NÚMERO
60
julho de 2018
O liceu em tempos de pandemia
Poesia Crítica literária Expressão plástica
opinião
editorial
Neste final de ano letivo 2019/2020, dada a conjuntura, foi com alguma apreensão que encaramos a
elaboração do número de final de ano. Normalmente contempla o “Dia Aberto”, os jogos de final de período, festas, sessões finais de projetos, enfim… No entanto, acabamos por nos deparar com uma profusão de material que ditou esta data tardia de publicação. Este período, de meados de março a finais de junhos, funcionamos em ambiente a distância, como todos sabem. Como o Jornalsemnome é um espelho do que na escola se vai fazendo, desta vez prestamos testemunho do que os nossos alunos foram realizando ao longo dos últimos meses. Haveria muito mais de que falar, mas nem tudo nos chegou, ainda… Assim, por ordem de publicação mas não de relevância, temos apreciações críticas de obras literárias elaboradas por alunos do 10º A e B, biografias de Matemáticos célebres desenvolvidas por alunos do 11º A (Matemática e Português), poesia inspirada na Físico-Química (alunos da professora Isabel Evangelista), e não só, textos de opinião sobre filosofias de vida, elaborados pelos alunos de 11º ano da professora Ana Paula Rosa a propósito do passeio final da obra Os Maias. As peças de expressão plástica fazem jus à mestria dos nossos alunos de artes: a turma de Desenho de 11º ano desenvolveu trabalhos a partir de três temas, sapatos velhos, naturezas mortas e COVID 19, de entre os quais o professor Rui Ermitão selecionou os que aqui vos mostramos. Os alunos do professor Miguel Boullosa desenvolveram trabalhos no âmbito da ilustração e das técnicas de contraluz, que também ilustram os nossos textos. Possam ser observadas no blogue desenh-arte.blogspot.com . Até ao próximo ano letivo, com saúde e esperança!
Alexandra Lemos Cabral
Colaboradores
Equipa responsável Alexandra Cabral Ana Paula Rosa Paula Barros
Coordenação Alexandra Cabral
Logotipos
Alexandra Lemos cabral Alexandre Inácio Ana Azevedo Ana Machado Ana Paula Rosa André Fonseca António Anghel António Raimundo Beatriz Borrego Beatriz Ferreira Beatriz Varela Bernardo Morais Camila Cruz Carlos Bico Carolina Frischknecht Catarina Iria Cristina Sardinha Carolina Jesus Daniela Nunes Danilo Tachy David Santos David Rodrigues Dinis Pedro Dinis Pereira Duarte Silva Eduarda Peixoto Elisabete Félix Francisco Lima Gonçalo Bento Gonçalo Santos Gonçalo Resende Gustavo Sousa Inês Lopes Isabel Evangelista João Conde João Silva João Tavares Joana Barbosa Joana Matos Ketlyn Souza
Lara Mateus Laura Grosso Laura Santos Leonor Batalha Leonor Pinheiro Lourenço Silveira Luís Chatinho Margarida Miguel Margarida Severino Vargas Mariana Bagulho Maria Azevedo Maria Cunha Maria do Ó Maria Inês Silva Maria Rita Aleixo Mariana Campino Mariana Domingues Maria Marques Mariana Martins Mariana Santos Marina Pereira Marta Megre Matilde Santos Miguel Boulllosa Miguel Martins Miguel Santos Osvaldo Andrade Pedro Ribeiro Afael Auxtero Ricardo Carvalho Ricardo Marques Rui Ermitão Salomé Trovão Sofia Duarte Tiago Teles Yasmin Swerak Vlad Melo Alunos de Educação Visual Turmas de Artes
André e Joana
jornalsemnome@gmail.com 2
A castro
A Castro, António Ferreira No âmbito da disciplina de Português escolhi para o meu trabalho analisar a obra Castro, uma peça de teatro de António Ferreira, publicada em 1974, pela Atlântida Editora, em Coimbra. Trata-se de uma tragédia, escrita em verso, inspirada na história de amor do Infante D. Pedro e Inês de Castro, uma jovem integrante do séquito de D. Constança, mulher de D. Pedro. Esta peça está divida em cinco atos e conta com nove personagens participantes, Castro (Inês de Castro), a Ama (de Castro), o Coro (Coro das moças de Coimbra), o Infante (D. Pedro), o Secretário (do Infante), o Rei (D. Afonso IV) e dois dos seus conselheiros, Coelho (Pêro Coelho) e Pacheco (Diogo Lopes Pacheco), o Mensageiro (mensageiro) e uma personagem não participante (Filhos de Inês). Nesta obra, a Ama tem o papel de confidente de Castro, como se vê através das interrogações que a mesma faz (“Que novas festas, novos cantos pedes?”, “Que novo caso foi? Que bem te veio? / Porque me tens suspensa?”), e também de sua conselheira. A Ama é usada para revelar o íntimo de Inês. Logo na primeira cena, respondendo às perguntas da Ama, Castro afirma estar apaixonada por D. Pedro (“o Infante Pedro, / Meu doce amor, minha esperança e honra.”), contando em seguida uma parte da história dos dois e os infortúnios que a complicaram. Inês enfatiza que, apesar de se ter casado com D. Constança, o amor que D. Pedro sente por Castro é real e prevaleceu durante todo o casamento do Infante (“Deu a Constança a mão, mas a alma livre,/ Amor, desejo e fé me guardou sempre.”). Após a morte de D. Constança, o viúvo e a sua amada declararam que estão dispostos a tentar de tudo para ficar juntos, mesmo contra a vontade do Rei (pai do Infante), e a sacrificar-se por amor. Podemos compreender isto, não só pela fala de Castro, “Eu tomarei por doce a minha morte:/ Por piadoso amor, tal crueldade”, mas também pelo final do monólogo de D. Pedro, na segunda cena, em que este diz “Que antes morte que vida sem ti quero!”. A terceira cena começa com um monólogo do secretário, no qual podemos observar o seu ponto de vista em relação a esta situação, visto que este indica que o príncipe deveria deixar Inês para dar confiança ao seu povo (“Confiança há mister e ânimo livre/ Quem quiser resistir ao mau propósito/ Do Príncipe, em que está determinado./ Mas deixar de o fazer é vil fraqueza.”). Em seguida, explicando o que considera ser melhor, o Secretário tenta dissuadir a ideia do Infante de se casar com Inês, começando assim uma discussão com D. Pedro. Há alguns momentos em que o Coro aparece “comentando” o debate, revelando assim o conflito entre o amor e as razões de Estado, comprovando que a alma do Infante, ignorando a razão, se deixa levar pelo amor (“Oh! quão perigoso é qualquer princípio/ De mal, que um só descuido pode tanto,/ Que traz um ânimo alto a tal baixeza!”). Por fim, a disputa termina com o príncipe a responder ao seu Secretário que, independentemente dos seus argumentos, ele planeia fugir com Inês. No início do segundo ato, podemos encontrar hesitação entre as razões de Estado e os sentimentos de D. Afonso IV. Ele apresenta um conflito interno entre a força do destino e a realidade, dado que, na perspetiva do homem, D. Inês não devia ser morta. Contudo, enquanto Rei, este tem que ter em conta o que é melhor para a sua pátria que, segundo os conselheiros, será a morte de Inês, de forma a garantir a independência de Portugal e a afastar os castelhanos, independentemente da tristeza que isso causará ao seu filho (“pois que dirás daqueles que a seus próprios/ Filhos e a seu amor não perdoaram,/ Polo exemplo 3
A castro
comum e bem do povo?”). Como monarca, e considerando que estava a cumprir os seus deveres, o Rei decide então matar a mulher de seu filho, pedindo por isso a Deus que o perdoe (“Senhor, que estás nos Céus”). Já no terceiro ato, Castro tem um sonho em que é perseguida até à morte, tendo de deixar os seus filhos e o seu amor para trás. Depois deste cruel sonho, ela conta à Ama sobre a sua noite, criando assim um diálogo entre as duas. O Coro aparece novamente, agora a transmitir a sua tristeza e pena em relação ao futuro de D. Inês, informando-a, assim, do desejo de D. Afonso IV de lhe tirar a vida (“Tristes novas, cruéis, / Novas mortais te trago, Dona Inês. / Ah! Coitada de ti, ah! triste, triste! / Que não mereces tu a cruel morte/ Que assi te vem buscar.”). Por essa razão, Inês de Castro tenta fugir, mas acaba por ser apanhada pelo Rei. Para salvar a sua vida, assim que começa o quarto ato, Inês pede misericórdia ao Rei, apelando à sua bondade e usando como argumento para a sua salvação, o facto de que os seus filhos, e netos de D. Afonso IV, precisam de uma mãe (“Meu Senhor, / Esta é a mãe de teus netos. Estes são/ Filhos daquele que tanto amas. / Esta é aquela coitada mulher fraca,/ Contra quem vens armado de crueza”). A mulher apresenta muita resistência, o que leva o monarca a querer ceder e poupá-la (“Ó mulher forte! / Venceste-me, abrandaste-me! Eu te deixo. / Vive, em quanto Deus quer.”). Porém, depois dos comentários dos conselheiros do Rei e de uma parte do povo, que a desejam morta, ele acaba por declarar que, se a querem sem vida, ele aceita que a matem, com a condição de que não será ele a dar essa ordem (“Eu não mando nem vedo. Deus o julgue. / Vós outros o fazei, se vos parece/ justiça assi matar quem não tem culpa.”). Esta ação leva o Coro a comunicar ao Rei o que achou da sua decisão e a chorar a morte de Inês de Castro (“Choremos todos a tragédia triste”). No quinto ato, D. Pedro faz um monólogo onde expõe todo o seu amor por Inês o os seus planos de viver uma vida longa e feliz com ela (“Viviremos/ Muitos anos e muitos; viveremos / Sempre ambos nest’amor tão doce e puro.”). Infelizmente, depois do príncipe terminar a sua fala, o mensageiro entra em cena, indo até ele, e dá-lhe a notícia da morte de sua amada (“É morta Dona Inês, que tanto amavas”). A terminar esta tragédia romântica, com toda a sua mágoa, o Infante D. Pedro promete vingar -se do seu pai e de todos os que ajudaram a matar D. Inês, a sua inocente mulher (“Abra eu com minhas mãos aqueles peitos,/ Arranque deles uns corações feros,/ Que tal crueza ousaram; então cabe./ Eu te perseguirei, Rei meu imigo.”). A história que este livro conta é verdadeiramente interessante, uma vez que para além de apresentar um enredo atrativo, relata um acontecimento polémico da nossa história, sendo também sempre fiel ao que se diz que na realidade aconteceu entre D. Pedro e Inês de Castro. Um momento deveras aliciante, que põe os leitores a pensar, dando ainda mais brio à história, é a primeira reflexão feita pelo Rei, quando profere “Ó ceptro rico. A quem não conhece, / Como és fermoso e belo! E quem soubesse/ Bem quão diferente és do que prometes, / Neste chão que te achasse, quereria/ Pisar-te antes cos pés que levantar-te”, evidenciando assim que o poder pode ser enganador e levar à necessidade de tomar decisões muito difíceis, não sendo só uma honra, como também um possível fardo. Este tipo de observações, que levam uma pessoa a refletir, tornam qualquer obra mais apelativa. Este texto encontra-se ainda repleto de recursos estilísticos que lhe dão uma boa expressividade e dinamismo, para além de o tornar mais rico. Por mais que estes versos tenham sido, claramente, bem escritos, há sempre uns aspetos menos positivos. A escrita em português arcaico dificulta um pouco o entendimento do texto, em especial para um jovem, e alguns dos momentos da peça são um pouco longos. Por exemplo, a conversa sobre o sonho de Inês era demasiado longa e, por isso, enfadonha, fazendo com que o leitor se dispersasse. Para mim, esta passagem devia ter sido mais sucinta, transmitindo simplesmente os pontos mais importantes para a história. Felizmente, estes são aspetos que não diminuem, de forma alguma, a qualidade de Castro. Este livro de António Ferreira, que trouxe de volta à vida a tão conhecida tragédia de Inês de Castro, cumpriu com as espectativas. Uma obra interessante, cativante e bastante bem escrita que merece reconhecimento. Joana Barbosa
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O nome da rosa
O nome da rosa, Umberto Eco O Nome da Rosa, livro escrito por Umberto Eco. é a narração do monge beneditino Adso de Melk sobre acontecimentos que ocorreram numa abadia beneditina em Itália, no ano de 1327, quando Adso era um jovem noviço e acompanhava o seu mestre, o franciscano Guilherme de Baskerville. A ação divide-se em sete dias, que se subdividem segundo as horas canónicas, o que torna bastante interessante a obra, porque quase se consegue sentir, a cada momento, a sua atmosfera e luz. O autor também consegue destacar os aspetos da arquitetura, os detalhes da sua luz, forma e simbologia. Apesar de difícil, à medida que a narrativa avança vamos "entrando" cada vez mais no mosteiro. Guilherme e Adso têm a missão, atribuída por Abbone, o abade do mosteiro, de investigar a morte de um jovem monge copista, Adelmo. À medida que as investigações decorrem, aprofundam-se as questões teológicas que dividiam o clero nesta época e os dois personagens principais vão descobrindo uma teia de mistérios que envolvem o coração do mosteiro e a biblioteca. Desde logo a narrativa prende porque as capacidades dedutivas de Guilherme são muito interessantes e a descrição dos ambientes, personagens e ações, muito reais. Também os personagens, cada um à sua maneira, são muito ricos e cada um leva à descoberta de detalhes sobre o conhecimento da época e de como este conhecimento era importante. À medida que o enredo se desenvolve, levantam-se questões também mundanas, que quase conseguimos "ver" na angústia de Adelmo, na aflição de Berengário, na cobiça de Venâncio, na agudeza de Bêncio. Também conseguimos entender as grandes convulsões da época na religião através dos personagens: Ubertino, que guarda a pureza dos valores de S.Francisco; Jorge de Borgos, persistente defensor do rigor; Abbone, que tenta manter um mundo perdido, e Salvador, que representa o espírito da experiência do horror, mas que ao mesmo tempo atrai com uma espécie de humor e sabedoria popular. Adso é um personagem muito conseguido, porque quase que sentimos o seu coração palpitar quando sonha, quando tem visões, quando se perde de amores... À medida que se desenrolam os acontecimentos, vai-se formando a ideia desta obra proibida, que faz vítimas e, tal como Guilherme, queremos perceber o porquê. O autor dá-nos, através de Guilherme, verdadeiras lições sobre a ciência da época e das suas conversas com Severino e Nicolau, muito interessantes. As mortes sucedem- se e mais uma vez a dedução e análise das provas é muito boa, capta a atenção do leitor. Claro que episódios relacionados com os encontros entre os frades menoritas e os enviados papais dão um novo estímulo à leitura. Bernardo de Guy é uma personagem difícil de esquecer. Ficamos a ler de um fôlego e a esperar um milagre que salve Remigio, Salvador e a camponesa da fogueira. É uma parte do livro muito intensa, onde o sentimento de revolta cresce em nós pela impotência dos protagonistas, bem como do próprio Guilherme, em relação ao Inquisidor. A partir daqui precipitam-se os acontecimentos a maior velocidade e o mistério dissipa-se: Guilherme é astuto e salva Ubertino. Percebe que estes são tempos de mudança e chega cada vez mais perto... o guardião de uma obra que devia ser escondida para que se mantivesse a ordem estabelecida e o rigor. O guardião é o cego Jorge de Burgos, a obra, a Comédia de Aristóteles. O autor, através desta ficção, faz-nos compreender que, para manter o mundo tal como ele se apresenta, não se podem conhecer obras que o subvertam. Ironicamente escolhe o riso para que Aristóteles virtualize o lado humano do ser. E é quase dramático, entristece que tanta sabedoria, tanta beleza se percam no fogo no final do livro. Em síntese, com esta obra aliciante exploramos o passado, fazemos pontes para o presente e a análise dedutiva cativa a atenção desde "Brunello", o cavalo, ao Riso de Aristóteles.
