensino médio em uma escola particular. Filho caçula de uma família gaúcha composta pelo pai Rodolfo, um advogado respeitável, mãe Isadora, mulher forte, professora de história do ensino fundamental e o irmão Artur recém-formado em Direito igual ao pai. Já Dionísio, não tinha ideia do que queria ser, embora admirasse o pai e o irmão, não conseguia se imaginar na magistratura nem tão pouco usando roupas mais formais. Seu estilo era despojado, calça jeans surrada, tênis e camiseta. Os irmãos eram descendentes de italianos por parte do pai; a mãe era alemã, ambos saíram altos, magros, pele morena cabelos pretos e fartos, nariz comprido boca grande, sorriso largo, dentes perfeitos e grandes. Os olhos de Artur eram negros como os do pai; Dionísio tinha azuis como os da mãe e os cílios pareciam serem postiços. E como se não bastasse tamanha beleza, ambos cativavam pela simpatia.Artur era um pouco mais sério, mas não menos simpático, Dionísio era a alegria em pessoa, não havia ninguém que o conhecesse e não se apaixonasse. Na escola era bom aluno adorado pelos professores e pelos colegas, já as meninas suspiravam por ele e estavam sempre o disputando, os meninos já se acostumaram a tê-lo como rival, mas não se importavam, pois até os adversários o admiravam. 11
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Os pais de Dionísio achavam que ele iria ser veterinário, pois o menino tinha um carinho muito especial pelos animais, na infância fez com que o pai comprasse um sítio para colocar os seus animais, já que a família, amigos e padrinhos pareciam não pensarem em outro presente que não fosse um animal, eram cachorros, gatos, coelhos e como se não bastasse o dindo Olavo antes de ser transferido para o Recife, já que era das forças armadas, deu um filhote de ganso que foi a gota d’água, pois Isadora ameaçou ir embora porque o jardim não tinha nem mais um pé de grama, parecia só terra, o que a irritava muito. Cansado de aguentar as reclamações da esposa e não podendo se desfazer dos animais, já que isto significaria em se livrar de Dionísio também, que apesar de na época só ter 10 anos, havia deixado claro que para se livrar da bixarada só se livrando dele. Sendo assim Rodolfo não teve alternativa se não procurar uma imobiliária que lhe apresentou uma infinidades de sítios, dos quais ele escolheu o mais próximo da cidade. Após o negócio feito, anunciou para a família, que no final de semana iriam conhecer o sítio. Isadora, apesar de não gostar do interior, achou o sítio bem simpático e passou todo o sábado e o domingo arrumando a casa; uma casa modesta, mas aconchegante, nada que uma pintura e um toque feminino não a deixasse linda. Os três primeiros anos do sítio foram maravilhosos, até que Artur, já crescido e com outros interesses, não queria mais ir para lá nos finais de semana. Isadora também reclamava da poeira, dos mosquitos, do silêncio exagerado, o cheiro das vacas, enfim achou “1001” motivos para não ir mais, preferia ficar em casa. Dionísio, por sua vez, não via a hora de chegar o sábado para ir para lá, então os pais se revezavam, Artur ficava com a mãe e Dionísio ia com o pai para o sítio, mas o jovem não tardou a perceber que Rodolfo se incomodava, pois era nos finais de semana que tinha para ficar com a esposa, pois os dois trabalhavam fora, ao perceber isto, Dionísio começou a reunir a galera, indo para o interior na sexta e voltando só no domingo à tardinha, desobrigando o pai da companhia, já que não era mais uma criança, estava com quinze anos. 12
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Passaram-se dois anos e Dionísio prestou vestibular para Psicologia, e passou o que encheu os pais de orgulho contrariando o que todos pensavam, já que achavam que o jovem iria ser veterinário. As aulas começaram, e a medida que o curso evoluía, mais apaixonado ele ficava, e mais certeza tinha de que era isto que ele realmente queria. Na faculdade, conheceu uma jovem chamada Maria, um metro e sessenta de altura, pele morena bronzeada, longos cabelos louros, olhos grandes e negros, moça independente e apesar do porte baixo e magro em nada parecia ser frágil; pelo contrário, demonstrava muita coragem e força, e não demorou para despertar o interesse do Dionísio, que até então tinha o coração intacto. O interesse do menino foi logo correspondido. Maria, embora