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Estudantes em situação de emergência por razões humanitárias: uma realidade diferente
Iniciativas de integração e apoio pela UC e SNS consideradas insuficientes. Reda Chihab destaca esforço de professores na integração linguística.
- POR ANDREÍNA DE FREITAS E SOFIA MOREIRA -
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Acrise migratória na Europa é reconhecida como uma situação humanitária grave que, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), atingiu níveis críticos em 2015. Com oaumento de migrantes a tentar chegar à Europa, deu-se o maior movimento de pessoas em busca de proteção internacional desde a Segunda Guerra Mundial. O vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, apresenta as guerras, conflitos internos, fome e perseguição religiosa como razões para a chegada destas pessoas vindas da África, Médio Oriente e da Europa de Leste.
Foram enviados 1440 pedidos de asilo a Portugal no ano de 2021, a maioria dos quais, segundo o ACNUR, vieram do Afeganistão, de Marrocos e da Índia. No entanto, Portugal foi um dos países que menos recebeu refugiados da União Europeia, com uma taxa de recusa próxima aos 40 por cento, de acordo com o Relatório Estatístico do Asilo 2022, elaborado pelo Observatório das Migrações.
O mais recente conflito bélico, que provocou a deslocação de milhares de pessoas, foi a guerra Rússia-Ucrânia, que se iniciou em fevereiro de 2022. Desde então, estima-se que haja 14 milhões de nacionais ucranianos deslocados. Como resultado, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) relata que Portugal outorgou cerca de 53 mil proteções temporárias a estes cidadãos. Informa ainda que os pedidos de proteção de menores representam cerca de 25 por cento do total das requisições.
Esta realidade tem também atingido a Universidade de Coimbra (UC), cujo número de estudantes em situação de emergência por razões humanitárias aumentou. Esta crise intensificou-se “sobretudo com os conflitos na Síria e na Ucrânia”, disse ao Jornal A CABRA Dan Klajnberg, aluno de mestrado de Relações Internacionais na Faculdade de Economia da UC (FEUC) e responsável pelo pelouro de Relações Internacionais da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC).
Segundo o estudante da FEUC, a UC abriga 68 estudantes refugiados, dos quais 17 são nigerianos, dez são ucranianos, outros dez são marroquinos, oito são paquistaneses, outros oito são sírios e um é venezuelano. Reda Chihab, aluno do Departamento de Arquitetura da UC (DARQ), está na cidade há um semestre, proveniente de Marrocos. O estudante demonstrou satisfação em relação ao seu processo de adaptação ao ambiente universitário português. Por outro lado, Dan Klajnberg revelou que o sentimento não é partilhado por todos os alunos na mesma situação.
Apesar de reconhecer como “notórios” os esforços da UC na integração desta comunidade estudantil, Dan Klajnberg comentou que “ainda são substanciais as dificuldades dos refugiados na UC”. Aponta também que “o maior obstáculo que eles enfrentam é a língua”, e Reda Chihab concordou. Segundo o estudante marroquino, o idioma tem sido o maior obstáculo no seu processo de adaptação, pois nem todos os seus colegas sabem exprimir-se em inglês.
Como forma de facilitar a inclusão destes estudantes, o membro da DG/AAC pensou na realização de uma atividade que consistia “numa visita guiada ao edifício-sede da AAC, de forma a dar a conhecer as secções culturais e a conviver com outros alunos”. A atividade iria servir para “criar uma rede de apoio mútuo” e “expor a AAC como um espaço que conta com diferentes apoios, pedagógicos ou sociais”, explicou. No entanto, a resposta das secções culturais foi escassa "para a importância e a complexidade do projeto”, destacou o estudante da FEUC.
Em relação a combater a xenofobia que estes estudantes podem enfrentar na UC, Dan Klajnberg considerou tratar-se de “uma situação complicada”, mas julgou que o primeiro passo é criar atividades “onde possa haver uma partilha de experiências”. Por outro lado, Reda Chihab mencionou não ter passado por nenhuma situação xenófoba desde que chegou à faculdade. Realçou ainda a amabilidade dos seus professores, que tentam diminuir a barreira linguística.
Segundo o estudante do DARQ, a responsabilidade de prestar apoio psicológico aos discentes refugiados é do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que, a partir de 2020, começou a disponibilizar linhas de apoio psicológico em inglês. Ainda assim, estes serviços do SNS e da UC “estão bastante lotados", destacou o membro da DG/AAC, o que significa que “vários estudantes saem prejudicados pela falta de disponibilidade”.
Por último, Dan Klajnberg fez um pedido de aproximação a todos os membros da comunidade académica aos estudantes refugiados, pois “passam por uma situação particular e precisam de apoio”. O responsável reforçou que estes “são ainda marginalizados” e que “um simples convite ou um contato fazem uma diferença absurda”.