Entre o Caos e o Amor - Degustação

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2019 1ª. Edição


Copyright © Mari Sales Edição Digital: Criativa TI _____________________________________________ Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. _____________________________________________ Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios – tangível ou intangível – sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.


Sumário Sinopse Prólogo Elaine Capítulo 1 Elaine Capítulo 2 Elaine Capítulo 3 Elaine Capítulo 4


Elaine Capítulo 5 Elaine Capítulo 6 Elaine Capítulo 7 Elaine Capítulo 8 Elaine Capítulo 9 Elaine Capítulo 10 Elaine Capítulo 11 Elaine Capítulo 12 Elaine Capítulo 13 Elaine Capítulo 14 Jonathan de Paula Capítulo 15 Elaine Capítulo 16 Elaine


Capítulo 17 Elaine Capítulo 18 Elaine Capítulo 19 Elaine Capítulo 20 Jonathan de Paula Capítulo 21 Elaine Capítulo 22 Elaine Capítulo 23 Jonathan de Paula Capítulo 24 Elaine Capítulo 25 Jonathan de Paula Capítulo 26 Jonathan de Paula Capítulo 27 Jonathan de Paula Capítulo 28 Elaine Capítulo 29


Elaine Capítulo 30 Elaine Capítulo 31 Elaine Epílogo Elaine


Sinopse

Quem disse que os acontecimentos ruins da nossa vida não podem ser o prenúncio de dias melhores? Mesmo com o coração em pedaços, Elaine seguiu sua vida e conseguiu o seu tão sonhado espaço para eventos, o Espaço Vivifica. Morando debaixo de um teto diferente do que seus pais, sua independência estava quase completa, apenas um assunto do passado perturbava sua paz. Jonathan de Paula viu a morte. Seu companheiro de anos na polícia foi morto de forma cruel em um acidente e ele só não teve o mesmo destino, porque


uma mulher corajosa desviou seu caminho. Só que do acidente veio sequelas e com elas, a vontade de se vingar, mesmo não fazendo mais parte do batalhão. O encontro dessas almas marcadas por um dia trágico tinha tudo para que o assunto mal resolvido fosse esclarecido. Mas quando se tratava de um dia de azar, nada seria fácil. Elaine procura paz e independência, Jonathan, paz de espírito e justiça. Juntos, eles não imaginavam, mas encontrariam o amor e a resolução de suas vidas.

Obs. Essa história também conta o surgimento da empresa que Leonides Saad, da série Quarteto de Noivos, faz parte.


Dedicatória

Para aqueles que por algum motivo se perderam de si mesmos. Respire fundo e abra os olhos do coração. Sinta.


Prólogo

Elaine

Tudo o que consegui na minha vida foi em troca de sofrimento. A cada vitória, uma derrota me acompanhava. Quando encontrava a glória, não demorava para que o mar de desilusão surgisse e acabasse com qualquer sentimento de euforia dentro de mim. Cerimonialista, passava grande parte da minha vida fazendo o mundo das outras pessoas mais felizes. Seja na organização de um casamento ou


apenas festa de confraternização, nada era sobre mim, mas sobre meu cliente e sua ambição no momento. Estava feliz por isso, porque quando não era eu a pessoa em evidência, tudo dava certo. Só que costurava minha vida por fora, sem que os outros soubessem. Buscava me capacitar e expandir, minha real intenção era abrir um espaço de eventos só meu, que pudesse alugar, oferecer para outros profissionais do meu ramo. Não entendia essa minha necessidade, só queria ter um lugar que pudesse chamar de meu e que meus pais pudessem se orgulhar. Amava minha família, sabia de suas limitações e o quanto precisavam de ajuda, mas sentia que a cada dia me sufocava mais e mais. Era muito ruim me sentir insuficiente e presa, a sensação era de não poder voar mesmo tendo lindas asas. A cada passo que dava em direção ao meu sucesso, meus pais, principalmente minha mãe, me fazia retroceder cinco passos com suas palavras que me faziam sentir culpa e arrependimento. Depois de mais de um ano de andamento no processo de financiamento para a construção do meu próprio espaço, ele saiu. Finalmente teria dinheiro para poder ter o meu cantinho, um lugar que poderia fazer da melhor forma possível, algo que sabia que estava em falta no mercado da minha cidade. Esse também foi o dia em que encontrei o amor depois do caos, mas só descobri isso muito, mas muito tempo depois.