tivesse fama de difícil, rendeu-se aos encantos de Dionísio, e não tardou para que os dois começassem a namorar. A turma era composta de 80% de moças. Os finais de semana eram muito animados, e quando não iam todos para a chácara de Dionísio, iam à uma balada. Dionísio era adepto ao natural, raramente bebia e era o mais animado, já Maria bebia pelos dois. O grupo de amigos era formado pelos casais: Lucas, da engenharia com a Marina da administração, que era amiga da Maria desde o tempo do primário; o Jonas, amigo e colega do Dionísio, desde a pré-escola, agora cursava direito e namorava Patrícia que todos suportavam porque o amigo era muito legal; Pati era metida a besta, que não sabia o que queria da vida e tinha ciúme doentio do namorado, e a Sara que era colega de curso e amiga muito querida de Dionísio e de Maria, era uma espécie de confidente, era inteligente, paciente, destas pessoas que todos se sentem bem em estar perto; sem dúvidas era muito especial, Dionísio e Maria não davam um passo sem chamá-la. Sara, apesar de ser muito alegre e querida, ocultava uma grande tristeza desde que foi trocada por Patrícia, já que fora namorada do Jonas; O namoro deles foi muito curto, para o Jonas nem chegou a ser um namoro, mas para Sara foi muito mais, mesmo assim ela sabia se segurar e ocultar seus sentimentos, porém quando estava só 13
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com Maria e Dionísio não precisava fingir, abria-lhes o coração, e tinha o carinho dos amigos. Sara tinha verdadeira adoração pela doutrina espírita, sabia O Evangelho segundo o Espiritismo de cor e salteado, fã incondicional de Allan Kardec, suas teses faziam Aristóteles e Platão se revirarem no túmulo. Sem dúvida, ela era uma mulher adorável, tinha uma luz muito particular, pele morena clara, olhos verdes e grandes, cabelos lisos pintados de corte Chanel cor avermelhado, que lhe dava um ar de rebeldia, e escondia o louro escuro que Deus lhe deu. Mas tudo isto não condizia com a sua realidade, já que era doce e meiga, Dionísio costumava dizer, que ela pintava os cabelos para ocultar a caretice, o que a fazia rir muito, e então rebatia: — Será que não é justamente para enganá-los, meus amigos, será que não estou colocando a diabinha que sou na cara de vocês, e o fato de me quererem tão bem não os deixam enxergar? — Mas é muito pretensiosa mesmo! Que você é uma diabinha a gente sabe, mas uma diabinha careta. — diz Dionísio jogando uma almofada na cabeça da amiga, já que todos estavam estudando na casa do rapaz. — Posso saber, por que vocês me acham careta? — Ora, porque Sara?! Há quanto tempo estamos saindo juntos, e você não fica com ninguém — respondeu Dionísio. — Não fico com ninguém porque não encontrei quem valesse a pena; e depois, meu amigo, tu e a Maria sabem muito bem que as coisas para mim não são tão fáceis assim — respondeu Sara com a voz embargada e com os olhos cheios de lágrimas. Maria então falou: — Sara, já faz tanto tempo! Jonas já está em outra e você precisa esquecê-lo. — Se eu pudesse minha amiga! Acha mesmo que eu gosto dele por que quero? É muito difícil para mim, cada vez que a gente sai e eu tenho de vê-lo ao lado daquela árvore natalina enroscada no pescoço dele, eu seguro minha onda, nunca deixei que ele ou ela percebessem que me sinto incomodada com a felicidade dos dois. — Ciúmes você quer dizer — continuou Dionísio como que estivesse provocando a amiga para forçá-la por para fora algo 14
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que os amigos percebiam que a incomodava, mas até então não faziam nem um comentário, pensando ser melhor para Sara, mas o jovem achou que já era hora dela falar tudo e virar a página. — Não sei se ciúmes é a palavra certa Dionísio, acho este sentimento feio e digno dos fracos e das almas inferiores, e sempre que este sentimento quer se apoderar de mim, eu oro e ele vai embora, na verdade eu acredito que o Jonas foi meu amor em outra vida e eu o perdi por alguma razão, então tenho de me conformar, estou pagando por algum mau que fiz – falou a jovem melancólica. — Não sei como é que você foi fazer psicologia Sara. — Por que Dionísio? — Perguntou Sara estranhando o amigo. — Porque você devia ter entrado para o convento, e depois ser freira, e passar o resto dos seus dias orando, orando... Quem sabe depois da sua