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O ambientalismo está na Moda

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CRÓNICAS DO TRODA

CRÓNICAS DO TRODA

- POR LUA EVA BLUE - GRUPO ECOLÓGICO DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

“Roupa de Brancos Mortos” é uma expressão comum no Gana para roupa em segunda mão. A ideia é: para deixar tanta quantidade alguém teria de ter morrido. Vendedores locais compram grandes pacotes importados, cada um com centenas de peças que só conhecem quando os abrem e, como tal, não há previsão de qualidade ou possível lucro. São “restos” de outros países, entre roupa doada ou em ‘dead stock’. No mercado Kantamanto, 40 por cento destes produtos não é mais aproveitado e, por semana, centenas de toneladas de têxteis acabam em aterros que rodeiam a cidade de Accra, lícitos ou ilícitos. Estes dados vêm do projeto “Dead White Man’s Clothes”, da The Or Foundation, que pode ser um ponto de partida para se ler sobre o tema. Este desperdício não se deve apenas à quantidade de roupa produzida em excesso e exportada, mas também à sua qualidade. Os comerciantes afirmam que a qualidade de roupa enviada para o Gana tem vindo a diminuir ao longo dos anos, o que também leva a que não seja comprada pelos locais. É o chama- do “waste colonialism”: o fardo do que ‘passou de moda’ ou já está gasto é passado para comunidades mais pobres como se fosse caridade. O Gana não consegue gerir estas quantidades: o metano dentro de toneladas de montes de roupa já gerou fortes fogos e é fácil pesquisar imagens das “praias de roupa” de Accra.

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Cada vez mais se fala em segunda mão, ‘upcycling’, mercados de trocas e quaisquer iniciativas de promoção da economia circular no mundo da moda. Mas quando vejo uma loja que vende roupa em segunda mão que se apresenta como sustentável, e depois pede que a roupa “usada” não tenha “marcas de uso” (ênfase na contradição), ou esteja em ótimo estado, sem manchas, é caso para perguntar: Isto não promove o problema do destralhe dos “restos”? A questão é que não se vende o que não se compra - se calhar a sociedade deve mudar para as lojas conseguirem funcionar de forma verdadeiramente circular. Sustentabilidade, em vez de servir apenas o que ainda é novo, não seria a aceitação das manchas permanentes que mos -

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