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A globalização: dependência da humanidade dos fármacos

Beatriz Dias & Mafalda Gaudêncio

Globaliza O

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◌ A globalização é o termo usado para descrever o processo a partir do qual o comércio e a tecnologia contribuíram para um mundo mais conectado e interdependente. Na indústria farmacêutica, isto remeteu para a deslocalização dos centros de produção para outras regiões do globo.

F Rmacos De Venda Livre

◌ Fármacos ou medicamentos de venda livre são aqueles que podem ser vendidos diretamente a pessoas sem recurso a prescrição médica. Estes tratam uma variedade de doenças e os sintomas a elas associados, incluindo dores, tosse, constipações, acne, entre outros.

Alguns dos medicamentos de venda livre mais utilizados incluem:

Analgésicos, como paracetamol, aspirina, ibuprofeno e naproxeno.

Medicamentos para azia e indigestão, como omeprazol, lansoprazol, cimetidina e hidróxido de alumínio.

O QUE DIZ A CIÊNCIA SOBRE A DEPENDÊNCIA DE FÁRMACOS?

◌ O consumo indevido de drogas lícitas, especialmente de medicamentos, aumenta significativamente em todo o mundo. Alguns dos medicamentos que causam habituação encontram-se inseridos no ramo dos ansiolíticos e sedativos, medicamentos sob receita médica usados para aliviar a ansiedade e/ou ajudar a dormir.

◌ HØJSTED J. (2007) define dependência como um conjunto de fenómenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos, de intensidade variável, podendo ser psicológica ou física. Dependência psicológica é o estado no qual uma droga promove uma sensação de prazer, propiciando o uso periódico e até dependência física, denominada como um estado de adaptação do organismo à privação abrupta ou diminuição da dose da droga.

Bio Tica

◌ Ao abrigo da ética da Biologia, comummente designada por bioética, o bem-estar do paciente nem sempre é colocado em primeiro lugar, especialmente quando associados a indústrias de grande alcance mundial.

◌ A globalização, na indústria farmacêutica, veio permitir o acesso a várias substâncias, deslocalizando os centros de produção para outras regiões do globo, e contribuindo assim para o desenvolvimento de novos medicamentos. Funcionando como um negócio interdependente, o progresso da indústria farmacêutica é obrigatoriamente acompanhado pelo mesmo ritmo de consumo por parte da população, pelo que se põe em causa a legitimidade de muitas das suas ações, em prol de uma maior margem de lucro. A publicidade a medicamentos, associada à indústria farmacêutica e aos interesses médicos, pode influenciar a prescrição e o consumo irracional de fármacos.

◌ Lira (2012), citando Lefévre (1985), explica que “a sociedade capitalista vive a ideia de que a única possibilidade de ter saúde é consumir saúde”, o que fortaleceu a associação entre saúde e medicamento, levando a população ao uso indiscriminado.

◌ Também a relação médico-paciente será decisiva no impacto que um fármaco tem sob um indivíduo. Partindo do pressuposto de que a maior parte dos medicamentos possuem efeitos secundários, cabe à entidade responsável avaliar se os benefícios dos fármacos prescritos são maiores do que os riscos. Para Lira (2012), isto constitui um ato eticamente correto, no que diz respeito às relações médico-paciente, ao mesmo tempo que alerta que nem sempre a pesquisa farmacêutica tem como finalidade o bem-estar do ser humano.

Conclus O

◌ A globalização veio potencializar o processo de desenvolvimento de novos fármacos, mas também contribui para o desenvolvimento de dilemas bioéticos, nomeadamente pelos interesses financeiros das grandes indústrias farmacêuticas. Nesse sentido, as constantes discussões bioéticas são de enorme importância, tanto na comunidade farmacêutica como meio de sensibilização para a população em geral.

◌ Lira, L. S. S. P., Andrade, L. M., Alves, F. D. M. P., de Silva Sena, E. L., de Oliveira Boery, R. N. S., & Yarid, S. D. (2012). Uso abusivo e dependência de drogas lícitas: uma visão bioética. Revista Bioética, 20(2), 326-335.

◌ Levine, D. A. (2007). ‘Pharming’: the abuse of prescription and over-the-counter drugs in teens. Current opinion in pediatrics, 19(3), 270-274.

◌ Cooper, R. J. (2013). ‘I can't be an addict. I am Over-the-counter medicine abuse: a qualitative study. BMJ open, 3(6), e002913.

◌ Volkow, N. D. (2005). Prescription drugs: Abuse and addiction. National Institute on Drug Abuse, 439, 440.

◌ McAvoy, B. R., Dobbin, M. D., & Tobin, C. L. (2011). Over-the-counter codeine analgesic misuse and harm: characteristics of cases in Australia and New Zealand. The New Zealand Medical Journal (Online), 124(1346).

◌ Costa, L. M. D. (2017). Uso de fármacos opioides no tratamento da dor.

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