Revista Juventudes e Agroecologia

Page 1


REVISTA PROJETO JUVENTUDES E AGROECOLOGIA VOLUME 1/2021 PROJETO E PUBLICAÇÃO Associação Gaúcha Pró-Escolas Famílias Agrícolas – AGEFA Escola Família Agrícola Santa Cruz do Sul - EFASC Av. Prefeito Orlando Oscar Baumhardt, 4016 Linha Santa Cruz - Cep: 96822-050 Santa Cruz do Sul - RS - Brasil Fone: (51) 3713-3046 ou 3711-1341 agefars@gmail.com ou efasantacruz@efasc.org facebook.com/efasantacruz

PROJETO PATROCINADO POR FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL Projeto Nº 17.343 - PIS 01/2019, intitulado JUVENTUDES E AGROECOLOGIA: Soberania Alimentar e Saberes do Campo. SCES, Trecho 02, lote 22 CEP: 70200-002 Brasília - DF - Brasil Fone: (61) 3108-7000 fbb@fbb.org.br

COORDENAÇÃO DO PROJETO E ORGANIZADORES DA REVISTA Adair Pozzebon Diego Henrique Limberger

REVISÃO Maira Taís Marques Corrêa

PROJETO GRÁFICO, EDITORAÇÃO E TRATAMENTO DE FOTOS CRIS MACHADO PUBLICIDADE Porto Alegre - RS Whatsapp (51) 98123-7384 crismachadopublicidade@gmail.com https://camarts.wixsite.com/portfoliocrismachado

FOTOGRAFIAS

Acervo da EFASC - Escola Família Agrícola Santa Cruz do Sul Acervo da AAVRP – Articulação em Agroecologia do Vale do Rio Pardo Fotos aéreas - Pé de Coelho Filmes Wandoir Sehn Lucas Batista - Jornal Arauto Acervo da Fundação Banco do Brasil Acervo dos autores(as)



Palavra do Presidente da AGEFA A EFASC é feita de parcerias, articuladas pela AGEFA. É assim que funcionamos, numa parceria com quase quatrocentas famílias entre Egressos e Jovens em formação, uma parceria com a Juventude do Campo, que faz a EFASC todos os dias, estudando e vivendo a Pedagogia da Alternância, ligando Escola e Família num processo educativo que vai nos tornando todos/as sujeitos das nossas existências. Uma parceria de muita confiança com nossos Monitores/ as e Funcionárias, responsáveis em tocar o cotidiano da Escola, entre aulas, visitas, seminários, debates e tudo que envolve nossa prática política-pedagógica. E por fim, uma parceria com nossos parceiros institucionais, que hoje são mais de trinta, entre eles a Fundação Banco do Brasil – FBB.

Essa soma de tantas parcerias faz da EFASC uma escola regional, com um compromisso central de fazer uma educação do Campo contextualizada à realidade da nossa Juventude regional, de fortalecer a Agricultura Familiar Camponesa no Vale do Rio Pardo, bem como promover a Agroecologia na região,

numa prática pedagógica que tem na produção de alimentos saudáveis uma das suas principais funções sociais, como estratégia de saúde pública e de geração de renda aos nossos Jovens. Por isso, projetos como esse, o “Juventude e Agroecologia: Soberania alimentar e saberes do Campo”, nº 17.343 – são de grande importância, porque contribui diretamente na qualificação da nossa infraestrutura, permitindo que possamos melhorar a cada dia a nossa prática pedagógica, proporcionando desde um melhor conforto para nossos estudantes, monitores/as e visitantes, aulas mais atrativas e sobretudo, uma melhoria na área didático-produtiva da EFASC. Desta forma, fica aqui registrado o nosso agradecimento a FBB e todos os envolvidos para que esse projeto saísse do papel e se traduzisse nessa breve revista que busca mostrar todas as melhorias que estamos implantando na nossa nova sede, que assim que passar essa Pandemia, vai nos permitir recomeçar presencialmente com força total, porque a Juventude do Campo, da EFASC, tem muito a mostrar e nos ensinar. Um forte e carinhoso abraço a todos/as. Márcio Manske. Agricultor Familiar Camponês, de Linha Borges de Medeiros, Vera Cruz/RS.

Presidente da AGEFA.

4


JUVENTUDES E AGROECOLOGIA Soberania Alimentar e Saberes do Campo

A Fundação Banco do Brasil apoia a agroecologia com o propósito de incentivar a produção de alimentos saudáveis e de forma ambientalmente sustentável. Os projetos desenvolvidos com investimento social são selecionados por meio de editais públicos e internos do BB. A iniciativa “Juventudes e Agroecologia – Soberania Alimentar e Saberes do Campo”, chegou até a Fundação BB no Edital PIS – Projetos de Inclusão Socioprodutiva de 2019, neste caso prospectada por funcionários do BB no Rio Grande do Sul.

A AGEFA – Associação Gaúcha Pró-Escolas Famílias Agrícolas, executora do projeto e mantenedora da EFASC, está conseguindo com o apoio da fundação BB ao projeto a estruturação da unidade de ensino para a formação profissional dos jovens e também a implantação da Unidade Pedagógica de Produção Agroecológica (UPPA), onde são feitas as vivências e demonstrações de práticas agroecológicas. Vale destacar que os ensinamentos abrangem desde o plantio à comercialização dos alimentos. Os estudantes participam de duas feiras, a Feira Pedagógica, na sede da EFASC e a Feira Jovem de Boa Vista, na comunidade de

Boa Vista, nas imediações de Santa Cruz do Sul (RS). O aprendizado de técnicas agroecológicas com a Pedagogia da Alternância permite ao estudante ficar um período na EFASC e em outro período colocar em prática na propriedade familiar o que aprendeu. Essas atividades desenvolvidas no projeto, e que estão diretamente ligadas ao mundo do trabalho destes jovens, proporcionaram um experiência importante para que eles possam conquistar um futuro de segurança alimentar, maior integração com as suas comunidades e autonomia.

Esse projeto, com o objetivo de fortalecer a formação profissional da juventude do campo EFASC – Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (RS), abrange simultaneamente duas áreas de atuação da Fundação BB: Educação e Geração de Trabalho e Renda. Rogério Biruel Diretor-Executivo de Desenvolvimento Social da Fundação Banco do Brasil Graduado em Direito, com Especialização em Administração Financeira, MBA Executivo em Negócios Financeiros e em Liderança Estratégica. Trabalha no Conglomerado Banco do Brasil há 28 anos. Desde setembro de 2016 atua como Diretor de Desenvolvimento Social da Fundação Banco do Brasil com programas e projetos nas áreas de educação e meio ambiente voltados a inclusão socioprodutiva dos segmentos mais vulneráveis da sociedade.

5


SUMÁRIO 8 8

EFASC no contexto do Vale do Rio Pardo UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA VIA A PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA.

11 Projeto 17.343 - Juventudes e Agroecologia 11

MELHORIA DA INFRAESTRUTURA PEDAGÓGICA E PRODUTIVA DA EFASC, TRANSFORMANDO A REALIDADE COM/PARA A JUVENTUDE DO CAMPO.

12

ETAPA 1 – INFRAESTRUTURA PEDAGÓGICA NA NOVA SEDE DA EFASC:

15

ETAPA 2 – QUALIFICAÇÃO DA INFRAESTRUTURA PRODUTIVA VIA A IMPLANTAÇÃO DE UMA UNIDADE PEDAGÓGICA DE PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA:

16

ETAPA 3 –ESTRUTURAÇÃO DE FEIRAS AGROECOLÓGICAS:

17

ETAPA 4 – DIVULGAÇÃO DO PROJETO:

18

FALA JUVENTUDE BENEFICIÁRIA DO PROJETO JUVENTUDES E AGROECOLOGIA!

20 UPPA e Quintais Orgânicos 20

PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA: AGROECOLOGIA E UPPA

21

O TRABALHO PEDAGÓGICO NA PANDEMIA NA COVID 19

23

PRODUÇÃO DE MUDAS AGROECOLÓGICAS: HORTALIÇAS E MEDICINAIS

24

PROJETO QUINTAIS ORGÂNICOS DE FRUTAS


26 Feira pedagógica e grupo

de produção e consumo 26

“OLHA A FEIRA AÍ!”

29

GRUPO FEIRA PEDAGÓGICA

32 A Experiência da Feira Jovem da Boa Vista 32

A JUVENTUDE DO CAMPO SENDO PROTAGONISTA DA SUA HISTÓRIA

34

FEIRA JOVEM DA BOA VISTA CADA VEZ MAIS FORTALECIDA.

36

DEPOIMENTOS DE ALUNOS E PROFESSORES

38 Agroecologia no Vale do Rio Pardo 38

EFASC NO CONTEXTO DA AGROECOLOGIA DO VALE DO RIO PARDO

38

AGROECOLOGIA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA NA REGIÃO.

40

A FUNDAÇÃO AAVRP

41

A EDUCAÇÃO E AGROECOLOGIA NA REGIÃO.

41

A EFASC

43

O BACHARELADO EM AGROECOLOGIA UERGS/AGEFA

45 Sementes Crioulas 45

O PAPEL DA AGROBIODIVERSIDADE NA CONSTRUÇÃO DE SABERES

46

O PROCESSO AGRÍCOLA E DA PRODUÇÃO DE SEMENTES

47

AGROBIODIVERSIDADE E SEGURANÇA ALIMENTAR DA AGRICULTURA FAMILIAR

48

O ESPAÇO DAS SEMENTES CRIOULAS: AGROECOLOGIA E SABERES

51 As mulheres na pedagogia da alternância da EFASC


EFASC no contexto do Vale do Rio Pardo

Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul - EFASC UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA VIA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA. Na busca de construir novos espaços educativos que pudessem garantir a oferta de uma educação contextualizada e adequada aos filhos(as) de Agricultores Familiares, formou-se a Associação Gaúcha Pró-Escolas Famílias Agrícolas – AGEFA, em 25 de julho de 2008 que, através de parcerias e principalmente pelo esforço conjunto de seus membros, teve a iniciativa iniciar os trabalhos da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul – EFASC. Uma Escola de Ensino Médio e Técnico em Agricultura via Pedagogia da Alternância, fundada em 1º de março de 2009, no município de Santa Cruz do Sul/RS, sendo a primeira Escola Família Agrícola no sul do Brasil.

8

Baseada em experiências, amplamente vivenciadas em outros Estados do Brasil, há mais de 50 anos e com suas raízes firmadas na transformação da vida das pessoas, via educação do campo, na Europa desde a década de 30, a EFASC busca contribuir com o desenvolvimento regional sustentável, com foco na formação da Juventude do Campo. Ela é um poderoso instrumento de organização social, principalmente nas comunidades desse Campo, em busca de possíveis soluções e oportunidades para uma qualificada formação dessa juventude, com vistas a permanência desses Jovens no Campo, fortalecendo da Agricultura Familiar e promovendo a Agroecologia pela vivência da Pedagogia da Alternância.

Sendo assim, a Pedagogia da Alternância, uma pedagogia estruturada em diversos instrumentos pedagógicos, se caracteriza por alternar a formação do estudante entre momentos e espaços distintos, a sessão escolar (uma semana na EFASC) e sessão familiar (uma semana na propriedade da família e comunidade do/a Jovem), aproximando esses espaços e essas vivências, numa construção integral dos saberes, distintos e complementares, da Escola e Família/ Comunidade. Neste sistema formativo, a ideia é desenvolver um processo de ensino-aprendizagem contínuo, em que o estudante percorra o trajeto propriedade - escola – propriedade, que num primeiro


EFASC no contexto do Vale do Rio Pardo

momento, em sua propriedade, o estudante se volta para a observação, pesquisa e descrição da realidade socioprofissional do contexto no qual se encontra, e num segundo momento, o estudante vai à escola, onde socializa, analisa, reflete, sistematiza, conceitualiza e interpreta os conteúdos identificados na etapa anterior, fechando um ciclo no terceiro momento, onde volta para a propriedade, dessa vez com os conteúdos

trabalhados de forma a que possa aplicar, experimentar e transformar a realidade socioprofissional. Deste modo, novos conteúdos surgem, novas questões se apresentam e podem ser novamente trabalhadas no contexto escolar. Para ligar estes diferentes tempos e espaços de formação, são articulados e vivenciados 16 instrumentos pedagógicos, via o plano de formação, entre eles: Plano de

Estudos, Colocação em Comum, Caderno de Acompanhamento, Tutoria, Serão, Projeto Profissional do Jovem, Visitas às Famílias, Visitas de Estudo, Estágio de Vivência, Feira Pedagógica, entre outros. Tornando assim, este processo formativo complexo, dialógico e transformador, tendo o (a) jovem como sujeito no processo de ensino e aprendizagem, mantendo o vínculo com a família e comunidade.

9


Ações do projeto, estrutura e visitas às famílias

ÁREA DE ABRANGÊNCIA DA EFASC: 1.