Marina Pereira
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O nome da rosa
O livro que eu escolhi foi O Nome
da Rosa, de Umberto Eco. Foi um livro de leitura particularmente difícil, devido em parte a que demorou bastante tempo, mas valeu a pena. A história é cativante, e o mistério está presente do início ao fim. A Maria Marques obra relata um conjunto de crimes que aconteceram numa Abadia beneditina italiana, e o esforço de Guilherme de Baskerville, um antigo inquisidor, para resolver o mistério e descobrir o culpado por detrás destas heresias. As personagens são intrigantes e complexas, nunca se podendo dizer quais são as suas reais intenções, e é exatamente isso que torna este livro tão fascinante: nunca se sabe quem realmente quer o quê, quem está disposto a ajudar e quem está contra a investigação (dou o exemplo de Bêncio, uma personagem que me pareceu relativamente inofensiva, mas que veio a provar-se ser um belo empecilho á medida que a ação se desenvolveu). A inexperiência e inocência do protagonista, Adso, facilita a sua ligação com o leitor: enquanto este pouca experiência tem da vida devido à sua juventude, nós somos completos estranhos a este universo e tempo completamente diferentes dos nossos, e à medida que Adso vai descobrindo coisas sobre si próprio e sobre o mundo em que vive, os leitores vão começando a conhecer também um pouco esta realidade. A obra aborda algumas discussões interessantes, desde a querela entre o Papa e os franciscanos sobre o dever de pobreza dos clérigos, ou a incerteza com que Adso se depara com a natureza do amor após se apaixonar por uma rapariga completamente desconhecida, até ao culminar da ação, em que Guilherme e Jorge têm aquela última discussão sobre a natureza divina (ou infernal) do riso. Apesar de a ação se prolongar por apenas uma semana, dá a impressão de que Adso e Guilherme passam na abadia quase um ano. Sinceramente, por melhor que o livro seja, não há como negar que a ação se desenrola bastante lentamente, o que pode afastar alguns leitores mais impacientes. As descrições do espaço são soberbas, desde a beleza da Abadia em si até á misteriosa biblioteca e o seu sistema de orientação quase indecifrável. Já vi o filme, e gostei bastante. Os cenários e locais são fabulosos, adorei a biblioteca, tem um ar de labirinto muito mais caótico e confuso do que quando eu a imaginei ao ler o livro. Acho que está bem realizado, e, apesar de existirem algumas mudanças, faz justiça à história. Só as alterações feitas ao final é que são significativas. Mesmo assim, concordo que o fator dramático adicionado é de alguma forma mais cativante, pelo menos sob o formato de filme. Além disso, soube bastante bem ver Bernardo Gui morrer, e a emoção da despedida final entre Adso e a rapariga misteriosa também oferece alguma emoção importante. No livro, este tipo de sentimento é transmitido através da narração, mas num filme seriam necessários monólogos ou algo do género (o que seria bastan-
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O nome da rosa
te aborrecido) e por isso é que deve ter sido necessário recorrer a ações, mesmo que alterassem um pouco a história. A única queixa que tenho é em relação á personagem de Ubertino. Sinto que quiseram misturá-lo com Alinardo, um velho monge que no livro é descrito como quase demente devido à idade. Isto acaba por retirar alguma da seriedade e intelectualidade a Ubertino, e simplesmente não me parece certo. No que toca aos atores, também fiquei bastante satisfeita (destaque para Sean Connery, que fez o papel de Guilherme de Baskerville). A única dificuldade foi o facto de Christian Slater já estar gravado na minha mente como uma certa personagem de um certo filme para jovens da mesma altura, e ás vezes tornar-se ligeiramente difícil distinguir Adso de um assassino adolescente. No que toca à afirmação “uma imagem vale mais que mil palavras”, vou ter que discordar, pelo menos no que toca a este filme. Com ou sem alterações, o filme realizou um ótimo trabalho ao adaptar o livro, mas mesmo assim não o consegue substituir. O livro relata pormenorizadamente os acontecimentos que se dão na abadia ao longo de seis dias, sob o ponto de vista de Adso. Nenhum filme conseguiria retratar assim a história: incluir pormenores de todas as discussões importantes que se dão, incluir todas as personagens que foram excluídas, etc. requereria um filme muito mais longo e Maria do Ó de certa maneira confuso. Quando se escreve um livro há certas liberdades a que o escritor se pode dar, e que mais tarde serão o pesadelo de qualquer pessoa que tente adaptar a história para o cinema. Para fazer a história mais simples há certas personagens que têm que ser cortadas, e os seus papéis atribuídos a outras personagens (ou simplesmente cortados); e acontecimentos e monólogos que têm que ser encurtados. Neste caso, acho que a única maneira de experimentar a história de “O Nome da Rosa” melhor do que através do livro, seria efetivamente vivê-la.
Carolina Frischknecht
A obra que selecionei para este trabalho foi O Nome da Rosa, escrita pelo filósofo, medievalista e se-
miólogo Umberto Eco e publicada em 1980. Esta obra foi mais tarde adaptada para o cinema por JeanJacques Annaud, em 1986. É uma obra extensa, repleta de mistério, que tem lugar numa abadia beneditina italiana do séc. XIV, cujo protagonista é um monge chamado Guilherme de Baskerville. Guilherme e o seu ajudante, Adso, chegam à abadia com a missão de investigar uma morte que lá ocorrera. Toda a ação da obra desenrola-se no período de uma semana, ao longo da qual a cada dia aparecia um monge morto. Paralelamente à ação, Adso ia-se questionando sobre aquilo que igreja representava e as diferenças entre os beneditinos e os franciscanos, o que demonstra a intenção do autor de mencionar as diferenças internas da igreja. Cada morte tinha em comum a presença de tinta preta no dedo indicador e na língua, o que, desde o início, me deixou bastante intrigado. O desfecho foi inesperado e demonstra o quão dedicadas à igreja eram as pessoas naquela época, ao ponto de matarem para evitar comportamentos proibidos. As personagens são complexas e a certa altura cada uma demonstra comportamentos suspeitos. Esta obra é interessante porque aborda diferentes temas. Entre eles, o que mais me prendeu a atenção foi a forma como a igreja encarava o valor da diversão e do riso. Depois da leitura da obra, aproveitei, e vi também a adaptação para o cinema. Posso concluir que é uma adaptação fiel à obra original e que uma imagem pôde substituir extensas descrições presentes no livro.
Ricardo Marques
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As cidades invisíveis
As cidades invisíveis, Ítalo Calvino
O
livro que escolhi, As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, apresenta as descrições das cidades que o viajante Marco Polo ilustrou ao imperador Kublai Khan. Marco Polo fala ao imperador das cidades do ocidente, maravilhando-o com as suas descrições. Estas cidades, no entanto, existem apenas na imaginação do mercador veneziano. Com as histórias do viajante, Khan tinha objetivo de construir um império baseado nos relatos. Na memória do melhor explorador do mudo viaja o homem mais poderoso da terra pela vastidão de um império. Marco Polo guia Kublai Khan através das paisagens que lhe pertencem, mas que nunca poderá ver com os próprios olhos. Marco Polo descreve cidades imaginárias, que têm nomes de mulheres como: Leónia, Cecília, Pentesileia. Desta forma, inicia uma descrição detalhada das 55 cidades pelas quais teria passado. Essas terras são apresentadas, dividindo-se segundo 11 temas: as cidades delgadas; as cidades e a memória; as cidades e as trocas; as cidades e o céu; as cidades e os mortos. Sinceramente, nem sei bem porque escolhi este livro. Apenas que o titulo foi sugestivo e achei-o interessante quando li a sua sinopse. Não é um livro muito fácil de descrever. Trata-se da colocar em palavras de uma imaginação prodigiosa. O livro não tem propriamente uma história, para além de termos Marco Polo a falar sobre várias cidades ao imperador mongol. As várias cidades vão desfilando, agrupadas por temas. A grande parte das cidades descritas são completamente surreais, desde cidades debaixo de terra ou de água, a cidades suspensas, tudo passa pelo pensamento de Marco Polo ao descrevê-las ao imperador, mas, para alem do surrealismo físico, estas cidades são também descritas através do sentimentos dos seus habitantes, dos quais conhecemos os pensamentos e estados de espirito, que frequentemente se refletem na própria cidade descrita. Este livro foi de difícil leitura, uma vez que o surrealismo é por vezes difícil de compreender, principalmente para uma mente pragmática como a minha. No entanto a forma como está escrito é simplesmente genial, faz-nos viajar, imaginar e pensar. Pensar que todas as cidades descritas podem ser lados de apenas uma cidade, quem sabe a nossa, onde vivemos o nosso dia a dia e não nos apercebemos muitas vezes das nuances e estados em que se encontra. Para mim, a grande conclusão a tirar deste livro é que a imaginação tem muita força.
Dinis Pedro
O
livro selecionado por mim dos presentes no plano de leitura foi As cidades invisíveis, de Ítalo Calvino. Este autor nasceu no dia 15 de outubro de 1923 e faleceu no dia 19 de setembro de 1985, tendo sido um dos escritores mais importantes do século XX. Uma das suas obras mais conhecida é, precisamente, As cidades invisíveis" (Le cittá invisibili), publicada em 1972. Este livro incita-nos a refletir sobre as nossas cidades modernas, pois, ao longo do texto, Marco Polo dialoga com Kublai Kan (imperador dos tártaros) sobre diversas cidades do ocidente pelas quais viajou. Estas cidades fascinantes existem somente na imaginação do mercador veneziano, desenvolvendo, assim, no livro uma ideia atemporal de cidade, que implícita ou explicitamente, abre um debate sobre a cidade moderna. Sinceramente, o livro não é bem o meu estilo, é demasiado descritivo, podendo-se quase comparar a um catálogo de cidades. Porém houve cidades sobre as quais gostei de ler e que me prenderam a atenção. Também não aprecio muito o facto de o livro não ter propriamente uma história, sendo o diálogo de Kublai com Marco o mais perto disso. O lado positivo deste livro é puxar pela nossa imaginação e colocar-nos a sonhar sobre estas cidades e a refletir como seria o mundo se as cidades fossem, realmente, assim. Em suma, é um livro agradável de ler, porém com partes mais maçadores que outras.
João Silva
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Vários
Adeus às armas, Ernest Hemingway O livro que escolhi analisar foi O Adeus às Armas (A Farewell to Arms), um romance histórico escrito por Ernest Hemingway. O autor nasceu nos Estados Unidos da América, embora tenha vivido na Europa, o que decerto influenciou a sua escrita pois esteve em contacto com grandes cérebros artísticos. Este livro é um dos muitos sucessos do autor, sendo considerado o melhor romance sobre a Primeira Guerra Mundial. A história retratada neste magnifico livro é a de Frederic Henry, um norte-americano ao serviço do exército italiano durante a Primeira Guerra Mundial. Frederic, condutor de ambulâncias, apaixona-se por Catherine Barkley, uma enfermeira inglesa, e a história desenvolve-se num romance trágico e emocionante. Esta história é contada na perspetiva de Frederic, este sendo este o narrador. Maria do Ó Esta obra é extremamente, fascinante, captando a atenção do leitor, despertando-lhe emoções como a alegria, a tristeza, a preocupação/ansiedade, e até mesmo a confusão, devido ao rumo da história sofrer alterações das quais não estamos à espera. O facto da ação se desenrolar num cenário de guerra reforça no leitor o sentimento de incerteza relativo ao “futuro” das personagens, nunca sabendo o que vai “encontrar” no capítulo seguinte. O aspeto que mais valorizo neste livro é o poder das descrições feitas sobre os locais onde decorre a ação, pois dessa maneira o leitor consegue imaginar, pormenorizadamente, os cenários onde esta se desenrola. Outro ponto que considero bastante interessante é o facto de as informações pessoais das personagens serem desvendadas ao longo do livro. Eu recomendo a leitura deste livro, pois a história é bastante cativante, e o livro está extremamente bem escrito. Quem se propuser fazê-lo, deverá preparar-se para a mudança constante de emoções disputadas ao longo da sua leitura. Pelo facto de o livro ser uma tradução, não foi possível analisar, por completo, a linguagem utilizada, motivo pelo qual pretendo ler a obra na sua língua original, onde este aspeto se tornará mais pertinente e relevante, não deixando a tradução de ser, de qualquer forma, excecional. Eduarda Peixoto
Encomendação das almas, João Aguiar Na minha opinião, a obra Encomendação das Almas é um livro muito bom. Adorei a imaginação do escritor, especialmente no processo de se transformar em “Seculares das Nuvens” e na criação da personalidade das personagens, pois este é um livro que precisa de vários pormenores bem explicados para que se consiga compreender bem. Apesar de ter ficado um pouco triste pelo final, apreciei muito todos os pormenores. Foi um livro que me agarrou à história do início ao fim, e por isso tenciono ler mais livros deste autor. “A Encomendação das Almas” é um livro sobre a amizade entre duas pessoas muito diferentes, que ultrapassam muitos desafios para conseguirem viver à sua maneira, sendo eles próprios. Zé da Pinta é um rapaz especial, com uma personalidade única, que adora criar e aprender sobre lendas e a partir delas criar conspirações. Gonçalo Nuno é um antigo empresário que só quer viver sozinho, independente e longe da família. Recomendo a leitura. Foi um livro que me fascinou, não só pela história, mas também pela escrita descritiva do autor. Fiquei surpreendida com o final do livro, o que na minha opinião é um aspeto positivo.
