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C O N D U Ç Ã O SUSTENTABILIDADE
BMW i8
É
um avião? Não. Uma nave espacial? Também não. Então que coisa é esta que tem quatro rodas, mas que parece ter saído de outra galáxia? É o BMW i8 — o mais recente devaneio da marca alemã, prometendo deixar em alvoroço todos os que se cruzem com ele. Desde logo o dono, que terá de pagar qualquer coisa como 138 mil euros, em Portugal, para poder mostrá-lo aos amigos. Mas também os tranquilos transeuntes que, habituados a suportar dezenas de Clio, Corsa, A4, Classe C e Série 5 por dia, não dispõem de um globo ocular devidamente preparado para o choque anímico que representa este carro de silhueta pouco convencional. Se assim aconteceu numa cidade cheia de Bentley, Ferrari e Porsche, sem esquecer os Mustang e Camaro da praxe, como pensar o contrário em Portugal, um país povoado por um parque automóvel bem mais modesto?
DIFÍCIL DE IGUALAR As aparências iludem e, da mesma forma que o novo i8 não é um superdesportivo, também é verdade que o seu comportamento é capaz de deixar na sombra muitos carros com o mesmo nome. É um híbrido “plug-in” futurista, cujo desenho, cheio de retalhos, lembra algo inacabado e longe de alguma vez poder vir a ser produzido. Ao mesmo tempo, não deixa de ter algumas semelhanças com o emblemático M1 e o M1 Hommage que surgiu anos mais tarde. No coração deste cocktail tecnológico está, na verdade, um “bypass” composto por um motor a gasolina, de três
MOTOR GASOLINA........ 3 CIL. TURBO;1499 C.C.; 231
CV/5800 320 NM/3700 RPM MOTOR ELÉTRICO........ SÍNCRONO;131 CV/4800 RPM
250 NM/0 RPM
cilindros e 1.5 litros, capaz de debitar 231 CV e 320 Nm às rodas traseiras (recorre, para tal, a um turbocompressor e à injeção direta), e um motor elétrico que fornece 131 CV e 250 Nm às rodas dianteiras. A estrutura mecânica resulta, basicamente, num tração às quatro rodas motrizes com a capacidade de entregar 362 CV de potência e outras prestações igualmente estonteantes (0-100 km/h em 4,4 segundos e 250 km/h de velocidade máxima). Mas o grande élan de tudo isto acabam por ser os reflexos que esta opção teve no consumo final do veículo e que nos fizeram abrir a boca de espanto: 2,1 l/100 km! Isso mesmo. Dois litros em troca de momentos de diversão difíceis de igualar. Parece que finalmente é possível desfrutar da pilotagem sem medo de magoar o ambiente. O segredo para um valor tão reduzido está nas formas e na arquitetura da carroçaria, repleta de CFRP — plástico reforçado com fibra de carbono. Mas também num chassis que usa e abusa do alumínio para carregar todos os elementos da suspensão e do motor. Ambos (chassis e carroçaria) representam dois módulos independentes (“Life” — a estrutura do habitáculo em carbono — e “Drive” — chassis e restantes componentes) e traduzemse num peso absolutamente extraordinário de 1485 kg, uma leveza ainda mais impressionante quando nos lembramos que o i8 carrega não um, mas dois motores, sem esquecer as baterias de iões de lítio que se encontram alojadas debaixo dos passageiros, no módulo que alberga todo o conjunto propulsor. Com sistema de vetorização do binário e a tração integral
POTÊNCIA TOTAL........... 362 CV TRANSMISSÃO............... INTEGRAL EMISSÕES CO2.............. 49 G/KM AUTONOMIA.................... 440 KM AUTONOMIA EV.............. 37 KM
CONSUMO GASOLINA 2,1 L/100 KM 0-100 KM/H.................... 4,4 S VEL.MÁXIMA.................... 250 KM/H VEL.MÁXIMA EV.............. 120 KM/H PREÇO............................... 138 000€
O DESPORTIVO ECOLÓGICO
A CALIFÓRNIA ACOLHEU-NOS POR DOIS DIAS PARA CONDUZIRMOS O BMW MAIS REVOLUCIONÁRIO. ENTRE AS PRAIAS DE MALIBU, AS LOJAS DE RODEO DRIVE E AS ESTRADAS SERPENTEADAS DE MULHOLLAND HIGHWAY, FICÁMOS A CONHECER UM CARRO TOTALMENTE DIFERENTE DE TUDO O QUE JÁ GUIÁMOS ATÉ HOJE TEXTO ANDRÉ BETTENCOURT RODRIGUES
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SEX-APPEAL
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1 Apesar de algumas linhas menos convencionais, o interior do i8 é tipicamente BMW, estando longe de replicar o radicalismo exterior 2 A soleira da porta dificulta a saída do habitáculo, mas para entrar basta deixar escorregar o traseiro 3 A arquitetura da suspensão (triângulos sobrepostos à frente e eixo multibraços atrás), em conjunto com a tração integral e a vetorização do binário fazem do i8 um dos desportivos mais eficazes que alguma vez conduzimos
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que resulta do funcionamento dos dois motores em simultâneo durante uma condução mais desportiva, o i8 é simplesmente um dos carros mais eficazes que alguma vez guiámos. Na zona montanhosa da Mulholland Highway, acima das paradisíacas praias de Malibu, esgrimi-lo, numa sucessão de curvas a alta velocidade, com medo que a patrulha californiana desse conta que estávamos ligeiramente acima das 35 mph permitidas foi um exercício cumprido com alguns suores e um enorme sorriso. O divertimento prolongou-se sem interrupções, mas se, por qualquer razão, os acontecimentos provocassem uma perseguição à antiga, temos dúvidas que o Ford Crown Victoria Interceptor fosse capaz de caçar o nosso desportivo ecológico, mesmo que a movê-lo estivesse um V8 de 4.6 litros. O segredo do bom desempenho do i8 não está no motor, embora o som que é emitido pelo sistema de escape trabalhado pela eletrónica seja absolutamente delicioso. A potência está lá e reflete-se na aceleração e no binário, mas o seu comportamento distingue-o dos demais — principalmente de uma espécie de “muscle car” sem qualquer refinamento.
