23
EMOÇÃO
ENTREVISTA WALTER RÖHRL
RÖHRL
1,93 M
GANHOU DOIS TÍTULOS MUNDIAIS DE RALIS E HÁ QUEM DIGA QUE É O MELHOR PILOTO QUE A MODALIDADE JÁ VIU, À FRENTE ATÉ DO GALARDOADO LOEB. ENQUANTO ESTEVE NO CAMPEONATO, O ALEMÃO BATEU BLOMQVIST, MOUTÒN, VATANEN, MIKKOLA,TOIVONEN E SALONEN. EXISTE MELHOR CARTA DE APRESENTAÇÃO DO QUE ESTA? ENTREVISTA ANDRÉ BETTENCOURT RODRIGUES ILUSTRAÇÕES RICARDO SANTOS
A
WORLD IN MY EYES - DEPECHE MODE
o vivo é ainda mais alto do que o seu 1,93m aparenta e acabou por ser bem mais simpático do que estávamos à espera. Não sabemos se foi das histórias da Michèle Mouton ou de outros pilotos que lidaram com ele, como o finlandês Ari Vatanen, mas sempre imaginámos que o alemão Walter Röhrl seria gelidamente distante, pouco dado à substância, monossilábico e sem espaço para humor ou sorrisos. Precisamente o contrário do que vimos no Autódromo do Estoril, durante a festa dos 50 anos do Porsche 911. O antigo bicampeão do mundo de ralis distribuiu autógrafos, acedeu sem qualquer tipo de hesitação aos múltiplos pedidos de fotografias que dessem aos fãs e a famílias inteiras a oportunidade de registarem o momento e até lidou bem com a ocasional conversa de circunstância, como aquelas que sempre acontecem durante a atribuição dos troféus aos vencedores. Durante todo o fim-de-semana de 8 e 9 de Junho, Walter nunca reclamou, apesar de estar longe da sua gata e de ter a casa a contas com uma inundação. A nossa entrevista é a prova disso. Ora veja. Turbo - Ser piloto foi o culminar de uma ambição de vida? Walter Röhrl - Quando eu era pequeno sonhava em ser piloto de ralis ou de corridas. E de repente tive a possibilidade única de o fazer. Sabes, eu não tinha dinheiro, não tinha nada. Daí dizer que o que me aconteceu foi algo absolutamente fantástico. Tive a grande, grande sorte de ter encontrado um amigo que puxou por mim, senão nunca o teria feito. Ele dizia: “Walter, tu tens de ser um piloto
132
WWW.TURBO.PT / AGOSTO 2013
de corridas. Eu nunca vi ninguém com um sensação de controlo tão grande sobre um carro”. Foi assim tão fácil? Nada disso. Eu respondia: “Ok, mas quem é que vai pagar por tudo isso?”, até que ele me pergunta se eu guiaria um carro organizado por ele. “Sim, se não me custar nada”, respondi. Em três anos tínhamos feito cinco provas e em cada uma delas ele escrevia para os jornais dizendo que eu era o melhor piloto de ralis do mundo. Foi então que, de repente, após essas cinco provas, recebi um telegrama da Ford a proporem-me um contrato. O que sentiu quando se sentou pela primeira vez num carro de ralis? Pareceu-lhe natural? Sim, porque ninguém me disse o que se estava a passar. Lembro-me de estar sentado num Ford Capri e de chegarmos em primeiro lugar nos troços, ainda sem eu saber em que lugar ia, e de ter dito ao meu co-piloto: “Porque é que eu vou tão devagar?” Eu próprio não tinha noção de quão depressa ia! Fiquei tão surpreendido, depois de pensar que todos iam passar por mim como uma bala. Estava a fazê-lo pela primeira vez, sem saber bem ao que ia, mas parecia que tinha um talento para este desporto. Porque optou por esta modalidade? Porque desde novo percebi que, se estivermos num circuito sem um bom carro, não somos ninguém. Nos ralis, mesmo que não tivesse o melhor carro à minha disposição, tinha a certeza de que podia mostrar o meu valor à chuva, com gelo, no meio do nevoeiro, com o piso frio ou na descida de um troço. Mais tarde corri também em circuitos, mas nunca recuperei a diversão daqueles tempos. Houve algum carro que tenha gostado em particular? Penso que o nível de topo da condução estava nos carros de tração traseira, porque exige que tenhamos a sensação da potência que é utilizável. Não é apenas deixar o carro escorregar ou pô-lo a andar de lado. E essa não é uma tarefa
AGOSTO 2013 / WWW.TURBO.PT
133