Mariana Domingues
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Romeu e Julieta
Romeu e Julieta, Shakespeare Ato I
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ntes do Ato I, há um prólogo que resume a obra toda em si, mas como não especifica nada e só fala levemente sobre uma morte entre dois amantes que junta duas famílias (“Perde a vida um par de desditos amantes/ Que nos azares de um destino comovente/ Em sua morte enterrem a briga dos pais”) cria em mim um certo suspense antes da peça iniciar. Neste prólogo fiquei, também, a saber que a ação se passava em Verona. Logo na cena 1, Shakespeare passa a ideia de que as mulheres são mais fracas que os homens (“[...] por isso é que as mulheres, que são as bolhas mais fracas, mais depressa se encostam à parede;”- Sansão, ato I, cena 1 e “Com os homens, as mulheres crescem.”- Ama de Julieta, ato I, cena 3). Isto remonta aos ideias do século em que o Hamlet foi escrito (séc. XVI), e embora eu não seja da mesma opinião não os discrimino, pois sei que os direitos da mulher só foram alcançados mais “recentemente”. Outro aspeto que achei importante mencionar, foi o facto de Romeu neste ato ser apresentado como um filho e herdeiro de um monarca que é verdadeiramente apaixonado e, por isso, sofre imenso de amores (“Pois bem, ó amor de ódio, ó ódio de amor, [...] pena de chumbo, fumo brilhante, fogo frio, saúde enferma, sono insone que não é o que é: Este amor eu sinto, sem nada deste amor sentir”- Romeu, ato I, cena 1). No entanto, o mesmo apaixona-se muito facilmente. Na cena 5, Romeu conhece Julieta num baile de máscaras e é quase como um “amor à primeira vista”, embora estes não saibam as identidades de cada um. Assim que são apresentados, este amor passa a tormenta: “Ela é Capuleto? Que fatura! A minha vida é dividida ao inimigo.”- Romeu, ato I, cena 5 ; “Nasceu meu único amor de meu único ódio [...]. Estranho amor em mim nasceu para que o odioso inimigo ame pudesse eu”- Julieta, ato I, cena 5. A meu ver, é está cena que começa a tornar a ação mais intensa e interessante. Lara Mateus
A
ntes do primeiro ato está o prólogo, que situa a ação em Verona e dá a conhecer um pouco do enredo: “Das entranhas destes dois inimigos, nascem dois amantes, cuja funesta estrela e lamentáveis desventuras, a luta dos seus maiores há- de enterrar nos seus túmulos.” Na cena 1, o autor transmite a ideia de que a mulheres são fracas :”(…); por isso as mulheres que são vasos fracos, se levam à parede”. Na época estes comentários eram bastante normais; contudo, não posso deixar de discordar deles. Logo no início da peça, podemos perceber que Romeu é um romântico incurável: “O amor é um fumo feito do vapor dos suspiros; satisfeito, é fogo a brilhar nos olhos do amante; contrariado, é um mar de lágrimas(…)”Romeu. Antes de conhecer Julieta estava perdidamente apaixonado por Rosalina, mas esta jurou castidade por isso Romeu tenta esquecê-la. Na cena cinco, Romeu comparece a um baile de máscaras em casa dos Capuletos, onde conhece um novo amor: Julieta. Os dois apaixonam-se de imediato e logo depois descobrem que são de famílias rivais.” Uma Capuleto! Oh! Minha queridíssima credora! A minha vida pertence à minha inimiga!”-Romeu. Apesar desta descoberta o amor não desvanece, mas como irá reagir a família a esta aliança? Carolina Jesus
Ato 2 O segundo ato inicia-se logo após o fim da festa.
Romeu pula o muro da casa dos Capuleto e, durante as declarações de amor, abdica o seu nome: ” D´ora em diante não volto a ser Romeu”. É presumível que Romeu está cego de amor, e de seguida os jovens trocam votos. Posteriormente Romeu corre a Frei Lourenço para marcar o casamento para a mesma tarde. No mesmo dia, à tarde, os dois casam-se secretamente na cela de Frei Lourenço, encerrando o ato. Posso dizer que Romeu está a ser imprudente, pois ele só conhece Julieta há um dia e logo a seguir, casa com ela? Ele é muito impulsivo e Julieta também! É verdade que o amor pode colidir connosco de uma tal maneira que pensamos que aquele é o amor das nossas vidas mas pode ser meramente um desejo forte, uma emboscada perigosa, ou seja, acaba sempre por ser falso e se continuarmos a andar nesse caminho cego os resultados serão desastrosos. António Anghel
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Romeu e Julieta
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minha opinião geral sobre a peça é relativamente boa, não consigo encontrar nenhum ponto negativo a apontar, só pontos que a enriquecem. Desde o início que me deparo com situações que atualmente são um pouco intoleráveis, como, por exemplo, o machismo ( já estava tão assente na sociedade que a Ama, sem pensar, considerava o homem como um ser superior). Desta maneira, entendo que a nossa sociedade já evoluiu desde aí! A ação é normalmente hiperbolizada, o que faz com que sejam transmitidas ao leitor sensações e sentimentos, apesar da leitura não ser muito fácil (devido ao Inglês da época que foi traduzido para o livro). Por fim, um dos pontos mais fortes, para mim, é o facto de o livro me ter transmitido uma mensagem: ao vermos alguém como inimigo, as ações que temos para com essa pessoa podem não a atingir em si, mas talvez a alguém de quem nós gostamos, havendo assim danos colaterais desnecessários. Por isso, qual é a necessidade de haver conflitos enquanto podemos aproveitar a vida? Nesta caso, se não houvesse problemas entre as famílias Capuleto e Montéquio, Romeu e Julieta poderiam ter aproveitado mais a vida, desfrutando do seu amor, sem que nenhuma desgraça acontecesse.
Lara Mateus
A
obra Romeu e Julieta, de Shakespeare, surpreendeu-me bastante pela positiva. No princípio não me pareceu muito interessante, mas, à medida que a ação se foi desenrolando, cativou a minha atenção. Esta obra retrata a história de dois jovens de duas famílias rivais de Verona, Romeu e Julieta. Ambos são bastante sentimentais e procuram o verdadeiro amor. No início da peça Romeu está perdidamente apaixonado por Rosalina, mas esta jurou castidade, portanto os dois não podem ficar juntos. Numa tentativa de esquecer Rosalina, Romeu vai a um baile, onde conhece Julieta, e os dois apaixonam-se de imediato. Decidem casar e a partir daí o seu romance torna-se mais intenso e problemático. Romeu mata Tebalto e parte para evitar ser executado, enquanto Julieta é prometida a Páris. Disposta a vingar o seu amor por Romeu, Julieta e Frei Lourenço engendram um plano para os dois amados fugirem juntos, o qual acaba tragicamente, com a morte de ambos. Fazem parte desta peça várias personagens. Na minha opinião a que tem o papel mais importante, não contando com os dois amados, é Frei Lourenço, pois casou Romeu e Julieta e está sempre disposto a ajudá-los a ultrapassar as dificuldades da relação. Apesar de serem bastantes, os restantes personagens acabam todos por interagir entre si e contribuir para o final, o que me agradou bastante. Também gostei do facto de podermos ficar a conhecer mais sobre as relações amorosas de antigamente e compará-las com as dos tempos que correm; por exemplo, quando os dois amados decidem casar-se uns dias depois de se conhecerem, podemos verificar que naquela época o casamento não era tão ponderado como agora. Concluindo, Shakespeare consegue retratar todos os sentimentos característicos de um amor ardente e o dramatismo das rixas entre famílias com muita intensidade e deixa o leitor a desejar saber o final. Esta obra tem muitos outros aspetos positivos que não referi e recomendo-a a todos, especialmente aos que gostam de romance. Carolina Jesus
A
chei bastante atrevido o fim da peça, visto que é muito mais que uma história, é uma ideia de que precisamos de um alguém para viver, e se não tivermos esse alguém a vida não vale a pena. Isto acaba por ser muito delicado para as pessoas com dificuldades psicológicas, pois pode levá-las ao extremo. É verdade, a peça é muito boa e rica em temas que poderão ser objeto das mais variadas discussões, contudo não acho que na obra surja um ideal de amor. A obra aborda outros assuntos que devem ser discutidos, pois são muito relevantes, como a obediência aos pais, visto Julieta estar sujeita a casar-se com um desconhecido contra a sua vontade (“ Dom Páris, vou fazer uma arriscada oferta/ Do amor da minha filha.”) e ainda ser tratada como um negócio Eu sei que Capuleto queria o melhor para a sua filha, porém o su procedimento não está certo e, com muito desgosto meu, nos dias de hoje, casos semelhantes ainda acontecem. Outro assunto abordado é o machismo, como a Lara disse. Antigamente era natural este tipo de atitude convencional; porém, com a evolução do ser humano, esta atitude vem-se reduzindo, embora ainda esteja presente hoje em dia. E, por fim, a rivalidade e a disputa entre as famílias. Concordo com a Lara, se as famílias Capuleto e Montéquio tivessem chegado a um entendimento, ninguém estaria morto. Tenho a certeza de que a obra aborda muitos outros conceitos, por isso devemos ouvi-los e debatê-los, pois quem sabe podem fazer a diferença na vida de uma pessoa. Admito que tive alguma dificuldade na leitura, porém achei interessante e muito curiosa a forma de como Shakespeare escrevia as suas obras, admiro bastante o seu trabalho. António Anghel 11
Vários
R
omeu e Julieta é uma obra de Shakespeare, que não só fala sobre amor proibido, como também transmite outras mensagens. A história baseia-se em dois jovens que pertencem a famílias inimigas, sendo Romeu o único descendente da família Montéquio e Julieta a única descendente da família Capuleto. Estes apaixonam-se e casam em segredo. No entanto, Romeu envolve-se numa rixa e ao matar Tebaldo, primo de Julieta, é exilado de Verona. Após este trágico acontecimento, Capuleto vê-se obrigado a casar Julieta com o Conde Páris, por esta ser a única herdeira, mas, ao saber de sua decisão, Julieta recorre a frei Lourenço e pede uma poção que a faça parecer morta. Ao ver a sua filha morta, o casamento transforma-se em funeral e, quando esta notícia chega aos ouvidos de Romeu, este decide envenenar-se ao lado da sua amada. Logo após ter tomado veneno, Julieta acorda e, ao deparar-se com o seu marido morto ao seu lado, decide apunhalar-se. Por fim, devido ao ódio entre duas famílias, um amor que poderia ter vindo a ser tão belo torna-se trágico. Em primeiro lugar, a escrita de Shakespeare tornou a leitura desta obra um pouco difícil, mas decerto deu um certo brilho à história. A utilização da hipérbole fez com que fossem transmitidas sensações e sentimentos muito diferentes entre si. A meu ver, o autor transmitiu, também através da escrita e obra, certos comportamentos da época que agora são menos frequentes e talvez um pouco intoleráveis, como o facto de a Ama acreditar que o homem é um ser superior às mulheres, o que atualmente é chamado de machismo, e Julieta casar tão nova e os pais dizerem que na idade dela, já a tinham como filha. Em segundo lugar, ao longo da leitura foram-me passadas certas mensagens, como por exemplo, “o fruto proibido é o mais apetecido”, pois Romeu poderia ter escolhido qualquer outra mulher, mas escolheu logo a filha do inimigo da família. Assim, o facto de às vezes estarmos tão cegos pelo ódio que nem nos apercebemos de outro valor maior, como o amor, poderá estar a florescer diante de nós, pois ambos os pais não repararam que os filhos estavam apaixonados, porque estavam tão cegos pelo ódio que tinham um pelo outro que não conseguiram impedir que uma tragédia acontecesse. Em terceiro lugar, fiquei bastante surpreendida pelo desenvolvimento, pois apesar de Romeu e Julieta ser uma peça bastante famosa, nunca tinha lido o livro nem visto o filme, por isso tinha altas expectativas para a obra. Apesar de não ser o que esperava, fiquei ainda com um melhor parecer sobre este livro, pois havia pormenores que só o livro tinha, tendo em conta que, após a leitura, confrontei os dados com o filme. Concluindo, recomendo Romeu e Julieta de William Shakespeare a todos os leitores que gostam de romances e dramas, mas sugiro-o mais a partir da adolescência, devido à escrita, que pode ser um pouco complicada para alguns. Lara Mateus
A cidade dos deuses selvagens, Isabel Allende
Gostei deste livro porque achei a história muito interessante. É um livro que
prende bem o leitor, porque tem muita ação e também aborda um tema muito importante, que é a preservação da natureza e a luta para por fim à exploração indiscriminada de recursos, na Amazónia, que, quase 20 anos depois de o livro ter sido publicado, continua a ser um tema atual, porque, infelizmente, é difícil acabar com problemas como a desflorestação, que destroem a maior floresta do mundo, e o local onde habitam muitas tribos de índios que têm vindo a desaparecer ao longo do tempo devido a estes problemas, assim como também devido a doenças deixadas por quem se aproveita do local. A combinação deste tema com a história em si é boa, porque o livro não só alerta para um problema a nível ambiental, como também tem a história da Besta e as suspeitas que se vão criando sobre cada uma das personagens que vão criando suspense, e tornam a história muito imprevisível: por exemplo, a maneira como Karakawe, que desde o início era considerado suspeito e todos achavam que trabalhava para Mauro Cárias, afinal estava lá para o impedir de por o seu plano em prática, e Omayra Torres, que parecia ser muito boa pessoa e quem mais tinha interesse em proteger os índios, e afinal era a culpada da extinção de muitas tribos. Concluindo, gostei deste livro por combinar uma história fictícia com um tema da atualidade, numa abordagem que nos alerta e nos faz pensar não só na sobrevivência de tribos e habitantes de lugares longínquos e que por vezes parecem apenas habitar o nosso imaginário, mas sobretudo na gestão, distribuição e exploração dos recursos, alguns não renováveis e dos quais, de alguma forma, mesmo parecendo longe, todos nós dependemos, como a Amazónia.
