Destinados Moto Clube - Degustação

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Mari Sales 1ª. Edição 2018 2


Copyright© 2017 Mari Sales

Revisão: Mari Sales. Capa: Mari Sales. Diagramação: Mari Sales.

Todos os direitos reservados.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Este livro segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento por escrito da autora.

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Sumário Sumário ............................................................................ 4 Prefácio............................................................................. 8 Daiane Moura – @contandocapitulos .................. 9 Nota da Autora................................................................ 10 Prólogo ........................................................................... 12 Quando o Destinados Moto Clube nasceu ......... 12 Música: Blondie - One Way Or Another ............. 12 Instagram: @destino.literario ............................. 12 Capítulo 1 ....................................................................... 18 Para o Amor Não Há Limites.............................. 18 Música: John Bon Jovi – It’s My Life .................. 18 Instagram: @contandocapitulos ......................... 18 Capítulo 2 ....................................................................... 28 A Voz do Amor ................................................... 28 Música: Jorge & Mateus - Como Não Me Apaixonar ........................................................................................ 28 Instagram: @sussurrando_sonhos .................... 28 Capítulo 3 .......................... Erro! Indicador não definido. A Força do Amor ... Erro! Indicador não definido. Música: Rihanna - WarriorErro! definido.

Indicador

não

Instagram: @capricornbooksErro! Indicador não definido. 4


Capítulo 4 ........................... Erro! Indicador não definido. Amor Clichê ........... Erro! Indicador não definido. Música: Vaults – One Last NightErro! não definido.

Indicador

Instagram: @issoateparecemagiaErro! Indicador não definido. Capítulo 5 ........................... Erro! Indicador não definido. Aqui Encontrei a Paz do Meu Amor ............... Erro! Indicador não definido. Música: Avicii – Hey BrotherErro! Indicador não definido. Instagram: @estudiodecriacaoblog ............... Erro! Indicador não definido. Capítulo 6 ........................... Erro! Indicador não definido. Verdadeiro Amor.... Erro! Indicador não definido. Música: David Guetta – She WolfErro! Indicador não definido. Instagram: @whatjanareadsErro! Indicador não definido. Capítulo 7 ........................... Erro! Indicador não definido. No Amor e Na ComidaErro! definido.

Indicador

não

Música: Rihanna – We Found Love ............... Erro! Indicador não definido. Instagram: @ocantinhodaleituraaErro! Indicador não definido. Capítulo 8 ........................... Erro! Indicador não definido. 5


Conflito de Interesses, Amor ou Poder? ........Erro! Indicador não definido. Música: Calvin Harris - OutsideErro! não definido.

Indicador

Instagram: @leiturafreneticaErro! Indicador não definido. Capítulo 9 .......................... Erro! Indicador não definido. O Amor Mora ao LadoErro! definido.

Indicador

não

Música: Velvet Revolver – SlitherErro! Indicador não definido. Instagram: @romanceempaginasErro! Indicador não definido. Capítulo 10 ........................ Erro! Indicador não definido. O Amor Está ReveladoErro! definido.

Indicador

não

Música: Green Day – Boulevard Of Broken Dreams ........................................... Erro! Indicador não definido. Instagram: @folhadepolenErro! definido.

Indicador

não

Capítulo 11 ........................ Erro! Indicador não definido. Sem Rótulo Para AmarErro! definido.

Indicador

não

Música: Beyoncé – Run The World ................Erro! Indicador não definido. Instagram: @primeirasimpressoesErro! Indicador não definido. 6


Capítulo 12 ......................... Erro! Indicador não definido. Amor Além dos AnosErro! definido.

Indicador

não

Música: Lana Del Rey – Blue Jeans .............. Erro! Indicador não definido. Instagram: @mocaliterariaErro! definido.

Indicador

não

Capítulo 13 ......................... Erro! Indicador não definido. Fantasias do Amor. Erro! Indicador não definido. Música: Lady Gaga – You And IErro! não definido.

Indicador

Instagram: @conversas_literariasErro! Indicador não definido. Capítulo 14 ......................... Erro! Indicador não definido. Um Amor predestinadoErro! definido.

Indicador

não

Música: OneRepublic – Counting Stars ......... Erro! Indicador não definido. Instagram: @sintoniabooksErro! Indicador não definido. Capítulo 15 ......................... Erro! Indicador não definido. Amor Mascarado ... Erro! Indicador não definido. Música: Train - Drive ByErro! definido.

