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Lendas Vivas — Como Professor Wellington Mudou a Aviação Agrícola
por Juliana Torchetti Coppick
Wellington Pereira Alencar de Carvalho, mais conhecido como Professor Wellington, aposentou-se recentemente da Universidade Federal de Lavras nas cadeiras de Máquinas, Mecanização Agrícola e Tecnologia de Aplicação. Ele é amplamente conhecido no país por seu desempenho na área de mecanização agrícola e aplicações.
Com vários trabalhos desenvolvidos ao longo de sua carreira, especialmente na transferência de tecnologia e formação nas áreas de mecanização e aviação agrícola foram e ainda tem sido nos dias de hoje utilizados pelos profissionais que atuam na área.
Doutor e Mestre em Energia na Agricultura, casado, pai de uma filha e avô de dois netos, a nossa Lenda Viva começou a bater asas logo cedo. Após 10 dias de seu nascimento, que se deu na casa da avó, Professor Wellington já embarcou em um DC3 da saudosa Real Linhas Aéreas, empresa na qual o pai trabalhava como assistente da diretoria, vindo também a ser ASV (Agente de Segurança de Voo) na SADIA Transportes aéreos e seguiu com a família para São Paulo. Viveu em terras paulistas, mais precisamente na região do aeroporto de Congonhas, onde passou a infância entre aviões até os 21 anos de idade. Suas raízes sempre estiveram ligadas a aviação civil tanto pela atuação do pai em solo, quanto pelos dois irmãos mais velhos, ambos comandantes de linha aérea.
Em 1976 Professor Wellington ingressou no CPOR (Centro Preparatório de Oficiais da Reserva) e se tornou mais um bravo componente das nossas forças armadas ao formar-se Oficial de Artilharia, com especialização em artilharia antiaérea do
Exército Brasileiro. Desta época, ele relembra saudoso os tempos em que treinavam com os famosos Xavantes da Força Aérea Brasileira.
Em 1978 Professor Wellington ingressou no curso de Agronomia na ESAL (Escola Superior de Agricultura de Lavras), atualmente UFLA (Universidade Federal de Lavras) onde atuou de forma intensa na coordenação regional nas equipes do projeto Rondon, que envolve a participação voluntária de estudantes universitários na busca de soluções que contribuam para o desenvolvimento sustentável de comunidades carentes e ampliem o bemestar da população. Esse projeto foi criado em 1967 e durante as décadas de 1970 e 1980, permaneceu em franca atividade, tornando-se conhecido em todo Brasil. Ainda durante o período acadêmico na ESAL, integrou o Centro Acadêmico, como diretor cultural e participou efetivamente de equipes esportivas.
Professor Wellington formou-se Engenheiro Agrônomo em 1983, indo após trabalhar como pesquisador no CENEA (Centro Nacional de Engenharia Agrícola), órgão pertencente ao MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) na histórica Fazenda Ipanema onde fez o curso de coordenador de aviação agrícola, sob a supervisão do Eng. Dr. José Carlos Christofoletti, que foi o responsável pelos seus primeiros passos na aviação agrícola, permitindo-lhe desde então se tornar um dos instrutores dos cursos na área de aviação, para engenheiros, técnicos e pilotos.
Um fato interessante e pouco conhecido é que o curso do CAVAG naquela época, era apenas uma das inúmeras atividades desenvolvidas pelo CENEA, que empregava cerca de 250 pessoas, sendo aproximadamente 50 engenheiros. Esse centro era responsável também pelos ensaios e análise técnica visando homologação de máquinas que estavam para ser lançadas no mercado, como tratores, colhedoras, sistemas de irrigação e outros equipamentos utilizados na agricultura e pecuária. A Fazenda Ipanema, que deu origem ao nome da aeronave agrícola brasileira produzida pela EMBRAER, teve papel primordial no desenvolvimento da siderurgia brasileira, visto que lá foi feita a primeira peça de ferro fundido da história do país.
Em 1985, com a saída do Eng. Christofoletti dos quadros do MAPA, Professor Wellington passou a ser o responsável pela parte técnica da formação de pilotos, engenheiros e técnicos em aviação agrícola, onde permaneceu até a última turma, em 1992. Após esse período ele ficou por um ano se dedicando a estudos de aplicação aérea no Vale do Ribeira, na cultura da banana. Já havia naquela época a preocupação tanto com o meio ambiente quanto com a qualidade e utilização responsável da tecnologia de aplicação aérea. Professor Wellington e toda a equipe conseguiram demonstrar a eficiência e a segurança da aviação agrícola tanto para o meio ambiente quanto para as pessoas que trabalhavam nas lavouras e isso garantiu a continuidade das aplicações aéreas naquela região.
Desde seu ingresso no CENEA, a aviação agrícola se tornou parte importante de sua vida e ele se tornaria também parte da história da nossa atividade, devida a sua premiada participação e contribuição em estudos, pesquisa e formação de profissionais.
