Arthur (Família Valentini - Livro 3) - Degustação

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Família Valentini – Livro 3 Mari Sales 1ª. Edição


Copyright © Mari Sales Edição Digital: Criativa TI _____________________________________________ Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. _____________________________________________ Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios – tangível ou intangível – sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.


Sinopse Paula teve a difícil missão de enfrentar o irmão mais novo da família Valentini. Metódico e recluso, a reunião para convencê-lo a ir no casamento de Benjamin deveria acontecer juntamente com Carlos Eduardo, mas ela foi sozinha. Confiante de suas habilidades, mesmo cercada pelos desastres que causa, ela penetrou as barreiras de proteção desse irmão antes mesmo de saber. A mulher que quebrou suas regras não deveria atraí-lo. A racionalidade não deveria dar lugar para o impulso, mas foi isso que Arthur fez, mudou seus limites e desafiou a mais centrada das amigas. Ela não se intimidava facilmente. Ele não sabia o que estava por vir ao dar brecha para que Paula pudesse agir. Será que o amor, o mais indescritível dos sentimentos, sobreporia toda lógica que rondava o irmão mais misterioso?


Dedicatória Para a mulher feita de paciência, carinho e dedicação, muitas vezes mulher maravilha, outras vezes um ser humano gente como a gente. Paula, minha linda, obrigada por ser inspiração e se doar além do necessário.


Capítulo 1 Paula Minhas mãos não paravam quietas no meu colo. Dentro de um táxi, seguia em direção ao prédio principal do Grupo Sustentável Valentini, a empresa de Arthur Valentini, minha missão quase impossível. Não havia contado para ninguém, mas tinha pesquisado sobre o irmão mais novo, seus feitos e tudo o que o envolvia. Ele não aparecia muito na mídia, mas o pouco que ele deu o ar da graça de sua beleza e aura misteriosa, me encantou como nunca antes. Não acreditava que estava atraída por Arthur, três amigas e três irmãos, isso era muito enredo de novela mexicana ou de livro, mas era fato. O cara, além de ser metódico e com mil e uma regras para uma simples reunião, era genial. Suas descobertas e o quanto sua tecnologia inovou poderia transformar o mundo inteiro em sustentável. Nas poucas horas de voo que tive, tentei não pensar no que me aguardava. Quando segui para o hotel e acompanhei minuto a minuto até o presente momento, orei para todos os deuses da calma para que não saísse do meu modo zen e surtasse de ansiedade como Ray normalmente fazia. — Aqui senhorita — o taxista chamou minha atenção assim que o carro parou. Olhei para os lados e encontrei o prédio imponente que poderia ser minha perdição. Abri minha bolsa, derrubei algumas coisas no chão do carro até pegar minha carteira e pagar o motorista.


— Obrigada — agradeci de forma gentil e envergonhada, recolhi tudo o que derrubei de forma desordenada e saí porta afora respirando fundo e contando até dez. Para que pudesse realizar essa reunião, um manual me foi encaminhado. Pelo cuidado e métricas, poderia dizer que ele tinha TOC, ou seu marketing tinha, porque nunca havia visto isso na minha vida. Desde como me portar, como falar e o que vestir estavam descritos nesse manual. Não mentir e não se aproximar fisicamente do dono da empresa também. Tudo parecia muito bizarro, mas na minha profissão, aprendi a observar mais do que falar, justamente para interpretar as entrelinhas. Uma das regras eu já estava infringindo que era participar apenas as pessoas informadas. Carlos Eduardo deveria estar comigo, além de ser um ótimo argumento para que Arthur nos recebesse, ele seria o elo de ligação para fazêlo voltar para casa e ajudar com a conclusão dos mistérios que os rondavam. Ainda tinha intenção de fazê-lo aceitar minha proposta de implantar todo o seu sistema de reutilização de água no hospital que Ray era voluntária. Estava encantada e muito tocada com todos que lá trabalhavam e seus pacientes. Depois que minha amiga comentou sobre isso, resolvi ser voluntária também e estava disposta a gastar um pouco do meu tempo para mudar a vida dos colaboradores, voluntários e pacientes. — Sai da frente! Alguém trombou em mim na calçada e minha bolsa foi para o chão. Novamente. Nem tinha reparado que fiquei muito tempo olhando a porta da recepção do local e não entrei. Caminhei com passos firmes até a recepção e um medo incontrolável começou a tomar conta quando a recepcionista, muito simpática, confirmou meu nome na sua lista, mas não encontrou Cadu. — Aqui consta dois nomes para a reunião. Acho melhor esperá-lo e os dois entram juntos. — Por trás de um balcão, a moça que estava ladeada por dois seguranças me comunicou um tanto nervosa, mas bem disfarçado.


