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CR preocupado com sustentabilidade das casas
Desde o século XIV, as repúblicas são parte integrante da comunidade conimbricense. Consideradas património histórico e cultural da cidade, existem agora 25 repúblicas ativas, das mais de cem, desde o século XIX. Os repúblicos, moradores das casas, têm vindo a reivindicar melhores condições de alojamento: procuram autonomia dos senhorios e também fazer frente às adversidades que encontram, tanto em questões logísticas, financeiras, ou burocráticas.
A burocracia apresentada aos estudantes no momento de pedido de apoios à Câmara Municipal de Coimbra (CMC) compromete a sua capacidade de negociação. “As casas são feitas pelos repúblicos e muitos não sabem como proceder”, confessa Ricardo Gomes, repúblico dos Fantasmas. Acrescenta ainda que, apesar de os residentes terem “prioridade na compra dos imóveis”, o Novo Regime de Arrendamento Urbano causa o “agravamento da situação”. O estudante expõe a necessidade das repúblicas adquirirem as casas, sob pena de serem despejados. Contudo, “os preços são exorbitantes”, lamenta
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O Conselho das Repúblicas (CR) deu o seu parecer sobre a situação da desejada compra dos imóveis da Real República dos Fantasmas e da Real República Rápo-táxo, por exemplo. Ricardo Gomes revela “uma intenção geral dos senhorios de vender [os imóveis] a alojamentos locais”.
O CR apresentou em Assembleia Magna uma carta aberta que, de acordo com Pedro Costa, representante dos Paços da República Baco, é a
“demonstração da atividade das repúblicas e da sua resiliência face às adversidades”. Sobretudo, tencionam mostrar aos outros estudantes presentes que “há consciência dos problemas por parte das repúblicas, que os estão a manifestar”. Quando questionado sobre o documento, Pedro Costa sublinha a necessidade de que “a mensagem seja partilhada e ouvida”, mas “da escuta à ação ainda vai um bocado”. “Esses comunicados já foram feitos antes em vários momentos”, garante. No entanto, segundo o mesmo, a resposta parece ser a mesma com o passar dos anos: “Há tendência para ignorar as repúblicas, porque não representam uma fonte óbvia de lucro”, declara. Esta é uma realidade contra a qual as casas tentam agir, sendo que “neste tempo de crise, surgem como uma alternativa face à insuficiência de alojamento para os estudantes mais carenciados”, reitera. Além disso, o estudante acredita que as repúblicas “fazem parte da identidade da cidade e da Universidade de Coimbra (UC)”. Por isso, considera que a atual situação de inflação económica é “incomportável” e que as casas estão preparadas para agir.
A carta é direcionada também aos Serviços de Ação Social da UC (SASUC), que fazem a distribuição de bens alimentares às repúblicas, mas que têm demonstrado “alguma deficiência de serviço”, menciona Ana Pereira, residente da República dos Galifões. “A distribuição de alimentos, que era semanal, agora é quinzenal devido à ausência de motoristas e carrinhas frigoríficas por parte dos SASUC", explica a portavoz. Refere ainda a “falta de variedade, o mau acondicionamento dos alimentos e os produtos com a validade a caducar”. Ana Pereira também aponta para o facto de o plafom dos serviços continuar “a ser insuficiente” e que “não se sabe se vai aumentar, devido à falta de respostas por parte dos SASUC”.
De acordo com a representante dos Galifões, também a reitoria da UC tarda em responder, “mesmo àquelas das quais é proprietária”, como a República das Marias do Loureiro e os Paços da República Baco. Nestas duas casas são necessárias obras, uma vez que “as condições muitas vezes chegam a ser insalubres”, expõe.
O porta-voz dos Fantasmas revela que a CMC “considera as repúblicas como uma entidade de interesse histórico, cultural e social, mas não age como tal”. Este reconhecimento não é sentido pelos moradores, visto que o município “apresenta desculpas de enquadramento legal, que fazem sentido, mas não são uma resposta concreta”. Acrescenta que a instituição camarária não dá apoio monetário, ainda que pudesse conceder “isenção de imposto de selo na transmissão de imóveis às repúblicas”, assim como a “isenção de IMI e AIMI”, após a sua obtenção.
Os quatro porta-vozes do CR terminam por informar que ainda não existe uma data para a compra oficial dos imóveis que se dispõem a fazê-lo. Não obstante, há “esperança de que seja ainda durante o segundo semestre”. Conclui ao relembrar que “é importante manter uma comunicação ativa com todas as partes”.