HYUNDAI WRC THIERRY NEUVILLE

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OLHA QUEM VOLTOU

CATORZE ANOS APÓS A ESTREIA DO ACCENT WRC, A COREANA HYUNDAI ESTÁ DE REGRESSO AO MUNDIAL DE RALIS. NA BAGAGEM TRAZ UM CARRO TOTALMENTE NOVO E UMA EQUIPA COMPOSTA POR ALGUNS DOS MELHORES PILOTOS DA ATUALIDADE. FALÁMOS COM O Nº1, O BELGA THIERRY NEUVILLE TEXTO ANDRÉ BETTENCOURT RODRIGUES

BACK TOGETHER – HARDSOUL FEAT. RON CARROLL

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rrancar com um projeto de grande envergadura e montá-lo de raiz representa um esforço logístico impressionante, sobretudo quando este é concebido com o propósito de deixar a sua marca no competitivo mundo do desporto motorizado. A lista de encargos é assustadora e envolve não só a contratação de alguns dos melhores técnicos, engenheiros e mecânicos disponíveis no mercado, mas também a construção de estruturas de acolhimento e desenvolvimento tecnológico que reúnam as condições necessárias para que aqueles que se aventuram possam sonhar com o sucesso. É por todos estes motivos que o trabalho realizado pela Hyundai no último ano suscita, desde logo, uma avalanche de elogios, por ter conseguido montar em tempo recorde um projeto digno do Mundial de Ralis.

COOPERAÇÃO CONSTANTE O tiro de partida foi dado a 19 de Dezembro de 2012, data em que a Hyundai Motorsport GmbH foi fundada. E de lá para cá muito sucedeu. Chegaram novos funcionários (100 pessoas de 20 nacionalidades), forjaram-se os primeiros

chassis, montaram-se as unidades de teste inaugurais do i20 WRC e deu-se início à edificação do centro de operações da equipa — um espaço com 8200 m2 situado em Alzenau, Alemanha, a 50 km da Hyundai Motor Europe, em Offenbach, e a outros 50 km do Centro de Desenho e Desenvolvimento técnico, em Rüsselsheim. Embora não pareça, dadas as diferenças na missão e no trabalho de cada uma, a proximidade entre as duas fábricas é um detalhe importantíssimo na avaliação do compromisso da marca coreana nesta sua segunda incursão no Mundial de Ralis, até porque, entre 2000 e 2003, a operação Accent WRC estava longe de reunir o apoio e as condições de uma estrutura de fábrica, como agora acontece. Uma ideia fomentada por Alain Penasse, o belga que assume o cargo de diretor desportivo: “Há 14 anos o corpo diretivo decidiu juntar-se ao campeonato recorrendo a uma equipa privada, enquanto hoje a Hyundai Motorsport é uma subsidiária da Hyundai Motor Company, com sede na Coreia. Significa, portanto, que tomaram esta decisão porque querem estar muito envolvidos no projeto”. Alain assegura que o atual compromisso da empresa é “totalmente diferente”, a começar pelo apoio dado pelas altas esferas da companhia — uma relação determinante para se obter resultados: “A cooperação é constante. Temos uma boa relação com o Departamento de Investigação e Desenvolvimento na Coreia, o que se traduz numa forma de pensar e num posicionamento estratégico completamente diferentes do que tiveram no passado”, acrescenta.

GRAVIDEZ DE NOVE MESES Apesar da passagem dos anos, certas coisas parecem não mudar e com reflexos muito positivos. Se no passado a Hyundai teve nas suas fileiras nomes como Alistar McRae, 1

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ALTAS EXPETATIVAS

1 Nove meses de gestação resultaram num belo carro de ralis 2 Terminar “uma ou duas provas no pódio” é o grande objetivo da Hyundai para 2014. Sete pódios em 2013 contra pilotos mais experientes nestas andanças foram decisivos para a contratação de Thierry Neuville como nº1. Estranhamente ou não, o belga diz que não tem nenhum ídolo no desporto. Nem mesmo o compatriota Bruno Thiry, “muito famoso” na sua área, como o próprio admite. “Quero apenas ser o melhor possível”, refere

