PORSCHE BOXSTER E CAYMAN GTS

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PORSCHE

BOXSTER GTS CAYMAN GTS PECADO CAPITAL

SÃO O FOGO QUE ARDE SEM SE VER E O DOCE QUE NÃO SE PODE COMER, MAS QUE SE DESEJA MUITO. OS NOVOS BOXSTER E CAYMAN GTS CAUSAM DEPENDÊNCIA EXTREMA E SERIAM UM PERIGO PARA A DIABETES CASO FOSSEM COMESTÍVEIS TEXTO ANDRÉ BETTENCOURT RODRIGUES EM PALMA DE MAIORCA

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odíamos começar pela potência avassaladora, o chassis equilibrado e a suspensão maravilhosamente calibrada, que nos permite, num segundo, desfrutar de uma condução dinâmica e confortável. Ou pela estética alegre, musculada e eficiente que personifica qualquer um destes modelos em utensílios de prazer que não se encontram disponíveis numa “sex-shop”, mas cuja premissa acaba por ser semelhante: estão destinados a entregar aos seus afortunados passageiros as mais belas emoções que podem constar num dicionário, embora estejamos na dúvida se estas devem levar com a bolinha vermelha que por vezes surge na nossa televisão ou simplesmente circular à vontade. No nosso entender, proibir esta dádiva terrena seria um crime imperdoável e

por aqui logo se vê que a transformação GTS elevou ainda mais o patamar de excelência do Boxster e do Cayman.

PURO CONTENTAMENTO Somos convictamente pecadores, mas, para abrir o apetite, escolhemos outra coisa. Sensorial, é certo, mas sem relação com os olhos ou com o toque. Sentados lá dentro, a primeira coisa que nos faz levitar, além do volante em alcântara e a posição de condução perfeita, é o som que nos inunda a alma de cada vez que carregamos no acelerador – um vício equiparável a uma dose de “schnapps” que é religiosamente ingerida às 22h de cada noite ou a uma partida de futebol, entre amigos, que assume caráter de compromisso marcado para as manhãs de sábado. Para nossa tristeza e contentamento, no lugar da garrafa e da bola está um seis cilindros repleto de vitaminas que devia ser censurado pela

O QUE PRECISA SABER CAYMAN GTS 340 CV 98 116€ 4,6 S 0-100 KM/H

BOXSTER GTS 330 CV 94 230€ 4,7 S 0-100 KM/H QUANDO?

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simples razão de causar dependência extrema. Mas como é daquela que não incomoda, exceptuando o momento em que contamos os euros da carteira para encher o depósito de gasolina, deixamonos convencer de que está longe de ser um problema. O regozijo explica-se pelo ruído ensurdecedor que faz com que queiramos ir cada vez mais depressa, pela nota que indica a quem se atravessa no nosso caminho que estamos aos comandos de um automóvel desejado por (quase) todos — pais, irmãos e avós; o vizinho do lado e conhecidos. Mas, sobretudo, porque temos a exata noção de estarmos a usufruir de uma irmandade que respeita todos os arquétipos de um verdadeiro desportivo: motor central, tração traseira e, claro, dois lugares, para que a experiência seja o mais egoísta possível. Há um certo narcisismo nestes Porsche, sem dúvida, mas haverá algum que JUNHO 2014 / WWW.TURBO.PT

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I G N I Ç Ã O CONTACTO

AO LADO DO WALTER

POR DENTRO DO ASSUNTO

Bicampeão do mundo de ralis e embaixador da Porsche há vários anos, o alemão Walter Röhrl é uma das personalidades mais credenciadas do mundo automóvel e por isso a pessoa certa para nos contar o potencial dos novos Boxster e Cayman GTS. Em circuito, admite que continua a preferir o 911 “pela potência extra”, mas revela que estes dois modelos “apresentam o compromisso ideal para uma utilização quotidiana com algumas incursões pela pista”. No Cayman equipado com caixa manual, o avô Walter mostrou uma compostura incrível sem nunca desligar a eletrónica, afirmando que o carro estava perfeito assim. A volta que demos ao seu lado foi uma lição de condução que dificilmente esqueceremos, até porque a retirada está para breve: “Já estou com 67 anos, por isso talvez pare no final deste ano”.

GEORG WAHL

RESPONSÁVEL PELO MOTOR DO BOXSTER E CAYMAN GTS

Georg Wahl explica que a sigla GTS é muito importante para a Porsche e traduz-se num carro que pode simultaneamente ser utilizado em estrada ou explorado num circuito. “Há uma filosofia especial nestes carros que se explica pelo seu aspeto, mas também por ser confortável e pelo conjunto de equipamento a bordo. Fizemos alterações no hardware, no sistema de injeção e no ciclo de admissão para conseguir os 15 CV extra, enquanto a diferença de binário entre o Boxster e Cayman é propositada e explica-se pelo diferente posicionamento dos dois modelos, o perfil de cliente ao qual se destinam. O Cayman tem mais para oferecer no que diz respeito à agilidade, flexibilidade e rigidez, por isso achámos que devia diferenciarse do Boxster, não só exteriormente, mas também nos níveis de potência.” O set-up da suspensão foi copiado da especificação “S” porque o peso de ambas as versões manteve-se inalterado, mas o som do motor boxer de 3.4 litros tornou-se ainda mais viciante: “Redesenhámos o sistema de escape e introduzimos um symphoser mecânico composto por uma membrana que se encontra inserida no tubo da injeção e que permite amplificar o som do motor”.

