Carlos Eduardo (Família Valentini - Livro 2) - Degustação

Page 1


Família Valentini – Livro 2 Mari Sales 1ª. Edição


Copyright © Mari Sales Edição Digital: Criativa TI _____________________________________________ Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. _____________________________________________ Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios – tangível ou intangível – sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.


Sinopse Numa tentativa de mascarar seus fantasmas do passado, Carlos Eduardo era um empresário que gostava de se exibir nas redes sociais e curtir a vida de solteiro sem restrições. Todos o conheciam por sua irreverência, nada parecia o afetar, até que o convite de casamento do seu irmão mais velho o fez voltar as suas origens. Disposto a confrontar Benjamin por conta dos laços de família que Rayanne possuía, ele chegou na mansão Valentini disposto a derrubar tudo e todos, porém, a mulher que não tem papas na língua e não leva desaforo para casa o atropelou. Letícia precisava de férias, sua rotina de trabalho obrigou seu chefe a dispensá-la por alguns dias, levando-a a se dedicar exclusivamente à sua amiga Ray e os mistérios da família Valentini. Segredos descobertos e muita ação revelaram que o passado não era como eles acreditavam e a urgência em unir todos da família se tornou primordial.


Dedicatória Para Lê, minha Letícia do mundo real/virtual, seu nome é praticamente um adjetivo. Você brilha e ilumina não só o seu caminho, mas de todos os que estão a sua volta.


Prólogo Carlos Eduardo Olhei para o convite de casamento e tive vontade de esmagar ou triturar na máquina de picotar papel. Depois de anos sem nos comunicar, o idiota do meu irmão mais velho decidiu se casar com nada mais, nada menos que Rayanne Vilar, uma mulher da nossa antiga cidade. Vilar. Sentado na minha cadeira confortável, na sala presidencial da minha empresa, divaguei sobre onde eu poderia ter escutado esse sobrenome e o motivo dele ser tão incômodo para mim. Desbloqueei o computador, segui para meus arquivos confidenciais da família Valentini e tentei controlar o nó na minha garganta sempre que eu vasculhava esses documentos digitais. Haviam fotos, relatórios, extratos bancários... tudo o que eu pude conseguir em anos de investigação sobre a morte do meu pai. Nunca acreditei que ele havia tirado a própria vida, mesmo que minha mãe tenha o traído e ela mesma, em depoimento, atestou isso. Abri um arquivo principal, onde nomes, datas e atalhos para outros arquivos estavam e lá encontrei o motivo do meu incômodo. Vilar era o sobrenome do amante, o causador de toda a desunião na minha família. Peguei meu celular, procurei o contato do meu detetive particular e solicitei o nome de todos os parentes desse homem.


Assim que a ligação foi encerrada, alguém bateu à porta e minha secretária entrou, como sempre, toda tímida. Sorrio grande, descontraído, como sempre faço, porque essa era minha fachada para todo o meu lado nebuloso. — Com licença. A senhorita Laila Perez gostaria de falar com o senhor. — Ela marcou hora? — Franzi a testa, mas mantive minha descontração. — É bonita? Sim, eu era descarado, mulherengo e não me importava com o que os outros falavam de mim, porque sim, eu tinha muito dinheiro e ele comprava tudo. Vi minha secretária revirar os olhos e dar de ombros. Acho que ela era a única que não avançava o sinal, porque sua competência e timidez me agradavam e muito. Além do mais, ela era casada e seu marido aparecia muitas vezes aqui para me intimidar. Coitado. — O senhor pode atender ou prefere que marque um horário? Ela está muito nervosa e impaciente, por isso que vim pessoalmente ao invés de ligar. Antes que pudesse responder alguma coisa para ela, a porta da sala foi aberta e quase derrubou minha secretária no chão. Uma mulher linda, com muitas curvas e roupa colada invadiu minha sala e me fez sorrir mais ainda. Ah, essa ficaria muito bem em cima da minha mesa, de pernas abertas e gemendo meu nome. — Oi Cadu, sou Laila... — Por favor, me chame de Carlos Eduardo — cortei, porque odiava esse apelido e não queria dispensá-la sem antes saber quem realmente era. Ela olhou para minha secretária, que a fulminou com o olhar. Fiz um sinal para ela sair e voltei minha atenção para a donzela à minha frente. Estiquei a mão, pedi que se sentasse e sorri, como o grande garanhão que sou. Ela retribuiu com olhar de vitória e isso despertou meu lado desconfiado. — Então, Carlos Eduardo, sou Laila, acionista do grupo RS e temos interesse em iniciarmos uma negociação de fusão com vocês.


