Coletânea de Contos Encantadas Por Livros e Música: Primeira Temporada - Degustação

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Mari Sales 1ª. Edição 2018



Copyright © Mari Sales Todos os direitos reservados. Criado no Brasil. Edição Digital: Criativa TI Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.


Sumário Série Encantadas por Livros e Música - Livro 1 Série Encantadas por Livros e Música - Livro 2 Série Encantadas por Livros e Música - Livro 3 Série Encantadas por Livros e Música - Livro 4 Série Encantadas por Livros e Música - Livro 5 Série Encantadas por Livros e Música - Livro 6 Série Encantadas por Livros e Música - Livro 7 Série Encantadas por Livros e Música - Livro 8 Série Encantadas por Livros e Música - Livro 9 Série Encantadas por Livros e Música – Livro 10 Agradecimentos Sobre a Autora Outras Obras


Série Encantadas por Livros e Música - Livro 1 Mari Sales 1ª. Edição 2018


Sinopse Michele era dona da Livraria Encantadas por Livros e Música. Desiludida dos homens, mas vivendo sempre feliz e confiante, admirando o charmoso gerente do banco que ela frequenta toda sexta-feira. Uma confusão no banco, troca de palavras e um encontro marcado que iniciou não só a história de Leo e Michele, mas de toda uma nação encantada.

Obs: Essa é a primeira história sobre Charmed Town e as mulheres encantadas que a habitam. Não há uma quantidade exata de contos, mas cada um terá um casal diferente com enredo vinculado com o conto anterior.


Capítulo 1 Michele Com um malote em mãos, fui de carro até o banco para fazer o depósito da semana. Era sexta-feira, o dia de encher a conta bancária da minha livraria Encantadas por Livros e Música. Bem, ela não era apenas uma livraria, mas também a realização de um sonho de adolescente. Esse era o dia que meus olhos eram agraciados pela miragem que era o gerente do banco. Céus, Leonardo não me atendia, não sabia da minha existência, mas eu sabia da dele. Com a cara do pecado e corpo trabalhado na luxúria, o homem vestia terno e gravata e me deixava alucinada só com aquela pose de dono da porra toda. Minhas amigas já me falaram para eu me apresentar, me mostrar, expor que eu existo, mas... sabe quando você está esperando o destino fazer isso por você, para tornar tudo mais emocionante e especial? Porque no dia que seu olhar finalmente encontrarem os meus olhos... ah, não havia chance dele escapar, ele seria meu. Muito confiante? Depende do meu humor e hoje eu estava para o crime.


Estacionei o carro uma quadra do lugar e xinguei mentalmente os bancos que pouco se lixavam para seus clientes. O que custava fazer um estacionamento subterrâneo ou comprar dois terrenos, para poder agradar seus clientes? Afinal de contas, quem colocava dinheiro nesse lugar éramos nós! Com minha bolsa gigante a tiracolo, quando parei na porta giratória precisei chamar o segurança para olhar dentro e liberar minha passagem. Havia tantas coisas importantes dentro dela que se for selecionar quais eram de metais e quais não, ficaria mais de meia hora, atrapalhando o trânsito atrás de mim. Peguei minha senha, segui para os bancos de espera do caixa e deixei meu olhar passear pela agência. Ah, ali estava ele, o homem que me fazia suspirar e imaginar o que havia debaixo de sua roupa. Concentrado, ele falava ao telefone, digitava no teclado do seu computador e ainda conversava com a pessoa sentada à sua frente. Multifuncional, uma qualidade rara que eu amava em homens. Minha senha foi chamada, levantei me sentido a modelo da passarela e desfilei até o caixa que me atenderia. Não tinha nada a ver com imaginar Leo me observando rebolar e me desejar, longe disso. Entreguei o malote, meu documento e meu cartão magnético para o homem que não parecia muito feliz em estar trabalhando hoje. — Tranquilo por aqui para um sexta, não acha? — perguntei toda sorridente, tentando mudar um pouco a carranca do homem. — Pois é... — limitou-se a responder e fiz um biquinho indignada por ele não ter caído na minha graça da felicidade. Custava ser simpático? Ele franziu o cenho enquanto olhava o monitor do seu computador e digitava de forma furiosa no seu teclado. — Alguma coisa errada? — Acho que existe alguma pendência na sua conta, moça. — Ele estendeu a mão e me devolveu tudo que havia entregue a ele. — Vai precisar falar com seu gerente antes de fazer o depósito.