BOQUEIRÃO DO LEÃO

2. GENERAL CÂMARA 3. HERVEIRAS 4. PASSO DO SOBRADO 5.

RIO PARDO

6. SANTA CRUZ DO SUL 7. SINIMBU 8. VALE VERDE 9.

VENÂNCIO AIRES

10. VERA CRUZ Segundo dados da escola, hoje, 89% dos jovens formados na EFASC mantém o vínculo com a Agricultura Familiar, fortalecendo a permanência da juventude e com isso a agricultura em nossa região. Além disso, 43 % dos jovens egressos estão estudando ou formados em universidades, na maioria em cursos voltado na área das Ciências Agrárias e Educação. No ano de 2019, a EFASC muda-se para sua nova sede, em uma área de 17,4 hectares cedida pela

Prefeitura de Santa Cruz do Sul, junto à Granja Municipal, em Linha Santa Cruz (Av. Prefeito Orlando Oscar Baumhardt, 4016). Neste espaço foram construídas e adaptadas estruturas existentes, que hoje ocupam uma área construída de 1.270 m², possibilitando usufruir de um espaço físico de qualidade para desenvolver um trabalho diferenciado e contextualizado junto à juventude do campo e os Agricultores/as Familiares envolvidos nesse processo formativo.

Com a “casa nova”, houve a necessidade de investimento na melhoria da infraestrutura interna via a compra de equipamentos, mobílias, utensílios, ferramentas e veículos para esse novo espaço, sanados em grande parte, através da implantação do Projeto 17.343 – Juventudes e Agroecologia: Soberania alimentar e saberes do Campo, uma parceria entre a AGEFA/EFASC com a Fundação Banco do Brasil, como veremos nos próximos capítulos.

Quer saber mais sobre a EFASC, visite a sua página no Facebook: https://www.facebook.com/efasantacruz

10


Ações do projeto, estrutura e visitas às famílias

Projeto 17.343 - Juventudes e Agroecologia

MELHORIA DA INFRAESTRUTURA PEDAGÓGICA E PRODUTIVA DA EFASC, TRANSFORMANDO A REALIDADE COM/PARA A JUVENTUDE DO CAMPO. A AGEFA formaliza mais uma parceria importante ao final de 2019 com a Fundação Banco do Brasil visando a execução do Projeto 17.343 - Juventudes e Agroecologia: Soberania Alimentar e Saberes do Campo, chegando assim, a marca de 31 parceiros ao longo de sua história, todas para fins de manutenção/qualificação e existência da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul – EFASC. Este projeto teve por objetivo fortalecer e aprimorar a formação profissional da juventude do campo desenvolvido pela Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul - EFASC, via a melhoria da infraestrutura pedagógica e produtiva, com base na agroecologia

e na inclusão socioprodutiva dos jovens, contribuindo para a permanência da juventude na Agricultura Familiar e o acesso da população urbana à alimentos saudáveis. Para alcançar o objetivo proposto foram investidos R$ 378.421,28 pela Fundação Banco do Brasil na melhoria da infraestrutura da nova sede da EFASC, qualificando os espaços e as atividades formativas inerentes ao ensino médio e técnico em agricultura desenvolvido com os estudantes da EFASC via a Pedagogia da Alternância, potencializando a formação nos aspectos produtivos e de consciência ecológica, bem como na construção de perspectivas futuras, contribuindo na

inserção profissional e de inclusão produtiva através da melhoria da infraestrutura para beneficiamento e comercialização dos alimentos orgânicos da Feira Pedagógica e da Feira Jovem de Boa Vista, ambas geridas por jovens em formação e egressos da EFASC. A AGEFA também entrou com um valor de contrapartida de 48.806,64 durante a execução do projeto. O projeto teve como público alvo jovens matriculados na EFASC, além de egressos, todos filhos/as de Agricultores Familiares, totalizando 125 beneficiários. A execução das atividades foram organizadas em 4 etapas:

11


Ações do projeto, estrutura e visitas às famílias

ETAPA 1 – INFRAESTRUTURA PEDAGÓGICA NA NOVA SEDE DA EFASC: Aquisição de equipamentos, mobiliário e utensílios para estruturação de uma cozinha industrial e refeitório.

12

Mesa inox padrão industrial com 2 cubas para cozinha

Freezer horizontal

Fogão industrial de 6 bocas com grelha

Mesa inox padrão industrial

Forno lastro em inox e vidro temperado

Câmara fria com capacidade de 2800 litros

Geladeira/refrigerador frost free 375 L

Bebedouro de coluna em inox

Aquecedor de água (Mateira)

Carro inox com prateleiras e rodízio para cozinha

Ventiladores para o refeitório

Panelas, pratos, copos, talheres e diversos outros utensílios de cozinha.


Ações do projeto, estrutura e visitas às famílias

Estruturação de um auditório para 200 pessoas: Tornando o espaço adequado para a promoção de eventos para 200 pessoas, com sistema multimídia (projetor e tela), cadeiras, ar condicionado e sistema de som.

Cadeiras para auditório

Estruturação do auditório para 200 pessoas

Cadeiras para auditório

Aparelho de ventilação e ar-condicionado

Mesa de som, microfone

Bebedouro de coluna conjugado

Tela de projeção e tripé retrátil

Caixas e sistema de som completo

Aquisição de mobiliário escolar para estruturação de duas salas de aula com capacidade total de 66 estudantes, composto de carteiras escolares e cadeiras estofadas.

Projetor de teto e mesa

Cadeiras estofadas e carteiras individuais

13


Ações do projeto, estrutura e visitas às famílias

Implantação de Sistema de Internet e equipamentos de informática: Foram adquiridos computadores, notebooks, máquina fotográfica profissional, projetor, tela de projeção, caixa de som portátil, roteadores, suprimentos, além de um sistema de internet de qualidade (fibra ótica, entre outros).

Caixas de som portátil

Projetor de mesa

Roteadores Wi-fi

Computador

Notebook

Câmera fotográfica profissional

Aquisição de dois veículos para a realização de visitas às famílias e de apoio aos grupos de produção de alimentos orgânicos (feiras)

Veículo de carga/camioneta - utilitário e veículo tipo passeio zero km

14


Ações do projeto, estrutura e visitas às famílias

ETAPA 2 – QUALIFICAÇÃO DA INFRAESTRUTURA PRODUTIVA VIA A IMPLANTAÇÃO DE UMA UNIDADE PEDAGÓGICA DE PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA: Se trata da área de pesquisa e experimentação agropecuária da EFASC, que recebeu diversos equipamentos e ferramentas para a realização de práticas agrícolas e experimentos nas aulas com os estudantes.

Triturador de galhos, troncos e resíduos e ferramentas diversas

Moto poda

Roçadeira lateral

Motosserra

15


Ações do projeto, estrutura e visitas às famílias

ETAPA 3 –ESTRUTURAÇÃO DE FEIRAS AGROECOLÓGICAS: Esta ação teve por objetivo estruturar dois espaços existentes de comercialização de alimentos orgânicos em Santa Cruz do Sul, a Feira Pedagógica que ocorre na EFASC e a Feira Jovem de Boa Vista, que acontece todos os sábados na comunidade de Boa Vista no interior do município de Santa Cruz do Sul. Para fomentar a inclusão socioprodutiva está etapa preveu a compra de equipamentos e materiais de consumo (Caixas plásticas, refresqueira e despolpadeira, entre outros) para qualificar e melhorar os processos nas feiras, incentivando assim para que outros jovens se unem nessa importante iniciativa e que vem dando ótimos resultados.

Balança digital computadorizada

Despolpadeira inox

16

Além do incentivo à produção de alimentos orgânicos, o projeto apoiou os grupos em pensar os espaços e a infraestrutura de comercialização e de contato direto com o consumidor, criando vínculos solidários que contribuem para o fortalecimento deste paradigma de desenvolvimento para as comunidades rurais, em especial a juventude.

Refresqueira com 2 cubas

Caixas Plásticas Agrícolas


Ações do projeto, estrutura e visitas às famílias

ETAPA 4 – DIVULGAÇÃO DO PROJETO: Visando a divulgação das ações do projeto foram confeccionados banners, placa, adesivos, uma faixa em cada feira orgânica, placas de preço para as duas feiras, bem como a confecção de uma revista com 1 mil tiragens sobre a temática da Agroecologia, Juventude do Campo e as Sementes Crioulas, disponível na versão e-book também. Além da divulgação em redes sociais e um evento de prestação de contas dos resultados do projeto.

Entrevista para Rádio Santa Cruz

Entrevista para Rádio Gazeta 101.7 FM

Visita de acompanhamento do Projeto realizada no dia 19 de julho de 2021 pelo Sr. Adércio Luis Arenhardt, gerente do Banco do Brasil - Ag. 0180 - Santa Cruz do Sul e da Sra. Thatiana Castro Tondo, Agrônoma do Banco do Brasil.

Banners de identificação do projeto Publicações diversas em jornais regionais, sites de notícias e redes sociais

Podemos afirmar que o projeto vai permanecer sendo útil por muitos anos, contribuindo com o processo de formação da Juventude desenvolvido com qualidade pela comunidade escolar que envolve a EFASC e assim, incentivando a Juventude do Campo na construção de perspectivas de fortalecimento da Agricultura Familiar via a produção de alimentos orgânicos e cada vez mais aproximando quem produz de quem consome.

17


Depoimentos da Juventude da EFASC

Fala Juventude beneficiária do Projeto Juventudes e Agroecologia! AMANDA TITTON BIANCHINI 18 anos - Comunidade de Nossa Senhora de Fátima Boqueirão do Leão/RS A parceria do Banco do Brasil com a EFASC foi muito importante, pois com essa parceria a escola conseguiu garantir uma infraestrutura melhor e também um conforto, não só para nós estudantes, e sim aos monitores, famílias e pessoas que visitam o colégio. A parceria para mim foi algo viável, podemos estabelecer uma relação de união e coletividade para a melhoria da escola, que possamos continuar com essa parceria para que futuramente a escola possa continuar sendo um espaço de aprendizado e que essa parceria seja fundamental para o crescimento do colégio, podendo desenvolver a busca pelo conhecimento e fortalecendo a agricultura familiar cada vez mais. A EFASC na minha Vida: O significado da EFASC na minha vida, mulher, jovem, agricultora e filha de agricultores foi uma mudança muito positiva, porque a EFASC é um espaço e uma escola que busca o teu aprendizado, tanto em teoria como em prática, nos ensina que devemos lutar para estar no espaço que queremos, independente de gênero, profissão ou classe social, porque afinal somos todos iguais. A EFASC foi muito importante para mim, porque ela não te prepara apenas para seguir a carreira de técnico agrícola, ela te prepara como ser humano, te mostra uma visão diferente do espaço que você vive e te faz querer saber sempre mais, realizando pesquisas no lugar em que você vive, fazendo você construir conhecimento de forma simples, com sua família, comunidade, se formando como pessoa através do conhecimento popular dos monitores, família e demais pessoas que estão envolvidas.

HENRIQUE TITTON BIANCHINI 18 anos - Comunidade de Nossa Senhora de Fátima Boqueirão do Leão/RS Está parceria entre a EFASC e a Fundação Banco do Brasil é muito significativa, é um tipo de parceria que alavanca ambos os lados. Uma parceria que otimizou muito a EFASC, auxiliando bastante na infraestrutura, trazendo maior conforto para nos alunos, professores e para todos que frequentam este espaço. É uma parceria muito valiosa para que possamos desfrutar, estudar e aprender da melhor forma possível. A EFASC na minha Vida: A EFASC para mim é mais que uma escola, foi um local onde acolheram tanto eu, como também minha família, local onde nos sentimos a vontade. Assim como uma família, a EFASC é fundamental no nosso desenvolvimento e aprendizado, local onde podemos ter convivência com colegas e professores e deste modo podendo trocar conhecimentos e aprender juntos, um lugar onde despertamos nossas potencialidades. Por conviver no meio rural, a EFASC fez que eu adquirisse conhecimentos essenciais para que pudesse ajudar meus pais na propriedade e dar seguimento no que já vem sendo feito.

18


Depoimentos da Juventude da EFASC

JUNIOR HENRIQUE DA SILVA 17 anos - Comunidade de Linha Fundinho - Vera Cruz/RS Vejo como uma oportunidade de desenvolvimento social entre as duas entidades, una vez que aproximando-as o envolvimento entre as mesmas se torna mais presente. Além disso, a contribuição e o apoio auferido pela Fundação Banco do Brasil é de extrema importância para que a educação que aqui é oferecida seja levada e proporcionada à outras pessoas. A EFASC na minha Vida: A EFASC dentro da minha vida significa, dentre outras coisas, a certeza de que há um espaço onde eu possa me qualificar na atividade que eu mais admiro, que é agricultura. Além disso, a mesma me oferece muito mais que essa capacitação, gerando um elo afetivo que levarei pra vida toda, tendo em vista que essa se torna muito mais que uma escola, mas uma família, formada por amigos, colegas e monitores que fizeram parte dessa trajetória.

Foto: Lucas Batista Jornal Arauto.