morte, poderia ser canonizada e se tornar a santa Sara, o que acha? — Mas você não é só insensível, é ruim mesmo, venha cá seu peste — disse Sara correndo atrás do amigo por dentro de casa, numa gritaria só. Dionísio pedia socorro para Maria, que estudando, dizia para ele se virar, se a Sara o esbofeteasse ela não moveria um dedo, pois ele merecia. Assim os dias foram passando, depois daquela conversa Sara parecia ter se animado e entre os amigos continuou o pacto de silêncio a respeito dela e Jonas, até mesmo porque não havia mais o que falar, estavam todos muito felizes, saiam todos os finais de semana e se divertiam muito. Sara parecia disfarçar muito bem quando conversava normalmente com Jonas e a namorada, acho que nem ela mesma sabia o que sentia pelo rapaz, já que eles ficaram menos de um mês namorando. O semestre estava quase acabando, Dionísio estava programando uma festa junina na chácara. A noite convidou os amigos para uma reunião em sua casa, para discutirem os detalhes da festa. Mas o que ele não contava era com a intromissão do pai. — Mas, pai, será uma festa muito bonita! E depois o senhor e a mãe não precisam se incomodar com nada, nós é que vamos organizar. 15
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— Ora meu filho! Como não precisamos nos incomodar com nada? Vocês estão preparando uma festa em nossa chácara, e a julgar pela lista, irão convidar a faculdade inteira, isto terá custos. — Então é com isto que está preocupado pai? Achas mesmo que eu daria uma festa, a qual o senhor e a mãe teriam de pagar? — Não é isto, filho. — Relaxa pai, sentem aqui conosco, o senhor e a mãe, que vamos explicar, — falou Dionísio sentando no sofá, e então prosseguiu. — A festa será cobrada, cada um que for comprará o convite, e com o dinheiro nós compraremos as bebidas e as comidas. — Deixa eu ver se entendi, filho. Vocês estão querendo me dizer que farão os convites e ao invés de dar, sim porque o nome já diz “convites”, vocês venderão, é isto mesmo? — Sim, isto mesmo pai. — E virá alguém nesta festa? — Perguntou Rodolfo indignado. — Nós nem acabamos de fazer os convites, e estamos achando que vai faltar tio! — Explicou Sara. — Você ouviu isto, Isadora? — Perguntou Rodolfo, virando-se para a esposa, que até então não havia se manifestado. — Não só ouvi, como aprovo, e não sei qual é o espanto querido! Esqueceu-se de que há muitos anos trabalho com jovens, e há muito as festas têm sido assim, hoje em dia é comum dividirem as despesas, os tempos mudaram, meu bem, e honestamente, não lhe parece mais justo, já que todos participarão da mesma festa? — Perguntou mulher que sabia como lidar com o marido. — É, você tem razão querida, eu é que estou ficando velho, ainda sou do tempo de quem convida para a festa, paga a conta. — Eu concordaria com o senhor pai, se fosse um aniversário, uma formatura, ou uma comemoração familiar qualquer, o que não é o caso, já que é só uma festa junina. — Esta bem, a chácara está liberada, vocês me convenceram, mas não abro mão de ajudar nas despesas, afinal somos anfitriões, e já que é uma festa, tem que ser uma super festa. — É isto ai! — Falou Dionísio pegando, o pai no colo, e erguendo-o para cima. Foi uma grande comemoração. 16
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Os preparativos para a festa começaram, a chácara começou a ser pintada. Rodolfo levou uma equipe da cidade, para auxiliar Ernesto, o caseiro da chácara, e o que era para ser só uma festa junina transformou-se no acontecimento do ano. Rodolfo não economizou, a faculdade inteira foi convidada, as duas turmas do oitavo ano de Isadora, e o pessoal do Fórum — advogados, juízes e promotores —, enfim, todos os amigos e colegas de Rodolfo e Artur, juntamente com seus familiares. Na cidade não se falava em outra coisa, os convites frisavam que todos teriam de ir vestidos a caráter. Dionísio achou que eles deviam ensaiar uma peça de teatro para apresentarem na festa, pois, segundo ele, toda festa caipira tem que ter um casamento. — Já que vamos fazer uma festa caipira onde todos viriam caracterizados, é justo que a façamos com tudo que ela tem direito. — Eu concordo com o Dionísio, Maria! Vocês já pensaram de como será este casamento? A noiva grávida, o padre, o pai da noiva com a espingarda na mão, será muito engraçado! E depois do casamento a gente libera a