Capítulo 1

Elaine

O dia que mudou minha vida para sempre começou bem. Acordei antes do despertador, com um sorriso nos lábios e o coração cheio de sentimentos bons. Apesar da barriga estar um rebuliço por conta de uma novidade do dia anterior, durante a noite, em meus sonhos, parecia que qualquer dúvida tinha sido sanada. Daríamos um jeito.


Tinha vinte e cinco anos, era empreendedora e tinha sonhos. Morava com meus pais, namorava um homem que não era perfeito, mas que demonstrava seu amor como eu demonstrava o meu, com ações, não palavras. Tanto em casa, quanto com Júlio, palavras serviam apenas para ferir. Se era para ter algo de bom, que fosse com ações, se doando e se entregando. Antes de desistir da minha faculdade de publicidade, eu me dividia entre cuidar da casa, do meu pai e estudar. Cuidar de um doente não era fácil, ainda mais de um pai que fazia trabalhos braçais e hoje, não conseguia andar sem apoio. A lesão na coluna não só mudou seu humor, mas seu jeito de ver a vida. Por isso, quando me arrumei para mais um dia de trabalho e encontrei meu pai tentando encher o garrafão de água do filtro, não discuti, nem argumentei que isso poderia prejudicar mais ainda seu corpo. — Bom dia pai. — Dei um beijo em seu rosto e como sempre faço, com suavidade, apoiei o garrafão com as mãos e as dele tremendo, viraram o recipiente no filtro e trouxe um pouco de satisfação para seu ego. Quem disse que homem precisava ser o único a ter foça bruta dentro de casa não sabia o que era lidar com limitação. — Bom dia filha. Pulou da cama hoje? — Sim, acordei antes do despertador. Cadê a mãe? — Adivinha? — Com sua bengala, que estava apoiada no armário, ele mancou até a mesa e se sentou, para começar a tomar o café da manhã. — Lavando roupa?


— Exatamente... A mesa estava posta e nem era seis e meia da manhã. Ativa, minha mãe sempre me ensinou a acordar cedo e estar pronta para o trabalho. Servi minha xícara com café e a do meu pai, enquanto ele passava margarina em seu pão. Sua mão sem força já era comum para mim, doía ver, mas cada dia menos. Era filha única, meus amigos eram os companheiros de equipe, também cerimonialistas da cidade. Éramos em quatro: eu, Janaina, Denis e Fausto. Tínhamos uma equipe de recepção, de organização e os terceirizados de decoração e buffet, que dividíamos entre nós. Apesar de sermos uma equipe, cada um tinha seus clientes e sua linha de trabalho. Meu foco era eventos empresariais, Denis tinha preferência para casamentos, Janaina organizava aniversários infantis e Fausto, festas em pubs, shows e por aí vai. Sempre que um precisava, o outro cobria e nossa sociedade nãosociedade funcionava bem. Normalmente, eu trabalhava sempre em hotéis ou no próprio espaço da empresa, mas sempre faltava algo, por isso a ideia de ter um espaço exclusivo, onde eu pudesse receber pessoas de negócios que gostariam de realizar reuniões, assim como um espaço que promovesse a socialização. Foi com esses pensamentos que cumprimentei minha mãe assim que ela entrou na cozinha. — Bom dia mãe! — Já vai trabalhar? — ela perguntou desgostosa. — Você poderia me ajudar com as roupas.


— Eu tento, mãe, mas você sempre faz primeiro. — Claro que faço, você nunca faz na hora que eu peço. E nossas manhãs eram sempre iguais, com discussões ao invés de bons dias. Eu entendia sua amargura, meus pais, às vezes, sabiam como tirar o pior de todos. Nenhum dos dois tinha culpa, talvez, a errada era eu. — Poderia deixar minhas roupas para eu lavar quando chegar? — pedi, seguindo para o banheiro para escovar meus dentes. — E que horas essas roupas irão secar? Já coloquei todas para bater. — Durante a noite... — resmunguei quando coloquei a escova de dente na boca. Que mulher teimosa! — E correr o risco de sentar algum bicho e ter que lavar novamente? É o sol que tira todas as bactérias das roupas, Elaine. — Tudo bem mãe. Pelo visto, vou ter que acordar antes de você. E foi assim que deixei minha casa, com uma bagagem de irritação que normalmente engolia ao invés de ignorar. Eu era a cor negra, que absorvia todas as outras cores. Deveria ser a branca, que sempre refletia, nada ficava em suas partículas, mas... para que isso acontecesse precisaria nascer de novo. E com meu humor descendo ladeira abaixo que tentei começar meu dia de trabalho.