ARTUR JOSÉ DA ROSA LIMA 17 anos - Comunidade Passo do Pai Pedro - Rio Pardo/RS Está parceria é uma forma de melhoria para escola EFASC, tanto no ensino dos jovens, como para a estrutura do local e com melhorias para qualificar ainda mais o aprendizado. A EFASC na minha Vida: É de uma nova perspectiva de estudo que incentiva o aluno a querer saber os conhecimentos e querer viver naquele local, com implantação de novas melhorias para o futuro próximo, onde sabemos que pode vir o sustento e sempre adquirindo novos saberes.

IASMIN EMANUELI BECKER 17 anos - Comunidade de Linha Madalena - Venâncio Aires/RS Parceria de extrema importância, pois o melhoramento que esses equipamentos trouxeram na estrutura da escola, proporcionam a nós alunos e também aos professores um ambiente agradável para a convivência e vivência. A EFASC na minha Vida: A EFASC me proporcionou diversas descobertas, sobre mim, sobre minha família e sobre o lugar que vivo, além de todo o conhecimento do ensino médio, trazendo uma nova visão do que é agricultura, mudando estereótipos trazidos sobre ela ao longo dos anos.

19


UPPA e Quintais Orgânicos

Agricultura, Agroecologia e Educação Do Campo

Área da Produção Agropecuária EFASC

PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA: AGROECOLOGIA E UPPA A produção de alimentos agroecológicos tem sido uma pauta constante na construção de novas possibilidades de produção mais limpa, pois contribui de forma sustentável com os ecossistemas naturais, o que vai ao contrário do atual modelo convencional que utiliza adubação sintética e agrotóxicos, os quais contaminam os recursos naturais como água e o

A Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (EFASC) instituiu o desenvolvimento de estratégias sustentáveis de produção, visando a redução dos impactos ambientais, bem como a contaminação dos alimentos, junto à área experimental de produção agrícola - UPPA (Unidade Pedagógica de Produção Agroecológica), que tem como objetivo relacionar as expe-

biofertilizante), manejo e conservação do solo a partir de práticas conservacionistas, implementação de pomares para produção de frutas nativas e exóticas, desenvolvimento de sistemas agroflorestais voltadas à fruticultura, produção de hortaliças e plantas medicinais, promoção de estratégias de controle biológico conservativo com uso de plantas aromáticas, entre outras técnicas. Para condução dos cultivos agrícolas dentro da UPPA, foram adquiridos, via o projeto “Juventude e Agroecologia: Soberania alimentar e saberes do Campo”, nº 17.343 equipamentos como, moto cultivador, triturador de galhos, roçadeira costal, entre outros. O uso desses equipamentos dialoga com o processo de formação dos estudantes, buscando desenvolver e utilizar estratégias de uso desses equipamentos voltadas à produção agroecológica de alimentos.

solo, além de contaminar os próprios alimentos produzidos. Nesse sentido, a agricultura de base agroecológica busca construir modelos e técnicas locais, a partir das observações dos agricultores e uso de recursos existentes nas propriedades.

rimentações agrícolas com a formação técnica agrícola de jovens na região do Vale do Rio Pardo. Na UPPA são desenvolvidos cultivos como, a produção de hortaliças, em sistema agroecológico, produção de fertilizantes orgânicos (composto e

A UPPA tem como principal objetivo contribuir na construção dos saberes técnicos dos estudantes da EFASC, através de ensaios produtivos agroecológicos visando à construção de uma nova perspectiva agrícola, sendo relacionado os conceitos da agroecologia, considerando uma produção viável do

A área da Produção Agropecuária é composta pelos monitores: Alexandro Fabris do Nascimento, Biólogo e Mestre em Tecnologia Ambiental – UNISC. Diego Limberger, Tecnólogo em Horticultura e Mestrando em Ambiente e Sustentabilidade – UERGS. Evandro Silveira, Tecnólogo em Horticultura e Mestrando Produção Orgânica – UFRRJ. Mateus Finkler, Agroecólogo – FURG.

20


UPPA e Quintais Orgânicos

ponto de vista ambiental, social e econômica dos agricultores em suas comunidades. A produção agrícola nesse sistema se propõe a utilizar os recursos locais disponíveis, tais como, resíduos de animais, manejo das culturas através de rotação de culturas, adubos verdes entre outras técnicas. Essa perspectiva agroecológica vem sendo objeto de reflexão dentro do trabalho da EFASC, bem como no desenvolvimento do trabalho da Área de Produção Agropecuária. As discussões permeiam as aulas a partir da realidade dos próprios estudantes, os quais trazem seus olhares iniciais. A observação da realidade local é o primeiro ponto a ser observado como, por exemplo, o diagnóstico de uma lavoura onde são observadas as características do solo bem como as plantas presentes, as quais indicam o grau de qualidade do mesmo. Esse processo possibilita a construção de um olhar sistêmico da

agricultura a partir dessa vivência local. Cada estudante desenvolve em seu ambiente sócio-fa-

miliar uma área experimental de produção de alimentos, possibilitando desenvolver técnicas agroecológicas como a redução/substituição dos insumos convencionais por meios disponíveis na própria propriedade da família, assim

conhecendo melhor os processos de transição agroecológicos e podendo experimentá-los. O processo de transição agroecológico é um dos princípios abordados pela formação dentro da área agrícola da EFASC, no qual cada estudante, a partir de sua realidade, irá desenvolver metodologias para esse processo. Com isso, a UPPA tem o papel primordial de disponibilizar os primeiros conceitos e entendimentos agroecológicos aos estudantes, a partir das experiências desenvolvidas de produção. A condução desse espaço é construída de forma coletiva entre professores e estudantes, refletindo e justificando a escolha das técnicas de cultivo mais adequadas. A partir disso, os estudantes têm um olhar inicial para desenvolver suas experiências.

O TRABALHO PEDAGÓGICO NA PANDEMIA DA COVID 19 Durante o período de pandemia, as atividades dos estudantes foram todas de forma remota. A partir das aulas on-line desenvolvidas pela Área de Produção Agropecuária, os estudantes realizaram em seu ambiente sociofamiliar as experiências agroecológicas, dentro de sua área de produção de alimentos. A atividades iniciaram com a construção do seu próprio

espaço de experimentação, denominado de área experimental. Esse espaço experimental seria desenvolvido na EFASC, em um hectare, mas devido a Pandemia, cada estudante desenvolveu em seu espaço familiar, somando mais de 5 hectares em 10 municípios para experimentação agrícola. Nesse momento os estudantes fazem um estudo

da escolha do local para produção, levando em consideração os aspectos agronômicos das culturas produzidas. A partir das reflexões realizadas em aula, os estudantes partem para as suas experimentações agrícolas, tendo a oportunidade de desenvolver na prática os conhecimentos técnicos. Dentre as atividades desenvolvidas podemos 21


UPPA e Quintais Orgânicos

destacar a produção de hortaliças para consumo da família, produção de fertilizantes orgânicos para produção como, por exemplo, composto orgânico e biofertilizante, bem como o acompanhamento de todo o processo produtivo das culturas até a colheita, preparo, consumo e comercialização. Durante o processo de acompanhamento das culturas, em suas áreas experimentais, surgem diversas indagações sobre o manejo, principalmente no controle de insetos e doenças. A partir disso, as aulas procedem com reflexões sobre as possíveis causas desses problemas nas culturas, até chegar a uma solução que possa resolver ou amenizar o problema. São desenvolvidas várias caldas e bioinsumos a partir de recursos da própria propriedade, visando o

22

controle desses agentes, como, por exemplo, extrato de cinamomo, extrato de angico, água de cinzas, entre outros. Esse processo possibilita a construção de uma nova perspectiva agrícola menos impactante ao meio ambiente e que pode ser desenvolvida localmente por cada estudante e sua família. As técnicas agroecológicas de produção são desenvolvidas de acordo com a necessidade de cada propriedade, não sendo necessariamente desenvolvidas igualmente em todas as propriedades, pois cada ambiente possui características distintas. A partir disso, compreendemos que a produção agroecológica deve ser desenvolvida levando em consideração cada local, e isso os estudantes

têm a oportunidade de realizar a partir de seus estudos na EFASC. Nesse sentido, a UPPA tem papel fundamental na construção da formação dos estudantes da EFASC, pois através desse espaço são desenvolvidas e são construídos seus saberes acerca da agricultura. Também, este espaço, juntamente com as aulas, possibilita a construção de uma nova forma de produção de alimentos livre de agrotóxicos e adubos sintéticos, contribuindo para saúde da população em geral e para sua própria qualidade de vida no campo, além de preservar a natureza ampliando a biodiversidade existente como aliada nos cultivos agrícolas.


UPPA e Quintais Orgânicos

PRODUÇÃO DE MUDAS AGROECOLÓGICAS: HORTALIÇAS E MEDICINAIS Um dos espaços de aprendizado dentro da UPPA é o da produção de mudas, a qual é de suma importância à formação dos jovens, enquanto possibilidade de aprendizagens através da experiência de produção. Através da produção de mudas, os jovens têm a possibilidade de acompanharem e aprenderem técnicas e práticas agroecológicas para a multiplicação de plantas, o que pode ser compartilhado e desenvolvido

posteriormente na propriedade dos estudantes. Através deste acompanhamento, os estudantes têm a possibilidade de observar todo o processo, pois a produção começa desde a elaboração do substrato, escolha dos materiais propagativos (sementes ou estacas), semeadura, raleio, nutrição até as plantas estarem aptas para o transplante. Podemos dividir a produção de mudas entre hortaliças que

geralmente são propagadas por sementes, e plantas medicinais, aromáticas e condimentares as quais geralmente acontecem por propagação vegetativa. As mudas de hortaliças após a produção, são transplantadas na UPPA, as quais são cultivadas e utilizadas na alimentação dos estudantes e monitores da EFASC. São cultivadas hortaliças em geral, como também, feijão, milho, espécies frutíferas de um modo geral, e algumas Plantas Alimentícias Não Convencionais - PANCs.

23


UPPA e Quintais Orgânicos

Além da produção de mudas de espécies vegetais para a alimentação, acontece também a produção de plantas medicinais e condimentares. É interessante ressaltar que o uso destas plantas é muito comum entre os Agricultores/

as Familiares, possuindo quase sempre espaços de cultivos em suas propriedades, onde cultivam alecrim, cânfora, cidró, hortelã, lavanda, malva, manjericão, orégano e sálvia. Essas plantas são multiplicadas na EFASC, as quais compõem o kit do Projeto Quintais Orgânicos de Frutas, da Embrapa Clima Temperado.

PROJETO QUINTAIS ORGÂNICOS DE FRUTAS O projeto Quintais Orgânicos de Frutas é um projeto social da Embrapa de Clima Temperado que surgiu em 2004 com o objetivo de contribuir para a segurança alimentar de famílias em áreas rurais, urbanas, indígenas e quilombolas. No início, o projeto era composto apenas por espécies frutíferas nativas e exóticas, ao longo do tempo foram incorporadas sementes de hortaliças e

24

culturas anuais, além de mudas de batata doce, forrageiras, quebra ventos e plantas medicinais. A partir de 2010, iniciou-se a parceria entre o Projeto Quintais Orgânicos e a EFASC, com a implantação dos primeiros Kits. Nesses 12 anos de parceria da EFASC com a Embrapa Clima Temperado, no Projeto Quintais Orgânicos de Frutas, já foram entregues

249 Quintais, composto em média por 60 frutíferas (Goiaba, Limão, Pêssego), nativas (Araçá, Pitanga, Butiá, Araticum, Cerejeira do Rio Grande), Quebra-ventos (Aroeira mansa e Guajuvira), mudas de batata-doce, capim BRS curumim (forrageira melhorada, desenvolvida pela Embrapa), sementes de milho, de feijão e 10 espécies de plantas medicinais.


UPPA e Quintais Orgânicos

cultivados mais de 36 hectares de frutas na região, beneficiando 241 famílias, de 12 municípios e mais de 130 comunidades no Vale do Rio Pardo. Já em relação aos aspectos pedagógicos, os jovens estudantes, do ensino médio e técnico em agricultura da EFASC, conseguem acompanhar desde a escolha do local, preparo do solo e implantação, tratos culturais (poda, raleio, etc.) em alguns casos até a colheita e processamento, contribuindo muito no processo de formação. A contribuição da parceria EFASC com o Projeto Quintais orgânicos é imensa, tanto na produção de alimentos e segurança alimentar, quanto pedagógica. Neste período, foram

Em 2015 foi incluído ao projeto as Plantas Medicinais, junto às diversas espécies frutíferas, hortaliças e culturas anuais que já faziam parte. Essas plantas medicinais são produzidas na UPPA da EFASC, na qual os estudantes são envolvidos

diretamente desde a elaboração do substrato, escolha do material propagativo, produção, tratos culturais, nutrição e a elaboração dos Kits. Cada Kit de plantas medicinais contém 30 mudas de 10 espécies diferentes. Para contribuir ainda mais na formação dos jovens, em 2021 foram implantados 2 Kits dos quintais, sendo uma área de aproximadamente 2.500 m² junto à UPPA. Esse é um espaço pedagógico de produção agroecológico, que visa contribuir na formação dos jovens através da implementação das técnicas e práticas agroecológicas nas aulas práticas. Além disso, é um espaço produtivo o qual os estudantes irão acompanhar todo processo produtivo desde o início da produção, tratos culturais, colheita e principalmente consumo dos alimentos produzidos.