— Como assim? É quase um ritual sagrado eu estar nessa agência para depositar esse dinheiro na conta! — falei um pouco alterada e segurando os itens com mais força do que necessário. Bancos sabiam facilitar nossa vida, mas também atrasá-la. — Não posso te informar — falou de forma mecânica e virou o monitor para ver sua tela. — Aqui diz: restrição, falar com o gerente. Sou apenas o mensageiro. — Vou ter que pegar outra fila? — emendei com raiva. Lá se vai meu horário de almoço, sagrado, regrado a leitura e descanso. — É só retirar a senha no balcão a direita da porta de entrada. E assim ele me dispensou, chamou o próximo da fila e me fez contar até dez antes de rodar a baiana e fechar a conta nesse lugar. Pisando firme e imaginando mil e uma formas de tortura para o caixa e meu gerente do banco, bem como quem fez esse maldito sistema – porque tudo era culpa do sistema –, segui para o balcão onde tinha a máquina de emissão de senha. Antes que eu pudesse apertar o botão, alguém segurou minha mão e uma onda de calor e atração me fez congelar no lugar. Oh meu Deus! Virei meu rosto para o lado e lá está Leonardo, segurando minha mão e me encarando com cordialidade. — Olá, sou Leonardo! Você precisa falar com um gerente? — perguntou e me soltou, fazendo com que eu sentisse doida por necessitar mais de seu toque. — Sim, minha conta parece estar com restrição... — falei hipnotizada, a raiva de antes havia ido embora, porque... eu estava falando com ele! ELE! — Vamos ver o que posso fazer para resolver a sua vida — falou com um enorme sorriso, aponto para sua mesa e me fez segui-lo como um verdadeiro cavalheiro e anfitrião.


O que você pode faze para resolver minha vida? Bem, que tal começar por resolver meu celibato forçado de mais de seis meses? Ainda bem que minha mente não dava voz para minha boca, senão eu ficaria mais vermelha do que estava no momento. Sentei na cadeira à frente de sua mesa enquanto ele se sentava na sua. Entreguei meu documento e cartão, ele conferiu os dados, digitou algumas coisas no computador e me fez admirá-lo mais do que antes. Era tão lindo ver um homem trabalhar, a procura de resolver a sua vida e te fazer feliz. Tão diferente dos homens que entraram na minha vida, começando pelo meu pai, que mais sugava do que dava, depois os dois últimos namorados que sustentei e... — Parece que sua conta foi restringida por necessidade de atualização de dados. Parece que houve uma tentativa de acesso suspeito essa semana na sua conta e por questão de segurança, ela foi bloqueada para que você pudesse atualizar seus dados e mudar a senha. Ele interrompeu meu devaneio e me fez rolar os olhos, lembrando que o último encosto que tomou conta da minha vida tinha acesso às minhas contas e não duvidava nada que tinha sido ele o causador do problema. Havia mudado a senha de todas as contas, inclusive de e-mails e sites de compra, mas o filho da mãe parecia que não se contentava em saber que não iria tirar mais nenhum centavo da minha conta. — Esses defuntos que se acham zumbis para reaparecer na vida da gente... — resmunguei olhando para o teto, numa tentativa de oração. — O que disse? — Leo chamou minha atenção e sorri amarelo para ele. — Nada não. Isso era eu pensando alto. — Sorri e ele fez o mesmo, me transformando em gelatina ao admirá-lo tão lindo. — O que preciso fazer? — Vamos redefinir suas senhas, fazer o depósito que você precisa e matar todos os zumbis da sua vida. — Obrigada nobre cavalheiro — falei divertida e contente por ele ter bom humor.


