Edição 314 - Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

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16 DE MAIO DE 2023

ANO XXXIII Nº314 GRATUITO PERIÓDICO

DAS FITAS AOS FINOS

- PÁG. 2 -4ENSINO - PÁG. 5-6CULTURA

Resposta à entrevista ao reitor: Repúblicos apontam falta de resposta dos SASUC, bem como inacessibilidade da reitoria, entre outros

Academia do Fado, da Canção e da Guitarra de Coimbra é uma “casa comum” das várias gerações ligadas a esta arte.

- PÁG. 7-9DESPORTO

Presidente da Académica - OAF faz balanço da época findada e explicita várias das grandes decisões tomadas.

- PÁG. 10-11CIÊNCIA

Queima das Fitas: a ciência por trás dos finos. Especialistas revelam preocupação com consumo excessivo de álcool jovem

- PÁG. 12-13 -

CIDADE

Cidade reage aos condicionamentos durante os concertos dos Coldplay. Entidades de segurança deixam conselhos à população.

- PÁG. 12-13REPORTAGEM

Coimbra mostra-se incapaz de atender as necessidades das pessoas trans. Consciência social atrás de evolução legislativa.

Arquivo Montagem por Sofia Ramos

ARE prepara-se para mais um ano de trabalho

Durante a quarta Assembleia Magna (AM) presidida por Gonçalo Pardal entrou em votação a prorrogação dos trabalhos da Assembleia de Revisão dos Estatutos (ARE) da Associação Académica de Coimbra (AAC). O presidente da ARE, Daniel Tadeu, explicitou que tal possibilidade existe, de acordo com os artigos 231º/8 dos Estatutos da AAC ainda em vigor, bem como do artigo 3º do regimento da ARE. O dirigente argumentou ainda que a prorrogação permitiria “continuar com os trabalhos de forma que a AAC possa dispor, no término dos mesmos, de estatutos que se orgulhem e que façam crescer a Académica”.

Esta não seria uma prorrogação inédita no mandato de uma ARE. O presidente relembra que, na ARE ordinária de 2015-2017, houve também um pedido de concessão da prorrogação do mandato, e que o mesmo foi aceite em AM. Tendo tomado posse a 18 de julho do ano passado, Daniel Tadeu declara que os trabalhos iniciaram com a discussão do regimento interno, “um documento robusto que agora tem sido fundamental para o bom funcionamento dos plenários”. De setembro a fevereiro ocorreu o período de trabalhos das dez comissões especializadas da ARE, que, segundo o presidente, surgiram pela primeira vez nesta revisão dos estatutos, ainda que já estivessem previstas em mandatos anteriores.

Atualmente, a ARE reúne, semanalmente, às segundas-feiras, pelas 21 horas, e encontrase em vias de discutir os relatórios elaborados pelas comissões. Compõem as dez comissões da ARE: Geral; Órgãos Deliberativos; DireçãoGeral; Órgãos de Fiscalização e Investigação; Estruturas Intermédias e de Especialização; Atos Eleitorais; Queima das Fitas; Digitalização e Informatização da AAC; RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados); e Relação com Entidades Externas.

A auscultação à comunidade académica, segundo o presidente, gerou mais de cem propostas. Além disso, foram realizados dois fóruns de participação pública para discutir os diversos temas sobre os quais a revisão se debruça. A secretária da Assembleia, Mariana Gil Passos, apresentou, também durante a última AM, o ponto de situação dos trabalhos realizados: da identidade visual da AAC; ao reconhecimento do “Hymno Académico” como um hino oficial da Academia (que engloba tanto a Universidade de Coimbra quanto a AAC); a condição de associado e dirigente; a transparência e publicação

das atas das reuniões plenárias e de direção das secções; até à criação de canais digitais de comunicação, entre outros.

Demissões dos membros da ARE

Esta é, entretanto, uma ARE que tem sido marcada por constantes demissões dos seus membros. Ainda assim, a Assembleia de Revisão dos Estatutos da AAC encontra-se com todas as suas cadeiras ocupadas, sendo 22 membros eleitos e onze indigitados pelos órgãos da Casa (órgãos centrais, secções culturais e desportivas e núcleos de estudantes). Daniel Tadeu comenta que, apesar de não ser um órgão executivo da AAC, a Assembleia “requer muito tempo e dedicação”, e que não vê nesses pedidos de de -

missão “incompetência”, mas sim “planos de vida que se alteraram”.

Por sua vez, a visão de Armando Remondes, membro da ARE, é de que as demissões são um “incómodo”, mas não tiveram um grande impacto no trabalho realizado. Justifica que essas demissões “têm vindo de pessoas que não têm muito bem a noção do que é a Académica, e outras que têm, mas não conseguem dedicar tanto do seu tempo quanto queriam”. Continua que “a entrada e saída de membros causa uma certa instabilidade, mas, dentro disso, foi possível desenvolver uma série de atividades, e isso fala muito do trabalho desenvolvido”.

Para Paulo Nogueira Ramos, que apresen-

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Daniel Tadeu prevê que trabalhos fiquem concluídos dentro do novo prazo. ARE já conta com 33 demissões que incluem membros eleitos e indigitados.
Simão Moura

tou a sua demissão no dia 22 de março, a ARE acabou por se tornar um “local de muita pressão psicológica”. Apontou as “constantes prorrogações das reuniões, assim como o facto de, muitas vezes, o debate prolongar-se até às duas da madrugada, o que dificulta um trabalho de decisão bem feito”. Além disso, o ex-membro não via nos seus pares “vontade de fazer o dever de casa”, e que, “muitas vezes, iam às reuniões sem ter lido do que se tratava a ação do dia”.

Já Catarina Wang apresentou a sua carta de demissão no dia 7 de março, e explica que os horários das reuniões “não conjugavam com horários de estudante finalista”. Expõe que os plenários “com pouco tempo para concluir as discussões, obrigavam à marcação de reuniões extraordinárias para acabar os tópicos”, o que fazia com que, por vezes, houvesse duas reuniões semanais, “com durações até 4 horas”. Adiciona que outras pessoas, que também pediram demissão, passaram pela mesma dificuldade devido à elevada carga de trabalhos. Com a demissão de Catarina Wang, a ARE soma agora um total de 33 demissões.

Aprovação do pedido de prorrogação do mandato

A votação na AM terminou com oito abstenções, 18 votos contra e 188 a favor, de maneira que se verifica a prorrogação do mandato da ARE. Mariana Gil Passos agradeceu aos votantes pelo resultado, que também foi comentado por Daniel Tadeu, que o justificou como sendo fonte de um “trabalho completamente transparente”. A seu ver, “com esses números, é possível perceber que as pessoas confiam no trabalho desenvolvido”.

Armando Remondes também estava à espera de um resultado positivo, mas não se surpreendeu com a oposição à prorrogação. Para ele, a ARE iniciou as discussões sobre os estatutos propriamente ditos há dois meses, mas isso “não desvaloriza o trabalho dos fóruns e das discussões públicas”, que “aproximaram o

contacto com a comunidade académica”, mas admite que “demoram tempo”. Com a calendarização dos trabalhos, considera que “com o esquema bem definido e prazos estabelecidos, os membros da ARE estão dispostos a, caso necessário, realizar plenários extraordinários para o cumprimento dos trabalhos”.

Já para o presidente, o primeiro passo a ser tomado agora, com a aprovação da prorrogação, é continuar a discussão sobre as condições de associado e dirigente associativo, seguindo depois para o debate sobre o RGPD. A própria calendarização, acrescenta o dirigente, foi publicada nas redes sociais da ARE, mas, caso um tema “precise de maior atenção”, vai ser despendido “mais tempo para a discussão do mesmo”.

Funcionamento da Assembleia

Por sua vez, Catarina Wang crê que, como só foi estabelecido um calendário em fevereiro, a ARE “não se encontra com os trabalhos em atraso”. “Por ser uma Assembleia nova”, continua, “não havia bem a noção de tempo, o trabalho das comissões exigiu muito e muita gente questiona se foi ou não justificável”. Confessa que ainda tem “dúvidas quanto ao cumprimento dos trabalhos nesse novo ano”, pois é um documento muito extenso”, e o funcionamento dos plenários “não é o melhor, com discussões que se avançam por muito tempo em temas mínimos”. Não vê, no entanto, uma mudança possível no funcionamento dos plenários, pois uma restrição de intervenções seria “pouco produtiva”, e, numa Assembleia com “membros de diversas listas e estruturas, existe uma disparidade em termos de visões, que se refletem em discussões mais acesas e prolongadas”. Sobre a questão de calendarização e estabelecimento de prazos, Paulo Nogueira Ramos informa que os prazos inflexíveis prejudicam os trabalhos da ARE, pois “um ano é pouco para realizar um trabalho que seja bem feito, e a prorrogação mostra que as pes -

soas compreendem que o período é curto”. Comenta ainda que, muitas vezes, os trabalhos foram feitos “a correr, e não foram tidas discussões necessárias para que os estatutos estivessem bem revistos”.

De acordo com Armando Remondes, a composição da ARE também pode ser vista como uma razão da demora nos trabalhos: “A ARE é, quase por inerência, composta por pessoas distintas, e, assim, muitas realidades entraram em contacto pela primeira vez, o que levou a uma demora para construir um regimento interno”. Lembra que a mesma é composta por nove membros da lista vencedora (lista A), nove eleitos pela lista C (que ficou em segundo nas votações), três da lista E (que ocupou o terceiro lugar) e uma da quarta lista (R). A estes somam-se oito membros indigitados: dois pela Direção-Geral da AAC e dois pelo Conselho Fiscal da AAC, dois pelas Secções Culturais, dois pelas Secções Desportivas e dois pelos Núcleos de Estudantes; e ainda os cinco membros da Mesa do Plenário, sendo o presidente e quatro secretários.

Além disso, Armando Remondes elogiou a possibilidade de participação online. Mesmo quando existe um motivo que justifique a ausência da Assembleia, podem suspender o seu mandato para cumprir a sua agenda pessoal. Isso, segundo o membro da ARE, “só é possível graças ao trabalho e tempo inicial que foi tomado para a realização do regimento interno”.

Daniel Tadeu promete o término dos trabalhos no novo prazo agora aprovado em AM. Informa ainda que, no final da revisão dos estatutos pela Assembleia, vai ser realizado um período de discussão pública, onde as pessoas vão poder ver os novos Estatutos e o que foi alterado. Vai haver ainda a possibilidade de realizar propostas, a serem discutidas em plenário, que podem resultar, a posteriori, em novas alterações aos Estatutos da AAC.

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Arquivo

Repúblicas de Coimbra: “Se ele diz que pertence ao povo, o povo que venha cá”

- POR ANA CARDOSO -

As repúblicas, conhecidas pela sua essência singular, tornaram-se já parte da história da cidade. Neste momento, os habitantes das 24 Casas que ainda resistem enfrentam todos os dias problemas causados pela falta de apoios. Na sequência das declarações do reitor, dadas em entrevista ao Jornal A Cabra, as repúblicas vêm expor as suas preocupações e esclarecer alguns pontos.