Coloquei minha bolsa no banco do passageiro ao meu lado, liguei o carro e segui em direção ao escritório de Denis. Por ele cuidar de casamentos e também ser casado com um cabelereiro, nosso espaço profissional era na sua casa multifuncional: casa, escritório, salão de beleza e espaço da noiva. Assim que meu carro parou na frente do Beauty Life, meu celular tocou. Nem saí do carro, apenas procurei o aparelho, conferi o identificador de chamadas e coloquei no ouvido. — Olá, bom dia — atendi com alegria, pois números desconhecidos sempre indicavam novos clientes. A primeira impressão deveria ser sempre a melhor, mesmo que meu humor não estivesse dos melhores. — Por favor, Elaine dos Santos. — Ela quem fala. Quem é? — Sou Maria Aparecida, a gerente do seu banco, que estava cuidando do seu financiamento para pessoa jurídica, tudo bem? Meu coração saltou pela boca, tudo o que tinha a ver com meu financiamento tinha minha total atenção. — Olá, Maria. Sim, lembro, tem novidades? — Preciso que você venha assim que o banco abrir, para assinar os papéis. Seu empréstimo foi liberado, você terá acesso ao dinheiro em poucos dias depois dos documentos prontos. Meu sorriso não cabia na minha face. Com euforia, confirmei minha ida até o banco, encerrei a ligação e saí do carro aos pulos.


Minha vida estava entrando nos eixos!


Capítulo 2

Elaine

Quando abri a porta de entrada da Beauty Life e dei de cara com Denis, pulei em seu pescoço e beijei a sua bochecha várias vezes. — Eu consegui! Eu consegui! — O que foi, sua louca. Isso tudo é TPM? Ontem você estava enlouquecida de raiva, hoje de felicidade.


Apesar de não sermos os melhores amigos, sentia que com eles eu poderia contar minhas conquistas. Com mais de quarenta anos cada um, eu era a mascote da turma, todos só queriam o meu bem e eu o deles. — O financiamento saiu, vou poder construir meu espaço empresarial chique! — Afastei-me e levantei meus braços em comemoração. — Sua diva, trate de fazer um banheiro espetacular e um quarto para os noivos, que iremos usar para os nossos casamentos! Abraçamo-nos novamente, dando pulos e comemorando, essa era a dança da vitória! Foi nesse clima de satisfação e conquista que meu dia se transformou. No banco, para assinar os papéis do financiamento, demorei mais do que o normal e quando voltei para casa, para almoçar, meu peito já sentia que haviam coisas difíceis para lidar, como não avisar dona Elizamar sobre meu atraso. Numa tentativa de mostrar minha felicidade e justificativa, entrei na cozinha com o contrato na mão e um enorme sorriso no rosto, que morreu assim que olhei minha mãe, com lágrimas não derramadas nos olhos lavando a louça. — O que foi mãe? — Por que demorou? Já não te pedi mil vezes que avisasse se demorasse para o almoço? — Desculpa, mãe. Estava empolgada no banco assinando meu contrato de financiamento. Finalmente... — Esse dinheiro é para pagar uma fisioterapia decente para o seu pai? — Ela pegou o pano de prato, enxugou as mãos e virou todo o seu corpo em


minha direção. Seu tom de ressentimento me machucava. — Esse dinheiro vai ajudar nossa família ou apenas seu ego? Um tapa na cara iria doer menos. O caso do meu pai ia muito além de uma boa fisioterapia. Eu... não tinha palavras para me justificar nem na minha mente. Por que tinha que lidar com meus pais como se fossem meus filhos? — Desculpa mãe... — respondi, guardando o contrato na bolsa e seguindo para sentar à mesa. Caramba, nunca um papel pesou tanto, nunca um dinheiro foi tão manchado por dor. — Vou almoçar rápido... — Você vai terminar de arrumar a cozinha. Estou cansada de ser empregada sua e do seu pai. No dia que arranjar um emprego, quero ver quem vai cuidar dessa casa. Engoli em seco, controlei as lágrimas e minha respiração. Se éramos um fardo na vida dela, imagine quando soubesse do que descobri ontem e ainda não tinha coragem de verbalizar nem na minha mente, apesar da resolução que existia. Em silêncio, vi minha mãe se afastar para seu quarto e depois de três garfadas, joguei a comida do meu prato fora e finalizei tudo o que ela havia deixado de fazer. Passei pela sala e vi meu pai, apenas de short e visivelmente suado, deitado no sofá, o mesmo móvel que minha mãe cansava de brigar para que conservássemos, para não pôr os pés, não sentar com roupa escura, muito menos suado.