Indicador

não

Instagram: @geneseliterariaErro! Indicador não definido. Capítulo 16 ......................... Erro! Indicador não definido. 7


O Amor Bruto dos Meus SonhosErro! não definido.

Indicador

Música: Bruno Mars – Just The Way You AreErro! Indicador não definido. Instagram: @livre.leErro! Indicador não definido. Capítulo 17 ........................ Erro! Indicador não definido. Amor e InvestigaçãoErro! definido.

Indicador

não

Música: AudioSlave - RevelationsErro! Indicador não definido. Instagram: @tahbooksErro! definido.

Indicador

não

Capítulo 18 ........................ Erro! Indicador não definido. Quando o Amor SobreviveErro! Indicador não definido. Música: Katy Perry – Dark HorseErro! Indicador não definido. Instagram: @leiturizando__Erro! Indicador não definido. Capítulo 19 ........................ Erro! Indicador não definido. Um Amor Saído dos LivrosErro! Indicador não definido. Música: Goo Goo Dools - SlideErro! não definido.

Indicador

Instagram: @pausaparaleituraErro! não definido.

Indicador

Capítulo 20 ........................ Erro! Indicador não definido. 8


Nenhuma Lei Sobrepõe o AmorErro! não definido.

Indicador

Música: Taylor Swift - ...Ready For It? ........... Erro! Indicador não definido. Instagram: @coffeebookswithErro! Indicador não definido.

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Prefácio A literatura é muito mais que um amontoado de letras em páginas aleatórias, na verdade é a mais pura magia existente no dia-a-dia, construída por aqueles que receberam o dom de escrever, de criar mundos diferentes e transformar vidas por meio de suas obras. Quando criamos o Clube de Leitura Destino Literário, nossa intenção era unir 20 pessoas apaixonadas pelo poder da leitura e juntos embarcar em uma nova aventura. Nossa primeira autora convidada foi a criadora destas lindas histórias que vocês lerão a seguir. Mari acreditou em nosso projeto desde o início, sem garantias 10


que daria certo. Foi uma amiga e incentivadora durante todo o processo. Quando a leitura começou, no dia 1º de outubro de 2017, passamos a perceber a corrente especial que se formava naquele grupo. Durante um mês compartilhamos nossas impressões, angústias e expectativas sobre o livro Selvagem Moto Clube. Somente quem estava ali diariamente é capaz de entender o quanto esta experiência foi especial. Destinados Moto Clube é o resultado disso. A principal prova de amor de uma autora por seus leitores. São 20 contos, um para cada participante do clube, 20 histórias que jamais vamos esquecer. Um verdadeiro presente que demonstra a mais pura e verdadeira essência da literatura: uma constante troca de amor e carinho entre autores e leitores. Espero que estes contos conquistem o coração de vocês, assim como conquistaram o meu.

Daiane Moura – @contandocapitulos

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Nota da Autora Os contos dos Destinados Moto Clube foram uma forma de homenagear as leitoras que participaram dos debates do Clube Destino Literário. Ele surgiu em Outubro de 2017, idealizados por Daiane e Jhenny, duas mulheres lindas e iluminadas. O grupo discute virtualmente no whatsapp e a leitura, antes solitária, agora é divertida e cheia de debates. Participar do clube de leitura Destino Literário foi uma surpresa. Como leitora, eu adoro poder ler e comentar com outras pessoas, mas como autora... a experiência foi magnífica. Eu não conseguia imaginar o quanto a minha história poderia dar o que falar! 12


Conheci pessoas lindas, honestas e respeitosas. Tiveram opiniões contrárias, críticas e elogios e agradeço a todos por isso. Vocês contribuíram para meu crescimento pessoal e profissional. Espero que nossa troca de experiência também tenha trazido bons frutos para vocês. Foi engraçado o quanto eu errei e acertei na personalidade das mocinhas. Não tive a intenção de ser fiel a vida real, mas as vezes, nosso inconsciente sabe muito mais do que imaginamos. Obrigada a todos os IGs participantes, vocês estão eternizados nessas histórias!