Todos os anos as repúblicas e casas comunitárias usufruem de um ‘plafond’ que, na compra de alimentos, disponibilizados a preço de custo pelos SASUC (Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra), serve para cobrir metade do valor total. Segundo Olga Pérez, da Real República Bota-Abaixo, costuma sobrar dinheiro, mas no ano passado a situação inverteu-se, já que este fundo “não acompanhou a inflação atual”. Com o ‘plafond’ acabar antes do fim do ano, viram-se obrigados a recorrer aos SASUC de modo a conseguirem ter alimentos para dezembro. Este pedido teve luz verde do reitor da UC, Amílcar Falcão, e, segundo César Sousa, repúblico da Bota-Abaixo, as faturas de dezembro acabaram por ser comparticipadas nos 50 por cento habituais. O aumento do custo de vida, sem o aumento do ‘plafond’, preocupa os estudantes que, após a insuficiência, em 2022, vivem na incerteza, sem saber se vão ter dinheiro suficiente para o ano. Dirigiram-se aos SASUC a explicar o problema, na esperança de conseguirem apoios. No entanto, continuam à espera de uma resposta.

Outros problemas são a distribuição dos alimentos, que passou a realizar-se com menos frequência devido à falta de condutores das carrinhas, assim como as condições em que chegam. Zeca Afonso, repúblico da Corsários das Ilhas, confirma que, apesar de receberem alimentos “em grande quantidade”, estes vêm estragados, ou com pouca validade. Segundo Manuel Estevão, morador da Bota-Abaixo, “os SASUC estavam a par, a tentar resolver”, enquanto esperavam pela abertura de concurso público para contratar alguém para fazer a distribuição, além da aquisição de uma carrinha. Disseram que em março ou abril o problema estaria resolvido, mas até então não foram abertos os ditos concursos, nem dadas mais informações.

Em entrevista, o reitor comentou a falta de diálogo com as repúblicas. Estas concordam que a comunicação deve melhorar. César Sousa esclarece que a última vez que falaram com os

SASUC foi em janeiro, quando os interpelaram com a questão do aumento do ‘plafond’. “A partir do momento em que solicitámos uma informação e ainda não a deram, passados tantos meses, obviamente há aqui uma falta de diálogo, mas não quer dizer que não queiramos dialogar”, acrescenta. O diálogo funciona nos dois sentidos, chega a ser “ridículo” dizer que os estudantes “vão para os jornais fazer figuras tristes”, remata. Para começar, sugere que “respondam aos e-mails”.

Quanto à insistência em saber o número de estudantes a viver nas repúblicas, tanto a BotaAbaixo como os Corsários respondem que não é uma informação relevante. Defendem que o estilo de vida das repúblicas deve ser o fator mais pesado na atribuição de apoios. A sua ligação com a população universitária e local, fortalecida através das iniciativas culturais que promovem, cria um “contexto ímpar que não existe em mais lado nenhum”, ilustra César Sousa. Zeca Afonso salienta o papel destas casas na cultura de Coimbra, por exemplo, na promoção de eventos, na receção de estudantes e na sua integração, além de gostarem de “oferecer a quem mais precisa”.

A par da importância de preservar e manter este estilo de vida, César Sousa explica ainda que é “inexequível dar esses dados [número de moradores estudantes] pelo fluxo dinâmico de residentes a entrar e a sair das casas”. Elucida ainda que o que se pensa de as repúblicas es -

tarem “cheias de não-estudantes” é “mito”. Quando acontece, “por norma, são ex-estudantes que ficam a viver, dada a quebra geracional”, até conseguirem voltar a estabilizar a geração da casa. No caso dos Corsários das Ilhas, o edifício não estaria de pé se não fossem os não-estudantes. Zeca Afonso conta que, desde pequeno, visita a república e eram os trabalhadores de obras que lá viviam que arranjavam a casa, depois de regressarem do trabalho. “Se não fossem eles, a casa já não existiria, penso que teria caído aos pedaços”. Acredita que podem ter mais estudantes se a Universidade publicitar estes lugares cheios de história(s).

Por último, os repúblicos lamentam que o reitor considere que “para as repúblicas o reitor é sempre uma pessoa indesejável, seja eu [Amílcar Falcão] ou outro qualquer”. A BotaAbaixo já foi frequentada por outros reitores, além de que todos os centenários os convidam para jantar, por isso não se reveem na declaração de Amílcar Falcão. Os Corsários consideram o atual representante máximo da UC uma pessoa inacessível e “desligada da realidade”. No entanto, “bastava dar-se ao trabalho de aparecer e mostrar interesse nas casas” para quebrar esse estigma, acrescenta Zeca Afonso. Guilherme Portugal, amigo dos Corsários, termina com um convite inspirado numa música de Sérgio Godinho: “Se ele diz que pertence ao povo, o povo que venha cá”.

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Repúblicas gostavam de ver reitor mais presente. Problemas de distribuição de alimentos e falta de resposta dos SASUC mantêm-se.
Luísa Rodrigues

IV Mimesis leva teatro além-horizontes

OCiclo de Teatro e Artes Performativas

- Mimesis está de volta com a sua IV edição. A expressão que dá nome a esta iniciativa vem da terminologia “mímesis”, que significa “imitação”, e remete para a fundamentação da arte como representação da natureza e da sociedade. Mimesis é uma iniciativa teatral e performativa que se integra dentro da programação cultural anual da Reitoria da Universidade de Coimbra (UC). Este ciclo, que teve início em 2020, vai dinamizar, entre os dias 15 de maio e 15 de junho, mais de 35 atividades.

O vice-reitor para a Cultura, Comunicação e Ciência Aberta, Delfim Leão, explica que, com esta iniciativa, procura-se “valorizar, em particular, a centralidade que o teatro tem na história de Coimbra”. Delfim Leão acredita que este ciclo dá aos diferentes grupos, académicos ou não, “uma oportunidade para apresentarem as suas produções em estreia, mas também de terem financiamento para o fazer”.

De acordo com Delfim Leão, a iniciativa é financiada pela reitoria que, em conjunto com o “mecenas de referência”, o Santander Universidades (instituição que fornece bolsas a alunos do Ensino Superior), apoia as atividades de grupos que preenchem a programação desta edição. Este ano destaca-se “Sounds of Travel”, peça ao ar livre que vai decorrer na Figueira da Foz, no campus da UC. O membro da reitoria afirma que esta produção é “a porta de abertura que vai marcar muitas outras atividades” e, em particular, o regresso a estes espaços vai

permitir a realização de “atividade científica continuada”.

Esta peça, que ocorre no dia 15 de junho, aproveita poemas escritos e musicados nos séculos XIX e XX. Fernando Lopes, integrante do Pateo das Galinhas - Grupo Experimental de Teatro, explica: “vamos aproveitar que temos um cantor de ópera, que vai interpretar alguns desses poemas”. O espetáculo pretende mostrar a “importância das viagens no espaço, no tempo e na imaginação”, declara.

Além desta atividade, destaca-se ainda a parceria com o Colégio das Artes da UC através do “Museu Móvel das Memórias Perdidas”, que vai decorrer no dia 14 de junho. Este projeto, da autoria de Nelson Martins, estudante de doutoramento em Arte Contemporânea, vai estar na baixa de Coimbra e pretende “incluir as pessoas” ao propor “um espaço mais aberto e transversal”. Isto vai ser possível através da gravação de memórias e lembranças partilhadas pelo público. Nelson Martins frisa que esta é uma “doação à cidade” e uma forma de “democratização e inclusão de uma visão menos engessada da arte”.

O Ciclo vai incluir ainda alguns grupos a que a cidade está habituada, como o CITAC (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra), que vai atuar, no dia 26, com a peça “Amálgama”, o TEUC (Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra), com a peça “33”, no dia 27, e a Associação Cultural Thíasos, com a peça “Medeia”, no dia 25 de maio. Na subsecção “Teatro Universitário”, fazem ainda

parte do ciclo os projetos “Topus” e “Horizonte Insubmisso”, da Paços da Real República dos Kágados e Real República Pra-kys-tão, respetivamente.

Delfim Leão declara que se tem notado “um grande envolvimento cultural e científico por parte dos grupos da Academia”. Salienta ainda a presença de projetos que “visitam a partir do exterior”, tal como o ‘workshop’ da Associação Cultural e Artística Portingaloise, intitulado “Oficina de Contradanças”, e a companhia de teatro de Braga CRL, com a peça “Os Pássaros de Aristófanes”.

Segundo Delfim Leão, são criadas “condições para dar visibilidade a este trabalho”, não só através da divulgação, como também do apoio financeiro. O representante da reitoria pontua que este estímulo “é bom para as duas partes”. Reforça ainda que se pretende dar, em especial aos estudantes universitários, “um sinal claro de que este é um caminho no qual se deve apostar”.

O Mimesis traz “um tema lato na sua compreensão” e abre espaço para múltiplas formas de interpretação, tais como “alargar horizontes” ou mesmo “um apelo à indagação da viagem”, considera Delfim Leão. Deste modo, o vice-reitor acredita, “sem excesso de otimismo”, que os objetivos estão a ser cumpridos, uma vez que há uma “adesão crescente”, tanto da comunidade artística, como do público, o que se torna “cada vez mais uma marca que distingue a atividade cultural da UC”.

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IV Ciclo de Teatro de Artes Performativas dinamiza atividade em campus da UC na Figueira da Foz. Delfim Leão declara que esta iniciativa vem “valorizar, em particular, centralidade que teatro tem na história de Coimbra”.
- POR MARIJÚ TAVARES -
Cedida

Uma “casa comum” das gerações do Fado de Coimbra

Academia propõe-se a unir todos que partilham paixão pela arte. “Alma Mater” escolhida para acolher anúncio oficial.

- POR DANIELA FAZENDEIRO -

AAcademia do Fado, da Canção e da Guitarra de Coimbra foi anunciada oficialmente no passado dia 13 de maio, na Sala do Senado da Reitoria da Universidade de Coimbra. O presidente da direção, António Ribeiro, reforçou a importância do cruzamento das “gerações de 50 até às atuais” no seu discurso. Ao longo do dia, a Academia organizou momentos musicais pela cidade em tom de homenagem a Coimbra, à Universidade, à Casa e à Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra (AAC).

O fadista declara que o grupo nasceu da necessidade de construir uma “casa comum” das várias gerações ligadas a esta arte e do desejo de “desconstruir os muros e acantonamentos que isolam e separam as pessoas”. Além disso, afirma que “o Fado de Coimbra é muito maior do que o claustro universitário e deve ser transversal às várias academias e cidades”.

António Ribeiro acredita que os estudantes

perdem o contacto com o fado e com as novidades em desenvolvimento quando se afastam da Casa. Nesse sentido, existe uma preocupação com a formação, motivada pela “carência de cultores da guitarra de Coimbra, da viola e do canto em grande parte das cidades portuguesas” e pela necessidade de dar continuidade a esta arte. Realça ainda a importância de cultivar novos escritores, porque “sem boa poética não há bom fado”.

A promoção do fado e da canção de Coimbra é outro dos objetivos da Academia. O presidente da direção realça a importância de levar o phado para junto dos meios de comunicação social, de modo a aumentar a sua divulgação e proporcionar-lhe uma projeção “que nunca teve”.

A atividade da Academia teve início a 22 de outubro de 2022, após a realização de uma assembleia de fundadores no edifício-sede da AAC. De momento, é constituída apenas pelos membros fundadores, no entanto, são “todos

bem-vindos”, declara o presidente. António Ribeiro assevera que a única condição imposta é o amor pelo fado.

Lisboa, Madeira e Porto já foram palco de tertúlias organizadas pela Academia. A “Alma Mater”, Coimbra, foi o local escolhido para fazer o anúncio oficial pela importância que carrega e para consciencializar os conimbricenses para a marca que o fado representa e da qual devem tirar partido. “A intergeracionalidade – abraço de todas as gerações no fado, na canção e na guitarra de Coimbra” foi o tema atribuído com o objetivo de representar a missão principal do grupo.

No futuro, a Academia pretende organizar tertúlias pelo país inteiro. Além disso, os fundadores querem fazer uma gala nacional, implementar a formação no ano 2024, criar uma audioteca e videoteca do Fado de Coimbra e um espaço museológico.

