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Pequena no nome, mas grande na história. É assim a Mini, a marca de culto britânica que hoje pertence ao Grupo BMW e cujo percurso, até 31 de janeiro, é homenageado em Munique no museu da casa bávara Texto André Bettencourt Rodrigues em Munique
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eis euros são uma ninharia quando nos damos conta do que está em causa: a porta de entrada para mais de 30 veículos, pequenas exposições dedicadas e um conjunto de acessórios do universo Mini. Todos meticulosamente tratados, todos à sua espera, até ao final de Janeiro, no Museu da BMW. Podem existir muitos pretextos para dar um salto à Alemanha, mas garantimos-lhe que visitar “The Mini Story” ou, em bom português, “A História da Mini” tem de ser um dos mais fortes. Em primeiro lugar, porque lhe dá a conhecer um pouco mais sobre o percurso de um dos nomes mais marcantes da indústria automóvel — um culto “pop” cujas origens remontam a 1959 e que continua a atrair uma legião de fãs um pouco por todo o mundo. Depois, pela oportunidade de ver, ao vivo, alguns automóveis emblemáticos, como o “LBL 6D” com o número de porta 177 (que deu a terceira e última vitória à Mini no Rali de Monte Carlo, em 1967) ou os dois protótipos desenvolvidos trinta anos mais tarde, em 1997, antes do relançamento da marca pelo Grupo BMW. PRENDER O OLHAR A necessidade aguça o engenho e por aqui logo se vê que o projeto delineado por um engenheiro estranhamente mau a matemática, que odiava desenhar os seus concepts era, acima de tudo, um exercício fantástico de otimização de espaço – a premissa que esteve na origem do primeiro Mini quando a British Motor Company (BMC) encomendou a Alec Issigonis um carro pequeno, mas muito desafogado. Cinquenta e cinco anos depois, a tecnologia tomou de assalto o Mini, tal como o rol de variantes, embora o leque atual, muitas vezes criticado pelos puristas da marca, siga, efetivamente, a cronologia histórica do modelo: no lugar da antiga Traveller/Countryman (1960) estão os atuais Clubman/Countryman, ambos com continuidade assegurada nesta terceira geração do “Mini BMW”, enquanto no lugar da primeira Clubman (1969), 11 cm mais comprida do que o Mini original, está o atual Mini de cinco portas. As mudanças na nomenclatura causam alguma confusão, mas a verdade é que a filosofia é a mesma e que esse passado está sempre presente, até nos protótipos mais recentes como o Mini Beechcomber (2010) – uma interpretação contemporânea do Mini
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SEJA FÃ OU DISSIDENTE, ESTEJA MAIS OU MENOS APAIXONADO, ESTA É UMA HISTÓRIA QUE MERECE SER CONTADA Moke (1964) que acabaria por dar origem, sim, ao atual Mini Countryman, lançado em 2011. Independentemente da qualidade dos modelos, a Mini é, sobretudo, uma marca emocional. Daí a questão: o que faz de um Mini “um Mini”? Que ligação é essa que une proprietários e não proprietários de cada vez que os seus caminhos se cruzam, na estrada ou fora dela? E como pode a marca ser ainda um baluarte britânico quando há quinze anos que os seus automóveis nascem com a tecnologia alemã da BMW? Ora, é precisamente a isso que esta exposição não pretende, mas consegue responder. Situada na ala mais à direita do BMW Welt, a mostra inicia-se com a história do logótipo, os diferentes proprietários (a BMC, a British Leyland e a BMW) e incursões como Austin Seven e Morris Mini-Minor, os locais onde o Mini original foi produzido (apenas no Reino Unido e na Holanda) e os mercados onde a gama atual é comercializada (Portugal, obviamente, está incluído). Tudo muito interessante, sem dúvida, mas sem nada que nos prenda o olhar. É à medida que vamos conquistando os pisos circulares do edifício, uma escalada que testa a nossa resistência física, que as coisas giras começam a aparecer. A clamar pela nossa atenção está, desde logo, um enorme placar, à imagem dos cinemas antigos, com algumas das películas – “A Shot In The Dark” (1964), “The Italian Job” (1969, 2003), “Bean: The Movie” (1997), “Austin Powers in Goldmember” (2002) ou “The Bourne Identity” (2002) – onde o Mini teve honras de protagonista. Vai ficar a conhecer a história cinematográfica do modelo e curiosidades sobre a produção dos filmes: a última versão de “The Italian Job”, por exemplo, contou, nada mais, nada menos, com 32 unidades do Mini Cooper S. ÍCONE DA INDÚSTRIA Em resposta à questão “será o Mini mais do que um carro?”, o certo é que ninguém pode questionar o estatuto de culto que o modelo entretanto adquiriu, pela