O P R I M E I R O M I S S I O N Á R I O /// N O V A I N T E R F A C E E N T R E P O L Í T I C A E R E L I G I Ã O /// S I M P Ó S I O S O B R E D I S C I P U L A D O
Exemplar avulso: R$ 2,96 | Assinatura: R$ 35,50
SETEMBRO 2019
PESQUISA DE QUALIDADE
ESTUDO REVELA OS HÁBITOS ESPIRITUAIS DOS ADVENTISTAS NA AMÉRICA DO SUL
ESPELHO
COMO DEUS VÊ A IGREJA, QUE NÃO É UM SIMPLES PRÉDIO NEM ESTRUTURA, MAS SEU POVO ESPECIAL MARCOS DE BENEDICTO
A igreja é uma entidade tão maravilhosa que a Bíblia usa dezenas de imagens, metáforas e símbolos para descrevê-la. No Novo Testamento, quase todas as descrições da igreja empregam linguagem figurada, como edifício de Deus (1Co 3:9), família de Deus (Ef 2:19), família da fé (Gl 6:10), templo do Espírito (1Co 3:16-17; 6:19), sacerdócio real (1Pe 2:5), corpo de Cristo (1Co 12:27; Ef 5:23; Cl 1:18) e noiva/esposa de Cristo (Ef 5:31-32; Ap 19:7-8; 21:9). Essas metáforas, naturalmente, não esgotam o conceito. Poderíamos acrescentar, por exemplo, que a igreja é um salão de festa, pois é onde os pecadores se arrependem e Deus celebra essa decisão. No sentido mais profundo, a identidade da igreja é definida por sua natureza espiritual. Ela não depende de fatores horizontais, mas de relações verticais: somos o povo de Deus, a igreja de Jesus Cristo, o templo do Espírito. Em geral, usamos o nome “igreja de...”. Porém, o que realmente a define não é a cidade. A identidade da igreja transcende nome e lugar. Entre outras coisas, a igreja é doxológica (voltada para a glória de Deus), logocêntrica (centralizada na Palavra encarnada e escrita), pneumatológica (formada e energizada pelo Espírito Santo), missional (criada para cumprir uma missão) e escatológica (existe na atualidade e está destinada à eternidade). Humana e “divina”, presente e futura, terrena e celestial, a igreja é uma agência de origem divina, não um projeto de iniciativa humana; uma assembleia espiritual, não uma entidade política; um povo multiétnico, não
COM SUA CAPACIDADE DE EXAMINAR TODAS AS COISAS, DEUS CONHECE DETALHES SOBRE A IGREJA E CADA UM DE NÓS
um gueto racial; um espaço de liberdade, não um local de aprisionamento; um recinto de cura, não um lugar de ferimento; um ambiente de mudança, não uma área de estagnação; o teatro da graça, não o palco da condenação. Apesar de ser sagrada e ter uma missão sublime, a igreja precisa ser avaliada e, às vezes, corrigida, porque a transformamos em um ritual vazio. Talvez você não conheça bem a igreja, mas Deus conhece. Na descrição das sete igrejas em Apocalipse 2 e 3, o Cristo glorificado caminha no meio dos candelabros, símbolos das igrejas, e usa uma série de expressões que indicam Seu detalhado conhecimento de cada uma delas. Ele repete 11 vezes as palavras “conheço” e “sei”. “Eu sou Aquele que sonda mentes e corações”, Ele realça (2:23). Desde o Gênesis até o Apocalipse, vemos Deus preocupado com a condição espiritual do Seu povo. Por isso, os escritores bíblicos elogiaram e consolaram a nação/igreja, tratando-a ternamente como noiva/esposa, mas também bateram pesado, classificando-a de prostituta (Jr 2, 3, 5, 13; Ez 16, 23; Os 1–5). Esse recurso parece ofensivo hoje, mas foi a maneira de dizer que Israel e Judá estavam se comportando como os povos que idolatravam os deuses e deusas da fertilidade. João igualmente descreve a igreja apostatada em Apocalipse 17 como meretriz. Felizmente, a imagem que prevalece é a da esposa fiel, pura e linda vivendo em felicidade eterna ao lado do Esposo. Ao ler a matéria de capa, que apresenta um retrato instantâneo do povo de Deus na América do Sul, pense em sua própria realidade. Longe de ser dados áridos, os números indicam parâmetros importantes para reflexão. Você está disposto a se olhar no espelho? Acima de tudo, é impor ta nte que o próprio Deus nos “pesquise”. O salmista orou: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guiame pelo caminho eterno” (Sl 139:23, 24). Que essa seja a nossa oração! ] MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
Foto: Adobe Stock
EDITORIAL
Set. 2019
No 1349
Setembro 2019
Ano 114
www.revistaadventista.com.br
Publicação Mensal – ISSN 1981-1462 Órgão Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil “Aqui está a paciência dos santos: Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Apocalipse 14:12 Editor: Marcos De Benedicto Editores Associados: Márcio Tonetti e Wendel Lima Conselho Consultivo: Ted Wilson, Erton Köhler, Edward Heidinger Zevallos, Marlon Lopes, Alijofran Brandão, Domingos José de Souza, Gilmar Zahn, Leonino Santiago, Marlinton Lopes, Maurício Lima, Moisés Moacir da Silva e Stanley Arco
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Retrato da igreja
Ambiente seguro
Experimente a graça
A importância de prevenir abusos nos templos
Como ententer o conceito de salvação
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Avanço na missão
Teoria e prática
A política da religião
Ampla pesquisa mostra os hábitos espirituais dos adventistas no continente sul-americano
Projeto Gráfico: Eduardo Olszewski Ilustração da Capa: Montagem sobre Adobe Stock
Adventist World é uma publicação internacional produzida pela sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia e impressa mensalmente na África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos e México v. 15, no 9 Editor: Bill Knott Editores associados: Lael Caesar, Gerald Klingbeil, Greg Scott Editores-assistentes: Sandra Blackmer, Stephen Chavez, Costin Jordache, Wilona Karimabadi (Silver Spirng, EUA); Pyung Duk Chun, Jae Man Park, Hyo-Jun Kim (Seul, Coreia do Sul) Tradutora: Sonete Costa Arte e Design: Types & Symbols Gerente Financeiro: Kimberly Brown
O primeiro missionário adventista na Europa
Gerente Internacional de Publicação: Pyung Duk Chun Gerente de Operações: Merle Poirier
SUMÁRIO
Simpósio sul-americano amplia a visão do discipulado
Conselheiros: Mark A. Finley, John M. Fowler, E. Edward Zinke Comissão Administrativa: Si Young Kim, Bill Knott, Pyung Duk Chun, Karnik Doukmetzian, Suk Hee Han, Yutaka Inada, German Lust, Ray Wahlen, Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Ted N. C. Wilson
As implicações do novo ciclo de nacionalismo religioso no cenário mundial
CASA PUBLIC ADOR A BRASILEIR A Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia
Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34; CEP 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900 SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE LIGUE GRÁTIS: 0800 9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h
30 VIDA ADVENTISTA
37 INTERNACIONAL
4 CANAL ABERTO
31 BOA PERGUNTA
39 INSTITUCIONAL
5 BÚSSOLA
32 BEM-ESTAR Suplementos alimentares
47 MEMÓRIA
33 NOVA GERAÇÃO
48 EM FAMÍLIA
34 PRIMEIROS PASSOS
49 ESTANTE
26 VISÃO GLOBAL
35 PERSPECTIVA
50 ENFIM
28 MINHA HISTÓRIA Telefone bloqueado
36 SAÚDE O impacto da paternidade
Espelho
A opinião de quem lê
Diretor-Geral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Uilson Garcia Redator-Chefe: Marcos De Benedicto
Celebrações da esperança
Gerente de Produção: Reisner Martins
6 ENTREVISTA
Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza
Depois dos 60
Não se devolvem originais, mesmo não publicados. As versões bíblicas usadas são a Nova Almeida Atualizada e a Nova Versão Internacional, salvo outra indicação. Exemplar avulso: R$ 2,96 | Assinatura: R$ 35,50 Números atrasados: Preço da última edição.
8 PAINEL
Datas, números, fatos, gente, internacional O poder do evangelho
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora. Tiragem: 147.500
2 EDITORIAL
5479/40500
Sábado especial
Símbolos do santuário
Sem constrangimento Anjos na selva
Crianças em risco
Ponte entre dois continentes Meta ambiciosa
Dormiram no Senhor Sexo é vida Ame mais
Tempos de desconfiança
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CANAL ABERTO TERAPIA PARA A ANSIEDADE
Para minha total satisfação e alegria, o Espírito Santo mais uma vez moveu o pastor Marcos De Benedicto a escrever sobre um assunto tão atual e de tremenda importância, que é a ansiedade (agosto). Conheço muitas pessoas (homens, mulheres, jovens e até crianças) em nosso meio que sofrem terrivelmente com ansiedade, síndrome do pânico e depressão. E confesso que eu mesmo faço parte desse universo. Levei anos para admitir isso. Para resumir, cheguei à conclusão de que os remédios, em sua maioria de tarja preta, são paliativos. Mas sempre podemos recorrer ao Médico dos médicos. Daniel Lima / Tatuí (SP)
A ERA DA ANSIEDADE
A matéria de capa de agosto demonstra a ousadia da Revista Adventista ao publicar importantes temas contemporâneos. Estresse, depressão e ansiedade são males trigêmeos que assolam este século. Eles não respeitam cidadãos comuns, executivos nem eclesiásticos. Gostei dos dez tipos de ansiedade mencionados no editorial e dos sete princípios divinos de como enfrentar a ansiedade e outros distúrbios emocionais. Manuel Xavier de Lima / Engenheiro Coelho (SP)
me levou a Buchenwald. Sendo o único sobrevivente de seu batalhão, ele contou-nos horrores da guerra e do nazismo. A história mais tocante foi de uma senhora que já havido sido colocada num vagão para ser lançada numa vala. Sua companheira do beliche, olhando de longe, pecebeu que estava viva. Correndo risco, resgatou-a, nutriu-a e ambas se salvaram. O pastor nos levou à igreja onde nossa irmã era membro. Deus seja louvado pelos heróis como John e Gabrielle, que salvaram a vida de centenas de judeus! Léo Ranzolin / Estero, Florida (EUA)
HERÓIS DA GUERRA
A história de John e Gabrielle Weidner, na edição de agosto, tocou-me profundamente e me fez lembrar de minha visita aos campos de concentração na Alemanha e Polônia. Visitei Auschwitz e por três dias não conseguia dormir ao pensar na desumanidade de um ser humano para com outro. Quartos repletos de bonecas, óculos, malas e sapatos dos milhões que foram incinerados ficaram marcados indelevelmente em minha mente. Em outra viagem, passei um fim de semana na Alemanha Oriental, em 1982. Com relutância, o presidente da Associação 4
LINGUAGEM DOS JOVENS
O artigo “O impacto da cruz” (agosto) me fez lembrar um episódio no centro de treinamento da minha Associação, em que tive o prazer de conhecer a editora da CPB que trabalhou na Série Conflito na Linguagem de Hoje. Alguns podem argumentar que os livros são condensados, mas essa coleção foi idealizada para um público especial. Assim como na matéria da revista os jovens só queriam uma cruz, nossos jovens só precisam de um material na linguagem deles. Maicon Nunes / Belford Roxo (RJ)
O LIVRO DE SAVKA
A revista de junho trouxe uma história que me encantou: “O livro de Savka”. Que experiência maravilhosa e com tantos pontos de bênçãos e milagres! Acabei de lê-la mais uma vez. As cenas vêm à minha mente como um filme. Seria um ótimo roteiro para um próximo filme da igreja. Deuzimar Rafael dos Santos / Rio de Janeiro (RJ)
DESBRAVADORES
O pastor Wilson Sarli tem um histórico fantástico e relevante no âmbito da obra de Deus em nosso país. Isso nunca será motivo de discussão. Porém, ao contrário do que foi mencionado na página 9 da edição de agosto, o pioneirismo da criação do clube de desbravadores foi do missionário Henry Feyerabend, quando ministrava no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Esse fato foi documentado em sua visita ao estado, em 2000, quando foram comemorados os 40 anos da existência do clube de desbravadores no Brasil. Airton Gomes dos Santos / Guabiruba (SC)
Na verdade, o pastor Wilson foi um dos pioneiros, ao lado de outros. O objetivo da nota não foi discutir a história dos desbravadores no país. Mas agradecemos o lembrete.
SEMENTES
Achei muito inspirador o artigo do pastor Erton Köhler intitulado “Sementes”, na edição de julho. A missão precisa ser para todos e em todos os lugares, no poder do Espírito Santo. Mauro Borba / Manaus (AM)
Expresse sua opinião. Escreva para ra@cpb.com.br. ou envie sua carta para Revista Adventista, caixa postal 34, CEP 18270-970, Tatuí, SP.
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
BÚSSOLA
CELEBRAÇÕES DA ESPERANÇA
ATIVIDADES MARCAM PRIMAVERA DO ADVENTISMO NO CONTINENTE SUL-AMERICANO ERTON KÖHLER
Foto: Alexandru Tudorache
A
chegada da primavera faz de setembro um mês especial. O início da estação torna os dias mais longos e estimula os seres vivos à reprodução, trazendo nova vida à natureza e multiplicando a beleza das flores. Essa renovação é tão marcante que foi capaz de influenciar a identidade de movimentos políticos e sociais. Em 1968, a busca por transformações na então Checoslováquia foi chamada de “Primavera de Praga”. Mais recentemente, em 2010, os movimentos de transformação no Oriente Médio e Norte da África foram chamados de “Primavera Árabe”. Este mês, com a chegada da primavera, também é marcante para a Igreja Adventista na América do Sul. É o tempo das Celebrações da Esperança, com muitos movimentos e forte ênfase em nossa unidade, identidade e especialmente na missão. A primeira dessas celebrações enfatiza voluntariado e missão para novas gerações, através do projeto I Will Go (Eu Irei). O encontro, que será realizado na Universidad Peruana Unión, nos dias 11 a 14, vai integrar universitários sulamericanos e de outras partes do mundo que buscam uma intensa experiência missionária. Além da troca de experiências com voluntários que estão em regiões desafiadoras, os participantes receberão capacitação, inspiração e R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
PRECISAMOS FORTALECER O DISCIPULADO COM ÊNFASE NA MISSÃO, TRABALHANDO POR UMA IGREJA CADA VEZ MELHOR, APESAR DE ESTARMOS EM UM MUNDO CADA VEZ PIOR novas oportunidades de missão em projetos locais e mundiais. As novas gerações continuarão no centro das celebrações, no sábado 14, com o Dia do Desbravador. É a oportunidade de fortalecer um movimento que prepara nossos adolescentes para que sejam sólidos na fé, comprometidos com a igreja e ativos na missão. Estamos cada vez mais perto de ter um clube em cada igreja organizada, dando um grande passo para discipular e salvar nossos meninos e meninas. Em seguida, vamos celebrar os 125 anos da primeira igreja organizada no território da Divisão
Sul-Americana, em Crespo Campo, Argentina. A cerimônia especial será no dia 20, no mesmo local em que tudo começou e foi plantada a semente de um movimento que já passou de 2,5 milhões de membros e 28 mil igrejas e grupos. Queremos ser inspirados pelo exemplo dos pioneiros, mas também renovar nosso compromisso de fortalecer o discipulado com ênfase na missão, trabalhando por uma igreja cada vez melhor, apesar de estarmos em um mundo cada vez pior. Investindo ainda mais fortemente na missão, vamos celebrar a Semana da Esperança, nos dias 21 a 28. Um exército de pastores e evangelistas voluntários estará pregando, apelando e batizando em cada uma de nossas igrejas porque “o coração que está repleto da bendita esperança [...] não pode ser silenciado” (Ellen G. White, Perto do Céu, p. 154). Será o momento de decisão para muitas pessoas que vêm estudando a Bíblia desde o evangelismo da Semana Santa. Em cada celebração, aproveitando o clima de vida nova do mês de setembro, será realizado o Batismo da Primavera. Este é o período de maior crescimento da igreja e, para que ele seja ainda mais forte, desde o início do ano estamos orando e trabalhado para envolver a igreja com um milhão de estudos bíblicos, alcançando familiares, vizinhos, amigos, interessados da Novo Tempo e de outras iniciativas missionárias. Como resultado das Celebrações da Esperança e de tantas outras iniciativas deste ano, sonhamos em entregar a Jesus a vida de 250 mil pessoas através do batismo. É um sonho ousado que vai além dos números, pois precisamos crescer não só em quantidade, mas especialmente em qualidade. Com o poder do Espírito Santo, teremos a multiplicação de discípulos. ] ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul
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ENTREVISTA
MÁRCIO TONETTI
Helenice e Paulo de Mello
Estabelecer contato com Helenice e Paulo de Mello não foi fácil. Na maior parte do tempo, eles ficam incomunicáveis. É que há quatro meses o casal de 68 e 70 anos, respectivamente, tem percorrido os rios e labirintos do Amazonas numa das lanchas Luzeiro. Depois de participarem de missões de curta duração na África, China e Peru, eles dedicarão um ano ao trabalho voluntário no interior do maior estado brasileiro. Sempre muito dedicados à igreja, a enfermeira e o fisioterapeuta serviram durante vários anos em instituições de saúde adventistas. Aposentados, deixaram de bater ponto, mas o compromisso missionário continuou o mesmo. A ponto de sacrificarem o contato mais frequente com as duas filhas e os três netos para CASAL APOSENTADO MOSTRA QUE NUNCA É levar a mensagem adventista a lugares desafiadores. TARDE PARA VIVER NOVAS EXPERIÊNCIAS Foi durante um fragmento de tempo com sinal teleE ATENDER AO CHAMADO DE DEUS fônico que Helenice concedeu a entrevista a seguir.
DEPOIS DOS 60
Qual é o sabor de curtir a terceira idade envolvidos na missão? É doce e gratificante. Vale a pena experimentar! Apesar dos desafios, receber o carinho das pessoas em diferentes lugares alimenta a alma. Certamente essa experiência não tem sido só trabalho... A vida tem que ser temperada. Não é só trabalhar, assim como viver apenas na ociosidade ou na 6
Que tipo de desafios já enfrentaram? Dois meses depois de chegarmos ao Amazonas, meu esposo contraiu pneumonia e teve que ser levado rapidamente para Manaus. Sua situação era delicada, mas Deus providenciou os meios para restaurar sua saúde. Há poucos dias, visitando a casa de uma família ribeirinha, eu caí e quebrei o braço direito. Alguns pensaram que retornaríamos para casa depois dessa situação, mas decidimos continuar. As experiências ao longo da vida nos ensinaram a enfrentar as adversidades.
Como tem sido ficar longe dos familiares numa fase em que geralmente há maior necessidade afetiva? Essa é a parte mais difícil. Em alguns lugares, passamos vários dias sem comunicação com o mundo externo. A saudade é grande, de ambos os lados. Mas temos tentado conciliar as coisas. Um dos planos que temos é atender ao pedido de uma das filhas, que vive na Itália. Ela tem nos desafiado a passar um tempo na missão lá, a fim de ficarmos mais próximos. A essa altura, quais sonhos vocês ainda pretendem realizar? Talvez participar de uma missão de longo prazo por meio da Adventist Frontier Missions (AFM). Mas nossa vida está nas mãos de Deus. Enquanto tivermos saúde e Deus tiver chamado para nós, pretendemos continuar. ] R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
Foto: Fernando Borges
Algumas pessoas entram em crise quando chega a hora de se aposentar. Como vocês reagiram? No nosso caso, foi tranquilo. Nunca pensamos em parar completamente. Apenas deixamos de ser funcionários para ser voluntários. Há vida útil depois da aposentadoria. Apesar da idade e do desgate do corpo, a vitalidade se prolonga quando a gente se doa.
contemplação não traz realização nem felicidade. Por isso, ao mesmo tempo que estamos trabalhando na missão, temos desfrutado da viagem, experimentando momentos de recreação da alma e renovação do Espírito. Ver o sol nascer, refletindo-se na água; sentir os aromas da floresta; ouvir o canto dos pássaros; experimentar sabores com os quais não estamos acostumados ... Não tem dinheiro que pague! Poucos aposentados têm o privilégio que estamos tendo de ver tão de perto as obras do Criador na natureza e na vida das pessoas, e sentir Sua proteção e direção.
O que aprenderam nessas novas experiências transculturais? Ao entrar em novas culturas, é preciso entender seus valores e costumes, fazer adaptações e sair da zona de conforto. Essa experiência está sendo uma nova escola para nós. Especialmente depois que estivemos na África, confirmamos o que já sabíamos: para viver, é preciso menos do que se imagina.
PAINEL F AT O S
HOSPITAL DE REFERÊNCIA
INAUGURAÇÃO O centro médico da Universidade de Loma Linda, nos Estados Unidos, foi classificado mais uma vez como um dos melhores da região metropolitana de Riverside e San Bernardino, na Califórnia, além de ser considerado referência nacional em várias especialidades. A revista U.S. News & World Report, responsável pela divulgação do ranking, avaliou mais de 4,5 mil hospitais de todo o país.
Além dos cursos de Farmácia e Psicologia, abertos neste ano, o Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP), vai oferecer graduação em Medicina Veterinária e Odontologia a partir de 2020. Os laboratórios e salas de aula multidisciplinares que atenderão a nova demanda na área da saúde foram inaugurados no dia 21 de agosto com a presença do vicepresidente da República, general Hamilton Mourão, que também palestrou numa aula magna.
RASTRO DE DINOSSAUROS
D ATA S
os outros e são muito duras com eles, eu me pergunto o que elas estão escondendo ou do que Centenas de pegadas de dinossauros foram encontradas perto da cidade de Torotoro (Bolívia). Esses rastros estão sendo estudados atualmente por uma equipe do Geoscience Research Institute (GRI) e da Universidade Adventista da Bolívia, localizada em Cochabamba.
170.000
é o número estimado de pessoas que a ADRA da República Democrática do Congo já beneficiou por meio de campanhas para conter a epidemia de ebola, que voltou com força em 2018. 8
estão fugindo.
11 A 14 DE SETEMBRO
Nessa data, a Universidad Peruana Unión (UPeU), em Lima, receberá cerca de 3 mil participantes do congresso internacional I Will Go. Além de incentivar ministérios criativos, o evento buscará colocar os participantes em contato com os projetos missionários da igreja. Acesse: iwillgo.upeu.edu.pe.