— Mas eu não sigo num cavalo, e sim numa moto — retrucou enquanto digitava no computador e me olhava de tempo em tempo. Uau, isso foi uma cantada? Será que eu daria conta do recado? Um lado meu gritou para que parasse agora mesmo com todo assanhamento, porque o rombo e o trauma causado por outros era muito para suportar. Outro lado já estava trabalhado na líder de torcida, fazendo movimentos para apoiar qualquer safadeza que invadisse minha mente e envolvesse esse engravatado. Oh! Engravatado e uma moto. Que pecado... — Por favor, digite uma senha de seis dígitos, diferente da última que você usou. E assim fizemos todos os procedimentos necessário e... trocamos olhares, gestos singelos de paquera como molhar os lábios com a língua e encarar mais do que alguns segundos. Se fosse em um pub, eu tomaria algumas doses de tequila, dançaria na pista e o chamaria com meus movimentos corporais. Mas estávamos em um ambiente sério, precisava me controlar como ele mesmo estava. Leo – sim, já me sentia íntima – era meu sonho de consumo. Por Deus, ele trabalhava no banco, tenho certeza que dinheiro nunca seria problema para ele como foi para meus ex-namorados. Quando tudo foi concluído, inclusive o depósito feito, me economizando mais uma fila, fiz algo impensado e que talvez me arrependeria depois. Abri minha bolsa, tirei um cartão da livraria e deslizei pela mesa. — Tenho uma livraria. Quando precisar de algum livro, material de papelaria, música, DVD ou... — deixei como sugestão essa parte. Se ele entendeu o que eu estava ofertando aqui, era um ponto extra. — Obrigado, irei com certeza — respondeu e tocou meus dedos antes de pegar o cartão e guardar no bolso interno de seu terno.


Com uma inspiração profunda, levantei da cadeira, saí do banco e me senti poderosa... até que dei alguns passos para longe da agência e o arrependimento bateu. Por mais que eu admirava esse homem de longe e parecia ter todos os atributos de um bom rapaz, a última coisa que eu precisava era de outro encosto na minha vida, porque era isso que meu dedo podre escolhia.


Capítulo 2 Michele — Por que se arrependeu? — Cristiane, minha amiga e funcionária questionou indignada quando contei o que aconteceu assim que meu horário de almoço terminou. Ela e Fernanda se revezavam para me ajudar. Apesar de pequena e com cara de livraria de bairro, meu estabelecimento era movimentado e vários estudantes escolhiam estar na minibiblioteca que eu tinha no mezanino. Tinha muitos gastos, mas também lucros e satisfação pessoal. Incentivar a leitura era algo que trouxe dos meus avós maternos e da minha falecida mãe. Encantadas por Livros e Música significava para mim muito mais do que as pessoas poderiam imaginar. Bati minha testa no balcão do caixa e gemi, lembrando que seria maravilhoso ter Leo comigo, mas também perigoso. Como eu já tinha uma queda por ele, me apaixonar era um pulo e ser afundada por ele, outro pulo. — Cris, não aguento mais sofrer pelos homens. Estava indo tudo bem comigo apenas sonhando em nós dois, um futuro... hoje tudo se tornou real, tenho certeza que esse príncipe será um sapo, como todos os outros foram. — Para de ser pessimista, Mi. Você nunca saberá se não tentar.


— Não preciso testar, a experiência me faz prever o futuro — resmunguei e levantei minha cabeça. — Eu digo que ele virá, você vai sair com ele e tirar as teias de aranhas que habitam seu ser aí. — Apontou para baixo com o queixo e mostrei a língua para ela. — Se eu tenho teias de aranha, você tem elas, traças e mariposas. — Ri de seu embaraço. — Não estamos falando de mim. — É sempre mais fácil falar dos outros, não é mesmo? — Empurrei-a para longe de mim. — Vá olhar os adolescentes e ver se não rasgaram nenhum outro livro. Juro que vou fazer com que eles transcrevam um livro de 500 páginas como punição. Ela foi rindo enquanto eu fiquei no mesmo lugar, sonhando acordada, brigando com minha mente se deveria ou não dar uma chance. Eu parecia tão confiante na minha mente, era uma merda quando a realidade não tinha o mesmo gosto do sonho. As horas passaram como tartarugas andando na mata. Dava meia-noite, mas não dava dezenove horas, o horário que fechávamos a livraria. — Tenha um bom final de semana — falei de forma simpática para uma cliente assim que ela passou o cartão e eu entreguei sua compra. — Se não gostar da leitura, pode vir semana que vem trocar o livro. — Acompanhei-a sair e não reparei que outro cliente se aproximava. — Vocês não abrem amanhã? — uma voz conhecida me fez assustar e virar o rosto para dentro da loja. Era Leo, em seus trajes formais e sorriso cordial. Impossível não sorrir, admirá-lo e voltar a sonhar. — Olá! — Olhei para suas mãos e não vi nada nelas. — Não achou nada que te agradasse? Posso encomendar alguma coisa, caso não tenha urgência.