20 anos Jazz comemoram por cá

Dia Internacional do Jazz assinalado em Coimbra por associação no âmbito do seu aniversário. De acordo com o diretor do JACC, “jovens músicos já são exemplo” para outros artistas nacionais.

- POR TIAGO PAIVA -

Aassociação cultural Jazz Ao Centro Clube (JACC) comemorou o seu vigésimo aniversário entre os dias 28 e 30 de abril, com atividades por diversos espaços culturais da cidade de Coimbra. Foi pelo Salão Brazil (SB), Convento São Francisco e Colégio da Graça que artistas do jazz nacional e internacional espalharam a sua essência. Segundo o diretor do JACC, José Miguel, a celebração procurou “dar visibilidade a talentos emergentes”. Complementa que outros dos objetivos desta celebração passam também por “relembrar o passado e projetar o futuro” da comunidade musical da cidade.

A entidade jazzística surgiu em 2003, na época em que a cidade de Coimbra acolheu o evento Capital Nacional da Cultura. José Miguel declara que o núcleo fundador da associação começou a ganhar força a partir da “criação da revista JAZZ.PT e do desenvolvimento do Festival Itinerante Portugal Jazz, em 2007”.

Passados cinco anos, surgiu o SB, que “mudou muita coisa quanto à sua dinâmica, visto que passou a ter uma sede e um local para apresentar concertos”, admite o diretor. Menciona ainda que, nos últimos tempos, tem-se verificado uma “coincidência feliz”, na medida em que o Dia Internacional do Jazz, a 30 de abril, tem feito parte da festa.

Nomes como Ricardo Toscano, Godua e Aruán Ortiz podem ler-se no cartaz do vigésimo aniversário do JACC. Além dos artistas mais reconhecidos no contexto musical, o Quarteto CP Jazz, constituído por alunos do curso profissional do Conservatório de Música de Coimbra, respondeu ao “ênfase atribuído aos mais jovens pelo JACC, dado que transpassaram um elemento aglutinador para a cidade”. No dia 28, pelas 22 horas no SB, o saxofonista Ricardo Toscano apresentou-se com o seu trio, composto por Romeu Tristão e João Lopes Pereira. O diretor acredita que, mesmo em idade bastante

jovem e em processo de ascensão, “já são exemplos para outros jovens músicos”.

Durante o segundo dia de celebração, o grupo Godua atuou, pelas 17 horas, no Colégio da Graça. O quarteto, constituído por Duarte Ventura, Hugo Ferreira, João Fragoso e João Cardita, coadunou a sua arte de “forma perfeita” com o cenário estipulado pelo JACC. Ainda dia 29, o grupo de Marcelo dos Reis “Flora” encerrou a noite no SB, pelas 22h00. No último dia de festividade, o Convento São Francisco acolheu o trio internacional de Aruán Ortiz, pelas 17 horas. O evento encerrou com a atuação do Quarteto CP Jazz, no SB, pelas 22 horas. O diretor do JACC nota a “obtenção de novos públicos” e remata que “o jazz é uma linguagem em constante evolução, o que permite estabelecer um contacto constante com outros géneros musicais e abrir horizontes à criação artística”.

16 de maio de 2023 06
CULTURA

Miguel Ribeiro: “O mais importante no futebol é ganhar”

Em entrevista ao Jornal A Cabra e à Rádio Universidade de Coimbra, o presidente da Associação Académica de Coimbra - Organismo Autónomo de Futebol fez um balanço da época e explicitou os motivos que estiveram por detrás das grandes decisões da direção. Ao longo de quase uma hora, Miguel Ribeiro destacou a determinação de todos os elementos das equipas técnicas e dos próprios jogadores, sem esquecer as grandes dificuldades sentidas nos últimos 12 meses.

- POR LARISSA BRITTO E FÁBIO TORRES -

Que balanço faz desta época?

Antes de mais, reconhecer que entrámos para um clube que estava numa situação muito difícil financeiramente e assim permanece.

Como sabem é uma equipa totalmente nova, não nos conhecíamos uns aos outros. Entrámos com situações por resolver. Não tínhamos verba para inscrever a equipa e tivemos que fazer um empréstimo junto da Caixa de Crédito Agrícola para a podermos inscrever na Liga 3. Tivemos que fazer esse empréstimo também para pagar os vencimentos logo de imediato porque o saldo era nulo. Isto para podermos meter a Académica a funcionar minimamente para poder encarar a época.

Mas isso entre os membros da direção ou entre os membros da direção com o staff?

Entre os membros da direção. Conhecia alguns, mas não conhecia outros. Não foi fácil encontrar uma direção. Na primeira data de apresentação de candidaturas não apareceu ninguém, inclusive não compareceu a anterior direção. Teve que ser renovado o prazo

para apresentação de candidaturas. Foi aí que eu, juntamente com outras pessoas, tentámos organizar uma lista para que a Académica não caísse num buraco ainda maior. Foi com esse espírito de missão que entrámos todos. Cada um foi dando o máximo de si para que se tornasse viável a Académica competir na Liga 3.

Obviamente que a nível desportivo coube grande parte a mim. Assumo essa responsabilidade. Um treinador com quem andava a falar há 15 dias disse-me a 15 minutos de eu tomar posse que ia para outro clube. Andei mais pelo futebol de formação, que não tem a mesma repercussão que tem uma equipa sénior e profissional, ainda para mais um clube como a Académica, que é um gigante adormecido, mas que nós queremos recuperar. Fiquei desorientado nesse momento. Tive que tomar posse, já não podia voltar atrás.

[Depois] comecei a pensar: agora já não vou falar com um, vou falar com quatro ou cinco. Alguns aceitaram aquilo que a Académica podia dar, que era muito pouco. Optei pelo Miguel

07 16 de maio de 2023 DESPORTO
Por Larissa Britto

porque na altura, daqueles que se mostraram disponíveis, pareceu-me que tinha a lição estudada para abraçar o projeto. Aquilo que vou continuar a defender é que às vezes a prática não se realiza porque dependemos sempre dos resultados. Se eu conseguisse estabilizar o clube até ao nível técnico era porque os resultados estavam a acontecer e a evolução era sempre positiva. Infelizmente isso não foi possível. O Miguel fez o seu trabalho, tenho aqui que lhe agradecer toda a dedicação que teve durante o período que foi o técnico principal da Académica. Eu defendi-o uma semana antes e fi-lo porque tínhamos um jogo a seguir que era perfeitamente acessível, na minha opinião. O Caldas veio aqui ganhar de uma forma expressiva, porque também veio na melhor altura: estava em primeiro lugar, tinha acabado de quase eliminar o Benfica da Taça de Portugal e portanto chegou aqui com moral muito elevada. Por outro lado nós estávamos com ela em baixo depois de perdermos contra o Fontinhas. A equipa começava já a apresentar bastantes anomalias, o que não apareceu de início com o Leiria nem com o Amora. Começou a descair desde a derrota com o Fontinhas. [Defendi-o] com a ideia de que poderíamos ganhar ao Moncarapachense e ao Setúbal e [assim] retomávamos o caminho da estabilidade e da confiança que deveríamos ter.

Sente então que foi a altura ideal para despedir o Miguel Valença?

Foi. Porque perder com o Fontinhas da forma que foi… É certo que marcámos um golo de empate, segundo dizem era legal, mas a exibição foi fraca. Continuávamos a ver que a equipa estava sem confiança. O Miguel está a fazer um bom trabalho no Beira Mar, é um jovem técnico com bom futuro. As coisas não correram bem aqui por qualquer motivo. Se calhar também [porque] apareceu numa altura muito difícil para a Académica.

rem a jogar na Académica. A Académica na Liga 3 é um clube desejado. Eles sentiam orgulho nisso e sentiam que não estavam a corresponder à exigência do clube, mas sempre deram o máximo. As coisas não correram bem, por isso fomos alterando. Houve aqui essa precipitação na construção do plantel. Com o pouco tempo que dispunhamos, houve quase uma obsessão de termos o grupo fechado. Tínhamos um ou dois jogadores que vinham da época anterior: o Vasco Gomes e o João Tiago. Metemos três juniores também, e isso sem esta necessidade imperiosa talvez não se tivesse construído melhor grupo.

Com os resultados, ao princípio até havia apoio, mas começou a haver contestação, os resultados começaram a não aparecer, começou a haver falta de confiança. Teve que se agitar as águas.

A Académica, como sabem, está em dificuldades financeiras. Tínhamos já há data um processo para declararmos a nossa insolvência e apresentámos um plano de recuperação. O risco disto tudo era a Académica SDUQ ter que fechar as suas portas e nós descermos à distrital e reiniciarmos a nossa caminhada desportiva.

Na Académica, neste momento, há falhas, o clube não está devidamente organizado. Pessoas como o Miguel entendiam isso porque eram da casa. Eu entendi que o Zé Nando, conhecendo os problemas da casa, também iria ser tolerante. [O Zé Nando] tinha contribuído de certa maneira para a construção do plantel a partir de determinada altura e vivia permanentemente perto da equipa. Eu pedi ao Zé Nando se podia assumir, porque não me ia colocar custos. Subiu-se um bocadinho o ordenado dele. É notório que a equipa começou a ser mais forte. Eles abdicaram de verbas até ao final da época, pelo que foram nesse aspeto bastante tolerantes e compreenderam a situação da Académica.

presidente não é autocrático, tem que ouvir o que as pessoas pensam. A decisão foi tomada, e a partir daí fui à procura de um novo treinador. Apresentei o Tiago Moutinho e foi aceite.

Acredita que esse cair de confiança que culminou na saída do Miguel Valença teve que ver com algum desequilíbrio na preparação do plantel?

Sim. Isso fica evidenciado a partir do momento em que dispensámos 11 jogadores, em janeiro, e contratámos seis. Foram sempre dedicados, profissionais, tentaram defender da melhor maneira a Académica. Nota-se que são pessoas unidas, que gostam daquilo que fazem, não quer dizer que os outros não façam. O que eu reparo aqui é que há uma maior proximidade com o clube. Havia também um gosto por esta-

Ganhámos ao Setúbal e empatámos com o Belenenses. Há uma série de coisas aqui que melhoraram. Fomos ganhar ao Amora e ao Sporting. Lembro-me que no jogo contra o Fontinhas estavamos em oitavo lugar e tínhamos passado quase a primeira volta e segunda em último. O Zé Nando fez um bom trabalho. Há aqui algumas lutas um bocado desiguais. Por isso é que disse: o quarto lugar primeiro. O Belenenses reforçou-se muito bem em janeiro, que era o que poderíamos fazer também eventualmente, com uma dinâmica de vitórias. [Assim] poderíamos ter mais apoios da região, da cidade, e talvez ter dinheiro para ir buscar jogadores e ter uma equipa muito mais forte para atacar a subida de divisão.

Houve ali uma melhoria nessa altura mas depois há uma quebra novamente com o Zé Nando. A que é que isso se deveu? Teve que ver com o extra futebol? Acha que o processo jurídico pode ter tido alguma influência?

Há coisas que a própria razão desconhece. O facto é que havia aqui um certo receio de a equipa poder cair, então foi aí que dissemos que se calhar temos que agitar as águas outra vez. Não foi uma posição que pessoalmente quisesse. O

O Tiago Moutinho foi a primeira opção?

Não. Era difícil vir para Académica na condição em que a Académica estava. Houve nomes que contactei e a aposta no momento era que tinha que ser um nome forte. Acabou por vir o Tiago Moutinho, que já tinha feito um bom trabalho na Sanjoanense e teve coragem de vir para cá. Veio sozinho, não trouxe ninguém da equipa técnica. Teve coragem e eu admiro-o por isso.

