11 minute read
Espaço de Lazer
LSD, para “viciados” na partilha de petiscos
Localizado no Largo de São Domingos, justificação geográfica para o nome, o LSD volta a ter carta assinada por João Pupo Lameiras, com matriz portuguesa e influências espanholas e de outras paragens. O chefe, empresário e consultor em vários restaurantes, aguça-nos o apetite para algumas das surpresas que pretendem “viciar” os clientes deste espaço portuense.
Advertisement
Textos Susana Marques smarques@ccile.org Fotos DR
João Pupo lameiras e o seu sócio José Ribeiro abriram o lSd há oito anos, quando a animação em torno da rua das Flores e do largo de São domingos, no Porto, ainda era uma promessa. O turismo estava a começar a acelerar e aquela zona da cidade, em plena Baixa portuense, estava em obras. com alguns dos mais carismáticos edifícios da cidade, incluindo a igreja da Misericórdia, legado barroco, reedificado pelo arquiteto Nicolau Nasoni, esta zona, vizinha da icónica Estação de São Bento, transformou-se numa das mais movimentadas do Porto. Além do lSd, outros projetos de restauração ali se sediaram, enriquecendo a oferta gastronómica da Baixa portuense. “com o crescimento do turismo, esta era uma das zonas mais animadas, antes da pandemia, e o lSd beneficiou desse bom momento. tivemos sempre muitos clientes portugueses e estrangeiros e fomos adaptando a carta, em função disso. Acredito que voltaremos a ter esse dinamismo.”
O conceito que agarrou os clientes mantém-se o mesmo: petiscos e partilha. “A carta tem vários petiscos, mas mesmo os que poderiam ser considerados pratos principais, como as costelas de porco ibérico com batata nova ou o robalo com legumes assados, são partilháveis, ou pelo menos é assim que eu prefiro consumi-los à mesa do lSd”. A carta sugere isso mesmo, estando dividida pelas secções “tábuas”, uma de salmão curado na cozinha do lSd e outra de queijos, pela generosa secção “partilhar”, com quinze propostas; a secção de “sides” (acompanhamentos), que inclui salada de cebola e laranja com folhas verdes e batata frita com maionese de alho e salsa; uma secção infantil, que não poderia ser mais consensual, já que é composta por sopa, bife com batatas fritas e ovos estralados com batatas fritas; por último a secção “doces”, onde figura o parfait de chocolate (um best seller que transita das cartas anteriores), mas também novidades como o pavé de maça assada, com canilha de leite-creme e gelado de especiarias, ou o gelado fumado à lareira.
João Pupo lameiras, que saiu do projeto poucos meses depois da abertura, para abraçar outros desafios, regressou no ano passado. “Gosto muito dos donos (José Ribeiro e cândido Ribeiro) e aceitei voltar como consultor gastronómico, para redefinir a carta.”
O chefe assegura que o objetivo é “servir comida saborosa e consensual, que é sempre muito importante num negócio, sem grandes truques”. A gastronomia portuguesa é sempre uma inspiração e “está presente, quer pelos ingredientes, quer por algumas técnicas ou recei-
tas”, mas também é possível encontrar outras influências. Mesmo os pratos de bacalhau, onde a portugalidade pode ser óbvia, são permeáveis a técnicas de outras geografias. Exemplo disso é o “bacalhau no forno”, que “é servido numa sertã de paelha e confecionado de forma semelhante, já que se trata de um arroz com cebola e pimento tostado e leva uma maionese alioli”. também de inspiração espanhola é a “tosta bikini”, nome ancorado na forma triangular da tosta, e que no caso da versão de inverno do lSd é uma tosta trufada com três queijos e cappuccino de cogumelos e castanha. “Poderemos manter esta tosta no verão, mas com outros ingredientes”, adianta o chef. Outra proposta que grita “olé” é a croqueta de polvo, que na secção partilhar, surge seguida de um tentador parêntesis: (com muito polvo). Mantendo a tónica ibérica, o tiradito de bacalhau (laminado) com molho picante de presunto pata negra.
Além de gerir os seus próprios restaurantes (Bacalhau, Muro do Bacalhau e Ro, todos no Porto), João Pupo lameiras presta consultoria em vários outros projetos. “Não há muitas pessoas a fazer isso em Portugal e penso que, como sou muito organizado e vou somando experiência e pesquisa nesta área, as pessoas confiam no meu trabalho”. O chef é consultor na casa de Pasto da Palmeira (Foz do Porto) e na casa de Pasto das carvalheiras (Braga), mas já trabalhou como consultor para outros projetos. licenciado em Engenharia civil, João Pupo lameiras, de 35 anos, começou a cozinhar cedo: “comecei pelas bolachinhas, ainda criança, mais tarde cozinhava para os meus amigos e sempre gostei, assistia aos programas de culinária da BBc. No entanto, não estava convencido de que a minha carreira profissional fosse na restauração, porque nunca achei muito apelativa essa rotina”. O curso de engenharia acabou por lhe dar “ferramentas e formação” que hoje são uteis no trabalho de gestão e de consultadoria”. Voltado para o largo, o restaurante proporciona momentos de partilha também na esplanada, de terça a domingo.