— Não preciso procurar, já sei o que quero e o que me agrada — falou em tom paquerador e isso me desconcertou como me fez ficar vermelha como um pimentão. Poderia ser mais direto? Tentei desviar minha atenção dele e segui para atrás do balcão, onde o computador parecia bem atraente, mas ele se aproximou da frente e se inclinou para se aproximar de mim. Seu cheiro terroso e mentolado me fez arrepiar da cabeça aos pés. Mordi o lábio, numa tentativa fraca de me controlar de responder sua cantada. Eu queria na mesma intensidade que outro lado meu não queria. — Podemos tomar um café quando você fechar a loja? — perguntou com tom rouco. Olhei-o com dúvida, seus olhos e sua boca era tão convidativa. — Ela pode! — Cristiane respondeu por mim, apareceu polvorosa ao meu lado e quase me jogou nos braços dele. — Eu fecho o Encantadas hoje, chefa. Está tudo sob controle. Ao invés de aproveitar a oportunidade, me enlaçar com seu braço e me levar embora, Leo pegou na minha mão, trouxe para seus lábios e beijou de forma casta. — Você quer ir? Café ou drink? E a balança que indicava que esse homem merecia que eu me entregasse pesou. Ele queria saber minha opinião e não aceitou a resposta da minha funcionária. — Vinho — respondi com um sorriso e recebi um riso baixo em resposta. — Sei exatamente o lugar perfeito. Obrigado por aceitar. Dei um passo para trás, para pegar a bolsa que Cris segurava e segui para fora do Encantadas acompanhada pelo... motoqueiro de terno. Assim que vi em qual direção seguíamos, fiz uma careta, porque nunca havia andando em uma moto, muito menos numa garupa.


— Não se preocupe, eu estarei no comando e nada de mal irá te acontecer. — Puxou-me pela mão, colocou um capacete na minha cabeça e ajeitou a fivela no meu queixo. O cheiro de novo e inutilizado era claro no item de segurança. Ele não desviou seu olhar do meu e por um momento de lucidez ou simples ilusão, acreditei em suas palavras com todo o meu coração. Ele também colocou um capacete e montou primeiro. — Sempre tem alguém na garupa? — sondei. — Não, comprei antes de passar aqui. Não tenho namorada, não tenho animais e moro sozinho. — Muito confiante? — Segurei a sua mão, tentei imitá-lo ao subir na moto e me encaixei à suas costas. Já que estava na chuva, iria me molhar, por isso envolvi sua cintura com meus braços. — Um homem pode ter esperança. E eu segui minha intuição que até hoje não falhou. Ligou a moto, senti o motor vibrar entre minhas pernas e aumentei o aperto nele quando ela seguiu para a rua, fazendo manobras e acelerando entre os carros. A sensação era de que a qualquer momento iria cair no chão quando ele fazia curva e no momento que a moto parou, o ar dos meus pulmões saiu com força, aliviada. Foi bom, mas também assustador. Ele me ajudou a sair da moto e também fez o mesmo, já removendo o capacete. — Pelo visto você parece inexperiente em motos — falou divertido. — Pode ter certeza que sim. — Arrumei meu cabelo enquanto ele tirou o capacete e ajeitou em cima da moto. Olhei para os lados e percebi que estávamos em frente a uma cantina Italiana. E não era uma simples, mas a melhor da cidade. — É aqui? — Olhei para minha roupa de trabalho, jeans e camisete branca com a logo de fadinha da minha livraria. — Não estou apropriada...