Ele disse logo: "treinador, eu quero ir treinar a Académica e vamos arranjar aqui uma solução". São estas pessoas que são precisas, pessoas corajosas, como nós, que em junho do ano passado tivemos que partir para esta demanda, que foi exigente.

Sentiu que as pessoas não estavam a perceber o estado em que a Académica se encontrava? Sentiu o apoio dos adeptos? Sentiu que houve ali algum ressentimento de ambas as partes?

O mais importante no futebol é ganhar. Fiquei triste por termos perdido este jogo, aqui em casa, com o Moncarapachense e o resultado em termos de efeitos práticos era zero, mas a Académica tem que ganhar. O que os adeptos querem é que o clube ganhe. Se nós entramos em campo e perdemos, ficamos tristes. Há alturas em que ficamos mais porque são decisivos, o que não era o caso. É certo que quando se perde é colocado tudo em causa. Quando se ganha nem tudo está bem. É preciso perceber porque é que ganhámos, tal como reparamos que quando perdemos nem tudo está mal. Se calhar temos que proceder a alterações, ou sermos mais resilientes e tenazes no sentido de aguentarmos as críticas, sabendo que estamos bem. Os adeptos contestam mesmo que estejam os salários em dia, como é o caso. Esta época podemos garantir que chegamos a junho e todos os jogadores receberam os prémios e os salários e os trabalhadores também: isso não acontece na Académica há anos. Isto foi tudo um processo evolutivo. Eu em maio do ano passado não era presidente.

16 de maio de 2023 08 DESPORTO
"Cada um foi dando o máximo de si para que se tornasse viável a Académica competir na Liga 3"
"O risco disto tudo era a Académica SDUQ ter que fechar as suas portas e nós descermos à distrital e reiniciarmos a nossa caminhada desportiva"

Hoje estou numa posição completamente diferente. Já sei onde é que temos que melhorar e onde é que podemos ser mais exigentes.

Foi isso que o Tiago Moutinho trouxe à equipa? Confiança?

O Tiago Moutinho trouxe um discurso ambicioso. Ganhou sete jogos e perdeu este último. Empatámos no Fontinhas, onde é extremamente difícil jogar. Aquele empate pareceu ouro, porque depois garantimos a manutenção. Nesse dia houve também motivação por parte dos jogadores e empatámos.

Correu tudo bem, tivemos tempo para treinar, empatámos e conseguimos a permanência. Depois fomos ganhar ao Caldas, com quem na primeira volta perdemos duas vezes e agora ganhámos duas. No entanto, isto do Moncarapachense foi imperdoável porque acho que, com todo o respeito, foi a pior equipa da Liga 3 que eu vi jogar.

Podemos ver o Miguel Ribeiro mais cinco anos à frente da Académica?

Não sei quanto tempo vou cá ficar. No dia em que o Miguel Ribeiro achar que a sua presença não é boa para a Académica, eu saio ou não me candidato. Eu só estarei aqui enquanto achar que sou útil, que posso contribuir para o projeto que temos para a Académica. Estou aqui no lugar de presidente para recuperar o clube que é a minha paixão. Desde que me conheço que vivo a Académica com intensidade, quer em funções, quer como adepto. Às vezes perder leva-me às lágrimas, mas também há lágrimas por ganhar - como foi na final da taça em 2012. Há cinco meses atrás pediram a minha cabeça, não sei se ainda pedem. A única coisa que têm da minha parte é seriedade, transparência na forma como lido com as pessoas, credibilidade, bem como dar à Académica e aos adeptos condições para que cada fim de semana vivam o prazer da vitória.

que uma das promessas dizia que em quatro anos gostaria de colocar a Académica na primeira divisão e ainda é possível. Isso é uma opção? Não é. É um desejo. Se eu deixar a Académica na Liga 2 ou em condições excelentes para subir à Liga 2 ou à Liga 1, já está cumprido o meu objetivo. Nós temos que pôr os nossos níveis de exigência elevados para conseguir, pelo menos, atingir um bocadinho melhor do que onde estamos. É essa a luta.

Podemos esperar alguma novidade em relação ao modelo societário e investimentos até o início da próxima temporada?

O que lhe posso dizer é que foi mesmo uma oportunidade e eu quero fazer mais uma vez um louvor público ao Doutor Luís Filipe Pirré, que foi fundamental para o êxito deste processo. De facto, hoje estamos numa posição muito melhor graças ao Dr. Luís Filipe Pirré, porque se ele não conseguisse essa vitória, se calhar neste momento a Académica estaria na distrital. Isso deve-se também ao Doutor João Cruz. Quero dar-lhe um louvor público, que foi o administrador judicial durante este período.

O que eu posso dizer é que neste momento, na Académica, está muito mais fácil falar com as pessoas do que estava antes. Nós neste momento devemos pegar neste dinheiro e investir na equipa porque a Académica tem condições de pagar as suas dívidas. Uma coisa é certa: eu gostaria de cumprir uma promessa, a de tentar pagar o que está para trás dos funcionários.Não é fácil, mas eu acho que quem trabalhou tem que receber. Eles têm que pagar as responsabilidades de casa, [cuidar] dos filhos, [tratar] da alimentação e a Académica está em dívida para com os seus trabalhadores.

Até agora temos falado da época que aconteceu. Como é que está agora a preparação para a próxima?

A nossa vontade é que o Tiago Moutinho permaneça, estamos em conversações, mas estas não passam só por questões monetárias, existem outros tipos de itens. Esta decisão tem que ser tomada o mais rápido possível para podermos avançar com a nova época, que também concebe a existência de um diretor desportivo, que é também para libertar o presidente para outras ações.

As pessoas, às vezes, não viam a dificuldade. Eu refiro circunstâncias e contextos. Parece que estava tudo mal para a Académica. Reparem só: ano de eleições, sai uma equipa que esteve aqui seis anos a dirigir a Académica para entrar uma totalmente nova; o plantel são dois ou três jogadores; temos que pagar a todos os jogadores para podermos competir; e entramos com menos um ponto, sem termos responsabilidade por isso; jogamos à porta fechada, também sem ter responsabilidade nisso; ainda para mais, acresce uma situação que é descerem o dobro das equipas; e além disso nós passamos a época quase toda em último lugar. Não imaginam o sofrimento dos adeptos e o meu.

Face a essas circunstâncias e todo esse contexto, [o fim da época] foi um descarregar, um alívio, porque eu estava a ver que as coisas podiam realmente piorar e aí as dificuldades iam triplicar ou quadruplicar. Felizmente não. Terminamos bem a época, com uma série de vitórias, exceto o último jogo.

Aos dias de hoje, como considera que é a relação entre os membros da direção?

As divergências existem até nos seios das famílias. As pessoas analisam as coisas em perspectivas diferentes, porque são sensibilidades e idades diferentes. É lógico que existem divergências, mas o que pode circular pela cidade não tem fundamento. Não venham dizer que a direção da Académica é a única em que não existe unanimidade. Uma coisa é certa, remamos todos para o mesmo lado para cumprirmos o mesmo objetivo. Não há aqui nenhum objetivo pessoal de ninguém, o que nos interessa é colocar a Académica no rumo certo.

Quando nos apresentámos às eleições foram feitas promessas. Recordo-me perfeitamente

Do atual plantel, quantos têm contrato para próxima temporada?

Neste momento, acho que são três ou quatro que têm contrato, portanto a grande maioria está em fim de contrato e terá que ser renovado. Já foi iniciada a renovação de alguns jogadores.

Qual é o objetivo para a próxima temporada?

Na próxima temporada, o objetivo é o mesmo da época passada: chegar aos quatro primeiros lugares. Para o ano vai ser um formato diferente. Vão ser dez equipas em cada Série e o formato vai ser diferente quer na despromoção, quer na promoção *(na próxima época, a fase de promoção vai contar com as quatro melhores equipas de ambas as séries numa série de oito)*.

O que falta para termos a cidade unida em torno da Académica?

Falta acreditar que é possível. Com pequenos contributos de cada um é possível acelerar aquilo que todos nós desejamos: ter uma cidade, como Coimbra, com a história de Coimbra, que já foi capital de Portugal e ganhou duas taças de Portugal, unida. É mantermos a nossa Queima das Fitas, mantermos a nossa Universidade [de Coimbra] com o prestígio que tem e mantermos a nossa Académica com o prestígio que merece ter, que sempre teve, mas que neste momento foi um bocadinho abaixo. [A Académica] estava em coma e nós queríamos retirá-la do coma. Ainda está a cambalear, precisamos de dar mais umas injeções de adrenalina e daí preciso solicitar a todos que nos ajudem. E quando peço ajuda, não é uma coisa simples. [É claro que] também temos que procurar a cidade, como é evidente, porque não é só pedir. [Ainda assim] gostávamos de ter a receptividade que às vezes falta.

09 16 de maio de 2023 DESPORTO
"Eu só estarei aqui enquanto achar que sou útil"
"Se eu deixar a Académica na Liga 2 ou em condições excelentes para subir à Liga 2 ou Liga 1, já está cumprido o meu objetivo"

Antes que o álcool te queime

Com a chegada do mês de maio, entre tradições e bebedeiras, chega a tão esperada Queima das Fitas (QF). Litrosas, ‘happy hours’, metros de cerveja, ‘shots’ e promoções são os ‘packs’ que caracterizam os padrões do consumo de álcool nos jovens portugueses, em especial nas Semanas Académicas de cada cidade.

A festa académica começou em meados do século XIX, na cidade dos estudantes, no Largo da Sé Nova, e consistia na queima das fitas de algodão que eram usadas pelos alunos para unir as páginas das sebentas. A QF é acompanhada ainda por uma série de eventos como o Cortejo dos estudantes, a Serenata Monumental e a Bênção das Pastas, entre outras tradições. No seio destas celebrações estão os concertos que ocorrem na Praça da Canção durante toda a semana. Além de todos estes costumes, o álcool também demonstra ser um dos principais companheiros de todos os jovens durante a emblemática Queima das Fitas.

A ciência e os números por trás do álcool Não só os estudantes, mas toda a população portuguesa gosta dos seus finos. De acordo

com o relatório "Prevenir a Utilização Nociva do Álcool”, divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) em 2021, a média do consumo de álcool em Portugal está entre as mais altas dos seus estados-membros, com doze litros anuais de álcool puro, que equivale a pouco mais de quatro litros e meio de cerveja por semana, ou meio litro por dia. A pesquisa revela ainda que a perpetuação deste consumo exacerbado vai causar um decréscimo de um ano na esperança média de vida dos portugueses, nas próximas três décadas.

A perspetiva de uma vida mais curta, entretanto, não abala os universitários durante a mais clássica celebração académica do ano. Como indica o artigo científico “Consumo de álcool nos estudantes do ensino superior de Coimbra e o impacto das festas académicas”, publicado em 2022, estas comemorações aumentam o risco de consumo excessivo de álcool entre os jovens. Durante as festas universitárias, o aumento do consumo de bebidas espirituosas também se intensifica, em especial por parte do sexo feminino.

Segundo uma notícia no jornal Público, na

semana passada, o subdiretor-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências reafirmou estes factos ao divulgar que Portugal é o país que, a nível mundial, consome mais vinho per capita. O representante afirma que esta bebida engloba 60 por cento das bebidas alcoólicas mais consumidas entre os portugueses, seguido do consumo de cerveja, que ronda os 30 por cento. No nosso país as bebidas espirituosas não são tão populares, já que representam apenas cerca de dez por cento da ingestão de álcool, refere. Segundo os dados revelados, 61,5 por cento da população geral consome álcool.