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Juha Kankunnen, Harri Rovanperä e Keneth Eriksson ao volante do Accent WRC, a atual armada composta por Bryan Bouffier, Chris Atkinson, Dani Sordo, Juho Hänninen e Thierry Neuville segue o mesmo tónico de classe, talento e combatividade. Todos são artistas com provas dadas nas competições de ralis mais importantes do mundo e por esse motivo perfeitamente aptos a extrair o máximo partido do i20 WRC, até porque a maioria (Bouffier, Atkinson e Hänninen) foi responsável pelo desenvolvimento do carro ao longo de 2013. O objetivo para este ano passa, no entanto, por aprender o máximo possível sobre as exigências do campeonato e os requisitos necessários para que a Hyundai possa singrar na elite dos ralis: “É um projeto novo e por isso é muito difícil saber onde vamos estar, mas as primeiras indicações dizem-nos que temos um carro muito fiável e por isso o nosso objetivo é terminar todos os ralis com os dois carros. Ficaremos muito felizes se conseguirmos terminar no top 5 em Monte Carlo e se subirmos ao pódio uma ou duas vezes durante a temporada”, revela Alain Penasse. O dirigente belga refere que toda a equipa está “muito excitada” com o início do campeonato e compara o i20 WRC a um bébé no final da gestação: “Terminámos todo o projeto em menos de um ano e por essa razão não houve propriamente muito tempo para construirmos a equipa e sermos bem-sucedidos. Ainda assim, conseguimos ter as unidades de serviço e de hospitalidade terminadas a tempo e os carros prontos e homologados antes do primeiro rali. Foi uma tarefa muito desgastante. Estamos grávidos há nove meses e em Janeiro será o nascimento do nosso bébé em Monte Carlo”, contou, entre risos. Num tom um pouco mais sério, o compatriota Thierry Neuville entra pelo mesmo diapasão e lembra que apenas em Monte Carlo

“VIMOS QUE NA PRIMEIRA PARTE DOS TROÇOS PERDÍAMOS MAIS TEMPO DO QUE NAS SEGUNDAS PASSAGENS. É UM ASPETO QUE QUEREMOS CORRIGIR NO FUTURO” THIERRY NEUVILLE

se poderá saber onde estão face às outras equipas. “Testei durante poucos dias e grande parte do trabalho foi apenas de desenvolvimento. Mas a primeira impressão foi positiva. Não tivemos grandes problemas mecânicos e as sensações no carro foram confortáveis, mas sabemos que há ainda muito trabalho a fazer. Felizmente temos tempo para, ao longo do ano, construir novas peças e ir passo-a-passo”. Apesar da nossa insistência, ninguém nos quis adiantar as áreas que carecem de maior desenvolvimento. Thierry escudou-se na “falta de conhecimento” da máquina, enquanto Alain diz que qualquer juízo sério apenas poderá ser feito a partir do Rali de Portugal — a quarta prova do campeonato. “Monte Carlo é sempre um rali complicado”, conta. “As condições meteorológicas estão sempre a mudar. Nuns locais tens muita aderência e noutros o asfalto é muito antigo, não há nada que te agarre à estrada. Existem quatro escolhas possíveis de pneus e o resultado final pode ser uma lotaria. É também um rali muito difícil de preparar porque ninguém nos garante que durante os testes iremos apanhar

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situações semelhantes às que iremos encontrar na prova, como neve ou gelo. Depois, na Suécia, temos um rali apenas de neve e no México uma prova a alta altitude, portanto só em Portugal é que poderemos encontrar um padrão para a maioria das provas do campeonato.”

DISPUTA DE EGOS Mesmo com todos os desafios inerentes a um novo projeto, Thierry Neuville mostra-se satisfeito com o que aí vem: “Penso que há muitas coisas novas à nossa espera, muito trabalho pela frente. Mas somos todos ambiciosos e estamos muito motivados para fazer o nosso melhor para sermos bem-sucedidos”. Depois de passar pela Citroën e a Ford, o belga acredita que a Hyundai reúne as melhores condições para tornar-se campeão do mundo e daí ter aceite o convite para se juntar à equipa, embora o ataque ao título só deva realisticamente acontecer em 2015 e 2016: “Sabemos que 2014 é um ano para ganharmos experiência e desenvolvermos o carro e a equipa, até porque os regulamentos mudam no próximo ano. Mas é óbvio que ganhar o título faz parte dos nossos planos”, avança.