música para todos dançarem a quadrilha, e comerem aquelas comidas típicas, o quentão fumegando nos caldeirões, e a fogueira estalando, será o máximo! – Falou Sara muito entusiasmada. — Meu Deus Sara! Só falta você rezar o Pai Nosso e cruzar a fogueira descalça, sobre as brasas... — Disse Maria, olhando para os amigos que se divertiam com as ideias de Sara e Dionísio. — É isto! Eu sabia que faltava alguma coisa Dionísio, a Maria me lembrou... Temos que preparar uma enorme fogueira, só com lenhas para fazer bastantes brasas, para a meia-noite passarmos. — Ah não! Isto não Sara, era só o que faltava. Porque é que fui abrir a minha boca! — Disse Maria exclamando, mas Sara nem ligou, continuou a fazer planos. Até que o dia da tão esperada festa chegou, era 23 de junho, véspera do dia 24, a noite mais fria do ano na qual soprava o vento minuano que fazia congelar os ossos. O céu parecia estar 17
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em festa, as estrelas piscavam e a lua cheia reinava no céu tornando a noite clara e linda. A chácara magnífica, toda iluminada, as luzes dos postes que davam acesso a chácara foram apagadas e substituídas por tochas acesas, o que dava um ar especial. Os carros iam chegando e eram guiados por dois seguranças tipicamente vestidos, eles conduziam os motoristas ao antigo porteiro, que agora virara estacionamento, todo enfeitado por coloridas bandeirinhas de papel. Na entrada, as pessoas que chegavam já eram recebidas com um mimo, as mulheres recebiam um laço de fitas para enfeitarem os cabelos, já os homens, um chapéu de palha desfiado nas pontas, uma cortesia patrocinada por Isadora e Rodolfo, que estavam muito felizes. Tudo estava saindo melhor do que o esperado, a fogueira acesa, as brincadeiras tipicamente caipiras e os grupos de danças que foram contratados davam um show. As pessoas degustavam os vinhos frios e quentes que aqueciam o corpo e a alma. Dionísio estava entusiasmadíssimo, corria para todos os lados, e recebia muitos elogios, pela organização do ambiente, já a vestimenta deixava a desejar, vestia uma calça dois números maiores, o cós baixo a cinta bem apertada deixando a calça empapuçada, e ainda cortou a mesma pela canela, nos pés calçava botinas velhas que Rodolfo deixara na chácara, e para cima uma camisa xadrez bem justinha de quando ele tinha uns 14 anos. Isadora comentava com o marido aonde que o filho encontrara aquela camisa já que todos os anos ela fazia faxina nos roupeiros e doava todas as roupas que não serviam mais, e como se não bastasse o traje escroncho ainda colocou nos pés um par de meias coloridas listradas doadas por Sara, os cabelos eram puro gel, bem lambidos para trás, e para piorar fez um bigodinho com o kajal de Isadora. A mãe, ao ver o filho daquele jeito, e acostumado a vê-lo sempre bonito disse: — Nossa filho, você está horrível! — Sua mãe tem razão, filho, você está muito feio! — Qual é gente, não é para ficar bonito mesmo. — Mas você não será o noivo? 18
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— Serei. — Então, filho, você precisará de um terno. — É verdade mãe, mas não se preocupe, acabo de lembrar que a Sara ficou de me trazer, ela já deve estar chegando. — Ah que bom querido! Assim fico mais tranquila, não gosto de ver meus filhos mal vestidos, mesmo sendo numa festa caipira. Neste instante chegou Sara correndo, com uma sacola nas mãos. — Boa noite! E desculpem a demora. Tome Dionísio, está aqui o casaco, foi difícil conseguir... — Sara entregou ao amigo um casaco xadrez, verde forte com bege, era horrível e para ficar pior tinha ombreiras, ela arranjou com uma das tias do lar La Em Casa, era como se chamava o lar de crianças que ela prestava serviço voluntário, e esta tia há alguns anos era dona de um brechó, agora as peças não eram mais vendidas então ficavam alojadas em caixas de papelão em um quartinho nos fundos da residência de tia Marília, que com muito bom humor não se negou em abrir seus caixotes e deixou que Sara se esbaldasse em meio a espirros e tosses. — Então papai e mamãe, não sonhavam em casar um de seus filhos de terno? Pelo menos o casaco eu vesti. — Meu Deus filho, agora piorou, isto é terrível! Onde você conseguiu isto Sara? Olhem nos bolsos para ver se não sai um rato daí. — Não se preocupe tia é de um antigo brechó, não havia tempo para mandar lavar, mas lhe asseguro que na velocidade que vim com este casaco sacolejando se tivesse um rato, teria saltado fora. — Está bem! É só vocês mesmos, mas onde está a Maria? — Está conversando com o Jonas e a Patrícia mãe! Mas, agora, nos deem licença, que vamos reunir a turma para repassarmos o texto. — Assim, os dois jovens saíram correndo. Sara usava um vestido verde escuro de um tecido aveludado, cintura bem marcada e saia rodada, estilo anos 60, é claro que ela colocou alguns remendos, e o que restou das pernas ela as cobriu com 19
