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Rodrigues e Mota: o renascer das cordas de Paredes
Peças inéditas de Artur Paredes gravadas por trio de guitarristas. Contacto com familiares e amigos do músico permitiu “acesso a um outro lado do artista, muito mais pessoal”.
- POR BRUNA PASSAS - COM MARÍLIA LEMOS E ANA FILIPA PAZ -
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Empregado bancário e músico nos tempos livres, Artur Paredes tornou-se um dos principais nomes de referência da guitarra de Coimbra. Fez da música popular e da canção coimbrã aliados, tendo conseguido revolucionar a arte da qual já era mestre. Criou a sua própria técnica de mão direita, que manteve para si, até mesmo quando tocava em público. Hoje, as “variações” de Artur Paredes fazem-se ouvir pelas mãos de Tiago Rodrigues, acompanhado por Simão Mota, na guitarra, e Vasco Rodrigues, na viola.
Tiago Rodrigues e Simão Mota contam que a vontade de fazer um estudo dos temas de Paredes surgiu quando Jorge Gomes, professor de guitarra na Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra, e Jorge Serra, colecionador do trabalho do músico, lhes mostraram “gravações inéditas de espetáculos ao vivo e programas de rádio”. Tiago ficou responsável por decifrar as peças, que interpreta como “te - souros”. O guitarrista caracteriza Artur Paredes como perfecionista: “chegou a tirar o seu trabalho do mercado por sentir que não estava bom o suficiente”, relata.
A sonoridade específica do pai da guitarra de Coimbra deve-se a uma técnica própria: “o dedilhar da guitarra portuguesa toca-se com o indicador para dentro e fora e o polegar para dentro”. Através de gravações e algumas fotografias antigas, “percebeu-se que Artur Paredes usa o dedo anelar e às vezes o médio”, explica Simão Mota. Foi necessária uma escuta “atenta e demorada” das gravações, por parte de Tiago Rodrigues, cuja qualidade estava comprometida pela tecnologia rudimentar da altura. Este trabalho minucioso acabava por “ser recompensado pela descoberta”, ao mesmo tempo que validava aquilo que o membro do grupo tinha escrito, confessa.
Segundo Simão Mota, o grupo regista a importância fundamental de algumas pessoas para a continuidade e sucesso do projeto: “tivemos a sorte de ser acarinhados e quase apadrinhados” durante todo o processo. Uma destas pessoas é a compositora Luísa Amaro, que trabalhou com Carlos Paredes, herdeiro do legado de Artur Paredes. A também guitarrista proporcionou ao trio “uma viagem fantástica”, ao partilhar um espólio de fotos da família Paredes, relata Simão. Ao terem acesso a retratos privados, o trio conseguiu retroceder no tempo e ter “acesso a um outro lado de Artur Paredes, muito mais pessoal”, confidencia o membro do grupo. Para Tiago, Simão e Vasco, a importância deste projeto passa por divulgar as peças nunca antes ouvidas, com o maior número de pessoas possível. O trio estreou-se no Convento São Francisco e fez outra atuação no Museu Nacional da Música. Neste momento, os três músicos estão a gravar um disco e a preparar uma apresentação no Palácio de Monserrate em abril.
CERAMICAR-TE: novo espaço para criar
No dia 24 de fevereiro o CERAMICARTE abriu as portas à cidade. O atelier surge com o objetivo de promover um maior contacto dos habitantes locais com a cerâmica. O espaço está localizado no Lufapo Hub, um centro que impulsiona a aceleração de projetos artísticos aliados a indústrias criativas.
Segundo a proprietária do CERAMICAR-TE, Juliana Marcondes, a inauguração foi um sucesso e o público “gostou bastante do espaço e do que viu”. A ceramista refere que, nesse dia, foram deixados pedaços de barro espalhados pelo local e as pessoas passaram a maior parte do tempo a moldá-los. Juntaram-se a este buffet artístico a música e a poesia, algo que a proprietária anseia repetir.
A paixão de Juliana Marcondes pela cerâmica não é algo recente. Começou a frequentar aulas num atelier há sete anos, no Brasil, pelo que tinha de conciliar o gosto pela arte de trabalhar o barro com a sua vida profissional. Só quando chegou a Portugal lhe foi possível dedicar-se apenas à cerâmica e fazer um curso na área. Terminada a formação, a artista e uma colega decidiram iniciar o seu próprio projeto. Quando a iniciativa arrancou, abrir um atelier no centro da cidade não era uma opção, por motivos financeiros. Além disso, a necessidade de adquirir materiais - como o forno e a roda de oleiro - acabou por pesar na decisão de descentralizar o espaço. No entanto, Juliana considera a existência de um espaço de contacto com a cerâmica como “algo revolucionário”.
A ceramista enfatiza “a necessidade de as pessoas virem experimentar” o processo de trabalhar o barro até à formação das peças. Para tal, o atelier dinamiza oficinas de cerâmica em três modalidades: a “Ceramicar”, que proporciona uma experiência pontual; a “Ceramicando”, de maior duração e com material incluído; e a “Ceramicando na Roda”, a longo prazo, para iniciantes que queiram trabalhar com a roda de oleiro. Todas estas atividades acarretam um custo associado.
Juliana refere ainda que, apesar da sua “forte trajetória” na cultura portuguesa, a arte de trabalhar o barro “não está na rua” e as pessoas não a experimentam, pelo que a missão do CERAMICAR-TE é contrariar esse rumo. “A cerâmica devia ser mais valorizada enquanto arte e não apenas como algo utilitário”, declara. O atelier pretende, assim, aproximar as pessoas à produção de cerâmica e adota como lema “colocar a mão na massa e experimentar”. No futuro, Juliana Marcondes ambiciona tornar o CERAMICAR-TE num “centro multicultural, que possa abarcar diversos tipos de arte, para que as pessoas possam, não só ver, mas também fazer”.