20 DE SETEMBRO Torben Bergland, psiquiatra adventista, em uma palestra sobre o fanatismo realizada no 3o Congresso Mundial de Saúde e Estilo de Vida, realizado no início de julho na Universidade de Loma Linda (EUA)
Nesse dia serão comemorados os 125 anos da igreja no continente com um culto de gratidão realizado na comunidade adventista de Crespo Campo (Argentina), local em que foi estabelecida a primeira congregação abaixo da linha do Equador. Na semana seguinte, a Argentina se tornará palco da campanha evangelística “A Maior Esperança”, que tem como palestrantes os líderes das sedes administrativas e instituições sul-americanas. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
Fotos: Loma Linda University Medical Center / arquivo pessoal / GRI / ANN
Quando as pessoas julgam
GENTE
EVENTOS
CONGRESSO PARA SURDOS E INTÉRPRETES
O evento reuniu 150 integrantes de ministérios do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais nos dias 2 a 4 de agosto em Guarapari (ES). O objetivo do congresso foi apresentar métodos de evangelização que utilizem a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
RECORDE DE LONGEVIDADE
Moacir de Jesus, considerado o mais idoso do Brasil pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), morreu no dia 16 de julho aos 118 anos, de causa natural. O baiano, que nasceu em 9 de março de 1901, foi contemporâneo de personalidades como Ellen G. White e Albert Einstein, e viu duas guerras mundiais. Ele foi batizado em outubro de 2015 aos 114 anos depois de ter conhecido a mensagem adventista através da neta. Deixa quatro filhos, 23 netos e 28 bisnetos.
BODAS DE OURO (50 ANOS)
Do pastor Oder e Ghisleine Mello, em uma celebração que contou com a participação dos pastores Albino Marks e Davi Marski no Clube Adventista dos Jubilados Lagoa Bonita, em Engenheiro Coelho (SP). O casal tem três filhos e três netas.
ENCONTRO UNIVERSITÁRIO
Fotos: Divisão Interamericana / arquivo pessoal
Jovens que estudam ou trabalham em universidades públicas e privadas no território da América Central participaram do maior Congresso de Ministérios do Campus Público (PCM, na sigla em inglês), realizado nos dias 18 a 21 de julho na capital do Panamá. O objetivo do encontro, que envolveu mais de 1,4 mil universitários, foi oferecer apoio e capacitação para o trabalho evangelístico em ambientes secularizados.
Nunca soubemos tanto sobre o impacto do sono e, no entanto, nunca dormimos tão pouco. Estamos permanentemente entretidos. O cansaço é agora a nova norma.
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
3 mil garrafões
de água potável, de 20 litros cada, foram distribuídos pela ADRA para famílias dos municípios baianos afetados pelo transbordamento da barragem de Quati, em julho.
Guy Meadows, especialista em sono, em uma conferência para empresários em Londres (Inglaterra), falando sobre as consequências da insônia e o surgimento de um novo mercado com base nessa necessidade humana 9
E D I TA I S Fica convocada a 2a Assembleia Ordinária da Missão Alagoas da Igreja Adventista do Sétimo Dia, inscrita no CNPJ no 01.104.932/0049-91, a ser realizada nos dias 6 e 7 de novembro de 2019, tendo início às 9h do dia 6, nas dependências da Igreja Adventista do Sétimo Dia, localizada na rua Dom Vital, no 86, Farol, Maceió (AL), para tratar dos seguintes assuntos de sua competência: (1) receber as novas igrejas organizadas durante o quadriênio anterior; (2) apreciar e aprovar os relatórios do presidente, do secretário executivo, do tesoureiro/CFO e dos secretários dos departamentos e serviços; (3) eleger, para um mandato de quatro anos, os secretários dos departamentos e serviços e os membros da Comissão Diretiva da Missão; 4) deliberar e aprovar outros assuntos propostos pela Comissão Diretiva.
Avenida Sebastião Amoretti, no 2130 A, no bairro Cruzeiro do Sul, em Taquara (RS), para tratar dos seguintes assuntos de sua competência: (1) receber as novas igrejas organizadas durante o quadriênio anterior mais o período adicional de um ano gerado pelo adiamento da assembleia; (2) apreciar e aprovar os relatórios do presidente, do secretário executivo, do tesoureiro/CFO, dos secretários dos departamentos e serviços e dos administradores das instituições da Associação; (3) aprovar a alteração do status de Missão para Associação; 4) eleger, para um mandato de quatro anos, os administradores da Associação, os secretários dos departamentos e serviços e os membros da Comissão Diretiva da Associação; (5) aprovar o Ato Constitutivo e alterações no Regulamento Interno, observadas as diretrizes fixadas no modelo aprovado pela Divisão; (6) elaborar planos para o melhor desenvolvimento da obra, em harmonia com os regulamentos e deliberações da União e Divisão; (7) deliberar e aprovar outros assuntos propostos pela Comissão Diretiva.
Maceió (AL), 2 de julho de 2019 José Soares da Silva Junior, presidente Marcos Militão dos Santos, secretário executivo
Novo Hamburgo (RS), 3 de julho de 2019 Elieser Canto Vargas, presidente Walter Teixeira de Lima, secretário executivo
Convocação da 2a Assembleia Ordinária da Missão Alagoas da Igreja Adventista do Sétimo Dia
Convocação da 5a Assembleia Ordinária da Missão Nordeste da Igreja Adventista do Sétimo Dia Fica convocada a 5a Assembleia Ordinária da Missão Nordeste da Igreja Adventista do Sétimo Dia, inscrita no CNPJ no 01.104.932/0027-86, para ser realizada nos dias 4 e 5 de novembro de 2019, tendo início as 9h do dia 4, nas dependências da Igreja Adventista do Sétimo Dia, localizada na rua Soledade, no 36, no bairro Cidade da Esperança, em Natal (RN), para tratar dos seguintes assuntos de sua competência: (1) receber as novas igrejas organizadas durante o quadriênio anterior; (2) apreciar e aprovar os relatórios do presidente, do secretário executivo, do tesoureiro/CFO e dos secretários dos departamentos e serviços; (3) eleger, para um mandato de quatro anos, os secretários dos departamentos e serviços e os membros da Comissão Diretiva da Missão; (4) deliberar e aprovar outros assuntos propostos pela Comissão Diretiva. Parnamirim (RN), 2 de julho de 2019 Geison Arley Pinto Florêncio, presidente Cleber Veras Aragão, secretário executivo
Convocação da 2a Assembleia Ordinária da Missão Sergipe da Igreja Adventista do Sétimo Dia Fica convocada a 2a Assembleia Ordinária da Missão Sergipe da Igreja Adventista do Sétimo Dia, inscrita no CNPJ no 17.261.509/0005-14, para ser realizada nos dias 3 e 4 de novembro de 2019, tendo início às 8h do dia 3, nas dependências da Igreja Adventista do Sétimo Dia de Siqueira Campos, localizada na rua Distrito Federal, no 600, no bairro Siqueira Campos, em Aracaju (SE), para tratar dos seguintes assuntos de sua competência: (1) receber as novas igrejas organizadas durante o quadriênio anterior; 2) apreciar e aprovar os relatórios do presidente, do secretário executivo, do tesoureiro/CFO, dos secretários dos departamentos e serviços e dos administradores das instituições da Missão; (3) eleger, para um mandato de quatro anos, os secretários dos departamentos e serviços e os membros da Comissão Diretiva da Missão; (4) aprovar planos para a automanutenção da Missão, os quais devem ser específicos e detalhados para alcançar o status de Associação; (5) deliberar e aprovar outros assuntos propostos pela Comissão Diretiva. Aracaju (SE), 2 de maio de 2019 Jairo Emerick Torres, presidente Reginaldo Carmos Pereira, secretário executivo
Convocação da 1a Assembleia Ordinária da Associação NorteSul-Rio-Grandense da Igreja Adventista do Sétimo Dia Fica convocada a 1a Assembleia Ordinária da Associação Norte–Sul-RioGrandense da Igreja Adventista do Sétimo Dia, inscrita no CNPJ no79.080.602/ 0018-02, para ser realizada no dia 24 de novembro de 2019, tendo início às 8h30, nas dependências do Instituto Adventista Cruzeiro do Sul, localizado na
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Convocação da 15a Assembleia Geral da União Norte Brasileira da Igreja Adventista do Sétimo Dia Fica convocada a 15a Assembleia Ordinária da União Norte Brasileira da Igreja Adventista do Sétimo Dia, inscrita no CNPJ no 04.930.244/0001-24, para ser realizada nos dias 27 e 28 de novembro de 2019, tendo início às 19h do dia 27, nas dependências do Hotel Grand Mercure Belém, localizado na Avenida Nazaré, no 375, no bairro Nazaré, em Belém (PA), para tratar dos seguintes assuntos de sua competência: (1) receber as novas Associações e Missões organizadas durante o quinquênio anterior; (2) apreciar e aprovar os relatórios do presidente, do secretário executivo, do tesoureiro/CFO, dos secretários dos departamentos e serviços e dos administradores das Missões e das instituições da União; (3) eleger, para um mandato de cinco anos, os secretários dos departamentos e serviços, os membros da Comissão Diretiva da União; (4) eleger os administradores das missões, para um mandato de dois anos e seis meses; (5) elaborar planos para o melhor desenvolvimento da obra, em harmonia com os regulamentos e as deliberações da Divisão; (6) deliberar e aprovar outros assuntos propostos pela Comissão Diretiva. Ananindeua (PA), 25 de junho de 2019 Leonino Barbosa Santiago, presidente Ozeias de Souza Costa, secretário executivo
Convocação da 2a Assembleia Ordinária da Associação Norte Catarinense da Igreja Adventista do Sétimo Dia Fica convocada a 2a Assembleia Ordinária da Associação Norte Catarinense da Igreja Adventista do Sétimo Dia, inscrita no CNPJ no 79080602-0040/62, para ser realizada no dia 17 de novembro de 2019, tendo início às 9h do dia 17, nas dependências do Instituto Adventista de Ensino de Santa Catarina (IAESC), localizado na Rodovia BR-101, Km 64, s/n, bairro Corveta, em Araquari (SC), para tratar dos seguintes assuntos de sua competência: (1) receber as novas igrejas organizadas anteriormente à sua realização; (2) apreciar e aprovar os relatórios do presidente, do secretário executivo, do tesoureiro/ CFO, dos secretários dos departamentos e serviços e dos administradores das instituições da Associação; (3) eleger, para um mandato de quatro anos, os administradores da Associação, os secretários dos departamentos e serviços, os membros da Comissão Diretiva da Associação; (4) aprovar alterações ou modificações no Ato Constitutivo e no Regulamento Interno, observadas as diretrizes fixadas no modelo aprovado pela Divisão; (5) elaborar planos para o melhor desenvolvimento da obra, em harmonia com os regulamentos e as deliberações da União e Divisão; (6) deliberar e aprovar outros assuntos propostos pela Comissão Diretiva. Joinville (SC), 2 de julho de 2019 Pastor Ronaldo Bertazzo, presidente Harry James Streithorst, secretário executivo
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
INTERNACIONAL
DECLARAÇÃO DA IGREJA
CASA DE APOIO Uma comunidade adventista da Papua-Nova Guiné deu um passo a mais no atendimento às vítimas de violência doméstica. A ideia foi estabelecer um local de refúgio para quem foi alvo de violência ou abuso sexual dentro de casa. O espaço também funciona como centro de conscientização e educação. O projeto da Igreja Adventista Memorial Silva foi possível graças ao apoio da ADRA Austrália e Papua-Nova Guiné, bem como do Avondale College.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia apelou ao Congresso norteamericano para que aprove legislação que proteja os direitos civis de todos os cidadãos, salvaguardando o direito das comunidades religiosas de viver, adorar e testemunhar de acordo com as suas convicções. A declaração da igreja foi divulgada em razão da chamada Lei da Igualdade, legislação proposta no Congresso dos Estados Unidos que pretende expandir a proteção a homossexuais, lésbicas e transexuais por meio de um amplo espectro de leis de direitos civis no país. No entanto, o projeto de lei não prevê que comunidades ou indivíduos religiosos tenham a visão tradicional de casamento e gênero.
Frequência com que os adventistas atendem às necessidades dos membros da comunidade que não são adventistas: 10%
10% 11%
2.541.903
14% 14% 24%
Número de membros da Divisão Sul-Americana até 30 de junho de 2019.
17%
23 milhões
de exemplares do livro missionário foram impressos em 2019 pela igreja no continente.
Esta declaração não é uma posição rígida para restringir os membros Fotos: Adventist Record / Adobe Stock
da igreja, mas para orientá-los, permitindo que tenham liberdade para avaliar a situação por si mesmos.
Mais de uma vez por semana
Pelo menos uma vez por trimestre
Toda semana
Apenas uma ou duas vezes por ano
Quase toda semana
Nunca
Uma vez por mês
Mário Ceballos, diretor do Ministério de Capelania da Igreja Adventista, comentando a declaração e posição da igreja em favor da não combatência durante discussões realizadas no Concílio da Primavera
Colaboradores: Adventiste Magazine, Andréia Kals, Costin Jordache, Emilly Martins, Geoscience Research Institute, Heron Santana, Jarrod
Stackelroth, Júlia Bianco, Kimi-Roux James, Libna Stevens, Luciana Garbelini, Mairon Hothon, Márcio Basso Gomes, Márcio Tonetti, Marcos Paseggi, Maryellen Fairfax, Priscila Baracho Sigolin, Sanitarium Health Food Company, Sheann Brandon, Tracey Bridcutt, Wendel Lima
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
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CAPA
RETRATO DA IGREJA AMPLA PESQUISA REALIZADA NA AMÉRICA DO SUL REVELA PERFIL DE UM POVO QUE ESPERA JESUS VOLTAR Thadeu J. Silva Filho
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CARACTERÍSTICAS DOS RESPONDENTES Do total, 6,6% dos respondentes têm entre 14 e 16 anos; 27,3%, entre 17 e 30 anos; 56,9%, entre 31 e 59 anos; e 9,2%, 60 anos ou mais. E este foi o primeiro grande ganho da pesquisa: conhecer melhor os membros de faixa etária superior a 30 anos, tanto por se tratar do maior grupo da igreja (mais de 56% dos membros) como por serem pessoas sobre quem conhecemos pouco. Do total de respondentes, 62,6% são casados; 28,5%, solteiros; 6,3%, divorciados; e 2,6%, viúvos. A escolaridade de 67,4% é de até o ensino médio completo (incluindo cursos técnicos) e os demais 32,6% têm curso superior. A grande maioria dos entrevistados (76,5%) frequenta igrejas ou grupos de até 200 membros. COMUNHÃO COM DEUS O estudo da Bíblia está no núcleo da comunhão com Deus. Quase metade (48,7%) dos membros da igreja na América do Sul a estuda todos os dias. É possível afirmar com clareza que a frequência do estudo aumenta com a idade: entre R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
Foto: Adobe Stock
A
maior contribuição de uma pesquisa é revelar o que não se sabe. Em segundo lugar, é derrubar mitos estabelecidos como “verdades” e, em seguida, confirmar percepções até então não comprovadas. Essas coisas são ainda mais importantes quando se trata de preparar um povo para se encontrar com Cristo. Afinal, os resultados mostram os pontos em que o trabalho da igreja e a vida de cada pessoa devem ser reajustados para prosseguir fazendo a vontade de Deus. Foi para avaliar esses aspectos que, no dia 27 de outubro de 2018, a Igreja Adventista do Sétimo Dia na América do Sul realizou uma ampla pesquisa sobre os hábitos espirituais de seus membros de idade igual ou superior a 14 anos. Eles responderam um questionário de 95 perguntas sobre comunhão com Deus, relacionamento com o próximo e compromisso com a missão que Cristo nos deu em Mateus 28:18-20. O objetivo principal da pesquisa não foi saber sobre opinião, por mudar muito facilmente. O foco foi constatar as práticas dos membros, por variarem menos e mostrarem quanto a Bíblia comanda sua vida diária. Ao todo, 316.105 pessoas responderam à pesquisa, em português ou em espanhol, a depender do país em que vivem. Dessa quantidade, 14.301 formulários foram descartados devido a inconsistências nas respostas, totalizando 301.804 válidos. Trata-se da maior pesquisa já realizada pela igreja em sua história no mundo inteiro, e uma amostra desse tamanho e de tal abrangência permite que os resultados encontrados sejam válidos para a igreja toda, não só para os entrevistados.
as pessoas de 14 a 16 anos, somente 28,2% estudam a Bíblia todos os dias; o número aumenta para 34,2% no grupo etário de 17 a 30 anos, para 54,4% entre as pessoas de 31 a 59 anos e para 79,2% entre os adventistas a partir de 60 anos de idade. E quem mais a estuda são os que frequentam igrejas ou grupos (congregações) com menos membros: 52,5% de quem estuda a Bíblia todos os dias estão em congregações de até 50 pessoas; 49,8%, em congregações de 51 a 100 pessoas; 48,5%, de 101 a 200 pessoas; 46% estão em congregações de 201 a 500 pessoas, mesmo percentual de estudo diário da Bíblia de quem frequenta igrejas de 501 a 1.000 membros; e a porcentagem cai para 43,8% entre os que frequentam igrejas com mais de 1.000 membros. Exatamente o mesmo cenário se verifica no estudo da Lição da Escola Sabatina: o percentual cresce com o aumento da idade (26,6%, 27,9%, 47,7% e 74,7% nas faixas etárias acima) e diminui nas igrejas com mais gente (de 46,1% a 33%). A maior parte dos membros (56,6%) diz não ter dúvidas sobre a Bíblia. Entre os que têm dúvidas, 9,2% não têm certeza sobre o dom profético concedido a Ellen G. White, 8,7% sobre o uso de joias, 7,4% acerca da predestinação, 5,1% sobre o santuário e 4,5% acerca do divórcio. Outro elemento que compõe o núcleo da comunhão é a oração. E o mesmo padrão encontrado no estudo da Bíblia e no estudo da Lição da Escola Sabatina também foi verificado aqui: a quantidade de pessoas que oram profundamente todos os dias aumenta com o passar da idade e diminui com o aumento do número de membros. Ainda a respeito da oração, cerca de 19,7% participaram dos 10 Dias de Oração, que é a primeira celebração da igreja no ano e acontece somente em fevereiro, enquanto 39,7% admitem não ter participado e os restantes 40,6% dizem ter participado em outros meses. Perguntados sobre a frequência com que fazem o culto familiar, os resultados foram: 21,6% fazem culto familiar todos os dias; 16,1%, quase todos os dias; 26,9%, de vez em quando; 15,2% só fazem o culto de pôr do sol para receber o sábado; 1,3% só quando estão agradecidos por alguma bênção; Até 50 51-100 e 18,9% nunca fazem. membros membros A leitura dos livros de Ellen Sim 46,1% 43,7% White foi também um dos temas levantados pelo estudo. PerguntaNão 53,9% 56,2% dos sobre quantos livros haviam lido do início ao fim, 15,7% dos membros nunca leram nenhum AO TODO, 316.105 PESSOAS completamente; 17,9% leram um; 18,7%, dois; 14,5%, três; 7,9%, quaRESPONDERAM À PESQUISA, tro; e 25,3% leram cinco ou mais. Esses resultados variam com o TOTALIZANDO 301.804 tamanho da congregação: a leiFORMULÁRIOS VÁLIDOS, tura aumenta conforme aumenta o tamanho das congregações. O QUE REPRESENTA A MAIOR Outra questão relacionada à comunhão com Deus é sobre o PESQUISA JÁ REALIZADA PELA momento mais adequado para Jesus voltar. Havia várias opções IGREJA EM SUA HISTÓRIA NO de respostas, dentre elas: “em qualMUNDO INTEIRO quer momento, já estou preparado”, R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
“quando eu colocar a minha vida espiritual em dia”, “quando meus filhos estiverem criados” e “quando eu já estiver casado”. De modo claro, as respostas variaram com a faixa etária: dentre os membros de 14 a 16 anos, 27% disseram estar preparados; a quantidade aumentou para um pouco mais de um terço (35,3%) no grupo de 17 a 30 anos, pulou para 53,7% no grupo de 31 a 59 anos e foi para pouco mais de dois terços (67,6%) no grupo de 60 anos ou mais. Não coincidentemente, os que dizem estar preparados para a volta de Jesus são os que estudam diariamente a Bíblia (60,3%) e a lição (60,9%). RELACIONAMENTO A primeira pergunta sobre relacionamento mostrou que o/a melhor amigo/a de 62,9% dos membros da igreja é adventista. E, tal qual ocorreu em várias outras questões, verificou-se que a idade é fator determinante aqui também: 51,7% dos melhores amigos dos membros entre 14 e 16 anos de idade são adventistas; o número cresce para 59,4% na faixa etária dos 17 a 30 anos, sobe para 64,9% entre os de 31 a 59 e chega a 71,7% entre os de 60 anos ou mais. Curiosamente, 57,4% dos membros da igreja já namoraram pessoas não adventistas, 58,5% dos solteiros admitem a possibilidade de namorar pessoas de outra fé e 43,9% do mesmo grupo admitem que se casariam com alguém que não seja adventista. Na distribuição por tamanho de igreja, vê-se que, quanto maior é a igreja, menos os membros admitem a possibilidade de se casarem com alguém de outra religião (veja o quadro).