Maria Rita Aleixo
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As viagens de Gulliver
As Viagens de Gulliver, Jonathan Swift
As Viagens de Gulliver relatam as viagens realizada por Gulliver, ao longo das quais este vivenciou coisas sobrenaturais, viveu várias aventuras fictícias à realidade humana. Swift com estas apresentações, pretende fazer críticas à sua sociedade, utilizando a sua ironia. Lemuel Gulliver é o narrador e ao mesmo tempo a personagem principal desta obra. “As Viagens de Gulliver” é dividido em quatro viagens, cada uma delas com suas particularidades, com partes cómicas e partes sérias. São estas viagens: “Uma Viagem a Lilliput”, onde o autor demostra a realidade entre Inglaterra e França, uma sociedade que discrimina as coisas que não têm muito valor; “Uma Viagem a Brobdingnag”, através da qual critica a Inglaterra, dizendo que esta não tem competência para escolher os seus representantes; “Uma Viagem a Laputa, Balnibarbi, Luggnagg, Glubbdubdrib e Japão”, em que o autor critica os cientistas e filósofos, que se preocupavam muito com a pesquisa, e quase nada com a prática; “Uma Viagem ao País dos Houyhnhnms”, em que Swift demonstra, através da metáfora, que qualquer animal tem maiores capacidades de governar um país que os humanos. Nesta obra o leitor explora a mentalidade do cidadão inglês do século XVIII que refletia os acontecimentos da época. Swift, além atacar a Inglaterra da época, através das suas sátiras, denunciava as misérias morais da humanidade. Além de desmascarar a humanidade e demolir seus falsos valores (seu objetivo prin-
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cipal). As quatro viagens formam uma série em que a visão do mundo se vai tornando cada vez mais escura. Representam estágios da desilusão de Gulliver, que se vai mostrando tão obcecado pelas faltas genéricas da humanidade que não consegue apreciar as virtudes dos indivíduos. Deste modo, Swift conseguiu representar muito bem a sociedade da altura, através destas aventuras fictícias. Como já foi referido, o autor transmite, através do texto, uma crítica ao homem e aos seus ideais. Valorizo muito este aspeto, porque esta obra foi escrita num século (século XVIII) em que não existia a democracia tal como a vivemos atualmente, o que faz com que sinta um enorme orgulho por ter lido uma obra de um autor que tem muita coragem e não tem medo de represálias. Neste contexto, naquele século, a burguesia tinha uma grande afeição sobre histórias de viagens e aventura, o que Swift sabia muito bem, e por isso mesmo usou a aventura para escrever um livro a criticar o seu regime. Outro aspeto que valorizo é que Swift tenta mostrar ao mundo a consciência não apenas dos maus tratos aos irlandeses, mas também da escravatura e da falta de liberdade em geral da sociedade da época, o que caracteriza este escritor como um muito bom defensor dos direitos humanos, o que para mim é de enorme valor, principalmente para alguém que vivia na época em que se encontrava. Também valorizo a sátira de Swift, pois este atacava politicamente a situação da Inglaterra, questionando o seu governo sem descanso e ironizando o caráter inglês, o que mostra que o autor estava sistematicamente a demonstrar o seu descontentamento com o governo inglês, criticando-o e mostrando ao povo aspetos que esta classe não conseguia observar, o que na minha opinião é uma ação que demonstra espírito crítico. Da mesma maneira, valorizo o modo como Swift escreveu esta obra, uma vez que, ao longo deste livro verificamos que a sua estrutura geral é narrativa, que é intercalada com momentos de descrições detalhadas e de diálogos, o que faz o leitor entrar na história, ou seja, a ficção presente torna-se muito convincente, o que provocará a enorme imaginação por parte do leitor. Eu próprio confesso que imaginei muitas peripécias, ao longo da leitura, o que para mim é muito importante, pois desenvolve a minha criatividade. Na minha opinião, o elemento mais valioso que se encontra em As Viagens de Gulliver é a visão da humanidade de vários pontos de vista, porque através da análise das duas primeiras viagens de Gulliver, consegue-se observar que, a cada viagem, o protagonista sente a necessidade de se adaptar aos locais onde se encontra. Tal verifica-se quando ele chega a Lilliput, é considerado um gigante e torna-se um ser ameaçador perante os outros; quando se encontra
As viagens de Gulliver
em Brobdingnag, onde o seu tamanho em relação aos nativos daquele país é bastante reduzido, demostra a sua insegurança naquele local. Eu próprio sou exemplo dessa mesma adaptação de Gulliver, pois quando estou num meio que frequento habitualmente, sinto-me confortável e confiante, enquanto se me encontrar num meio “novo” para mim, tenho uma sensação de insegurança e desconforto, ou seja, como Gulliver se sentia, grande ou pequeno, dependendo do local onde se encontrava. Para completar, creio que Swift através desta sátira, procura fazer uma reflexão acerca do mundo em que vive, criticando o Homem num todo. Considero que o autor desta obra elaborou um trabalho muito bom, pois conseguiu, através desta história, bastante apelativa, mostrar como era a realidade da sociedade na Inglaterra e no resto da Europa. Também acho que a obra é adequada a qualquer faixa etária, especialmente aos amantes de aventura e ficção e aos interessados em História, em saber como era a sociedade do século XVIII. Miguel Martins
Maria do Ó
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livro que li foi As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift. Este relata pormenorizadamente algumas das incríveis viagens que o autor pôde vivenciar ao longo da sua vida. Este usa um discurso na primeira pessoa, encarnando assim a personagem de Lemuel Gulliver, mais conhecido como Gulliver. Ao ler este livro, não pude ficar indiferente a alguns aspetos positivos. Gostaria de destacar desde já o facto de ter prezado bastante a linguagem que o autor adotou, pois este, ao usar uma linguagem coerente, acaba por ser acessível a pessoas de diferentes idades. Reparei também que, ao longo da história, o autor faz algumas paragens, onde faz referências ao leitor, acabando assim não só por captar mais a atenção para a história, como também por simular um simples diálogo entre o autor e o leitor (pelo menos foi o que eu senti: “Não seria oportuno, por vários motivos, molestar o leitor com pormenores das nossas aventuras”; “aqui me despeço amavelmente dos meus leitores”. Ao longo da minha leitura, pude observar também que o autor tenta, através de pequenos relatos, criticar a sociedade daquela época (séc.XVIII), e para complementar esta afirmação, nada melhor como a crítica que este faz ao povo de Lilliput, dizendo que vivem sem qualquer liberdade e sempre com medo de quebrar lei, pois, naquele país, quem não a cumprisse, ou era castigado ou condenado à morte : “Entre eles, a ingratidão é um crime capital, […] porque, pensam eles, aquele que paga com maldade ao seu benfeitor tem de ser necessariamente um inimigo da humanidade, […] e, portanto, esse homem não merece viver”. Acrescento, assim, que gostei bastante de ler este livro, não só pelas razões que mencionei anteriormente, mas também por ter apreciado o método que o autor adota, sendo através do uso da ação e da aventura que criticam a época do séc. XVIII. Estando este género de livros dentro das minhas preferências, acabou por ser uma leitura agradável. Além disso, o facto de a história estar tão bem escrita, a mim, pessoalmente, assim que começava a ler era difícil parar, pela simples razão de esta me ter suscitado bastante curiosidade em saber o que iria acontecer nos capítulos seguintes. Para finalizar, recomendo a leitura do livro As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, a todas as pessoas, sejam estas jovens ou mais velhas, interessadas em aventuras, ação ou até mesmo em história, que garanto que irão adorar o livro tanto quanto eu. Ana Azevedo
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A metamorfose
A Metamorfose, Franz Kafka Ana Machado
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leitura do livro A Metamorfose, uma obra de Franz Kafka, trata-se de uma experiência interessante, pois a história assemelha-se a uma montanha-russa em que passamos o tempo inteiro a subir num clima intenso de ansiedade com a família de Gregor Samsa, só para nos últimos momentos aproveitarmos a descida e o desaparecimento destas preocupações todas, com um final da viagem calmo e promissor à nossa espera. Para mim, esse aspeto foi o que tornou este livro numa bela casa de partida, local onde, certamente, irei passar novamente. A habilidade de Kafka para manter uma intensa e provocante história não só incentiva uma leitura contínua por parte do leitor, como também nos põe no lugar da família, e sentimo-nos confinados no casulo, que é a história, até ao final. Final este onde, por sua vez, nos libertamos, como seres mudados e evoluídos, com uma nova visão sobre a mudança e consequências da opressão e esforço humano excessivo. Penso que a metamorfose de Gregor é a transformação deste na sua essência animal, ou seja, numa essência espezinhada pela sociedade, uma mera "criatura do patrão, sem qualquer dignidade ou inteligência".. Gostei do pormenor das descrições detalhadas, feitas por Kafka apenas nos pontos necessários. Estas descrições fazem-nos sentir tão repugnados como os próprios elementos da família e, do ponto de vista de um leitor de ação e apreciador de uma boa história, a não muita frequência com a qual estas ocorrem é simplesmente perfeita. A obra, de um ponto de vista filosófico, é uma clara critica à sociedade, elaborada de maneira ridiculamente absurda e exagerada, pelo que Franz Kafka fá-lo de forma a "brincar" com o Absurdo. A principal crítica feita por Kafka gira em torno de ideias diretas, como a diferença de opiniões da sociedade, dependendo do custo ou do benefício que o alvo de opiniões traz para a mesma. Esta ideia é obviamente representada através da diferença e mudança de estado de espírito de cada elemento da família em relação a Gregor, antes e depois de se aperceberem de que este se tornou num fardo. Outra ideia menos direta criticada/observada por Kafka relaciona-se com a desconexão entre o corpo e espírito do ser. Com a metamorfose de Gregor, o corpo deste altera-se. Porém, a sua linha de pensamento mantém-se a mesma. Esta diferença provoca um conflito no corpo de Gregor. Por exemplo, quando Greta, na segunda parte, o alimenta com uma gamela de leite, este surpreende-se quando percebe que a sua bebida favorita lhe provoca enjoos, "(...) o leite, que até então fora a sua bebida favorita, e fora por isso que a sua irmã lho tinha trazido, não lhe sabia a nada, foi mesmo com alguma repugnância que se desviou da gamela (...)". Esta diferença entre a mente e o corpo acompanha Gregor ao longo da história e verifica-se em muitas mais situações, e torna-se evidente o contraste entre o corpo animalesco de Gregor e o facto de este continuar a pensar constantemente no trabalho. Notei, ou, pelo menos, senti, que as críticas dirigidas à sociedade eram acompanhadas por uma suave pinga de ódio pela mesma. Após alguma pesquisa sobre a matéria, descobri que Kafka sofreu uma infância abusada, tanto pelo pai, como por todos os elementos da sociedade, sendo talvez esta a razão da descrição absurda desta e das críticas carregadas de um certo rancor. Pessoalmente, como um admirador do absurdo e do surreal, desfrutei de cada página deste livro, experimentei com repugnância as descrições fantásticas e contrastantes, mas com entusiasmo e ansiedade por saber que caminho é que é que a história iria tomar na folha seguinte. Foi, deveras, uma obra que me "metamorfoseou" num ser humano mais sábio e atento ao ridículo da vida e aos limites perigosos da mente humana.
João Tavares
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Capitães da areia
Capitães da areia, Jorge Amado
Capitães da Areia foi escrito por Jorge Amado, no século
XX, e fala sobre um bando de crianças delinquentes, entre os 8 e os 16 anos, que vivem na rua e atormentam a população da cidade da Bahia com os seus constates assaltos, os Capitães da Areia. Este livro não nos pretende apenas mostrar os assaltos e as atitudes violentas das crianças, mas também todos os pormenores que têm em comum com qualquer criança. O livro começa com uma redação de várias cartas, escritas por habitantes da cidade da Bahia, onde falam sobre os Capitães da Areia e as diversas consequências que esses rapazes deveriam sofrer devido aos seus assaltos. Após essa introdução, o narrador começa a descrever como é a vida desses meninos delinquentes quando cai a noite, dando-nos também a conhecer alguns dos membros mais importantes do grupo. No início do livro ficamos mesmo com a ideia de que eles não passam de crianças malvadas que não pensam noutra coisa a não ser atormentar a população da Bahia, mas, ao longo da Gonçalo Bento leitura da obra, a nossa opinião muda por completo. Podemos afirmar que este livro está dividido em quatro partes. Na primeira, temos o conjunto de cartas escritas por habitantes da Cidade da Bahia. Na segunda parte, o narrador dá-nos a conhecer o local onde os Capitães da Areia vivem, e descreve os principais membros do bando. Numa terceira parte, um novo membro junta-se ao grupo, Dora, a primeira rapariga a fazer parte do grupo. Por fim, na última parte, é descrito o rumo que cada protagonista seguiu. Gostei bastante deste livro, por várias razões. Esta obra já foi escrita há bastante tempo, mas, como o principal tema que aborda é o abandono e maltrato das crianças, é intemporal. O ponto em que reside a maior crítica feita pelo autor é o facto deas crianças que vivem na rua, serem tratadas como “anormais”. Com a presença de um narrador omnisciente, Jorge Amado tenta mostrar todas as razões pelas quais os meninos eram violentos e praticavam assaltos, mas também que as crianças abandonadas não deveriam ser tratadas como diferentes, mas deveriam ser amadas e protegidas. Este livro tocou-me bastante, pois deu-me a perceber como era a vida das crianças nas ruas do Brasil, em meados do século XX, uma vida repleta de tristeza e amargura, pois ninguém os amava, nem ninguém os entendia. As duas personagens de que eu mais gostei, ou, por outras palavras, que mais me surpreenderam foram Pedro Bala, o líder do grupo, e Dora, a primeira rapariga a juntar-se aos Capitães da Areia. Pedro Bala surpreendeu-me devido à sua grande bravura; por outro lado, Dora surpreendeu-me devido à grande influência que teve nas atitudes dos membros dos Capitães da Areia, tornando-os mais calmos e amáveis. Em suma, este livro não deveria apenas ser lido como passatempo, pois obriga-nos a refletir sobre tudo o que lemos. Esta obra faz-nos refletir em como o abandono e maltrato de crianças pode ser a causa de vários atos irresponsáveis realizados pelas mesmas, e que se não tratassem algumas crianças como delinquentes, muitas tragédias poderiam ser evitadas. Também não posso deixar de afirmar que este foi um dos livros mais belos que li, e que o recomendo a quem estiver interessado. Bernardo Morais
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evo confessar que esta livro me surpreendeu bastante pela positiva. Quando o comecei a ler, achei-o um pouco enfadonho, não consegui envolver-me na história, pois este tipo de livro não faz muito o meu género, mas ainda bem que não o parei de ler! Este livro é deveras espantoso, pois mostra-nos a triste realidade das ruas do Brasil em meados do século XX. Apesar do coloquialismo, a linguagem simples e o uso de bastantes adjetivos permitem ao leitor ter uma imagem das personagens e do local e tempo onde decorre a ação. Além disto, Jorge Amado, através de uma escolha cuidada dos adjetivos, permite também ao leitor experienciar as mais variadas sensações e sentimentos. Deste livro, podemos tirar algumas lições. A que mais me marcou foi como um lar, amor e uma família podem moldar tanto a nossa personalidade. Com a presença de Dora, o grupo ficou mais meigo e disciplinado e isso prova que as coisas que temos e que pensamos que todas as pessoas têm, na realidade, não são bem assim. Atualmente, ainda existem muitas crianças pelo mundo sem um lar, uma família e amor. Recomendo sem qualquer sombra de dúvida a qualquer pessoas que leia este livro, pois é uma obra absolutamente fantástica que é capaz de nos fazer viajar pelo tempo e pelo espaço, sem termos que nos levantar do nosso sofá.