Cruzei minhas pernas, apoiei meus braços no encosto da cadeira e analisei a mulher a minha frente. Direta, mas sem nenhum senso de negociação, ou seja, uma isca. Bem, só esqueceram de falar para ela que eu não era qualquer tubarão. — Podemos conversar em um jantar de negócios? Tem algum documento para que eu possa analisar enquanto isso? Ela abriu a bolsa, retirou uma pasta, curvou o corpo para frente e me mostrou seu enorme decote, ou melhor, mostrou seus peitos por completo. Não me fiz de rogado, observei, pisquei um olho e peguei os documentos de sua mão. Ela sorriu e isso me despertou outra memória. Eu a conhecia, só não sabia de onde... Merda de convite de casamento do Benjamin que me desestabilizou! Coloquei a mão no convite e o olhar da minha visitante foi para o mesmo lugar. Ela enrugou a testa, mas por poucos segundos. Tentou disfarçar e mostrou que tinha todos os sinais de que algo a incomodou e não consegui pensar no que é. Ela se levantou e ajeitei a postura, mostrando o quão grande era seus seios. — Na primeira página tem meu nome e meu contato. Espero sua ligação — sensualizou a frase final e saiu rebolando, me deixando duro só de imaginar o que poderia fazer com uma mulher atrevida como essa. Meu celular tocou e atendi no primeiro toque por se tratar do meu detetive. — Está no seu e-mail. — Obrigado. Larguei a pasta de lado, foquei no meu computador e no meu e-mail. A árvore genealógica do amante da minha mãe na minha frente indicava que Rayanne Vilar era sobrinha neta desse homem por parte de mãe. Eu tinha


apenas seu nome e idade, mas era capaz de sentir que sim, meu irmão estava planejando se casar com algum parente da pessoa que destruiu nossas vidas. Sem pensar duas vezes sobre o assunto, disquei para minha secretária e pedi para que providenciasse uma passagem apenas de ida para a casa onde nunca pensei em voltar. Eu era pequeno quando tudo aconteceu, mas havia memórias e imagens que nunca conseguiria me livrar, como dos meus irmãos chorando e minha mãe gritando desesperada. Liguei para o meu apartamento e pedi para minha governanta preparar uma mala para cinco dias de viagem, considerando reuniões e lazer. Iria confrontar meu irmão, mas também teria algum momento de diversão, porque esse era eu. Configurei o temporizador da câmera do meu celular, ajeitei na mesa e acionei. Levantei e fui para a janela, olhando para o horizonte e sorrindo como se nada na minha vida tivesse algum empecilho. Gostava das redes sociais porque eram nelas que eu me sentia acolhido. Era uma merda não ter ninguém para se apoiar, ter essa carência desnecessária, mas tudo isso representava eu contra o mundo. Conferi a imagem e postei com a descrição: “Para uma nova negociação, cálculos e análises. Para uma viagem... apenas certeza. Me espere.” Era uma indireta para meu irmão mais velho, caso ele visse. Anos sem nos ver e parecia que eu estava indo para o abate, com meu coração acelerado e minha confiança reduzindo pouco a pouco. Eu não deixaria que fizesse a loucura de se casar com ela, a reputação da nossa família não seria manchada novamente por um Vilar.