Cada dia mais me sentia deslocada nessa casa, nessa família e uma vontade de ter minha independência para ontem começou a aflorar. — Pai, você está suado no sofá — constatei o óbvio e vi ele dando de ombros, focado na televisão. — Agora sei o motivo da mãe estar tão brava. — Sua mãe está brava toda hora. Deixa ela, um dia aprende — respondeu cansado. — Você poderia colaborar. Custava tomar um banho e colocar uma roupa no corpo inteiro? — Sentei ao seu lado e ele mudou de canal, um hábito quando o assunto o incomodava. Com a outra mão, ele pousou no meu joelho nu, já que usava um short claro folgado e apertou. Nunca palavras, apenas gestos. — Se eu tomo banho, gasto muita água e preciso da ajuda dela para pegar as coisas. Se troco de roupa, é porque gasto muita roupa e não consigo ficar com a mesma... — Suspirou. — Não tente entender, filha. Eu já desisti. Sua mãe nunca está satisfeita e agora que sou um inválido... — Você não é inválido! — afirmei com ênfase. — Tanto sou, que nem um banho consigo sozinho. Não irei me surpreender no dia que você e sua mãe me largarem, porque só sirvo para ser um fardo. Que os anjos me perdoassem, mas não aguentava mais estar no meio de tanta negatividade. Que eu fizesse muito dinheiro com esse espaço, para pagar uma empregada para minha mãe, um acompanhamento psicológico para a família e paz.


Será que era possível comprar paz? Assisti um pouco de televisão com meu pai até meu celular apitar. Era Júlio, querendo saber se eu estava livre para ir no apartamento dele. Ainda tinha mais alguns minutos até voltar ao trabalho, minha agenda estava tranquila, por isso, apenas me despedi do meu pai e segui até o meu namorado. Era bom que com ele, eu poderia comemorar minha vitória e deixar de me sentir uma merda, uma pedra no caminho de alguém. Já deveria saber que quando se tratava de mim, precisava ser cautelosa na felicidade. Alegria, comigo, tinha prazo de validade, era quase o mesmo tempo do álcool quando exposto ao ar. Evaporação instantânea. Precisava mudar o foco dos meus pensamentos, ninguém deveria ter o poder de controlar a minha vida a não ser eu mesma. Júlio era meu companheiro, com certeza daria um momento de paz e tranquilidade que eu precisava.


Capítulo 3

Elaine

Como o porteiro já me conhecia, liberou minha entrada e com a minha cópia da chave, abri a porta do apartamento que nunca passei a noite completa, já que a filha da dona Elizamar não poderia dormir com um homem antes de casar. Cansei de brigar por bobeiras, eu voltava três horas da manhã depois de uma boa noite romântica e escutava apenas sobre o perigo de se dirigir sozinha no bairro de madrugada.


— Júlio? — Senti um cheiro doce, característico de... — Júlio, você está fumando maconha? Quando começamos a namorar, Júlio me garantiu que apenas seus amigos fumavam essa porcaria. Depois de seis meses juntos, descobri que ele também usava, quase todos os dias. O estrago já estava feito, eu estava apaixonada, ele era carinhoso e aprendi a lidar com essa sua particularidade. Há seis meses, ele tinha prometido parar de fumar e o fez, até hoje. Bem, pelo menos eu achava. Fui até seu quarto, onde o cheiro estava mais forte. Ele trabalhava numa empreiteira, não tinha faculdade, mas era muito esforçado, porque não só bancava suas próprias coisas, como seus pais. Tínhamos muitas coisas em comum, mas diferente de mim, ele aceitou o fardo de ser o provedor da família inteira, saiu de casa e parecia viver livre de suas âncoras. — O que aconteceu, Júlio? Meus olhos acompanhavam ele andando de um lado para o outro. Vestindo apenas um short jeans, cabelos revoltos e cigarro feito a mão nos lábios, ele estava nervoso, enlouquecido. — O que foi? — ele berrou e parou de andar. — Que porra é essa, Elaine? — Seu dedo apontou para algo em cima da cama e meu corpo gelou. Era o teste de gravidez que havia feito ontem, joguei no lixo enrolado em vários papéis para que ele não percebesse. Não funcionou.