Gonçalo Resende
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Capitães da areia
Neste
ção é trazida por João de Adão, organizador de greves que apresenta a Bala os ideais das lutas dos trabalhadores. Professor é o braço direito de Bala no comando do grupo. É marcado pela inteligência, gosto pela leitura (era o único do bando que sabia ler) e possuía talento artístico. Gato é dotado de malandragem, tem a sexualidade desenvolvida, ligando-se, ao longo da obra, a uma prostituta mais velha que ele: Dalva. Sem-Pernas é a personagem mais complexa da obra. Seus conflitos internos são muito mais profundos que os dos demais. A sua designação remete para uma deficiência física. Volta-Seca é a representação da cultura sertaneja. Admirador declarado do cangaceiro Lampião, tem atitudes que fazem os próprios Capitães sentirem medo. João Grande é amável, dócil, por isso é marcado pelo cuidado com os mais frágeis dentro do grupo. Boa-Vida tem uma malandragem diferente da do Gato. Enquanto este usa os seus dotes para conquistar mulheres, aquele se esquiva do trabalho, prezando o constante descanso. Pirulito é a instância religiosa da narrativa. Seu sonho é ser padre. Dora é a única menina do grupo. Seus pais haviam morrido em decorrência de uma epidemia de varíola (doença chamada popularmente “bexigas”). Ela entra para o bando, a princípio, a contragosto por parte dos garotos. Com o passar do tempo, ganha o carinho e a admiração de todos, já que passa a exercer papel de cuidadora (uma analogia direta com a figura de mãe). Dora e Pedro Bala iniciam um romance. Ao longo do enredo, pude verificar que a vida realmente não é justa, e muitas vezes vivemos como se estas situações de miséria não existissem. Com os capitães da areia pude perceber que, embora fossem garotos que viviam como homens, eram crianças, que viviam da forma como podiam para sobreviverem. Não tinham muito, mas mesmo assim passaram alguns momentos felizes, o que é intrigante e ao mesmo tempo nos traz uma ideia de que devemos ser: gratos pelo que temos. Uns têm tão pouco e conseguem ser felizes com isso! Eram apenas crianças às quais a sociedade as voltava as costas. Isso foi o que mais me impressionou. Ninguém merece viver em condições precárias. Todos merecemos ser privilegiados com os mesmos direitos. Crianças e adolescentes têm o direito de viver a sua infância e adolescência com todas as condições que devem permitir a formação de um bom caráter, forjado nas estruturas de uma sociedade saudável como família, escola, brincadeiras e amigos, por exemplo. Jorge Amado, ao escrever a sua obra, relata uma verdade sobre o povo brasileiro que não foi apenas verídica naquela época, como também é claramente visível nos dias de hoje. Embora hoje o Estado possibilite o direito a acesso escolar a todos os jovens, nem todos podem usufruir dele. Muitos ainda precisam de assumir responsabilidades de trabalho dentro de seus lares para poderem ajudar a suas famílias. Crescem em famílias totalmente desestruturadas, ambientes totalmente marginais como, por um exemplo, as favelas do Brasil. Outros ainda são órfãos, fazem da rua o seu lar e o furto é questão de sobrevivência. Embora o país venha melhorando de certa forma nesses aspetos, infelizmente não atende a todos e ainda há muito por melhorar. Na minha opinião, não é correto julgarmos essas
trabalho sobre o livro Capitães da Areia, apresento a minha visão pessoal das personagens que são apresentadas no livro de Jorge Amado como anti-heróis, mas que aos olhos da sociedade são marginais delinquentes. O romance Capitães da Areia foi escrito por Jorge Amado num contexto sociopolítico marcado pelo duro governo de Getúlio Vargas, no chamado Estado Novo (tensão, perseguições e prisões eram constantes durante este período). O livro foi publicado oficialmente em 1937 e muitos dos exemplares foram queimados em locais públicos, de modo a que ficasse bem claro que o governo daquela época não estava aberto a críticas sociais. O livro Capitães da Areia “foi uma carta de denúncia de uma situação social gritante, de extrema pobreza, sobretudo em relação aos jovens e às crianças", segundo a cineasta e neta do escritor, Cecília Amado, em entrevista à BBC. Não foi à toa que os livros foram queimados, porque (para o governo) era uma vergonha mostrar a realidade de um modelo capitalista que vira as costas às classes sociais mais baixas, as quais não possuíam as mesmas condições para se desenvolverem que as mais abastadas. Nascido em Itabuna, no sul da Bahia, Jorge Amado viveu e frequentou a região do Pelourinho, do porto e da Cidade Baixa de Salvador quando se mudou para a capital baiana. "Eram regiões muito populares e, portanto, ele conviveu muito com os capitães da areia da época", contou Cecília, num documentário de rádio em inglês para o Serviço Mundial da BBC. "Ele gostava de conversar com as pessoas do povo, da rua. Era um hábito dele puxar conversa com as pessoas, ouvir suas histórias, e acredito que desse modo ele se relacionou com esses meninos, que eram personagens reais." Jorge Amado era um jovem de 25 anos, politicamente engajado, quando Capitães da Areia teve início. A expressão, disse a neta, não foi inventada pelo escritor - era como a imprensa da época se referia aos menores abandonados na região das praias. O livro transmite ao leitor uma visão de garotos de rua, que são como são, por causa das circunstâncias que lhes foram impostas. São garotos anti-heróis que tiram aos mais abastados para darem aos mais desfavorecidos, como nas histórias de Robin Hood. Os garotos são apenas crianças e adolescentes que vivem como homens no mundo das drogas, dos roubos e com uma vida sexual ativa. Não possuem grande opção de vida, ou seja, são predestinados a serem ladrões. Os meninos são inteligentes, grandes cúmplices e companheiros. O narrador conhece toda a história e os detalhes da trama. Além disso, ele tem conhecimento sobre os personagens, desde sentimentos, a emoções e pensamentos. Nesta obra não conseguimos encontrar uma personagem principal, sendo esta o grupo, todos os meninos que viviam no galpão abandonado próximo da praia. No grupo cada um tem a sua funcionalidade: Pedro Bala é o líder do bando. Menino ágil, com um forte senso de justiça. Órfão desde que se conhece como pessoa, Bala conhece o passado de seu pai, um líder operário assassinado durante uma greve. A Informa17
Capitães da areia
crianças e jovens por serem como são devido às circunstâncias que lhe foram impostas para viverem. Elas não são as únicas culpadas por serem assim. Simplesmente cresceram nesse ambiente e sua revolta é compreensível. Muitas vezes não são ladras porque querem, mas o são por falta de opção. Ninguém as vê e o Estado faz-se de cego diante da situação. Como elas vão poder conhecer o mundo se ninguém lho apresentar? Como poderão fazer diferente se não lhes forem dadas outras opções? Concluo esta tarefa com tais indagações com o intuito de suscitar a reflexão sobre estes problemas sociais. Obrigada por lerem. Ketlyn Souza
A outra parte desta história que também me fascinou bastante foi o aparecimento de uma menina, Dora, no trapiche. A sua mãe havia falecido devido a varíola e Dora ficara sozinha apenas com o seu irmão pequeno, Zé Fuinha. Assim, ambos percorreram um vasto caminho desde a cidade até se depararem com os Capitães da areia. Dora implorou-lhes que os acolhessem por umas noites para poderem descansar. Inicialmente, os meninos veem em Dora uma oportunidade para satisfazerem os seus prazeres, porém, João Grande e Pedro Bala impedem que isso aconteça e deixam-na ficar, bem como o seu irmão. Após passarem alguns dias com Dora, descobrem nela um carinho, um amor, um alento especial, como se fosse para eles uma irmã ou até mesmo mãe; "Para os menores é como uma mãezinha, igual a uma mãezinha" "Para os mais velhos é como uma irmã…". Salvo para Pedro, já que se acaba mesmo por se tornar sua esposa. Esta parte específica da história marcou-me de uma forma especial porque aquelas crianças nunca haviam conhecido a sua própria mãe e nunca puderam experimentar um amor físico de uma mãe, o apoio, o carinho. E Dora foi capaz de lhes proporcionar a todos essa sensação o que os transformou em pessoas diferentes, menos violentas. Muitas vezes aborrecemo-nos com as nossas mães por várias razões, mas não conseguimos imaginar a dor de passar a nossa infância sem podermos ter a presença física da nossa mãe, o seu carinho e o seu acompanhamento durante o nosso crescimento. Por isso, foi esta, entre outras partes da história, a que mais me marcou e penso que muitos dos leitores que já puderam ter o privilégio de ler esta obra partilharão a mesma opini-
É verdade que os Capitães da areia viviam num am-
biente de roubos e contrabando, mas ao longo da história encontramos várias personagens que mudam um pouco o pensamento destas crianças, apesar de não os conseguirem parar por completo. Temos por exemplo a Don' Aninha, uma senhora religiosa, o Padre José Pedro, e João de Adão, um homem que estava nas docas amigo do falecido pai de Pedro Bala. Estas personagens foram capazes, em vários momentos, de acalmar os meninos e cativar um pouco da sua atenção para dispersa-los de toda aquela arriscada vida. Um dos factos na história que mais me emocionou foi a simplicidade com que estas crianças viviam e era mesmo nas pequenas coisas que eles encontravam a felicidade. Nós, muitas vezes, não conseguimos ver o quão "ricos" somos por podermos ter um lar, uma família, o carinho dos pais, alimento todos os dias, podermos ir à escola, e mesmo assim reclamamos com coisas que por vezes não têm importância, mas estas crianças mostram-nos que a felicidade não está na riqueza, mas sim nos bons momentos, na amizade, no amor. No quinto capítulo, um velho e desprezado carrossel chega à cidade, e, como não é muito frequentado, os meninos procuram, de certa forma, ajudar a concertá-lo. Depois de o fazerem, disfrutam de um bom momento ao poderem andar nele e ouvir a música que tocava e sentiram-se verdadeiramente felizes e descansados; "Esqueceram tudo e foram iguais a todas as crianças, cavalgando os ginetes do carrossel, girando com as luzes.".
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Capitães da areia
Maria do Ó
ão. Os últimos capítulos da história cativaram também de forma especial a minha atenção, visto que acontecem várias coisas num espaço de tempo não muito longo, mas que causou em mim diversas sensações e, além disso, há alguns aspetos que é muito importante valorizar numa amizade tão forte como a destes rapazes, pois que hoje em dia já não se veem frequentemente. Num dos assaltos, os Capitães da areia levam consigo Dora, a pedido dela mesma, e embora Pedro Bala não quisesse. Sucedeu que foram eles próprios, Pedro e Dora, que se sacrificaram para salvar os restantes de serem apanhados pela polícia no assalto. Apesar de estarem presos em locais diferentes, ambos sofrem uma dolorosa tortura durante vários dias; contudo, são os restantes Capitães da areia que acabam por libertá-los. Apesar da alegria de poderem estar todos juntos de novo, Dora tinha adoecido e poucos dias depois acabou por falecer no trapiche, junto de todos, o que lhes provocou um enorme sofrimento, particularmente a Pedro Bala. Esta altura da obra foi a que me causou um sentimento de maior tristeza porque os meninos voltaram novamente à sua situação inicial, sem uma mãe que os acariciasse, que lhes desse carinho, os acalmasse. Apesar de perceberem que Dora estava num estado crítico, nunca saíram de perto dela e mantiveram-se sempre acordados na esperança que ela pudesse melhorar. Com a morte de Dora, o ambiente no trapiche era de tristeza. Todavia, todos eles haviam agora crescido e cada um estava pronto para seguir a sua própria vida. Já não estavam fisicamente juntos, mas continuariam a ser sempre os Capitães da areia. Pirulito seguiu a sua vida como padre, como desejava, Professor aceitou o trabalho como pintor no Brasil que lhe fora proposto por um indivíduo que tinha visto uma obra sua na rua, João Grande tornou-se um marinheiro, Gato vestia-se agora como um rico, Boa-Vida toca violão nas ruas da Bahia, Volta Seca partiu para o grupo de seu padrinho, Lampião, onde se recorria frequentemente à morte de pessoas, às armas, e Pedro Bala tomou parte de várias greves, como sempre quis, uma vez que o seu pai tinha falecido a lutar pelos direitos das pessoas nas greves. Apenas o Sem-Pernas teve um fim mais trágico, acabou por morrer enquanto tentava fugir da polícia. Para concluir a minha apreciação a este livro fantástico, quero apenas reforçar que foi uma das obras mais incríveis que pude ter a oportunidade de ler. Como já referi, provocou em mim diferentes sensações, fossem elas boas ou menos boas e, ao mesmo tempo, encontrei muitos aspetos que devemos ter muito em conta nos dias de hoje para pensarmos antes de agirmos com os nossos pais ou quando julgamos alguém porque, como está evidente nesta história, estas crianças eram pobres, órfãs, sem educação, mas conseguem ter virtudes que, na sociedade de hoje em dia, já não são frequentemente visíveis, como ver a felicidade em pequenas coisas, a amizade verdadeira que também esta obra retrata exatamente como deve ser o modelo de uma amizade real entre um grupo de amigos, que não desistem uns dos outros seja pelo que for, fazem tudo o que estiver ao seu alcance para se ajudarem mutuamente, e que se apoiam em toda e qualquer altura, seja nos dias normais, seja na doença ou na perda de entes mais queridos. Aconselho vivamente a leitura desta obra para que os leitores possam descobrir as mesmas sensações que eu e possam ter também estas noções presentes ao longo de toda a sua vida.
Tiago Teles
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Capitães da areia
Gonçalo Bento
O
livro Os Capitães da Areia foi escrito por Jorge Amado em 1937.A história passa-se nos anos 30, na cidade de Bahia, no Brasil. O livro retrata a vida de crianças órfãs e abandonadas, que vivem do roubo para sobreviverem. A ação é narrada na terceira pessoa e vai dando a conhecer o modo de vida dos Capitães da Areia, que são liderados por Pedro Bala. Na parte inicial da obra, são apresentadas algumas reportagens que explicam quem são os capitães da areia e só depois se inicia a narrativa em que Pedro Bala e o seu grupo planeiam vários furtos para arranjar dinheiro para sobreviverem. O grupo vivia num edifício abandonado na praia, onde vivem cerca de 50 crianças, entre elas João Grande, Sem Pernas, Gato, Pirulito, Dora, Volta Seca e Boa-Vida. Uma das personagens era o Professor, que sabia ler e por isso entretinha os outros com as suas histórias, à noite. Com a ajuda de um padre da sua zona, José Pedro, este meninos foram-se tornando cada vez mais civilizados e aprenderam a controlar alguns dos seus sentimentos pelas pessoas daquela cidade, especialmente pelas pessoas ricas, que os desprezavam e perseguiam, juntamente com a polícia. Ao longo da história existem sentimentos de amor, como o de Gato pela prostituta Dalva. À medida que se relacionam entre si, o objetivo de cada um dos meninos vai ficando cada vez mais claro. Na minha opinião, é uma história linda e emotiva, que retrata uma realidade triste e nos faz refletir sobre alguns problemas da nossa sociedade. Ao acompanhar a vida destes meninos podemos perceber que nem todos temos as mesmas possibilidades de termos uma vida cheia de posses, que há crianças a tentarem sobreviver roubando, porque não têm outra hipótese. A parte de que mais gostei foi quando estes rapazes conheceram uma menina de treze anos que também ficou órfã e ela, ao ser carinhosa e bondosa, conquistou os meninos pelo lado materno, pois fê-los lembrar de suas mães, que já tinham falecido e deixado um vazio nos seus corações. Mas conquistou especialmente o chefe dos Capitães da Areia, não como mãe, mas sim como “noiva”. Acho muito bonita esta parte, pois a convivência com o lado humano de Dora transformou os rapazes e o ódio e revolta que sentiam deu lugar a alguma tranquilidade e harmonia. Concluindo, este livro tem uma história forte e fácil de ler, que nos sensibiliza por ser tão realista, ao retratar o modo de vida dos meninos de rua. Ao longo da narrativa somos tocados pelo lado humano dos elementos do grupo e sentimos a tristeza e as dificuldades em que vivem, mas também nos divertimos com algumas das suas peripécias. É uma leitura recomendada a todos os que gostam de uma boa história e se interessam pelos problemas sociais.
Catarina Iria
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Cem anos de solidão
Cem anos de solidão, rafael garcia marquez
C
em anos de Solidão, escrito por Gabriel Garcia Márquez, é uma obra de literatura contemporânea que já foi traduzida em várias línguas. O livro enquadra-se mais na categoria do romance devido ao seu enredo. A obra é sobre a história de uma família, o longo de cem anos, a vida fascinante e cheia de extravagância dos Buendía, falando sobre as suas vivências estranhas e surreais ao longo de várias gerações. A ação da história está repleta de situações dramáticas e altamente hiperbolizadas, descritas de forma tão natural e simples que quase parecem credíveis, como, por exemplo, quando a personagem Remédios, a Bela, termina por subir aos céus, ou a peste da insônia, que todos achavam ser uma doença contagiosa e altamente perigosa. Em termos das personagens, pode ser um pouco confuso, devido ao seu extenso número e devido às semelhanças nos nomes, existem três Aurelianos e mais imensos Josés e Arcádios, para além do facto de várias personagens aparecem e desaparecem muito rapidamente. Devido a isto, para não me baralhar enquanto lia, tinha sempre a árvore genealógica da família ao lado, algo que aconselho vivamente a fazer também; pode dar alguns spoilers, mas torna a leitura muito mais fácil, embora a confusão possa ser proposital, para demonstrar a breve estadia de algumas personagens em contraste com constante preseça de Úrsula e para demonstrar a ligação entre todas as gerações — mas isto, claro, é uma simples especulação. O título Cem anos de solidão é uma peça fundamental na obra, é como se fosse a raiz que faz crescer a história, surgindo claramente no final “(...)porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade na Terra.” Mas tenho de ser sincera, esta obra deve ter sido das leituras que mais adiei, pois é o tipo de livro que parece ter uma altura certa para se começar a ler; no entanto, agora que o li, vou dar a minha breve opinião. É uma história muito difícil de resumir, algo que tenho dificuldade sempre que perguntam, pois tem uma extensa quantidade de personagens e informação. O melhor que consigo fazer para resumir, é, como disse anteriormente, a história de uma família ao longo de cem anos, sendo que, estranhamente, várias características particulares dos membros da família, apesar de altamente únicas e esquisitas, acabam por se repetir ao longo dos anos com grande destaque para a solidão e uma forma muito estranha de amar. A primeira geração da família Buendía, constituída pelo casal José Arcadio Buendía e Úrsula Iguáran, ajuda a fundar uma aldeia fictícia, Macondo, situada algures na América Latina. À medida que vamos avançando no livro, as várias gerações desta família vão crescendo perante os nossos olhos, numa imensa quantidade de situações que variam entre o estranho, o caricato e o sobrenatural. Apesar das diferentes personalidades, todas estas personagens são, em maior ou menor grau, marcadas pela solidão. Na minha opinião, a escrita de Garcia Marquez é de grande qualidade e a sua imaginação também, o que me fez ficar muito cativada pelo livro até chegar mais ou menos a meio, quando comecei a ficar mais cansada, porque esta obra não é algo muito fácil de ler devido à sua complexidade e alta quantidade de informação. Devido a isto, demorei mais do que o habitual a ler, embora os acontecimentos fizessem todos sentido, se se ler com a devida atenção. Mas a sua quantidade não deixa o leitor respirar, o que me fez perder um pouco o foco no livro. Percebo porque este livro é especial para tanta gente e porque é considerado um dos melhores de sempre de escritores sul-americanos: extremamente bem-escrito e com uma história original. Pessoalmente, talvez tenha partido para esta leitura com as expectativas demasiado elevadas; a verdade é que gostei, mas não adorei, como pensei que pudesse acontecer.
