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No tabuleiro, resistência.........P.33 e

BARRACA da Tati vende quitutes na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema

regularizar o ponto comercial, o que ficou mais fácil após a criação da Associação das Baianas de Acarajé do Rio de Janeiro (Abam). A quituteira espera que o programa aprovado pela Alerj consolide seus direitos. “Para nós, o reconhecimento é um ato muito importante, porque vai gerar mais oportunidades de trabalho, não só aqui no município do Rio, mas em todo o estado. Fora da capital, as dificuldades de conseguir um ponto são ainda maiores”, explica.

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A entidade congrega cem associadas e apoia outras não vinculadas diretamente. Rosângela da Silva fincou seu tabuleiro colorido por fitas do Senhor do Bonfim em plena Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, bairro da Zona Sul do Rio. Conhecida como Tati do Acarajé, ela nasceu em Catu, na Bahia, e atua, há cinco anos, num dos 36 pontos legalizados pela prefeitura. Sua barraca é de dar orgulho a Dorival Caymmi: tem também vatapá, cocada, abará, bolos e outras gostosuras.

“O que a gente ganha aqui sustenta cinco famílias, inclusive a da minha irmã, que ajuda no tabuleiro. Mas, para que a gente hoje possa viver deste ofício, outras precisaram abrir caminho e conquistar seu lugar ao sol, como Tia Ciata, referência histórica; e tia Cotinha, uma das baianas mais velhas, cujo legado ficou para a filha Tânia, que mantém tabuleiro no bairro de São Conrado”, conta.

O nosso sangue tem esse dom de empreendedorismo das nossas ancestrais, que foram escravizadas”

Rosa Perdigão Coordenadora da Associação das Baianas de Acarajé (Abam)

BOLINHOS TEMPERADOS COM TOLERÂNCIA O direito à diversidade cultural e religiosa também é assegurado pela lei, pois está no fundamento da venda da iguaria de origem africana. Nos terreiros de candomblé, o bolinho puro é oferenda para os orixás Iansã e Xangô. A deputada Tia Ju, autora da norma, reconhece sua importância como resistência cultural, mas argumenta que é preciso garantir, primeiramente, a subsistência de quem tem nesse produto o seu meio de sustento.

“As baianas de acarajé são um grande exemplo de resistência cultural e também do empoderamento feminino. Sabemos do “dna religioso” do Acarajé, mas ele ultrapassa esta questão. Tanto que hoje diversas Baianas do Acarajé professam outros credos religiosos. Depois da aprovação dessa importante lei a questão é a clássica: você vai querer seu acarajé quente ou frio? Pra te ajudar, vou deixar a dica, É ‘quente’, na pimenta. Ou ‘frio’, se não gostar de tanta picância ou o corpo não aguentar”, resume Tia Ju. Embora já estejam incorporadas à paisagem carioca, as baianas precisam lidar, vez ou outra, com episódios de racismo religioso e xenofobia contra nordestinos.

“Quando cheguei pra montar meu tabuleiro em Ipanema, fui muito bem recebida por quase todos do bairro. Mas, infelizmente, tive um problema com a integrante de uma associação de moradores, que chegou a dizer que eu tinha que pegar minhas panelas e voltar para a Bahia, que aqui não era meu lugar. Fui à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) e prestei queixa. Foi graças ao apoio da Associação das Baianas do Acarajé, consegui voltar à ativa”, conta Tati.

Em contraposição a tanto preconceito, a prefeitura do Rio instituiu o programa “Baianas do Rio de Janeiro” e a cidade também conta com o “Dia da Baiana do Acarajé”. A coordenadora da Abam, Rosa Perdigão destaca o empenho da entidade em promover cursos de formação para qualificar e promover a preservação desse saber tradicional.

“Qualquer pessoa está apta a capacitar-se. Algumas descendentes dessas baianas acabam optando por seguir outros passos, como cursar uma universidade, mas é importante ressaltar que esse caminho só é possível pelo trabalho que as mães e avós construíram com os tabuleiros de acarajé. O nosso sangue tem esse dom de empreendedorismo das nossas ancestrais, que foram escravizadas, botavam um tabuleiro na cabeça, vendiam e conseguiam comprar as suas alforrias e de seus familiares”, lembra Rosa.

A ALERJ não parou nem um segundo. Trabalhou em todo o estado pra todo mundo.

Há alguns anos, o Rio de Janeiro estava mergulhado numa grande crise. Perdemos muito. Até mesmo a nossa alegria. Era preciso agir rápido, com responsabilidade e planejamento.

E foi isso que a ALERJ fez.

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