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Entrevista
A investigação do LNEG
para tornar Portugal mais eficiente e sustentável
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A produção de hidrogénio verde, a integração de energias renováveis em edifícios urbanos, o mapeamento e a exploração dos recursos geológicos estão entre as prioridades do Laboratório Nacional de Energia e Geologia. Teresa Ponce de Leão, presidente deste laboratório público, destaca alguns dos contributos mais relevantes do organismo, que opera com financiamento do Estado e da União Europeia. O desafio da transição energética e a exploração sustentável e eficiente dos recursos energéticos e geológicos do país são os seus principais desígnios.
Texto Susana Marques smarques@ccile.org Fotos DR
Quais são os projetos mais tegicamente em contribuir para a peu ou ainda através de contratos relevantes do LNEG? agenda 2030 com projetos alinha- com empresas, a título exemplifiSomos uma instituição de dos com os objetivos de desenvolvi- cativo das duas formas de finaninvestigação e desenvol- mento sustentável identificamo-nos ciamento, destaco: O “Mapping vimento que concentra a como contribuindo para “construir the H2 potential for H2 projects sua atividade no conhecimento e um futuro mais limpo e melhor”, in Portugal”, que nos permitirá no bom uso dos recursos naturais sendo este o nosso lema. aumentar o conhecimento relatido nosso país, nomeadamente nas identificando alguns projetos que vamente aos recursos naturais disenergias renováveis, da eficiência alinham com este posicionamen- poníveis para a produção do hidroenergética e dos recursos geológi- to, podendo ser desenvolvidos com génio verde em particular o acesso cos. como nos posicionamos estra- financiamento nacional ou euro- a fontes de água, à disponibilidade
Teresa Ponce de Leão Presidente do LNEG
de recursos renováveis para a sua produção, ao acesso às infraestruturas e ao acesso às diferentes formas de armazenamento devidamente enquadrado pelas restrições associadas ao terreno e ao ambiente; O “Study regarding decision support for H2 projects deployment in Portugal”, contrato já finalizado, estudou diferentes formas de uso de diferentes tipos de água, desde a água do mar às águas residuais; O projeto “Babet-Real5 – New technology and strategy for a large and sustainable deployment of second generation biofuel in rural areas” (Programa Horizon 2020). Este projeto, finalizado em 2020, estudou a cadeia de valor que permite produzir biocombustíveis de segunda geração, isto é, que cumprem com as obrigações impostas na certificação de sustentabilidade desta fonte de energia; Na área de energia no ambiente construído, por exemplo o projeto idEAS “Novel building integration designs for increased Efficiencies in Advanced climatically tunable renewable energy Systems”, que estuda como integrar sistemas de energia renováveis a custos reduzidos no edificado urbano, para habitação, edifícios público e comerciais; O projeto improvement-“integration of combined cooling, heating and power microgrids in zero-energy public buildings under high power quality and continuity of service requirements”, no âmbito do Programa interrreg Sudoe, tem como objetivo renovar/converter edifícios públicos, existentes, em edifícios com necessidades de energia quase nulas, integrando micro-redes de energia renovável com geração combinada de calor, frio e eletricidade e sistemas de armazenamento.