— Você está perfeita, Michele. Não há regra de vestimenta aqui. — Ele segurou minha mão, colocou na curva de seu braço e caminhamos em direção a entrada do estabelecimento. Com a insegurança em modo ativo, meu coração acelerou e mil e um pensamento de que estava fazendo algo errado ou a pior burrada do mundo me atingiu. — Por favor, mesa para dois — Leo falou para a mulher da recepção enquanto eu continuava aérea e cada vez mais rígida ao seu lado. — Por favor, me acompanhe — falou a mulher que estava mais bem vestida que eu em um vestido preto tubinho. — Por que você ainda está incomodada? — Leo sussurrou no meu ouvido, me fazendo arrepiar. — Eu não me sinto vestida apropriada — respondi no mesmo tom e tentei sorrir quando a mulher simpática apresentou a mesa que ficaríamos e nos deixou. Educado, meu acompanhante puxou a cadeira para mim e eu sentei, olhando para os lados e constatando que eu era a única mulher de jeans. Era um fato, eu nunca me vesti preparada para um encontro. Assim que Leo sentou, pegou minha mão por cima da mesa e apertou, sorrindo e me confortando. — Sei que mulheres se vestem para impressionar outras mulheres, mas a última coisa que eu queria era outros homens te cobiçando hoje. Talvez amanhã, ou em outros encontros, mas hoje, eu queria te ter apenas para mim, tão egoísta como eu posso ser em um primeiro encontro. Minha mão começou a suar, suas palavras sendo um doce toque de carinho e confiança para o meu ego tão judiado. Esse homem era de verdade? Estava, realmente, interessado em mim? — Eu ainda preferia estar adequada. Enquanto ninguém olha para mim, todas olham para você — respondi fazendo bico no final, como uma birra de criança.


Ele olhou para os lados e depois para mim. Trouxe minha mão novamente para sua boca e depositou um beijo casto. — Eu só tenho olhos para você desde quando você escolheu me torturar toda sexta-feira. Engoli em seco. Não poderia ser verdade que ele me cobiçava tanto quanto eu, poderia? O garçom apareceu, fizemos nossos pedidos e nossas taças foram enchidas do mais saboroso e refinado vinho da cidade. Esse era um local para se ir uma vez na vida, outra na morte. Não contei que ele fosse bancar toda a conta, por isso, considerei essa ida como minha primeira e única em vida. — Já tinha vindo aqui antes? — ele perguntou antes de tomar um pouco de água. — Não, essa é minha primeira vez, mas conhecia o local. — Tomei meu vinho e quase virei os olhos de tão gostoso que era. — Não vai tomar seu vinho? — Apenas o suficiente para a refeição. Estou pilotando hoje. — Ele piscou um olho e voltou a segurar a minha mão. Bonito, competente e responsável. Ele precisava ter um defeito e só esperava que não fosse peidar enquanto estávamos dormindo. Minha mente vagou para vários mundos, o futuro de nós dois bem como meu declínio com outro encostos. Apesar de engatarmos uma conversa animada, ele dizendo que era bancário há quase dez anos, fazia parte de um moto clube e adorava comida italiana, eu sonhava que esse poderia ser meu futuro e espera não o estragar tanto quanto não queria que ele o estragasse.


Capítulo 3 Michele A noite na cantina Italiana terminou comigo apaixonada. Leo tinha tudo o que eu sonhava, parecíamos muito em vários aspectos, só faltava descobrir se éramos compatíveis na cama. Depois das taças de vinho, que não me deixaram bêbada, mas com uma coragem sem tamanho, não tinha restrição nenhuma em me entregar no primeiro encontro, mas Leo, como o cavalheiro que era, me levou diretamente em casa. Assim que saí da moto e tirei o capacete, me sentindo a motoqueira experiente, Leo me mostrou que continuava no topo do conhecimento, me puxando para perto e me roubando um beijo de lábios fechados. Com uma de suas pernas entre as minhas, abracei seu pescoço e abri minha boca, deixando com que sua língua ditasse o ritmo e aflorasse meu lado mulher há muito esquecido. Minha livraria era minha vida, bem como meu porto seguro. Se não fosse ela, as dívidas que meus ex-namorados deixaram me colocariam no fundo do poço. Todos moraram comigo nessa casa, que era pequena, mas confortável, era meu canto. Todos foram postos para fora a pontapés quando descobri a traição de um e o vício em jogos de outro.


