A Redenção de Enzo - DEGUSTAÇÃO

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1ª. Edição



Copyright © Mari Sales Edição Digital: Criativa TI Organização: Encantadas por Livros e Música Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.


Sinopse

Quando seu irmão faleceu e deixou a famosa Livraria Progresso para que continuasse a gestão, Enzo precisou de um tempo para processar o que estava fazendo de sua vida. Sem família ou herdeiros, o administrador imobiliário não queria ter o mesmo fim do seu irmão mais velho e assim que aceitou seu destino, largou tudo para se dedicar a livraria. Sofia amava seu trabalho em meio a livros e atender pessoas que buscavam na leitura conhecimento ou uma distração. Na livraria, era respeitada e sempre tinha uma ideia genial para melhorar o ambiente de trabalho, até que o dono da empresa morreu e Gláucio assumiu o posto enquanto o verdadeiro herdeiro não aparecia.


O diretor do terror, como ela o chamava, era um homem sem escrúpulos e não economizava nas palavras desmotivadoras. Não tinha outra direção que não o fim do poço para a livraria, para desespero de Sofia. O destino tinha um jeito engraçado de fazer com que as pessoas certas se encontrassem. Ameaçada de ser demitida, Sofia foi beber em um bar para afugentar suas frustrações e conheceu o homem que mudaria sua vida... ou seria ela a redenção que ele tanto buscava?


Capítulo 1 Enzo

Entrar no apartamento redecorado do meu irmão me deu uma fisgada no peito que não esperava. Foram dois meses para que eu tomasse a decisão de estar aqui e assumir a paixão pelos livros que Erik tinha. Sem família e filhos, eu fui o único que sobrou para lidar com sua herança. Algo simples virou um rebuliço na minha cabeça, porque eu seguia o mesmo caminho que ele, numa cidade do outro lado do país. Apesar de longe, mantínhamos contato por telefone sempre que possível. Ele estava contente em focar apenas no seu lado profissional e eu também estava, até que a notícia do seu acidente de carro lhe tirar a vida abalou minhas estruturas.


Qual era a razão de juntar tanto dinheiro sem ter ninguém para compartilhar? Deixei o comando da Livraria Progresso com o diretor de Erik e fui processando aos poucos como faria minha transição, se era isso que eu deveria fazer. A sensação era que estava devendo algo para o universo. A verdade era que estava em busca de redenção antes que minha vida fosse ceifada e eu não estivesse orgulhoso da minha jornada. Sentir-me sozinho nesse mundo mostrava que em algum momento, havia me perdido. Quando vi a manchete na televisão sobre a crise das livrarias, percebi que a ocasião perfeita havia chegado para que eu mudasse de vida completamente. Parecia uma busca espiritual, algo tão profundo que não sabia explicar. O que importava era que a único a concordar com minhas ações era eu mesmo. Contratei uma decoradora e pedi que mudasse tudo o que estava no apartamento bem localizado de Erik para que eu morasse. Queria alguma lembrança dele, estar em seu apartamento e mais próximo da sua rotina era uma forma de tentar recuperar o que perdemos. Demorou mais um mês para que tudo ficasse pronto para a minha chegada. Sem olhar para o que estava deixando na minha antiga cidade, cheguei no meu novo lar. — Está precisando de algo, senhor Enzo? — dona Ana perguntou da porta da cozinha enquanto eu estava estático na sala, com a mala ao meu lado, pensando no meu próximo passo.


O que eu precisava agora? De força, porque a tristeza me dominava a cada segundo que pensava sobre viver e morrer. — Obrigada dona Ana. Vou trocar de roupa e andar pelo bairro para conhecer os lugares ao redor. — Estou à disposição. Gostaria de algo específico para o jantar? Comecei a caminhar até o quarto e percebi que nem tinha almoçado. O tempo estava passando e eu parecia o desperdiçando ao invés de aproveitar o momento. Foram meses procrastinando, era momento de conhecer novas pessoas e criar laços duradouros com vizinhos e amanhã, com os colaboradores da livraria. Eu faria tudo diferente. — Vou jantar fora, dona Ana — dispensei-a suavemente. Cheguei no quarto e parecia mais disposto, arriscava dizer que entusiasmado. O verde claro em uma das paredes, a cama nitidamente confortável e os raios solares entrando pela janela me fizeram revigorar, como se fosse uma comissão de boas-vindas. Abri a mala em cima da cama, peguei uma roupa mais informal que minha camisa e calça social e fui para o banheiro. Precisava me distrair e parar de pensar com tristeza. Mesmo que a administração de imóveis, minha atual profissão, não fosse algo que sonhei para fazer parte, a Livraria Progresso também não era, mas faria de tudo para que se tornasse. Estava aberto para ter um novo ideal profissional. Se Erik amava seu trabalho, então, eu poderia fazer o mesmo. Tínhamos muitas coisas em comuns, gosto por assistir esportes, pela vida noturna nos bares, paquera sem compromisso e o vício em trabalho.