E no domínio da geologia? O lNEG é ainda através das suas competências geológicas, o Serviço Geológico Português sendo membro titular dos Serviços Geológicos Europeus, EuroGeoSurveys. As principais áreas de investigação nesta área são a Geo-informação, a Geologia e Perigosidade geológica, os Recursos geológicos e a tecnologia mineral. O lNEG desenvolveu ainda um potente GeoPortal, onde disponibiliza ao utilizador toda a sua informação georreferenciada, seja de geologia seja de energia. A atividade neste campo consiste no desenvolvimento do conhecimento geológico do país e a sua transposição para mapas geológicos, produzindo cartografia geológica básica e temática, apoiada por levantamentos de campo sistemáticos a várias escalas de detalhe e por métodos
indiretos de trabalho, atualmente disponíveis. cobre um amplo espectro: geologia aplicada, hidrogeologia, geologia costeira, riscos geológicos, geotermia, armazenamento geológico, recursos minerais e património geológico. A investigação aplicada de depósitos minerais para inventário, caracterização, processamento e valorização do potencial de recursos minerais para a economia é outro pilar do plano de investigação. Relativamente às Matérias-Primas críticas (MPc), importa referir que depende de vários fatores geológicos, políticos e técnicos. A procura de novas fontes de matérias-primas está condicionada pelas tecnologias emergentes e fatores económicos. As matérias-primas são consideradas “críticas” quando o seu risco de fornecimento e impacto económico é considerado elevado relativamente a outras matérias-primas. destaco o mapa de “depósitos de Matérias-Primas críticas em Portugal continental” que constitui uma compilação de ocorrências e depósitos conhecidos que contêm alguma das MPc de acordo, com a última lista publicada em setembro de 2020. O lNEG contribui assim para um incremento do conhecimento das MPc em território nacional. também o projeto FRAME “Forecasting and Assessing Europe’s Strategic and Raw Materials Needs” com financiamento Horizon 2020, cujo objetivo é estudar as matérias-primas críticas e estratégicas na Europa. também de destacar o projeto EXPlORA/AlENtEJO2020 – concluído recentemente e que teve apoio dos programas Alentejo2020, Portugal2020 e FEdER. Este projeto concretizou a transferência de conhecimento para empresas e universidades, no quadro da Estratégia de Especialização inteligente da Região do Alentejo. Serão editados quatro mapas de depósitos minerais, escala 1:200 000, correspondentes à zona Sul de Portugal. Além de projetos, em geral com financiamento Europeu ou através de Fundos Estruturais, o lNEG desenvolve estudos, relatórios e pareceres em várias áreas, onde destaco vários exemplos: Na área dos Materiais para a Energia, através de estudos de corrosão para as empresas tendo desenvolvido um Atlas Nacional para a corrosão; Nas políticas públicas, no apoio à definição de estratégias nacionais, como o plano nacional da eólica, o plano solar para o Sul de Portugal ou mais recentemente na Estratégia Nacional para o Hidrogénio; Na revisão e transposição da diretiva europeia para as renováveis REd ii, em particular na legislação para os gases renováveis; No ordenamento do território através da aplicação do conhecimento dos recursos e riscos geológicos para a avaliação de projetos de índole diversa.
Que impacto têm ou poderão ter para a indústria nacional os projetos que o LNEG está a desenvolver? O lNEG em geral não produz produtos, mas antes, apoia com o seu conhecimento, o desenvolvimento de processos. Os nossos parcei-
ros são nacionais e internacionais. como referido acima e ligando aos projetos referidos temos empresas na área do hidrogénio verde e as empresas mineiras.
Quem são os principais parceiros do LNEG? Com que universidades trabalham? Para o lNEG, o sucesso não está mais no segredo, mas na capacidade de ter boas colaborações, daí ter sido a nossa aposta integrarmos e sermos reconhecidos pelas mais importantes redes europeias e mesmo internacionais. Entre outras participações, o lNEG é membro fundador desde 2008 e membro do Executive committee da European Energy Research Alliance, vice-presidente da European Sustainable Energy innovation Alliance, membro do Executive committee do EuroGeoSurveys, tendo assumido a presidência durante três anos, membro do committee for Energy Research and technology da international Energy Agency e membro ainda de vários grupos de trabalho, membro da international Renewable Energy Agency desde a entrada em Portugal em 2012, membro da Asociación de Servicios de Geologia Y Minería iberoAmericanos que junta a ibéria aos países da América latina, mas com estreita ligação ao uSGS, serviços geológicos dos EuA. temos parcerias com as principais universidades nas nossas áreas de competência, desde o Minho ao Algarve. A demonstrar essa colaboração publicámos recentemente o livro ”Fórum Energias Renováveis 2020”, onde está bem patente essa colaboração.
Como se processa a Vossa relação com as empresas? A nossa relação com as empresas advém em geral do reconhecimento pela sociedade dos resultados que publicamos ou dos resultados que resultam de colaborações bem-sucedidas.
Qual é o orçamento anual do LNEG? Num orçamento total de 17,2 milhões de euros, 9,6 milhões de euros têm origem no orçamento do Estado.