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não sofra da mesma síndrome? No sapatinho calharam-nos dois Boxster (um azul e um vermelho) e dois Cayman (um novamente vermelho e o outro cinza), e mesmo assim não estávamos plenamente satisfeitos. Passou quando, por mais que quiséssemos ter entrado nos carros amarelos que, com toda a certeza, iriam pavonear a nossa “souplesse”, mantivemos a consciência de que, em qualquer um deles, sairíamos sempre apaixonados com tudo o que as nossas mãos e pés seriam capazes de provocar nas máquinas, um sentimento que surgiu continuamente no final de cada viagem. Enquanto o motor arrefece, a dúvida “somos nós que somos muito bons ou é o carro que nos permite evidenciar todas as nossas qualidades de ases do volante?” mantém-se durante alguns segundos, mas, assim que a cabeça esfria, parece-nos óbvio que é o segundo a dar-nos uma lição de eficácia, por mais que nos custe admiti-lo. Comprovamo-lo em pista, sob a batuta de um certo Walter Röhrl, mas também fora dela, em estradas de montanha deliciosas — o cenário oportuno

ATRIBUTOS

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1 Pneus 235/35 à frente e 265/35 atrás em jantes de 20 polegadas do Carrera S são caraterísticas dos novos Boxster e Cayman GTS 2 A cobertura negra das óticas bi-xénon distingueno da versão S, tal como toda a secção dianteira, responsável pelo aumento do comprimento em 3 cm 3 A versão com caixa automática PDK de sete velocidades custa menos 600 euros do que a transmissão manual 4 Forma e função: a aerodinâmica está sempre refletida no desenho do carro 5 Os bancos em pele e alcântara são deliciosos

para construir pequenas cenas de perseguição à James Bond. Primeiro, de Boxster e capota aberta para espalhar charme e sentir o vento na cara. Depois, ao volante do carro fechado, de modo a concentrarmo-nos apenas em extrair o máximo desempenho desportivo. Da experiência fica uma certeza: ambos são absolutamente extraordinários no que se propõem fazer e é por isso que as diferenças entre si são praticamente imperceptíveis.

INJEÇÃO DE ADRENALINA 50 anos passaram desde que a Porsche estreou a sigla GTS (Gran Turismo Sport) no 904 Carrera. Nos últimos anos vimo-la ser recuperada nos Cayenne, Panamera e 911, e o sucesso dessa aposta incentivou a marca de Estugarda a replicar o conceito nos desportivos de acesso Boxster e Cayman. O objetivo é claro: radicalizálos no aspeto, na potência e na exclusividade, o que desde logo explica os 15 CV e os 10 Nm adicionais em relação às versões S dos dois modelos. Feitas as contas, o motor boxer de 3,4 litros passa a cuspir 330 CV no Boxster

GTS e 340 CV no Cayman GTS, com o binário máximo de 370 Nm e 380 Nm a ser atingido, no primeiro caso, entre as 4500 e as 5800 rpm e, no segundo, entre as 4750 e as 5800 rpm. Tal como a potência máxima, que, no Boxster, exprime-se às 6700 rpm e, no Cayman, às 7400 rpm, esta diferença explicase pela filosofia que se encontra por detrás de cada modelo, com o Boxster reservado para impressionar os amigos e passear com a namorada (daí a sua maior disponibilidade nos regimes mais baixos) e o Cayman pronto para ser explorado de uma forma desenfreadamente desportiva, em pista e fora dela. A suspensão PASM foi inteiramente copiada das variantes S, mas o rebaixamento de 10 mm que nestes era uma opção passa a ser de série no “upgrade” GTS. Associada ao pacote Sport Chrono, basta premir um botão para alterar os níveis de rigidez das molas e a resposta do acelerador e da caixa de velocidades PDK, caso opte pelas variantes automáticas – 600 euros mais acessíveis do que os modelos com transmissão manual graças aos reflexos

positivos nos consumos e nas emissões. A caixa manual é igualmente fantástica e a escolha ideal para os adeptos do estilo “old school”, mas numa utilização quotidiana a PDK acaba por sair favorecida, até porque permitenos brincar com as deliciosas patilhas que se encontram atrás do volante. O amortecimento da suspensão é irrepreensível, tal como o conforto das bacquets, o que significa que podemos passar longas horas a andar por estradas acidentadas sem necessidade de largar tudo em direção ao massagista. Cerca de 12 mil euros a mais por 15 CV de potência, 10 Nm de binário e uma frente redesenhada da qual faz parte um lábio dianteiro e luzes bi-xénon escurecidas parece um exagero quando nos lembramos das já de si aditivas séries S do Boxster e Cayman. Mas a verdade é que, após conduzi-las, não queremos outra coisa. Os braços, a testa e o nariz ficaram escaldados — e por aqui se percebe que a nossa preferência recaiu no Boxster —, mas as dores que se seguiram foram insuficientes para esquecer a injeção de adrenalina recebida. JUNHO 2014 / WWW.TURBO.PT

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