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uma grossa meia de lã preta; nos pés, um sapato amarelo forte de plataforma muito esquisito, os cabelos lisos e soltos contrastando com o vermelho vivo do batom que ela usava, o que a deixou ainda mais bonita, já que não era comum vê-la maquiada. Ao se reunirem com os amigos, Dionísio percebeu que Maria estava alegre demais, devido ao vinho que tomara. — Maria, vá devagar com a bebida, a noite é longa e ainda temos o casamento. — Não se preocupe, meu amor, eu estou me controlando, só bebi dois copos, relaxa. — Disse Maria, que usava um vestido branco e longo, cheio de pequenos remendos, nos cabelos duas tranças amarradas com um laço de fita colorida, e trouxe consigo um véu de tule que ela e Sara confeccionaram, porque ela faria o papel da noiva. Artur fez questão de ser o padre, estava fazendo as honras da casa junto com os pais. Lucas e Marina seriam os pais da noiva; Jonas e Patrícia, os do noivo. Sara ria nos ensaios, dizendo que entraria de joelhos, e faria o papel da aia, já que não sobrou papel para ela, mas deram a ela a responsabilidade de fotografar tudo, coisa que ela adorava. A festa corria solta. Isadora e Rodolfo estavam se divertindo muito, sentados no alpendre da modesta casa da chácara, acompanhados por amigos, se divertiam ao ver os jovens com tanta energia e entusiasmo. Artur após ter ajudado a recepcionar todos, foi buscar a namorada Susana, uma moça muito querida, estudante de administração, mulher forte de boa índole, apaixonada pela natureza e muito inteligente, o que enchia de orgulho ao sogro e a sogra. Quando já passava das dez da noite, a quadrilha aquecida pela música, e todos tomados pelo espírito de São João que invadia os corações, a fogueira estalava e as chamas clareavam a enorme mesa coberta por comidas típicas e saborosas, que iam sendo degustadas, por pessoas apaixonadas e felizes. Dionísio, contagiado pela alegria, tomou a palavra: — Pessoal, por gentileza, aproximem-se, agora teremos um casamento, e gostaríamos que todos testemunhassem! 20
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Assim, todos foram se aproximando, até formarem um grande círculo em volta de um grande palco em madeira; no centro, uma mesa, e sobre ela uma bela toalha branca, sobreposta outra em menor tamanho de cor xadrez. Neste instante subiu ao palco o padre todo atrapalhado, representado por Artur que arrancou risos de todos ao tropeçar e quase cair. Em seguida, os padrinhos, os amigos mais próximos e quatro casais escolhidos de surpresa por sorteio, já que todos que chegavam a festa recebiam uma pulseira com um número gravado, isto deu certo charme a festa. Em seguida, entrou os pais da noiva e, por último, os do noivo, que chamou muita atenção, já que Patrícia não teve jeito de se vestir a caráter, vestia um elegante vestido azul-marinho, e para a vergonha de Jonas, que não esperava que a namorada fosse aparecer assim, mas após cochichos e risinhos, Rodolfo tomou a palavra. — Atenção senhoras e senhores! Vamos dar início a cerimônia de casamento. Toquem a música. — Foi só Rodolfo falar que um gaiteiro e um violeiro deram início a marcha nupcial, se é que assim poderia ser chamada. Enquanto o sogro saía para buscar a filha, Dionísio já estava no altar, o qual foi advertido pelo mesmo de que ele não tentasse fugir, assim mandou que a esposa ficasse com a espingarda apontada para o noivo, e deu ordem para que se ele tentasse fugir, ela prendesse fogo, porque, segundo ele, preferia ter uma filha viúva do que solteira com um filho nos braços. A plateia virou só em risos, porque Marina pegou a espingarda ao contrário, com o cano virado para seu próprio peito, e cada vez que Dionísio se mexia, ela gritava: — Fique quieto seu cabra, se tentar fugir eu atiro! — Assim, os dois improvisavam arrancando gargalhadas do público, e Sara, empolgada, ia fotografando tudo, até que achou que Maria e Lucas estavam demorando demais, ela então decidiu ir atrás para ver o motivo da demora, já que Dionísio e Marina estavam esgotando seus repertórios. Ao entrar na casa, Sara viu Maria desacordada no sofá; ao lado, Lucas e Isadora, desesperados tentando acordá-la. 21