25


Feira Pedagógica e Grupo de Produção e Consumo

“Olha a feira aí!”

Antonio Carlos Gomes Evandro da Rosa Silveira Bruna Richter Eichler Mateus Ferreira Reis Costa

Produzir alimentos saudáveis e diversificados é uma das marcas históricas agricultura familiar. Afinal, a maior parte de tudo que é servido à mesa dos brasileiros todos os dias, têm origem no trabalho de agricultores e agricultoras que vivem em pequenas áreas de terra, basicamente com mão de obra da própria família. Mas para que essa produção brote da terra e alcance o seu destino, alimentando as pessoas e garantindo a sobrevivência de quem a produz, há um caminho a ser percorrido, por vezes ainda incerto, que exige planejamento, organização e, acima de tudo, trabalho coletivo. Exige também que se conheça todas as etapas do processo, desde antes do plantio até a comercialização. Foi com esse intuito que surgiu a Feira Pedagógica, no ano de 2013, tornando-se um importante instrumento pedagógico da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul - EFASC. Os alimentos, produzidos, pelos próprios estudantes em suas áreas experimentais, em suas propriedades, passaram a ser vendidos para a comunidade semanalmente, servindo também como

Membro da Coordenação e Monitor da Área de Ciências Humanas e Sociais da EFASC. Monitor da Área de Produção Agropecuária da EFASC. Acadêmica curso Bacharel em Agroecologia – UERGS/AGEFA, Monitora da EFASC e bolsista da UERGS. Acadêmico curso Bacharel em Agroecologia – UERGS/AGEFA, Bolsista da UERGS.

26


Feira Pedagógica e Grupo de Produção e Consumo

espaço de troca de conhecimentos e de interação entre os estudantes e os consumidores. Uma aproximação que traz benefícios para ambas as partes. Os estudantes da EFASC são oriundos de 10 municípios do Vale do Rio Pardo, uma região que tem como principal característica socioeconômica a presença da agricultura familiar integrada ao complexo agroindustrial de produção de tabaco, que é referência mundial. Organizado e desenvolvido há mais de 100 anos, este sistema tem enorme importância no volume de exportações agrícolas e é comandando atualmente por grandes empresas transnacionais. Por meio do chamado “sistema integrado”, os agricultores recebem todos os insumos (adubos, sementes, agrotóxicos) e a tecnologia necessária para o cultivo do “fumo”, pagando a conta com a sua produção, ao final de cada safra. Uma das vantagens apontadas está justamente na comercialização, que já está garantida na assinatura do contrato, antes do plantio. As críticas e controvérsias ficam por conta do preço pago pelo produto, que é incerto e nem sempre o mais adequado, na visão dos agricultores, pois estão sempre suscetíveis às instabilidades ditadas pelo do mercado. Além da produção de tabaco, como fonte de comercialização e geração de renda, grande parte dos agricultores familiares da região ainda possuem em suas propriedades espaços destinados à produção de alimentos para o autoconsumo. Esses espaços geralmente estão localizados mais próximos das propriedades e na maioria das vezes são de responsabilidade das mulheres ou mesmo dos jovens (SILVEIRA, 2019). Muitas famílias também se dedicam à outras culturas, que não o tabaco, como a produção de leite,

Os alimentos produzidos pelos próprios estudantes em suas áreas experimentais, em suas propriedades, passaram a ser vendidos para a comunidade semanalmente.

27


Feira Pedagógica e Grupo de Produção e Consumo

suínos, gado de corte e mesmo a produção de hortaliças e demais alimentos vendidos em feiras e cooperativas. Por isso, a diversidade produtiva, da agricultura familiar do Vale do Rio Pardo, tem na produção de alimentos para o autoconsumo, uma das principais estratégias de autonomia, de diferentes formas de manejo e sobrevivência, dada a diversificação desta produção, em detrimento da especialização produtiva. Ainda mais porque essa produção de alimentos, na maioria das vezes, é feita em sistemas de manejo que integram agricultura e pecuária, preservando os saberes tradicionais que são passados de geração para geração (SILVEIRA, 2019). Nesse contexto, a formação realizada pela EFASC, com filhos e filhas de agricultores familiares da região, tem a Agroecologia como matriz transversal do processo formativo, passando pelas diferentes áreas do conhecimento, ações sociais, práticas de produção e de comercialização de alimentos. Como estratégia pedagógica, orientada pela escola, cada estudante precisa ter, na propriedade familiar, um espaço que é chamado de “área experimental”, para realização de práticas, experimentos e, principalmente, um espaço de produção de alimentos, tanto para o autoconsumo, quanto para uma possível comercialização do excedente.

28

É nesse ponto que entra a Feira Pedagógica, sendo um elo à produção de alimentos feita pelos jovens em suas áreas experimentais, com a comercialização destes alimentos aos consumidores do meio urbano. A Feira Pedagógica constituiu assim um instrumento pedagógico da EFASC. Como aponta Vergutz (2013):

terão disponíveis para a próxima semana de aulas. Dessa forma, busca-se garantir a diversidade de alimentos, estimular que todos os estudantes participem do processo e que todos tenham a oportunidade de comercializar os seus produtos. Todo esse processo de produção está embasado nos prin-

Os instrumentos pedagógicos, além de assumirem a característica de registros das alternâncias, se estruturam potencializado a pesquisa, a interrogação, o diálogo, a experimentação, a troca, a expressão, a sistematização através de relações com o viver, com o trabalho, com o distanciamento e com respeito aos diferentes saberes e relações existentes na humanidade (VERGUTZ, 2013, p. 94). Assim, a Feira Pedagógica foi incorporada à dinâmica de aulas da EFASC, sendo uma experiência refletida, avaliada e planejada conjuntamente com os estudantes. Semanalmente, sob orientação dos professores, os estudantes realizam o planejamento da produção e o levantamento dos produtos que

cípios da Agroecologia, através de técnicas e práticas de produção, nutrição, manejo dos solos e controle alternativo de pragas e doenças. Além disso, muitos alimentos são produzidos através de receitas resgatadas pelos jovens junto às suas famílias, trazendo também o elemento histórico-cultural dessa produção.


Feira Pedagógica e Grupo de Produção e Consumo

Nesse sentido, compreendendo que a agroecologia vai muito além da produção, como aborda Niederle et. al. (2013), faz-se necessário “construir” mercados que aproximem produtores de consumidores, estimular a produção e compra de produtos de base ecológica através de circuitos curto de comercialização, como desafio para criar um modelo alimentar ecologicamente correto. Para isso, ressalta-se também a importância de haver consumidores conscientes e que busquem incentivar a produção dos agricultores, criando uma relação de confiança e de cooperação. É o que acontece na Feira Pedagógica, que recebe o apoio de pessoas que fazem questão de frequentar o espaço e adquirir os produtos, justamente por serem produzidos pela agricultura familiar, de maneira agroecológica e, especialmente, por jovens.

Grupo Feira Pedagógica Com o início da pandemia de COVID-19 e o cancelamento das atividades presenciais na EFASC em março de 2020, a Feira Pedagógica também precisou ser paralisada. No entanto, a experiência foi remodelada, no sentido de seguir com os seus objetivos pedagógicos, porém adquiriu um caráter simbólico ainda maior: a produção de alimentos para pessoas em situação de vulnerabilidade social, através da criação do Grupo Feira Pedagógica de produção e comercialização de alimentos agroecológicos.

Este novo formato da Feira, também passou a integrar jovens estudantes e jovens egressos da EFASC, para produção e partilha de práticas agroecológicas de produção e comercialização. Além disso, incorporou novas parcerias, como a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS, que por meio de um projeto de Extensão, ofertou dois alunos do Curso de Bacharelado em Agroecologia para colaborar na organização do grupo.

29


Feira Pedagógica e Grupo de Produção e Consumo

Tendo 12 integrantes, todos moradores de comunidades mais próximas da EFASC, a fim de facilitar a logística de transporte dos alimentos, o grupo de reúne quinzenalmente, de forma remota, para a realização do levantamento dos produtos a serem ofertados para comercialização, além do planejamento e organização da produção, sempre sob supervisão de monitores da EFASC e dos bolsistas da UERGS. Para que se mantenha a qualidade e a quantidade de alimentos suficientes, leva-se em consideração as características das propriedades e a adaptação das plantas cultivadas, a fim de que se consiga elaborar e executar o planejamento de plantio e colheita dos alimentos conforme as demandas dos projetos. A primeira demanda de comercialização de alimentos do grupo aconteceu no mês de setembro de 2020, para a Diocese de Santa Cruz do Sul. A entidade possui um programa social que atende famílias de baixa renda, para as quais fornece cestas básicas e passou a adquirir parte desses alimentos junto ao grupo de estudantes da EFASC. Como contrapartida e para o incentivo ao grupo, a EFASC disponibilizou um veículo para realizar a busca dos alimentos nas propriedades e entrega no destino. É aí que entra também uma outra parceria importante, com a Fundação Banco do Brasil, através do Projeto Juventudes e Agroecologia, já que o veículo utilizado para este transporte foi adquirido com recursos deste projeto. Além do veículo, outros equipamentos oriundos do projeto compõe a estrutura da Feira pedagógica e estão sendo utilizados, como caixas plásticas agrícolas para transporte e balança de precisão.

30


Feira Pedagógica e Grupo de Produção e Consumo

A entrega desses alimentos foi acompanhada pela imprensa regional, gerando uma importante repercussão, afinal, são alimentos da agricultura familiar, saudáveis, produzidos por jovens, chegando à mesa de famílias em situação de vulnerabilidade agravada pela pandemia. Desde então, as entregas seguiram acontecendo mensalmente, chegando a um total de 2 mil quilos de alimentos até de junho de 2021. Além da comercialização para a Mitra Diocesana, o Grupo Feira Pedagógica também conseguiu acessar recursos do Programa Jovem Empreendedor Rural, financiado pela JTI (empresa do setor do tabaco). No projeto elaborado pelo grupo, garantiu-se a doação de 120 cestas de alimentos agroecológicos para o Banco de Alimentos do município de Santa Cruz do Sul, somando 1.200 quilos de alimentos, que, mais uma vez, chegam à mesa de famílias em situação de vulnerabilidade social. Comprova-se assim, que a formação de jovens agricultores desenvolvida pela EFASC, articulada aos instrumentos pedagógicos da Pedagogia da Alternância, tendo a agroecologia como uma matriz transversal, possibilita, além de conhecer a realidade social, vislumbrar novas possibilidades e oportunidades de desenvolvimento da agricultura familiar e da região. Sem dúvida, o sucesso da Feira Pedagógica e do Grupo Feira Pedagógica tem, na sua essência, a congregação de um esforço coletivo, de parcerias, de uma nova proposta de economia, uma economia solidária. Neste processo, todos saem ganhando, sejam os jovens, por meio da aprendizagem adquirida e pelo incremento de renda, sejam os consumidores, que adquirem ou recebem alimentos saudáveis em sua mesa. Ganha também a sociedade em geral, que vislumbra uma maneira de enfrentar a fome, de maneira conjunta, socialmente justa e ambientalmente sustentável.

Referências Bibliográficas SILVEIRA E. R. A Feira Pedagógica no processo de construção de conhecimento de jovens do campo e de produção e comercialização de alimentos agroecológicos: Artigo final Pós-graduação em Educação do Campo e Desenvolvimento Regional, Universidade de Santa Cruz do Sul-UNISC, 2019. NIEDERLE, P.; ALMEIDA, L.; VEZZANI, F. M. Introdução. In: NIEDERLE, P.; ALMEIDA, L. de; VERGUTZ, Cristina L. B. Aprendizagens na pedagogia da alternância da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, 2013.

31


A Experiência da Feira Jovem da Boa Vista

A juventude do Campo sendo protagonista da sua história! Nos últimos anos, intensificou-se o debate em torno da presença da juventude na agricultura, em especial na Agricultura Familiar, sendo que um dos graves problemas é a falta de possíveis jovens que tenham como horizonte na sua vida profissional a continuidade na propriedade familiar. Em muitos casos, a aposentadoria dos pais, inevitavelmente decreta o fim das atividades produtivas na propriedade, fato este agravado pela falta de espaço e participação no processo decisório por parte da juventude. Essa questão é ainda mais complexa no caso específico das jovens mulheres, que em função de questões socioculturais, historicamente construídas, são as primeiras a deixarem a agricultura em busca de outras atividades no meio urbano. Pensando nisso, a EFASC, através da Pedagogia da Alternância, vem estimulando os jovens estudantes a realizarem as suas experiências de aplicação teórico-prática, na produção de alimentos, primeiramente para subsistência, mas também vislumbrando a possibilidade da venda do excedente. Daí surge a necessidade de criar canais de comercialização, como é o caso da Feira Pedagógica, que existe na EFASC desde 2012 e é apresentada em detalhes

32

nessa revista. Esta é, em geral, a primeira oportunidade de experiência dos jovens estudantes de contato com o público e principalmente de valorização de seus produtos. Em 2016, a experiência da Feira Pedagógica despertou em 5 jovens estudantes da EFASC (atualmente egressos), a vontade de organizar um espaço de feira em sua própria comunidade, em Boa Vista, a cerca de 15 km do centro

de Santa Cruz do Sul. Uma rápida pesquisa na comunidade mostrou aos jovens que havia uma demanda por hortifrutigranjeiros, apesar de Boa Vista ser uma comunidade do meio rural, mas com boa parte da população mais envelhecida e trabalhando na Cidade de Santa Cruz do Sul, iniciaram as suas atividades de plantio e comercialização de alimentos agroecológicos, dando o nome de FEIRA JOVEM DA BOA VISTA.