REPLETO DE DRAMATISMO A transmissão automática é composta por duas velocidades (uma para a condução 100 por cento elétrica e outra para quando o motor elétrico ajuda o motor a gasolina) e esconde quatro modos de condução: “eDrive”, “EcoPro”, “Comfort” e “Sport”. Os três primeiros são selecionáveis por intermédio de um botão que se encontra na coluna central, junto ao fole da caixa de velocidades, enquanto o último é acionado assim que puxamos o punho o mais possível à esquerda. Como o nome indica, o modo “eDrive” é o mais indicado para uma condução ecológica e aquele que nos permite usufruir dos cerca de 37 km de autonomia inteiramente isenta de emissões a velocidades até 120 km/h. O segundo tenta maximizar essa autonomia através de uma resposta mais suave do pedal do acelerador e da limitação de algumas funções, como o ar condicionado. O terceiro,
pré-definido assim que ligamos a ignição, relaciona de forma perfeita os dois motores para que estes se adaptem à condução, enquanto o último, mais desportivo, aciona de forma permanente o motor a gasolina e o motor elétrico, permitindo, desta forma, uma condução incrivelmente dinâmica. As portas de abertura em tesoura contribuem para o dramatismo visual, tal como os enormes buracos que atravessam a lateral até à traseira e se fundem com os farolins em LED. O mesmo se aplica à tecnologia laser dos máximos, 30 por cento mais eficiente no consumo e com o dobro do alcance de uns LED (cerca de 600 m). Por questões de segurança, está associada a um sensor que os desliga automaticamente na presença de outro carro. Os pneus 195/50 à frente e 215/45 atrás são naturalmente estreitos e a sua baixa resistência ao rolamento é decisiva para o consumo anunciado, enquanto carregar as baterias leva 3 horas numa tomada doméstica e duas horas com um carregador rápido comercializado pela própria marca. O BMW i8 é o melhor exemplo da evolução dos tempos e um dos desportivos mais interessantes de sempre da indústria automóvel. Ainda não se encontra disponível em Portugal (as primeiras entregas estão marcadas para o final de Junho), mas já ganhou, do nosso ponto de vista, o prémio de “híbrido de produção em série mais bonito, apaixonante e dinâmico do mercado”, capaz de rivalizar com alguns “puro-sangue” bem-estabelecidos, mas ainda ligeiramente abaixo do bater de coração que um M3 ou M5 são capazes de entregar aos seus proprietários. Nem tudo são adjetivos positivos e por isso compete-nos dizer que o acesso é complicado (para entrar no habitáculo basta deixar escorregar o rabo, mas sair obriga a uma ginástica difícil). Que os bancos, finos, podiam ser mais confortáveis. E que a caixa automática nem sempre nos deixou meter uma abaixo quando queríamos. No entanto, nada disso apagou o prazer extremo de poder conduzi-lo, nem a certeza de estarmos na presença de um desportivo do presente que irá seguramente influenciar os que surgirão no futuro.
O BMW I8 É UM HÍBRIDO “PLUG-IN” FUTURISTA, CUJO DESENHO, CHEIO DE RETALHOS, LEMBRA ALGO INACABADO E LONGE DE ALGUMA VEZ PODER VIR A SER PRODUZIDO
POR DENTRO DO ASSUNTO HELMUT SCHRAMM
DIRETOR DE PRODUÇÃO BMW i
Em entrevista à TURBO, Helmut Schramm salientou alguns aspetos que fazem do i8 um automóvel tão revolucionário: “Em primeiro lugar, a profusão de materiais como o magnésio, o alumínio e a fibra de carbono. Estamos particularmente satisfeitos com o desenvolvimento deste último componente, tendo conseguido implementar um sistema que permite controlar custos e reduzir o tempo de produção” através de um processo que não
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recorre a fornos de cozedura e sim à injeção a quente e a frio das diversas peças que são integradas no carro. Schramm distinguiu ainda “o módulo independente que gere o binário entregue às rodas”, um sistema de vetorização do binário que oferece “uma condução sem paralelo” em altas velocidades: “Quando as rodas da frente estão sobrecarregadas, o sistema redistribui a força para a traseira e o mesmo sucede quando o inverso acontece”. O trabalho realizado no motor de três cilindros que faz parte da gama Mini e que é montado na traseira do i8 foi outro dos pontos abordados: “O segredo dos 231 CV está num turbo mais potente e numa cambota específica.” JUNHO 2014 / WWW.TURBO.PT
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