— Eu vim sozinha. Senhor Carlos Eduardo teve uma emergência... do coração e precisou se ausentar. — Bem, Letícia era um assunto que envolvia o coração, certo? — Você recebeu as regras para participar de uma reunião com o senhor Valentini? — perguntou engolindo em seco. Isso seria medo? Ele não parecia ser um tirano, apenas controlador. — Sim, recebi. Assumo todos os riscos, não se preocupe. Parecia fácil falar quando o único órgão do meu corpo que parecia descontrolado era o coração e ele estava pulando igual uma criança em cama elástica. Uma hora sairia pela boca e todo o meu corpo cairia no chão igual uma jaca madura. Disponibilizaram-me um crachá, passei por detectores de metais, minha bolsa passou no raio-x e segui dentro do elevador até o último andar. Eram mais de vinte andares, o prédio inteiro era dele. Arthur Valentini tinha um grande império em forma de regras e organização estrutural. Tentei liberar minha mente do nervosismo que se aproximava, não havia mais nada a ser feito, a reunião seria conduzida apenas por mim e precisava não só conseguir o apoio dele com o hospital, mas encontrar uma brecha para dizer que conhecia seus irmãos e precisava que ele estivesse comigo no voo de volta. Simples, suave... As portas do elevador se abriram e mal dei um passo, o salto do meu sapato enroscou no trilho da porta do elevador, me fazendo puxar minha perna com força e quase cair de cara no chão. Ah, não, lado desastrado. Você não foi convidado para a reunião. Soltei meu pé, levantei o rosto e encarei a recepcionista do andar com um sorriso amarelo. Aproximei confiante, mas tudo foi decaindo quando ela me olhou da cabeças aos pés, olhou para o meu lado e constatou o que já tinha sido informado para a outra recepcionista, eu estava sozinha.


— Bom dia senhorita. Em que posso ajudá-la? — Sou Paula, tenho uma reunião com o senhor Arthur... — Na minha agenda consta Paula Cardoso e Carlos Eduardo. Onde está a segunda pessoa? — Ela ergueu uma sobrancelha para mim. — Você recebeu as regras para a reunião com o senhor Arthur Valentini? Respirei fundo precisando assumir essa situação com unhas e dentes, sem me intimidar. E se o cara tivesse morrido, eu nunca mais conseguiria realizar uma reunião nessa empresa? — Carlos Eduardo teve uma emergência. Eu explicarei na reunião para o senhor Arthur toda a situação. — Acho melhor remarcarmos... — Não! — Coloquei minhas mãos para frente e só não segurei os ombros da mulher, porque estava muito distante. — Falta menos de trinta minutos, por favor, eu lidarei com isso na reunião. Ela virou a cabeça e me analisou. Percebi que ficou nervosa, talvez, minha falha em não seguir regras poderia recair sobre ela também. — Acho melhor realizar a reunião só com o Denis, o gerente de marketing, assim nada dará errado. Coloquei minhas mãos em cima da mesa, mostrei meu desespero nos olhos e falei baixo: — Preciso de Arthur nessa reunião. É questão de vida ou morte! Bem, segundo obstáculo resolvido. Ela não demorou em digitar algo no computador e me indicar a sala de espera. Não tinha a menor noção do que me esperava, mas de uma coisa eu sabia e era feita, de coragem e ousadia... com uma pitada de falta de coordenação motora.