Marta Megre
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Serões da Província
Serões da província, Júlio Dinis
Cristina
“Os Novelos da Tia Filomela”, “Uma Flor entre o Gelo”, “O Canto da Sereia” e “Justiça de Sua Majestade”, que foi a primeira novela escrita por Júlio Dinis, em 1858, quando tinha 19 anos. O conto que li neste livro foi “O Espólio do Senhor Cipriano”. Neste conto estão presentes 5 personagens sendo elas o velho Cipriano, o povo, Maquelina, Agostinho e o Presidente da câmara. Este conto passa-se numa pequena cidade da província do Minho. Fazendo um breve resumo deste conto, é narrada a história do velho Cipriano, que, já com 80 anos, é conhecido por ser sovina e avarento, pois acham que ele é muito rico. Cipriano, como já era muito idoso e devido ao seu débil estado de saúde, acaba por falecer, e a sua irmã Maquelina fica encarregada da sua herança e de tratar do seu funeral. Como não encontrou nenhuns vestígios de riqueza, dirigiu-se ao presidente da câmara, pedindo ajuda para pagar o funeral do irmão, visto que este não estava na "lista dos pobres". Maquelina adoece, pois não tinha fundos monetários para se sustentar, até que o seu afilhado vem do Brasil para tomar conta dela. Maquelina acaba por morrer e deixa o seu afilhado sozinho. Será que antes de ela morrer encontram a riqueza do seu falecido irmão? Leiam para descobrir! A parte de que mais gostei foi quando o povo estava zangado com o velho Cipriano por este ser muito poupado e guardar todos os cêntimos, mas depois dar muito dinheiro aos pobres. Na minha opinião, os aspetos positivos deste conto são o facto de Maquelina nunca desistir da vida e procurar uma solução para os problemas e o facto de haver sempre o suspense, a curiosidade de saber se vão encontrar a herança ou não. Apesar dos aspetos positivos, também estão presentes negativos, que são, como exemplo, a linguagem utilizada, um pouco antiga e tornando por vezes difícil a sua compreensão e o excesso de pormenores e detalhes referidos. Este conto despertou em mim o interesse de o ler até ao fim, pois quis muito saber se a irmã e o afilhado conseguiram encontrar o dinheiro e ver a reação do povo, que sempre invejara o velho Cipriano. Em suma acho que este conto me deu algumas lições sobre o facto de que, sejam quais forem as circunstâncias da vida, nunca devemos desistir das nossas ambições e devemos levar as nossa intuições até ao fim. Por fim, recomendo a todos que leiam este conto para que possam também aprender estas lições de vida.
Sardinha
O
livro que escolhi para este projeto de leitura tem como titulo Serões da província e foi escrito por Júlio Dinis. Começando por uma biografia do autor, Joaquim Guilherme Gomes Coelho, que no período mais brilhante da sua carreira literária usou o pseudónimo de Júlio Dinis, nasceu no Porto, a 14 de Novembro de 1839, na rua do Reguinho, freguesia de São Nicolau, sendo batizado a 18 do mesmo mês na Igreja de São Nicolau. Frequentou a escola primária em Miragaia. Aos catorze anos de idade, em 1853, concluiu o curso preparatório do liceu. Matriculou-se na Escola Politécnica, tendo, em seguida, transitado para a Escola Médico-Cirúrgica do Porto, cujo curso completou a 27 de Julho de 1861, com alta classificação. Posteriormente a sua saúde foi-se agravando, pelo que foi obrigado a recolher-se em Ovar e depois na Madeira e impossibilitado de exercer a sua profissão. Durante esses tempos dedicou-se à literatura. Mais tarde (1867), foi incluído como demonstrador e lente substituto no corpo docente desta mesma Escola. Voltando à obra, publicada pela primeira vez em 1870, Serões da Província é uma compilação de contos e curtas novelas que Júlio Dinis publicou em folhetim no Jornal do Porto, entre 1862 e 1864. Os temas e motivos destes contos e novelas são predominantemrnte os mesmos que se encontram na obra romanesca do autor e que o definem. Esta obra contém 6 contos e novelas “O Espólio do Senhor Cipriano”, “As Apreensões de uma Mãe”,
Luís Chatinho
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A tábua de Flandres
A tábua de Flandres, Arturo Pérez-Reverte
Escolhi a obra
A Tábua de Flandres, de Arturo Pérez-Reverte, porque me parece que é bastante interessante e que se encaixa perfeitamente nos meus gostos de leitura – o mistério e o suspense. Esta obra é um romance policial que gira à volta de jogos de xadrez, com enigmas e mortes misteriosas, captando a atenção do leitor desde o primeiro momento. Conta a história de Júlia, uma restauradora de obras de arte, que está encarregada de restaurar uma pintura muito valiosa do século XV. Esta obra foi pintada sobre uma tábua pelo artista Pieter Van Huys e está previsto a ir a leilão. Nesta pintura está representado o duque de Ostenburgo a jogar uma partida de xadrez com um dos seus cavaleiros. Além disso, também está retratada uma dama vestida de preto, muito atenta à partida, com um livro pousado no seu colo. No quadro, Júlia também consegue desvendar uma mensagem oculta, escrita em latim, que em português significa “Quem matou o cavaleiro?”. Após uma investigação histórica acerca das personagens retratados na tela, a restauradora descobre que o cavaleiro que jogava a partida com as peças brancas tinha sido assassinado e que nunca tinha sido descoberto o autor do crime. Então, Júlia percebeu que este quadro poderia ser a chave para a resolução deste homicídio. Para resolver o enigma, Júlia é auxiliada por César, um antiquário, e por Muñoz, um excelente jogador de xadrez. Quando já parecia terem desvendado o enigma, estas três personagens começam uma partida de xadrez contra um jogador misterioso. À medida que se vai desenrolando a partida, o perfil do enigmático adversário vai sendo descoberto, o que culmina na surpreendente mas simultaneamente previsível revelação da sua identidade. As personagens mais influentes deste livro são Júlia, Muñoz e César. Júlia, a personagem principal, é uma organizada e rigorosa restauradora de arte, que encara todos os seus trabalhos com muito empenho e respeito pela obra: “Metódica e disciplinada, pintora de certo talento nas horas vagas, tinha fama de abordar todas as suas obras com absoluto respeito pelo original (…)”. O seu porto de abrigo fora sempre César (um requintado antiquário), e talvez seja esta a razão para este a chamar de “princesita“. A protagonista recorreu a um excelentíssimo jogador de xadrez chamado Muñoz para a ajudar a desvendar a identidade do jogador misterioso. Esta personagem é diferente em posses e necessidades, comparativamente às outras personagens, pois, sendo muito simples, contrasta com a necessidade de César e Menchu (outra personagem) comprarem os seus perfumes em Paris. Ele é uma pessoa muito monótona e apática; no entanto, quando o tema é o xadrez ganha um novo alento e sente-se mais descontraído e afável, como se pode ver em “Como se bastasse a presença de um tabuleiro para aquele homem pouco sociável, indeciso e cinzento recuperasse a segurança e a confiança”. 23
Na minha opinião, um aspeto que torna esta obra única é o facto de efetuar uma relação paradoxal entre a vida e o xadrez, uma vez que cada personagem, neste jogo, é representada por uma peça branca. Por exemplo, Júlia era a rainha (branca), Muñoz e Álvaro eram cavalos, César era o bispo e Menchu uma torre (devido a o seu apelido ser Roch). Esta analogia é comprovada pelo simples facto de que sempre que, no tabuleiro, uma peça branca era “comida” pela rainha preta, a personagem representada era assassinada, como ocorreu com Menchu e Álvaro. Contudo, não foi apenas esta relação que me motivou bastante a continuar a minha leitura, mas também a mensagem oculta (“Quis negavit Equitem”), todas as informações sobre as características psicológicas do jogador que Muñoz foi recolhendo, e ainda todas as referências xadrezistas. Para mim, um dos momentos de maior suspense foi, sem dúvida o desfecho da ação, quando se desvendou a identidade do jogador misterioso e a do assassino, porque, apesar de já estar à espera, tinha a esperança de que a obra ganhasse um novo rumo e de que não fosse uma personagem tão próxima de Júlia. Logo, o final foi um pouco perturbador e provocou uma ligeira tristeza ao leitor, principalmente depois de uma personagem ter posto um ponto final na sua vida com as suas próprias mãos. Esta obra está muito bem escrita, com um português elevadíssimo e com uma utilização frequente de palavras em itálico, de modo a mostrar que as personagens são de classe social alta, como, por exemplo, “autêntico” e “absolutamente”. No entanto, o registo de língua empregado durante os diálogos entre as personagens principais (Júlia, Muñoz, César e também Menchu) é um pouco mais informal. Nesta obra, o autor pormenoriza muito o cenário, os movimentos, os sentimentos e o vestuário de todas as personagens, oferecendo assim ao leitor uma descrição muito nítida. O escritor também não recorre e demasia a vocabulário específico de xadrez, permitindo a qualquer leitor compreender o fio condutor da história. No meu entender, este livro é acessível a qualquer leitor, porém é mais indicado para amantes de mistério, uma vez que, ao longo da obra são implantadas muitas incertezas sobre a pintura e sobre o jogo de xadrez. Assim, este exemplar também poderia ser considerado mais indicado para simpatizantes de xadrez; porém, como o autor explica de forma muito simples todos os lances que reconstituem a partida, creio poderá ser igualmente interessante para aqueles que não são versados neste jogo. Em conclusão, o autor fez um excelentíssimo trabalho, uma vez que conseguiu produzir um livro que abrangesse diversos aspetos que fazem dele único, como a relação paradoxal estabelecida entre a vida e o xadrez. Estes factos tornam esta obra emocionante e muito motivante para qualquer leitor, principalmente para os amantes de mistério.
Miguel Santos
Michel Tournier
Sexta-feira ou a vida selvagem, Michel Tournier
O
livro por mim escolhido para elaborar o meu trabalho do projeto de leitura foi Sexta-Feira ou a Vida Selvagem, de Michel Tournier. Este livro narra a história de um náufrago, de seu nome Robinson Crusoé, passada entre 1759 (ano do naufrágio) e 1787 (quando o autor encerra a narração). A história inicia-se com o naufrágio e a chegada de Robinson à ilha. Após várias tentativas, por parte do mesmo, para sair da ilha deserta onde se encontrava, acabou por desistir optando por, a partir desse momento, começar a civilizar a ilha. Certo dia, Robinson deparou-se com índios que iam até à praia fazer uma espécie de rituais mágicos, onde sacrificavam membros do seu grupo. Na segunda vez que isto aconteceu, o indígena que estava prestes a morrer conseguiu fugir para o meio da ilha e, graças a Robinson, que assustou os outros índios, salvou-se da morte. A partir desse momento, Robinson e Sexta-Feira (nome dado por Robinson ao índio) criaram uma grande relação. Inicialmente, Sexta-Feira era apenas escravo de Robinson, fazia tudo o que ele mandava, mas depois tornaram-se grandes amigos, ao acabarem com o poder que um exercia sobre o outro. Juntos viveram grandes aventuras e ultrapassaram muitas dificuldades. Finalmente, chegou um barco à ilha que os podia tirar de lá, mas a decisão de Robinson foi permanecer na ilha, já que tinha lá passado mais de metade da sua vida e nunca tinha sido tão feliz como era agora, pois não tinha obrigações, nem trabalho, apenas desfrutava da sua vida em liberdade e com muita felicidade. O problema foi que Sexta-Feira aceitou partir, deixando Robinson sozinho, o que o deitou muito abaixo. A sua sorte foi um tripulante do navio que se escapou e permaneceu na ilha. Achei bastante interessantes as descrições que o autor vai fazendo ao longo da obra, pois estas fazem com que pareça que estamos dentro da história. São bastante detalhadas e completas, mostrando-nos como tudo era exatamente. Outro ponto positivo que retiro desta leitura foi a descrição feita acerca da evolução da civilização da ilha. Assim, conseguimos perceber tudo o que Robinson conseguiu concretizar, com muito esforço, dedicação e trabalho. Uma conclusão que posso retirar da minha leitura deste livro é que a solidão é uma das nossas maiores inimigas, senão a maior. Caso Sexta-Feira não tivesse aparecido na ilha e lá permanecido, Robinson não teria aguentado nem um sexto do tempo que lá esteve. No início, antes de Sexta-Feira chegar, Robinson costumava refugiar-se no fundo de uma gruta, onde permanecia durante vários dias, e quando de lá saía, parecia um homem completamente diferente, fraco e vulnerável. A partir do momento em que conheceu o companheiro, nunca mais lá voltou, tendo levado uma vida muito melhor. Gostei muito de ler este livro, pois tem uma história bastante interessante que me deixou completamente “colado” durante todo o tempo em que a estive a lê-la.