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Prólogo Quando o Destinados Moto Clube nasceu Música: Blondie - One Way Or Another Instagram: @destino.literario Depois de tudo o que elas passaram, estavam se reunindo pela primeira vez. Não era algo que evitavam, 14


mas a rotina e a vida em família mudaram as prioridades. Antes, a irmandade era prioridade acima de tudo, hoje, restou o amor e carinho por ela. Destinados Moto Clube deixou de ser um local que acolhia pessoas sem família ou destino certo. Não era à toa que o nome cabia tão bem para os vinte integrantes que faziam parte. Dai e Jhenny foram as idealizadoras do projeto. Tornaram-se amigas por acaso, quando ambas estavam na fila do supermercado e apenas dois caixas estavam disponíveis para atender mais de 15 pessoas. — Cadê o gerente desse lugar? Além de não ter caixa preferencial, há muitos clientes para serem atendidos! — Dai saiu da fila com seu carrinho e abordou um funcionário que observava tudo acontecer e não fazia nada. Esse mercado era o mais próximo da sua pequena casa, que alugava com tanto custo. Ela não poderia se dar ao luxo de ir em outro lugar, já que sua locomoção eram os próprios pés. — Senhora, eu não tenho culpa — o homem de olhar nem um pouco amistoso se apressou em responder, causando ira e revolta. — Mas poderia estar fazendo algo ao invés de ficar apenas olhando. — O gerente não veio. Não sou pago para ficar no caixa — assim que as palavras saíram da boca do homem, Dai arregalou os olhos e quis soltar uns palavrões. Que tipo de pessoa era essa, que não movimentava nenhum músculo para resolver algo da empresa que trabalha? 15


— Ah, você não é pago por isso, mas eu pago para ter um bom atendimento. — Jhenny saiu da fila, mas abandonou seu carrinho. Vestida com roupas pretas no estilo roqueira, ela parecia uma mulher em uma missão. Pegou com força e precisão no braço do homem que fazia corpo mole, colocou-o sentado em um dos caixas vagos e apontou para o monitor do computador, que registrava as compras. — Ligue! — Você não manda... — Se eu fosse você, obedecia. — Dai entrou na provocação e Jhenny não desviou seu olhar mortal do funcionário, que se intimidou e começou a trabalhar. — Venha, senhora e gestante, vocês têm preferência. — A heroína do dia pediu para as pessoas, que tinham direito ao atendimento preferencial, fossem atendidos por ele. — E ai de você atender mal algum deles — ela completou de forma conspiratória e ameaçadora, causando nervoso ao homem. Depois desse acontecimento, Dai e Jhenny se apresentaram e foi amizade à primeira vista, daquelas que a alma se reconhece, como se fossem irmãs de outros tempos. Jhenny era vocalista de uma banda universitária e morava em uma república ali perto. Era estudante de música, para desgosto dos pais, mas felicidade plena dela. O ápice do seu dia era juntar os integrantes de sua banda e soltar seu espírito nas palavras de amor e protestos das músicas de rock que fazia cover.

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Totalmente diferente, Dai faz de tudo para não largar a faculdade de educação física, a pedido dos pais. Longe da família, ela aluga um estúdio de Pilates e dá aulas, supervisionada, para todos os tipos de pessoas enquanto tenta continuar seus estudos. Seu maior orgulho é saber que pode ajudar com a recuperação de quem está debilidade, desde o mais simples ao mais complexo. Às vezes, a ajuda era mais psicológica que física. Dai começou a frequentar os shows de Jhenny e ela, a pequena casa da estudante de educação física, uma vez que a república onde residia era um antro de bagunça e desordem. Aos poucos, elas compartilharam a casa, então os sonhos. Ambas gostavam de ajudar as pessoas e um velho e louco homem, em um dos shows de Jhenny, entregou um galpão e motos para ambas. Assim que o show acabou, Jhenny largou os meninos da banda e foi sentar na mesa em que Dai estava ocupando. Era um ritual, elas tinham duas doses de bebidas, conversavam sobre a performance e depois se reuniam com o resto da banda. O velho motociclista, vestido em couro e jeans, cabelos longos e barba espessa, as abordaram e soltou sem cerimônias. — Tenho algo para vocês, moças. — Colocou um molho de chaves na mesa e as encarou. — Esse era o meu Moto Clube, mas meus irmãos fraternos decidiram me abandonar por um futuro longe de mim. Estou velho, não 17