Paula Tavares, professora da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra, esclarece que o álcool é uma substância psicoativa que estimula o sistema nervoso central e, quando consumido, gera, no início, uma sensação de desinibição, mas também uma perda da noção de perigo. A seguir, manifestam-se os efeitos depressores que, de acordo com a investigadora, são os mais graves porque afetam a coordenação motora, a ação neuronal, a capacidade de compreensão e também de reação. Acrescenta

10 16 de maio de 2023
CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
Portugal entre os países da União Europeia com média de consumo anual de álcool mais elevada. Entre tradições emblemáticas e bebidas, estudantes afirmam trocar “dia pela noite”.
Arquivo
Fotografia: "Crónicas de Ícaro"- exposição de fotografia de Pedro Medeiros

que, a longo prazo, o consumo de álcool provoca uma perda de neurónios, o que pode causar atrofia cerebral.

A docente ressalta o efeito aditivo do álcool, pois é “das drogas que mais habituação causa”. O consumo continuado desta substância “cria necessidade de doses cada vez mais elevadas”, constata. Realça ainda que o principal perigo com esta droga é o seu fácil acesso, pois “é vendida a maiores de 18 anos, em qualquer sítio”, refere. O alcoolismo entre os jovens é um problema que merece mais atenção porque muitos dos dependentes da bebida “começaram a consumir na sua juventude, em contexto social, até se tornarem alcoólicos”, alerta. Acrescenta que um dos sinais a ter em atenção é a passagem de bebidas com menor teor alcoólico para um teor mais elevado, como o caso de bebidas brancas. Segundo a professora, depois de um consumo excessivo desta substância, é normal sentir sintomas de ressaca, como desidratação e hipotermia. “A intoxicação alcoólica provoca a ressaca”, complementa. Para isso acontecer, tem que haver um abuso no consumo, ou seja, uma intoxicação do organismo com uma substância que tem efeitos nocivos, o que faz o corpo reagir para a libertar. Paula Tavares apela, de igual forma, a todos os estudantes para serem moderados no consumo de álcool, uma vez que “depois de chegar ao grau de intoxicação, não vão conseguir aproveitar a festa e o convívio".

Os comportamentos dos estudantes na QF Também a coordenadora do local de emergência da Cruz Vermelha de Coimbra, Sofia Peixoto, e o chefe da equipa de eventos na atuação na QF, Diogo Marques, corroboram as afirmações de Paula Tavares. Responsável pelo serviço na cidade há 10 anos, Sofia Peixoto coordena a ligação de apoio entre a QF e a instituição humanitária para assistir todos os estudantes da cidade: “criámos um Posto Médico Avançado, onde estabilizamos a vítima, seja etilizada ou de trauma”.

De igual forma, Diogo Marques apoia a urgência de um posto de emergência na QF como resposta rápida de socorro, uma vez que é “frequente existirem vítimas em coma alcoólico”. Em 2019, os impactos deste consumo atingiram de forma agressiva os jovens, mas com o confinamento os números decresceram, revela a equipa da Cruz Vermelha. Desta maneira, o ano de 2022 ainda não atingiu os resultados anteriores, visto que não houve uma recuperação total no regresso à normalidade na fase do pós-pandemia, completa.

Apesar da atuação eficaz dos membros do posto de urgência, Sofia Peixoto e Diogo Marques reconhecem o aumento do consumo de álcool entre os jovens, que parte pela falta de pré-prevenção das organizações dos eventos. "Podiam tentar fazer ações de prevenção ao longo do ano, como distribuir ‘flyers’ ou a partilha de informação nas redes sociais", explica o chefe da equipa de eventos da Cruz Vermelha na QF. O grupo responsável alerta ainda que, com o acesso aos malefícios do alcoolismo, “seria positivo os jovens moderarem os comportamentos no consumo desta e de outras substâncias”.

A poucos dias desta semana tão aguardada, o Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA saiu à rua para saber os hábitos de consumo de alguns estudantes da Academia. A grande parte dos entrevistados, que não se quis identificar, refere que consome álcool todas as semanas, mas acrescentam conseguir divertir-se sem álcool, apesar de alguns revelarem que “não é a mesma coisa”. Quando questionado sobre o porquê, um estudante de 22 anos do terceiro ano da Licenciatura em Contabilidade e Gestão Pública, afirma que “pode correr descalço, mas com sapatilhas é mais rápido, e com o álcool é igual”. Este tipo de consumo permite “aguentar a noite até mais tarde e estar mais à vontade”, confessa uma aluna de 19 anos do segundo ano da Licenciatura em Ciências Bioanalíticas.

Quanto à ingestão de bebidas com maior percentagem de álcool, todos os estudantes assu-

miram consumir ‘shots’, porque muitas vezes “sai mais barato” e “acelera mais (a intoxicação)”. Uma jovem de 20 anos do terceiro ano da Licenciatura em Engenharia Química partilha que basta “dois shots, 1,5€, e está a andar”. Os estudantes que não consomem álcool referem divertir-se como os seus colegas. Uma estudante de Medicina de 20 anos acredita que "consegue divertir-se mais porque eles (estudantes que bebem em excesso) chegam a um ponto da noite em que já não aproveitam”.

Durante a Semana Académica, a maioria dos estudantes refere que a sua rotina se altera e que trocam o dia pela noite. Um aluno de 22 anos do quarto ano da Licenciatura em Enfermagem, afirma que nessa semana não faz mais nada “senão dormir e ir para a queima”. O consumo de álcool e as saídas até de madrugada têm impacto no cansaço físico da maioria. Depois da semana da QF, um estudante de 20 anos do terceiro ano da Licenciatura em Ciências do Desporto confessa que “fica destruído” e alguns estudantes relatam precisar de “dois dias para recuperar”.

Em pleno 2023, o álcool é, desta forma, um tema que preocupa cada vez mais os profissionais de saúde. Como afirmam os especialistas, deveriam existir pré-prevenções que pudessem chegar aos jovens e, dessa forma, os fizessem ter a devida prevenção em relação ao consumo excessivo de álcool. Apesar de todos os seus malefícios, a QF não se esgota com ele, uma vez que muitos dos estudantes ainda fazem a festa ao gerir o que bebem, de forma a aproveitarem o que de melhor as noites do recinto têm para dar.

O mês de maio não é, assim, só feito de festas e bebedeiras, mas também de lágrimas e orgulho no momento da despedida, partilhado entre todas as famílias e finalistas. A QF, que vai ocorrer de 19 a 26 de maio na Praça da Canção em Coimbra, vai priorizar a preferência dos jovens pelo álcool, desde a cerveja aos shots, mas como se diz na cidade dos estudantes: “Queima é em Coimbra, o resto são finos”.

11 16 de maio de 2023 CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
Simão Moura Arquivo

Coimbra continua o processo de reabilitação dos Bairros da Rosa e Ingote

Município vai contar com mais soluções habitacionais. Vereadora Ana Cortez

Vaz refere que objetivo é melhorar qualidade de vida dos residentes nas moradias restauradas.

- POR LUÍSA RODRIGUES -

No âmbito da empreitada de reabilitação de 105 habitações municipais nos Bairros da Rosa e Ingote, no dia 26 de abril, a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) consignou obras em 75 habitações localizadas no Bairro da Rosa. De acordo com Ana Cortez Vaz, vereadora do município, estes restauros vão concluir a empreitada. As intervenções estão inseridas no programa 1º Direito – Programa de Apoio ao Acesso à Habitação e resultaram num investimento superior a dois milhões de euros.

Segundo Ana Cortez Vaz, devido à maioria das habitações inseridas nestes bairros estarem bastante degradadas e nunca terem tido “nenhum tipo de manutenção”, é de “extrema importância” existir uma reabilitação total das moradias. O principal objetivo das reformas é

“proporcionar o máximo de qualidade de vida às pessoas”, acrescenta a autarca. Neste momento, estão a ser realizadas diversas reformas nos domicílios, que incluem, por exemplo, de acordo com a vereadora, a substituição de móveis interiores, intervenções nas instalações sanitárias e renovação da rede de saneamento. Porém, Ana Cortez Vaz salienta que o processo pode variar dependendo das “carências de cada habitação”.

As obras estão divididas em fases, pelo que as consignações do dia 26 de abril preveem reabilitações nos lotes três, quatro e cinco do Bairro da Rosa. A empresa responsável pelo terceiro lote é a Conways e a firma Veiga Lopes S.A. pelos lotes quatro e cinco. O prazo de execução das intervenções varia de 450 a 481 dias.

As requalificações estão a ser realizadas atra-

vés de um sistema de rotação de habitações. A vereadora explica que, enquanto uma moradia está a ser reabilitada, o agregado familiar residente nesse local vai para um domicílio de acolhimento. Assim que a restauração for concluída, regressam à sua antiga residência. Além disso, a autarca sublinha que está a ser feito um trabalho de adequação do agregado familiar à tipologia da habitação. O motivo é existirem algumas casas que se encontram em sobreocupação e outras com subocupação.

A CMC pretende, ainda, reabilitar mais habitações sociais. Ana Cortez Vaz explica que já existe a concessão de 33 moradias no Bairro Fonte do Castanheiro. Neste momento, falta apenas a consignação para o processo prosseguir, concluiu.

O ginásio não escolhe idades

Bruno Simões é ‘personal trainer’ no Focus, localizado no bairro Norton de Matos. Começou a estagiar em 2015 neste estabelecimento, fundado por volta de 2013, e a partir daí nunca mais se afastou. Uma das características deste ginásio é a amplitude de idades dos frequentadores: dos 13 aos 84 anos. “A maioria dos clientes procura qualidade de vida e manter as funções básicas”, declara Bruno Simões.

Fernando Alves Rodrigues, de 79 anos, anda no Focus há um ano. Não hesita em afirmar que, neste lugar, “há rapaziada amiga”, o que o faz sentir-se em família. “O ginásio é bom, principalmente para velhos”, brinca o mesmo, que apelida ainda o seu ambiente de “maravilhoso”.

Já António Honório, de 71 anos, vive perto das instalações e declara que viu que o Focus tinha mais gente da sua idade e decidiu experimentar.

O próprio explica que “partilhar o espaço com jovens fá-lo sentir-se mais jovem” e que “antes via os ginásios como uma passarela”.

“Aqui não se definem objetivos irrealistas”, revela Bruno Simões. Refere que, “ao contrário de outros ginásios, onde o público é sazonal, há clientes ligados ao Focus há três, quatro, ou oito anos”. O ‘personal trainer’ destaca que o ‘feedback’ é “muito positivo”, e materializa-se, em especial, “na renovação de contrato com os clientes”. Afirma que tem havido boa adesão por parte dos idosos e que o diagnóstico e acompanhamento são fundamentais: “não pode falhar, tem de se saber o que a pessoa tem, pode e quer”.

Os exercícios mais comuns entre os mais velhos são o uso de elásticos, bicicletas, agachamentos e flexões. A par disto, “vão-se implementando pesos ligeiros e trabalha-se mobilidade, coordenação, agilidade e elasticidade”.

Bruno Simões destaca, ainda, que “os idosos vêm a medo”, porém, depois sentem-se “estimulados e acompanhados”. Acrescenta que “um idoso que venha a este espaço, ao sentir que consegue fazer alguma coisa, aumenta muito a sua autoestima e independência”.