Mesmo com toda essa bagagem, depois que sua boca fez todo meu corpo se acender, falei sem nenhum pudor: — Quer entrar, Leo? Sua risada aqueceu meu coração e fez meu ventre pulsar. Imagine sentir todos os dias essa risada de manhã, quando acordasse, depois de uma boa transa matutina? Uma garota podia sonhar, não? — Adoraria estar com você essa noite, acredite, está me doendo recusar seu convite, mas preciso ir. A rejeição me atingiu como um trem desgovernado, por isso me afastei assim que ele falou essas palavras. Ele viu em meus olhos o que senti, por isso não soltou minha mão quando dei passos para trás. Eu, ainda por cima, teria que buscar meu carro na livraria nesse final de semana por causa dessa aventura. — Eu preciso da minha mão — brinquei e puxei, sem sucesso. — Eu preciso te ver amanhã. Puxou meu corpo novamente para ele e agora, estava mais ainda encaixada em sua perna. Beijamos novamente, seus lábios eram macios, o gosto de vinho da minha boca deixava o beijo mais erótico, atiçava todas as minhas terminações nervosas e minha libido. Sem que eu percebesse, ele segurou minha perna e me colocou de frente para ele em cima da moto, sentindo todo o seu corpo, bem como as reações que eu causei nele. Meu coração estava acelerado, meu desejos em ponto de ebulição e estava pronta para me entregar sem pensar no amanhã quando uma buzina me fez quase cair de lado. Estávamos na rua, no maior amasso, em cima da moto. — Desculpa — falei rindo e saí com sua ajuda. Ele se ajeitou melhor na moto e não soltou minha mão.


— Quem precisa se desculpar sou eu. Deixe que eu faça isso direito amanhã. Eu queria vê-lo amanhã? Sim. Estava pronta e provida de todas as minhas faculdades mentais depois de sentir seu beijo? Não, absolutamente não. — Esse final de semana eu não posso. Até segunda. Dei passos para trás e ficamos com os braços estendidos. Ele não queria me deixar ir, eu queria fugir. Mesmo na penumbra da noite, ele encarou meus olhos com determinação, apertou minha mão com força e soltou de forma suave, contrariado até. — Hoje vou me contentar com apenas segunda-feira e um banho frio... — Ele piscou um olho e sorri atrevida, por saber que ele estava afetado e interessado. — Vá, vou embora apenas quando você entrar com segurança em casa. Virei de costas para ele, peguei as chaves na minha bolsa e entrei em casa sem olhar para trás. A chance de pular novamente na sua moto era grande e essa vergonha eu não poderia passar pela segunda vez. Assim que acendo a luz da minha sala, sigo para o meu computador e nele fico pelo resto da noite, pesquisando sobre Leonardo nas redes sociais ou em qualquer outra coisa que ele compartilhe na internet. Achei seu moto clube, os eventos de caridade que ele participava e passeios turísticos. Satisfeita com todas as informações que descobri, tomei um banho e dormi por dois dias praticamente, ansiando pela segunda-feira e se Leo ainda estaria interessado em estar comigo mais uma vez. * — Como foi? — Fernanda entra pela porta da livraria e me aborda sem nem antes me cumprimentar.


O final de semana passou enquanto eu contava os minutos e segundos. Não havíamos trocado números de telefone, mas ele tinha acesso ao meu cadastro no banco, custava se intrometer nessa parte e enviar uma mensagem? — Cris já foi fofocar, é? — reclamei enquanto seguia para guardar alguns livros soltos deixados por clientes na mesa. — Quando você tiver um boy atrás de você, acredite, serei pior. — Nossa, chefa, pelo jeito foi ruim — brincou e guardou sua bolsa debaixo do balcão do caixa e me seguiu para cima, no mezanino. — Tem certeza que saiu mesmo com o gostosão lá do banco? — Ele me levou para jantar no Di Itália — falei recolhendo os livros das mesas e colocando nas estantes da biblioteca. — E pagou a conta. — Casa! Casa, porque não é todo dia que um homem te leva para comer em um lugar chique como esse e... Guardei alguns livros e virei para encará-la, já que tinha parado de falar no meio da frase. Ela estava com os braços na cintura, me olhando da cabeça aos pés. Meu rosto esquentou, o vestido que usava muito destoava das minhas roupas habituais de trabalho. — O que foi? — Você vai sair de novo com ele! — Não sei... — Dei de ombros, não querendo iludir meu pobre coração. Esperava que sim, subir na sua moto e... — Merda, ele tem uma moto. — E você colocou um vestido! — Fer rio alto e tirou os livros da minha mão. — Pode deixar que eu assumo aqui. Vai que seu bonitão aparece e você vai dar um rolé de moto logo cedo. — Eu tenho minhas responsabilidades com a livraria — falei brava. — Ainda bem que você tem fiéis escudeiras para suprir sua ausência. — Ela piscou um olho e começou a guardar os livros. — Você merece ser feliz, Mi, ainda mais se for um rico, motoqueiro, cavalheiro...