101-200 membros
201-500 membros
501-1.000 membros
Mais de 1.000 membros
43,4%
43%
42,8%
38,8%
56,5%
56,9%
57,3%
61,2%
Cerca de 65% da igreja participam de um pequeno grupo, bem distribuídos nas faixas etárias da pesquisa. Determinante aqui é o tamanho da igreja: quanto menor, mais gente participando de pequenos grupos; conforme aumenta, menos gente participa. APOSTASIA Cerca de 29% dos membros já saíram da igreja e a ela retornaram. O nível de escolaridade em nada influencia esse fato, mas o tamanho da congregação que frequentam sim: a maioria dos que saíram e retornaram pertence a congregações com até 100 membros. Quanto menor é a congregação, mais gente saiu e retornou. 13
A pesquisa também revelou um resultado já intuído, mas ainda não comprovado: quem mais saiu da igreja foram as pessoas cujos pais menos diziam que as amavam. Das pessoas que sempre ouviam seus pais dizerem que as amavam, somente 25,7% saíram da igreja; quando os pais falavam algumas vezes que os amavam, o número das que saíram aumenta para 28,9%; o cenário piora nos casos em que os pais raramente falavam que as amavam (deste grupo, 33,3% deixaram a igreja); e, finalmente, das pessoas que nunca ouviram de seus pais que eram amadas, 33,6% saíram da igreja. Conforme a pesquisa, o número de pessoas que deixam a igreja é bem maior entre as vítimas de agressões físicas (15,7%), de abuso sexual (10,2%) ou de molestação (20,2%) do que os que nunca passaram por tais constrangimentos (respectivamente, 8,4%, 6% e 14,1%). Note-se que essas pessoas que deixaram a igreja voltaram a frequentá-la em algum momento, a ponto de já estarem frequentando novamente no momento da aplicação da pesquisa. Seu retorno é motivo de louvor a Deus. Mas vale observar que sua comunhão com Deus, sua participação na igreja e sua convicção na Bíblia têm frequências menores do que quem sempre ficou. Confira: Sempre ficou na IASD
Já saiu da IASD
Estuda a lição todos os dias
45,3%
36%
Estuda a Bíblia todos os dias
52,2%
42,5%
Exerce cargo na igreja
63,1%
48,4%
Frequenta a classe da Escola Sabatina
85,3%
70,9%
93%
76,8%
Hábitos espirituais
Vai aos cultos de sábado
Além disso, quem já saiu da igreja diz ter mais dificuldade nas doutrinas abaixo do que quem nunca saiu: Maior dificuldade na vida cristã
Sempre ficou na IASD
Já saiu da IASD
Ter domínio próprio
48,8%
50,4%
Guardar o sábado
11,8%
19,2%
Ter relações sexuais só depois do casamento
14,2%
18,3%
Devolver o dízimo
8,1%
13,6%
Dar ofertas
2,5%
3,1%
14
Um dos assuntos mais discutidos pela igreja é o motivo que leva uma pessoa a deixar suas fileiras. Na América do Sul, as respostas tradicionalmente variaram em torno de “não ter amigos”, “ter um preparo bíblico fraco ou deficiente” e “não ser bem atendido pela igreja”. Pela sua importância, a pesquisa perguntou isso às pessoas que já tinham deixado a igreja, permitindo que marcassem até duas razões. Motivos para sair da igreja Ter perdido a vontade
26,2%
Problemas familiares
18,8%
Não mais quiseram frequentar
18%
Problemas no relacionamento (namoro, noivado, casamento)
17%
Achar que têm pecado demais
15%
Não conseguem conviver com a hipocrisia dos outros membros
13,1%
Dificuldades em guardar o sábado
12,1%
Não tinham amigos na igreja
8,4%
Não recebiam atenção
6,8%
A igreja deixou de ser importante
6,5%
Foram disciplinados pela comissão da igreja
6,4%
Desentendimentos com pessoas da igreja
5,6%
Conflitos com o pastor/líderes
3,4%
Deixaram de acreditar
2,8%
A igreja era motivo de briga na família
2,4%
Não gostavam do tipo de culto
2,4%
Passaram a discordar das doutrinas
2,2%
A igreja era rígida demais
1,8%
A igreja os impedia de levar uma vida normal
1,7%
Mudaram de religião
1,2%
A perda da vontade foi o fator assinalado como decisivo em 44,2% das respostas (soma do 1º motivo com o 3º). Não ter amigos aparece somente no oitavo lugar; não receber atenção da igreja, em nono; e briga com pessoas, em décimo segundo. Todas essas respostas apareceram com percentuais distantes dos primeiros. Vale a pena notar a família na decisão de sair da igreja, fator que ocupa o segundo lugar de importância. “Não gostar do tipo de culto” e “discordância das doutrinas” aparecem entre os motivos menos assinalados para ter saído da igreja.
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
Voluntariado é mais um dos temas que variam com o tamanho da COMPROMISSO COM A MISSÃO igreja: se fossem missionários, os membros de congregações de até A pesquisa perguntou: “Você fala de Jesus para 50 membros escolheriam pregar o evangelho como atividade do outras pessoas?” Do total, 93,1% dos membros da igreja disseram “sim”. E, novamente, a idade voluntariado. O aumento do tamanho da igreja vê o deslocamento da pregação do evangelho para alfabetização, diminuição da pobreza, é fator decisivo: 82,3% dos membros de 14 a 16 ensino de uma profissão e projetos de saúde. O percentual de pesanos falam de Cristo. Essa quantidade aumenta soas que não querem ser voluntárias praticamente não é sensibilipara 90,1% entre os de 17 a 30 anos e vai para zado pelo tamanho da igreja: 95,5% entre o grupo de 31 a 59 anos de idade, chegando a 97,5% entre os que têm 60 anos ou mais. Os que não falam de Cristo para Se você pudesse escolher o 501Mais de 51-100 101-200 201-500 Até 50 outras pessoas puderam indicar que fazer como missionário, 1.000 1.000 membros membros membros membros membros membros qual desses você escolheria? mais de um motivo pelo qual não o fazem. O mais indicado, com 51,8% Pregação do evangelho 44,70% 40,80% 37,50% 32,50% 30% 27,20% das respostas, foi “ter medo de não saber responder perguntas”, seguido Projetos de alfabetização 14,10% 15,70% 16,10% 16,70% 15,90% 16,60% de “ter vergonha” (43%), “não enconProjetos para a diminuição da trar oportunidades” (25,5%), “não sou 13,00% 13,50% 13,90% 14,30% 14,70% 14,10% pobreza verdadeiramente convertido” (22%), “ninguém está interessado em conEnsino de uma profissão 10,70% 12,00% 13,40% 15,50% 16% 18,40% versar sobre Deus” (17,1%), “não falo Projetos de saneamento e diretamente porque já testemunho 10,80% 10,90% 11,60% 13,10% 15,20% 16,80% saúde com a minha vida” (15,4%), “não conheço Jesus a ponto de poder falar Não quero ser missionário(a) 6,80% 7,10% 7,60% 7,80% 8,10% 6,90% Dele para alguém” (14,1%) e “ninguém me ensinou o que falar” (9,5%). FATORES DE ÊXITO DA PESQUISA Quando a pergunta foi “você já ensinou a Bíblia Pesquisas assim não devem ser realizadas a todo momento. A sede para alguém não adventista?”, o número caiu para mundial da igreja, por exemplo, tem aplicado o “General Conference 76,1%, embora seja um percentual ainda bastante Membership Survey” a cada cinco anos; a pesquisa mais recente expressivo. As quantidades variam com o tamafoi em 2016. A Divisão Sul-Americana também adotará o intervalo nho de igreja: as igrejas menores concentram mais de cinco anos entre suas pesquisas, realizando a próxima em 2023. membros que já ensinaram a Bíblia para outras Uma pesquisa tão abrangente, alcançando centenas de milhapessoas, e as maiores, menos. res de pessoas em milhares de congregações nos oito países da Em resposta à pergunta “por que você não sede sul-americana, só foi possível graças ao uso da tecnologia e fala de Jesus para outras pessoas?”, medo de à cooperação dos pesquisados e dos líderes. Por meio de um link, não saber responder (57,2%) e vergonha (30,3%) o questionário foi disponibilizado diretamente aos telefones celuestão entre os maiores motivos de as pessoas não lares, tablets ou computadores dos respondentes, evitando custos ensinarem a Bíblia para outras, mas “não conheço operacionais e poupando tempo em cada etapa do processo. Graças a Bíblia a ponto de ensiná-la” (43%) aparece como à cooperação dos envolvidos, tudo funcionou muito bem. o segundo maior motivo. Naturalmente, uma pesquisa não muda automaticamente a conPerguntados sobre o que fariam se fossem misdição espiritual da igreja, pois é o Espírito Santo que efetua a transsionários, homens e mulheres têm interesses difeformação. Nem dispensa a oração e a reflexão dos líderes. Mas ela rentes, conforme a tabela a seguir: é uma ferramenta importante para revelar nossos hábitos espirituais. Por meio desse tipo de estudo, que ajuda a descobrir fatos, Interesses Homens Mulheres missionários estabelecer conexões e tirar conclusões, percebemos onde precisamos melhorar. Isso permite corrigir rotas e direcionar as ênfases. Pregação do Evangelho 46,70% 32,70% Diante dessa ampla pesquisa, precisamos fazer uma análise coleProjetos de 6,50% 22,10% tiva, mas também pessoal. Grandes personagens da Bíblia frequenalfabetização temente avaliavam sua condição espiritual. O rei Davi foi um deles. Projetos de diminuição 12,10% 14,80% da pobreza Ao constatar seu pecado, ele orou: “Cria em mim, ó Deus, um coração Ensino de uma puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (Sl 51:10). Nós 18% 9,40% profissão também devemos ter um espírito disposto a realizar mudanças. ] Projetos de saneamento e saúde
9,10%
13,80%
Eu não quero ser missionário
7,70%
7,10%
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
THADEU J. SILVA FILHO, doutor em Sociologia, é o diretor do Departamento de Arquivo, Estatística e Pesquisa da Divisão Sul-Americana
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SOCIEDADE
AMBIENTE SEGURO O que pode ser f ei t o par a que nossos t emplos se t or nem mais pr o t egidos dos di v er sos t ipos de abuso
E
Foto: Stevanovicigor
m muitas regiões do mundo, o abuso de vulneráveis domina as manchetes quase todos os dias. Infelizmente, tal abuso está acontecendo não apenas “lá fora”, mas dentro de lares cristãos e igrejas de todas as denominações, inclusive entre os adventistas do sétimo dia. Recentemente, Bill Knott e Gerald K lingbeil, editores da Adventist World, iniciaram uma discussão em torno das atitudes que podem ser tomadas para garantir que a igreja se torne um ambiente mais seguro. A seguir, apresentamos uma síntese da conversa, que envolveu os seguintes líderes da sede mundial adventista: Willie e Elaine Oliver, diretores do Departamento de Lar e Família; Raquel Arrais, diretora associada do Ministério da Mulher; Karnik Doukmetzian, diretor do Departamento Jurídico; Peter Landless, diretor do Departamento de Saúde; Ella Simmons, vice-presidente; Torben Berglan, diretor associado do Departamento de Saúde; e Anthony Kent, secretário associado da Associação Ministerial.
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
BILL: Gostaria que cada um dissesse o que vem à sua mente quando falamos em “igreja segura”. WILLIE: Penso em um lugar ou em um ambiente no qual tanto a liderança como os membros estejam determinados a garantir que todos vão sentir-se bem nos aspectos mental, espiritual, físico e emocional. RAQUEL: Penso em alguém que ouve de modo terapêutico. Alguém que consegue ouvir, identificar e, talvez, intervir em algum momento. KARNIK: Não ter que se preocupar se vou levar um tiro ou ser abusado. ELAINE: Imagino um local em que meus filhos possam brincar e se sentirem confortáveis e confiantes de que não vão ser machucados; de que não vão ser abusados; de que não serão vítimas de algum tipo de violência. PETER: Penso em um lugar em que não apenas se está a salvo da violência, mas que acolhe, cuida e abraça; onde a violência e o abuso são intencionalmente evitados. ELLA: Raramente me senti completamente aceita. Então, para mim, uma igreja segura é aquela em que todas as pessoas, independentemente de sexo, origem étnica ou cultural, possam se sentir completamente aceitas quando são bem-sucedidas e quando falham. TORBEN: Estar seguro é uma necessidade fundamental. Temos que estar seguros! Temos que nos sentir seguros! Se não estivermos seguros, não prosperamos e não nos saímos bem. Quando você combina a palavra “seguro” com a palavra “igreja”, imaginamos um lugar muito bom. Mas a igreja é feita de pessoas, e as pessoas nunca estão 100% seguras. Quando lidamos com gente, há sempre o potencial para algo que não é bom. Precisamos reconhecer isso. Não podemos tomar como certo que a igreja será um lugar perfeitamente seguro. BILL: Todos nós assistimos às reportagens da mídia nacional e internacional que fazem referência a atos de violência e abuso registrados em santuários e outros lugares considerados seguros. Há alguma coisa que sua igreja local esteja fazendo que vai ajudar a transformá-la em um lugar em que todos se sintam protegidos? WILLIE: Em nossa congregação, somos muito cuidadosos com o momento das ofertas. Os diáconos fazem a oração e passam as salvas. Há outros que se posicionam estrategicamente, perto da frente da igreja, e nos fundos. Todo o grupo de diáconos recebe treinamento especializado para agir como segurança da igreja durante os momentos de maior vulnerabilidade. ELLA: O que Willie disse é muito importante. Queremos que nossas finanças estejam seguras. Mas nossos filhos precisam ter a liberdade de andar em segurança pelas dependências das nossas igrejas. Algumas delas já estão preparadas para isso. A minha igreja também tem diáconos e outras pessoas em lugares estratégicos para cuidar das crianças. No momento da Escola Sabatina, quando elas saem do auditório principal e vão para suas classes, temos um sistema de segurança que requer dos pais ou responsáveis um registro na entrada e na saída das crianças. Elas ainda ganham um R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
crachá de identificação, e nenhuma sai da classe sem ser acompanhada pelo responsável designado oficialmente na identificação da criança. BILL: Quantos de vocês estão cientes de que sua igreja tem algum grau de treinamento para esse tipo de assunto? [Todos levantaram a mão.] Então vocês têm o privilégio de frequentar congregações mais conscientes. Qual é a porcentagem de igrejas adventistas preparadas para esse tipo de situação? KARNIK: Provavelmente menos de 50%. A Divisão Norte-Americana estabeleceu um sistema de verificação de antecedentes para todos os voluntários. Anciãos, diáconos, diretores de departamento... todos têm que passar por uma verificação de antecedentes. Fazemos isso para proteger não só as crianças, mas também para salvaguardar os voluntários de acusações falsas. GERALD: Se olharmos para a igreja como um todo, temos feito o suficiente para garantir a segurança em nossos templos? Falamos sobre crianças, dinheiro, segurança física. Mas será que já fizemos o suficiente para garantir que ninguém seja vitimado? KARNIK: Podemos dizer que já fizemos o suficiente até que haja um problema. Então voltamos, analisamos e dizemos: “Devíamos ter feito isso ou aquilo.” Podemos melhorar sempre. A questão é considerar tudo, e garantir que fizemos o nosso melhor em todos os aspectos. RAQUEL: Como igreja mundial, desde 2001, temos dedicado um sábado especial para a conscientização sobre o potencial para a violência. É um dia dedicado à informação da nossa comunidade de fé e das comunidades vizinhas, falando sobre segurança e abuso, e oferecendo materiais e recursos que permitam que as pessoas saiam mais conscientes do problema e de como solucioná-lo. TORBEN: É muito bom que tenhamos todas essas iniciativas e programas. No entanto, mesmo tendo potencial para melhoramentos, às vezes falta colocá-los em prática. ANTHONY: Precisamos pensar não somente na nossa segurança, mas também na proteção da comunidade em geral. Assim, a igreja se torna um santuário, um local conhecido pela segurança e liberdade. PETER: No entanto, é necessário haver disposição para falar sobre essas questões. 17
Tendemos a discutir facilmente a segurança física e a segurança do dinheiro, por exemplo, mas contornamos a questão do abuso, que assume muitas formas, entre elas a violência doméstica. Essas são áreas que frequentemente evitamos. TORBEN: É importante instruir nossos líderes e funcionários, mas é igualmente importante instruir os membros da igreja e nossos filhos. Eles precisam ser capazes de reconhecer certas ações e comportamentos como não aceitáveis, como formas de abuso que não podem ser toleradas pela igreja. Devem aprender a falar sobre o problema quando algo acontecer. RAQUEL: Falar sobre questões sensíveis no púlpito era tabu, mas atualmente não é mais. Em nível mundial, oferecemos vários treinamentos e materiais para as igrejas locais. Hoje, a Igreja Adventista do Sétimo Dia está falando sobre abuso, segurança e outros assuntos bem pouco discutidos abertamente no passado. ELAINE: Concordo plenamente. Mas descobrimos que as igrejas locais nem sempre sabem da existência desses recursos. Precisamos utilizar as plataformas que as pessoas estão usando, não apenas o Facebook. A maioria dos adolescentes e estudantes universitários está no Instagram e Snapchat. Precisamos colaborar com adultos mais jovens para que eles possam compartilhar informações em suas plataformas de mídia social. Temos que começar a falar a língua que as pessoas falam hoje. ANTHONY: Um dos nossos maiores recursos é a Bíblia, e ela não evita abordar as várias questões de vitimização, abuso e trauma pessoal. Nos sentimos desconfortáveis ao ler algumas dessas passagens em público, mas essas histórias estão lá por uma razão. BILL: Vários de vocês mencionaram a questão da violência doméstica como a real causa de muito do que está
DEFINIÇÃO DE ABUSO CLAUDIO E PAMELA CONSUEGRA
Em termos gerais, o abuso acontece sempre que alguém prejudica de alguma forma e intencionalmente outra pessoa, muitas vezes para ter controle sobre ela ou para o benefício pessoal do abusador. Existem diferentes formas de abuso, como o estupro ou a agressão sexual, o abuso físico, psicológico, verbal, financeiro, espiritual e emocional. Crianças e idosos são os alvos mais vulneráveis, e muitas vezes sofrem o abuso das pessoas mais próximas (membros da família, cuidadores, professores, pastores, treinadores, entre outros). O abuso não está limitado a apenas uma cultura, nível educacional e socioeconômico ou filiação religiosa. O abuso também não é praticado apenas por homens contra mulheres. Eles também podem ser vítimas. E ainda há casos em que o abuso é praticado contra pessoas do mesmo sexo. ]
CLAUDIO e PAMELA CONSUEGRA são, respectivamente, diretor e diretora associada do Departamento de Lar e Família na Divisão Norte-Americana
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acontecendo na vida da congregação. Os que já estiveram envolvidos no ministério pastoral conhecem essas histórias. Avalie como a igreja está lidando com os problemas de violência doméstica. WILLIE: Penso que estamos fazendo mais e melhor. Como a Raquel mencionou, o programa Quebrando o Silêncio (End It Now) oferece recursos para o problema. O Ministério da Família também aborda frequentemente essas questões. Produzimos programas de televisão e seminários, e agora os pastores já estão pregando e falando sobre a violência. Portanto, a conscientização já é maior, mas ainda há muito a ser feito. ELLA: Pode e deve ser feito mais em nosso processo de educação formal, na formação e treinamento de pastores. Precisamos ser intencionais, diretos e atuais na linguagem, nas pesquisas e nos meios de comunicação. Às vezes, estamos tão fixados em quem somos e no que estamos fazendo que não vemos o que está acontecendo no mundo ao nosso redor. Devemos estar cientes de tudo o que acontece em nossas comunidades. Devemos preparar pastores para esse tipo de convivência com a comunidade. TORBEN: A igreja tem uma grande oportunidade de se aproximar dos membros por meio da Escola Sabatina, dos Desbravadores e e das escolas. Devemos abordar essas questões de forma sistemática e estabelecer o padrão. Esses são os princípios que nós defendemos. GERALD: Ainda bem que estamos discutindo prevenção! Mas, como igreja, o que fazemos quando enfrentamos esses problemas? WILLIE: Infelizmente, não nos preparamos tão bem como deveríamos. Estamos enfrentando o abuso com mais frequência, mas ainda não estamos resolvendo muitas dessas situações. A igreja precisa ser responsável, primeiramente, como uma comunidade de fé. Devemos estar certos de que nossos pastores são devidamente treinados e sensíveis não só ao abuso, mas até à aparência de abuso. Eles precisam estar conscientes do fato de que usar certa linguagem verbal e certa linguagem corporal pode fazer com que as pessoas se sintam abusadas. Nossa maneira de falar, o que fazemos e como utilizamos o nosso corpo devem transmitir segurança. BILL: Quero perguntar às mulheres: O que vocês pensam quando entram, pela primeira vez, em uma congregação? Como podem concluir que esse lugar é seguro? ELLA: A linguagem corporal às vezes diz mais do que aquilo que alguém diz ou do que a forma com que olham para você. Em um R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
ambiente novo, observo como as pessoas se relacionam; como os maridos tratam as esposas; como os solteiros interagem; como as pessoas interatuam com as crianças. O modo com que sou recebida naquele ambiente, em qualquer cultura do mundo, também mostra como devo me comportar. ELAINE: Precisamos de mudança de paradigma em nossa igreja. Sendo sinceros, ela ainda está muito centrada nos homens. Uma pergunta deve estar em nossa mente: Se tivermos problemas de abuso e violência, como as pessoas nesse contexto vão lidar com o assunto? Será que estão preparadas? Elas têm conhecimento suficiente? Serão capazes de separar suas crenças culturais e pessoais do que realmente está acontecendo e ser capazes de criar um ambiente seguro? RAQUEL: Sabemos que há muitas mulheres sendo abusadas e, às vezes, a igreja fica completamente em silêncio. Ignoramos totalmente o problema. É aí que muitas vezes falhamos. Não sabemos o que dizer; não sabemos aonde ir; não sabemos o que fazer. Precisamos criar um sistema de colaboração entre todos os departamentos que chegue até o nível da igreja local. KARNIK: Outro ponto a ser lembrado é que nossas igrejas têm as portas abertas. Em outras palavras, qualquer pessoa
OBSERVE E DENUNCIE
da rua que quiser entrar é bem-vinda. Portanto, temos que ser muito cuidadosos com a proteção e segurança não apenas de nossos adultos, mas também de nossas crianças, e estarmos seguros de que dispomos de procedimentos que garantem nossa segurança. BILL: Quero continuar com uma pergunta para Karnik sobre uma discussão que li on-line. Algumas pessoas muito bem-intencionadas sugeriram que, quando for percebido um incidente de abuso e esse chegar ao conhecimento da congregação, o fato não deve ser denunciado à polícia. Ao contrário, deve ser tratado internamente, no sistema da igreja. “Não devemos levar um irmão ao tribunal.” Essa foi a expressão que alguns usaram. O que você tem a dizer para pessoas com esse tipo de pensamento? KARNIK: Se você é um pastor ou alguém que, pela lei, é responsável por denunciar incidentes de abuso, você tem a obrigação de denunciar ou, provavelmente, vai para a cadeia. Nosso trabalho é proteger. Quanto mais cedo as
Se algo for observado, como os membros da igreja devem agir?