LSD Largo de Sao Domingos - Porto Telemóvel: 9109298589
espAço de lAZer espacio de ocio Agenda cultural
Livro “Conta-me Como Não Foi”
Afinal a tão falada escola náutica de Sagres nunca existiu. A escola criada pelo infante D. Henrique para formar muitos dos nossos marinheiros no século XV existiu, mas em Lagos, onde a baía proporcionava condições de navegação mais favoráveis do que a escarpada costa de Sagres. Este é um dos mitos que o jornalista Rui Cardoso aborda no livro “Contame Como Não Foi”, que analisa também vários outros mitos e mentiras da História de Portugal. Ficamos a saber que “Viriato, que, em boa verdade, andou mais pela Andaluzia do que pela Serra da Estrela”, entre outras histórias que pousam a lupa sobre vários acontecimentos da História de Portugal. “As inverdades e mentiras na nossa História são, elas próprias, uma história sem fim, que se estende até tempos bem mais recentes. Ainda hoje há quem acredite que, em 1975, Portugal esteve à beira de uma guerra civil e que só a vitória das ‘forças democráticas’ no golpe militar de 25 de Novembro desse ano reconduziu o país ao bom caminho. Só que esta tese é tão historicamente informada como dizer que Portugal começou com um filho a bater na mãe… Viajemos, pois, ao encontro dos mitos da História de Portugal”, escreve Rui Cardoso, na introdução do livro, que se divide em duas partes. “Uma primeira, dedicada aos mitos e à sua génese, seja em matéria de heróis, seja dos monumentos que celebram os seus feitos, sem esquecer as releituras encenadas do passado, os atentados à memória histórica e ao património, para além dessa quinta essência da mitificação que são os hinos, nomeadamente os nacionais. Na segunda e última parte analisam-se alguns mitos que me pareceram centrais, começando pelo nebuloso Viriato e por esse arremedo freudiano de Afonso Henriques a bater na rainha Teresa e, navegando séculos fora, Aljubarrota, a suposta Escola Náutica de Sagres, Alcácer Quibir, o ultimato britânico, a guerra colonial, o 25 de Abril ou o PREC.”
Exposições A pintura de Pepe Barragán no Centro Cultural de Cascais
Na década de oitenta, a pintura abstrata geométrica ganhou protagonismo nas pinceladas de Pepe Barragán, um pintor “autodidata, com bons mestres”, nascido em Sevilha, em 1956. Parte da sua obra abstrata está em exibição na mostra “Ritmos e Variações”, na Fundação Luís I - Centro Cultural de Cascais, até 29 de maio. Tendo começado a pintar e a expor ainda jovem, Pepe Barragán não cursou Belas Artes, mas cultivou o convívio com outros artistas, como Paco Molina (incansável impulsionador da arte moderna em Sevilha. O pintor teve a sua primeira exposição individual na Libraria Antonio Machado em Sevilha, em 1978, seguindo-se outras. Nesta fase, Barragán pintava sobretudo figuras expressionistas, mas foi “abandonando as figuras humanas” e “mostrando objetos quotidianos e de grande força cromática”. Foi na abstração geométrica que “encontrou a linguagem mais adequada às suas inquietudes”. Com diversas exposições individuais e coletivas e a presença em diversas coleções de arte, Pepe Barragán também ganhou vários prémios de pintura, com destaque para o prémio Nacional de Pintores, em 1992, organizado pela la Caixa, com uma obra dedicada a um dos seus elementos iconográficos preferidos, a guitarra”. O pintor expôs pela primeira vez em Portugal (em Lisboa), em 1998. Esta nova mostra é uma oportunidade para testemunhar o trabalho de Barragán realizado nas últimas décadas: “Barragán procura com afinco nas suas obras explorar os limites da arte: o desejo de encontrar a fronteira na qual a forma geométrica passa de um simples objeto a uma obra de arte.”
Até 29 de maio, no Centro Cultural de Cascais
O “Império do medo”, na Fundação Saramago
Mais de 150 anos passados sobre a abolição em Portugal, a Fundação Saramago, em Lisboa, acolhe uma exposição sobre a escravatura, “rememorando o tráfico negreiro, a sua violência e circunstâncias, mas também a luta porfiada das vítimas e de quantos se lhe opunham”, como se frisa na sinopse desta mostra que evoca o “verdadeiro império do medo”. Recorde-se que “a escravatura causou a deportação para as Américas de mais de 12,5 milhões de africanos” e que “na sequência da escravatura, seguiram-se anos de colonialismo, discriminação ou segregação, que deixaram um rasto de racismo estrutural nos países que foram potências escravocratas e/ou colonizadoras”. Esta viagem ao passado procura também refletir sobre “as novas servidões do nosso tempo e as diferentes manifestações de racismo”. Com curadoria de Ana Maria Calçada, esta exposição tem como comissários: Alfredo Caldeira, Fátima Sá, Isabel do Carmo, Patrícia Alves, Paula Cabeçadas e Raquel Santos. “Os registos para que a memória não se apague são determi-
nantes no reforço dos factos e da história. Os paradigmas que hoje vivemos exigem reflexão, pelo que esta exposição ganha oportunidade, dando um contributo sobre factos e circunstâncias: a Escravatura e o percurso na sua abolição em Portugal e no mundo”, frisa-se na sinopse.
