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As esculturas de Gerry Judah fazem parte da tradição do Goodwood Festival of Speed desde 1997. A obra de arte de 2014 celebrava o 120º aniversário do envolvimento da Mercedes-Benz no desporto motorizado
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SÓ PARA ENTUSIASTAS
PREFERE UM MERCEDES W196, UM LOTUS-CLIMAX 25 OU O LOTUS-RENAULT 97T DE AYRTON SENNA? NA DÚVIDA, DAMOS-LHE UMA CERTEZA: GOODWOOD É UMA BOMBA CALÓRICA CAPAZ DE ALIMENTAR A NOSSA ALMA POR TEMPO INDEFINIDO. FAZ BEM E RECOMENDA-SE TEXTO ANDRÉ BETTENCOURT RODRIGUES EM GOODWOOD
HERE COMES THE SUN – THE BEATLES
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GOODWOOD FESTIVAL OF SPEED
Q
uem diria que uma propriedade de 12 000 m2 próxima de Chichester, West Sussex, a cerca de 130 km de Londres, poderia converter-se num palco absolutamente idílico para a observação de grandes pedaços da história automóvel? Em particular, quando o terreno é partilhado com uma pista de corridas de cavalos, dois campos de golfe, uma quinta orgânica com 3000 m2, um hotel com 94 quartos, um campo de cricket e uma frota de aviões antigos? Ora, é precisamente isso o que acontece no Goodwood Festival of Speed – o evento para quem não se cansa de automóveis e corridas de automóveis, para quem sonha com o Audi Quattro do Grupo B e o Ferrari 250 GTO.
RUN FOR YOUR LIFE A parafernália de antiguidades, desportivos, superdesportivos, monolugares de Fórmula 1, carros de rali, máquinas da NASCAR e turismos variados, que vão desde o DTM alemão aos V8 Supercar australianos, fez com que estivéssemos sempre numa constante correria. O motivo? Bom, com tanta abundância, é fácil deixarmo-nos levar pela excitação que nos rodeia e procurar direcionála para a tentativa, insensata, de vislumbrar, apreender fotograficamente e reter na memória todas as raridades e monstros ali presentes. Um erro de principiante porque, na verdade, não há necessidade de saltitar de um lado para o outro se houver o bom senso de comprar um passe para os quatro dias do festival. Caso contrário, convém apressar-se ao ritmo do “run for your life!” porque há mesmo muito para ver. Cinco horas na propriedade do visionário Charles Henry Gordon Lennox, mais conhecido como Earl March ou Lord March, é muito pouco para absorver tamanha exuberância. Por isso, não tivemos outro remédio senão navegar incessantemente em busca de tesouros, isto é, à caça das “máquinas viscerais repletas de história que adoraríamos
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conduzir ou colocar na garagem de casa”. Cada tiro, cada melro. Era só escolher: Lotus-Climax 25 verde e amarelo de Jim Clark ou Lotus Renault 97-T de Ayrton Senna, no preto e dourado da John Player Special? Porsche 917 K nas cores da Gulf ou Jaguar XJR-9 no branco e lilás da Silk Cut? Lancia Beta Montecarlo nas cores da Martini Racing ou Audi Quattro S1 E2 amarelo e branco com Hannu Mikkola ao volante? Hmm… Não gosta de carros antigos? Sem problema. Também os há contemporâneos. Não teve oportunidade de ir a Le Mans assistir à 13ª vitória da Audi nas 24 H de Le Mans? O André Lotterer e a casa alemã, por exemplo, fizeram questão de levar até Goodwood, ainda com a sujidade e as melgas francesas, o R18 e-tron Quattro que correu em La Sarthe. Gosta mais do Toyota? Igualmente presente esteve o TS040 Hybrid de 2014, bem como o TS2020 GT-One vermelho e branco que quase vencia a corrida de resistência mais famosa do mundo, em 1999. Mudou de ideias e afinal o que lhe enche as medidas são carros pré-modernos, pré-direção assistida e pósguerra? Desejo concedido. Que tal começarmos com um “Silver Arrow” Mercedes-Benz W196, de 1954, conduzido por Stirling Moss? Ou um Bentley Speed Six “Old Number One”, de 1929, associado aos famosos “Bentley Boys”? São giros, mas o que realmente lhe tira do sério são os carros italianos? Então e se antes lhe propusermos um Alfa Romeo 750 Competizione, de 1955, um Ferrari 166 M Barchetta, de
IMPRESSIONANTE
As nossas paixões sabem melhor quando são partilhadas com amigos. Em Goodwood tem muitos por onde escolher. Este ano foram só 200 mil pessoas a assistir ao evento, do qual fazem parte carros do Grupo C, de Fórmula 1, de ralis e superdesportivos como o Ferrari La Ferrari. Venha o diabo e escolha! O ambiente é fantástico e tudo está impecavelmente organizado
CADA TIRO, CADA MELRO. É SÓ ESCOLHER: LOTUS-CLIMAX 25 VERDE E AMARELO DE JIM CLARK OU LOTUS RENAULT 97-T DE AYRTON SENNA, NO PRETO E DOURADO DA JOHN PLAYER SPECIAL?