KARNIK DOUKMETZIAN
Em vez de tomar o assunto em suas mãos e investigar sozinhos,
Aqueles que tiram vantagem dos mais fracos, idosos e crianças
devem primeiro comunicar o fato ao pastor ou ao primeiro-ancião.
muitas vezes veem nas igrejas e escolas o local ideal para encontrar
Estes, por sua vez, devem informar as autoridades. Os membros
suas próximas vítimas. Às vezes, pensamos que os abusadores
devem ser vigilantes e observadores, a fim de que os predadores
sexuais se aproveitam somente de crianças e adultos vulneráveis,
reconheçam que as possibilidades para o abuso são inexistentes
mas eles também se aproveitam dos idosos das nossas congre-
nos ambientes em que todos os membros estão atentos.
gações, especialmente na área financeira.
Pode dar-se o caso de que pessoas acusadas e condenadas
Nas igrejas e escolas, as pessoas precisam viver como família,
por tais delitos peçam para ser readmitidas como membros da
um cuidando do outro. Os líderes das igrejas locais devem ensinar
igreja. Segundo o Manual da Igreja, “ao lidar com autores de abuso
os membros a reconhecer os sintomas do abuso físico, financeiro
sexual, deve-se ter em mente que a restauração de membro não
e sexual. O alvo de toda organização deve ser um treinamento
anula todas as consequências de tão séria violação. Conquanto
semelhante ao que é obrigatório para todos os voluntários na
o desempenho de atividade na igreja possa ser permitido com
Divisão Norte-Americana.
regras devidamente estabelecidas, uma pessoa culpada ou disci-
O Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia declara: “A igreja
plinada por abuso sexual não deve ser colocada em um cargo que
deve ser um lugar seguro para nossas crianças. Todas as pessoas
possibilite o contato com jovens e outros indivíduos vulneráveis.
envolvidas no trabalho de crianças menores devem estar em
Tampouco deve ser-lhe dada alguma posição que encoraje pessoas
harmonia com as normas e exigências legais da igreja” (p. 175).
vulneráveis a confiar implicitamente nela” (p. 67).
Entre outras coisas, tais regulamentos devem incluir uma triagem
Os membros e líderes devem proteger a igreja e todos os
e “fazer com que todos os voluntários preencham um formulário
que entrarem por suas portas. Ao mesmo tempo, devemos ser
de informações de voluntário, verificar suas referências e, se for
cuidadosos e não espalhar rumores antes de as acusações serem
requerido por lei, fazer uma verificação de antecedentes policiais”.
profundamente investigadas pelas autoridades e permitir que
O Manual da Igreja também determina que a organização deve
elas realizem seu trabalho com eficiência e a tempo.
“proporcionar formação regular de professores e voluntários para
Para mais informações, leia o seguinte documento: “Sex Offen-
ajudá-los a entender e proteger as crianças e como alimentar sua fé”.
ders in the Church: A Legal Guide” (Criminosos Sexuais na Igreja:
Os treinamentos são importantes para que os membros não
Um Guia Jurídico). Acesse: bit.ly/2YP6wjF. ]
apenas saibam o que a lei requer que seja denunciado à polícia em sua jurisdição, mas também para compreender os sinais que
KARNIK DOUKMETZIAN é diretor do Departamento Jurídico da sede
identificam o abuso.
mundial adventista em Silver Spring, Maryland (EUA)
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
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WILONA KARIMABADI
Meredith, nome fictício para preservar sua identidade, diz que suas primeiras memórias dos abusos emocionais do seu pai, eram dele junto à sua mãe destruindo-a verbalmente, enquanto ela permanecia sentada, chorando. Ela lembra de ele ter ameaçado tirar a vida da mãe por duas vezes, detalhando a maneira como planejava fazer isso sem ninguém descobrir. Embora ela afirme que ele nunca a atacou fisicamente, suas tendências violentas e comportamento volátil eram suficientes para aterrorizar a família inteira, o tempo todo. Para ele, nada era bom o suficiente, e Meredith cresceu sentindo-se severamente controlada e sendo sempre o recipiente final dos seus surtos de ódio. Por oito anos, a situação foi de mal a pior. Meredith sofreu com uma depressão profunda ao ponto de pensar em suicídio. Mas, aos olhos das pessoas de fora, sua família era perfeita, e seu pai, um homem gentil. Ninguém tinha ideia do que se passava dentro daquela casa. Buscar a ajuda dos amigos foi inútil, pois ninguém a entendia. As pessoas aconselhavam Meredith a perdoar o pai simplesmente por ser seu pai. A terapia não curou completamente sua dor emocional, mas ofereceu um caminho para que ela começasse a se recuperar do trauma. Isso a ajudou a controlar seus sentimentos em relação ao pai, embora situações estressantes ainda geralmente resultem em fortes respostas emocionais. Ela aprendeu a ver suas percepções da realidade nesses momentos. Através disso, Meredith aprendeu a distinguir suas emoções conflitantes em direção ao pai de sua confiança no Pai celestial. Ela reconheceu que, em meio à escuridão, Ele sempre esteve ao seu lado. ]
WILONA KARIMABADI é editora assistente da Adventist World
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
Foto: Kilarov Zaneit
MINHA CASA NÃO ERA O CÉU
autoridades puderem investigar a situação, melhor. Deixe que as autoridades façam seu trabalho. Investigar não é nossa função. De fato, podemos atrapalhar a investigação da polícia se tentarmos investigar por nós mesmos. Meu conselho sempre é denunciar e deixar que as autoridades lidem com o caso. BILL: Mesmo com a possibilidade de que o fato possa criar um constrangimento para a imagem da igreja e da comunidade? KARNIK: Absolutamente! Se não denunciarmos, estaremos correndo o risco não apenas de ir para a cadeia, mas também de a igreja, como instituição, ser responsabilizada pelo problema. ANTHONY: O constrangimento será maior. WILLIE: Nossa preocupação deve ser a segurança, e não se vamos constranger ou não a igreja. KARNIK: Mas também devemos oferecer proteção para o indivíduo que é acusado, porque a investigação pode provar ter sido uma acusação mentirosa. ELAINE: Precisamos ainda de uma identificação exata de quem está cometendo o abuso. Não é somente uma questão de estar atento aos estranhos. Caso contrário, todos vão relaxar e não verão necessidade para uma verificação de antecedentes. Devemos responsabilizar todos. ELLA: Se pudermos adotar a postura de tolerância zero em todos os casos de abuso, então todas essas coisas se acomodarão, pois serão necessárias em um ambiente de tolerância zero. Não estou certa de que já demos esse passo. GERALD: Vamos falar sobre a dimensão espiritual da segurança e transparência dentro da igreja, pois isso afeta não somente a congregação local, mas também as diferentes gerações. Um dia desses eu li que os millennials das várias denominações cristãs estão abandonando suas igrejas porque percebem falta de coerência entre o que os membros dizem e o que realmente está acontecendo. Então vamos falar sobre a dimensão espiritual desse assunto. WILLIE: Quero abordar a questão pela perspectiva da abertura da igreja. As ideias dos jovens podem soar radicais para os mais antigos e, por isso, são frequentemente descartadas. Vejo isso como falta de segurança. Segurança na congregação significa termos uma abordagem aberta quando alguém tem opinião diferente da nossa, especialmente nossos jovens. Devemos incentivar um ambiente de abertura e aceitação. RAQUEL: Posso dar um exemplo. Em certo evento do qual participei em outro país, disponibilizei o microfone para cerca de 3 mil mulheres se expressarem. Foi uma oportunidade maravilhosa porque os pastores da região estavam presentes. As informações, declarações e regulamentos da Associação Geral nem sempre chegam até elas. Nós aqui não as conhecemos. Portanto, em algumas regiões, no nível da igreja local, as mulheres consideram o abuso uma parte normal da vida e algo que elas têm que suportar. Muitas mulheres daquela região já sofreram violência doméstica e, pela primeira vez, ouviram o que diz o Manual da Igreja. Isso foi libertador para elas. Pela
O QUE VOCÊ PODE FAZER
ENCONTRANDO MEU LUGAR SEGURO
1. Prepare-se e prepare sua congregação para lidar com denún-
Existe uma conexão antiga e inabalável entre o que é “sagrado” e o que é “seguro”. Da era bíblica à era moderna, os seres humanos têm identificado os espaços que julgam carregados com a presença de Deus como lugares em que pessoas em aflição ou perigo podem buscar proteção. Com razão, a suposição é de que Deus esteja do lado da justiça quando a vingança persegue; que aqueles visados ou marginalizados pelos poderosos podem encontrar em Sua presença um “abrigo na hora da tempestade”. Mesmo que as leis do “santuário” tenham sido desmanteladas na maioria das sociedades, há uma crença permanente de que uma igreja deve ser um lugar extraordinariamente seguro neste mundo atormentado pela violência, predação e pelo abuso. Com a dilaceração do véu do templo na morte de Jesus, a compreensão bíblica da localização da “igreja” mudou da estrutura física em que a adoração ocorria para uma comunidade de crentes que carregam o que é sagrado com eles – e neles. O Espírito Santo residindo na vida daqueles que seguem Jesus santifica os lugares nos quais os crentes habitam, bem como suas relações de trabalho e testemunho. O santuário na Terra não mais é um prédio feito de pedra ou madeira, ou mesmo uma tenda de reuniões, mas uma comunidade de cuidado e proteção em que os fracos e os marginalizados encontram segurança e uma casa. E assim deve continuar a ser. Podemos orar – e devemos trabalhar – para garantir que o abuso não invada mais nenhuma comunidade, especialmente a da igreja. Devemos nos comprometer a proteger aqueles que são vitimados por seu gênero e idade (crianças ou idosos), pela condição física, nacionalidade ou cor da pele. Esta é a religião bíblica: “visitar os órfaõs e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tg 1:27). Uma conexão duradoura entre o que é “seguro” e o que é “santo”. As pessoas mais procuradas em qualquer região devem ser aquelas que “guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” porque amam a Deus mais do que tudo e amam profundamente o próximo. Os adventistas do sétimo dia devem ser as pessoas “mais seguras” do planeta para quem quer conversar quando se sente desanimado, adorar quando está quebrantado ou para conviver enquanto aprende. Comprometa-se a tornar a comunidade da igreja um lugar de segurança e acolhimento! ]
JENNIFER JILL SCHWIRZER
cias de abuso. Mais cedo ou mais tarde poderá surgir esse tipo de problema. Vários ministérios podem ser úteis para encontrar os materiais educacionais corretos para cada situação. 2. Reporte o caso às autoridades apropriadas. Encobrir o crime irá manchar a reputação da igreja. Se o abuso não é uma questão criminal, mas uma questão moral (por exemplo, um oficial da igreja que se envolveu em um relacionamento inadequado com um membro), deve ser informado ao pastor local, que, por sua vez, levará a situação para o nível administrativo mais próximo. Se uma pessoa foi abusada, incentivá-la a confrontar o abusador não é uma atitude sábia. Em todo caso, devemos ter muito cuidado para não aumentar o trauma das vítimas de abuso. 3. Encaminhe a vítima e o agressor para sessões de aconse-
lhamento. ]
JENNIFER JILL SCHWIRZER é conselheira e vive em Orlando, na Flórida (EUA)
primeira vez elas foram empoderadas para dizer: “Sim, a igreja tem regulamentos para essa situação, e podemos falar com segurança.” TORBEN: Pela perspectiva espiritual, devemos adotar uma política de tolerância zero. O abuso é o antônimo de amor. O fruto do amor não é e nunca será o abuso, em nenhuma de suas formas. Como igreja também devemos assumir uma posição clara e forte para o bem do agressor. Para ele (ou ela), essa postura pode ser redentora. ELLA: Para uma resposta espiritual temos que ir ao livro de Gênesis. No princípio, Deus instruiu o homem e a mulher a cuidar e proteger Sua criação. Toda vida devia ser protegida e cuidada. Como cristãos, temos uma responsabilidade ainda maior do que os incrédulos, porque afirmamos aceitar a direção e instrução de Deus em nossa vida. Portanto, devemos nos esforçar para cuidar, proteger e prolongar a vida. WILLIE: Absolutamente! A Bíblia é muito clara. Qual é a cultura das Escrituras? Em 1 Coríntios 13:4 lemos que “o amor é paciente, o amor é bondoso”. Por sua vez, G álatas 5:22 diz que “o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência” (NVI). Essa é a cultura cristã; essa é a cultura da Bíblia e deve permear todas as nossas comunidades de fé. Portanto, precisamos deixar muito claro que não existe lugar para o abuso, para ferir alguém nem para alegar que é parte da cultura. Essa não é a cultura divina. É a cultura de Satanás! BILL: Precisamos de vozes corajosas em nossos púlpitos, muito treinamento e informação para comunicar princípios às outras gerações que, simplesmente, não fluirão deles automaticamente e vocês demonstraram essa realidade hoje. Muito obrigado por se preocuparem tão profundamente com o assunto! ] R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
BILL KNOTT
BILL KNOTT é editor da revista Adventist World
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NISTO CREMOS
Experimente a graça NOSSA FÉ É TRANSFORMADA QUANDO OLHAMOS PARA JESUS GERMÁN JABLOÑSKI
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
Foto: Sam Rios
U
ma das questões teológicas mais difíceis, controversas e debatidas entre os cristãos é a seguinte: Tenho que fazer alguma coisa para ser salvo? Às vezes, a Bíblia parece dizer que não há nada que devamos ou possamos realizar para ser salvos, pois a salvação é um dom e não podemos atribuir nenhum mérito a nós mesmos (Rm 3:24; 9:16; Ef 2:5-9; Tt 3:5; 2Tm 1:9). Em outras passagens, a Bíblia declara que temos que fazer alguma coisa para ser salvos e até mesmo sugere que a salvação custa um grande sacrifício (Lv 18:4, 5; Js 23:6; Mt 7:13, 14; Fp 2:12; Tg 2:14-26). Geralmente, a resposta curta e simples é que a salvação é um dom que não podemos conseguir pelas obras, mas que aceitamos por meio da fé. O problema com essa resposta é que a fé também é obra e, portanto, pode levar à vanglória. Alguns tentam sair desse dilema dizendo que a fé também é um dom. Embora seja verdade que Deus é Aquele que sustém nossa fé, a única coisa que essa resposta faz é mudar o problema de lugar. Se queremos saber o que temos que fazer para ser salvos, precisamos saber como podemos aceitar o dom da fé, de modo que o problema permanece.
Outra resposta comum é que nossa contribuição para a salvação é tão pequena ou insignificante que seria ridículo a considerarmos um mérito. Isso indiscutivelmente é verdade, quando comparado ao sacrifício de Cristo. O problema com essa resposta é que, além de ser subjetiva, minimiza o intenso esforço e sacrifício que a Palavra de Deus nos incentiva a fazer, não apenas como resultado de nossa salvação, mas como um meio de obtê-la (1Pe 1:9; Fp 2:12). Ao longo da história, muitos responderam com uma ênfase negativa à pergunta: “Preciso fazer alguma coisa para ser salvo?” Assim, adotaram a doutrina da predestinação. Outros responderam positivamente e com frequência têm caído na armadilha da salvação pelas obras. O primeiro grupo, tentando proteger a graça de Deus e a ausência do mérito humano, compromete o livre-arbítrio do ser humano; o segundo grupo, procurando salvar a livre escolha, compromete a graça de Deus e a ausência do mérito humano. O terceiro e maior grupo não responde à pergunta categoricamente com um sim ou não, mas oferece explicações que muitas vezes se contradizem ou levam a um beco sem saída, conforme descrito no parágrafo anterior. O CENTRO DA FÉ Como então essas duas respostas podem ser conciliadas? O ponto-chave está no objeto da nossa fé. Se aqueles que olham para Cristo como Salvador começam a pensar que estão sendo salvos pelo fato de confiar muito Nele, então sua fé não seria mais em Cristo, mas em sua própria fé. O foco deve estar em Deus, não em nós. Os passageiros dentro de um avião em pleno voo têm a sensação de estar parados. Somente os que veem a aeronave pelo lado de fora podem perceber a grande velocidade com que ela está se movendo. Algo semelhante acontece com a fé. Um observador externo poderia inferir que os crentes estão sendo salvos pelo exercício da fé, mas os crentes nunca poderiam pensar assim, pois naquele momento Cristo não mais seria o objeto de sua fé. Seria como tentar ver nosso reflexo em um espelho com os olhos fechados: se nos vemos, nossos olhos estão abertos; se fechamos os olhos, não nos vemos. Porém, isso não significa que não devamos mais fechar os olhos, nem que, ao f azê-lo, o espelho não projete mais nosso reflexo. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
SE VOCÊ PENSAR QUE ESTÁ SENDO SALVO PELO FATO DE CONFIAR MUITO EM JESUS, SUA FÉ NÃO SERIA MAIS EM CRISTO, MAS EM SUA PRÓPRIA FÉ
De maneira semelhante, confiar em Jesus como nosso Salvador não significa que Ele não seja realmente nosso Salvador nem que não devamos fazer coisa alguma. C. S. Lewis, escritor inglês, apresenta uma explicação útil: “Não se pode estudar o prazer no momento do abraço nupcial, nem o arrependimento no momento em que se arrepende, nem analisar a natureza do humor no auge da gargalhada. Contudo, em que outro momento podemos realmente compreender essas coisas? Se minha dor de dente passasse, eu poderia escrever outro capítulo sobre a dor. Mas, quando a dor para, o que realmente vou compreender sobre ela?” (God in the Dock [Eerdmans, 2014], p. 57) O significado simples da fé tem sido obscurecido por meio de uma abordagem filosófica desnecessariamente complicada. Enquanto estivermos olhando para Cristo e confiando Nele, estaremos seguros. Deixar de olhar para Cristo para escrutinar a experiência da fé não tem nenhum sentido. Esta explicação da justificação pela fé não torna a graça de Deus, nosso livre-arbítrio e nosso esforço mutuamente exclusivos. Ao contrário, permite que os compreendamos em toda a sua extensão. Este jeito de pensar não é um esquema sofisticado, mas é consistente com a Palavra de Deus (veja Ez 33:13; Jo 3:14-15; Ef 2:8). Se temos “os olhos fitos em Jesus, Autor e Consumador da nossa fé” (Hb 12:2, NVI), não há espaço para vanglória. Como Pedro, enquanto estivermos olhando para Jesus, estaremos salvos, ainda que andando sobre a água. Ellen White enfatizou esse aspecto em Mensagens aos Jovens (p. 111): “Muitos que buscam sinceramente a santidade de coração e a pureza de vida ficam perplexos e desanimados. Estão constantemente olhando para si mesmos e lamentando sua falta de fé; e, porque não têm fé, acham que não podem rogar as bênçãos divinas. Essas pessoas confundem sentimento com fé. Olham acima da simplicidade da fé verdadeira, trazendo assim sobre a sua vida grandes trevas. Deveriam desviar o pensamento de si mesmas, deter-se na misericórdia e bondade de Deus, recordando Suas promessas, e então simplesmente crer que Ele cumprirá Sua palavra.” ] GERMÁN JABLOÑSKI é estudante de Teologia na Universidade Adventista Del Plata, na Argentina
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HISTÓRIA DA IGREJA
Avanço na missão CONHEÇA UM DOS ÚLTIMOS LEGADOS DE JOHN NEVINS ANDREWS
H
á exatamente 145 anos, a primeira família de missionários adventistas foi oficialmente enviada dos Estados Unidos para a Europa. Desde então, milhares deixaram o conforto e a familiaridade de sua terra natal e superaram o choque cultural para servir em todo o mundo. Os missionários continuam indo! Conheça o pioneiro deles. Quando o estimado pioneiro John Andrews partiu de Nova York rumo à Suíça, em setembro de 1874, com seus dois filhos adolescentes, Mary e Charles, a Igreja Adventista entrou em uma nova era, a era da missão mundial. Embarcar nessa obra pioneira não foi uma decisão fácil. Os líderes da igreja não eram unânimes sobre a necessidade da presença de missionários em outros países, decisão que levou mais de um ano para ser tomada. Andrews havia sido tão valioso para Tiago White quanto Philip Melanchthon fora para Martinho Lutero. Ele era o estudioso “sistematizador” da teologia adventista. Não poderia ter sido poupado? Por outro lado, o debilitado Tiago White, às vezes, via Andrews como um desafio para sua liderança. Seria o viúvo 24
Andrews a melhor pessoa a ser enviada, mesmo sendo capaz de ler o francês? George Butler, presidente da Associação Geral, ajudou a cristalizar a decisão e a partida de Andrews inaugurou uma nova e brilhante era para a igreja, embora, na manhã daquele dia, o brilho do sol tenha sido bloqueado por nuvens e neblina. Os problemas financeiros, de saúde e incompreensão cultural foram abundantes. INOCENTES NO EXTERIOR Andrews esperava que certas coisas iriam se acomodar quando chegasse a Neuchâtel, na Suíça, uma cidade charmosa à beira do lago e que deveria ser o local em que iniciaria sua nova vida como missionário. O plano era que os guardadores do sábado espalhados na região e convertidos uma década antes pelo pregador independente
Michael Czechowski conseguissem ajudantes para o evangelismo e financiassem a operação. O próprio Andrews não recebia salário da Associação Geral; esperava-se que ele conseguisse novos conversos rapidamente e que eles pagassem seu salário. O objetivo imediato era tornar-se autossustentável. Battle Creek pagou sua passagem de navio, mas Andrews teve que pagar as passagens para seus filhos Mary, 13, e Charles, 16, e pelo transporte de seus livros e itens pessoais. Os regulamentos sobre envio de missionários ainda não existiam. Para sobreviver, Andrews teve que utilizar boa parte dos seus recursos pessoais. Quando chegou, Andrews descobriu que as coisas eram bem diferentes das suas expectativas. Logo nos primeiros dias, as rajadas geladas do choque cultural quase
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
Foto: Andrews University
GILBERT M. VALENTINE