Capítulo 2 Paula Sentei em uma das cadeira na sala de espera para reunião e minha perna não parou quieta um segundo. Levantei e fui até a cafeteira me servir do poderoso líquido reanimador, vulgo café. Enquanto colocava estudava como funcionava essa geringonça, uma máquina de café expresso diferente, com dois bicos por onde o líquido deveria sair e vários botões. Peguei um café e por instinto, apertei o botão com um círculo redondo e um risco, desenho universal para ligar. Um barulho, outro barulho e então, os dois bicos começaram a sair café e na base da cafeteira parecia não ter um ralo. — Meu Deus! — desesperei, porque começou a respingar café na minha saia, que era cinza e minha blusa que era branca. Entre me afastar, deixar tudo acontecer e lutar para vender essa máquina, acabei ficando no lugar, peguei outro copo e coloquei no segundo bico, contendo os danos, mas não evitando os respingos na minha roupa. Olhei para baixo e fiz uma careta. Ótimo, minha roupa não estava mais adequada. Não bastava ter quebrado uma regra, agora quebrei duas. E sim, existia uma regra sobre usar roupas que estivessem passadas e sem manchas ou sujeiras. Ah, o seu TOC já estava me dando nos nervos, ele não iria atrapalhar a minha paz interior. Tomei o café, andei pela sala e um rapaz jovem me abordou na porta:


— Senhorita Paula? — Sim? Ele me olhou da cabeça aos pés e sorriu contido. — Essa máquina é infernal, não? — brincou e me senti um pouco aliviada. Acenei com a cabeça e segurei o segundo copo de café. Tomei os dois, para não criar mais confusão com o metódico. — Sou Danilo. Poderia me acompanhar até a sala de reuniões? — Sim, obrigada Danilo. Seguimos lado a lado em silêncio pelo corredor. A penúltima porta foi aberta, uma sala de reuniões moderna e bem iluminada pelas janelas de vidro me fizeram abrir um enorme sorriso. Sem me importar, desviei do rapaz e olhei a vista maravilhosa que dava daqui. — Bonito não? — Virei para olhá-lo. — Sim! Parece que estamos mais próximo do sol. — Você precisará usar o computador, certo? Vou ligar o projetor, você poderá utilizar tudo o que está instalado nele e no final, pode deixar como está, eu venho desligar. — Obrigada. Ele saiu da sala e eu abri minha bolsa em busca do pen drive. Amaldiçoei-me mentalmente por ter vindo com essa enorme, que tudo o que colocava dentro se perdia como se estivesse em um buraco negro. Olhei para o relógio e constatei que ainda tinha três minutos. Virei todo o conteúdo da bolsa em cima da mesa e finalmente encontrei o bandido do pen drive. Minha ação parecia rápida, mas não foi, porque dois homens entraram na sala sem se anunciar e me tiraram o fôlego, ou melhor, apenas um deles fez. Arthur Valentini não era nada do que as fotos indicavam. Seus músculos