Capítulo 1 Letícia Finalmente conhecemos o homem que pediu Ray em casamento e transformou-a em uma mulher mais... sorridente, se bobear, mais confiante. Não que ela precisasse de um homem para isso, mas com certeza ajudou, e muito. Ela, inclusive, estava pleiteando uma vaga de emprego na emissora de televisão da cidade e como ela gosta de falar: foi indicação, mas provaria seu valor. Nunca duvidei disso, ela que sempre foi a insegura. Pulei na piscina gigantesca da mansão Valentini e nadei até onde minhas amigas estavam. Festa na piscina, regada a quitutes de dona Judite, sucos e o homem da minha amiga quase nu. O cara era definido, bonito e não conseguia não babar naquele tanquinho que ele chamava de abdômen. Fazia meses que não nos reuníamos e depois da notícia do casamento, surtei e a obriguei marcar um encontro. Ela fez questão que fosse na casa dele, porque queria mostrar aquela maravilha de biblioteca. Puta que pariu, eu precisava morar naquele cômodo. Ou fazer um desses no meu quarto, o que for mais barato. A leitura nos uniu e essa paixão era compartilhada na mesma intensidade.


Deixei alguns trabalhos para depois mesmo sabendo que amanhã trabalharia triplicado, já que sempre me esforçava por duas. Precisava prestigiar Ray e seu homem dez anos mais velho que ela, a primeira do nosso grupo a arranjar um namorado e se casar. Não bastava ser a primeira em uma categoria, tinha que ser em duas. Esperava que ela deixasse de ser a primeira a engravidar, ainda havia muito para ela curtir. Aproximei de Ray e Paula, que estão na parte mais rasa da piscina e beliscavam alguma comida maravilhosa que existia nessa casa. Ben estava sentado em uma cadeira, debaixo do guarda-sol e sem camisa, vendo algo no tablet. — Sério que você não me deixará fazer um clone dele? — falo brincando só para ver a cara da minha amiga indignada enquanto Paula apenas ri. — Não precisa ser igualzinho, só com um pouco menos de idade. Acho que ele não daria conta do recado sendo tão velho. — Eu estou escutando — Ben falou sério, arregalei meus olhos e virei de costas para ele. Putz, o que ele vai achar que sou? — Você não consegue se controlar, né? — Ray me repreendeu, olhou para o noivo com um sorriso apaziguador e depois me encarou séria. — Eu também mereço um sorriso. Você sabe que eu apenas brinco. — Dei de ombros e peguei uma uva na bandeja. — Essas brincadeiras ainda darão o que falar, amiga — Paula diz e se aproxima mais. — Você sabe que na festa de casamento deles os irmãos irão aparecer. — Será? — Arrependi-me de provocar tal dúvida, porque vi o semblante de Ray cair um pouco. A pedido dos dois, essa era uma informação sigilosa. O casamento não só tinha a intenção de unir esses dois corações apaixonados, mas tentaria unir a família novamente.


Incrível como o dinheiro resolvia muita coisa, porque em menos de duas semanas já existia convites, decoração e o local, essa mansão. Seria o casamento do ano na cidade, o bafafá já estava solto e a pobre da minha amiga já foi alvo de várias piadas maldosas, como ela tentar dar o golpe da barriga. Eu, em meu modo Letícia, já vou respondendo para cuidar da própria vida ou o quanto a inveja pode transformar as pessoas em mesquinhas. Cidade pequena era uma merda e quando alguém falava de uma amiga do coração igual Ray era, eu não deixava barato. — Bem, tomara que sim. Temos um mês para fazer isso acontecer e estou bem empenhada em atrair todos eles para cá — Ray falou insegura. — Paula, queria aproveitar e ver com você algo inovador e sustentável para o hospital que eu sou voluntária. Talvez atraia o irmão mais novo... O barulho de carro acelerando nos assustou e Ben se levantou da cadeira e caminhou rapidamente até a casa. Um segurança, que não sabia que estava por perto, o acompanhou e nos unimos mais e mais dentro da água, com medo do que poderia ser. — O que será que foi isso? — Ray pergunta. — Se for a ex-noiva oxigenada eu dou na cara dela! — respondo raivosa. — Você não vai fazer nada, porque esse povo adora processar mesmo não tendo razão! — Paula intervém. — Mas bater na nossa amiga ela pode? Eu vou acabar com a raça dela! Saí da piscina ao sons de protesto das minhas amigas e segui na mesma direção do Benjamin. Não sei o que aconteceu, mas estava me sentindo atraída para a entrada daquela casa, como se um imã ou qualquer outra coisa me puxasse a esse lugar. Assim que parei na frente da porta de vidro entre a casa e a piscina, dei de cara com uma versão mais jovem e mais misteriosa de Benjamin. Os dois pareciam estar discutindo e assim que o homem virou o rosto e me encarou, seu olhar desceu pelo meu corpo, que estava coberto por um biquíni intermediário –