tenho família e tudo o que queria era que meu legado continuasse. — Moço, acho que... — Venham, valerá a pena — o homem insistiu. As duas trocaram olhares curiosos, avisaram os amigos e acompanharam o homem, que não estava em uma moto, mas um carro. Loucura? Quem sabe... Elas dizem que foi sorte, o destino batendo a porta e preenchendo um espaço na vida que realmente valia a pena. Destinados Moto Clube virou a casa delas e em pouco tempo, de outras pessoas de garra, a maioria mulheres. Esse local há muito transformou vidas e hoje, trouxe recordações. Sentadas confortavelmente em sofás, cadeiras e no chão, os integrantes do destinados conversavam na sala comunitária do Moto Clube. Hoje, nenhum deles moravam no galpão. Os quartos se transformaram em alojamento de emergência, já que todas possuíam família, sejam ela apenas mais um ou várias pessoas. O que importava eram que todos haviam encontrado o seu destino, o amor que tanto ansiamos, o sincero e eterno. — Vocês já ouviram a história de quando Dai conheceu Castiel? — Jhenny, sempre a mais desinibida da turma, interrompe a conversa paralela e fazem todas focarem em Dai e sua história.

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Capítulo 1 Para o Amor Não Há Limites Música: John Bon Jovi – It’s My Life Instagram: @contandocapitulos Fazia pouco mais de uma semana que havia me formado em Educação Física. Depois de quase oito anos na faculdade, rebolando com horários e trabalhos, consegui, finalmente, concluir minha graduação. Nas aulas de Pilates que eu tanto gostava de ministrar, parecia outra pessoa, mais confiante e feliz. Não 20


só por ter conquistado algo que era meu sonho, mas por ter uma família de verdade, os Destinados Moto Clube. Jhenny e eu embarcamos de cabeça nessa loucura de manter o Moto Clube do Velho Quim, como gostava de ser chamado. Depois de uma semana nos mostrando o potencial do local e como sobreviver apenas estando a frente desse lugar, Velho Quim sumiu do mapa. O Bar Destinados, um dos locais mais badalados dos finais de semana, era gerenciado por Henrique, que nos repassava um valor fixo por mês pelo aluguel do local, que era anexo a sede do Moto Clube. Aprendi a pilotar uma moto, mudei meu jeito de vestir e minha residência para o galpão, que contava com mais de vinte quartos. Aos poucos, outras pessoas entraram nas nossas vidas e se tornaram membros e hoje, poderia dizer que tinha uma família, até mais sólida que a sanguínea. Amava meus pais, mas suas insistências em querer ditar o que fazer da vida me desmotivava a manter contato. São sete horas da manhã, paro minha moto Harley na frente do estúdio que trabalho e começo mais um dia. Hoje teria um paciente novo, um acidentado de moto há algumas semanas e hoje, está em fase de recuperação depois de sair do hospital. — Bom dia Jô! — cumprimento a recepcionista e técnica de enfermagem que nos acompanha no local.

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Sigo direto para o banheiro dos funcionários, troco minha calça jeans rasgada, blusa preta e colete por roupas confortáveis de ginástica. Meu corpo não era exuberante, mas pelas atividades que praticava, não deixava a desejar. Quando volto para a sala de exercícios, encontro um homem e paraliso meus movimentos. Ele está em uma cadeira de rodas, carrancudo e acompanhando de uma senhora bem parecida com ele, provavelmente sua mãe. Era muito estranho como alguém de cabelos bagunçados pele marcada de sol e ombros largos me deixaram estagnada. Quem era ele? — Dai, seu paciente chegou! — Jô me tira do transe estranho que estava e ambos olham para mim. Enquanto a senhora me olha com ternura, o homem me olha, com seus olhos castanhos, de forma acusatória. O que eu fiz? — Bom dia! — Dou meu maior sorriso, com a intenção de desmanchar a carranca do meu paciente, mas não vale de nada. — Vamos para minha sala, por favor. Indico uma das salas que usamos para entrevista ou terapias particulares. A mulher ficou contagiada pela minha animação e mal entramos, ela começou a falar: — Olá, Dai. Você foi muito recomendada por Tatiana, a fisioterapeuta do meu filho. Ele sofreu um acidente na pista de corrida de moto, quebrou a perna em não sei quantos pedaços, precisou colocar aqueles ferros... — E assim ela contou tudo o que aconteceu e como, 22