estavam expostos pela camisa social agarrada ao seu corpo e a barba por fazer me fazia imaginar coisas muito malvadas entre quatro paredes. Os dois se sentaram à mesa e apenas o homem do marketing me olhou, Arthur estava muito absorto com os itens espalhados em cima da mesa, mais precisamente uma foto minha apenas de biquíni. Ou melhor, minha foto e minha carteirinha de associado do clube onde praticava natação. — Olá, bom dia, me desculpe a bagunça. Estava procurando o pen drive da apresentação. — Recolhi com pressa todos os itens e quando cheguei nos que Arthur encarava, pensei que ele finalmente me olharia, mas não, se manteve olhando a parede agora, como se minha presença não fosse importante. Suspirei irritada, ele poderia ser um gênio, mas com certeza um sem educação. — Bom dia senhorita Paula. Sou Denis e estou com Arthur porque seriam duas pessoas a conversar sobre a proposta 524, referente a implantação do sistema de reaproveitamento de água no hospital da sua cidade, certo? — Sim, Carlos Eduardo, irmão do Arthur, deveria estar comigo, mas precisou se ausentar por conta de uma emergência. — A única reação dele foi quando mencionei o nome do irmão. Os olhos piscaram mais vezes que o normal e depois seguiram normalmente. — A senhorita recebeu nosso manual de reuniões? De novo com esse assunto? — Senhor Denis, desculpe a falha em cima da hora, mas Carlos Eduardo está em uma missão perigosa e um tanto peculiar nesse exato momento. Meu propósito nessa reunião também é informar o senhor Arthur sobre sua família e... — Poderia começar com o seu projeto? — Denis me corta encarando a mancha na minha roupa e meus olhos vão direto a Arthur, que continua “ausente”. Suspiro e aceno em concordância.


Tudo bem, vamos seguir conforme a onda e assim que ela estiver pronta, irei surfar. Acessei o conteúdo do pen drive e fiz a apresentação com minha melhor forma. Esse projeto estava me deixando orgulhosa, mostrou o quanto era versátil sobre os assuntos que trabalhava e também, que meu coração era bom ao mesclar sustentabilidade e caridade. Não era convencida, nem tinha tanto ego para ser inflado, mas uma coisa reconhecia, que era quando fazia um bom trabalho e esse era um deles. Passei a maior parte falando sozinha. Foram pouquíssimas as vezes que Denis interrompeu, fez anotações e questionou. Tudo transcorreu muito bem e quando terminei o último slide do arquivo, sorri e encerrei a primeira parte da reunião. — Esse projeto seria pioneiro no país, não só mudaria a vida daquelas pessoas que trabalham e são obrigadas a estarem no hospital, mas também mudaria o mundo, por não precisar usar tanta água e a reciclar. — Um projeto ousado e seu estudo foi muito bem desenvolvido. Parabéns. Não posso fornecer nenhum resultado antecipado, mas posso lhe adiantar que foram poucas as pessoas que conseguiram impressionar como a senhorita. Sorri vitoriosa, não cabia em mim tamanha satisfação. Agora era momento de falar com Arthur, dele finalmente me olhar.


Capítulo 3 Paula Não precisei soltar nenhum som, porque assim que ficamos em silêncio, ele virou o rosto para mim e me encarou sério, ou melhor, indiferente. — Por que informou que meu irmão estaria na reunião? — sua pergunta parecia aço na minha pele, me cortando e penetrando em minha pele. — Posso falar em particular com você? — pedi e desviei meu olhar para Denis. — Seu projeto é bom, você é profissional, por que usou meu irmão para conseguir essa reunião? — Arthur me chamou atenção novamente e de forma automática, puxei uma cadeira ao seu lado e sentei. Apesar de não demonstrar com ação, seu olhar me indicava que eu ultrapassei uma barreira que não deveria. — Conheci seus irmãos por conta das minhas amigas, que são namoradas deles. Não sei detalhes sobre o assunto, me foi passado por cima a atual situação das investigações sobre seu pai. — O quê? — falou baixo e sabia que tinha ganhado sua atenção. — A morte do seu pai não foi da forma como foi pintada na época. Letícia foi sequestrada, esse último mês foi uma loucura... — Quem é Letícia?


— Minha amiga, namorada de Cadu, ou melhor, Carlos Eduardo. Benjamin vai casar e seria importante você estar presente na cerimônia ou antes, para ficar a par de toda a investigação. Ele se levantou abruptamente e começou a andar pela sala de reunião como se estivesse enjaulado. Denis olhava para mim com repreensão e para Arthur com preocupação. — O que está acontecendo? — sussurrei para o homem do marketing que estava na reunião. — Você perturbou sua mente — sibilou e se levantou, tentando se aproximar do CEO da empresa, mas ele se desviou e veio até mim.


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