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A Itagro, do Alegrete, Acrescenta o Combate ao Fogo aos Seus Serviços

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Nesta Edição…

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por Ernesto Franzen

Embora o Rio Grande do Sul tenha uma longa tradição na aviação agrícola, incluindo o primeiro voo agrícola no Brasil em 1947,operações de combate aéreo a incêndios ainda são pouco comunslá. O estado normalmente tem um regime de chuvas regular queimpede a vegetação de se tornar suscetível a grandes queimadas.Mas com frequência cada vez maior, o clima do Rio Grande do Sulvem se alternando entre verões chuvosos e secos.

E neste verão de 2020, o qual tem sido tudo menos normal, o Rio Grande do Sul foi assolado por uma grande seca, com regiões do estado recebendo entre 20 a 50% da pluviometria usual e períodos de mais de 40 dias sem chuvas.

A mesma seca que afeta negativamente lavouras e empresas aeroagrícolas torna as

condições favoráveis para os fogos. Na cidade do Alegrete, a Itagro - Itapororó Aviação Agrícola Ltda., uma empresa aeroagrícola muito progressista, tanto que já foi matéria de AgAir Update por duas vezes (janeiro de 2011 e dezembro de 2019), repentinamente começou a receber chamados para apagar incêndios.

(E-D) Cappellari, Damiani e Camargo junto ao AT-402B da Itagro.

A Itagro já tinha uma razoável experiência nesta atividade, tendo anteriormente combatido fogos em três ocasiões distintas, inclusive em reflorestamento de eucaliptos. Tendo recebido o primeiro chamado deste tipo neste ano em 10 de março, as operações de combate a incêndios da Itagro assumiram proporção de larga escala em 20 de abril, quando o proprietário e piloto agrícola Marcos Antônio Camargo recebeu uma ligação de um proprietário rural na noite anterior, pedindo para que atacasse um incêndio fora de controle na localidade chamada Guasso-Boi. Sem tempo para perder, Camargo começou imediatamente a planejar a operação, antes mesmo do nascer do dia.

Para dar conta deste recado, Camargo contava com o aprendizado de um curso de simulador de AT-502 que fez em Orlando, nos EUA, que incluía a atividade de combate a incêndios, e sua experiência anterior. As aeronaves-bombeiras que tinha à sua disposição eram os aviões agrícolas da Itagro, um Air Tractor AT-402B com capacidade para 1.500 litros e cinco Ipanemas EMB-202 com capacidade para até 800 litros. Embora a Itagro possua uma comporta de hopper para combate a incêndios para o AT-402, ela é de um modelo antigo e não estava instalada na aeronave. Além disso, não há retardante de fogo disponível no Rio Grande do Sul, assim tiveram que lançar apenas água pura nos fogos.

Apesar disso, Camargo planejou uma operação que se mostrou bastante efetiva, demonstrando que, bem empregados, mesmo aviões agrícolas menores do que os SEATs de maior porte podem ser extremamente úteis em uma emergência ambiental deste tipo. Antes mesmo do dia raiar, ele localizou a pista agrícola capaz de comportar o AT-402B e com água disponível mais próxima do fogo, e enviou para lá uma equipe de apoio para montar uma base de operações. Esta acabou se situando a 14 quilômetros do fogo, dado que as pistas existentes mais próximas estavam sem água devido a seca. Na primeira luz do dia, Luís Augusto Damiani decolou da base com o AT-402B já carregado de água e foi direto para o local do fogo.

Esta foto dá uma ideia da dimensão da área queimada. Foto: Marcos Camargo

O AT-402B e o RV-10 da Itagro na base montada na Fazenda São Manoel. A equipe de solo usa máscaras para evitar apropagação da COVID-19. Apesar de improvisada, a base de apoio ficoubastante funcional, conseguindo carregar os 1.500 litros no AT-402B emmenos de um minuto.