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— Filha, acorde! — O que houve? — Perguntou Sara ao se deparar com a cena. — O casamento está atrasado! — O que houve, Sara, é que a Maria para variar, tomou um pileque, antes do casamento, e está aqui travada neste sofá, agora um de nós vai ter que ir lá fora e pagar o maior mico, e dizer que não vai mais haver casamento, porque a noiva resolveu tomar um porre! — Desabafou Lucas. — Espere um instante filho! Vá até lá fora e diga ao Dionísio que a noiva vai demorar um pouco. — O que a senhora pretende fazer? Ela não vai acordar — Continuou o rapaz. — E quem disse que a Maria tem que ser a noiva? Agora vá! Lucas não discutiu, saiu da casa. Isadora olhou para Sara, a qual ainda tinha esperanças de acordar a amiga. — Deixe ela dormir filha, não adianta! Enquanto o porre não passar ela não vai acordar; venha comigo, não temos muito tempo! Vamos ver se achamos alguma roupa que se pareça com uma noiva para você usar. — Para mim?! — Exclamou Sara assustada. — Para você sim! Mas não se assuste, o casamento será só de mentirinha. Sara estava se sentindo uma idiota, mas continuou: — Mas tia, está em cima da hora, não vai dar tempo! — Vai dar tempo sim! Agora pare de falar e venha comigo até o porão, lá tem umas caixas de roupas velhas que eu trouxe da cidade porque tenho dó de me desfazer, já que tem valor sentimental para mim, e se os ratos não roeram meu vestido de noiva deve estar lá, ele deve dar em você, pois quando me casei eu era magrinha. Ao entrar no porão, Isadora foi direto a uma caixa grande, amarrada com um barbante, abriu-a e lá estava um belo vestido de noiva, antigo, amarelado, mas muito bonito. — É lindo, tia! — Vista filha, e vá! Nós tínhamos que fazer uma barriga, mas o vestido é acinturado, então tive uma ideia, vamos enrolar 22
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uns panos e diremos que você se atrasou porque teve de passar na maternidade, para ganhar o neném, agora ande e vista-se depressa. Isadora ajudou Sara com o vestido todo rendado, com mangas longas e forradas, e chegava até a canela de Isadora, pois na época era moda, mas para Sara que era baixinha ficou longo. O decote era quadrado, o que deixava o colo desnudo, sobre os pés, Isadora lhe deu um par de sapatos prateados, contrastando com a meia-calça que ela optou por não tirar, já que o frio era intenso, isto lhe deu um ar de caipira, mas que no contraste ficou bonito, o véu era curto e todo com pérolas penduradas, algumas caíam na franja de Sara, o que colocou em evidência o belo rosto que tinha. — Está linda meu bem, na verdade eu deveria borrar seu rosto, com uma maquiagem bem caipira, mas não tenho coragem. Ande, vá na frente, que eu levo o bebê. Sara e Isadora correram, e antes que a noiva subisse ao altar, Isadora tomou a palavra: — Senhora e senhores, eu peço desculpas pelo atraso do casamento, é que a noiva acabou de parir, é uma linda menina, esta que está aqui no meu colo, — todos bateram palmas — mas, agora, ela já se recompôs e está vindo! Neste momento, Sara começou a subir as escadas do palco, Dionísio que esperava a namorada, ao ver Sara vestida de noiva, ficou muito surpreso, e ao mesmo tempo aliviado. Quando Sara chegou bem perto de Dionísio, e o olhou nos olhos, a reação dele foi espantosa, ele lhe deu o braço como se realmente a estivesse a recebendo como esposa. Dionísio foi tomado por um sentimento estranho, o olhar de Sara, o rosto, a boca, a figura em si, era como se ele a estivesse vendo pela primeira vez, Sara não lhe foi indiferente, não tirou os olhos dos dele um só segundo, e sentiu que suas almas estavam na mesma sintonia, mas voltaram a si com a espingarda do Lucas cutucando as costas de Dionísio. — Apresse o passo, seu cabra, não faça corpo mole, não vá pensar que só porque minha filha botou para fora a cria, tu não vai mais casar, agora é que tenho pressa, ande! 23
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