— É um teste de gravidez. — Engoli em seco e comecei a respirar com dificuldade, tanto pela fumaça quanto pelo o que eu precisava dizer a ele. — Por que você está fumando? — Por que você fez o teste de gravidez? Você não usa a porra da pílula? — seu tom continuou alto e isso começou a me entristecer mais e mais. Uma porrada no dia não era o suficiente, eu precisava de uma segunda. — Eu tomo, mas pelo jeito, ela falhou. Vai dar tudo certo... — falei mais para mim do que para ele. — Certo? Por um acaso você fez o teste só para me irritar? — Arregalei os olhos quando ele se aproximou. O branco em volta de sua íris estava vermelho, o cheiro podre da droga o impregnava, me deixando enjoada. — Nós não vamos ter um filho. Eu não tenho dinheiro nem para me bancar, porque tenho de dar toda a porra do meu salário para meu pai! — Eu também trabalho, teremos nove meses para pensar nisso. Não se precipite... — pacífica, tentei apaziguar, mesmo que meu coração dizia que ele merecia escutar algumas verdades entaladas na minha garganta. — Precipitar? — Ele tragou do seu cigarro e exalou no meu rosto, me afogando naquela nuvem ácida. — Esse filho não é meu! — falou com ódio. — Seu idiota, pare de fumar agora, isso pode fazer mal para o bebê! — Abanei meu rosto e dei alguns passos para o lado, tentando fugir. — Esse filho é seu sim, para de babaquice! — Babaca é você, por não se prevenir como deve. Eu não vou assumir essa criança, não tenho dinheiro para bancar essa porra!


— Pare de chamar nosso filho assim! — gritei, finalmente deixando extravasar minha raiva e frustração. — Esse era para ser um dia bom! Consegui o financiamento para a construção do meu buffet, meu trabalho me permitirá ficar com a criança. Não foi planejado, mas é um ser vivo! — Ele me olhava com raiva e sem me intimidar, aproximei meu rosto no dele. — Pare de minar o lado bom das coisas. Pare de fumar... — arranquei o cigarro da sua boca e esse foi meu erro. Você nunca mexia com o cigarro de um fumante. O murro que ele deu no meu rosto me fez cambalear e cair em cima da sua cama. De madeira maciça, nos dois cantos dos pés ele tinha uma ponta arredondada, que foi aonde meu baixo ventre acertou, fazendo com que meu mundo ruísse. Minha barriga doeu de uma forma surreal, a umidade que senti entre minhas pernas era muito para que abaixasse meus olhos e confirmasse o que eu já sabia. No fim das contas, eu não precisaria mais me preocupar com as dúvidas na minha cabeça quanto a criar um bebê, ele não existia mais. — Elaine... — Encarei o homem que não era perfeito, mas que um dia amei, se afastar e olhar para mim com pavor. — Você está sujando o chão. E era tudo em que ele poderia pensar. Não era na vida que se foi, não era na dor que eu iria sentir, mas na sujeira que eu estava fazendo.


Sem forças para qualquer discussão, levantei da cama, segui para fora daquele apartamento e peguei minha bolsa no caminho. Escutei vozes me chamando, questionando, mas só segui, de forma robótica, para o meu carro. Para onde eu iria? Para o quinto dos infernos, porque depois disso, era o único lugar onde eu poderia curtir minha solidão em paz. Guiando em direção a estrada, com o som do carro no volume mais alto que ele poderia chegar, cantei e chorei. Dirigindo em alta velocidade, o carro seguia um caminho desconhecido, na verdade, estava seguindo meus instintos. Questionamentos começaram a se formar na minha mente e a cada resposta, queria me encolher com o arrependimento. Se eu queria ter um filho agora? Não. Se eu pensei em tirar ele do meu ventre em algum momento? Talvez, quando vi o resultado positivo, mas só de pensar em fazer algo desse tipo, removi da minha mente essa opção. Não tive dúvida, eu iria manter o bebê para mim. Abortar nunca seria uma opção. Talvez não para mim, mas para Júlio e o destino sim. Eu, com certeza, nunca mais iria comemorar nada na minha vida. Era como um imã quebrado, a cada felicidade, eu atraía quinhentas infelicidades. A cada conquista, eu atraía trezentas derrotas. Minha vida era uma merda. Poderia piorar?


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