Foto 1: O início da caminhada do Grupo Feira Jovem da Boa Vista em 2016.


A Experiência da Feira Jovem da Boa Vista

A Feira, que funciona todos os sábados das 9h às 12h junto à casa comercial de Elio e Ana Staub, passou a ser reconhecida e estimulada pela comunidade, que além de realizar as compras in loco, também fazem encomendas, que são entregues pelos jovens de casa em casa e isso se intensificou durante o período da Pandemia de COVID-19.

Com o passar dos anos, novos/as integrantes foram se somando ao grupo, ampliando a presença das mulheres e trazendo gente nova, disposta a fortalecer esse trabalho coletivo e aproximar ainda mais quem produz de quem consome, com um alimento de qualidade, produzido de forma orgânica. Atualmente o grupo conta com 8 famílias envolvidas no processo de produção e comercialização, tendo a juventude como protagonista.

Além do apoio da AGEFA e EFASC, o grupo vem recebendo a assessoria do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia – CAPA, de Santa Cruz do Sul, que colabora na organização de reuniões mensais, no planejamento e também na construção de outras alternativas de comercialização. Uma delas é a ECOVALE – Cooperativa Regional de Agricultores Familiares, também assessorada pelo CAPA, onde os jovens do grupo estão associados, garantindo o fortalecimento e a articulação com outros grupos de produção, a troca de experiências e a colaboração entre os integrantes.

33


A Experiência da Feira Jovem da Boa Vista

A feira passou a ser reconhecida e estimulada pela comunidade, que além de realizar as compras in loco, também fazem encomendas, que são entregues pelos jovens de casa em casa

FEIRA JOVEM DA BOA VISTA CADA VEZ MAIS FORTALECIDA. A Feira Jovem da Boa Vista foi contemplada com Projeto de Inclusão Socioprodutiva da Fundação Banco do Brasil, que vem sendo executado pela AGEFA e incentiva a produção e comercialização de alimentos orgânicos. O projeto nº 17.343 – Juventudes e Agroecologia: Soberania Alimentar e Saberes do Campo, além de fortalecer e aprimorar a formação profissional da juventude do campo,

realizado pela Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul - EFASC, via a melhoria da infraestrutura pedagógica e produtiva, com base na agroecologia e na inclusão socioprodutiva dos jovens, aumentando as possibilidades de sucessão na Agricultura Familiar e no fomento ao acesso da população urbana à alimentos saudáveis e de qualidade.

Primeira reunião com o grupo em março de 2020, onde foi apresentado o projeto e realizado a entrega de alguns equipamentos.

34

Uma das ações do Projeto previa investimentos em dois espaços de comercialização de alimentos orgânicos, gerido pela juventude da Agricultura Familiar, a Feira Pedagógica da EFASC e a Feira Jovem da Boa Vista.


A Experiência da Feira Jovem da Boa Vista

Na feira é possível encontrar mais de 40 produtos fresquinhos, orgânicos, direto da lavoura para a mesa dos consumidores, contribuindo para a promoção da saúde das pessoas. O projeto contribuiu para melhorar os processos de produção e comercialização e com houve um acréscimo de renda, segundo os integrantes do grupo, que chegou a 40%, mostrando que projetos como esses, investido em quem faz a diferença no meio onde vivem, potencializa o desenvolvimento local, a partir das demandas e necessidades de quem lá vive.

O Grupo foi contemplado no início de 2020, objetivando o incentivo à inclusão socioprodutiva da juventude da Agricultura Familiar. Foram disponibilizados diversos equipamentos para qualificar e facilitar a apresentação e processamento de alimentos orgânicos para os integrantes do grupo, entre eles: caixas plásticas agrícolas, freezer horizontal, refresqueira/suqueira com dois compartimentos, balança digital computadorizada, despolpadeira de frutas, faixas, banner, placas de preço, além da disponibilidade de uma câmara fria para conservar alimentos.

No dia 29 de agosto de 2020, houve um ato simbólico de visita, acompanhamento e prestação de contas do uso dos equipamentos pelo grupo, junto ao espaço da Feira Jovem na comunidade de Boa Vista. Contando com a presença de Ronaldo Pereira Rodrigues, Gerente da Agência local do Banco do Brasil e representando no ato a Fundação Banco do Brasil, Melissa Lenz representando o CAPA e a ECOVALE, Adair Pozzebon representando a AGEFA/ EFASC que coordena a execução do projeto e ainda, os componentes do grupo.

Nesta história de vida e de grupo, é possível expressar como a articulação entre uma formação contextualizada na escola, o apoio e incentivo, via projetos como esse, e o protagonismo juvenil, na comunidade, é possível encontrar alternativas profícuas de, por meio da juventude, atender os anseios e as demandas da comunidade, valorizando o papel e a presença da juventude na agricultura e destacando a importância da produção de alimentos orgânicos para aproximar as relações solidárias na comunidade, bem como entre o campo e a cidade.

35


A Experiência da Feira Jovem da Boa Vista

Juliano Lawisch Juliano Lawisch, 23 anos, Comunidade Boa Vista, formado na EFASC no ano de 2015 e integrante do Grupo da Feira Jovem da Boa Vista O projeto foi muito importante, tanto para a EFASC como para a Feira, qualificando a estrutura de formação escolar e vários equipamentos que a gente pode usar em conjunto, no coletivo vale mais a pena e isso nos fortalece enquanto grupo, projeto como esses deveriam acontecer muito mais e somos privilegiados por sermos contemplados com equipamentos de boa qualidade e que serão utilizados por muito tempo. Eu não pensava em permanecer na agricultura, participar desse aprendizado, me proporcionou muitas ideias novas, mudando o nosso pensamento, aproveitando melhor o que temos em casa, aplicando na prática novas técnicas orgânicas e conhecendo melhor o que está a nossa volta, conhecendo a comunidade e aumentando o interesse pela agricultura e em servir as pessoas com alimentos de qualidade, trabalhando junto e em grupo. Com esse apoio aumentou as vendas, conseguimos produzir mais variedade de alimentos sem agrotóxicos, trabalhar no processando para conservar melhor e ter mais qualidade, com tudo isso aumentou o movimento e fortaleceu nosso grupo como um todo.

Karolini Horbach Karolini Horbach, 20 anos, Comunidade Nossa Senhora Auxiliadora de Boa Vista, formado na EFASC no ano de 2020 e integrante do Grupo da Feira Jovem da Boa Vista. A Fundação do Banco do Brasil juntamente com a EFASC e o CAPA contribuiu muito e é uma parceria muito forte, que ajudou a melhorar a infraestrutura da feira jovem de Boa Vista, hoje todos os integrantes da feira tem acesso ao que veio da fundação como equipamentos e caixas. Trouxe para mim novas oportunidades, me abriu novas portas para o campo, me motivou a ficar. Hoje o grupo feira jovem tem mais vontade de participar de outras feiras, pois temos vários equipamentos disponíveis para manusear e levar os nossos produtos até o local de venda.

36


A Experiência da Feira Jovem da Boa Vista

Sighard Hermany Sighard Hermany, engenheiro agrônomo do Capa e presta assessoria e acompanhamento ao Grupo Feira Jovem da Boa Vista. Sighard Hermany, engenheiro agrônomo do Capa e presta assessoria e acompanhamento ao Grupo Feira Jovem da Boa Vista. A motivação da juventude rural para a produção agroecológia de alimentos saudáveis, de boa qualidade nutricional, com preservação ambiental nos parece cada vez mais necessária e estratégica em tempos de ameaças de escassez tanto de alimentos e quanto de água. Nesta perspectiva, projetos como os da FBB, de apoio para a juventude tanto no processo de formação, quanto a sua inserção no mercado, com protagonismo próprio, são de extrema relevância.

Ato simbólico de visita, acompanhamento e prestação de contas do uso dos equipamentos pelo grupo junto ao espaço da Feira Jovem na comunidade de Boa Vista.

37


Agroecologia no Vale do Rio Pardo

A EFASC no contexto da Agroecologia do Vale do Rio Pardo

João Paulo Reis Costa

AGROECOLOGIA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA NA REGIÃO. O movimento da Agroecologia vem conquistando cada vez mais espaço no mundo, especialmente frente aos debates a respeito das mudanças climáticas, índices de desmatamento, desertificação de regiões inteiras, uso intensivo de agrotóxicos, intensificação de monoculturas e principalmente pelas dúvidas a respeito da segurança

dos alimentos produzidos em larga escala, vide as atividades articuladas nacionalmente pela Articulação Nacional de Agroecologia – ANA e a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. Situações essas que colocam em evidência o paradigma de desenvolvimento que orienta as forças político-produtivas no mundo.

Ante a essa situação limite, muitos grupos vão se organizando em antítese a essa forma de viver, produzir e consumir, que vem colocando em risco a vida no nosso planeta, sendo a Agroecologia uma proposta antagônica a esse paradigma posto, justamente porque pressupõem um outro paradigma de desenvolvimento, baseado no

Figura 1 - Composição atual da AAVRP.

Fonte: Elaboração do autor.

1 Historiador e Doutor em Desenvolvimento Regional. Monitor de Ciências Humanas e Sociais da EFASC. Professor e Vice Coordenador do Curso de Bacharelado em Agroecologia da UERGS/ AGEFA.

38


Agroecologia no Vale do Rio Pardo

respeito à natureza, a uma produção e consumo que acolha os saberes ancestrais e que estabeleça processos horizontais entre as pessoas e entidades, compreendendo que produzir, comercializar e consumir não tenham que colocar em risco a vida na Terra e que sim, podem ser feitos de maneira que todos/as ganhem e assim, possam viver melhor.

alimentos comercializados diretamente pelos agricultores/as familiares camponeses, mais uma série de associações de agricultores, emprenhadas na produção de alimentos e cada vez mais com a consciência de que é preciso serem produzidas de maneira saudável, sem agrotóxicos, até mesmo por cada dia mais ser uma exigência dos consumidores/as.

Mesmo o Vale do Rio Pardo sendo conhecido popularmente como “terra do fumo”, pelo fato de concentrar em seu território uma rede de indústrias fumageiras transnacionais, ter aqui nesse espaço o desenvolvimento de mais de um século de sistema Integrado do Tabaco, a região hoje se mostra cada vez mais diversa, em todos os aspectos, inclusive produtivos, sendo o Vale cada vez mais referência em produção de alimentos, abrigando hoje seis cooperativas da Agricultura Familiar, mais de 30 feiras de

Desta forma, esses ares chegam ao Vale do Rio Pardo, especialmente pós anos de 1990, numa articulação de entidades como o CAPA – Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia, que

vão organizar grupos de Agricultores/as Familiares Camponeses em torno de uma perspectiva de produção agropecuária, aliada à preservação ambiental. E de lá pra cá uma série de experiências, entidades e instituições foram “recheando” esse paradigma, fazendo com que hoje tenhamos no Vale do Rio Pardo, desde 2013, uma Articulação em Agroecologia – AAVRP, que tem na sua constituição 23 entes formadores, das mais diversas matrizes, que vem trazendo os debates em torno da Agroecologia, em evidência na região.

A região hoje se mostra cada vez mais diversa, em todos os aspectos, inclusive produtivos, sendo o Vale cada vez mais referência em produção de alimentos, abrigando hoje seis cooperativas da Agricultura Familiar.

39


Agroecologia no Vale do Rio Pardo

A FUNDAÇÃO AAVRP No dia 19 de setembro de 2013, na sede da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul – EFASC, às 14h, se reuniram cerca de 25 representantes de 10 entidades do Vale do Rio Pardo, para fundar a AAVRP, que viria ser a “catalisadora” das atividades, envolvendo as pautas da Agroecologia

na região, a exemplo disso, vale o destaque do engajamento nas Semana dos Alimentos Orgânicos – SAO da AAVRP, que de 2014 vem sendo feita todos os anos pela Articulação na data definida pela CPOrg/RS, estabelecendo uma agenda de debates, dias de campo, encontros e relatos de

experiência em Agroecologia na região. Além do Seminário Regional de Agroecologia – SERA, atividade tradicional do segundo semestre, envolvendo as entidades em torno de um tema específico, em atividades que variam de um ou dois dias, pautando temas que interessam a AAVRP.