enquanto eu sentava na cadeira atrás da mesa e tentava acompanhar tudo. Às vezes, eu a interrompia e ela repetia. Impossível não olhar de relance para Castiel, o anjo de semblante revoltoso sentado à minha frente. Ele tinha trinta anos, era independente e vivia a vida como sempre sonhou, mas um acidente mudou tudo, o fez depender de sua mãe e ficar refém de seu próprio corpo. — Pronto para começar? — perguntei, assim que colhi todas as informações que precisava e olhei alguns exames que me trouxeram. A lesão foi grave, mas a cicatrização estava acontecendo conforme o desejado. — Não — Castiel finalmente falou e sua mãe apertou seu ombro com força, como apoio. — Meu filho, é tempo de reagir. A vida não se resume em pilotar uma moto, há muita coisa que pode ser feito em quatro rodas também. O médico disse que existem carros adaptados que você poderá utilizar. — E então, tudo fez sentido para mim. Ele tinha medo de nunca mais poder pilotar uma moto. Acho que tínhamos coisas em comum, já que a minha moto era quase uma parte de mim. Não saberia viver sem ela. Sorrindo e sendo cordial, os direcionei até o local das atividades e percebo que uma das fisioterapeutas já estava com seu paciente. Fui direto para as bolas de Pilates e pedi que ele se sentasse. Ele poderia andar, mas não tinha forças ou equilíbrio o suficiente para se manter de pé por muito tempo. E, pelo jeito turrão, não queria andar de muletas, apesar de não estar contente na cadeira. 23


— A senhora pode ficar na recepção enquanto trabalho com ele. Assim que concluir, Jô a chamará — ofereci a gentil senhora que sorriu e seguiu para longe de nós. Observo a dificuldade que ele tem de ficar de pé com apenas uma perna de apoio. A direita foi esmagada pela moto e estava debilitada enquanto a esquerda era seu apoio. — Vejo que é destro. Será um reaprendizado mudar seu ponto de apoio — tento ser simpática, mas o homem não me responde e se possível, transforma sua expressão facial em algo além de bravo. Peço para ele fazer alguns movimentos e ele não colabora. Tento auxiliá-lo, mas não há força de vontade, ele parece ter desistido de tudo. Não no meu turno! Respiro fundo, me posto de pé na frente dele com as mãos na cintura e bato um pé com força no chão, chamando sua atenção. — É o seguinte, eu não posso fazer a aula por você, preciso que você colabore! — Eu não queria ter vindo — solta indignado. — Do que adianta fazer todo esse esforço, se os médicos já me disseram que não terei novamente o movimento da minha perna como antes. Eu amo motos, participo de competições com ela, é minha profissão. Se for para ver uma moto como aquela ali da frente e não poder andar, eu prefiro ficar como estou. — Seus olhos não desviaram dos 24


meus quando falou e parecia coisa de livro, mas eu enxerguei sua alma. Castiel parecia um anjo com suas asas quebradas. Em poucas palavras, ele conseguiu ser sincero e dizer tudo o que eu precisava saber. Seu sonho foi comprometido e ele esqueceu que tudo tem dois lados, ou mais. — Bem, vou mudar sua perspectiva. — Determinada e com um enorme sorriso no rosto, faço com que Castiel se levante e apoie seu braço no meu ombro. O contato do nosso corpo causa um rebuliço no meu estômago e tento ignorar a sensação. Sua surpresa é clara, mas não me intimido, sigo com minha intuição, que nunca falhou desde que aceitei Destinados Moto Clube como meu. — O que você vai fazer? — Mostrar que é possível andar de moto sim! — Andando devagar, sigo para fora da sala de atividades e cruzo com sua mãe. — Terminou? — Ela levanta assustada e feliz. — Não, estamos indo para uma aula de campo. — Eu sorrio confiante, mostrando que sabia o que estava fazendo, mas na verdade, não. Parei no banheiro dos funcionários, fiz com que ele se apoiasse na parede, peguei a chave da minha moto e voltei para um Castiel curioso e não mais nervoso. Ele era um estranho, que despertou algo diferente em mim e então, fez com que minha intuição trabalhasse. Há muito não sentia uma conexão com alguém nesse nível, 25