o derrubaram. Os obreiros locais, com quem estava contando, não estavam disponíveis, e as famílias de guardadores do sábado enfrentavam profunda dificuldade financeira. Não seria fácil proverem seu salário. Muitas outras coisas eram diferentes também: a comida, os banheiros, os utensílios domésticos e os costumes locais. Sua opinião, nem sempre só para si, era que os Estados Unidos eram muito “melhores” do que a Europa, muito mais avançados. É claro que naquele tempo ele não chamava sua reação de “choque cultural”, mas, desde 1874, esse é o primeiro desafio enfrentado por todos os missionários depois dele. Foram meses para Andrews reconhecer que eram apenas diferenças; não se tratava de melhor ou pior. LINGUAGEM CLARA Um dos primeiros e principais ajustes que Andrews teve que fazer foi relacionado à sua “linguagem clara”. Costume profundamente enraizado da Nova Inglaterra e incentivado pelos seus mentores Tiago e Ellen White, esse estilo de comunicação valorizava a honestidade e franqueza acima das gentilezas diplomáticas. Porém, os crentes suíços não aceitaram bem esse tipo de comunicação. Seus ouvintes o achavam duro, insensível e antagônico. Foi necessário certo tempo para que Andrews se adaptasse e para que os crentes suíços apreciassem os encontros sociais adventistas no estilo de reavivamento, com sua abordagem emocional distinta à experiência religiosa. Aprender o idioma local tornou-se uma prioridade para Andrews. Ele conseguia ler o francês razoavelmente bem, embora lentamente. Falar com fluência era outra coisa. Ele precisava aprender a falar. Os guardadores do sábado falavam francês muito rápido, emendando as palavras em “um tom grave e incompreensível”. Sem compreender, Andrews sentia-se isolado. Sentia uma exasperação agonizante enquanto lutava para aprender. Aos 45 anos de idade, sua língua e seu palato simplesmente não davam forma aos sons pretendidos pelo seu cérebro. Felizmente, seus filhos adolescentes, com estruturas cerebrais muito mais flexíveis, aprenderam muito mais facilmente a língua. Foram necessários três anos de determinação obstinada para Andrews conseguir o domínio suficiente do francês para pregar publicamente, sem constrangimento. Ele aprendeu a conversar em um alemão desajeitado, mas sempre precisou de tradutor para pregar nessa língua. Pietro Copiz, especialista em idiomas, destacou R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
ENCONTRAR NOVOS CAMINHOS PARA A MISSÃO FOI UMA DAS CONTRIBUIÇÕES DE ANDREWS À IGREJA que as habilidades linguísticas de Andrews acumularam alguns mitos ao longo dos anos. Ele realmente não era um grande linguista. Mas era totalmente comprometido em aprender o necessário para ser bem-sucedido na missão. Com esforço e determinação, Andrews acabou dominando as complexidades do francês escrito a tal ponto que foi capaz de lançar uma revista evangelística mensal de qualidade que chamou de Les Signes des Temps (Sinais dos Tempos). O sistema postal culturalmente diferente e complicado acabou por revelar os seus segredos através de tentativas e erros, e a revista logo atravessou fronteiras e barreiras culturais e chegou às casas em que o francês era falado, em toda a Europa e em partes do mundo onde os evangelistas não podiam se aventurar. Andrews descobriu que o evangelismo no estilo americano simplesmente não funcionava na Europa. Os pregadores precisavam de uma licença do Estado específica para cada local. As tendas não eram seguras nem apropriadas. Os auditórios eram dispendiosos e as cidades presas pelos fortes laços das ligações Igreja-Estado e culturalmente resistentes a r eligiões oriundas dos Estados Unidos. Levou algum tempo para que os líderes em Battle Creek reconhecessem que as coisas podiam ser diferentes. No processo, Andrews foi mal compreendido e enfrentou suspeitas e falta de confiança dos seus companheiros crentes. Só depois que alguns líderes de Battle Creek foram à Europa e viram por eles mesmos as dificuldades
reconheceram por que o crescimento era lento e como os métodos da missão tinham de ser adaptados às circunstâncias e à cultura local. O MAIOR LEGADO John Andrews tinha o dom da erudição. Sua defesa efetiva do sábado do sétimo dia em seu livro clássico História do Sábado (1861) era muito respeitada pelos pastores e evangelistas, bem como seus escritos sobre outras doutrinas especificamente adventistas. O papel de Andrews como presidente da Associação Geral quando Tiago White estava doente e seu trabalho como editor da Adventist Review and Sabbath Herald em tempos difíceis também foram contribuições duradouras. Entretanto, sua contribuição mais notável foi feita no crisol da primeira aventura da igreja no exterior. Andrews aprendeu a ter sucesso na missão por meio de erro e acerto, buscando adaptar-se a novas culturas. Enquanto aprendia, ajudou a igreja a aprender. Com o tempo, regulamentos mais adequados facilitaram financeiramente o processo. Encontrar novos caminhos para a missão foi uma contribuição pela qual a igreja sempre estará em dívida com Andrews, seu primeiro evangelista oficial no exterior. ] GILBERT M. VALENTINE, doutor em Educação Religiosa e especialista em história da igreja, é professor na Universidade de La Sierra, na Califórnia (EUA); sua biografia sobre John Nevins Andrews, recentemente publicada pela Pacific Press, lança nova luz sobre esse importante pioneiro da igreja
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VISÃO GLOBAL
O QUE A BÍBLIA ENSINA SOBRE A EXPERIÊNCIA DO VIVER EM CRISTO TED WILSON
ENFRENTANDO A MALDADE Enquanto Wesley pregava, um barulho começou a ficar muito alto. Rapidamente, uma turba contratada por sacerdotes locais chegou até eles, empurrando um touro bravo e ensanguentado. No entanto, o touro recusou-se a atacar Wesley e o grupo de pessoas que o ouviam; pelo contrário, ele corria ao redor do grupo enquanto “cantavam louvores a Deus e oravam tranquilamente, por cerca de uma hora”. Frustrada, a turba forçou o touro na direção da mesa sobre a qual Wesley estava. Quando ele caiu, seus amigos o levantaram e o levaram para outra área, onde continuou pregando. Enquanto isso, “a turba se vingou na mesa, arrancando um pedaço dela”, conforme registrado no diário de Wesley. Essa foi apenas uma das muitas perturbações que John Wesley, fundador da Igreja Metodista, e seus seguidores enfrentaram enquanto pregavam o “cristianismo bíblico”, como denominado por Wesley. Às vezes, eles levavam pedradas; outras vezes, eles jogavam o conteúdo do esgoto nos pregadores metodistas e os espancavam. Frequentemente a turba invadia os lares metodistas, “destruindo móveis e bens; roubavam o que quisessem e agrediam brutalmente homens, mulheres e crianças”, descreveu Ellen White (O Grande Conflito, p. 259). No entanto, convencidos da presença de Deus, Wesley e seus seguidores continuavam pregando. Quando Wesley chegou ao fim da vida, os seguidores dos seus ensinamentos já passavam dos cem mil. A HARMONIA ENTRE A LEI E O EVANGELHO Mas por que tanta maldade contra Wesley e seus ensinamentos? Por que o ódio? Porque ele ousou pregar a verdade. “Há uma ligação próxima entre a lei e o evangelho”, disse Wesley. De um lado, a lei abre-nos o caminho continuamente e nos leva ao evangelho; por outro lado, o evangelho continuamente nos leva a um cumprimento mais completo da lei. [...] ‘Isso é impossível para o homem.’ Mas Deus prometeu que nos dará esse amor e nos fará humildes, mansos e santos” (tinyurl.com/y2cpcetr). Atualmente, tanto quanto no século 18, muitos consideram os defensores dos ensinamentos bíblicos de Wesley “legalistas”
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Foto: Jeremy Vessey
O poder do evangelho
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dia começou tranquilo na pequena cidade inglesa de Pensford. Homens, mulheres e crianças dirigiam-se para uma grande área verde bem próxima à cidade. O grande pregador John Wesley estaria lá, e as pessoas estavam ansiosas para ouvi-lo. Devido à sua baixa estatura, Wesley subiu em uma mesa e pregou o evangelho que encontrou em Jesus Cristo, explicando que este era composto de dois aspectos. Primeiro, todos pecamos e precisamos de um Salvador, e, por mais que tente ser “bom”, ninguém pode salvar-se a si mesmo. A justificação é somente pela fé. Segundo, Deus oferece salvação sobre o poder do pecado. Wesley explicou que a salvação não seria completa sem essa promessa do evangelho. Por meio da justificação, todos os filhos de Deus são libertos da culpa do pecado, e a santificação os liberta do seu poder (tinyurl.com/yxtqokvn).
e até piores. Aos que consideravam os ensinos dele e de seus seguidores muito estritos, Wesley respondia: “Mas tornam eles o caminho para o Céu mais estreito que nosso Senhor e Seus apóstolos fizeram? É a doutrina deles mais estrita do que a da Bíblia?” Wesley sempre usava as Escrituras para defender suas ideias, sempre citando Jesus: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt 5:48). Era isso perfeccionismo? Não! Wesley sabia que o seu coração e o de todo ser humano é cheio de maldade. Mas ele também conhecia o poder de Deus para tornar puro um coração pecaminoso. Ellen White defendeu veementemente os ensinos de Wesley, declarando: “Wesley advogou a harmonia perfeita da lei e do evangelho. […] Assim, enquanto pregava o evangelho da graça de Deus, Wesley, a exemplo de seu Mestre, procurava engrandecer a lei e t orná-la gloriosa” (O Grande Conflito, p. 263, 264). O EVANGELHO ETERNO Nós, adventistas do sétimo dia, somos chamados para proclamar o “evangelho eterno”: “Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, [...] dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo” (Ap 14:6, 7). Embora o julgamento assuste alguns, a Bíblia está repleta de esperança, perdão e restauração – não apenas no Céu, mas também na Terra, para que sejamos testemunhas do poder de Deus. Ele insiste conosco: “Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo. Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriomente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo Aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque Eu sou santo” (1Pe 1:13-16). Essas não são palavras vazias; Deus não nos dá impossibilidades. Ele nos convida a compartilhar Sua verdade, Seu amor, Seu evangelho e Seu poder por meio da presença do Espírito em nossa vida. Há uma passagem maravilhosa sobre o poder salvador de Cristo na mensagem do evangelho e o que Ele faz em nós e por nosso intermédio: “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-os para que, renegadas a impiedade e as paixões R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
DEUS NÃO NOS DÁ IMPOSSIBILIDADES.
mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a Si mesmo Se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para Si mesmo, um povo exclusivamente Seu, zeloso de boas obras. Dize estas coisas; exorta e repreende também com toda a autoridade. Ninguém te despreze” (Tt 2:11-15). No livro Caminho a Cristo (p. 63), Ellen White tem uma explicação maravilhosa sobre o poder do evangelho agindo em nossa vida por meio da justiça abrangente de Cristo, que inclui Seu poder justificador e santificador. Gostaria de incentivá-lo a ler todo o capítulo “A Obediência é um Privilégio”. Atente para o resumo de todo o processo de salvação: “Nada temos, pois, em nós mesmos de que nos possamos orgulhar. Não temos nenhum motivo para exaltação própria. Nosso único motivo de esperança está na justiça de Cristo a nós imputada, e naquela atuação do Seu Espírito em nós e através de nós.” Que possamos compreender plenamente o grande tema da salvação e a mensagem de restauração plena contida no evangelho a ser compartilhada com o mundo ao nos aproximamos do retorno de Cristo! Que proclamemos essa mensagem por meio do poder do Espírito Santo, suplicando pela chuva serôdia, para que todos compreendam plenamente a mensagem do evangelho de Cristo e os aspectos abrangentes da justificação e santificação! El len Wh ite esc r eveu em O Desejado de Todas as Nações (p. 584): “O evangelho deve ser apresentado não como uma teoria sem vida, mas como uma força viva para transformar o caráter. Deus deseja que os que recebem Sua graça sejam testemunhas do poder da mesma. […] Quer que Seus servos deem testemunho de que, mediante Sua graça, podem os homens possuir caráter semelhante ao de Cristo e regozijar-se na certeza de Seu grande amor. […] As palavras, meramente, não o podem dizer.” ]
ELE NOS CONVIDA A
COMPARTILHAR SUA
VERDADE, SEU AMOR,
SEU EVANGELHO E SEU PODER POR MEIO DA
PRESENÇA DO ESPÍRITO EM NOSSA VIDA
TED WILSON é o presidente mundial da Igreja Adventista. Acompanhe o líder pelo Twitter (@pastortedwilson) e Facebook (fb.com/pastortedwilson)
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MINHA HISTÓRIA
Telefone bloqueado
O DIA EM QUE DEUS DEU UMA MISSÃO IMPOSSÍVEL PARA UM PASTOR ADVENTISTA DICK DUERKSEN
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awrence Tanabose, presidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia nas Ilhas Salomão, estava tendo um dia normal naquele paraíso quando seu celular tocou. O número de quem ligou estava listado como “bloqueado”, mas ele atendeu assim mesmo, imaginando ser uma propaganda mentirosa ou a oferta de um condomínio em Bora Bora. Porém, ao contrário, uma voz rouca perguntou: “O senhor é o pastor Tanabose, da Igreja Adventista do Sétimo Dia?” “Sim, sou o pastor Tana”, respondeu ele. “Um momento que o senhor X, primeiro-ministro da Austrália, vai falar.” O pastor Tana esperou, imaginando em que tipo de problema Deus o estaria colocando. Poucos instantes depois, uma voz grave soou no celular. “Pastor Tana, este é X, primeiro-ministro da Austrália. Como o senhor sabe, atualmente estamos enfrentando um problema com os rebeldes nas Ilhas Salomão.” Houve uma pausa, então o pastor disse: “Sim, senhor.” “Sei que o senhor conhece todo mundo nas Ilhas Salomão, certo?” “Não, senhor, mas conheço a maioria.” “O senhor conhece o líder dos rebeldes? Ouvi dizer que ele é um dos membros da sua igreja.” “Sim, senhor, eu conheço. Temos muitos membros em todos os lados do conflito.” 28
“Meus assessores têm uma mensagem para esse líder rebelde, mas não conseguem encontrá-lo. Eu gostaria de falar pessoalmente com ele. Você seria capaz de conseguir esse encontro?” O pastor Tana pensou por um momento. Ele sempre teve o cuidado de permanecer à parte dos conflitos políticos. Os membros de sua igreja precisavam saber que ele defendia somente o lado de Deus. Mas talvez nesse caso ele pudesse ajudar. “Posso tentar. O que o senhor quer que eu faça?” “Muito obrigado, pastor! Por favor, volte para a sua casa. Um homem em um helicóptero vai lhe entregar um celular codificado com as instruções de como o comandante rebelde pode usá-lo para falar comigo em uma linha segura. E é só. O senhor pode fazer isso?” “Sim, senhor. Vou me esforçar ao máximo.” R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
Foto: Jyotirmoy Gupta
***** O pastor Tana desligou seu celular, mudou a direção de seu percurso e voltou para casa. Ele chegou quase junto com um helicóptero Apache, camuflado, que pousou em um campo próximo à sua casa. Um homem saltou do helicóptero e correu em direção ao pastor Tana com um pacote pequeno na mão. “Pastor, as instruções estão no pacote. Isso vai salvar muitas vidas. Muito obrigado!” O helicóptero foi embora, e o pastor Tana começou a dirigir na direção das barricadas entre os soldados do governo e os rebeldes. Ele conhecia muito bem o caminho, pois havia membros de sua igreja em ambos os lados e frequentemente precisava cruzar a linha para ministrar às suas igrejas. Dessa vez, porém, foi diferente. Na barricada do governo havia um soldado que não permitiu sua passagem. “Hoje não, pastor. Está acontecendo algo importante e tivemos que fechar a barricada. O senhor não pode passar.” O pastor Tana orou, pediu outra vez, argumentou, orou mais uma vez, pediu com mais insistência, e mesmo assim o soldado não permitiu. O pastor Tana deu meia-volta e foi até um parque pequeno onde orou ainda mais. Muito mais. “Senhor Deus, parece que hoje o Senhor precisa da minha humilde ajuda, mas os soldados não concordam. O que devo fazer? Vou ou desisto?” A resposta de Deus foi tão clara que o pastor Tana pensou que havia alguém no carro com ele. “Vá!” O pastor Tana foi em frente, e seu carrinho amarelo ia deslizando na estrada lamacenta de volta à barricada. Os soldados e seus superiores mais uma vez impediram sua passagem. ***** Então o pastor Tana engatou a primeira no carrinho amarelo e passou direto pela barricada. Os soldados gritaram e o advertiram. Ele engatou a segunda. Outros gritos. Engatou a terceira. O carrinho do pastor atravessou a barricada! A violação foi recebida pelos soldados com disparos de metralhadoras contra o carro e contra o próprio pastor. No entanto, o carro atravessou a “terra de ninguém” em direção à barricada rebelde. Em seguida, uma granada acionada por um foguete se juntou às armas, e os soldados viram o carro do pastor Tana explodir e virar fragmentos de metal. Os soldados rebeldes abriram sua barricada rapidamente quando o carro do pastor chegou ileso ao outro lado. Momentos mais tarde, o pastor Tana se encontrou com o líder rebelde em sua sede e entregou o pacote do primeiroministro da Austrália. Não disse nada elaborado, apenas: “Aqui. O primeiro-ministro quer que você use este celular para falar com ele. As instruções estão no pacote. Deus o abençoe! Deve ser importante.” O pastor Tana sorriu, orou e voltou para o mercado local, onde comprou seis sacolas de mantimentos frescos, e só os melhores! R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
“O SENHOR FOI BALEADO. NÓS VIMOS O SENHOR MORTO E SEU CARRO DESTRUÍDO. COMO O SENHOR AINDA ESTÁ AQUI?” De dentro do seu carrinho amarelo, o pastor acenou para os rebeldes que abriram a barricada para ele passar. Do lado do governo, a barricada continuava quebrada, do jeito que ele havia deixado. O pastor Tana estacionou seu carro perto do posto do comando do governo, pegou duas sacolas de mantimento e caminhou na direção dos soldados que tentaram matá-lo havia apenas uma hora. Os soldados ficaram encostados na parede de trás do comando central, estáticos, como se estivessem congelados. Por duas vezes o pastor Tana retornou ao seu carro até descarregar as seis sacolas de mantimentos para os guardas, que ainda permaneciam em silêncio, de boca aberta. Finalmente, um dos soldados falou, e sua voz tremia de emoção. “O senhor foi baleado. Nós o matamos. Nós vimos o senhor morto e seu carro destruído. Como o senhor ainda está aqui?” “Hoje Deus precisava que eu atravessasse”, respondeu o pastor. “Lamento ter dificultado as coisas para vocês! Eu sei que vocês acreditam que destruíram meu carro e me mataram. Vocês fizeram bem seu trabalho, mas Deus me protegeu. Por favor, aproveitem esses alimentos frescos.” Na semana seguinte, após o cessar-fogo e a paz ser restabelecida nas Ilhas Salomão, cinco guardas do governo procuraram o pastor Tana e disseram que queriam aprender mais sobre o Deus que troca armas por mantimentos. Os cinco aceitaram Jesus e vários se tornaram líderes da igreja nas ilhas. ] DICK DUERKSEN é pastor e mora em Portland, Oregon (EUA)
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VIDA ADVENTISTA
Sábado especial TIMOTHY G. STANDISH
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lguma vez você já pensou sobre os sábados? Não me refiro somente ao sétimo dia da semana quando nos lembramos de que nosso Criador descansou logo após completar os seis dias da criação (Êx 20:8-11). Refiro-me aos sete sábados especiais comemorados por Israel: os sábados da Páscoa, Pentecostes, Rosh Hashanah (festa das trombetas), Yom Kippur (dia do perdão), Dia de Expiação e os dois dias durante Sukkoth (festa dos tabernáculos). Essas grandes celebrações sabáticas lembravam como Deus conduziu Israel no passado e antevia a vinda do Messias. Alguns talvez se perguntem: “Quais são os nossos sábados especiais durante o ano?”Como adventistas comemoramos alguns feriados (os mais óbvios estão associados ao nascimento e à ressurreição de Cristo). Mas parece que outros cristãos têm um calendário de comemoração mais rico, variando entre aniversários de eventos bíblicos, como o Dia de Reis, que comemora a manifestação de Cristo aos gentios por meio dos reis magos, e uma série interminável de dia de santos, como o dia de São João. Por que os adventistas não têm dias especiais que nos lembrem de como Deus nos guiou no passado e que reavivem nossa esperança na segunda vinda? O calendário de dias especiais da Associação Geral especifica os sábados especiais. O melhor exemplo é o Sábado da Criação, 30
comemorado no quarto sábado do mês de outubro. Geralmente, esse é o mais próximo ao dia 22 de outubro, aniversário do Grande Desapontamento de 1844. Por que, então, o Sábado da Criação coincide com o Grande Desapontamento? Não somos o povo do desapontamento; somos adventistas. Embora seja essencial aprender com os erros do passado, os adventistas adotam uma visão otimista do futuro. Jesus Cristo, nosso Criador e Redentor, virá outra vez! Sabemos que agora Ele está realizando o juízo investigativo e, por isso, o segundo advento está próximo. O que acontecerá após o retorno de Jesus? Ele diz com Suas próprias palavras: “Estou fazendo novas todas as coisas” (Ap 21:5, NVI). O justo julgamento de Deus resultará em um novo Céu e uma nova Terra (Is 65:17; Ap 21:1). Enquanto aguardamos esse evento glorioso, somos chamados a compartilhar com o mundo o evangelho eterno (Ap 14:6, 7). Comemoramos porque fomos criados e somos salvos por meio da graça infinita de Deus, que em Cristo nos torna uma “nova criatura” (2Co 5:17). Graça realmente maravilhosa! Conv ido você a se u n i r a milhões de outros adventistas para comemorarmos juntos o Sábado