Até 30 de março, na Fundação Saramago, em Lisboa
Mostra sobre Arte PréHistórica ibérica, no Museu do Coa
Em 1921Madrid acolhia “uma exposição pioneira a nível Mundial que marcou o início da difusão em larga escala da arte mais antiga criada pelos seres humanos”. Essa mostra sobre arte pré-histórica reunia “duas décadas de documentação e estudo realizado por investigadores espanhóis, franceses e alemães” e procurava “dar visibilidade a uma investigação, muitas vezes levada a cabo com limitações com poucos meios e de uma forma heroica em grutas e lugares de difícil acesso”. Ao mesmo tempo, a exposição tentava no início do século passado “transmitir a um público, que ainda não tinha descoberto o turismo cultural, a grandeza desta arte primitiva”, recorda o Museu do Coa, que acolhe agora uma mostra semelhante. A instituição que foi criada após a descoberta das gravuras rupestres no vale do rio Coa e da atribuição da categoria de Património mundial da Unesco à região, celebra esta “exposição de Arte Pré-Histórica de 1921”,através da mostra “Pré-Histórico: Da Rocha ao Museu”, que exibe um total de 270 peças, como gravuras alusivas aos bisontes de Altamira ou ao grande auroque [boi selvagem] do vale do rio Côa, bem como artefactos do quotidiano pré-histórico, esculturas e fragmentos de arte rupestre originais, entre outros testemunhas de diferentes épocas cronológicas. Esta mostra resulta de uma parceria entre a Fundação Côa Parque e do Museu Nacional de Arqueologia (Madrid) e conta com a curadoria de Eduardo Galán e de Ruth Maicas. À agência Lusa, Eduardo Galán Domingo, referiu que esta exposição “tem representadas duas faces do mesmo património”, ou seja “por um lado, a primeira descoberta da arte pré-histórica da humanidade que aconteceu no século XIX, nas grutas de Altamira, e a descoberta ao ar livre das gravuras do Côa”. O investigador e curador considera que este diálogo” entre pinturas das cavernas e gravuras ao ar livre que é “muito valioso para a humanidade”. De assinalar que a exposição feita há um século em Madrid “foi considerada um marco na história da arte pré-histórica” e “fez com que estas manifestações sejam hoje universalmente reconhecidas e muitas delas, distinguidas como Património Cultural da Humanidade”. Na altura, o impacto foi tal que viabilizou “a entrada da arte pré-histórica nos museus, primeiro através de representações que acabariam por evoluir para fórmulas mais complexas, procurando envolver o espectador no ambiente em que a arte foi criada”.
Até 12 de maio, no museu do Côa
Textos Susana Marques smarques@ccile.org Fotos DR
“Frida Kahlo, A Vida de um Ícone”, na Alfândega do Porto
A vida de Frida Kahlo gera quase tanto interesse como a sua obra, talvez porque a correlação entre vida e obra é particularmente evidente no caso da pintora mexicana. A pintora que pintava na cama auto-retratos que expressavam a forma como via o exterior e o interior do seu corpo é a protagonista da nova exposição imersiva da Immersivus Gallery, na Alfândega do Porto “A sua vida, espírito rebelde e talento inspiram enquanto mulher de personalidade forte, singular e fora do seu tempo”, frisa o comunicado da mostra “Frida Kahlo, A Vida de um Ícone”, que pode ser vista no Porto a partir de 10 de março e até 30 de junho. Através de “fotografias históricas e filmes originais”, o visitante será “guiado por diversos ambientes sonoros e artísticos que reproduzem momentos relevantes na vida de Kahlo, mostrando a história por detrás do ícone”. Esta criação multimédia sobre “uma das artistas mais influentes de todos os tempos” divide-se em dois momentos: “No primeiro, percorre diversas instalações artísticas, onde pode vivenciar a realidade virtual e criar um modelo personalizado de Frida. Posteriormente, será imerso num espetáculo audiovisual em 360º pautado por momentos singulares do percurso pessoal da artista.” A organização, resultante de uma parceria do OCUBO com a Fundação Frida Kahlo Corporation, a galeria Ideal Barcelona (de onde transita a mostra) e o estúdio criativo Layers of Reality, assinala que “a biografia imersiva de Frida Kahlo é apresentada sem reproduções de pinturas da artista com a intenção de dar total destaque à sua experiência vida”.