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1950, e um Maserati 250F V12, de 1957? Parece brincadeira, mas é mesmo assim. Uma agulha num palheiro, um óasis no deserto. O que você quiser. Aqui, carros não faltam para todos os gostos e feitios.
MASSA CRÍTICA Afirmar que o Goodwood Festival of Speed é provavelmente a melhor forma de conhecer e, melhor do que isso, presenciar, com os nossos próprios olhos, a evolução da história automóvel sob a forma de grandes desportivos e carros de corrida, parece ousado para um evento que cumpriu, em 2013, o seu vigésimo aniversário. Haverá massa crítica suficiente para dizê-lo de forma tão reiterada? Nas 24 Horas de Le Mans também não se vêem carros do antigo Grupo C ou dos anos 30 e 40? O Rally Legend que se realiza na Sardenha não será uma maneira mais fidedigna de apreciar carros de ralis? E Silverstone? Não será a meca dos circuitos ingleses a aposta certa para vislumbrar vários F1 históricos? Na nossa opinião, dificilmente. E tudo porque Goodwood consegue aliar de forma notável a qualidade à quantidade, chamando até si um sem fim de entusiastas pelas quatro rodas. Natural de Chichester, Alan Green, de 62 anos, é um deles. Encontramo-lo sentado na relva adjacente à Goodwood House, a mansão do século XVII que albergava os Duques de Richmond e que hoje pode ser alugada para diversos eventos. Casamentos, batizados, reuniões de negócios e aniversários fazem parte da lista, mas, durante os quatro dias da festa, a Goodwood House deixa de ser albergue cerimonial para se assumir como o palco de excelência dos mais ilustres convidados. Sentados na relva com ele, Alan conta-nos que visita o festival praticamente desde a primeira edição, lançada em 1993: “Venho todos os anos. Penso que só falhei os dois primeiros porque não me tinha apercebido que o evento era tão bom. Estive cá quando o Nick Heidfeld bateu o recorde com o McLaren e tenho vindo sempre desde então. A evolução é incrível. Cada vez maior e melhor”. De frente para mais uma das já icónicas esculturas do britânico-nascido-na-Índia Gerry Judah, o artista que todos os anos junta carros de corrida num enorme anel
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O GOODWOOD FESTIVAL OF SPEED É O EVENTO PARA QUEM NÃO SE CANSA DE AUTOMÓVEIS E CORRIDAS DE AUTOMÓVEIS, PARA QUEM SONHA COM O AUDI QUATTRO DO GRUPO B E O FERRARI 250 GTO situado no jardim da Goodwood House (a edição deste ano era dedicada ao 120º aniversário do envolvimento da Mercedes-Benz no desporto motorizado), Alan explica-nos um pouco da magia do certame: “É um evento espetacular. Os carros, as motorhomes dos construtores e a peça em frente à mansão estão melhores a cada ano que passa. Depois, poder estar próximo de todos estes pilotos famosos e conviver de perto com estas máquinas deliciosas é simplesmente maravilhoso. É único porque consigo estar próximo de todos os veículos, obter autógrafos das estrelas – algo que não se consegue numa prova do Mundial de Fórmula 1.” Este simpático inglês diz-nos ainda que é um fã das mudanças que têm sido feitas no festival e que as novas motorhomes têm lugar num evento de raízes vintage: “São uma hipótese de mostrar a nova tecnologia e as novidades de produto, e isso também faz parte do ethos do desporto motorizado”. Fanático por motores ruidosos (“eu adoro desporto motorizado e é por isso que venho todos os anos”, afirma), a paixão de Alan é tão grande que nada o impediu de marcar presença nos quatro dias do evento. Nem mesmo ter de vir sozinho: “Falei com amigos, irmãos, mas não consegui convencer mais ninguém a vir comigo. ‘Ah, isso é aborrecido’, diziam. ‘Demasiado barulhento’. Mas não acredito que alguém se sinta aborrecido aqui. É impossível.” Deixa estar, Alan. Nos próximos anos, se tudo correr bem, faremos questão de ir contigo.
LINDO!
O 917K com as cores da Gulf foi só uma das muitas raridades de Le Mans que estiveram presentes em Goodwood