da Criação, descansando na certeza de que o que Deus criou em seis dias foi maravilhoso, que Ele é vitorioso sobre o pecado que maculou a criação e que seremos transformados em um instante como parte da recriação maravilhosa do glorioso dia em que Ele retornar (1Co 15:52). No Sábado da Criação comemoramos o que nosso Criador fez e nos alegramos no que ainda permanece de bom de Sua criação perfeita (Gn 1:31). Esperamos ansiosamente o breve retorno de Cristo e a promessa da nova criação (Rm 8:19-21). Para mais informação e ideias sobre como comemorar o Sábado da Criação, acesse: creationsabbath.net. ] TIMOTHY G. STANDISH, doutor em Biologia, é o cientista responsável pelo Instituto de Pesquisa em Geociência na Universidade de Loma Linda, Califórnia (EUA)
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Foto: Nic Co
UM DIA PARA COMEMORAR A CRIAÇÃO E A REDENÇÃO
OS ADVENTISTAS ADOTAM UMA VISÃO OTIMISTA DO FUTURO PORQUE CREEM NA CRIAÇÃO E NA RECRIAÇÃO DO MUNDO
BOA PERGUNTA
SÍMBOLOS DO SANTUÁRIO
QUAL É O SIGNIFICADO DAS DIFERENTES PEÇAS DO MOBILIÁRIO DO TABERNÁCULO ISRAELITA? ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ
tabernáculo era uma expressão do amor de Deus manifestado no desejo de habitar entre Seu povo. Era um tipo da Sua habitação celestial, onde o problema do pecado seria resolvido. O plano da salvação foi ilustrado nos rituais do tabernáculo terrestre. A configuração dos móveis é rica em simbolismo. 1. O altar de sacrifícios. Durante todo o período patriarcal, os locais de adoração eram identificados pela construção de altares (Gn 8:20; 12:7, 8; 22:9; 26:25; 33:20). Quando o tabernáculo foi construído, o altar foi centralizado. Ele foi construído com madeira de acácia, coberto de bronze e colocado no pátio. Em todo o Antigo Testamento, o altar é associado com a presença do Senhor. Por meio do altar os israelitas tinham acesso a Deus (Sl 43:4) e levavam seus sacrifícios a Ele. Em cada um dos quatro cantos do altar havia um chifre (Êx 27:1-8) onde era colocado sangue durante os sacrifícios diários (Lv 4:7) e durante o Dia da Expiação (Lv 16:18). O altar representava a cruz de Cristo. 2. A pia. Ela ficava entre o altar e a entrada para o santuário (Êx 30:17-21). Era usada pelos sacerdotes para lavar as mãos e os pés antes de oficiar no altar, ou antes de entrar no tabernáculo (v. 20). Os que se aproximavam de Deus deviam estar limpos. Hoje somos purificados pelo sangue de Cristo, apropriado pelo batismo (cf. At 22:16; Ef 5:26; 1Co 6:11). 3. A mesa de ouro. Ao norte, dentro do lugar santo, estava a mesa de madeira de acácia revestida de ouro
Foto: Adobe Stock
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(Êx 25:23-30). O pão da presença era colocado sobre a mesa. Os 12 pães provavelmente fossem agrupados em duas pilhas de seis cada (Lv 24:5-9). Todos os sábados os pães eram trocados por pães novos. O Senhor dava o pão de volta aos sacerdotes, para comerem como representantes do povo. Essa era a simbologia de que Deus era o Provedor do pão diário, um símbolo de Cristo como o pão da vida (cf. Ez 16:19; Jo 6:48-51). 4. O candelabro. O candelabro, cujo eixo central unia três derivações de cada lado, era colocado no lado sul do lugar sagrado (Êx 25:31-40). Ele era feito de ouro maciço e decorado com copos em formato de amêndoas e flores. Seu formato e o uso da terminologia floral sugerem a imagem de uma árvore. O candelabro parece ter sido uma forma estilizada da árvore da vida que representava Deus como a fonte da vida para Suas criaturas e indicava Cristo como a verdadeira fonte de vida. 5. O altar de incenso. Esse altar era colocado diretamente em frente ao véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo. Ele era usado para queimar incenso perante o Senhor, duas vezes ao dia. O incenso representava as orações do povo de Deus (Sl 141:2; cf. Ap 5:8; 8:3, 4), mas também possibilitava que o sacerdote se aproximasse de Deus no lugar santíssimo (Lv 16:13). Simbolicamente, o incenso liga Deus ao Seu povo e é uma representação adequada para os méritos de Cristo (cf. Ef 5:2; 2Co 2:14-17; Fp 4:18). Como você pode ver, tudo aponta para Jesus. ] ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ, pastor, professor e teólogo aposentado, foi diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica
O PLANO DA SALVAÇÃO FOI ILUSTRADO NOS RITUAIS DO TABERNÁCULO TERRESTRE. TUDO APONTAVA PARA JESUS
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BEM-ESTAR
NOSSA DIETA PRECISA DE NUTRIENTES ADICIONAIS? PETER N. LANDLESS E ZENO L. CHARLES-MARCEL
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lguém nos escreveu: “Tenho um amigo que esteve em um evento sobre saúde e voltou com muitos frascos de suplementos. Tenho 40 anos e quero desfrutar da melhor saúde possível. Devo tomar suplementos? Devo aconselhar minha mãe a começar a tomá-los também? Ela tem 70 anos e, no geral, goza de boa saúde.” Essa é uma questão muito atual, que discutimos de vez em quando. Primeiro, é importante entender o que é um suplemento. Trata-se de uma substância consumida em adição à dieta, sendo, muitas vezes, vitamina, mineral ou aminoácido, mas que, isolada, não é considerada alimento. Essas substâncias estão normalmente presentes nos alimentos que compõem uma dieta variada, nutritiva e bem equilibrada, e são ingeridas quando adotamos uma dieta integral e saudável. Estudos de 2010 sobre o betacaroteno, substância que se transforma em vitamina A, mostraram que o consumo de suplementos não reduz a frequência dos cânceres (como se pensava originalmente). Os suplementos de betacaroteno 32
podem provocar o aumento do câncer de pulmão, especialmente em fumantes. Pensava-se que os suplementos de vitamina E protegiam contra o câncer de próstata, mas estudos extensivos mostraram que esse não é o caso. Foi demonstrado que os homens que usam suplementos de vitamina E apresentam um risco maior de câncer. Pesquisas sobre os resultados dos suplementos para a saúde estão tendo sequência em 2019. Em vasto estudo de análise de dados realizado pela Universidade Tufts, observa-se novamente que os melhores resultados para a saúde ocorrem nos casos de indivíduos que ingerem nutrientes adequados, como a vitamina A, vitamina K, magnésio, zinco e cobre contidos nos alimentos da sua dieta normal, e não em comprimidos de
SE NÃO HOUVER NECESSIDADE ESPECÍFICA DE UM SUPLEMENTO, ADOTE UMA NUTRIÇÃO SAUDÁVEL POR MEIO DE UMA DIETA EQUILIBRADA
PETER LANDLESS é cardiologista e diretor do Ministério da Saúde da sede mundial adventista em Silver Spring, Maryland (EUA); ZENO CHARLES-MARCEL é clínico geral e diretor associado desse mesmo ministério
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Foto: Anastasia Dulgier
SUPLEMENTOS ALIMENTARES
suplementos. O estudo, conduzido por Fan Chen e outros, foi publicado em Annals of Internal Medicine (v. 170 [2019], p. 604-613). Essas pessoas obtêm melhores resultados para a saúde (menor mortalidade por todas as causas) e menores taxas de mortalidade por doenças cardíacas e dos vasos sanguíneos (cardiovasculares). As pessoas que usaram vitamina D como suplemento sem evidências de deficiência dessa vitamina, na verdade, corriam risco maior de mortalidade por todas as causas (isso significa morte por qualquer causa, como câncer, doença cardíaca e infecções). Para mais detalhes, pode-se conferir também o estudo de Mahmoud Barbarawi e outros publicado on-line (tinyurl. com/y3h9rclw) por JAMA Cardiology em 19 de junho de 2019. O suplemento de vitamina D tem sido recomendado por mais de uma década para a prevenção de câncer, problemas cardíacos e muitas outras doenças (em alguns casos, em doses extremamente altas). Estudos recentes, como esse de Barbarawi e outros, questionam esse estilo de tratamento “tiro de canhão” (usando terapia extensa na esperança que surta algum benefício). Um aspecto importante desta conversa é a comunicação entre os prestadores de cuidados de saúde e os doentes/clientes. Procure o conselho do seu médico. Quando há falta de um nutriente na dieta, ele precisa ser suplementado ou substituído, como o caso da vitamina B12 na dieta vegetariana estrita, e também para a ovolactovegetariana à medida que envelhecemos. Na presença de certas doenças ósseas, como osteoporose/osteopenia, a vitamina D precisa ser suplementada, e há indicações específicas de suplementos quando necessário. Em resumo, se não houver necessidade específica de um suplemento, adote uma nutrição saudável por meio de uma dieta equilibrada. ]
NOVA GERAÇÃO
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emos algum visitante conosco hoje?”, anunciou lá do púlpito o ancião simpático. Eu me afundei no banco, olhando para minha Bíblia e tentando ser o mais discreta possível. O ancião continuou com o temido convite: “Todo visitante que está aqui pela primeira vez, por favor, levante-se!” Minha amiga me cutucou. “Levante”, sussurrou alegremente. “É você!” Forcei um sorriso, levantei, acenei para a igreja por um milésimo de segundo e voltei a me afundar no banco. Meu coração batia descontroladamente, embora eu apreciasse e soubesse que a igreja estava simplesmente tentando ser gentil. Mesmo assim, eu me sentia inadequada e ansiosa. Sou introvertida. Existem diferentes tipos de introversos. Nem todos somos pessoas tímidas ou antipáticas, como sugere o estereótipo, embora muitos sejam mais calados e sintam-se mais confortáveis nos bastidores. O fator comum entre os introvertidos é que eles gastam energia quando entram em contato com as pessoas e precisam de tempo a sós para recuperá-la. Muitas vezes sinto que, dentro da comunidade cristã, a igreja foi projetada para extrovertidos, desde o estilo de boas-vindas até nossos métodos evangelísticos favoritos. Então, como podemos criar espaços acolhedores para os introvertidos? Fiz essa pergunta aos meus amigos nas mídias sociais e recebi outras perspectivas sobre como
Foto: Arquivo pessoal
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O FATOR COMUM ENTRE OS INTROVERTIDOS É QUE ELES GASTAM ENERGIA QUANDO ENTRAM EM CONTATO COM OS OUTROS E PRECISAM DE TEMPO A SÓS PARA RECUPERÁ-LA R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
SEM CONSTRANGIMENTO A IMPORTÂNCIA DE CRIAR UM ESPAÇO ACOLHEDOR PARA OS INTROVERTIDOS LYNETTE ALLCOCK
os introvertidos apreciariam que uma igreja os recebesse e interagisse com eles. A maioria dos introvertidos não gosta de ser apontada em uma sala cheia de estranhos, ou forçada a interagir e conversar. Ouvi de introvertidos alternativas para dar as boas-vindas aos visitantes: “Por favor, todos os membros da nossa igreja levantem-se e cumprimentem os que ainda estão sentados.” “Prefiro nunca ter que falar a um grupo ‘um pouco sobre mim’.” “Eu gostaria de ser abordado por alguém que demonstre interesse pessoal e genuíno em mim. Sou terrível para me aproximar das pessoas, mas quero me sentir incluído.” Ser introvertido vai além do modo pelo qual recebemos os visitantes. Isso afeta a maneira como “fazemos” a igreja. Inclui valorizar e usar diferentes dons que podem não ser voltados ao público, já que nem todos conseguem ir de porta em porta ou fazer telefonemas. Pode até implicar na criação de novas maneiras de realizar uma atividade. Uma pessoa sugeriu fazer uma igreja na floresta, incorporar atividades silenciosas e usar as artes criativas. Outra expressou seu desejo por uma igreja no lar, com não mais de 10 pessoas que compartilham a vida durante a semana e também aos sábados. Deus criou a igreja como uma comunidade diversificada. Usando a metáfora do corpo, Paulo escreveu: “De fato, Deus dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a Sua vontade. […] O olho não pode dizer à mão: ‘Não preciso de você!’ Nem a cabeça pode dizer aos pés: ‘Não preciso de vocês!’ […] Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente, é membro desse corpo” (1Co 12:18, 21 e 27, NVI). Não importa nosso dom ou tipo de personalidade, cada um de nós ocupa um lugar singular e importante no corpo de Cristo. Somos chamados a criar igrejas em que todas as pessoas possam se sentir acolhidas e valorizadas. ] LYNETTE ALLCOCK, graduada pela Universidade Southern, mora em Watford, Reino Unido, onde produz e apresenta programas na Rádio Adventista de Londres
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PRIMEIROS PASSOS
OS HOMENS MISTERIOSOS QUE PROTEGERAM A LANCHA MISSIONÁRIA WILONA KARIMABADI
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eo Halliwell dirigia a lancha Luzeiro ao longo do rio. As árvores da floresta formavam um toldo verde sobre ele. Jack, o filho de Halliwell, de 15 anos de idade, fixava seus olhos dentro da floresta na esperança de ver uma onçapintada, o “leopardo da selva”. Acima deles voou uma arara colorida de vermelho vivo, azul, verde e amarelo, fazendo muito barulho. Ao longe ouvia-se o grito de um macaco peludo. O motor do barco desacelerou, e Jack percebeu três homens bem vestidos, em uma canoa, acenando para eles. “Olá!”, gritou um homem. “Vocês podem nos rebocar rio acima?” Halliwell, missionário por muitos anos, sabia que era perigoso rebocar estranhos, mas alguma coisa o impressionou a parar. “Jack, joga a corda”, pediu ele ao filho. Jack jogou e o homem a prendeu em sua canoa. Dois homens subiram na lancha e o outro permaneceu na canoa. Os dois homens ficaram ao lado de Halliwell, que conduzia a lancha rio acima. De repente, um dos homens agarrou o timão e girou. A lancha sacudiu e, de repente, afastou-se da margem em direção ao meio do rio. O movimento brusco quase jogou Jack na água. Halliwell olhou para o lugar em que teriam passado. Nem sete metros à frente, havia centenas de
Esta história foi publicada originalmente na revista KidsView de janeiro de 2013. WILONA KARIMABADI é editora-assistente da Adventist Review
“Porque a Seus anjos Ele dará ordens a seu respeito, para que o protejam em todos os seus caminhos” (Salmo 91:11, NVI)
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
Ilustração: Xuan Le
ANJOS NA SELVA
pontas de pedras espalhadas logo abaixo da superfície da água. Se a lancha tivesse batido naquelas pedras, seria destruída. Os missionários poderiam ter perdido a vida. “Ufa!”, Halliwell exclamou. “Muito obrigado! Você salvou nossa lancha e provavelmente nossa vida.” O homem sorriu, mas não disse nada e continuou conduzindo a lancha pelas águas cheias de pedras. “Muito obrigado pela carona”, disse ele. “Se puder parar, já podemos sair agora.” Halliwell achou que aquele era um lugar estranho para parar porque não havia nem sinal de algum vilarejo próximo. No entanto, ele parou o barco, e os dois homens voltaram para a canoa e se distanciaram pela correnteza. “Presta atenção para onde eles estão indo”, Halliwell gritou para Jack. “Papai, eles desapareceram”, gritou Jack de volta. Halliwell tirou o olho do timão. O rio estava vazio. Não havia nenhuma curva no rio e nenhuma ondulação na água. Os três homens e sua canoa desapareceram. Será que eram anjos? Halliwell achava que sim. Que outra explicação haveria? Ele e Jack agradeceram a Deus Sua maravilhosa proteção naquele dia. ]
PERSPECTIVA
CRIANÇAS EM RISCO
CAMPANHA DA ADRA ALEMANHA CHAMA ATENÇÃO PARA AMEAÇAS À INFÂNCIA SABINE EISENMANN
Foto: ADRA in Germany/Adventist World
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filme atinge a sua alma. Most ra cria nças que vivem em zonas de guerra e na pobreza. Meninos que manuseiam armas e carregam pedras que mal conseguem levantar. Meninas que nem sequer têm 10 anos de idade e são forçadas a se casar. Onde quer que haja pobreza e miséria, os que mais sofrem são as crianças. A Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA) na Alemanha, sediada em Weiterstadt, pretende combater esses problemas por meio de vários projetos e campanhas. Entre outros, a ADRA irá destacar localmente, por meio da distribuição de cartazes em Weiterstadt e arredores, uma campanha mundial anunciada recentemente. O filme, com cenas deprimentes sobre as circunstâncias das crianças, é parte da campanha. A ADRA vê essa iniciativa como algo importante para um mundo melhor. Não devemos subestimar o valor da educação. Ela continua sendo uma ferramenta importante para resgatar as pessoas da pobreza. “Este é um direito humano e, portanto, um direito das crianças”, diz Christian Molke, diretor administrativo e porta-voz da ADRA Alemanha. “Se todas as meninas terminassem o ensino médio, haveria menos gravidez precoce, menor mortalidade infantil, menos casamentos infantis e renda mais alta do que é a realidade quando as mulheres que não conseguem estudar”, explica Molke. Para proporcionar R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
NA ADRA, UM MUNDO MELHOR COMEÇA NA MENTE acesso à educação para todas as crianças do mundo, é necessário construir escolas em áreas de conflito e catástrofes e em países em desenvolvimento. “Toda criança. Em todo lugar. Na escola.” Esse é o slogan da campanha atual lançada pela ADRA Internacional em muitos países da sua rede global para chamar a atenção para essa necessidade. A ADRA também se preocupa com a formação profissional e o socorro após desastres. Somente na Somália, a organização está construindo doze instituições educacionais como parte de um projeto em andamento. Presente em 140 países, a ADRA também participa de projetos educacionais na Albânia, Tailândia, Sérvia e Etiópia. Não há nenhum link para doação nos cartazes. “Mas o objetivo da campanha não é ajudar
a construir escolas?”, pergunta Molke. “Nossos projetos também são financiados por doações. Primeiro, porém, queremos criar uma conscientização sobre o problema. Só quando as pessoas perceberem o quão bem elas estão e que existe miséria de verdade no mundo é que entenderão que temos muitas vantagens e oportunidades para ajudar, e que só então o mundo será um lugar melhor.” Na ADRA, um mundo melhor começa na mente. “Essa é a nossa missão e a longa maratona que assumimos de bom grado”, diz Molke. Em 2018, a ADRA na Alemanha recebeu mais de 24 milhões de euros. A maior fonte de recursos foi do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, com 8,7 milhões de euros, seguido de perto pela Europe Aid e pelo Gabinete de Desenvolvimento e Cooperação da Comissão Europeia. ] SABINE EISENMANN escreveu em colaboração com a ADRA Alemanha e Adventist World
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SAÚDE
O IMPACTO DA PATERNIDADE Novas pesquisas sugerem que pais carinhosos podem beneficiar a saúde dos filhos EQUIPE DE COMUNICAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE LOMA LINDA
ão resta dúvida de que a educação oferecida pelos pais é determinante para a formação do caráter das crianças. Mas essa influência vai além. Ser bons pais parece ser determinante também para a saúde dos filhos na fase adulta. Foi o que sugeriu uma pesquisa recente realizada pela Universidade de Loma Linda, na Califórnia (EUA). De acordo com o estudo, pais que não apoiam os filhos podem provocar várias implicações negativas para a saúde das crianças, mesmo na idade adulta. A pesquisa revelou que os chamados telômeros, capa protetora das extremidades das cadeias do DNA, de filhos que declararam terem sido tratados com “frieza” pela mãe eram em média 25% menores quando comparados aos daqueles que disseram ter mães “carinhosas”. Os estudiosos descobriram que o estresse na primeira infância está associado a telômeros mais curtos, um biomarcador que mede o envelhecimento celular acelerado e o aumento do risco de doenças na fase adulta. “Os telômeros têm sido chamados de relógio genético, mas agora sabemos que, à medida que o estresse aumenta, os telômeros diminuem, ampliando o risco de uma série de doenças e de morte prematura”, explica Raymond Knutsen, autor principal do estudo e professor associado da Escola de Saúde Pública da Universidade de Loma Linda. “Sabemos que cada vez que uma célula se divide os telômeros se encurtam, o que encurta sua vida útil”, acrescenta. Curiosamente, as mutações nos genes que mantêm os telômeros causam um grupo de doenças raras que se assemelham ao envelhecimento prematuro. “No entanto”, conforme observa Knutsen, “sabemos que algumas células do corpo produzem uma enzima chamada telomerase, que pode reconstruir esses telômeros.” A pesquisa, intitulada “Cold Parenting Is Associated With Cellular Aging in Offspring: 36
A Retrospective Study”, utilizou dados de 200 participantes do Adventist Health Study 1 (AHS-1) e do AHS-2, estudos longitudinais da saúde dos adventistas na América do Norte. O diferencial da pesquisa foi analisar mais de perto o impacto que o estilo de criação adotado pelos pais tem na sucessão dos telômeros. “A forma como alguém é criado parece contar uma história que está inter-relacionada com a sua genética”, diz Knutsen. O estudo também examinou o impacto que a educação e o índice de massa corporal (IMC) podem exercer na associação entre paternidade fria e comprimento do telômero. “A associação com o estilo de criação dos pais foi maior entre aqueles com menor escolaridade e os que permaneceram com sobrepeso/obesos ou engordaram durante o acompanhamento, sugerindo que tanto a educação superior quanto o IMC normal podem proporcionar alguma resiliência contra a frieza dos pais e o envelhecimento celular”, sugeriu o estudo. ] R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Setembro 2019
Foto: Kelly Sikkema
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INTERNACIONAL
PONTE ENTRE DOIS CONTINENTES
Encontro histórico no Quênia aproxima líderes adventistas da América do Norte e da África, criando possibilidades para a cooperação na pregação do evangelho R. CLIFFORD JONES, LAKE UNION HERALD E ADVENTIST WORLD
m provérbio africano diz: “Se você quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir mais longe, vá junto”. A ideia de promover um encontro entre líderes adventistas africanos e afro-americanos com o objetivo de compartilhar histórias e estratégias para a missão e o ministério se tornou uma realidade em abril. A reunião histórica, realizada em Nairóbi, no Quênia, deu lugar à 1ª Conferência e Reunião da Família Transatlântica, um evento que reaproximou dois mundos ligados pelo passado.