Escutei o sino da porta de entrada tocar e corri descer as escadas, apenas para quase escorregar no último degrau quando vi Leo entrar no Encantadas segurando um copo de café na mão e uma rosa na outra. Seu traje habitual social só enchia meus olhos de satisfação. Caminhando juntos, um em direção ao outro, ele me surpreende um com selinho na boca enquanto minha mão segue para o copo de café, já achando que era meu. — Bom dia — falou ao liberar o copo para mim e também entregar o botão de rosa vermelho. — Está linda de vestido. Tomei um gole do café e sorri agradecida pelo elogio e por ter escolhido exatamente o meu preferido. Há duas lojas da minha havia um café, gerenciado por Josiane, irmã da Fernanda. — Adivinhou do que eu gosto — falei e cheirei a flor, meus olhos nunca saindo dos seus. — A simpática Josiane me ajudou. — Ele olhou para os lados, removeu os itens das minhas mãos e colocou em cima da mesa. Segurou minha cintura, aproximou nossos corpos e beijou meu pescoço. — Almoço ou janta? — Café da manhã? — respondi de imediato, tudo em mim queria ele, ansiava por dar o próximo passo. Eu precisava desse próximo passo já!


Capítulo 4 Michele A expectativa do final de semana e sua presença nos primeiros minutos do dia me fizeram ter uma certeza absoluta de me entregar a ele, mesmo que quebre minha cara mais uma vez. Como poderia dizer que dará errado se nunca testar? Ele me segurou pela mão, me levou por entre as prateleiras de livros e seguindo minha intuição, desviei o caminho, tomei a frente e fui até a porta dos fundos, onde eu guardava o estoque de livros e outras coisas. Entrei, acendi a luz e ele fechou a porta me colocando contra ela e devorando minha boca sem piedade. Nossas emoções estavam à flor da pele, tudo o que se via era apenas tocar, sentir, beijar... Sua mão segurou meu rosto por pouco tempo, porque desceu pelo meu corpo até chegar na minha cintura. Minhas mãos seguraram as lapelas de seu terno quando ele desceu uma de suas mãos até encontrar a barra no meu vestido. — Eu não sou fácil — falei para que ele entendesse que era algo especial, apenas para ele.


— Nunca pensei diferente disso — respondeu entre os beijos, sua mão já fazendo caminho para cima, por baixo do vestido. — Pensei em você o final de semana inteiro... — Arfei quando sua mão encontrou a minha virilha. — Ainda bem que não foi apenas eu que sofri por não ter te acompanhado para dentro da sua casa. Ele me esfregou por cima da calcinha, chupou meu pescoço e me fez enxergar estrelas de olhos abertos. Esse não era meu comportamento típico, longe de ser minha atitude perante a homens que me atraia, mas havia cansado de pensar em pudores ou em como deveria ser, com Leo parecia que tudo seria diferente. Eu tinha que acreditar nisso. Deixei que minhas mãos encontrassem sua cintura ao mesmo tempo que ele colocou minha calcinha de lado e tocou, pele com pele, minha intimidade úmida e sedenta por ele. Com movimentos circulares e me deixando cada vez mais ofegante, ele tomou minha boca novamente na sua e não consegui pensar de forma racional para encontrar seu membro muito rígido por cima da roupa formal. Quando seus dedos intensificaram os movimentos e a outra mão apertou meu seio, fechei os olhos e gemi ao mesmo tempo que meu corpo tinha espasmos do orgasmo que ele me deu apenas com os dedos. Imagine se fosse com seu pau? Ele liberou meus lábios, mas manteve sua cabeça próxima a minha. Nossos olhos brilhavam, o cheiro da luxúria pairava no ar e tudo o que pensava era que eu precisava fazer com que ele perdesse o controle também. Foi só ele trazer sua mão para boca e me degustar em seus lábios que me ajoelhei no chão e quase gritei de susto quando alguém bateu à porta. — Chefa, preciso de você aqui! Leo me ajudou a levantar e também ajeitar meu cabelo com cuidado.