David Santos
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Robinson Crusoe
Robinson Crusoé, Daniel Defoe
O
livro que eu li foi o Robinson Crusoé, de Daniel Defoe. Esta obra é conhecida por muita gente mas a maior parte apenas conhece esta história por alto. Na minha opinião, mesmo com as descrições muito detalhadas e extensas, esta obra é muito interessante devido a alguns temas que nela são retratados. As principais personagens são Robinson Crusoé, um jovem inglês, muito aventureiro, que acaba por naufragar numa ilha deserta, em que tem de viver durante muitos anos. No decorrer da obra, Robinson acaba por se encontrar com algumas pessoas, das quais uma delas é Sexta-Feira, um indígena que é escravizado por Robinson, apesar de que a relação entre ambos acabe por se tornar uma amizade. Robinson Crusoé, como já referi, é um jovem sedento de aventura, e decide, ao invés de continuar com uma carreira profissional estável, que já tinha, partir para o mar numa viagem de navio com o seu amigo. Em relação a esta parte deixo já a opinião de que Robinson fez o que provavelmente muitos acham errado, mas para mim foi a ação correta, que foi seguir os seus sonhos e lutar por mais na sua vida, mesmo comprometendo uma carreira estável. Durante a viagem ocorre uma forte tempestade, que fez Robinson repensar as suas escolhas de vida, mas assim que esta parou ele esqueceu todos esses pensamentos. Um dia, o barco de Robinson foi tomado por piratas, ele decidiu fugir num bote e ficou à deriva no oceano durante muito tempo, até ser resgatado e levado para o Brasil. Quando Robinson já estava a viver de forma sustentável, já tinha comprado algumas terras, recebe uma proposta que consistia em ir buscar escravos, com o que ele ia lucrar. Devido a uma tempestade, o seu navio naufragou e ele foi o único sobrevivente, conseguindo nadar até uma ilha deserta. Robinson, sozinho na ilha, teve de adotar uma veia de sobrevivente e começou a caçar, a praticar agricultura, construiu uma casa, mas sempre com a ideia de arranjar forma de sair daquela ilha. Após muitos anos a viver na ilha, encontrou pegadas humanas, avistando também uma fogueira recentemente apagada e alguns ossos humanos. O náufrago viria mais tarde a ser conhecido por Sexta-Feira e acabou por ser escravizado por Robinson. Anos mais tarde, Robinson Crusoé consegue finalmente escapar da ilha, quando um barco pirata desembarca lá e ele os consegue aprisionar. Entretanto regressa à sua terra natal onde forma uma família. Passado algum tempo, Crusoé parte numa viagem com o seu sobrinho, o seu navio é atacado, mas Sexta-Feira acaba por salvá-lo, acabando assim por morrer. A história acaba com Robinson de volta ao Brasil. Na minha opinião é uma excelente obra, que conta a história muito cativante de um jovem muito audaz, que não teve medo de sonhar, obra em que provavelmente o autor se revê um pouco na personagem principal, daí o motivo de a ter escrito. Para finalizar, gostei bastante desta obra e acho que mesmo com algumas extensas descrições é de fácil leitura e de fácil compreensão.
Dinis Pereira
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Robinson Crusoe
As aventuras de Robinson Crusoe é um romance, baseado numa história verídica, que fala sobre a
vida de um náufrago que viveu durante vinte e oito anos numa ilha deserta. Este romance foi publicado pela primeira vez à data de 1719, vendendo mais de oitenta mil exemplares em meros meses. É um dos romances mais afamados mundialmente, sendo por isso um verdadeiro clássico da literatura universal. O livro tem dez capítulos, que ajudam na estruturação da narrativa, dando assim possibilidade ao leitor de organizar as suas ideias em relação ao que se vai passando no romance. Esta obra é também muito utilizada por ilustres filósofos e doutrinadores para explicar certos aspetos jurídicos, económicos e políticos da sociedade. Ora tudo começou quando o jovem Robinson Crusoe estava "farto" da vida rotineira e enfadonha da classe social média da cidade de York, na Inglaterra, e decide então fugir de casa, enfrentando o enorme desafio de ser marinheiro. Numa das suas viagens, uma violenta tempestade atinge o navio, provocando o seu naufrágio. Robinson foi o único sobrevivente da tragédia, mas a luta não acabou por aí. Crusoe alcança uma ilha deserta e começa a luta pela sobrevivência, superando inúmeras dificuldades. Como tudo no mundo, o livro tem aspetos positivos e negativos. Para começar, considero-o uma das histórias mais bem organizadas que já li, pois os capítulos separam momentos distintos, importantes e marcantes do romance. No meu ponto de vista, é altamente satisfatório e encantador acompanhar a evolução de Robinson ao longo da história, do sacrifício para sobreviver e da evolução da sua cultura e do seu saber técnicocultural às suas marcantes reflexões filosóficas. É também, interessante para mim ver a evolução daquela ilha deserta, primeiramente não civilizada e, através da escravatura exercida por Crusoe, passando a uma ilha colonizada ao modo do regime capitalista, inaugurando a propriedade privada e criando uma sociedade civil, com classes sociais. Por outro lado, ao contrário da ideia que o resumo do livro nos pode dar, achei que algumas partes do texto eram, de certa forma, bastante enfadonhas. Grande parte desse aborrecimento da minha parte deve-se ao facto de Robinson nos descrever exageradamente todas as tarefas realizadas na ilha. Para concluir, acho impressionante a contribuição deste romance, do início do séc. XVIII, para diversos temas, como o direito. Ainda hoje é objeto de estudo e análise, ajudando não só na conceção da vetusta máxima "ubi societas ibi jus", mas em muitas outras frases importantes da filosofia. Alexandre Inácio
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navegações
navegações, Sophia de mello Breyner Andresen
Navegações é uma obra de escrita por Sophia de Mello Breyner Andresen. Esta obra apresenta-se
em verso e é introduzida por um prefácio escrito por Eucanaã Ferraz e por um poema chamado "Lisboa". Encontra-se dividida em duas partes distintas: “As Ilhas” é a primeira parte. Nesta parte da obra, a autora pretende que os leitores viajem pelo mar através das descrições que faz. A segunda parte da obra é intitulada “Deriva”. Nesta parte da obra existe um paralelismo entre a viagem da autora e a altura dos descobrimentos portugueses. Esta invoca também alguns navegadores importantes na expansão marítima portuguesa e também alguns poetas portugueses, como é o caso de Bartolomeu Dias e Fernando Pessoa. Além disso, pode-se encontrar algumas semelhanças com a escrita de Luís de Camões e também com a sua epopeia Os Lusíadas. Foi precisamente em viagem que Sophia de Mello Breyner conseguiu inspiração para esta obra. Convidada pelo Conselho da Revolução para discursar em Macau, nas celebrações do dia de Camões, a poetisa sentiu o encantamento pelo oriente, sentimento que, provavelmente, os nossos navegadores também experimentaram. Na minha opinião, este livro tem aspetos positivos e também alguns aspetos negativos. Um dos aspetos negativos deste livro é o facto apresentar um prefácio muito grande. Para mim, o prefácio foi essencial para conseguir interpretar a obra, mas era demasiado longo e detalhado. o que o tornava por vezes difícil de ler e de perceber. O livro é constituído por 66 páginas onde 27 delas eram o prefácio… Outro aspeto menos bom deste livro foi a primeira parte do livro, intitulada “As Ilhas”. Esta parte da obra, apesar de ser construída por poemas muito pequenos, é bastante descritiva, o que a torna, na minha opinião, um bocado desinteressante. Como podemos ver através destes excertos, a autora descreve, muitas vezes, as paisagens que vê ao longo da sua viagem: “A longa costa”- primeiro poema; “Aqui viu o surgir em flor das ilhas” /“E sob as altas nuvens brancas liras”- quarto poema. Apesar de esta obra ter os seus aspetos negativos, também tem aspetos positivos. Um dos que mais apreciei neste livro foi o facto ser escrito em forma de diário, uma vez que no final de cada poema há uma data e isso dá ao leitor uma noção de tempo o que, na minha opinião, é interessante. Outro aspeto que considero positivo foi, através destes poemas, conseguir descobrir a maneira como nós, portugueses, somos vistos por outros povos. Para além do que referi anteriormente, ainda gostava de mencionar que a autora, nos poemas cinco e seis, fala das barreiras que existem entre as duas culturas diferentes e de como a dança as ajudou a superar essa barreira. Achei esta parte bastante interessante, porque mostra-nos que, apesar de termos culturas diferentes, podemos todos coexistir no mesmo espaço e até passar momentos bons juntos. Em suma, para ser totalmente sincera, não foi dos livros que mais gostei de ler por ser um livro que por vezes pode ser difícil de entender, uma vez que é escrito em verso. Apesar disso, recomendo a leitura a quem gosta de poesia e quer descobrir um bocadinho do percurso que os portugueses fizeram nos descobrimentos.
Inês Lopes
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O estrangeiro
Maria do Ó
O estrangeiro, Albert Camus
D
epois da leitura deste fascinante livro, posso dizer, com toda a certeza, que se trata de um dos meus livros favoritos, se não mesmo o preferido, não só pela maneira como o livro está escrito, mas também devido ao desenvolvimento dos acontecimentos, os quais se desenrolam rapidamente e não se prolongam desnecessariamente. Outra coisa que apreciei bastante foi o facto de a história, apesar de ser ficção, não é sobre uma personagem "especial", nem "boa, mas sim sobre um homem normal que nem é "bom" nem "mau", sendo apenas absurdo pela sua indiferença em relação a quem o rodeia ("Quis então saber se a amava. Respondi, como aliás respondera já uma vez que isso nada queria dizer, mas que talvez não a amasse"(p.32)) e por agir quase apenas para se dar prazer, e pela sua atenção aos detalhes insignificantes das coisas, ao invés de se preocupar com as pessoas e com os acontecimentos em si: "Reparei então que o sr. Pérez coxeava ligeiramente. Pouco a pouco o carro ia mais depressa e o velho perdia terreno”,p.15. Apesar de tudo isto, penso que Meursault é o protagonista mais interessante de todos os livros que li, pois não é costume pôr o protagonista a não chorar no funeral da própria mãe. Pelo que percebi após a leitura, Camus pensa que que não há racionalidade por detrás de certas ações, como se pode ver, por exemplo, quando a personagem mata o Árabe ("A luz refletiu-se no aço e era como uma longa lâmina faiscante que me atingisse a testa.[…] O gatilho cedeu […]”, p.44)),mas apesar disso, Meursault foi julgado com argumentos lógicos e racionais (que não lhe interessavam). Penso também que o nome do livro é adequado, pois Meursault parece sentir-se um "estrangeiro" numa sociedade guiada pela racionalidade e por pessoas que exprimem emoções, ao contrário dele. Pode-se observar esta sensação de não pertencer à sociedade quando perguntam a Meursault se amava a sua mãe. Em suma, gostei particularmente deste livro e recomendo-o a toda a gente que goste de temas filosóficos, embora algumas pessoas possam pensar que este livro é machista, mas têm de compreender que este livro é de 1942. António Raimundo
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O Japão é um lugar estranho
O Japão é um lugar estranho, peter Carey
O
livro que decidi ler para apresentar foi O Japão é um lugar estranho, escrito por Peter Carey, um escritor e jornalista australiano, que é o narrador desta aventura. A história baseia-se na vida quotidiana de um pai e de um filho. O filho, quando ainda era pequeno, ao ver um filme japonês, demonstra bastante interesse pela cultura japonesa. Com o passar do tempo, Charley, filho de Peter Carey, começa a ganhar ainda mais gosto pela cultura japonesa, especialmente pela cultura moderna, começando a ler mangas (banda desenhada japonesa) e a ver anime (estilo de "desenhos animados" japoneses). Peter Carey, ao ver tão grande interesse do filho por esta cultura, decide informar-se mais sobre o assunto e começa a gostar também desta cultura que lhe era totalmente desconhecida. Por isso, decide viajar para o Japão, com o intuito de se aproximar do filho e além isso obter vantagens culturais, aprendendo assim mais sobre a cultura oriental japonesa. Com o passar do tempo, vão decorrendo várias peripécias interessantes e "estranhas", que me fizeram ficar mais interessado pelo livro, a cada página que ia lendo. A parte que me chocou mais foi quando, na realidade, se descobriu o amigo que Charley tinha feito através da Internet era real e conforme a descrição feita online. Eu devo admitir que estava com o mesmo pensamento que Peter, desconfiando desse tal amigo, que, na realidade, só queria treinar o seu inglês, daí um dos porquês de ele querer se aproximar de Charley. Penso que este estilo de livro é um dos que gosto mais, pois retrata o quotidiano associado à realidade, já que representa aventuras e histórias que todos nós podemos passar e viver. Recomendo vivamente a sua leitura, mesmo que a cultura japonesa não vos fascine. Bem, um dos motivos que me fez escolher este livro foi também o meu fascínio pela cultura japonesa, tanto a recente como a antiga. Eu próprio sou bastante fascinado pela cultura japonesa mais recente, como Charley também era, pois encontro bastante diversão e entusiasmo ao ler e ver manifestações da mesma. Penso que o único aspeto negativo que encontrei no decorrer da história é a repetição das visitas a vários estúdios de produção de manga e anime, que, acabei por achar maçantes, de vez em quando. Em suma, achei bastante interessante a leitura e a história deste livro, que recomendo sem dúvida, pois vão passar um tempo bastante agradável e bom ao lê-lo.
Duarte Silva
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O Japão é um lugar estranho
O Japão é um lugar estranho, peter Carey
O
livro que li foi O japão é um lugar estranho, escrito por Peter Carey, um escritor e jornalista, em que ele mesmo desempenha o papel de narrador na história. A história tem uma premissa simples, já que o adolescente Charley, filho de Peter Carey, tem muito interesse pela cultura japonesa e o seu pai, intrigado pelo interesse do seu filho, viaja com ele para o Japão, para se aproximar do filho e entender melhor a cultura japonesa. Como jornalista, Peter Carey aproveita também para divulgar os aspetos culturais japoneses mais distintos da cultura ocidental. Enquanto visitam Japão, vão acontecendo várias situações estranhas e intrigantes para a família, relacionadas com a cultura japonesa. Achei muito interessante o livro, tanto pela sua premissa simples mas intrigante, como pelo seu tema, pois cultura japonesa também é algo em que tenho muito interesse e essa foi uma das razões para escolher este livro. Mesmo não apresentado um estilo literário soberbo, na minha opinião, vale muito a pena lê-lo devido às perspetivas que nos são demonstradas , quer dos jovens, quer dos adultos, por isso acho que a história consegue entreter e agradar a qualquer tipo de pessoa, mesmo que não aprecie a cultura japonesa.
Rafael Auxtero
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vários
O retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde
A
pós uma leitura aprofundada do livro O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, posso dizer que é um dos melhores livros que já li, por diversos motivos. Por um lado, a maneira como Oscar Wilde escreve, detalhando cada personagem, cada situação, cada pensamento, de uma forma tão intensa que evidencia o envolvimento, o entusiasmo e até mesmo o prazer com que escreveu esta narrativa, o que impulsiona o leitor a gostar da história, sentindo-se parte dela, ao mesmo tempo que usufrui da sua belíssima escrita. Por outro lado, a evolução das personagens e a mensagem por detrás da história é maravilhosa; ver um homem humilde, gracioso, ser levado pelos caminhos da corrupção e do mal, apenas para ter um aspeto físico agradável, o que o levou à sua destruição. Apesar de este livro ter um caráter filósofo, tem ainda um tema de romance, o que, para mim, foi uma maisvalia, pois podemos ver que um homem que é capaz de amar uma pessoa também tem o poder de a destruir, tal como aconteceu. Na minha opinião, com este livro, Oscar Wilde critica as pessoas que são superficiais em relação à beleza, considerando-a o bem supremo, em detrimento de qualquer outra característica, seja esta a lealdade, a bondade, a inteligência, etc.. No entanto, pode de facto haver uma redenção para estas pessoas, como para Dorian Gray, que escolhem seguir o bem, mesmo que demasiado tarde. Recomendo vivamente a leitura deste livro, pois apesar de ser um livro que retrata uma época antiga, não deixa de falar de um tema atemporal e intrínseco ao ser humano (o valor da beleza exterior) , que pode realmente mudar a perspetiva de algumas pessoas acerca do verdadeiro significado de Beleza, e levar o leitor a diversos momentos de autorreflexão. Mariana Bagulho
O Deus Das Moscas, William Golding
W
illiam Golding, em 1964, publicou o romance O Deus das Moscas, que em 1983 recebeu o Prémio Nobel de Literatura. Comecei a ler o livro porque, quando mo aconselharam, fiquei bastante interessada no seu enredo, que me pareceu fascinante. O livro fala de um grupo de rapazes que, depois de um avião se despenhar, ficam presos numa ilha deserta. Sem qualquer adulto presente, os rapazes festejam, mas rapidamente verificam que precisam unir forças para sobreviverem. As personagens desta narrativa representam as várias facetas da sociedade, o que torna a história mais interessante. Ralph, o principal protagonista, representa a necessidade de existir uma civilização. Jack representa o caos. Piggy representa a sabedoria e Simon representa a moralidade, não tendo qualquer maldade dentro dele. O aspeto de mais gostei deste livro foi a crítica que o autor faz à sociedade e à natureza humana. Também apreciei a maneira como a história, à medida que se desenrola, se torna perturbante e apelativa. Golding retrata o fim da inocência, sendo que, à medida que a história avança, as personagens se tornam cada vez mais corrompidas pela natureza humana. Simon e Piggy representam a fragilidade da sociedade, sendo que acabam por morrer, simbolizando o fim dessa faceta. Esta história é muito marcada no tempo devido à época em que foi publicada, levando-nos a perguntar-nos se a mentalidade humana mudou ou se permanece na mesma. Concluindo, gostei imenso da história, fez-me refletir bastante sobre o comportamento humano. Recomendo a todos que leiam o livro, pois toda a gente deve refletir sobre esta obra.