A AAVRP vai se constituir num campo muito fértil, como a Agroecologia pressupõe, diversa, de várias matrizes de compreensões, o que sempre desafia qualquer instituição dessa natureza, pois o diálogo tem de ser exercício e prática permanente, porque o “caldo cultural” é imenso. Possibilitando assim, a aproximação de agenda e atividades conjuntas de entidades como Escolas, Universidade, grupo de pesquisas, sítios agroecológicos, entidades de assistência técnica,

cooperativas, enfim, instituições que fazem Agroecologia nas suas mais variadas atividades fins. Além de agregar Agricultores/as Familiares Camponeses que são referência na construção histórica

da Agroecologia na região, como seu Reinaldo Rodrigues, morador da comunidade de Capela dos Cunha, em Passo do Sobrado/RS, que define a Agroecologia.

O sistema de produção que fez eu trocar, passar para a Agroecologia é a minha índole desde criança. Em mim também colocaram a ideia de que tinha de ser diferente, tinha que ser moderno, que tinha de usar toda a tecnologia na agricultura. Nós podemos usar uma técnica nova no nosso trabalho da Agroecologia, pra produzir alimentos saudáveis, mas essa técnica vem do próprio agricultor, só tá na vontade das pessoas. Eu peço pras pessoas se conscientizarem um pouco, estudar um pouco, se formar um pouco nessa área (da Agroecologia). (COSTA, 2019, 141).

Esse tem sido o entendimento acordado entre as entidades e pessoas que formam a Articulação, ou seja, de que a pluralidade das forças que compõem o trabalho

40

com a Agricultura Familiar Camponesa no Vale do Rio Pardo, seja a força dessa mobilização coletiva, o que vem permitindo que a AAVRP cresça, dinamizando as reflexões

e diversificando as atividades propostas, reforçando a ideia lá da pesquisa junto aos seus membros, da necessidade de construir uma agenda coletiva na região.


Agroecologia no Vale do Rio Pardo

A EDUCAÇÃO E AGROECOLOGIA NA REGIÃO.

A EFASC

Nesse processo que vem sendo construído no Vale do Rio Pardo, em relação a Agroecologia, cabe destacar o papel e a função da Educação nessa caminhada. Justamente porque se tem na composição da AAVRP, duas escolas, a EFASC (2009) e a Escola Família Agrícola de Vale do Sol – EFASOL (2014), ambas escolas de ensino médio e técnico em Agricultura. Pois tratam-se de instituições que trabalham com a Juventude do Campo da região, especificamente, diariamente, o que gera um fluxo de

práticas, ações e vivência em Agroecologia, com muita intensidade. Aqui será destacado o trabalho pioneiro nesse sentido da EFASC, que fundada em 1º de março de 2009, com sede no município de Santa Cruz do Sul/RS, que trabalha na formação de jovens filhos/ as de Agricultores/as Familiares Camponeses de 10 municípios do Vale do Rio Pardo (Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires, Passo do Sobrado, Rio Pardo, Vale Verde, Vera Cruz, Sinimbu, Herveiras, Boqueirão do Leão, General Câmara e

excepcionalmente um jovem de Cachoeira do Sul), num curso de Ensino Médio e Técnico em Agricultura (pareceres CEED/RS nº 1422009 e 692-210 respectivamente), articulado via Pedagogia da Alternância (articulada por quase 20 instrumentos pedagógicos, alguns e criados a partir da experiência de Santa Cruz do Sul, com a EFASC2, alternados entre a sessão escolar (uma semana na escola) e a sessão familiar (uma semana em casa, com a família)), tendo como base formativa a Agroecologia.

Figura 2 - Atual sede da EFASC.

Novas endereço da EFASC desde setembro de 2019. (Acervo da EFASC). 2 Ver em: VERGUTZ, Cristina L. B. Aprendizagens na pedagogia da alternância da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul - UNISC, 2013.

41


Agroecologia no Vale do Rio Pardo

A EFASC é uma Escola Comunitária de Alternância e a sua mantença é garantida via Associação Gaúcha Pró-Escolas Famílias Agrícolas – AGEFA, que foi fundada em 25 de julho de 2008. A AGEFA é responsável em estabelecer parceria com mais de 30 entidades/instituições que contribuem para a manutenção da Escola, através de repasses de bolsas de estudos, projetos de fomento e custeio, repasses via programas internos das entidades, e ainda a contribuição espontânea das famílias, mensal, semestral ou anualmente, de acordo com as possibilidades delas, com parte do custo de alimentação dos jovens na sessão escolar, além do Fundo Nacional de Educação Básica – FUNDEB, garantido por lei federal desde 2014.

AAVRP. Isso tudo faz com que a EFASC hoje seja uma instituição com uma procura considerável de pesquisadores/as de diversas áreas, a contatar como espaço e instituição a ser pesquisada.

Atualmente a EFASC conta com 115 estudantes na formação de Ensino Médio Técnico em Agricultura, via Pedagogia da Alternância dos seus atuais dez municípios de abrangência no Vale do Rio Pardo, o que a faz ter uma grande capilaridade comunitária, dialogando hoje com cerca de 80 comunidades diretamente, via seus estudantes. E isso se intensifica quando contatamos que ao longo desses 12 anos de existência a EFASC já formou 11 turmas, chegando num total de 277 jovens egressos oriundos de mais de 120 comunidades do Vale do Rio Pardo. Alcançando hoje, a formação de quase 400 jovens na região , daí a sua importância para a promoção da Agroecologia na região, devido a sus capilaridade e resposta imediata no “fazer agroecológico” dos seus estudantes, envolvendo as famílias nesse processo, que a cada dia ganha mais espaço nas propriedades rurais da região.

A EFASC já formou 11 turmas, chegando num total de 277 jovens egressos oriundos de mais de 120 comunidades do Vale do Rio Pardo. Alcançando hoje, a formação de quase 400 jovens na região

Nesses 12 anos de atuação na Região, a EFASC vem se consolidando como uma Escola de referência na região, participando de uma série de fóruns que representam a Educação do Campo, a Agroecologia, o Desenvolvimento Regional, estando assim cada vez mais envolvida e sendo protagonista no cenário regional, vide a participação contributiva na

42

A EFASC foi criada, para atender uma demanda basicamente da agricultura familiar, mais especificamente de jovens moradores do meio rural, de vários municípios do Vale do Rio Pardo, que buscam uma qualificação maior na área da agricultura para, através desta, ter a possibilidade de avaliar a sua permanência na propriedade com qualidade.


Agroecologia no Vale do Rio Pardo

O Bacharelado em Agroecologia UERGS/AGEFA Vale ainda salientar que hoje a AGEFA, mantenedora da EFASC, é também proponente e ofertante do Bacharelado em Agroecologia UERGS/AGEFA, numa parceria inédita na região, a proporcionar um curso de nível superior em Agroe-

Vale salientar e destacar que o Bacharelado em Agroecologia nasce a partir de uma compreensão da Articulação em Agroecologia do Vale do Rio Pardo, que no seu conjunto de entidades, era preciso propor a reitoria da

Assim, a cada turma, uma nova experiência e a possibilidade de aproximar os estudos na universidade, seja na especialização ou no bacharelado, com o saber fazer cotidiano dos agricultores/ as e entidades que trabalham e

Figura 3 - Primeira aula do Bacharel em Agroecologia UERGS/AFEFA.

Acervo da AAVRP, 2019.

cologia desde 2019, já tendo três turmas ingressas, cerca de 60 acadêmicos/as, nesse curso pioneiro no Vale do Rio Pardo, se constituindo em mais uma opção em especial, aos jovens do Campo, num curso superior de qualidade, gratuito e situado na região, no campus da UERGS/Santa Cruz do Sul. E que ainda em 2018, iniciou uma Especialização em Agroecologia e Produção Orgânica, que hoje já conta com a segunda turma em formação, visando qualificar ainda mais o debate e o saber fazer da Agroecologia na região.

Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS um curso que suprisse a demanda da região, nesse caso da Agroecologia e assim se fez, na sede da EFASC, um “Ato Público em defesa da UERGS”, no dia 20/06/2017, com a participação de cerca de 100 pessoas, unanimemente se posicionando a favor da criação do curso superior de AGROECOLOGIA, nessa Instituição. Sendo assim, um grupo de professores e pesquisadores se desdobrou em construir esse Curso, almejado por toda uma coletividade regional, sendo essa uma característica muito peculiar do Bacharelado.

fazem agroecologia a campo na região. Porque essa aproximação e esse diálogo são fundamentais para a construção de um paradigma agroecológico de desenvolvimento, que aproxime as pessoas, suas práticas e recupere saberes tão importantes, que ao longo do tempo vão sendo esquecidos ou simplesmente substituídos, como se não fosse importante ou meramente superado. Assim, a Agroecologia ocupa um espaço cada vez mais protagonista no desenvolvimento do Vale do Rio Pardo, aos poucos, mas de maneira bem sólida, pela via da Educação.

43


Agroecologia no Vale do Rio Pardo

Portanto, vale a ponderação da importância da EFASC/AGEFA na construção da Agroecologia do Vale do Rio Pardo, seja pelas suas práticas e envolvimento direto nessa elaboração, ou seja pelo seu protagonismo via Articulação em Agroecologia do Vale do Rio Pardo, contribuindo diretamente por um Curso de Ensino Médio Técnico em Agricultura para filhos/as de Agricultores/as Familiares da região, e também pela oferta de uma Especialização e um Bacharelado em Agroecologia, fazendo com a Agroecologia cumpra um itinerário

importante e imprescindível a sua formação, da sala de aula, para a lavoura e da lavoura para a sala de aula, num compromisso dialético e horizontal de aproximar e promover o diálogo entre os saberes da escola e universidade, bem como os saberes da entidades, técnicos e Agricultores/as Familiares Camponeses, diariamente na região. Assim, a Agroecologia vai colorindo os bancos escolares e as propriedades rurais da região, com o protagonismo, especialmente da Juventude do Campo da região, que vai, com seus estudos

e práticas agropecuárias, fortalecendo cada vez mais a Agricultura Familiar Camponesa, promovendo a Agroecologia, propondo uma Educação inclusiva, que tenha no Campo, seu referencial de estudo e de vida, contribuindo diretamente para a construção de uma sociedade mais justa socialmente e mais saudável produtivamente, em passos mais vagarosos, porém, duradouros, pela via da educação, pois assim, vamos educando pela Agroecologia, uma geração toda.

Referências: COSTA, João Paulo Reis. A articulação em agroecologia do Vale do Rio Pardo - AAVRP/RS: a agroecologia como possibilidade de existência e resistência na construção de “espaços de esperança” na região do Vale do Rio Pardo. Santa Cruz do Sul: Tese de doutorado. 2019. Orientadora: Profª Drª Virgínia Elisabeta Etges. –––––––. Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul - EFASC: uma contribuição ao desenvolvimento da região do Vale do Rio Pardo a partir da Pedagogia da Alternância. Dissertação Mestrado em Desenvolvimento Regional, Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, 2012. POZZEBON, Adair. A Inserção socioprofissional dos jovens egressos da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul no Vale do Rio Pardo/RS: Uma contribuição para o Desenvolvimento Rural. Porto Alegre: PGDR/UFRGS (Dissertação de mestrado), Orientadora: Flávia Charão Marques. 2015. VERGUTZ, Cristina L. B. Aprendizagens na pedagogia da alternância da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul - UNISC, 2013.

44


Sementes Crioulas

O papel da agrobiodiversidade na construção de saberes

Diego Henrique Limberger1

A agricultura convencional, instalada após a Revolução Verde, provocou uma gradativa substituição das sementes tradicionalmente cultivadas pelos agricultores no país, por sementes geneticamente melhoradas, geralmente híbridas, cuja produção está totalmente nas mãos de empresas especializadas. Assim sendo, os agricultores não só deixaram de produzir suas sementes, como também perderam o hábito e o conhecimento necessário para realizar sua seleção. Com isto, evidentemente, ocorreu e continua ocorrendo o desaparecimento de toda uma variabilidade genética, anteriormente disponível nas variedades cultivadas, todas elas selecionadas ao longo de muitos anos, e portanto, altamente adaptadas às condições específicas de clima e solo predominantes em suas condições de cultivo. Este processo é especialmente significativo no caso das plantas hortícolas, em que a grande especialização dos cultivos comerciais e a intensa substituição dos materiais genéticos têm levado a uma erosão drástica das variedades hortícolas antigas, tradicionalmente cultivadas entre os agricultores familiares.

Atualmente, há um intenso esforço, por parte das megaempresas produtoras de sementes, já associadas com empresas produtoras de insumos agrícolas, para que sejam novamente substituídas as sementes que estão em uso, por sementes que apresentem modificações genéticas produzidas por transgenia, sob a alegação de maior produtividade, menores custos aos produtores, entre outras vantagens. Este é um processo que necessita urgentemente ser revertido, sob pena da humanidade colocar sua segurança alimentar à mercê dos interesses exclusivos de algumas poucas empresas transnacionais.