muito menos do sexo oposto. Deixar de lado nunca foi uma característica minha, então, segui. E se ele cair? Se piorar a sua situação? Minha consciência me fez querer recuar, mas minhas pernas seguiram em frente como as pernas dele. Acho que o peguei de surpresa quando destravei a moto e ofereci o capacete para ele. — Tome. — Você pilota? — Ele estava atordoado, mas colocou o capacete, sedento por poder ficar sob duas rodas. — Você não viu nada. — Sorri ao mesmo tempo que ele retribuiu o sorriso. Algo entre nós foi acertado, combinou e foi resolvido. O modelo da minha moto era confortável para a pessoa que ficava na garupa. Com minha ajuda, passei sua perna lesionada pelo assento da moto e o coloquei na garupa. Subi, coloquei a chave na ignição e liguei. Estava sem capacete, mas não importava, não sairia do bairro. Não precisei dizer mais nada, quando ele envolveu seus braços na minha cintura e seguimos com calma e paciência pelas ruas do bairro. O passeio não foi o mais libertador, mas com certeza foi conciliador. Senti a energia negativa que pairava sobre os ombros de Castiel irem embora enquanto o motor fazia barulho e a moto vibrava entre as nossas pernas. 26


Meu coração acelerou e parou junto com o motor e tudo o que eu mais gostava estava acontecendo naquele momento, que era ajudar a se recuperar. Quando voltamos para a frente do estúdio de Pilates, a mãe dele estava angustiada na frente nos esperando. — Sua louca, quer matar meu filho! — Saio da moto com os olhos fechado e respirando fundo. Posso ter feito merda, mas com certeza foi necessário para mudar a vida desse homem. Sem olhar para a senhora que não parecia simpática, ajudo Castiel desmontar e ele me devolve o capacete com o sorriso maior e mais sincero que já recebi na vida. O brilho nos olhos dele não eram de lágrimas de dor, que tenho certeza que ele sentiu pela posição que ficou, mas de agradecimento e vida. Ele estava vivo e me agradecia! — Eu vou me casar com você — ele declarou e seguiu sua mãe para sua cadeira de rodas e para longe de mim.

Passaram-se dias para um segundo encontro com Castiel, meu futuro marido. Longe do olhar da sua mãe, ele burlou as orientações familiares e frequentou minhas aulas de Pilates por um bom tempo. Enquanto isso, nós nos conhecemos, nos apaixonamos e, consequentemente, casamos. Não tenho um bom relacionamento com minha

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sogra, mas nĂŁo me importo, uma vez que a nossa felicidade ĂŠ a prioridade. Castiel ainda nĂŁo consegue pilotar uma moto sozinho, mas com certeza eu nĂŁo me importarei de ser sua piloto para o resto das nossas vidas.

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Capítulo 2 A Voz do Amor Música: Jorge & Mateus - Como Não Me Apaixonar Instagram: @sussurrando_sonhos Música alta, corpos se tocando sem cuidado e muita bebida era o tipo de balada que eu curtia. Não era atoa que meu estilo musical era o rock e cantar, para mim, ia além de uma expressão cultural.

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A festa acontecia em uma galeria com reputação duvidosa. Gente estranha e com gosto para narcóticos era o que mais se comentava. Meus amigos de banda não me acompanhavam nessas incursões para esse lado da cidade, mas minha amiga Dai não se intimidava, ela sempre estava comigo. O que eu podia fazer, se as vezes curtia algo... alternativo. — Uau, olha aquele carinha! — Minha amiga aponta para um homem de costas e com cabelos longos. No local onde estávamos, ninguém se importava conosco, então, indicar ou gritar não fazia diferença. — Pare de cobiçar os homens, você já tem um para quem suspirar — retruquei com falsa irritação, já que há pouco menos de dois meses, Dai e Castiel estavam namorando e apaixonados. Como hoje era noite das garotas, ele ficou na sede dos Destinados, esperando nossa ligação para nos buscar. O motorista da rodada. — Eu amo aquele homem! — Seus olhos brilharam ao falar dele e sorrio ao ver que minha amiga estava muito feliz. Ela merecia. — Mas meu radar para homem interessante não foi desativado, uma vez que minha amiga ainda não encontrou seu par. — Ela pisca um olho e voltamos a olhar para aquele rapaz, que agora nos encarava. Abusada, Dai me coloca na sua frente e me apresenta para o homem que estava praticamente do outro lado da pista. Ele tinha cabelos ondulados até os ombros, 31


barba por fazer e roupa no estilo que mais gosto, preta rock 'n' roll. Vejo-o falando algo para a pessoa que estava ao seu lado e vem em nossa direção. — Merda, ele está vindo para cá — gritei para Dai, que me empurrou para frente levemente e me deixou sozinha esperando meu predador.

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