— Eu vou matar essa mulher! — resmunguei baixo quando novamente ela bateu à porta. — Já vou! — gritei. — Esse foi apenas o café da manhã — ele falou acariciando meu rosto e depositando um beijo na ponta do meu nariz. — Eu venho para almoçarmos juntos. Foi assim que ele colou meu corpo no dele, abriu a porta e demos de cara com Fernanda. Seus olhos estavam arregalados e seu rosto refletia a vermelhidão que o meu estava. — Sério, eu não interromperia se não fosse sério. Tem um oficial de justiça querendo falar com você, eu não sabia o que fazer... Senti Leo endurecer ao meu lado e segurar minha cintura com firmeza. Respirei fundo, tentei me soltar dele, mas o homem estava firme ao meu lado. — Você não precisa lidar com isso sozinha. Era tudo o que eu precisava escutar para sair por entre as prateleiras de livros e chegar na parte da frente da loja, onde estava o caixa e também o oficial de justiça. — Justin? — Leo falou e trocou minha cintura por minha mão, cumprimentou o homem como se fosse velhos amigos e me apresentou: — Essa é Michele. Tem alguma diligencia para ela? O homem me encarou de forma constrangida, estendeu a mão com um papel e apontou um local para assinar. — Por favor, assine aqui. Eu não tenho detalhes do processo, é apenas um comunicado para uma audiência de conciliação. — Conciliação de quê? — perguntei depois que assinei, abri o envelope e comecei a ler o nome das partes. Meu ex-namorado estava pedindo pensão para mim! — Como faço para ter acesso a esse processo? — perguntei com a mão tremendo, fogo saia pelos meus olhos e meus poros.


— Posso ver? — Leo perguntou e só entreguei o papel, sem me preocupar com a repercussão. — Tem o número e código de acesso. Você consegue consultar a petição inicial... — Justin continuou falando e Leo fez perguntas, só que não escutei mais nada. Dei passos até uma das janelas de vidro da livraria e observei o movimento e o quanto aquele homem sugou minha vida, além do meu dinheiro. Ele se fingiu de depressivo quando começou a morar comigo, depois inventou mil e uma desculpas de que não conseguia emprego, até eu o colocar dentro da livraria Encantadas e ele finalmente mostrar seu verdadeiro caráter, ou melhor, a falta dele. Foquei meu olhar para o grande letreiro que tinha do outro lado da rua. A construção era parecida com a minha, porém, não havia nada exposto como minha loja. Alguns adolescentes entraram contentes na livraria e sem perceber o clima tenso que se formou. GC Contabilidade e Assessoria Jurídica piscou nos meus olhos e na minha mente várias vezes antes da ficha cair. Niedja, uma das contadoras dessa empresa era uma leitora frequente aqui na livraria e participava mensalmente dos nossos clubes do livro, quando conseguíamos fazer. Mulher forte, que me transmitia confiança e determinação no que fazia, além das leituras. Ela cuidaria de tudo para mim. Virei para os homens e minha funcionária, que me olhavam preocupados. — Não se preocupe, Michele, eu tenho a pessoa ideal... — Eu também! — falei com um sorriso amarelo, dei alguns passos até eles para pegar a intimação da mão de Leo e segui para fora de lá. — Onde você vai? — Escutei-o andar atrás de mim. — Não precisa resolver isso sozinha, eu posso te ajudar. Mi!


Atravessei a rua correndo, Leo me seguiu e quando ambos colocamos os pés na calçada, envolvi meus braços em seu pescoço e beijei seus lábios com carinho. Ele não sabia, mas há muito ansiei ter alguém com sua atitude ao meu lado. Porém, agora percebi que quem precisava agir dessa forma era eu mesma e começaria já. — Você vai me ajudar, Leo, me levando para jantar, me dando outro orgasmo alucinante e me fazendo esquecer. O resto, minha amiga resolverá e só pensarei no infeliz do meu ex apenas quando for extremamente necessário. — Soltei seu corpo e segurei sua mão. — Quer me acompanhar ou me busca meio dia? — Não te solto nunca mais, mulher. — Ele apertou minha mão e abriu um enorme sorriso.


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