forma notável como conjugou o design, a agilidade, o espaço, a leveza e o preço acessível. As versões Cooper mais desportivas também ajudaram à festa, contribuindo para o tal “go-kart feel” que a marca tanto apregoa nos dias que correm. E o mesmo se aplica às distintas variantes de carroçaria e edições especiais que hoje são verdadeiros ícones da indústria. É precisamente a tudo isto que a exposição no Museu da BMW nos dá acesso, numa viagem pelo tempo que não esquece as campanhas publicitárias e os objetos dos anos 60, mas também modelos históricos como o “art car” criado por Paul Smith (1999). A ponte entre o passado e o futuro é constante, com elementos do desenho inconfundível do Mini original (a grelha e os faróis, os mais distintivos) a fazerem companhia aos homónimos da atualidade. Em mais um passo ficámos a saber que o contraste explica-se pela segurança (o Mini nunca passou propriamente um “crash-test”), a evolução dos tempos (a altura média dos passageiros cresceu 10 cm desde que este amante da cidade surgiu no mercado) e a tecnologia (o maior leque de funções multimédia obrigou a um painel de instrumentos muito mais
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completo, com GPS integrado no lugar do antigo velocímetro). Do clássico interior munido de volante, velocímetro, seletor de velocidades e dois botões para as luzes e os indicadores, ao cockpit altamente tecnológico com “head-up” display, “start&stop” e ar condicionado vai uma grande distância, e é precisamente isso o que vai poder ver antes de subir mais um bocadinho até à área que guarda alguns dos Mini mais especiais, exclusivos e raros do mundo. Da lista fazem parte o Mini Wildgoose, uma autocaravana com camas para quatro pessoas, o Mini Ice Cream Van, utilizado para armazenar e vender gelados, e até o Mini Outspan Orange – um veículo encomendado pela cooperativa sul-africana formada pela Citrus Exchange e pela Capespan à Brian Waite Engineering (um carroçador de Sussex) para promover a venda das suas laranjas no Reino Unido e na Europa. Este citrino com quatro rodas utilizava o motor de 998 cc e a base do Mini, mas tinha uma distância entre eixos mais curta, de 1,20 metros, de modo a caber no formato circular da laranja. De modo a equilibrar o peso do conjunto, um bloco de cimento com 90 kg foi acrescentado à traseira. Nesta secção é ainda possível ver o Austin Seven Countryman (1960), o Morris Mini Traveller (1960) ou a versão “pick-up” do mesmo (1961). Mas também raridades como o primeiro Mini Cabrio (1991), do qual foram construídas apenas 1081 unidades – o único modelo com origem fora do Reino Unido e que surgiu pelo génio criativo do dono de um concessionário
SUPER “COOL” “Adrenalina, individualidade, entusiasmo e inconvencional” são algumas das palavras utilizadas pelo marketing da Mini para descrever a marca. Depois de visitarmos a exposição, ficámos com a ideia de que não se encontram longe da verdade. A entrada individual custa 6€, mas grupos de cinco ou mais pessoas pagam apenas 5€. O bilhete familiar (2 adultos, 3 crianças) custa 24€
da marca em Kappelrodeck, Alemanha. Há ainda tempo para se perder com extravagâncias como o Mini XXL (2004), a limusine de seis rodas que a Mini levou aos Jogos Olímpicos de Atenas e que contava com uma piscina em cima do eixo traseiro, ou o Mini Shorty – uma versão com apenas 2,20 m de comprimento (contra os 3,05 m do Mini original) criada, em 2002, por Kevin Palmer, e que continha um pequeno tanque em aço que podia ser acoplado ao depósito de combustível e enchido com gás hilariante para depois ser misturado com o combustível. Apesar da inexistência de portas ou de uma bagageira, o aspeto caricato do Shorty causou furor no encontro internacional que anualmente reúne os fãs da marca, elevando o inglês Palmer à condição de mago dos Mini. Não podíamos deixar de referir a secção “motorsport”, dedicada aos feitos da marca em Monte Carlo, no Dakar ou na criação de troféus como o Mini Challenge (pode ver o carro utilizado por Alex Zanardi após o acidente que lhe vitimou as duas pernas). Nem a secção referente ao presente e futuro, onde figuram a atual gama de modelos e protótipos como o Mini Rocketman (2012) ou o Mini Concept Clubman (2014), que antevê a futura carrinha da Mini. Uma coisa é certa: seja fã ou dissidente, esteja mais ou menos apaixonado, esta é uma história maravilhosa que vale por si e que merece ser contada. Só tem de ir a Munique, apanhar um táxi para o BMW Welt e deixar-se contagiar.
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