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CARTAS À DIRETORA
'Xora Diretora
Na segunda metade de fevereiro, a Universidade, por meio de uma das suas página no instagram - Universidade de Coimbra BRASIL - publicitou a entrada de brasileiros e a aceitação do ENEM como processo seletivo. Dois de meus amigos, Isabel e Mateus, bem como outros brasileiros, fizeram uso desse espaço para dar sua opinião acerca do tratamento discriminado que recebemos da instituição com as propinas internacionais. Foi minha surpresa, depois, receber a notícia que a Universidade não apenas apagou os comentários como bloqueou a conta do Mateus para que o mesmo não quarta feira, 1 de março de 2023 repetisse os comentários: "E a mensalidade de 700 euros para brasileiros, 10 vezes mais que a de um nacional português", "Uma pena terem apagado meu comentário sobre as propinas infladas para brasileiros. Se não querem que eu exponha um fato, mudem a posição de vocês" e finalmente "Quais os planos de igualar a propina entre os nacionais brasileiros, que pagam 10 vezes mais que os portugueses?".
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É certo que as propinas não condizem mais com a condição económica brasileira, equivalendo a aproximadamente 3 vezes o salário mínimo. Mas a questão foi muito além disso quando a Universidade se mostrou disposta a censurar estudantes descontentes com a situação. Uma instituição de ensino superior que se preza perdeu qualquer moralidade e eticidade necessária à discussão académica ao se diminuir à censura covarde, e fica agora em questão quais são as reais motivações que levam essa Universidade à frente. quarta feira, 1 de março de 2023
Claramente, a de um ensino superior de qualidade, de um espaço aberto ao aprendizado e da luta pela liberdade não o são. Uma instituição que lutou contra a censura e contra a ditadura é agora a perpetuadora desses mesmos atos.
‘Xôra Diretora, Conversando com amigos sobre as propinas a que nós, estudantes brasileiros, estamos sujeitos na Universidade de Coimbra (UC), um deles me mostrou um email que recebeu do reitor, à época João Gabriel Silva, onde dizia que o estado português era incapaz de financiar o estudante internacional, e que a partir dali estávamos sujeitos ao pagamento integral de nossos custos, que foram estão estimados em 700 euros por mês. Entretanto, em acordos firmados bilateralmente entre o Brasil e Portugal, os brasileiros estão sujeitos a um estatuto de igualdade quando residentes em solo português. Ainda assim, a Universidade do Porto, de acordo com o regulamento da CPLP, reduz suas propinas a estudantes provenientes desses países em até 45 por cento, com a propina total regulada por faculdade. De volta ao email, a principal razão citada pelo antigo reitor é de que os brasileiros que vêm a Portugal apenas para tirar o curso devem pagar o mesmo por inteiro. Logo, se por cá decidimos residir depois do curso, imagino que a Universidade se prontifique em devolver-nos o montante pago com juros. A cobrança a brasileiros de uma propina que vale mais que dois salários mínimos brasileiros, e que é quase igual ao salário mínimo português atual, é imoral e de um descaso imenso com a história que a Universidade de Coimbra diz ter, em suas campanhas publicitárias, com o Brasil. Principalmente quando se trata de sua propaganda em terras brasileiras como uma Universidade gratuita, narrativa essa sustentada inclusive por famosos influenciadores da educação, como a Professora de História Débora Aladim que, através do patrocínio da UC, fez divulgações em suas redes sociais como se a faculdade fosse para nós, brasileiros, isenta de custos. Uma clara tentativa de emboscar alunos brasileiros para o financiamento da instituição. Instituição essa que formou, por séculos, pensadores lusófonos dos dois lados do Atlântico, e hoje se mostra incapaz de regular as próprias finanças, sendo dependente de remessas de dinheiro enviadas do Brasil. É evidente essa dependência quando a própria Universidade nutre uma página de instagram separada para estudantes brasileiros, onde bandeiras do Brasil são agitadas no Paço, mas quando chegamos aqui vemos realmente o que somos para essa instituição. O motivo de não existir uma página direcionada a nenhum outro país falante de língua portuguesa é que somos nós, os brasileiros, os sacos de dinheiro para essa gente sem escrúpulos. Relatos de xenofobia por parte dos próprios colegas e professores, de assédio moral e sexual, de maus tratos, de não aceitarem nossa maneira de falar ou escrever em exames são comuns dia após dia nos corredores dessa Universidade, que sequer é capaz de tratar-nos como seres humanos iguais. Não há progresso sem mudança, e a Universidade se mostra incapaz de angariar fundos de financiamento de pesquisa por empresas, precisando ainda de nossas propinas, sendo a única que a cobra integralmente a estudantes brasileiros. Somos nós que mantemos essa instituição em pé, e somos nós que atravessamos o Atlântico em busca do nosso sonho. Somos nós os Lusíadas.
Anónimo