“Os ginásios falham na sua mensagem demasiado ligada à imagem corporal e na banalização da atividade física”, realça o ‘personal trainer’. “Não é atrativo alguém ver num folheto um homem de tronco nu com uma barra de 20 quilos, porque essa pessoa pensa «isso não sou eu»”, refere. Sublinha que “não vê inclusão de idosos noutros estabelecimentos”. Bruno Simões sente que “os ginásios deviam integrar um programa que os ligue a outras entidades de saúde”, dado que “esse apoio descongestiona o Sistema Nacional de Saúde”.

12 16 de maio de 2023
CIDADE
Ginásio Focus promove atividade física para idosos. ‘Personal trainer’ declara que “ginásios falham pela sua mensagem demasiado ligada à imagem corporal”.
- POR MIGUEL SANTOS -

Com grandes artistas, vêm grandes constrangimentos

Coimbra torna-se palco de grandes eventos neste mês de maio, com o concerto dos Coldplay e Queima das Fitas. Moradores da cidade afirmam que falta de comunicação foi dos principais lapsos na organização das atividades.

Os quatro concertos da banda britânica Coldplay, que vão trazer à cidade mais de 200 mil pessoas durante os dias 17, 18, 20 e 21 de maio, levaram a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) a reunir com entidades de segurança para garantir a proteção da população e evitar conflitos na cidade. Este evento levou também à alteração do tradicional Cortejo da Queima das Fitas de 2023 (QF’23) para terça-feira, dia 23.

Na passada segunda-feira realizou-se a Conferência de Imprensa - Operação Coldplay na Tribuna Presidencial do Estádio Cidade de Coimbra, com as entidades responsáveis pela organização do evento. Marcaram presença o presidente da CMC, José Manuel Silva, o vice -presidente da CMC, Francisco Veiga, a vereadora do Espaço Público, Ana Bastos, o subintendente da Polícia de Segurança Pública (PSP), José Nascimento, e o diretor de produção da promotora Everything is New, Pedro Viegas.

Na conferência foi discutido o plano de operações desenvolvido pela CMC, em conjunto com a Proteção Civil e a Everything is New, que visa garantir a segurança e o sucesso dos quatro concertos da banda. A CMC disponibilizou informação no ‘site’ oficial sobre as implicações dos concertos: condicionamentos, transportes públicos, parques de estacionamento, esplanadas e venda ambulante, interdição de estacionamento, recolha de resíduos, avisos e editais.

Face à questão da alteração da data do Cortejo da QF’23, o presidente da CMC afirmou que as datas dos Coldplay são internacionais: “ou eram aquelas ou nenhuma". Além disso, acrescentou que foram ouvidas as opiniões de todos os en-

volvidos, mas ”quando há opiniões incompatíveis, tem de prevalecer a segurança das pessoas, não a festa”.

Ao Jornal A Cabra, o chefe do núcleo de Investigação Criminal, Operações e Informações do comando da PSP, Renato Neto, anunciou que muitos dos planeamentos para segurança durante os eventos já foram efetuados. "Foram tomadas medidas para fora desta área e da malha social onde vão ocorrer os eventos, para cuidar de todos os problemas que possam surgir”, completou o responsável.

A força policial já possui diversos perímetros montados para inibir a passagem de veículos e limitar a locomoção pedonal nas áreas próximas do estádio. Segundo Renato Neto, essa decisão garante que “quem for assistir aos eventos possa circular com tranquilidade e não exista qualquer tipo de problema para a integridade física das mesmas". Além da PSP, outras entidades vão contribuir para a proteção, como a Cruz Vermelha, o INEM, os bombeiros e as empresas de segurança privada.

Renato Neto recomenda ainda à população que “chegue com certa antecedência, para permitir que as entradas sejam feitas de maneira mais calma e sem qualquer tipo de problema”. O membro da PSP completa que a população deve evitar “circular a partir das 14 horas, quando existem já condicionamentos de trânsito”, além de não tentar “entrar nas zonas em que não tenham autorização para tal”.

O Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA saiu também à rua e entrevistou pessoas sobre a realização dos diversos eventos no decorrer do mês de maio. Moradores e trabalha -

dores de Coimbra mostraram a sua opinião ao afirmar que vão ser afetados pela afluência de pessoas na cidade, pelas alterações dos transportes e pelo corte de estradas durante os quatro dias de concertos, que ainda vão estar a decorrer aquando do início da semana da Queima das Fitas.

Um dos entrevistados é Ricardo Vaz, trabalhador da livraria Almedina, no Estádio Cidade de Coimbra, que declara que as entidades responsáveis pela organização "deveriam ter comunicado de outra forma” com os estabelecimentos que se encontram dentro do perímetro de segurança estabelecido. Acrescenta que compreende que a realização dos concertos é “uma mais-valia para a região”, mas declara que o estabelecimento vai ter de ser encerrado, o que é prejudicial, devido à dificuldade de acesso dos clientes ao espaço.

Outra das entrevistadas é uma trabalhadora no estabelecimento H3 no Alma Shopping. Ivana Veiga afirma que os próprios clientes da casa já reclamaram devido ao difícil acesso e às alterações nos transportes. Além disso, o aumento da afluência de pessoas ao centro comercial fora das horas dos concertos vai afetar o trabalho no restaurante.

Ainda que com limitações, Coimbra permanece pronta para celebrar a vida académica com a semana da Queima das Fitas, enquanto recebe os Coldplay. Quem não vai aos concertos da banda britânica tem a oportunidade de assistir à atuação de outros artistas internacionais no Parque da Canção, como Ivete Sangalo, Mc Kevinho, entre outros.

13 16 de maio de 2023 CIDADE
- POR MATILDE DIAS E GUSTAVO ELER - Gustavo Eler

Coimbra não é exemplo na integração de pessoas trans, mas há quem queira construir portos de abrigo dentro da cidade. Sociedade, língua portuguesa, cuidados de saúde e meio laboral não acompanham evolução da legislação em vigor.

- POR FÁBIO TORRES -

Afalta de espaços seguros, os comentários transfóbicos, a ineficácia do sistema de saúde público e a discriminação laboral são algumas das hostilidades que continuam presentes no quotidiano da comunidade trans em Coimbra. Por não se identificarem com o género atribuído à nascença e demonstrarem a sua identidade, estas pessoas são vítimas da “árvore liberal, capitalista, conservadora e patriarcal” presente na sociedade. Quem o diz é Lexy Narovatkin, membro da Rádio Universidade de Coimbra (RUC). “Apresentar com pronomes femininos no ar, com uma voz masculina, causa dúvidas a alguns ouvintes”, comenta. A mesma assume que nem sempre consegue aguentar o tratamento social.

Lexy assume-se como “não-binária”, por não se “conformar com características de género atribuídas” a si mesma. “Foi algo intrínseco e é algo que está em continuação perpétua”, ressalva a também estudante na licenciatura de Antropologia na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), sobre a forma como se identifica. O termo não-binário remete para pessoas que não se consideram masculinas ou femininas, embora a mesma assuma pronomes neutros e femininos, pelo que transgénero “acaba por ser mais abrangente para qualquer identidade que saia de constrangimentos binários”, explica Lexy.

Uma lei não chega

Ainda depois de despenalizadas, a homossexualidade e transexualidade foram consideradas doenças mentais durante décadas. A lei n.º 38/2018, de 7 de agosto de 2018, que ficou conhecida como a lei da autodeterminação de género, foi um marco, a nível legislativo, da luta das pessoas e associações Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, ‘Queer’, Intersexo, Assexuais e mais (LGBTQIA+).

A lei em vigor é considerada progressista a nível europeu, mas “ainda há muito trabalho para fazer”, acredita Daniela Bento, membro da direção da associação portuguesa de Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo (ILGA Portugal). Uma das críticas apontadas é a falta de integração de pessoas imigrantes, dado que só inclui quem tem cidadania portuguesa. “Muitas pessoas vêm à procura de refúgio e afinal não podem fazer a sua transição de forma legal”, lamenta Skye Espadinha, membro da rede Ex-Aequo, uma associação LGBTQIA+ com foco nos jovens.

O nome é uma das principais identificações de qualquer pessoa, contudo, mesmo a escolha de um novo “é difícil”, confessa Skye. “Todas as conservatórias estão obrigadas a fazê-lo, mas a ignorância ou transfobia dos funcionários” acaba por ser um entrave, segundo o mesmo. Relembra ainda que “quando uma pessoa transiciona, tem que escolher um nome presente numa lista, o que limita muita gente”.

Para Laura Rendas, da TransMissão, uma associação com sede em Almada, alguns dos problemas que a comunidade trans enfrenta “são sistémicos”, pois existem leis que não são do conhecimento de todas as pessoas. Considera também que “não há uma estrutura para educar os profissionais que tratam as pessoas em primeira mão”.

A qualidade dos serviços de saúde Para algumas pessoas, a autodeterminação da identidade não é suficiente para viverem a sua vida. A disforia de género continua a ser negligenciada pelos cuidados de saúde públicos. Laura Rendas afirma que “há situações de saúde complicadas em que são necessários tratamentos médicos, mas, mesmo que seja urgente, o processo prolonga-se porque não há resposta a pessoas trans”. Para além da fragilidade do próprio sistema de saúde, a mesma considera que “falta educação dos profissionais para lidar com pessoas que não têm os cromossomas que estão à espera”. A demora do sistema leva a que haja “problemas de saúde que pioram porque não há tratamentos”, conclui.

A solução para muitas está nos serviços de saúde privados, que não são viáveis para a maioria da comunidade. “São pessoas precarizadas e com uma alta taxa de desemprego”, explica Daniela Bento.

A Unidade de Reconstrução Genital-Urinária de Saúde de Coimbra (URGS) foi promovida a

14 16 de maio de 2023
REPORTAGEM
A Coimbra que anseia por um futuro trans seguro
Sofia Ramos

centro de referência em Portugal para cirurgias de afirmação de género, mas “neste momento não está a dar a resposta que deveria”, critica Daniela Bento. “Não é só em tratamentos específicos à transexualidade", recorda a mesma, que afirma que “também rapazes trans que pedem consultas de ginecologia têm as consultas canceladas porque do outro lado não percebem que eles podem precisar de ter esse serviço”.

A necessidade de a língua evoluir

A forma como cada pessoa quer ser mencionada é importante para a sua identidade. Perguntar quais os pronomes da pessoa e utilizá-los da devida forma constitui um passo na inclusão de qualquer pessoa, não apenas trans.

A língua portuguesa, tal como as outras, está em constante evolução, mas contém ainda alguns incómodos. Um deles, segundo Daniela Bento, é o de que a língua portuguesa “foi construída com base em género”. Ao mesmo tempo, e também numa perspetiva feminista, outro dos entraves acontece pelo plural das palavras estar mais orientado para ser escrito e falado com pronomes masculinos. Os pronomes neutros, por não valorizarem um género acima do outro, como refere Skye Espadinha, conseguem ser mais representativos.

Tem havido tentativas de criar uma linguagem mais inclusiva. O “X” ou o “@” ficaram populares na escrita, mas a complicada leitura dos símbolos fez com que caíssem em desuso. Na sua vez, palavras como “elu” ou “eli” têm ganhado lugar na língua popular, enquanto pronomes neutros. A linguagem passiva é outra forma de escapar à utilização de pronomes binários. Dizer “estar com atenção” invés de “estar atento/a” é um dos exemplos dados por Daniela Bento de como é possível falar de forma mais inclusiva.

O nascer e o pôr do Sol em Coimbra e no país Desde a Sé Velha até à Praça da República, Coimbra contém diversos estabelecimentos de consumo noturno. Contudo, a quantidade de locais LGBTQIA+ ‘friendly’ dentro da cidade são insuficientes. “A vida noturna está muito aquém do que as pessoas gostam”, confessa

Lexy. O pouco ambiente inclusivo que há acaba por acontecer na Festa Fora do Armário, organizada pela PathCoimbra, ou em Repúblicas.