“ESTAMOS GRÁVIDOS HÁ NOVE MESES E EM JANEIRO SERÁ O NASCIMENTO DO NOSSO BÉBÉ EM MONTE CARLO” ALAIN PENASSE

O jovem piloto acredita que a competição deste ano será novamente “muito difícil”, com Ogier e a Volkswagen em vantagem perante o que demonstraram na época passada: “São a equipa a bater e em 2014 não iremos estar na mesma posição para lutar contra eles, mas eu e o Nicolas estamos confiantes de que temos as capacidades certas para desenvolver o carro e levar a Hyundai ao topo nos próximos anos.” O piloto considera que o seu desempenho em 2013 foi determinante para a escolha da marca, salientando as prestações nos ralis da Finlândia, França e Alemanha: “Em França chegámos a liderar contra dois campeões do mundo no rali deles e tenho a certeza de que isso convenceu muitas pessoas”, refere. A melhorar, apenas o desempenho nas primeiras passagens dos troços: “Fomos bastante rápidos, consistentes e não tivemos praticamente desistências à exceção de um pequeno problema mecânico. Mas vimos que na primeira parte dos troços perdíamos mais tempo do que nas segundas passagens. É um aspeto que queremos corrigir no futuro.” Um piloto rápido em “qualquer superfície”, apesar de privilegiar as provas rápidas ou de asfalto como os ralis da Finlândia (o seu favorito pelo desafio que oferece) e da Alemanha (próximo da sua casa), Neuville acredita que as novas regras do WRC vão fazer com que as equipas passem a inscrever pilotos especializados num tipo de piso ou prova específica, a exemplo do que acontecia na década de 1980. Talvez por isso o espanhol Dani Sordo tenha sido designado como companheiro de equipa do belga em Monte Carlo, enquanto o finlandês Hanninen irá tripular o segundo i20 WRC na Suécia. Com pilotos deste gabarito, poderá haver conflitos de egos dentro da equipa? Alain Penasse diz que

CINCO VIOLINOS

1 Alain Penasse, belga, diretor desportivo 2 Thierry Neuville, belga, piloto nº1 e líder do projeto 3 Juho Hänninen, finlandês, vencedor do IRC, SWRC e ERC, piloto de testes e tripulante do segundo carro na Suécia 4 Dani Sordo, espanhol, ex-piloto de fábrica da Citroën, escolhido para secundar Neuville em Monte Carlo 5 Chris Atkinson, australiano, expiloto de fábrica da Subaru e da Mini, piloto de testes

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DIAS DE TESTES*

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não: “Não temos nenhum problema com egos e todos os pilotos mostraram-se contentes por se juntarem a nós e por iniciarem um projeto com um novo construtor. Além do Thierry, que irá participar em todas as provas, ainda não sabemos que ralis vamos dar a quem, até porque a nossa prioridade foi ter tudo pronto para o Monte Carlo e a Suécia. Então depois iremos definir quem irá ocupar o segundo carro nas provas seguintes”. Sobre a estratégia escolhida para 2014, Alain revela que o regime de rotatividade devese à vontade de proporcionar aos pilotos de testes um ambiente de competição: “Acreditamos que o objetivo deles e de todos os pilotos é fazer parte de uma competição e que para manterem o seu nível seria bom que participassem nalguns ralis. Mas não fazia sentido que cumprissem as 13 provas, porque temos ainda muitos testes para fazer e este trabalho de desenvolvimento é prioritário para nós. Eles fizeram um excelente trabalho no ano passado e queremos obviamente contar com eles em 2014”, explica. Sobre a evolução do carro, o diretor desportivo da Hyundai diz que foi dado um grande passo: “Começámos com um pequeno teste de motor para que este pudesse ser validado e em nove meses conseguimos ter um projeto apto a competir no Mundial de Ralis, o que é fantástico.” A azáfama é contínua. E não dá tréguas. Entre o final de Dezembro e o início de Janeiro cumpriram-se mais dois testes de preparação para Monte Carlo, enquanto na fábrica os engenheiros foram distribuídos pelos projetos de 2014 e 2015. Tudo para que nada falhe no próximo ano quando os regulamentos mudarem. Com este nível de empenho — e se o trabalho se traduzir em resultados — não temos dúvidas de que Neuville e a Hyundai têm todas as hipóteses de serem campeões no futuro. Será que é desta que chega ao fim uma década de domínio gaulês na competição de ralis mais importante do mundo?

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*NÃO ESTÃO CONTABILIZADAS AS DUAS ÚLTIMAS SESSÕES DE TESTES

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