3 minute read
Quando for grande quero ser Engenheira
- POR EDUARDO NEVES E SOFIA RAMOS -
Onúmero de empregados na área da tecnologia a tempo inteiro chegou aos 62 milhões no início deste ano, segundo a plataforma Statista. De acordo com a mesma fonte, profissionais no campo são “dos mais requisitados a nível mundial”. O European Institute for Gender Equality afirma que há ainda uma “proporção baixa" de mulheres nas áreas STEM - ‘Science Technology Engineering and Mathematics’.
Advertisement
Segundo dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), as mulheres lideraram na finalização de ciclos de estudo no Ensino Superior em 2020. A maior parte destas estudantes forma-se, na sua generalidade, nas áreas de Direito e da Saúde. No gráfico 1 pode-se reparar a relação entre estudantes do género feminino e todos os inscritos em cursos do Ensino Superior. As áreas representadas são referentes aos dois campos mais escolhidos pelas mulheres universitárias e a Tecnologia e Engenharia. Estes últimos são os menos feminizados de entre as dez principais categorias, com cerca de 17 e 28 por cento de taxa de feminização, de forma respectiva.
Ana Brito, coordenadora de projetos no Instituto Pedro Nunes, é formada em Engenharia Biomédica, o que afirma ser uma “engenharia diferente”. Admite que, durante o seu percurso, se sentiu “privilegiada”, em parte devido à área de formação, mas que noutras engenharias pode haver algum estigma na contratação de mulheres. Remata que o seu percurso “não reflete o que vejo noutras mulheres no meio”.
Mariana Cação, antiga estudante de engenharia informática no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC), partilha que durante o seu estágio final foi convidada a ficar na empresa, mesmo sem ter terminado o curso. “Não é muito comum haver mulheres em tecnologia” e admite que, quando entrou, tinha apenas duas colegas mulheres da área. Apesar da discrepância de números, garante que apenas sentiu diferenças significativas durante a licenciatura.
“Não é bem discriminação por saber menos como mulher, mas sermos sexualizadas”, a antiga estudante partilha. Afirma que “às vezes ouvia coisas bastante desagradáveis” e confessa que isto afetou as suas interações sociais dentro do curso. Mariana Cação testemunha que mesmo professores demonstravam atitudes discriminatórias, como “apenas chamar raparigas ao quadro” e subvalorizar a participação das mesmas em trabalhos de grupo com membros masculinos.
A coordenadora Ana Brito escolheu Coimbra e o IPN como seu local de trabalho, onde atua desde julho do ano passado. O motivo foi por gosto, apesar de considerar a cidade “difícil”, já que “não tem muitas oportunidades”. Destaca, por outro lado, o seu local de trabalho como uma “gema” no panorama da cidade, em especial na área da tecnologia. Este instituto foi casa de uma das empresas a expandir para fora de Portugal, a Critical Software, ainda com sede no concelho. Coimbra foi escolhida também como sede de outras empresas na área, como a The Loop Co., onde Maria Cação se encontra empregada, e a Bettertech, com edifícios na Praça do Comércio.
Em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) introduziu a comemoração do Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, celebrado a 11 de fevereiro. Esta data foi criada como forma de promover o acesso destes grupos à educação, formação e investigação científica. Segundo a sua plataforma online, a igualdade de género sempre foi um dos objetivos principais para a ONU, em parte para alcançar os objetivos da 2030 Agenda for Sustainable Development.
Em relação às mulheres já empregadas em Ciência e Tecnologia, Portugal tem uma proporção maior face aos homens. Segundo a Eurostat, a região lusitana conta com cerca de 53 por cento de feminização, face a 52 por cento médio na União Europeia no ano de 2021. A entidade estatística confirmou também que, no mesmo ano, mais de metade dos cientistas entre as idades de 25 a 34 eram mulheres.
“Há muito para mudar, um homem ou uma mulher são iguais, não é por poder ter filhos que se tem menos valor ou se é menos produtiva”, enfatiza Mariana Cação. Conta como sempre foi incentivada a seguir a área da saúde e, como inicialmente os pais ficaram “muito chocados” e questionaram o porquê da decisão. A profissional acredita que “oferecer um carrinho a um menino e a uma menina uma boneca” influencia o percurso dos mesmos. “Em casa ninguém me perguntou se queria ser engenheira informática”, frisa.
Ana Brito defende a existência do Dia Internacional das Mulheres e afirma que esta é uma data de “afirmação”, não de “divertimento”. “Não se deve olhar para mulheres ou homens, na engenharia tem de se de olhar para pessoas”, remata a coordenadora.