Convívios com grupos de amigos em casa de alguém, em que todos se juntam num espaço mais inclusivo, ou ir a um dos sítios em que não se sentem discriminados, acaba por ser a pouca escolha que a Lexy e os amigos têm. Mesmo assim, a “homogeneidade do público nos espaços inclusivos”, de acordo com a estudante da FCTUC, acaba por não diferenciar as noites do ano, pois “toda a gente que se vê todos os dias vai aos mesmos sítios”.

Seja pela sua expressividade na roupa e na maquilhagem ou pela constituição física, a comunidade trans é um alvo fácil de comentários discriminatórios. “Continua a haver muito conservadorismo e continuam a haver pessoas menos simpáticas à noite”, assume Lexy, que acredita que Coimbra não é de todo “um ponto de conforto ‘queer”.

“De dia, o desconforto é diferente do noturno, pois as pessoas são diferentes”, confessa a estudante de Antropologia. O panorama não se altera pelo nascer do sol, pelo que a mesma refere que a discriminação durante o dia acontece “no habitual comentário homofóbico ou transfóbico”. Mesmo num grau menor, a falta de tolerância durante o dia leva a que os espaços diurnos, como cafés e esplanadas, sejam escolhidos a dedo, o que leva a que haja sítios “preferidos por serem mais resguardados”, reitera a estudante de Antropologia.

O trabalho das associações LGBTQIA+ com a comunidade trans

A contínua necessidade de pessoas transgénero em conseguir ajuda faz com que o trabalho das associações, que têm crescido ao longo dos anos, continue imprescindível. Entre as suas atividades e funções, estão presentes espaços de partilha, como é o caso da Rede Ex-Aequo no Instituto Português de Desporto e Juventude, que permite aos intervenientes aprenderem uns com os outros. Além disso, as associações providenciam as pessoas com acompanhamentos psicológicos e terapêuticos, para facilitar a integração e ajudar a mente de cada um.

Para Lexy, falta às associações, em especial as de Coimbra, “serem pragmáticas nos aspetos que defendem”. Segundo a mesma, é necessário “criar redes de apoio que não existem”, como por exemplo, a existência de um reencaminhar “acompanhado para a URGS”.

A estudante de Antropologia reforça que “não é só a realização da Festa Fora do Armário que é o apoio a uma vida e a um corpo trans”. A integrante da RUC apresenta a Associação Existências, que “faz testes grátis para Doenças Sexualmente Transmissíveis e têm consultas para pessoas LGBTQIA+ no ramo da sexologia”, como um exemplo.

Apropriações sociais e questões laborais Todos os anos, desde 2010, no dia 17 de maio, a PathCoimbra organiza a Marcha Contra a Homofobia e Transfobia. Instituições públicas e empresas assinalam de forma mediática o dia ao hastearem bandeiras arco-íris, como é o caso da Associação Académica de Coimbra. “As estruturas tradicionais na Coimbra universitária vêm, às vezes, ao desencontro da integração”, refere Lexy, pelo que a mesma considera que existe “ambiguidade com o uso da simbologia” LGBTQIA+ e que mesmo que possa ser “um gesto de solidariedade”, não a “aquece nem arrefece”.

A apropriação de lutas sociais para fazer publicidade e ganhar reconhecimento “é uma fachada pouco transparente que acontece no mundo, porque enquanto as grandes estruturas capitalistas fazem esse fingimento habitual, as pessoas continuam a ser marginalizadas”, argumenta Lexy. A estudante da FCTUC finaliza que “há muitas pessoas com dificuldade em arranjar um emprego”, pelo simples facto de serem quem são: “trans, ‘queer’, não-binárias ou intersexo”.

A existência de marchas como a que a PathCoimbra e outras associações organizam permite dar visibilidade à vida que as pessoas trans e LGBTQIA+ enfrentam todos os dias. Para Daniela Bento, não é só nestas marchas ou durante o ‘pride month’ que a sociedade tem que olhar para estas questões: “o direito à existência é um direito fundamental humano”.

15 16 de maio de 2023 REPORTAGEM
Torres
Fábio

CABRA DA PESTE

"CURSUS HONORUM PRAXIS

Com o aproximar da Queima das Fitas aproxima-se também o momento onde se sobe mais um degrau no caminho honorífico da Universidade de Coimbra. Os Caloiros são emancipados, os Grelados viram Fitados e muitos Cartolados celebram a sua última aula preparando-se para a defesa da dissertação. Este cursus honorum aqui mencionado é a forma como, na tradição Académica de Coimbra, se faz salientar o mérito de cada Estudante. Apesar de ser um caminho 'linear', os ditos patentes no Código de Praxe causam ainda muitas dúvidas. Assim, pretende-se esclarecer os colegas para que a Raposa não vos escape com o 9,5 na cadeira da Praxe Académica.

- Quem vai ser Grelado no próximo ano lectivo (em termos coloquiais: vai no Carro) a partir do

dia do Cortejo da Queima das Fitas usa o Grelo na lapela, tradicionalmente ofertado pelos afilhados (Artº 63.7 do Código de Praxe) ;

- Quem é actualmente Grelado, na manhã do Cortejo vai queimar o Grelo à Sé Nova e liberta as Fitas na Pasta. Estas são as 8 Fitas (somente oito) que irão abanar durante o Cortejo demonstrando a vossa condição de Novos Fitados e que irão posteriormente dar aos vossos familiares e amigos para assinarem (Artº 63.8);

- Quem é Fitado, mas ainda não está em condições de terminar o Mestrado, usa as Fitas (assinadas ou não) durante toda a semana da Queima das Fitas (Artº 64);

- Quem está no último ano de Mestrado, usa as Fitas na Pasta até ao dia do Cortejo, e a partir do Cortejo usa as insígnias de Cartolado, represen-

tando o seu estatuto de finalista de Mestrado. É neste ano em que se participa na Bênção das Pastas em Junho. Caso não termine o curso, no ano seguinte usa Cartola novamente com uma faixa preta (Artº 65).

Para terminar a lição resta salientar que o uso de todas as Insígnias é feito sempre de Capa e Batina!"

16 16 de maio de 2023
- POR PEDRO MENDES -
ESPAÇO PATROCINADO PELO MCV CABRA DA PESTE
- PELO CONSELHO DE VETERANOS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA - MAGNUM CONSILIUM VETERANORUM -

CINEMA

- POR BRUNO OLIVEIRA -

Achar que há algo a acrescentar a tudo o que já foi escrito sobre 400 golpes talvez seja irrealista. Nestas linhas fica apenas uma homenagem. Um filme que parece retratar uma cidade através da história de Antoine, aquilo que foi em tempos considerado realismo contemporâneo, pode ser visto, em 2023 como um documento histórico. Nem Antoine, nem aquele Paris e nem Truffaut existem. A ingenuidade no fazer cinema também já ficou pelo caminho e esta obra dá-nos tudo isso. O filme vale apenas por esse retrato. As ruas de Paris vistas por Truffaut, a vida miserável que Antoine leva e como ainda assim aquela cidade é admirável.

A longa-metragem fica na história por várias razões, o frame congelado no final, o génio de Jean-Pierre Léaud, a biografia como um grande género de cinema, etc. Mas também como um

MÚSICA

golpe artístico nessa mesma autobiografia.

A leitura canónica de que o cinema salva o protagonista, na verdade não encontra alicerces no filme. Sabemos sim que foi isso que aconteceu ao pequeno François Truffaut. O cinema salva-o e ele constrói a vida em volta da arte. Por outro lado, isso não parece ser suficiente para salvar Antoine. Não parece haver forma de escapar ao desespero, nem o mar quando o

MELANCOLIA COM AROMA A HORTELÃ

Um dos mais prodigiosos talentos da música nacional contemporânea, MARO tem no seu percurso diversos marcos que falam por si. Entre colaborações em estúdio com artistas como Jacob Collier ou Milton Nascimento e outras tantas contidas na série de YouTube “Itsa Me, MARO”, a conquista do Festival da Canção 2022 e o seu subsequente sucesso no palco da Eurovisão, a artista lisboeta acarreta ainda uma prolífica carreira discográfica, estreada em 2018 com o lançamento de cinco álbuns no espaço de apenas um ano.

Este abril, o seu timbre suave e caloroso retornou com “hortelã”. Com um alinhamento total de dez faixas, que foram apresentadas, uma por uma e sucessivamente, ao longo das últimas semanas, este disco é um registo singelo e refinado em que MARO incorre num desafogo profundo. Gravado, segundo a própria, com “a intenção de deixar para trás o que foi e começar um novo capítulo”, “hortelã” é um álbum terapêutico onde a voz e a guitarra são os meios exclusivos para a reflexão da autora, como se a sua vontade, depois do barulho crescente que tem surgido em torno do seu nome, tivesse sido de pequenez e simplicidade.

Melancólico e amoroso, íntimo e introspetivo, este é um trabalho em que a emoção é tratada com adequada sinceridade. Misturando sotaques e idiomas, MARO deixa a sua escrita

escoar em traços firmes. Assim garante, por um lado, a individualidade de cada história sua, que só a ela lhe pertence, evidente em faixas como “fui passo calculado” ou “em porta trancada”. Por outro, atribui com destreza uma aura universal e relacionável aos sentimentos que irradia, demonstrados de forma clara em “just wanna forget you”, “hortelã” ou na maravilhosa “juro que vi flores”.

Com a devida imaginação, é possível conceber este disco como um pequeno livro de fotografias, espalhadas à solta por diferentes páginas,

avista pela primeira vez. Fica sempre a questão no ar, será que o oceano simboliza a liberdade ou é apenas mais uma parede?

Pode isto ser considerado uma liberdade artística numa autobiografia? Parece-me legitimo fazer esta leitura. Uma janela para a vida de Truffaut onde o cinema não foi suficiente. Uma vida pior.

ao qual a cantora convida gentilmente a conhecer. O que acontecer depois vem de acordo com o próprio visitante. Quantas vezes essas fotografias, mesmo adornadas, nos passam despercebidas, ou são reparadas apenas por um displicente instante; quantas vezes nos prendem o olhar e o pensamento, nos conduzem pelos corredores da memória e nos lavam a cara com sal. “hortelã” permite ambas as hipóteses, assegurando apenas que o aroma doce que traz embebido se prenderá aos olhos, humedecidos ou não, de quem o visita.

17 16 de maio de 2023 ARTES FEITAS
UMA
VIDA PIOR
- POR PEDRO DINIS SILVA -

CRÓNICAS DO TRODA

- POR ORXESTRA PITAGÓRICA -

Como é que é chavalas?

Já estão com saudades de receber assédios do outro lado do rio? A queima está ai à porta e já não há uma denuncia há uma semana na UC... Vejam se fazem a vossa parte!

Mas hoje não vimos falar de assédio... Numa semana em que vão beber cerveja como javalis, queremos apelar à segurança na estrada!

Nunca se esqueçam...Nem todas os autocarros são para andar e nem todos os motoristas são para conduzir! Isso é tão certo como o teto da tvAAC continuar a ter chuva; o Sarau Académico já estar morto e o Chá Dançante ir pelo mesmo caminho de desgraça e decadência. A nossa querida associação, das Magnas sem estudantes, é hoje também a dos trabalhadores que nada fazem. Somos adulterados todos os dias por um Zé que diz que os autocarros são para estarem nos parques. Por tudo isso, hoje

homenageamos o nosso pequeno, fadonho, cansado e especialmente, desprezível… Zé Parques.