Foto: Lake Union Conference News
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Blasious M. Ruguri, presidente da Divisão Centro-Leste Africana definiu o encontro como a “realização de um sonho” muito protelado. Ao dar as boas-vindas à delegação norte-americana, ele admitiu que a falta de informação e incompreensões mantiveram os dois grupos separados ao longo de décadas. “Devemos realizar o trabalho árduo de destruir as fortalezas que ainda escravizam tantos milhões daqueles aos quais servimos”, afirmou Ruguri. No encerramento do encontro, Elie Weick-Dido, líder da igreja no território da Divisão CentroOeste Africana, apelou aos dois grupos para que abracem sua história e princípios comuns, e que
busquem objetivos e empreendimentos mútuos. Os anfitriões do próximo encontro, previsto para acontecer na sede da Divisão Centro-Oeste Africana, incluem 12 dos países mais pobres do mundo. Durante o evento, foi ressaltado que líderes como o pastor Weick-Dido, que antes de regressar à África trabalhou na Associação da Região dos Lagos, nos Estados Unidos, podem contribuir para que novas pontes sejam estabelecidas entre os dois continentes. A agenda da reunião incluiu sessões para avaliar o crescimento missionário, tendo como parâmetro o Envolvimento Total dos Membros, programa da igreja mundial que visa envolver cada membro na tarefa de
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O encontro histórico que reuniu líderes das sedes da igreja no continente africano e da Divisão Norte-Americana aproximou os dois lados do Atlântico e abriu pontes para o apoio mútuo
falar de Jesus aos seus vizinhos e amigos. Os líderes africanos estavam ansiosos para compartilhar como Deus tem abençoando o trabalho na África, onde vivem aproximadamente 9 milhões de adventistas do sétimo dia. Delbert Baker, vice-reitor da Universidade Adventista da África, instituição que experimentou um crescimento exponencial em infraestrutura e oferta de cursos e matrículas nos últimos anos, considerou que o encontro foi útil e nobre. “Ele representa algo maior do que apenas os dois grupos juntos”, ressaltou. A maioria dos integrantes da delegação norte-americana nunca havia visitado o continente africano. Eles se emocionaram especialmente com a visita a uma aldeia do grupo étnico masai, onde participaram do culto no sábado e de uma cerimônia batismal em um rio próximo. No encerramento do evento, a maioria dos participantes concordou que outros encontros devem ser realizados. De acordo com os organizadores, um dos resultados da primeira reunião foi uma parceria entre as Divisões da África e três Associações da Divisão Norte-Americana que se comprometeram em convidar regularmente e acolher líderes das igrejas africanas. ] R. CLIFFORD JONES é presidente da Associação da Região dos Lagos, uma das sedes administrativas regionais da Igreja Adventista nos Estados Unidos (com colaboração da equipe da Adventist World)
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RETRATOS
Cerca de 25 pessoas congregam na pequena Igreja Adventista da comunidade do Xilude, no município de Tarauacá (AC), fronteira do Brasil com o Peru. O pequeno templo de madeira foi construído por missionários para servir às famílias que vivem no interior da Amazônia. Nessa região, o acesso é só a pé ou a cavalo. Por isso, alguns membros levam até quatro horas para chegar à igreja. Foto: Ivo Mazzo
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INSTITUCIONAL
META AMBICIOSA Liderança da igreja no continente espera ter 1 milhão de pessoas estudando a Bíblia até o fim deste ano FELIPE LEMOS
atizado há quase 21 anos na Igreja Adventista, Luiz Cláudio da Silva Campos, 50 anos, funcionário público do governo do Distrito Federal, é um incansável instrutor da Bíblia. Ele atende pessoas em casa e, semanalmente, em uma classe na congregação adventista localizada em Águas Claras, a 22 km do centro de Brasília. Além de ensinar a Bíblia, Campos procura criar um ambiente relacional em que as pessoas possam ser atendidas de maneira integral. “Tenho trabalhado com a ideia de uma classe bíblica como espaço de acolhimento para pessoas que vão ali não apenas em busca de conhecimento”, afirma o instrutor. O estudo bíblico está presente, mas envolto em uma atenção especial a quem, muitas vezes, chega com uma vida muito sofrida. Como resultado desse trabalho, ele estima que pelo menos 70 pessoas já foram batizadas. A ênfase no estudo da Bíblia faz parte do DNA adventista. A denominação é herdeira de uma cultura religiosa fortemente influenciada pela ideia de que a Bíblia Sagrada precisa estar disponível e ser estudada por todas as pessoas. Com o intuito de manter essa
Ilustração: DSA
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visão, a liderança da igreja na América do Sul estabeleceu a meta ambiciosa de ter 1 milhão de pessoas estudando a Bíblia até o fim de 2019. Desse modo, a igreja espera discipular e batizar pelo menos 250 mil novos membros nos oito países que compõem a Divisão Sul-Americana. Os dados da Secretaria Executiva mostram que, no fim do primeiro semestre, havia aproximadamente 433 mil pessoas estudando a Bíblia, isto é, 43% do alvo. No caso do número de batismos, foram 109.574 até junho, o equivalente a 43,8% do desafio total. Para o evangelista Luís Gonçalves, o movimento de estudos bíblicos e batismos ocorre o tempo inteiro, tanto por meio de semanas e programas especiais quanto por meio do trabalho pessoal e silencioso de muitas pessoas. A motivação para que se alcance essa meta tem uma fundamentação bíblica. “Muito mais do que ensinar métodos evangelísticos aos membros, devemos ensiná-los a viver os valores do reino de Deus. Jesus dedicou três anos e meio aos discípulos e às multidões, começando com o Sermão do Monte”, ressalta o pastor Herbert Boger Jr., líder sul-americano da área de Ministério Pessoal. Para o pastor Boger, o processo do discipulado passa, também, pelo trabalho de se abrir a Bíblia de casa em casa e em outros locais. As metas de 1 milhão de estudos e de 250 mil batismos estão relacionadas. “Pesquisas mostram que, em média, a cada cinco pessoas que estudam a Bíblia, uma é batizada. O conhecimento da Bíblia e de Deus é um fator importantíssimo para a tomada de uma decisão espiritual sólida”, o pastor Boger acrescenta. Quando se fala de estudos bíblicos, os adventistas se referem a dar maior ênfase nas classes bíblicas por faixa etária (o que inclui adultos, jovens, adolescentes) e através de pequenos grupos, plataformas digitais e outros meios possíveis. Isso inclui iniciativas como a edição de uma nova Bíblia Missionária (com estudos em cadeia) e o fortalecimento de ações digitais para levar o conteúdo bíblico a muitas pessoas, como é o caso da Escola Bíblica Digital, coordenada pela Rede Novo Tempo de Comunicação. Hoje são realizados diariamente até 6 mil atendimentos nesta plataforma. O presidente da igreja na América do Sul, pastor Erton Köhler, ressalta que o foco principal de todo o movimento é ter mais membros envolvidos. “Não queremos apenas batismos que representem números. Desejamos pessoas mais preparadas e envolvidas no crescimento que tem como características comunhão, relacionamento e missão. Nosso sonho não é apenas encher a igreja, mas encher o Céu”, assinala. ] FELIPE LEMOS é jornalista e gerencia a equipe da assessoria de comunicação da sede sul-americana da Igreja Adventista
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TEOLOGIA
Simpósio sul-americano discute fundamentos bíblicos e métodos de discipulado ANDRÉ VASCONCELOS E MÁRCIO TONETTI
ordem divina de fazer discípulos (Mt 28:19, 20) tem sido entendida e praticada de diferentes maneiras. Hoje, no meio cristão, fala-se de discipulado “sacramental”, “transformacional”, “intencional”, “inclusivo”, “carismático”, “escatológico”, “radical”, “social”, “plural”, “orgânico”, “emergente”, “pós-colonial”, “holístico”, “simples”, “digital”... A lista é grande. Em meio a tantas correntes e tendências de interpretação, os adventistas têm buscado edificar sua noção de discipulado sobre sólido fundamento bíblico. Isso ficou evidente no 13º Simpósio Bíblico-Teológico Sul-Americano, realizado no rochoso campus da Universidad Peruana Unión (UPeU), em Lima, nos dias 31 de julho a 3 de agosto. “Amontoar tijolos não é o mesmo que construir um edifício”. A frase proferida por Ruben
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Jaimes, professor emérito da UPeU, foi uma das analogias utilizadas para falar sobre o propósito do discipulado e o caminho para que a igreja cresça de maneira sustentável. Como foi enfatizado durante todo o evento, o crescimento numérico não é sinônimo de fazer discípulos, embora possa ser resultado desse trabalho. Já o doutor Ekkehardt Mueller, diretor associado do Biblical Research Insitute (BRI), trouxe esclarecimentos quanto ao processo. Segundo ele, o discipulado começa antes do batismo e não termina quando a pessoa é mergulhada nas águas. Por isso, ele acredita que, após o batismo, as pessoas devem continuar recebendo atenção, responsabilidades e treinamento. As 101 plenárias e oficinas abordaram aspectos teológicos e práticos do discipulado. Para discutir o tema a partir de diferentes enfoques, foram convidados teólogos dos oito seminários sul-americanos, bem como de outras partes do mundo. A lista incluiu os doutores Elias Brasil e Clinton Wahlen, do Biblical Research Institute (BRI), Felix Cortez e Cedric Vine, professores de Novo Testamento da Universidade Andrews, Wagner Kuhn, diretor do departamento de Missão Mundial da mesma universidade, e Alberto Timm, diretor associado do Ellen G. White Estate. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
Foto: UPeU
TEORIA E PRÁTICA
Com 510 inscritos e a presença de teólogos dos seminários adventistas do continente e de outras regiões do mundo, o 13o Simpósio Bíblico-Teológico Sul-Americano voltou a ser realizado na universidade que recebeu a primeira edição do evento
FUNDAMENTOS BÍBLICOS Ao discutir o conceito de discipulado no Antigo Testamento, os palestrantes observaram que essa palavra não é usada na literatura veterotestamentária e que o termo hebraico talmid, que significa “discípulo”, ocorre apenas em 1 Crônicas 25:8. No entanto, foi ressaltado que isso não quer dizer que os autores do Antigo Testamento não estivessem preocupados com a transmissão de valores religiosos e a formação de discípulos. Essa preocupação pode ser observada, em parte, na ênfase do Pentateuco sobre o ensino dos mandamentos de Deus e a fidelidade à aliança. Deuteronômio 6:4 a 9, por exemplo, destaca a importância do discipulado no âmbito familiar. O verso 7 menciona que os pais devem “inculcar” (do hebraico shanan, que tem o sentido de “repetir”) as palavras de Deus na mente dos filhos. Logo, eles têm o dever religioso de relembrar as instruções divinas diariamente. O doutor Wagner Kuhn, professor de Teologia na Universidade Andrews, compartilhou sua experiência familiar como um exemplo de discipulado bem-sucedido. “Meus pais não tinham completa educação primária, mas tinham completa educação bíblica”, ele enfatizou. Inspirados nas histórias que costumavam ouvir dentro de casa, Wagner e dois de seus irmãos decidiram servir à igreja além-mar. Como foi observado pelo doutor Pablo Rotman, professor de Teologia na Faculdade Adventista da Bahia (FADBA), o plano de Deus esboçado no Antigo Testamento era expandir Seu reino na Terra por meio de famílias (Gn 1:28). “Nesse sentido, Gênesis 12:1 a 3 mostra como esse plano continuou com Abraão. Sua família se multiplicaria e seria uma bênção para todas as famílias”, afirmou Rotman. O conceito de discipulado do Antigo Testamento também inclui a ideia de “caminhar” ou “andar” com o Senhor, assim como Enoque (Gn 5:22, 24). Esse aspecto foi discutido especialmente pelos pastores Paulo Clézio dos Santos, professor de Teologia no Instituto Adventista Paranaense (IAP), e Alejandro Bullón, evangelista e conferencista internacional. Andar com Deus envolve um estado de constante dependência Dele, bem como fidelidade incondicional às especificações da aliança (Mq 6:8). A exemplo do Antigo Testamento, a literatura neotestamentária não menciona o termo “discipulado”. Para comunicar a ideia, o Novo Testamento usa especialmente os termos “discípulo” (do grego mathētēs), “fazer discípulo” R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
(mathēteuō), “aprender” (manthanō) e “seguir” (akolutheō). Além disso, locuções como “vir após” (Mt 16:24) e “andar com” (Jo 6:66) reafirmam a existência do conceito teológico de discipulado no Novo Testamento. Em outras palavras, embora o termo “discipulado” não tenha sido empregado, existe um campo semântico que transmite essa ideia nos escritos apostólicos. Talvez o texto mais importante sobre o assunto no Novo Testamento seja o de Mateus 28:18 a 20. O teólogo Leonardo Nunes, professor de Teologia na FADBA, argumentou que o particípio grego poreuthentes usado nessa passagem, o qual é traduzido como “ide”, está semanticamente subordinado à expressão “fazer discípulos” (mathēteusate), por se tratar de uma circunstância atendente no idioma grego. Assim, o termo “ir” pega carona no verbo principal (mathēteusate), que está no imperativo, indicando que os seguidores de Cristo devem ter uma atitude proativa no processo de discipulado. Ou seja, eles devem ir em busca de pessoas e discipulá-las. Nunes também observou que “fazer discípulos” é o resultado da presença constante de Jesus na vida de Seus seguidores e não o meio para obtê-la (Mt 28:20). Isto é, a presença de Cristo na vida do cristão é a causa, e o fazer discípulos, o efeito. Além de mostrar a causa e o resultado do discipulado, a grande comissão em Mateus revela como fazer discípulos: (1) “batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”; e (2) “ensinando-os a guardar todas as coisas”. Para Jesus, o maior Mestre de todos os tempos, existe uma relação equilibrada entre o ensino e o batismo. Ambos são importantes e igualmente necessários para a formação do discípulo. Desse modo, tanto no Antigo como no Novo Testamento, ser um discípulo é ser um genuíno servo de Deus; é estar comprometido com o Senhor, com a missão, com a ética e o estilo de vida apresentados na Bíblia. DO SIMPÓSIO PARA A IGREJA O doutor Adolfo Suárez, diretor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT) e um dos organizadores da programação, espera que essa reflexão teológica chegue de maneira didática aos membros da igreja através dos participantes e do livro que será lançado no próximo simpósio, previsto para acontecer em 2021 no Instituto Adventista Paranaense. Oferecer uma visão mais ampla sobre um tema assim tão relevante pode contribuir para a multiplicação de redes de discipulado como a que foi apresentada no encerramento do evento. Em uma comunidade adventista da capital peruana, várias pessoas têm se conectado à igreja e aprendido a viver como Cristo a partir de um trabalho que envolve estudo da Bíblia, oração e ensino. ] ANDRÉ VASCONCELOS é pastor e trabalha como editor de livros e periódicos na CPB; MÁRCIO TONETTI é jornalista e atua como editor associado da Revista Adventista
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A política da religião O NOVA ONDA DE APROXIMAÇÃO ENTRE IGREJA E ESTADO NO CENÁRIO GLOBAL REVELA TENDÊNCIA PREOCUPANTE MARCOS DE BENEDICTO 42
mundo atual vive um paradoxo: ao mesmo tempo, ele se distancia e se aproxima de Deus, e os próprios atores políticos que defendem a liberdade religiosa correm o risco de impor um padrão de religião que ameaça destruir essa liberdade. Ou seja, à medida que a sociedade se torna mais secularizada, ela se volta também para a religião, o que desperta uma tentativa autoritária de salvar os princípios da religião livre. Em tal contexto polarizado, tudo é politizado, inclusive a religião, que se mistura com o neonacionalismo e o populismo radical. Há uma estranha narrativa político-religiosa sendo escrita em nível mundial. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
Foto: Vincenzo Pinto - AFP
ANÁLISE
Com diversos tons e um raivoso discurso antiglobalista, o fenômeno “imprevisto” do novo nacionalismo afeta um grupo crescente de países do Ocidente e do Oriente, incluindo Áustria, China, Dinamarca, Estados Unidos, Filipinas, França, Hungria, Holanda, Índia, Indonésia, Inglaterra, Israel, Itália, Japão, México, Polônia, Rússia, Turquia e, claro, o Brasil. Os motivos que desencadeiam esse fenômeno são vários: crise econômica, imigração incontrolável, crescente desigualdade social, perda de valores morais, enfraquecimento das instituições tradicionais... No vácuo da incompetência, da insegurança e do medo, os populistas entram com seu discurso moralizante e hostil às elites, mas, longe de renovar a moral e beneficiar o povo, constroem uma nova ideologia e substituem uma elite por outra. Se o patriotismo cívico é saudável, o nacionalismo fanático e ideológico pode se tornar sanguinário. Alguns dos piores crimes da história foram cometidos em nome da nação, inclusive a morte de Cristo (Jo 11:50). O nacionalismo do século 19 parecia inocente, mas se tornou um monstro genocida na primeira metade do século 20. Em uma entrevista ao jornal La Stampa publicada no dia 9 de agosto, o próprio papa Francisco, preocupado com o nacionalismo, reclamou: “Ouvimos discursos que R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
lembram os de Hitler em 1934.” A religião cívica parece inofensiva, mas pode se transformar em uma fera perseguidora. Nesse cenário, torna-se perceptível a silhueta da Igreja cortejando o Estado, ou vice-versa. Alguns países simplesmente intensificaram a relação já existente entre política e religião, enquanto outros buscam uma espécie de detox do ópio (anti)religioso representado pela ideologia que dominou boa parte do mundo nas últimas décadas. A reação pendular aos males causados pelo esquerdismo trouxe de volta um direitismo que, em longo prazo, pode causar males igualmente nefastos. O problema não é a interação amistosa entre religião e política, e sim a instrumentalização da religião para promover o radicalismo ideológico. O risco da mistura entre política e religião é politizar a religião e “religionizar” a política, o que é ruim para ambas. O caso mais típico nessa linha é a realidade norte-americana, em que Donald Trump, um presidente improvável que percebeu os novos gostos políticos e usou amplamente as mídias sociais, foi saudado como uma espécie de “messias” pelos evangélicos. Não por acaso, ele recebeu o apoio de mais de 80% dos evangélicos brancos na eleição de 2016, apesar de mostrar comportamentos pouco afins ao evangelho. Uma pesquisa realizada em agosto do ano passado pela Associated Press em conjunto com o NORC Center for Public Affairs Research revelou que sete em cada dez evangélicos brancos do país apoiam o presidente. Esses religiosos engajados na política se esquecem de que, para merecer respeito e ter sua voz realmente ouvida, eles precisam ter uma religião acima dos partidos políticos. Até porque vários estudos têm demonstrado que a afiliação política acaba influenciando as próprias escolhas religiosas, como
argumenta Michele Margolis em seu recente livro From Politics to the Pews (The University of Chicago Press, 2018). Em outras palavras, não é só a religião que afeta a política; uma identidade partidária forte tem efeitos religiosos. Para não ficar somente no caso dos Estados Unidos, vale fazer uma breve menção ao Oriente Médio. Se em muitos países é a economia que move a política, nos territórios do Oriente Médio é a religião que ainda manda. Em Israel, na Turquia e na maioria dos países da região, o pertencer à religião e o viver no território nacional se misturam, e o Estado faz parte do coração da identidade religiosa, conferindo significado e coesão social. A redefinição da religião pela nação-estado, ou às vezes a definição do estado-nação pela religião, faz surgir um nacionalismo religioso e uma homogeneização religiosa, ao contrário da Europa e da América, onde a separação entre Igreja e Estado possibilitou o pluralismo religioso. Conforme Jocelyne Cesa ri explica no artigo “Unexpected Convergences: Religious Nationalism in Israel and Turkey”, publicado na revista Religions em 2018, as instituições políticas desses países não somente se apropriam da religião e a instrumentalizam, mas a “redefinem como parte da nova ordem social e política”. Para ela, “o nacionalismo religioso não é simplesmente o uso do islamismo ou do judaísmo para o controle político pelo Estado, mas, em vez disso, é um traço da nova psiquê dos cidadãos sob a nova ordem política, incorporado em comportamentos automáticos inculcados desde a infância”. Enfim, o aparato do Estado se encarrega de transformar o país em religião, ou a religião em nacionalidade. O PERIGO DO AUTORITARISMO Alguém pode argumentar que a religião e a política nunca estiveram realmente separadas, o que 43
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A novidade é a intensidade dessa relação. Destacados atores (países) no teatro político estão indo na mesma direção ao mesmo tempo, e normalmente com virulência. Resultado? Assim como (e)ventos políticos decisivos do passado instigaram movimentos semelhantes em outras paisagens, a exemplo da Revolução Francesa, do fascismo e do comunismo, a guinada políticoreligiosa do momento também tem o poder de facilitar outros experimentos na mesma direção. Embora seja difícil prever se esse ciclo direitista será longo, o alinhamento em escala global pode representar risco. No caso dos Estados Unidos, o ataque terrorista de 2001 claramente representou um momento apocalíptico na história mundial recente e motivou uma guinada na política da maior nação do planeta. A fragilidade do poderoso império despertou seu ímpeto contra as ideologias ameaçadoras. “O trauma que os americanos sofreram na tragédia de 11 de setembro foi não somente psicológico, existencial e político, mas, para os crentes, também religioso”, avalia Gentile. Para a população altamente religiosa dos Estados Unidos, o impacto foi enorme. Como poderiam os representantes
de uma fé radical diferente humilhar a nação escolhida? Teria Deus abandonado a América? O que fazer para conter a religião rival? A estratégia foi a aproximação da ala mais fundamentalista do cristianismo americano com o segmento mais conservador da política de Washington, dando origem ao novo americanismo. CHOQUE DE RELIGIÕES Na visão profética adventista, os Estados Unidos vão liderar o alinhamento político-religioso de boa parte do globo no fim dos tempos, perseguindo os dissidentes (Ap 13:15-17). Para isso, terá que mudar sua retórica e abandonar sua ideologia da liberdade, pelo menos na prática. A nação posará de cordeiro, símbolo de Cristo, mas agirá como dragão, símbolo de Satanás (Ap 13:11). A lei humana será honrada acima da lei divina, e o resultado será o caos. Ellen White, pioneira inspirada do movimento adventista, tinha uma preocupação com a interface entre religião e política no contexto americano, prevendo que a religião controlará a política, criando um monstro feroz. “A fim de formarem os Estados Unidos uma imagem da besta, o poder religioso deve a tal ponto dirigir o governo civil que R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
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é verdade. Em alguma parte do mundo, em qualquer fase da história, as duas sempre caminharam juntas. Desde o momento em que o imperador Constantino supostamente viu no céu o sinal da cruz, acompanhado da inscrição “com este sinal vencerás”, e se ajoelhou em oração antes da batalha da ponte Mílvia sobre o rio Tibre, em outubro de 312, o mundo ocidental sempre teve que lidar com a tentação de unir religião e política. Ao comentar esse acontecimento, num capítulo do livro Politics, Religion and Political Theology (Springer, 2017), Michael Allen Gillespie escreveu: “De várias maneiras, desde aquela época, papas e imperadores, reis e cardeais, reformadores e príncipes, grupos confessionais e parlamentos têm lutado para encontrar maneiras de coexistir.” Mesmo nos Estados Unidos, onde há uma separação constitucional entre Igreja e Estado, uma invenção tipicamente americana, uma vez que na Europa a relação Igreja-Estado era vista como algo natural, sempre houve uma mistura de interesses nas duas esferas. Embora “Deus” e o termo “divino” não apareçam explicitamente na constituição do país, tanto um quanto o outro são mencionados pelo menos uma vez em cada constituição dos 50 estados norte-americanos, num total de quase 200 menções, segundo um levantamento do Pew Research Center. Algumas constituições se referem ao “Criador”, “Senhor”, “Todo-Poderoso”, “Ser Supremo” e “Supremo Governante do Universo”. E sete estados (Maryland e outros seis) proíbem os ateus de exercerem cargos públicos, embora a lei não venha sendo aplicada, por temor de ferir a carta magna. Em Maryland (“Terra de Maria”), a crença em Deus ainda é um requisito até para testemunhas. No prefácio do livro God’s Democracy (Praeger, 2008), o historiador italiano Emilio Gentile escreveu: “Todos os presidentes dos Estados Unidos, desde os tempos do primeiro presidente, George Washington, terminaram seu discurso inaugural pedindo que Deus abençoasse a América, e nenhum presidente deixou de mencionar, pelo menos uma vez, sua fé no Deus Todo-Poderoso, na origem divina da democracia americana e na missão providencial da nação. O presidente americano é não apenas o líder político da nação, mas também o pontífice de sua religião civil.” Assim, o governo é visto como o protetor legal da liberdade religiosa, enquanto os políticos usam a religião e os religiosos usam a política para alcançar seus fins. Que a mistura de religião e política está crescendo no mundo está bastante claro.