Vale salientar que a tendência mundial dos consumidores é a busca por alimentos mais saudáveis e com menor risco de contaminação com agrotóxicos, em especial quando se trata de plantas consumidas in natura, como é o caso de grande parte das plantas hortícolas. Porém, as iniciativas na promoção da manutenção e multiplicação da biodiversidade ainda são muito insipientes diante da deterioração da biodiversidade provocada pela pressão comercial/tecnológica para a adoção de produtos transgênicos e dos ditos “geneticamente melhorados”.

1 Monitor da Área de Produção Agropecuária EFASC, Tecnólogo em Horticultura, Especialista em Educação do Campo e Desenvolvimento Regional – UNISC, Mestrando em Ambiente e Sustentabilidade – UERGS.

45


Sementes Crioulas

O processo agrícola e da produção de sementes O desenvolvimento da agricultura, desde o seu surgimento, tem relação direta no conhecer e melhorar plantas silvestres para que se tornem mais produtivas e atrativas ao consumo dos povos. Este processo gerou uma gradativa seleção de materiais geneticamente mais adaptados ao ambiente, mas também que apresentassem maior vigor e maior produção de suas partes comestíveis. Esta seleção gradativa foi a que permitiu a geração de espécies vegetais como o milho, por exemplo, o qual, pelo intenso e longo trabalho de cultivo e seleção maçal a ele direcionados (SOARES et al., 1998), modificou-se genética e fenotipicamente de tal forma em relação a seu ancestral selvagem – o Teosinto, a ponto de sua identificação, com precisão, só ser possível pelas modernas técnicas de engenharia genética (VEASEY et al., 2011). Conforme Gliessmann (2000), o melhoramento genético de plantas foi, aos poucos, sendo aperfeiçoado, vindo a estabelecer-se como ciência. Com isto, foi possível direcionar mais diretamente esta seleção para os interesses humanos. Segundo o mesmo autor, atualmente a biotecnologia e a engenharia genética tornaram possível incorporar traços e características em plantas e animais de forma nunca antes possível para a humanidade.

46

Todo esse avanço tecnológico e de conhecimento genético foi e é importante para o desenvolvimento da agricultura, mas não há fácil acesso a esses saberes, ficando assim a agricultura familiar camponesa dependente do alto custo de insumos para realizar suas produções. Conforme Altieri (2002), a crescente uniformidade genética dos cultivos é um dos principais motivos da insustentabilidade da agricultura convencional. Segundo Gliessmann (2000), a base genética da agricultura estreitou-se de forma perigosa, pois a humanidade está cada vez mais dependente de poucas espécies cultivadas e de um pequeno número de genes e combinações genéticas disponíveis nestas espécies. Além disso, com a disponibilidade de novos insumos, oferecida por este modelo de agricultura, houve também uma inversão do sentido da seleção, ou seja, ao

invés de selecionarem as plantas para que produzam melhor em um determinado ambiente, passou a ser possível (e adotou-se como regra) alterar o ambiente para que as plantas expressem todo o seu novo potencial genético de produtividade. A Agroecologia, por outro lado, propõe que os recursos genéticos dos diferentes cultivos agrícolas, estejam disponíveis aos agricultores (CANCI, 2002), e que sejam por eles guardados e intercambiados de forma a garantir a agrobiodiversidade e com ela, a adaptabilidade dos cultivos aos diversos ambientes e à sustentabilidade dos agroecossistemas.


Sementes Crioulas

Agrobiodiversidade e Segurança Alimentar da Agricultura Familiar A “diversidade” na agricultura, por parte das famílias, é o que garante o sustento no dia a dia, pois em períodos difíceis, do setor do tabaco, na região do Vale do Rio Pardo, é o que faz as famílias

al. (2007) identificaram com clareza esta realidade em sua pesquisa sobre a circulação de alimentos entre os agricultores familiares do Vale do Taquari/RS:

produtividade a longo prazo, promove a diversidade do regime alimentar e maximiza os retornos com baixos níveis de tecnologia e recursos limitados (NORGAARD, 1985, apud ALTIERI, 2001).

“A troca de sementes e materiais de plantio é prática inscrita em estratégias fundantes da sustentabilidade da agricultura e um dos mecanismos mais difundidos em sistemas agrários tradicionais, pois garante a manutenção do conhecimento associado às diferentes espécies e variedades, bem como à diversidade genética, seguro importante contra riscos de frustração de colheitas e perda de recursos alimentícios importantes.” (p.168). darem seus “jeitos” para sobreviverem, e a produção de alimentos, aliada aos materiais crioulos existentes na propriedade, são as garantias da segurança alimentar, neste espaço rural invadido pelas monoculturas. Faz parte da cultura da agricultura familiar a estratégia das trocas de sementes e de materiais de propagação vegetativa de cultivos alimentícios, mas infelizmente, estamos em processo de perda deste costume. Marques et

Os sistemas agrícolas tradicionais, desenvolvidos pelos agricultores familiares, apresentam produtividades sustentáveis (NORGAARD, 1979, apud ALTIERI, 2001). Uma característica notável desses sistemas é o grau de diversidade das plantas, geralmente na forma de policultivos e/ou padrões agroflorestais (CLAWSON, 1985, apud ALTIERI, 2001). Essa estratégia de minimizar o risco, através do cultivo de várias espécies e variedades de plantas, estabiliza a

As técnicas produtivas desenvolvidas, ao longo da vivência dos agricultores familiares, são o que garante o nível de reprodução social das propriedades, a sustentabilidade e a segurança de alimentos para as famílias e animais. O conhecimento popular é, portanto, muito rico, mas, como afirmam Mafra et al. (2007), ele não tem dado conta da recuperação e manutenção sustentável dos recursos naturais já muito degradados. Primavesi (1992) nos lembra que “plantas adaptadas à sua terra, darão boas colheitas com poucos adubos e poucos agrotóxicos.” Os “poucos” agrotóxicos têm a necessidade de serem “nulos” para garantir a qualidade e a segurança alimentar e a não contaminação das sementes. As sementes crioulas, que antes eram responsáveis pelo sustento da agricultura familiar camponesa, estão em constante risco 47


Sementes Crioulas

de desaparecimento. Segundo a Comissão Pastoral da Terra do Rio Grande do Sul (2006), as sementes crioulas são mais difíceis de serem encontradas em

diversidade de culturas e também em quantidade dentre os agricultores. Ziembowicz et al. (2007) nos mostra que esse fenômeno vem ocorrendo aos poucos no seio

da agricultura familiar camponesa e que as famílias buscam resistir à degradação da agrobiodiversidade e dominação das sementes pelo mercado agrícola.

O Espaço das Sementes Crioulas: Agroecologia e saberes O trabalho com sementes crioulas acontecia na Escola Família Agrícola - EFASC em espaços informais, eventos, feiras de sementes, no qual os jovens, em formação, compartilhavam e trocavam as suas sementes. No entanto, não era reservado um espaço que mobilizasse esses estudantes a pensarem sobre a origem, técnicas produtivas, materiais tradicionais dessas sementes, sempre foi trabalhado, durante a formação, de forma “genérica”, embora estivesse sempre imbricado, devido ao amplo debate sobre a agroecologia. Como promotora e problematizadora, a área Produção Agropecuária - PA vem fazendo a discussão com os estudantes de ensino médio e técnico da EFASC sobre processos de transição agroecológica, produção de alimentos, sistemas agroflorestais, manejo e conservação de solo, nutrição orgânica de plantas, dentre tantas outras temáticas advindas da Agroecologia. Uma dessas temáticas é o eixo formativo de sementes crioulas, na qual se discute toda a importância, conceitos, meio de multiplicação, pureza genética, qualidade

48

de sementes. Além disso, discutimos o uso delas na agricultura e a importância de um banco de sementes comunitário-vivo, que possibilite a apresentação de todas as culturas e cultivares disponíveis, que já ultrapassam 120 tipos de sementes e materiais crioulos. A distribuição dessas sementes é realizada no início da primavera para multiplicação, cujo, cada estudante escolhe a variedade e a quantidade de sementes crioulas que desejam levar para sua

propriedade, conforme gostos, vontades e necessidades. Durante a sessão familiar, o jovem desenvolve experimentos na propriedade, em diversos cultivos/produções com o enfoque na Agroecologia, para aprender com a sua própria práxis. No processo de ação-reflexão-ação, é objetivada a valorização e o resgate dos recursos naturais e genéticos existentes no meio onde vive, com destaque para as sementes crioulas.


Sementes Crioulas

armazenamento para que não haja ataques de insetos que acometem os grãos. Aprenderam também, o espaçamento das culturas, épocas de semeadura, profundidade, adubação, tratos culturais, tempo para florescimento, ciclos e dentre tantos outros, o que embasa e reforça ainda mais os conhecimentos teóricos discutidos em sala de aula pela PA.

A proposta pedagógica da Pedagogia da Alternância é que ao vivenciarem o seu próprio dia a dia, durante o tempo-comunidade, exerçam práticas diferenciadas e diferenciadoras daquela rotina, possibilitando a emergência de uma visão crítica e transformadora do mundo vivido. E que durante a sessão escolar, este estudante possa partilhar a realidade vivida, ora temático, ora institucional, ora geográfico, através de uma apresentação/ instalação pedagógica, que forme recortes ou aproximações à dimensões vivas dos contextos estudados. (BARBOSA, 2010). A presença das sementes nas propriedades provocou os jovens e as famílias a retomarem costumes perdidos, como a de produzir farinha a partir do milho e/ ou ter independência para realizarem as suas produções de alimentos com práticas agroecológicas, porque as famílias entendem que a produção, a partir de sementes crioulas, não devem ser usados adubos sintéticos e/ou agrotóxicos, porque elas são trocadas com os vizinhos e também são armazenadas para a próxima safra.

As sementes crioulas também propiciaram a juventude construir conhecimentos técnicos e populares sobre as culturas que escolheram para multiplicação em suas propriedades, como por exemplo, aprenderam que as fases da lua, para a semeadura e para a colheita, interferem diretamente na produção e tempo de

A juventude do campo e suas famílias apontam a importância da continuidade deste trabalho com as novas turmas ingressantes na EFASC. Ratificam também, a importância de ter um banco de referência para trocas de materiais genéticos, potencializando a variabilidade genética da agrobiodiversidade, pois uma cultivar, produzida por muito tempo em mesmo local, e sem os devidos cuidados de seleção de plantas, na próxima safra, pode influir na queda de produtividade devido a segregação genética. A partir deste trabalho, é perceptível a necessidade de avanços em políticas públicas, nos âmbitos municipais e estaduais, para a promoção e uso das sementes

49


Sementes Crioulas

crioulas nos cultivos da agricultura familiar. Sementes estas, crioulas e adaptadas a uma determinada região, como já vivenciamos com o Programa de Aquisição de Alimentos que tinha a modalidade da compra de sementes e materiais crioulos para distribuição a outras famílias agricultoras da região. E para que esses jovens possam ser multiplicadores, juntamente com suas famílias, podendo acessar mercados locais gerando mais uma fonte justa de renda a estas famílias. Realizar o trabalho com sementes crioulas, por dentro de uma formação de ensino médio e técnico de filhos/as de agricultores familiares, muda completamente o paradigma imposto pela agricultura industrial e produtivista, que todas essas práticas, genéticas crioulas e saberes populares da agricultura familiar são um atraso nos tempos vividos. Este instrumento pedagógico, o Espaço de Sementes Crioulas da

EFASC, proporciona essa quebra de paradigma, abrindo portas às práticas agroecológicas no meio sócio-familiar de cada jovem, potencializando o processo de transição produtiva, de melhoria na alimentação de autoconsumo e trocas de saberes populares e científicos entre família e comunidade. O trabalho com as sementes crioulas e o aumento da diversidade no Espaço das Sementes Crioulas - ESC foi possível também pelo amplo aceite das famílias em formação, pois o acesso às sementes e acompanhamento da multiplicação por seus filhos e filhas possibilitou o resgate de diversos saberes, costumes e práticas na propriedade e que, com o passar do tempo, passarão a ter autonomia produtiva de seus espaços de reprodução social.

REFERÊNCIA: GLIESSMANN, S.R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 653p. 2000. VEASEY, E.A. et al. Processos evolutivos e a origem das plantas cultivadas. Ciência Rural, Santa Maria, v.41, n.7, p.1218-1228, 2011. ALTIERI, M. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. Guaíba: Agropecuária, 592p. 2002. MARQUES, F.C.; MENASCHE, R.; TONEZER, C.; GENESSINI. A. Circulação de alimentos: dádiva, sociabilidade e identidade. In: MENASCHE, R. (Org.) A agricultura familiar à mesa: saberes e práticas da alimentação no vale do Taquari. Porto alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, p.154-176. 2007. MAFRA, M.S.H.; FLORIANI, G.S.; COMUNELLO, F.J.; AMORIM, C.C.; GÚTTLER, G. Desenvolvimento de coleção de cultivares crioulas de hortaliças no planalto catarinense. Rev. Bras. Agroecologia, v.2, n.1, p.1761-1764. 2007. BARBOSA. Willer Araújo. Por uma terra sem males: Um outro mundo é possível. Disponível em <: http://www.ufsm.br/lec/02_02/WillerLC8.htm>. Acessado em 06/01/2017.