Um piloto agrícola veterano de nove safras, com três delas voando alternadamente o AT- 402B e um Ipanema, Damiani é examinador credenciado da ANAC e tem curso de Gerente de Segurança Operacional. É bacharel em ciências aeronáuticas, e foi em cadeiras de combate a incêndios daquele curso seu primeiro contato com a atividade.

Camargo também decolou em um Van RV-10 e voou para o local, para atuar como coordenador aéreo e direcionar os lançamentos de água. Camargo sabia que só os aviões não conseguiriam apagar totalmente o fogo. Para tal, seriam necessários brigadistas no solo, para impedir que pequenos focos reiniciassem o fogo. O corpo de bombeiros do Alegrete já tinha informado que não poderia ir lá devido a outros chamados, então Camargo pediu ajuda para este combate no chão, em um grupo de WhatsApp dos fazendeiros locais. Embora alguns tenham respondido, tiveram dificuldade de chegar no local do fogo.

À tarde, o vento aumentou e o AT-402B não conseguia mais dar conta do fogo sozinho, apesar de Damiani voá-lo sem parar, tendo almoçado “apenas duas garfadas” durante um reabastecimento. A situação ficou mais tensa ainda quando o fogo se aproximou da sede de uma fazenda, levando Damiani a exigir “110%” do desempenho do AT-402B.

Luís Augusto Damiani decolando o AT-402B da base da Itagro, ao alvorecer, para iniciar o combate às chamas.

Isto fez Camargo acionar um de seus Ipanemas para se juntar à operação, pilotado por André Cappellari. Também um veterano piloto agrícola de nove safras, Cappellari pode voar o Ipanema, de menor porte, de uma outra pista, a apenas seis quilômetros do fogo. Assim, Cappellari conseguiu fazer 17 lançamentos guiados por Camargo, enfrentando forte turbulência, a redução da visibilidade pela fumaça e redemoinhos formados pelo fogo. A direção e a intensidade do vento mudavam com frequência, exigindo atenção de toda a equipe..

Somados, os dois aviões lançaram 81.000 litros de água no fogo, em 62 cargas ao longo do dia. O fogo só foi controlado à noite, depois de cerca de 600 hectares terem queimado.

A seca continua, porém, e três dias depois a Itagro recebeu mais um chamado. Novamente, o AT-402B e um Ipanema lançaram 7.000 litros de água – três cargas cada avião – em um fogo de 30 hectares a seis quilômetros da pista de onde operavam. E enquanto escrevíamos este artigo, a Itagro recebeu mais um chamado para combater outro fogo. Provavelmente, outros chamados ocorrerão até que as chuvas se normalizem no Rio Grande do Sul.

A Itagro também teve suas atividades afetadas pela COVID-19. Em um primeiro momento, a prefeitura do Alegrete determinou a suspensão de todas as atividades empresariais no município, sem distinção. Camargo prontamente enviou um ofício em papel ao prefeito, informando-o que a atividade aeroagrícola é de caráter essencial, e que sua suspensão neste final da safra de verão aumentaria ainda mais as perdas do estado e do município devido à seca. O prefeito concordou e, através de ofício digital, devido ao coronavírus, prontamente autorizou sua volta ao funcionamento. A Itagro adotou todas as medidas recomendadas pelas autoridades para evitar a transmissão da COVID-19 entre seus colaboradores - uso de máscaras, higienização de mãos e ambientes, etc.

Estes reveses temporários não alteram os planos de Camargo, para o futuro da Itagro. As mudanças climáticas estão tornando os fogos mais frequentes no RS, ao mesmo tempo em que a atenção do público sobre isso aumenta. Um empresário inteligente como Camargo vê nessa mudança uma oportunidade; ele hoje planeja investir ainda mais em equipamentos para o combate a incêndios, inclusive aviões de maior porte, e quando autorizado no Brasil, também para o combate a vetores de doenças. Com uma mentalidade tão progressista de seu gestor, podemos esperar em breve ver novamente a Itagro nas páginas de AgAir Update!

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