PALAVRA FINAL
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NICOLA TINGAS*
INFLAÇÃO ELEVADA, RENDA DECRESCENTE E NORMALIZAÇÃO DE JUROS
A
pandemia da covid-19 e variantes tem gerado intermitência na retomada da atividade econômica global. Instituições multilaterais têm destacado o fenômeno inflacionário. Houve volatilidade da inflação durante a pandemia: queda em 2020 e alta importante em 2021. Ocorrências explicam a oscilação: paralisação instantânea de oferta e de demanda em 2020; ritmo desigual de retomada; assimetrias na produção e no consumo; mudança de sazonalidade nos mercados de bens e serviços. Tudo afetado pelo ritmo de vacinação e pela capacidade de cada país de ofertar liquidez, renda emergencial, gasto público e crédito. No Brasil, a retomada de atividade foi assimétrica, agravada pela lentidão inicial na vacinação e pelo novo ciclo de alta nos óbitos até abril (agora decrescentes). A descontinuidade na renovação da renda emergencial e crédito para 2021 atrasou o ritmo 9,0 de retomada de atividade e obstruiu melhor oferta de emprego e 8,0 acesso à renda. 7,0 A inflação, em crescente alta, superou as expectativas iniciais. 6,0 O IPCA-15 de julho acumulou 5,0 8,59% em 12 meses. A pressão concentra-se em grupos de pre4,0 ços de maior consumo de famílias 3,0 de baixa renda (alimentação no 2,0 domicílio, gás de cozinha, transportes, energia elétrica). Com 1,0 desemprego e escassez de trabalho, a "renda líquida" das famílias jun/18 diminuiu. A retomada ocorre com
desigualdade, promovida por quem manteve emprego, renda e poupança. Para combater a ascensão inflacionária o Banco Central tem aumentado a taxa básica de juros para obter sua normalização (juros reais acima da inflação, de 3%). Busca cumprir meta de inflação de 3,5% em 2022. Uma tarefa difícil em ambiente de "choque de oferta" e pressão de custos e de margens. Seria menos difícil se fosse um “choque de demanda", que responde melhor ao aumento de juros. Será uma "jornada de maestria" achar o ritmo e a extensão do ajuste total de juros, para superar a atual fase de juros negativos quando comparados com a inflação de 12 meses (expost). Além de levar em conta que a retomada de atividade é assimétrica, defasando a recuperação de emprego e de renda. f Evolução Juros x Inflação IPCA-15 (Ex-post) IPCA 15 - var. % 12 meses Taxa de Juros Selic
jun/19
% a.a.
jun/20
jun/21
(*) Nicola Tingas é consultor econômico da Acrefi. | Concluído em 25.7.2021
financeiro#124 agosto 2021