50


Quem são as mulheres da pedagogia da alternância da EFASC? “quando vi que eram só essas

meninas, me espantei um pouco, pensei que teria mais meninas, tive um pouco de receio de entrar sozinha e não ter ninguém”.

Onde estão, o que fazem ou não fazem estas mulheres? “o papel da mulher tá em tudo dentro da EFASC” ... “o que

me chama mais atenção é os estereótipos de que pra lidar com a agricultura tem que ser homem e que não é coisa de mulher”.

Quais são suas contribuições na EFASC? “A escola proporciona a gente

mudar o pensamento da gente e a gente vê que trabalho da mulher é trabalho mesmo e não uma ajuda”.

Quais os espaços e tempos que ocupam na pedagogia da alternância e nos trabalhos da agricultura familiar? “sendo mulher lá dentro da EFASC

a gente descobre que tem um valor imenso na agricultura”... “eu mudei meu horizonte, a minha visão, eu entendi que eu posso fazer o que eu quiser, eu sou dona de mim!”.

As mulheres na pedagogia da alternância da EFASC

Cristina Luisa Bencke Vergutz1

É a partir destas inquietações e falas das mulheres da EFASC que nos desafiamos a trazer nesta escrita algumas compreensões da existência delas dentro da escola e também na agricultura. Buscamos reconhecer seus trabalhos na dinâmica da pedagogia da alternância da EFASC e sua importância enquanto ser mulher agricultora. Quando pesquisamos a história da pedagogia da alternância, junto aos registros literários identificamos a não existência de mulheres enquanto protagonistas deste processo. Entretanto, elas sempre estiveram presentes, como monitoras, agricultoras, dirigentes, esposas, mães, avós, estudantes, egressas e militantes, mas foram e são invisibilizadas pela compreensão patriarcal e machista de que espaços de decisão e de poder, isto é, espaços públicos, não condizem com o ser mulher enquanto que espaços privados, limitados ao familiar e a casa, são adequados as condições tidas como naturais de todas as mulheres. São registros históricos da pedagogia da alternância em que

há a exaltação apenas do protagonismo da igreja e da família. Uma narrativa imersa em uma compreensão de mundo e de relações sociais de sociedade discriminadora e excludente, construída como única e verdadeira e que torna invisível as diversidades de sujeitos que contribuíram e contribuem no dia a dia da pedagogia da alternância como as mulheres, os idosos e a própria juventude.

1Monitora e Coordenadora Pedagógica da EFASC. Pedagoga, Mestre e Doutora em Educação. Todas as palavras identificadas em itálico são falas de mulheres que estabelecem ou estabeleceram vínculos com a EFASC, ou seja: são estudantes, egressas, mães, avós, monitoras, professoras ou militantes. São falas oriundas de diálogos e entrevistas que emergiram de uma pesquisa que resultou em uma Tese de Doutorado intitulada Pedagogia das Vozes e dos Silêncios: experiências das mulheres na pedagogia da alternância da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul – EFASC de autoria de Cristina Luisa Bencke Vergutz e que se teceu junto aos trabalhos do Grupo de Pesquisa Educação Popular, Metodologias Participativas e Estudos Decoloniais da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC com apoio do CAPES.

51


As mulheres na pedagogia da alternância da EFASC

Ou seja, a história relatada da pedagogia da alternância, tem a ausência do tripé da classe, gênero, raça/etnia que estrutura a sociedade e que, na relação pedagógica trabalho e educação, acaba aprofundando desigualdades. A rotina da agricultura familiar se faz entrelaçada em trabalhos que, combinados, possibilitam a manutenção da vida das pessoas. Quando trazemos para o debate a questão da agricultura nos deparamos, essencialmente, com as questões produtivas, ou seja, com o que produzimos, quanto, quando, como, porque e quem irá produzir aquilo que nos trará

o sustento familiar. Pensamos a partir de uma racionalidade econômica convencional que nos leva

52

a enxergar como produtivo e com valor apenas os trabalhos que podemos converter em valores monetários e os trabalhos domésticos e de cuidados, da reprodução da vida, entendemos como naturais do sexo feminino e, em razão disso, menosprezados social, econômica e culturalmente. Ao pensarmos a pedagogia da alternância, numa escola família agrícola, que oferta o ensino profissionalizante em agricultura, abordando em seu currículo escolar a agricultura familiar e seu território, a tendência que se apresenta é a de reprodução desta forma de ser e existir direcionada

apenas ao produtivo. Entretanto, a caminhada histórica da EFASC apresenta sinais de resistência

quanto a isso, mesmo imersa em contradições próprias da existência de toda a humanidade.

As mulheres da pedagogia da alternância da EFASC articulam resistências, lutas, estratégias, reflexões, reproduções e produções de conhecimentos que se materializam em pedagogias das vozes e dos silêncios. São vozes e silêncios que foram identificados e analisados numa tese de doutorado em que as mulheres da EFASC falam sobre sua existência, seus trabalhos e suas aprendizagens na rotina dos trabalhos na agricultura, na manutenção da vida de si e dos demais sujeitos a sua volta e da própria pedagogia da alternância. Suas falas trazem à tona o que está oculto na dinâmica inerente ao sistema capitalista, patriarcal, colonial, racista, sexista, lgbtfóbico: a exploração, dominação e submissão das mulheres como estratégia da acumulação do capital através do uso e enquadramento dos trabalhos das mulheres como aptidão natural vinculado ao amor, sentimentalismo e afeição desvinculando, por absoluto, do caráter epistemológico, ou seja, que os trabalhos do cuidado e doméstico também exigem produção de conhecimento e são o alicerce da agricultura familiar: “a gente


As mulheres na pedagogia da alternância da EFASC

nunca como uma responsabilidade, como preparar a terra”. São falas que apontam que trabalhos da agricultura se expressam pela divisão sexual do trabalho e estão associados à inferiorização dos trabalhos das mulheres pelo enquadramento destes como simples “ajuda” justificado pelo viés biológico. Portanto, o trabalho tem gênero, assim como tem raça/etnia e classe social e sua

consegue estudar, consegue conciliar o trabalho de casa e trabalhar na agricultura também sabe? (...) eu tenho que me virar em mil pessoas enquanto ele tá ali sabe?”. É a não validação das mulheres como sujeitos epistêmicas, ou seja, como produtoras de conhecimento que faz emergir vozes e silêncios que se traduzem em sentimentos de incapacidade: “muitas

vezes me sentia sem capacidade de trabalhar na agricultura”. Isso exige delas um esforço maior nas aulas e nas atividades a fim de terem seu conhecimento reconhecido: “as mulheres têm que estu-

dar muito mais, se desafiar muito mais e fazer coisas muito mais diferentes do que elas faziam” para poder ser vista e legitimada como mulher agricultora com credibilidade epistemológica no contexto político pedagógico da EFASC e na agricultura como um todo. Isso acontece porque a construção social do ser mulher está direcionada desde a infância às

aprendizagens dos trabalhos do cuidado e domésticos, isto é, as mulheres filhas das famílias agricultoras aprendem a realizar trabalhos que são tidos historicamente como adequados ao ser mulher além de serem considerados mais “leves” como cozinhar, limpar e produzir alimentos na horta: “em casa,

dimensão de valor perpassa por estes pontos. Quando caracterizamos os trabalhos das mulheres na agricultura como “ajuda”, ele perde a dimensão econômica e aumenta a marginalização dos trabalhos executados por elas.

a mãe dizia pra gente - eu vou pra roça, mas quando eu voltar tem que tá pronta a comida do meio dia, lavar roupa, fazer o pão”. Elas são afastadas dos trabalhos mais externos, mais distantes da casa da família e que são tidos como “pesados”:

“eu nunca fui incentivada a aprender a andar de trator e, mesmo que eu fosse, era só pra fazer coisinha leve,

53


As mulheres na pedagogia da alternância da EFASC

A caracterização de “ajuda” acarreta também a invisibilidade da sobrecarga de trabalho das mulheres agricultoras, pois além dos trabalhos domésticos e cuidados, elas também realizam os trabalhos agrícolas e pecuários, são duplas e triplas jornadas de trabalho que só finalizam quando todos da família foram dormir: “aqui em

casa sou a primeira a levantar e a última que vai deitar” (...) “estamos envolvidas em todas as atividades, desde os trabalhos dentro de casa, de ir lá na horta pegar um tempero, pegar uma salada, como também nos trabalhos na lavoura, o tratar os animais (...), ajeitar o filho pra escola, cuidar da vó e do vô”. Ao olharmos para as mulheres estudantes, egressas da EFASC, elas nos relatam que 97% delas aprenderam os trabalhos de cuidar, limpar, cozinhar, lavar e plantar alimentos e ervas medicinais com outras mulheres, sendo que o cultivar na horta aprendem também na EFASC. Sendo que 95% delas se sentem confiantes, ou seja, sabem que realizam 54

muito bem estes trabalhos e são reconhecidas por isso. Enquanto que em trabalhos agrícolas e pecuários de maior porte como trabalhos com o trator, a junta de bois e os tratos culturais elas se sentem atrapalhadas ao executar, pois são trabalhos que não fazem parte de sua rotina diária na família, sendo que quando aprendem esses trabalhos são com homens ou na própria rotina pedagógica da EFASC. Portanto a EFASC se apresenta para as mulheres como um espaço de aprendizagem de trabalhos agrícolas, mesmo elas enfrentando a constante necessidade de validar seus conhecimentos perante os demais sujeitos da escola e da família. Também indica que a “arte de cultivar” para as mulheres da pedagogia da alternância da EFASC são aprendidas com os homens tanto em casa como na escola quando se trata de cultivos mais longos e, geralmente, mais distantes da casa, como milho, arroz, feijão, soja, tabaco, amendoim, batata doce, entre outros. Já os trabalhos relacionados com a horta, que envolve a produção

de alimentos de ciclo curto e estão mais próximos da casa, como as hortaliças, temperos, ervas medicinais, as mulheres aprendem com outras mulheres e também com a EFASC. Na dinâmica da rotina da EFASC elas entendem o quanto o trabalho do cuidado e doméstico é essencial, mas principalmente, que estes são conhecimentos e têm importância vital na atividade da agricultura familiar. São estes trabalhos que garantem o alimento e a alimentação, a higiene, a socialização e a segurança das pessoas da família, provendo as necessidades humanas imediatas e básicas para manter a vida. Portanto, é por abordar pedagogicamente o trabalho do cuidado e domésticos como princípio educativo numa educação crítica e problematizadora freiriana do ser e estar no mundo que a EFASC possibilita as mulheres compreenderem-se enquanto mulheres na agricultura, vocacionadas a “ser mais”, cuidando de si e da natureza através dos seus conhecimentos histórica e socialmente construídos.


As mulheres na pedagogia da alternância da EFASC

É pelo entendimento da EFASC, enquanto espaço, em que “as mu-

lheres têm voz e lugar de fala para debater pontos importantes”, que “encoraja a fazer coisas diferentes” através da partilha e do “comunicar com outras mulheres”, entendendo a importância das mulheres se “fortalecer umas com as outras e perceber que somos capazes de fazer as coisas e também qualificadas no que fazemos”, que as mulheres da pedagogia da alternância da EFASC buscam a transformação de si e do mundo, trazendo para a visibilidade as mulheres, os seus trabalhos domésticos, do cuidar e da produção agrícola e pecuária e, principalmente, o quanto são fundamentais para existência da agricultura e, sobretudo, para a mantença da humanidade. São as mulheres que semeiam a vida. Cultivam nos trabalhos do seu dia a dia a continuação da existência dos homens e das mulheres. Semeiam a esperança de um mundo melhor a cada dia, a cada cuidado que realizam com aqueles e aquelas que

as rodeiam. São pelas sementes da vida, do alimento, da luta, da justiça e da transformação que a EFASC se propõe a cotidianamente

Semeia, Margarida, semeia Margarida é o nome da minha vó Margarida é dona de casa Margarida trabalha no Sol E carrega consigo uma tripla jornada

trazer para visibilidade as mulheres da pedagogia da alternância e seus trabalhos porque, como fala a música1:

Margarida trabalha onde quer Margarida que é uma mulher Que só vai aonde puder levar Os filhos no colo

1 Música Margarida de autoria de Bruna Richter Eichler que é egressa da EFASC do ano de 2016. Concluiu sua formação técnica na EFASC, portanto, é Técnica em Agricultura, estudante do Bacharelado em Agroecologia da UERGS/AGEFA e atualmente trabalha na EFASC como auxiliar administrativa e na coordenação da Feira Pedagógica da EFASC. Bruna é cantora popular e tem um canal no Youtube chamado “Bruna - Ave Cantadeira”, acesse e conheça o seu canal: https://www.youtube.com/channel/UCt3ts0rCoCpm8qFqhwnpbtQ REFERÊNCIA: VERGÜTZ, Cristina Luisa Bencke. Pedagogia das vozes e dos silêncios: experiências das mulheres na pedagogia da alternância da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul EFASC. Tese (Doutorado) - Universidade de Santa Cruz do Sul, 2021. Disponível em: http://hdl.handle.net/11624/3112. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 50ª ed. 2011.

55



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.