Professor Wellington desenvolveu e desenvolve tantas atividades, que seu currículo parece mais a descrição de uma equipe inteira de profissionais, mas trata-se mesmo da façanha alcançada por um único homem que incansavelmente se dedica à excelência da atividade agronômica. Ele faz parte atualmente da consultoria do SINDAG, integra equipes de empresas multinacionais em transferência de conhecimentos com a realização de dias de campo e testes de produtos, é um dos gestores e membro da equipe do programa de Certificação Aeroagrícola Sustentável e é também membro da equipe da EMBRAPA para um projeto nacional na área de aviação agrícola, tendo diversos artigos publicados sobre tecnologia de aplicação terrestre e aplicação aérea.
Ele também atuou na área de combate a incêndios florestais e foi o primeiro presidente da Associação Brasileira da Ciência Aeroagrícola, além de ter desenvolvido pesquisas científicas no campo de pulverização eletrostática e inclusive atuou na criação e aprimoramento de uma régua de calibração de aeronaves para a EMBRAER.
Em 1994 Professor Wellington passou a integrar o quadro docente da UFLA, onde implantou a disciplina de Tecnologia de Aplicação Aérea. Sua determinação e dedicação renderam à faculdade 2 aeronaves (sendo 1 Ipanema e 1 PA 18) oriundas da Fazenda Ipanema. O feito colocou a universidade em destaque, tornando-a a única faculdade brasileira com aeronaves disponíveis para estudos da tecnologia de aplicação por via aérea, o que estimulou diversos formandos não apenas a conhecer e adotar a aviação agrícola como uma importante ferramenta na produção agrícola, mas também despertou o interesse em vários de seus alunos a se tornarem pilotos agrícolas. Através de sua atuação direta, a faculdade foi credenciada e passou também a ministrar os cursos de Coordenador e de
Técnico de Aviação Agrícola; sendo resultados dos esforços desenvolvido pela nossa Lenda Viva.
Professor Wellington trabalhou arduamente nas feiras de cafeicultura coordenadas pelo seu departamento na Universidade a partir de 1997, para que os produtores pudessem conhecer e assim utilizar a aviação como ferramenta de combate às pragas das lavouras. A dedicação dele teve um impacto bastante positivo, tanto que assim surgiram na região do Sul de Minas Gerais duas novas empresas aeroagrícolas que se estabeleceram para atender aos cafeicultores e também aos produtores de soja e cana de açúcar.
Em 1995, quando haviam apenas 6 Air Tractors no Brasil, Professor Wellington atuou na realização do primeiro workshop de combate a incêndios florestais com o uso de aeronaves no país. Posteriormente, juntamente com o Professor Dr. Ulisses Antuniassi e demais membros da equipe, Professor Wellington participou da formação de pilotos combatentes de incêndios florestais, período em que foram criados os eventos Aeroagro e Aerofogo em Botucatu- SP. Com a presença de instrutores do Chile e da Espanha de combate a incêndios.
A repercussão foi imensa e essa é mais uma atividade que hoje caminha lado a lado com a pulverização aérea. Estes eventos faziam parte das ações previstas na criação da Associação Brasileira de Ciência Agrícola, Professor Wellington, entidade em que foi seu primeiro presidente,
O trabalho desenvolvido pelo Professor Wellington já atravessou as fronteiras nacionais.
Ele atuou na implantação de um centro de treinamento da empresa de máquinas John Deere, junto a UFLA e foi membro da comissão de avaliação do prêmio Melhores da Terra, da empresa Gerdau, por 13 edições. O prêmio busca a melhoria de máquinas e equipamentos do setor agrícola. Todo esse trabalho na área de pesquisa, ensino e extensão rendeu à nossa Lenda Viva diversos prêmios, entre eles o de Mestre com atuação responsável na área de Tecnologia de Aplicação, o que inclusive lhe proporcionou uma viagem aos Estados Unidos onde teve a oportunidade de conhecer centros de pesquisa em diversas cidades.
Em 2019 foi agraciado com a medalha nº 07 Mérito Aviação Agrícola Brasileira pelo reconhecimento de sua dedicação à Aviação Agrícola. A medalha é oferecida pelo SINDAG, às personalidades que têm ou que tiveram papel importante na aviação agrícola.
Além de já realizar inúmeras palestras na quase totalidade dos estados brasileiros, Ele participou também de palestras na Argentina, Guatemala e Paraguai e Estados Unidos.
Uma característica marcante por todos que o conhecem tem sido sua presteza em solucionar e disponibilizar informações objetivando as boas práticas aeroagrícolas. O seu trabalho de doutorado foi baseado em estudos do controlador de fluxo acoplado ao sistema de DGPS e outros equipamentos.
Podemos dizer que o Professor Wellington faz parte do DNA da agricultura brasileira, pois sua formação e atuação estão intrinsecamente ligadas ao desenvolvimento e difusão de boa parte da tecnologia que hoje vemos no mercado e nas lavouras Brasil afora.
Temos muito a agradecer a nossa Lenda Viva, que desde o início de sua carreira muito têm contribuído para que nossa atividade se estabeleça com segurança e sempre evoluindo.
E acreditem, esse artigo é apenas um resumo de sua carreira. Para fazer jus aos seus feitos, seria necessária uma edição inteira!
“Obrigada Professor Wellington por ajudar a escrever a história da Aviação Agrícola e por imprimir sua própria trajetória em tantos campos por esse Brasil afora! ”