Quando saí do apartamento e caminhei pelo bairro, ao invés de me sentir mais leve, um peso desconhecido nas minhas costas me dominou. Parecia fácil aceitar a mudança, mas era complicado quando colocado em prática. Entrei no primeiro boteco que vi, sentei em um dos bancos e pedi um chopp para iniciar o que pretendia ser um dia de porre. Nada melhor que a embriaguez para dar voz ao que realmente gritava dentro de mim. Caralho, como doía pensar que não existia mais meu irmão para escutar sobre uma reclamação qualquer, ou mesmo compartilhar uma vitória. Perdemos nossos pais cedo e aprendemos a viver sozinhos... bem, eu achava que sim, até ele ir embora também e só então a solidão me tomar por completo. Olhei para cima e apreciei a distração do jogo de futebol na televisão, que minutos depois virou jogo de vôlei e por fim, luta de artes marciais mistas. Iria atrás de uma academia, lutar era algo que me ajudava a relaxar sempre. Não sabia quanto tempo passou e nem se meu juízo estava comprometido quando uma mulher sentou ao meu lado, pediu uma dose de tequila e suspirou com a mesma desolação que eu estava sentindo. Não tinha intenção de conversar no momento, meu humor estava péssimo e o silêncio estava sendo uma ótima companhia. Por isso não reparei nas suas roupas ou sua fisionomia, o dia era para bebedeira desacompanhada e não de conversa. Fechei a cara mais do que já estava e encarei a televisão como se fosse meu único interesse. Percebi que ela me encarou algumas vezes, ainda mais depois que tomou sua dose em um gole apenas.


— Oi — ela falou e fingi que não ouvi, muito menos que era comigo. — Que ótimo, sendo ignorada até pelo estranho no bar — resmungou baixo e chamou o atendente. — Traz mais uma dose, por favor. — Não esqueça de chamar um motorista — o homem lhe entregou outra dose de tequila e ela brindou a ele. — O único motorista que me leva para casa é o moço do ônibus. — Bufou e o atendente ficou na sua frente lhe dando atenção. — O dinheiro que estava guardando para comprar o carro vai ficar para me manter quando ficar desempregada. Não basta parecer como eu, tenho que ter um carrasco no meu calcanhar. — Foi mandada embora? — O barman fez uma careta. — Não, mas pelo visto, o diretor do terror dará sua cartada final a qualquer momento. Minha cabeça vai rolar, eu sinto. — Espero que seja apenas uma suposição. — O homem piscou o olho e apertou a mão da moça ao meu lado. — Força na peruca, você é linda. — Você que é uma gracinha — falou baixo e suspirou daquela forma que eu tanto me identificava. Virei meu rosto e encarei olhos estrábicos da moça que estava ao meu lado. Não havia nada de feia, ou era eu bebendo demais, porque senti uma atração além do normal pela sua beleza inigualável. Seus cabelos lisos cobriam parte do rosto e algo na sua expressão facial reforçava o que seus suspiros estavam externando, ela se sentia derrotada.


— Pode continuar na sua tevê, não vou te perturbar mais do que já fiz. — Ela tentou sorrir, tomou a sua segunda dose e apoiou o rosto na mão para observar nada em especial a sua frente. Deveria ter feito o que ela sugeriu, mas a curiosidade em saber mais sobre a garota que estava com o emprego em risco me dominou e foi mais forte que a razão. Quando o assunto envolvia o meio profissional, eu me interessava além do normal, por isso não me freei ao perguntar: — Problemas no trabalho?


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