Revista horizonteS n °1

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horinzonteS - edição 1

O JEITINHO BRASILEIRO DE FAZER ARTE Ana Clara Seberino anacseberino@gmail.com

O

cinema hollywoodiano sempre teve grande impacto na vida dos brasileiros, o sonho de vida americano vendido pelos Estados Unidos se faz presente até hoje nas telas brasileiras e está sempre no topo das salas de cinema. Entre os filmes mais assistidos nos cinemas, é comum o campeão de bilheteria ser estadunidense como Vingadores: Ultimato, de Joe e Anthony Russo, e Avatar, de James Cameron, que levaram multidões de brasileiros aos cinemas. Crescemos assistindo a produções da Walt Disney Pictures, sonhando em sermos princesas, príncipes, heróis e heroínas. Na adolescência, queremos escolas com armários nos corredores, ônibus amarelos, líderes de torcidas e jogadores de futebol americano. O Clube dos Cinco e Curtindo a Vida Adoidado, dos anos 1980, já levaram milhares de adolescentes a assistirem uma realidade que não condizia com a brasileira. Afinal, você já viu alguma escola daqui com detenção? O primeiro longa-metragem produzido no Brasil foi exibido em 1914. O Crime dos Banhados tinha mais de duas horas de duração e foi produzido pelo português Francisco Santos. Após, a cena audiovisual brasileira passou por altos e baixos, até chegarmos ao cenário atual: em 2010, o Plano Nacional de Cultura do governo federal estabeleceu como meta lançar 150 filmes por ano em 2020. A meta foi ultrapassada em 2017, três anos antes do prazo, com 160 filmes lançados e um público de 17 milhões de pessoas. Em 2018, o número de filmes pulou para 171 e o público chegou a alcançar 23 milhões de espectadores. Por muito tempo, a cultura brasileira foi deixada de lado pelos próprios brasileiros. Importou-se músicas, filmes e séries que são distantes da nossa história como nação. E não que seja errado consumir produções norte-americanas ou europeias, por exemplo. Entretanto, a qualidade de filmes brasileiros, tantas vezes criticada pela própria população, não pode ser negada: Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, teve quatro indicações ao Oscar em 2004; Fernanda Montenegro foi in-

dicada para concorrer como melhor atriz por Central do Brasil, por exemplo. Em Santa Cruz do Sul, o Festival Santa Cruz de Cinema teve sua primeira edição em 2018. Com o intuito de premiar obras audiovisuais de todo Brasil, o evento teve 614 filmes inscritos em 2019 na Mostra Competitiva de 21 estados brasileiros. Além da Mostra Olhares Daqui, com os filmes produzidos pelos acadêmicos de Produção em Mídia Audiovisual da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). O evento é realizado pelos Cursos de Comunicação Social da universidade, pelo Sesc e Pé de Coelho Filmes e patrocinado pela JTI e pela Unimed do Vale do Taquari e Rio Pardo. As produções audiovisuais exibidas nas três edições do Festival (2018, 2019 e 2020) conseguem se aproximar do público, contar histórias parecidas com as nossas, é possível se enxergar na tela e nas narrativas. A sétima arte imita a vida e consequentemente influencia a forma como enxergamos o mundo em que vivemos. E vivemos no Brasil. É necessário valorizarmos a nossa cultura, valorizarmos o jeitinho brasileiro de fazer cinema, de fazer arte, de comemorarmos a nossa diversidade cultural, celebrarmos que, mesmo com pouco incentivo, os profissionais da área entregam trabalhos impecáveis. E não apenas como forma de entretenimento, mas também como críticas sociais aos problemas que o nosso país enfrenta diariamente e deve ser denunciado. Enxergar Marias, Joãos, Gabrielas, Anas, Pedros, Carlos, Josés, Camilas e Lucianos tem um impacto diferente quando ligo a televisão. Um dos papéis da cultura é trazer a identificação, o resgate histórico e a diversidade étnica e regional, o cinema brasileiro faz também com que entendamos o papel da cultura na nossa vida. Prestigie o cinema local, valorize a riqueza das produções culturais nacionais, se enxergue na tela, ouça o seu sotaque e veja o seu cotidiano. Veja o jeitinho brasileiro de fazer, e muito bem, arte.

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