nem recatado, nem ousado – e depois voltou a me encarar com um sorriso de pegador. Olhei para Ben, que parecia frustrado ao passar as mãos nos cabelos e ao olhar entre nós. — Vamos para meu escritório, estou com visitas. — Ah, acho que vou socializar antes de escutar seus sermões de merda, meu irmão — falou com desdém e isso me irritou profundamente. Quem ele pensava que era? Coloquei as mãos na cintura, olhei-o dos pés a cabeça e fiz uma careta. Porra, esse era o irmão do noivo de Ray, havia muitas semelhanças e não tinha como negar. Era o do meio ou o mais novo? Que se explodisse, eu só queria tirar essa vantagem dele, apesar de ser gostoso igual o Ben. Maldita hora que pedi um clone mais novo... esqueci de especificar que precisava ser educado como o irmão. — Desculpa Ben, achei que fosse uma visita melhor, talvez a louca da sua ex. Estava pronta para uma luta corporal. — Sou Carlos Eduardo, irmão de Benjamin e não se preocupe, porque eu posso te dar a luta corporal que você precisa. — Desculpe, Cadu — percebi que ele não gostou de como o chamei e ampliei meu sorriso, um a zero para mim —, mas do corpo que eu gosto, você não tem nenhum atributo. — Tenho certeza que você não olhou direito, garota — retrucou com certo desdém e não me abalei. Dificilmente alguém ganhava de mim quando estava em modo... Letícia. — Há livros que valem o esforço de serem lidos mesmo que suas sinopses não sejam agradáveis. Esse não é o seu caso. Ia sair de lá quando percebi que ele se aproximou e estendeu a mão para tentar me tocar. Sua roupa social o deixava sério, mas o sorriso jovial


quebrava toda essa formalidade, sendo o verdadeiro contraste entre o bom moço e o cafajeste. Impossível descrevê-lo com apenas um adjetivo, sua beleza era tão autêntica quanto a de Ben, seus olhos guardavam mistérios e seu sorriso... sim, fui fisgada pelo sorriso do cafajeste e me odiava por isso. Olhei para sua mão quando desviei meu corpo para não ser tocado, depois para o seu rosto e sorri, achando graça desse cara não ter entendido que eu o dispensei, além de mostrar que preferia mil vezes que fosse a ex idiota ao invés dele. — Um livro não pode te proporcionar momentos agradáveis como eu posso. — Ah, aí é que você se engana. Antes sozinha e acompanhada de um livro do que ter que aguentar o ego de um homem falando por si só. — Você não me conhece! — falou baixo e em tom chateado, o que me deixou satisfeita. — Eu já vi o bastante para não me impressionar. Pisquei um olho, olhei para Ben que segurava o riso e voltei para a piscina rebolando. Meu biquíni não era fio dental, mas estava cavado o suficiente para me exibir. Pulei na piscina, voltei a ficar perto das minhas amigas e comentei o que aconteceu. — O cara é um idiota, acho que seu Ben está melhor sem ele por perto. Esse Cadu parece ser o oposto do irmão! Omiti a parte que senti seu olhar como se fosse suas mãos no meu corpo e meu coração acelerado ao ver seu sorriso. Ele era idiota, me afetava e daria mais trabalho para esquecer do que imaginava.