O RISCO DA MISTURA ENTRE POLÍTICA E RELIGIÃO NÃO É A DEFESA DE VALORES E PRINCÍPIOS, MAS POLITIZAR A RELIGIÃO E “RELIGIONIZAR” A POLÍTICA a autoridade do Estado também seja empregada pela igreja para realizar os seus próprios fins”, ela escreveu (O Grande Conflito, p. 443). Logo à frente, ela completa: “Quando as principais igrejas dos Estados Unidos, ligando-se em pontos de doutrinas que lhes são comuns, influenciarem o Estado para que imponha seus decretos e lhes apoie as instituições, a América do Norte protestante terá então formado uma imagem da hierarquia romana, e a aplicação de penas civis aos dissidentes será o resultado inevitável” (p. 445). Embora tanto a direita quanto a esquerda possam ser cooptadas pelo mal e se transformar em “bestas”, aqui o perigo vem da extrema direita religiosa, que existe desde o início do século 19, mas ganhou influência nas últimas décadas. Na verdade, a nação norte-americana já vive um paradoxo: ao se ver na obrigação de defender o mito de que o país é o paradigma da liberdade religiosa, acaba se posicionando como a guardiã global da religião livre e forçando um conformismo ao seu padrão. Assim, a religião passa a ser um elemento definidor por excelência de quem é amigo e digno de confiança. No livro Beyond Religious Freedom (Princeton University Press, 2015), Elizabeth Shakman Hurd discorre sobre esse tema e afirma: “O discurso da liberdade religiosa descreve e legalmente define indivíduos e grupos em termos religiosos ou sectários e não com base em outras afinidades e relações – como, por exemplo, afinidades políticas, laços históricos ou geográficos, vizinhança ou afiliações ocupacionais, redes de parentesco, vínculos geracionais ou fatores socioeconômicos. Ao posicionar a religião como prioritária R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
em relação a essas identidades e afiliações, o modelo dos direitos religiosos aumenta a importância sociopolítica do que as autoridades nacionais ou internacionais designam como religião.” Assim, o critério para julgar alguém é o religioso, a chamada “ecologia de afiliação”. No fim, o que vai desencadear a fúria imperial norte-americana contra os dissidentes? Um conjunto de fatores, mas com destaque para a religião que não se alinhar com a ideologia político-religiosa dominante. De acordo com a controvertida tese de Samuel Huntington a respeito do “choque de civilizações”, as diferenças mais importantes entre os povos no mundo pós-guerra fria não mais são “ideológicas, políticas nem econômicas”, mas culturais. E a chave para definir o elemento cultural seria a religião. Em grande medida, ele argumentou em The Clash of Civilizations (Touchstone, 1996), “as principais civilizações da história humana têm sido intimamente identificadas com as grandes religiões do mundo; e pessoas que compartilham etnia e linguagem mas diferem em religião podem massacrar umas às outras”. No caso, haverá um choque de religiões. A percepção do risco de descristianização da América e a ameaça
de islamização do mundo são elementos importantes nessa trajetória profética. O processo pode ser longo, com idas e vindas, mas chegará aonde a profecia sinaliza. A ligação entre religião e política ou Igreja e Estado nunca termina bem. Não importa se o Estado é de direita ou esquerda, em algum momento ele se tornará Leviatã, o monstro imperial que age como soberano absoluto. A metáfora do Leviatã como um governo central que concentra todo o poder em torno de si e controla as decisões da sociedade, a fim de evitar o caos social ou situações chamadas de “estado de natureza”, é associada ao livro homônimo de Thomas Hobbes lançado em 1651. Porém, o simbolismo do verdadeiro Leviatã vem da Bíblia. Os monstros ou bestas de Apocalipse 13 são poderes político-religiosos cooptados pelo dragão (Satanás) para promover sua agenda de intimidação e perseguição. O objetivo é desviar o foco da adoração de Deus para si mesmo. Portanto, a política local ganha uma dimensão maior ao ser vista como um estágio na geopolítica cósmica. Em síntese, o mundo políticoreligioso está mudando. A ideia de que a religião desapareceria do mapa diante das forças modernistas era compartilhada por grandes pensadores sociais do século 19. Hoje, eles perceberiam a complexidade da sociedade e explicariam as coisas de maneira diferente. A aproximação entre religião e política no momento pode ser apenas a soma de coincidências sociopolíticas, mas pode também ser a acentuação de um movimento global com futuras implicações proféticas. Sem sensacionalismo e apavoramento, os cristãos conscientes observam os acontecimentos e mantêm a esperança de que, depois do caos político-religioso, virá um reino de paz. ] MARCOS DE BENEDICTO, pastor, jornalista e doutor em Ministério, é redator-chefe da Casa Publicadora Brasileira
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MEMÓRIA
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Alfredo Luiz Bahia, aos 85 anos, em Divisa Alegre (MG), vítima de problemas cardíacos. Batizado havia mais de 50 anos, era membro da Igreja Central da cidade. Foi um diácono dedicado que evangelizou muitas pessoas. Conhecido como “irmão Tito”, será lembrado por sua hospitalidade, alegria e fé. Deixa a esposa, Vina, cinco filhos, 20 netos e 26 bisnetos.
Ceres Antunes Chagas Lima, aos 96 anos, em Curitiba (PR). Paranaense de Paranaguá, Ceres tinha três anos de idade quando a mãe aceitou o adventismo. Batizada em 1939 pelo pastor Nelson Schwantes, foi professora normalista e trabalhou no então Educandário Adventista do Butiá (atual IAP), e como secretária na antiga Associação Paraná-Santa Catarina. Mulher de fé inabalável, com habilidades em música, costura e culinária, sempre muito ativa nas atividades da igreja, dedicou-se como professora da Escola Sabatina nas igrejas que frequentou. Viúva de Eugênio Chagas Lima, com Redação quem foi casada por quase 70 anos, deixa quatro filhas, cinco netos e três bisnetos. Designer
Edgar Slisinski, aos 68 anos, CQ em Curitiba (PR), vítima de câncer. Paranaense Marketingde Rebouças, era membro da Igreja do Tingui, comunidade que ajudou a fundar e que
frequentou por 47 anos, na qual servia como primeiro-ancião. Ajudou a estabelecer também a Igreja de Jardim Aliança. Destacou-se por sua dedicação na ministração de estudos bíblicos e por ser pai amorável e participativo na vida da sua família. Deixa a esposa, Arlete, dois filhos e dois netos. Eva Maciel, aos 90 anos, em Erechim (RS), vítima de insuficiência cardíaca. Foi uma fiel adventista. Deixa 14 filhos, 26 netos, 24 bisnetos e quatro trinetos. Geralda Lourenço de Lima, aos 86 anos. Foi batizada em 1963 e treze anos depois se mudou para Salto de Pirapora (SP), onde abriu as portas de sua casa para ajudar a fundar a primeira igreja adventista da cidade. Geralda aprendeu a ler na Bíblia e transmitiu sua fé para seus 12 filhos, 32 netos e 29 bisnetos. Irene Maria de Souza, aos 66 anos, vítima de acidente no trólebus, ao retornar do trabalho para casa. Foi professora, mãe e avó dedicada. Fiel cristã e comprometida com o auxílio ao próximo, foi pioneira da Igreja de Jardim Utinga, em Santo André (SP). Deixa o esposo, Sebastião, três filhos e quatro netos. Ismael Mascarenhas, aos 91 anos, vítima de infarto. Era membro
da Igreja Central de Castro (PR). Deixa a esposa, Nair (com quem esteve casado por 68 anos), cinco filhos, 21 netos e 21 bisnetos. João Florentino de Lima, aos 74 anos, vítima de infarto fulminante. Natural de São João do Cariri (PB), foi batizado em 1984. Era membro da Igreja de Jardim São Paulo, em Guarulhos (SP), congregação da qual foi um dos fundadores. Era fiel nos dízimos e ofertas e ajudava a TV Novo Tempo como anjo da esperança. Deixa a esposa, três filhos e três netos. Jones Maciel da Silva, aos 63 anos, em Cotia (SP), vítima de infarto. Natural de Vicente Dutra (RS), era membro ativo da Igreja de Caucaia do Alto, comunidade à qual serviu por 28 anos. “Gaúcho da eletrônica”, como era conhecido, gostava de utilizar seu trabalho para pregar o evangelho e distribuir Bíblias. Na sua igreja local, atuou como tesoureiro e líder do processo de construção do templo atual. Destacou-se como pai amorável e participativo da vida da sua família. Deixa a esposa, cinco filhos (um deles pastor em Curitiba) e dez netos. Maria Peruzo da Silva, aos 92 anos, em Campinas (SP), de morte natural. Era membro da Igreja Central da cidade. Viúva de Joaquim Camilo da Silva, com
quem foi casada por mais de 50 anos, ela sempre teve um espírito missionário. Um de seus principais legados à igreja local foi o trabalho na área da assistência social, tendo levado muitas pessoas ao batismo. Deixa três filhos (Elizeo, Ezequiel e Nair), seis netos e seis bisnetos. Moisés de Souza Vieira, aos 81 anos, em Vila Valério (ES), vítima de infarto. Na sua igreja local serviu como professor da Escola Sabatina e diácono. Deixa a esposa, cinco filhos,14 netos e um bisneto. Telma Carvalho Costa Carrero Martin, aos 49 anos, em Marília (SP), vítima de parada cardiorrespiratória. Pertencente à terceira geração de adventistas, era enfermeira da Santa Casa de Misericórdia de sua cidade. Cantava no coral jovem local e no grupo Unicantos, e era membro da Igreja Central de Marília. Deixa o esposo, Marcos, e duas filhas. Valdomiro da Silva, aos 86 anos, vítima de AVC. Batizado em 2010, era membro da Igreja de Jaguaré, em Barueri (SP). Descansou em paz com Deus e certo da ressurreição. Deixa a esposa, Juraci, uma enteada e uma neta.
“ B E M - AV E N T U R A D O S O S M O R T O S Q U E , D E S D E A G O R A , M O R R E M N O S E N H O R ” R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
(APOCALIPSE 14:13)
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EM FAMÍLIA
SEXO É VIDA
E OS IDOSOS TAMBÉM PODEM DESFRUTÁ-LO COM ALEGRIA E PRAZER
T
odos nós estamos envelhecendo. E nesse processo ocorrem mudanças inevitáveis em nosso corpo, mente e comportamento, inclusive na sexualidade. Apesar de o impulso sexual ser geralmente associado à juventude, idosos também têm desejo por sexo e podem encontrar satisfação nessa área da vida. O primeiro ponto é pensar na sexualidade como algo mais amplo que o ato sexual em si. Na verdade, ela compreende uma série de manifestações, como afeto, desejo, intimidade, senso de pertencimento e outras experiências que podemos sentir e expressar na busca do amor e do vínculo. Portanto, a sexualidade faz parte da nossa personalidade e vai existir independentemente de tabus, idade, gênero, nacionalidade ou religião. Obviamente, o modo como se experimenta a sexualidade varia com o avanço da idade, mas ela não pode ser jamais negligenciada. Especificamente em termos de atividade sexual, o idoso enfrenta mudanças que são naturais e que implicam na diminuição da resposta aos estímulos sexuais. Nos homens, ocorre a redução na produção dos espermatozoides e da testosterona, que é o hormônio mais importante na questão do desejo. As ereções se tornam mais raras e menos firmes. O volume ejaculado também diminui, e episódios de falha nas ereções são experimentados mais regularmente. Por sua vez, as mulheres, em virtude do climatério e da menopausa, sofrem com a redução de seus hormônios sexuais. O ressecamento vaginal provocado pela queda hormonal pode gerar desconforto e até dor durante o ato sexual. O uso de lubrificantes e a reposição hormonal podem ajudar nesse sentido. Mulheres mais velhas também experimentam impactos na autoimagem e autoestima, que podem afetar a sexualidade. Além disso, problemas de saúde como diabetes, hipertensão, colesterol alto ou uso de alguns medicamentos prejudicam o desempenho sexual, em ambos os sexos. O maior problema é que há resistência na busca de tratamento quando aparece alguma disfunção sexual. 48
SEXUALIDADE É MAIS DO QUE UM ATO; TEM QUE VER COM AFETO, DESEJO, INTIMIDADE E SENSO DE PERTENCIMENTO, NA BUSCA DO AMOR E DO VÍNCULO
Mesmo diante de mudanças físicas, a vida sexual na terceira idade vai provavelmente seguir a tendência demonstrada ao longo dos anos. Casais hipersexuais continuarão fazendo sexo com frequência e os menos sexualizados poderão até cessar esse tipo de contato. Com o aumento da longevidade e as mudanças no estilo de vida das pessoas, podemos dizer que os idosos de hoje não são como os de antigamente. São mais ativos, gostam de experimentar coisas novas e não abrem mão da qualidade de vida, inclusive no aspecto sexual. Isso, aliás, tem gerado um alerta das autoridades de saúde. Entre 2016 e 2017, segundo o Boletim Epidemiológico HIV/Aids do Ministério da Saúde (2018), aumentou em 81% o número de casos de HIV em pessoas acima de 60 anos. Esse crescimento nas taxas ocorreu em ambos os sexos e se deve principalmente à não utilização de preservativo, seja em virtude de crenças equivocadas ou preconceitos em relação ao método. Sexualidade é vida. E a vida não tem idade. Ela acontece o tempo todo e requer criatividade e renovação constante. Que nossos idosos a desfrutem com alegria e prazer, dentro dos parâmetros corretos! ] TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências
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TALITA CASTELÃO
ESTANTE
AME MAIS
LIVRO DE TEÓLOGO ESPANHOL REFLETE PROFUNDA E POETICAMENTE A RESPEITO DE DEUS, AMOR E CASAMENTO LUCIANA GRUBER
D
eus é amor. Ele é a fonte desse sentimento/princípio que move a humanidade. Esse é o resumo da revelação divina. E, para expressar os atributos comunicáveis de Seu perfeito caráter, Ele resolveu esculpir o primeiro casal à Sua imagem e semelhança e implantar nele o que sente por nós, unindo Adão e Eva em casamento. No livro Amores Básicos (CPB, 2019, 120 p.), o teólogo espanhol Víctor Armenteros apresenta uma reflexão profunda e poética sobre o fundamento dos relacionamentos humanos: (1) o reconhecimento de Deus como a materialização absoluta do amor; (2) do casamento como a instituição planejada por Ele para unir um homem e uma mulher; (3) e do lar como o espaço de convivência privilegiado para construção da relação entre pais e filhos. Em apenas nove capítulos, o autor mostra a grandeza do amor de Deus, o cuidado com o qual Ele criou o mundo para a humanidade e a importância do casamento no projeto divino de complementaridade física e emocional entre
A BELEZA ÍMPAR DA OBRA DE ARMENTEROS É SUA ENCANTADORA ANÁLISE SOBRE O LIVRO BÍBLICO CÂNTICO DOS CÂNTICOS R e v i s t a A d ve n t i s t a // Setembro 2019
homem e mulher. Ele entende essa união como um pacto a três, firmado sem pressão, mas por vontade e desejo. Ao ordenar que crescesse e se multiplicasse, Deus estava concedendo à humanidade a capacidade de gerar outras pessoas, alterando assim sua própria perspectiva de vida e futuro. Armenteros também discute os problemas mais comuns nos relacionamentos, incluindo a “coisificação do outro”, e como isso destoa do ideal bíblico. Nessa linha, ele argumenta que a Bíblia e Deus não são machistas; portanto, nós também não podemos ser. Deus valoriza homem e mulher igualmente. O autor destaca a importância do amor e da guarda dos mandamentos como salvaguarda do casal e de toda a sociedade. No último capítulo, ele faz uma bela análise da sexualidade e mostra que, desde a criação, as relações íntimas fazem parte do plano de Deus para o casal. Para ele, Deus não estabeleceu o sexo apenas para procriação, e sim para promover a união e satisfação mútua entre homem e mulher, sob a bênção do matrimônio. A beleza ímpar da obra de Armenteros é sua encantadora análise sobre o livro bíblico Cântico dos Cânticos. Ele interpreta as imagens utilizadas por Salomão e extrai delas lições para os casais de noivos e recém-casados. E faz isso com sensibilidade artística e refinado conhecimento linguístico, habilidades próprias de alguém que é doutor em línguas semíticas pela Universidade de Granada,
TRECHOS
“Diga-me como você fala com seu cônjuge e direi como vai seu casamento. [...] Gostemos ou não, somos um reflexo de nossas palavras” (p. 56). “No princípio, Deus cria o ser humano como um ser sexuado. Não o cria assim por erro, mas por desejar que ele seja um ser social e que se complemente com o outro gênero. E o próprio Deus considera esse projeto muito bom, excelente” (p. 87). na Espanha, e que por vários anos tem lecionado em seminários teológicos na Argentina e em seu país de origem. Como esclarece na introdução, o objetivo do autor é que os leitores aprendam a amar mais e, sobretudo, melhor. ] LUCIANA GRUBER é revisora de livros denominacionais na Casa Publicadora Brasileira
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ENFIM
TEMPOS DE DESCONFIANÇA
A CREDIBILIDADE DA IGREJA É MEDIDA, EM GRANDE PARTE, PELO NÍVEL DE CREDIBILIDADE DOS SEUS MEMBROS MÁRCIO TONETTI
G
anhar a confiança das pessoas é algo difícil, ainda mais num país como o Brasil, em que apenas 7% das pessoas dizem confiar nas outras, segundo o último levantamento do instituto Latinobarômetro, que mede esse e outros indicadores. A crise no nível interpessoal se estende, obviamente, ao âmbito institucional. Tomando como parâmetro o Índice de Confiança Social, divulgado no início de agosto, o brasileiro dá pouco crédito ao governo e a muitas entidades. Por outro lado, chama a atenção o fato de continuar sendo alto o nível de confiança da população em instituições como o Corpo de Bombeiros, que desde 2009 mantém a primeira posição na lista. Curiosamente, outra instituição que se dedica a salvar vidas também aparece entre as primeiras. Numa escala de 0 a 100, o índice de confiança na igreja foi de 71 pontos, menor apenas do que a pontuação do Corpo de Bombeiros (88 pontos) e da Polícia Federal (72). 50
Felizmente, muitas pessoas ainda conf ia m na igreja. No entanto, precisamos reconhecer que sua credibilidade já foi maior e que há um fenômeno crescente que não deve ser ignorado: a tendência de individualização da crença. Cada vez mais, as pessoas têm preferido desenvolver uma espiritualidade própria a estabelecer vínculo com alguma denominação. Querem crer, mas sem pertencer. O fenômeno da desinstitucionalização religiosa passou a ser mais estudado no país a partir do penúltimo censo brasileiro, realizado em 2000, quando 7,4% da população brasileira se declarou sem religião. Hoje esse número chega a 10% entre os jovens com idade entre 15 e 29 anos. Mais do que um fenômeno nacional, o número crescente de “desigrejados” reflete uma crise global de confiança nas instituições religiosas. O problema, que é multifatorial, deveria nos levar a uma autoanálise não apenas no âmbito corporativo, mas sobretudo na esfera pessoal. Ao fazer isso, deveríamos buscar fortalecer pelo menos três aspectos: 1. O nível de coerência. A religião perde o crédito quando cristãos nominais dizem uma coisa e fazem outra. Por exemplo, uma pesquisa divulgada no início do ano pela LifeWay Research Survey, com base nas respostas de 2 mil jovens protestantes com idade entre 23 e 30 anos, mostrou que, para 32% deles, o principal motivo
de terem deixado a igreja foi a percepção de que os irmãos eram hipócritas. No sermão do monte, Cristo desafiou Seus seguidores a professá-Lo não apenas com os lábios, mas com a vida (John Stott, A Mensagem do Sermão do Monte [Ultimato, 2011], p. 219). 2. O nível de relevância. A igreja perde a confiança quando deixa de mostrar que sua mensagem oferece respostas para as perguntas e dilemas da atualidade. Outro estudo recente, intitulado “Losingh Heart”, realizado pelo Youthscape Center for Research com pessoas de 2 mil igrejas do Reino Unido, mostrou que apenas 50% das congregações falavam regularmente sobre assuntos básicos com os jovens e a maioria nunca havia discutido temas como pornografia, drogas e vício. Muitos deles relataram que não tinham confiança para falar sobre temas difíceis. 3. O nível de consistência. Em vez de diluir a mensagem, a igreja precisa apresentar uma mensagem cada vez mais sólida e consistente. Muitos têm buscado solidez bíblica e não se satisfazem com “água e açúcar”. Numa era de desconfiança generalizada para com as instituições, a relação das pessoas com a igreja pode ser menos afetada se cada representante de Cristo viver de maneira autêntica. Afinal, em grande parte a sociedade mede a credibilidade da igreja pelo nível de credibilidade dos seus membros. ] MÁRCIO TONETTI é jornalista e editor associado da Revista Adventista
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MUITAS PESSOAS AINDA CONFIAM NA IGREJA; PORÉM, É MOTIVO DE REFLEXÃO O FATO DE ELA NÃO APARECER COMO A MAIS CONFIÁVEL
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