Há uma coisa que é comum a todos os Zés Parques desta vida, e nós vamos enumerar para que o possam evitar na vossa vida também.

1. Acharão sempre que o argumento mais válido é falar, berrar e ser um autêntico javardo intelectual e experimental; 2. Acham que a sua razão é a razão; 3. Usam um auricular só numa orelha, podendo esta ter Bluetooth ou não, enquanto passam uma viagem de 10horas a berrar com a mulher por não lhe ter deixado a sopa de cavalo cansado feita, logo pela manhã;

A nossa questão prende-se no até quando vamos continuar a ser uma associação de trabalho medíocre, de promoção de inutilidade e do fundamentalismo retórico (se é que isso significa alguma coisa). Até quando vamos continuar a achar que temos legitimidade para reclamar

externamente o que quer que seja, enquanto formos o exemplo mais sagaz de tudo aquilo que não podemos ser?!

O Zé Parques é como aquele empregado de mesa que te responde "queria? já não quer". Acha que tem piada, mas no final do dia é só mais um incompetente a mamar na teta.

O nosso Zé Parques, é o idiota que todos queremos evitar, e por isso… evitem o vosso também! Mas porque a vida não são viagens de autocarro, não podemos ir embora sem falar na problemática das Repúblicas.

Então não há para ai uma República que curte por as malas de um caloiro à porta a uma semana da Queima? A estupidez continua a imperar na academia e ninguém diz nada... raios os partam! Continuamos a ter artistas que, por não comerem a caloira tesuda de 2005, sentem necessidade de mostrar que é quem manda lá em casa...

Alguém pode mandar sopa de cavalo cansado ali para a rua das Matemáticas? Pode ser que os grunhos aprendam a viver em sociedade....

Minhas queridas só vos queremos dizer mais uma coisa. Já toda gente sabe que "o sarau está perdido porque só oferece tunas", mas se quiserem curtir apareçam no final. Se ainda não é desta que vos apetece ir, vemonos no Chá Dançante ou na quinta-feira no parque da Canção.

Da vossa sempre OP

Elacom mobilidade reduzidamove-se com uma canadiana. Ele carinhosamente dá-lhe a mão e ajuda-a na subida.

#hávidanestacidade

cabreando por aí...

18 16 de maio de 2023 SOLTAS

O ambientalismo está na Moda

- POR LUA EVA BLUE - GRUPO ECOLÓGICO DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

“Roupa de Brancos Mortos” é uma expressão comum no Gana para roupa em segunda mão. A ideia é: para deixar tanta quantidade alguém teria de ter morrido. Vendedores locais compram grandes pacotes importados, cada um com centenas de peças que só conhecem quando os abrem e, como tal, não há previsão de qualidade ou possível lucro. São “restos” de outros países, entre roupa doada ou em ‘dead stock’. No mercado Kantamanto, 40 por cento destes produtos não é mais aproveitado e, por semana, centenas de toneladas de têxteis acabam em aterros que rodeiam a cidade de Accra, lícitos ou ilícitos. Estes dados vêm do projeto “Dead White Man’s Clothes”, da The Or Foundation, que pode ser um ponto de partida para se ler sobre o tema. Este desperdício não se deve apenas à quantidade de roupa produzida em excesso e exportada, mas também à sua qualidade. Os comerciantes afirmam que a qualidade de roupa enviada para o Gana tem vindo a diminuir ao longo dos anos, o que também leva a que não seja comprada pelos locais. É o chama-

do “waste colonialism”: o fardo do que ‘passou de moda’ ou já está gasto é passado para comunidades mais pobres como se fosse caridade. O Gana não consegue gerir estas quantidades: o metano dentro de toneladas de montes de roupa já gerou fortes fogos e é fácil pesquisar imagens das “praias de roupa” de Accra.

Cada vez mais se fala em segunda mão, ‘upcycling’, mercados de trocas e quaisquer iniciativas de promoção da economia circular no mundo da moda. Mas quando vejo uma loja que vende roupa em segunda mão que se apresenta como sustentável, e depois pede que a roupa “usada” não tenha “marcas de uso” (ênfase na contradição), ou esteja em ótimo estado, sem manchas, é caso para perguntar: Isto não promove o problema do destralhe dos “restos”? A questão é que não se vende o que não se compra - se calhar a sociedade deve mudar para as lojas conseguirem funcionar de forma verdadeiramente circular. Sustentabilidade, em vez de servir apenas o que ainda é novo, não seria a aceitação das manchas permanentes que mos -

OBITUÁRIO

- POR CABRA COVEIRA -

tram a história da peça, e dos remendos visíveis que mostram a mão de alguém?

O passado 24 de abril de 2023 lembrou os 10 anos da queda da fábrica Rana Plaza no Bangladesh, que causou 1134 mortes. Como notícia mundial, foi a primeira exposição que eu e muitas outras crianças na altura tivemos às etiquetas da nossa roupa: exploração, falta de segurança e de condições de saúde, trabalho mal pago e escravo, etc. Respostas ativistas como a Fashion Revolution Portugal lutam por mais transparência no setor.

Dez por cento das emissões de gases de efeito estufa vêm da indústria da moda. No ativismo, perguntam-nos muito: “E os trabalhadores que têm de vender?”. Tal responde-se com uma questão na qual o ambientalismo se apoia fortemente: “Se há recursos (terreno, energia, etc) para produzir e lidar com uma quantidade tão perigosa de produtos, não seria também possível, se essa produção diminuísse, usar esses recursos para ajudar quem dependeria desses trabalhos?”.

Queima-me a carteira Popós e cocós Czares e Czaras colegas

Mais uma Queima, mais um Míssil que rebenta. Eu bem queria um geral, mas a DG/AAC chegou à fila primeiro. O Santana bem me prometeu um tachinho quando ganhasse o núcleo, mas estava demasiado ocupado a matar o fado. Por falar em fado, a Pitagórquica bem dizia que "queria entrar na alimentação", só que o Wok Mondego não faz catering sem o Chefe Sanfins.

Pior está a FAN-Farra e a TMUC, que ficaram a chuchar no dedinho, à porta do Jorge Anjinho. Foi tão predestinado, que até rimou.

Mas oh Míssil, a minha mãe queria ir ver a Ivete Sem Galo, dá para pagar com beijinhos? É que com esta inflação, só vai lá com amor e carinho... ou então, investir no AL.

AUniãodas Repúblicas dos Academistas e Tachistas vem por este meio manifestar o seu repúdio pelo imperialismo... apesar de termos dado 12 pontos a Israel. Mas há filhos, e depois há enteados.

Chegou-me aos ouvidos que era um despedimento ilegal, mas tenho a certeza que o soberaníssimo Conselho Fiscal deu o seu parecer positivo. É uma pena, sempre quis ir a Moscovo ver as estátuas do meu OTP, o Marx e o Engels. Antes, o dinheiro que entrava dos cofres russos dava jeitinho, mas com o fecho das Cantinas da Sereia já não é preciso. Realmente, só iam lá os "tais sem-abrigos", isso é demasiado comuna. Mas com tão Boaventura, pode ser que o Milhazes venha assumir o cargo.

Beep beep mfkr, arranca e não para. Mas travão também é pedal. Já começa a ser prato do dia não se rallarem com os estudantes, mas o Tio Amílcar está-se pouco ralliando. Também, para que serve o NED e o NEFLUC?

A malta tinha era saudades de assistir às aulas de pijama. Ninguém gosta de ressacar a olhar para o trombil de um professor.

Com o preço do gasoil, até admira como ainda haja investimento para estas coisas. Achava que o dinheiro tinha ido todo para o camafeu do Chris Martin. Mas ao menos ganhamos tótil, tivemos direito a ver o trailer do último filme do Hot Wheels a passear pela alta. Já dizia o Faísca McQueen: KA-CHOW! P.S: Usem cinto de segurança.

19 16 de maio de 2023
SOLTAS

Mais informação disponível em

Editorial

...e o Sol volta a aquecer.

- POR JOANA CARVALHO -

Podia aproveitar este editorial para escrever sobre os assuntos mais fraturantes que têm assolado a nossa atualidade. No entanto, este editorial não é um editorial qualquer e o que não falta é tempo para falar das tristezas e amarguras da vida quotidiana. Por isso, neste pequeno texto, quero falar das alegrias.

O meu percurso neste jornal começou há cerca de quatro anos. Durante esse tempo, atravessei o início e o fim de uma pandemia, assim como a conclusão de uma licenciatura. Foi também o momento em que a minha consciência política se consolidou. Esta temporada representou, portanto, um momento em que pude crescer enquanto pessoa. E senti que a própria cidade cresceu ao mesmo tempo.

Ao longo deste ano letivo, também o Jornal A Cabra cresceu e teve a oportunidade de cobrir diversos temas que disseram muito à comu-

nidade que o segue. Do Ensino Superior até a Cidade, tentou-se fazer desta publicação, como prometido no início do ano, um meio para aqueles que gritam e são tantas vezes ignorados poderem ser ouvidos.

Dizer adeus a algo que se dedica tanto da nossa vida é uma sensação agridoce. Sobretudo sabendo a importância que tem para a academia este pequeno jornal, preparado e pensado num espaço plantado entre a RUC e a DireçãoGeral da Associação Académica de Coimbra.

Nestas quatro paredes, riu-se, chorou-se, gritou-se, tudo por amor a algo que representa todos nós. E àqueles que quiseram embarcar nesta aventura comigo, que estiveram presentes nos momentos mais desafiantes, presença essa que se traduziu num trabalho do maior calibre: o mais sincero “está lá dentro”, acompanhado por um FRA de gratidão!

Errata:

Na página 17 da Edição 313 do Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA, onde se lê “Por Luís Gonçalves” deve ler-se “Por Mateus Araújo”.

Na página 23 da Edição 313 do Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA, onde se lê “Por Jéssica Sá”, deve ler-se “Por Lua Eva Blue”. Na página 24 da Edição 313 do Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA, nas colaborações, deve acrescentar-se os nomes de Mateus Araújo, Miguel Santos e Tiago Paiva. Aos visados, as nossas desculpas.

FICHA TÉCNICA

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

Depósito Legal nº478319/20

Registo ICS nº116759

Propriedade Associação Académica de Coimbra

Morada Secção de Jornalismo

Rua Padre António Vieira, 1

300-315 Coimbra

Diretora Joana Carvalho

Equipa Editorial Luísa Macedo Mendonça & Simão Moura (Ensino Superior), Raquel Lucas & Ana Filipa Paz (Cultura), Larissa Britto & Fábio Torres (Desporto), Eduardo Neves & Sofia Ramos (Ciência & Tecnologia), Clara Neto & Daniel Oliveira & Sofia Variz Pereira (Cidade), Sofia Ramos (Fotografia)

Colaborou nesta edição Lucília Anjos, Mateus Araújo, Larissa Britto, Ana Cardoso, Matilde Dias, Gustavo Eler, Daniela Fazendeiro, Andreína de Freitas, Sofia Moreira, Mariana Neves, Tiago Paiva, Luísa Rodrigues, Miguel Santos, Marijú Tavares, Fábio Torres

Conselho de Redação Luís Almeida, Tomás Barros, Inês Duarte, Filipe Furtado, Leonor Garrido, Hugo Guímaro, Margarida Mota, Bruno Oliveira, João Diogo Pimentel, Paulo Sérgio Santos, Pedro Emauz Silva

Fotografia Mateus Araújo, Larissa Britto, Gustavo Eler, Simão Moura, Sofia Ramos, Fábio Torres

Paginação Joana Carvalho, Tiago Paiva, Miguel Santos, Fábio Torres

Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A. Telf.239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra

Tiragem 2000

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