Quantas pessoas emprega o LNEG? Nós fomos contemplados com o processo de regularização de trabalhadores precários. Esta integração permitiu rejuvenescer os nossos quadros. Neste momento, com a integração dos chamados PREVPAP contamos com 271 trabalhadores, 114 investigadores.
A integração dos projetos do antigo INETI está concluída? O iNEti, instituto multidisciplinar, atuava em áreas como a saúde, alimentar até à energia, antecedeu o lNEG e foi extinto por resolução de conselho de ministros. O lNEG, organismo novo, criado na mesma RcM, herdou as pessoas e os projetos ligados à energia e geologia. Os que foram transferidos para o lNEG foram todos concluídos.
Todas as formas de energia renovável se complementam de alguma forma. Portugal está no bom caminho para potenciar essa complementaridade no futuro? O Pacto Ecológico Europeu (European Green deal) deixa claro que para uma Europa 100% descarbonizada em 2050 a Europa aposta em primeiro lugar, ou se quisermos de forma mais transversal a todos os setores, na eficiência energética; em segundo lugar, na exploração massiva das fontes renováveis que como sabemos têm características regionais; em terceiro lugar, no complemento com gases renováveis, onde se insere o hidrogénio verde. São várias fontes de energia que têm de ser geridas de forma integrada tendo ainda atenção às características regionais. Os níveis de eólica nos países do norte são superiores, enquanto o potencial solar é
superior no sul. A digitalização é o elemento que permite otimizar essa integração assim como a sua ligação às infraestruturas.
Até que ponto a pandemia, que veio baixar os níveis de poluição, também não irá retardar a adoção de práticas mais sustentáveis pelos organismos públicos e pelas empresas? A pandemia veio baixar os níveis de poluição pois a atividade económica reduziu drasticamente. No entanto também veio demonstrar e por isso acelerar a viabilidade de aumentarmos fortemente a penetração das energias renováveis no sistema sem problemas para a sua gestão.
Portugal continua a ser dos países com preços do gasóleo mais atrativos do que o da gasolina. Qual é sua opinião sobre a melhor forma de incentivar a compra de veículos menos poluentes? Os incentivos fiscais e de facilitação na circulação, vantagens no estacionamento, corredores específicos e nas portagens, são aqueles que têm tido sucesso noutros países. uma disseminação alargada dos benefícios a longo prazo, nomeadamente demonstrando o custo-benefício, seria benéfica. também será necessário capilarizar a rede de carregamentos nomeadamente através de legislação específica para as cidades.
Qual será a intervenção do LNEG, caso Portugal avance na produção de lítio? O lNEG produz conhecimento na área da geologia e terá sempre um papel técnico quer na avaliação do recurso, na sua viabilidade de exploração e da transformação do produto explorado em concentrados de lítio.
Como potenciam os ativos da Litoteca do LNEG? A litoteca disponibiliza nos seus três arquivos de amostras de subsolo, localizados nas regiões norte (S. Mamede infesta), centro (Alfragide) e sul (Aljustrel), informação científica a investigadores, estudantes, autarquias locais, organismos e empresas. disponibilizamos consulta online da base de dados de sondagens, Sondabase, com informação sobre a localização e objetivo e a possibilidade de consulta presencial e amostragem mediante autorização salvaguardadas questões de confidencialidade. Estes elementos são muito úteis às empresas que se dedicam à atividade de exploração mineral.
O que podemos esperar do LNEG, nos próximos anos? O lNEG percorreu um percurso de focalização e especialização nas suas áreas de enfoque. criou uma nova área de economia de recursos que visa aportar a componente de viabilidade técnico-económica aos diferentes projetos para que os investimentos possam ser decididos com base em informação sob a forma de indicadores segundo os critérios da sustentabilidade. O lNEG pretende ainda contribuir para que os projetos, que sejam financiados, quer a fundo perdido quer seja através da banca, sejam devidamente comparados em função dos seus indicadores de sustentabilidade. O lNEG trabalha para dar contributos de valor acrescentado com vista à total descarbonização em 2050.