Capítulo 2 Carlos Eduardo — Deixe para lá Eduardo — como sempre me chamou, Ben tirou minha atenção daquela pequena ousada e seguiu para o escritório de nosso pai. Bem, agora não mais. — Essa que é sua noiva? — perguntei sentido o gosto amargo das palavras, tanto pelo seu parentesco quanto pela atração imediata que tive. — Letícia e Paula são amigas de Rayanne, minha noiva. Ela está na piscina, a de trança no cabelo. Ele entrou no escritório, apontou a janela e se sentou em uma das poltronas de lá. Fui até a janela e observei quem eram, meu olhar não desviou da garota de cabelos até os ombros, mechas roxas e língua afiada. Nenhuma mulher resistiu ao meu charme, ela não seria a primeira. — Você não veio apenas discutir sobre meu casamento ou ficar babando nas minhas visitas. Estou feliz que veio, mas descontente que chegou com cinco pedras na mão — reclamou cansado e por obrigação, voltei minha atenção a ele. Peguei meu celular, abri o e-mail encaminhado pelo meu detetive e joguei o aparelho em seu colo. — Você não pode se casar com essa mulher. Sua família destruiu a nossa, você quer finalmente enterrar qualquer vínculo que a gente tinha? Não vou aceitar essa união! Ele olhou a tela do aparelho por um bom tempo. Franziu a testa, mexeu na tela e por fim, sorriu e devolveu para mim.


— Se eu soubesse que minha mulher tinha parentesco com o amante da nossa mãe eu teria te trazido muito antes do que agora. — Ele se levantou. — Mas foi melhor assim, porque ela não irá desistir de se casar comigo nem eu dela. — Está maluco? — excedi. — Sim. Muito louco, apaixonado e comendo na mão daquela mulher se precisar. — Ele apontou para a janela. — Ela é o motivo de você estar aqui, de podermos conversar e finalmente encerrar essa história mal contada de nossa vida. — Qual o seu problema? Está fazendo terapia ou encontrou uma nova religião? — zombei e ele deu de ombros. — Você está perdendo a linha, Eduardo. Sempre foi o mais jovial, descontraído... — Ele se aproximou da janela. — Aquela última foto que você postou na sua rede social, a mensagem era para mim? — Está me seguindo? Resolvi me aproximar da janela também e observar a mesma coisa que ele. A pequena ousada de mechas no cabelo estava saindo da piscina, a água que escorria pela sua pele acordou certos músculos que não foram chamados para a conversa tensa com meu irmão. — Esqueça tudo o que você sabia sobre nosso passado. Esqueça o seu conceito de mulheres. — Ele apertou meu ombro e nos encaramos, finalmente desarmados. O que foi isso, feitiçaria? — Os diários de nossa mãe foram encontrados. Eu não acredito mais que ela teve um amante e nem que nosso pai cometeu suicídio e sim assassinato. — Onde estão? — Meu coração acelerou, meu chão parecia ter saído debaixo dos meus pés e uma insegurança, que sempre tentava mascarar, começou a dar as caras. Isso não era apenas uma mudança de contexto. Tudo o que acreditei, a raiva que construí em cima dessa traição parecia ter sido em vão. Minha cabeça


começou a doer e eu precisava de espaço para respirar, a gravata estava me sufocando. Quando Ben abriu uma gaveta da mesa com chave, eu vi aqueles diários e explodi. — Eu preciso de ar! — anunciei ao mesmo tempo que tentava remover a gravata do meu colarinho. Puta que pariu de roupa dos infernos, eu precisava de ar. Escutei meu nome ser chamado e não respondi, apenas segui para um local onde sempre me sentia em paz naquela casa. Não demorei muito para chegar na biblioteca, encontrá-la limpa e também, com mais estantes e livros. Meu peito doeu novamente e precisei sentar, finalmente arrancando a gravata e observando o item novo no ambiente e o livro deixado em cima da mesma de forma displicente. Aberto em uma página qualquer, deixei meus olhos vagarem pelo texto com a intensão de me distrair. A narrativa era romântica, a descrição da cena íntima do casal estava explícita e involuntariamente senti meu corpo reagir a isso. Que livro era esse? Meu irmão resolveu comprar pornografia em forma de livro?


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.