Maria Azevedo
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As ilhas desconhecidas
As ilhas desconhecidas, raul Brandão
A
leitura da obra de Raul Brandão, As Ilhas Desconhecidas, acabou por ser uma bastante curiosa e cativante, devido à maneira como é transmitida para as páginas do livro a forma como o autor se sente maravilhado e espantado por aquilo que vê. As suas impressões acabam por ser passadas para nós durante a leitura, prendendo-nos à obra.. A meu ver, esta particularidade do livro foi o que o tornou tão belo e mágico, pois ao longo da leitura acabamos por navegar entre ilhas de emoções e encantos. A cada capítulo que passa, Raul Brandão descreve pormenorizadamente cada ponta da ilha em que se encontra, e os nossos olhos são invadidos pelas cores das ilhas: o verde dos pastos, o negro das rochas, o cinzento do nevoeiro e a variedade de cores que se revelam pela reflexão do sol. Os cheiros ficam na memória olfativa: o mar, a humidade, as flores, as frutas tropicais e até o cheiro do óleo da baleia. Os sons: o silêncio, as aves, as vacas e o mar a bater nas rochas. Os sabores: desde o “rude e agreste” pão, ao doce leite açoriano e das frutas tropicais madeirenses. E por último os nativos destas ilhas: os genuínos, solidários e honestos corvinos que vivem num isolamento extremo, mas que acabam por ser o povo que o narrador mais admira pelo sentido de comunidade e partilha; os baleeiros destemidos e valentes do Pico que vivem em função da pesca (a sua prioridade máxima), até aos habitantes da Madeira, abençoados pelo turismo, mas não pelo juízo. Com esta pormenorização toda, o autor acaba por nos levar na viagem com ele, deixando-nos exatamente a perspetiva que nos pretende transmitir. Por outro lado, penso que a obra não é só uma descrição fantástica das ilhas, mas a mensagem que esta transporta é também de muito peso. Esta faz-nos refletir sobre onde é que a nossa felicidade realmente se encontra: “O homem pode aguentar-se na vida natural, ou é na vida artificial que está a felicidade? “ - esta questão fez-me refletir muito sobre o valor que damos às coisas imateriais, à nossa família e aos nossos amigos. Do meu ponto de vista, ao longo da obra a mensagem “critica” as pessoas gananciosas e mesquinhas, que dão demasiado valor ao dinheiro. Ao longo do livro entendemos que o autor fica encantado com o valor que os habitantes da ilha dão uns aos outros e isso também me tocou. Depois desta leitura, que me marcou imenso, creio que vou começar a dar mais valor aos que me rodeiam. Recomendo a leitura desta obra, pois, apesar de ao princípio não ter apreciado o livro, este acabou por me tocar, fazendo-me refletir acerca de muitas coisas e acredito que poderá mudar a perspetiva de muitas pessoas. Este livro é, deveras, dos mais encantadores que já li, cativante e ao mesmo tempo sentimental, faz-nos pensar sobre tudo, enquanto viajamos de ilha em ilha, numa maré de emoções.
Pedro Ribeiro
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Os da minha rua
Os da minha rua, Ondjaki
O
livro Os da minha rua, escrito por Ondjaki, mais conhecido por Ndalu de Almeida na história, é um livro em que cada capítulo é feito alusão a memórias de infância , aquela que foi a sua infância e àqueles que com ele se cruzaram naqueles tempos em Luanda. Na minha opinião, um dos aspetos a salientar pela positiva é o facto de todas as memórias serem escritas e relembradas de forma muito descritiva, o que facilita a idealização destes mesmos momentos e permite transportar-nos para esses lugares. Por exemplo, Ndalu faz inúmeras referências a cheiros, como o cheiro a cerveja que ele sentia na casa dos seus tios. (“O mundo tinha aquele cheiro a terra depois de chover”). Outro aspeto que nos faz deliciar durante a leitura deste livro é o facto de, apesar da simplicidade da escrita, a linguagem ser muito pura e envolvente. Isto é, a forma como são relatados certos acontecimentos é reconfortante e emocionante, tornando a leitura apelativa, uma vez que, através da pureza e genuinidade da escrita é reforçado e comprovado o modo como as crianças, seres tão inocentes, encaram o mundo . Uma prova disso é a linguagem informal, ou linguagem corrente usada por Ndalu ao contar as suas peripécias, como, por exemplo, o uso dos termos ” bué” e “sacana”. A meu ver, embora não seja um livro cujo beleza literária se destaque perante tantos outros, ou seja, a linguagem não é muito cuidada, não deixa de nos encantar e envolver . Tal deve-se a que o autor dá-nos a conhecer a sociedade da altura em Luanda, observada pelos olhos de uma criança, como as tradições “Carnaval de vitória”, o quotidiano de uma família que vive numa comunidade precária ou até mesmo a presença dos soviéticos: ” Nessa altura não apareciam muitos brinquedos nem coisas novas”, ”Os soviéticos abandonavam a obra do Mausoléu e nós ficávamos ali, no muro (...)”. Outro ponto que gostaria também de referir pela positiva é o facto de, em quase todos os contos, estarem presente mensagens importantes , como a questão do racismo, que foi subtilmente abordado no capítulo “Jerri Quan e os beijinhos na boca”, ou até mesmo a violência doméstica, que hoje em dia é considerado um crime punível e antigamente era uma prática comum, como acontece no capítulo ” Manga verde e sal também”. Este livro é um livro simplesmente incrível, é um livro que nos ajuda a atenuar e relativizar as pequenas oposições e contratempos da vida. Estes contos também nos relembram dos tempos de infância, quando tudo era tão mais simples e visto com mais inocência e bondade: “A infância é uma coisa assim bonita, caímos juntos na relva, magoamo-nos um bocadinho, mas sobretudo rimos.”. Em suma, aconselho a leitura deste livro Os da minha rua, de Ondjaki, já que é um livro que nos consegue tocar no coração. Sem dúvida que irei ler mais livros de Ondjaki. Matilde Santos
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1984
1984, George Orwell
A obra que eu selecionei para este trabalho foi Mil
te reviravolta dos eventos, relativamente ao súbito aparecimento da Polícia do Pensamento, quando se menos esperava. A discussão política de peso leva o leitor a um estado de dispersão, refletindo sobre o crescimento de Winston, a sua confiança e a sua capacidade de superar o Partido. Embora Winston tenha previsto diversas vezes a sua própria captura ao longo da história, Orwell consegue pontuar a chegada das autoridades de modo a apanhar o leitor desprevenido. A chave da personagem de Winston é o seu fatalismo. Mil Novecentos e Oitenta e Quatro pode incluir o desequilíbrio psicológico na sua lista de efeitos negativos do governo totalitário, mas é claro que não se trata principalmente de um desequilíbrio psicológico. O principal objetivo da obra é narrar o funcionamento do controlo do Partido sobre as mentes dos seus súditos, com a finalidade de alertar o leitor para os diversos perigos do totalitarismo. Se todos os problemas de Winston fossem causados por um distúrbio psicológico inato e incomum, esse tema predominante tornarse-ia irrelevante. No final do romance, as palavras de amor trocadas entre Winston e Júlia assumem uma espécie de ironia, pois o único encontro entre estes, após a tortura, foi desprovido de emoção, já que mesmo as palavras de fé e de amor que pareciam ser incorruptíveis foram destruídas e foi-lhes retirado qualquer significado. Assim, as pessoas, neste sistema controlador e manipulador, deixam de ser consideradas seres humanos que sentem e sofrem e passam a ser meros objetos frios e sem emoções, que são facilmente controlados pelo Partido e por quem exerce o poder, tornando-se como “marionetas”. Gostei bastante desta obra, pois permite que o leitor vivencie a desumanização de Winston, criando tensão e simpatia pelas diferentes personagens. Também nos dá uma visão crítica dos sistemas opressivos e dos regimes totalitários. Podemos entender, a um nível extremo, o controlo e a manipulação que é possível aplicar às pessoas e, por isso, é nosso dever resistirmos contra qualquer indício da aplicação destes valores. Orwell tenta fazer ver aos seus contemporâneos e às pessoas das épocas seguintes que a liberdade é relativa. Podemos pensar que não somos livres em alguns aspetos, mas, em comparação com este nível extremo, sempre temos os nossos direitos como indivíduos. Aconselho este livro a toda a gente que goste de um desafio pessoal, em termos de reflexão. Ao ler esta obra conseguimos relacionar vários aspetos com situações do nosso quotidiano e adotamos uma perspetiva diferente sobre tudo. Tanto a nível político como filosófico, este livro esclarece-nos vários dilemas relativos a especulações que possamos por em causa
Novecentos e Oitenta e Quatro (1984), de George Orwell. Eu escolhi este livro, pois já tinha interesse em lê-lo há bastante tempo e é uma obra com uma certa influência. Este género de escrita dirige-se a um público com alguma capacidade de reflexão, pois a obra, apesar de fictícia, engloba uma crítica que perdura na nossa sociedade desde então. Este livro retrata como principal objeto de crítica e reflexão uma sociedade totalitarista, bem como os direitos individuais e a liberdade de expressão. É uma obra de carácter fictício, pois representa uma realidade imaginária, proposta por George Orwell. Foi publicada a 8 de junho de 1949, 35 anos antes da época a que o autor se refere ao longo do livro (1984). Assim, conseguimos detetar o carácter futurista de Mil Novecentos e Oitenta e Quatro. Em Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, Orwell retrata uma sociedade totalitária perfeita, a realização mais extrema que se pode imaginar de um governo moderno com poder absoluto. O título da obra deveria demonstrar aos leitores, em 1949, contemporâneos de Orwell, que a história representava uma possibilidade real para um futuro próximo. Orwell retrata um estado em que o governo monitoriza e controla todos os aspetos da vida humana, na medida em que mesmo ter um pensamento desleal é contra a lei. À medida que a história avança, o discreto rebelde Winston Smith propõe-se desafiar os limites do poder do Partido, apenas para descobrir que a sua capacidade de controlar e escravizar os seus súbditos supera até mesmo as suas conceções mais paranoicas desta sociedade. Como o leitor entende pelos pensamentos fugazes de Winston, o Partido usa várias técnicas para controlar a sociedade, cada uma das quais é um tema importante no desenvolvimento da obra – a manipulação psicológica; o controlo físico e emocional; o controlo e distorção da informação histórica; a tecnologia, no contexto da disponibilização de ferramentas para o intensivo controlo das pessoas. Orwell combina aspetos de diversas filosofias políticas ao longo da sua crítica. Mil Novecentos e Oitenta e Quatro é um romance com um certo pendor político. Embora Orwell possa não ocultar esse discurso muito subtilmente ou integrá-lo na perfeição no resto da obra, esta discussão adapta-se ao objetivo do romance, simulando os limites dos sentimentos humanos em confronto com a manipulação e o controlo exterior, sendo ele físico (torturas) ou psicológico. A obra baseia-se na filosofia política do Partido fictício de 1984 em elementos da teoria política contemporânea, acompanhando as questões do totalitarismo com uma notável relevância e imediatismo. Além disso, este discurso fornece uma longa pausa na dramática tensão do romance, estabelecendo uma surpreenden-
Leonor Batalha
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Mathias Énard
Fala-lhes de Batalhas, de Reis e de Elefantes, Mathias Énard
N
a obra Fala-lhes de Batalhas, de Reis e de Elefantes, o autor, Mathias Énard, procura fazer-nos entrar na mente de um grande génio da humanidade: Michelangelo Buonarrotti. A obra é apresentada numa sequência de mini capítulos, que acompanham uma viagem secreta do mestre a Constantinopla, como forma de se vingar do papa Júlio II, por não ter cumprido os pagamentos prometidos, e oferecer os seus dotes de artista ao Sultão Bayazid. Mathias Énard descreve-nos a viagem de Michelangelo para a capital do Império Otomano, onde é esperado pelo sultão que lhe propõe a elaboração do projeto para a construção de uma ponte que uniria a Europa à Ásia, "uma ponte militar, uma ponte comercial, uma ponte religiosa. Uma ponte política. Uma peça de Urbanismo". Nesta cidade, o mestre fica encantado pelo exotismo daquela civilização e os seus sentidos devoram tudo aquilo que o rodeia, como as cores dos edifícios, a grandiosidade de Santa Sofia e das Mesquitas e a diversidade de produtos expostos nas medinas, que o vão influenciar e inspirar. Também aqui, Miguel Ângelo estabelece relações pessoais: sente uma inevitável atração por um ser que se identificava como uma bailarina andaluza ( uma vez que, de início lhe foi difícil identificar o seu género ), e cria uma ligação profunda de amizade com Misihi, poeta protegido do grão-vizir Ali-Praxá. Relações que se intricavam e terminam com o assassínio da granadense, que se preparava para trair o amante. Sem saber que Misihi o matou para o salvar, e pensando que este desfecho teria sido causado pelo seu constante ciúme, o mestre florentino regressa a Itália, destroçado, onde viverá mais 60 anos de vida. Relativamente a esta obra, considero a história bastante interessante e estimulante, visto que, através do visualismo, somos transportados para aquela metrópole do século XVI, e conhecemos alguns detalhes da vida de Michelangelo. No entanto, foi-me difícil desfrutar completamente da leitura desta obra devido à sua estrutura, pois é composta por muitos pequenos capítulos que, por vezes, parecem não ter qualquer ligação entre si. Apesar de tudo, a forma como o escritor se exprime causa-nos momentos intensos de prazer literário. Deixo aqui uma citação de um excerto que me encantou especialmente: "Não será nem uma traição, nem uma jura; nem uma derrota, nem uma vitória. Apenas duas mãos agarradas, como lábios que se apertam sem nunca se unir".
Maria Cunha
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Patagónia express
Patagónia Express, Luís Sepúlveda
No âmbito do novo projeto de leitura, tivemos de escolher uma obra para ler de modo a expor os nossos trechos preferidos e aspetos que nos surpreenderam, tanto pela positiva como pela negativa. Deste modo, a obra que escolhi foi o Patagónia Express. Este foi um livro escrito por Luís Sepúlveda, cuja primeira publicação ocorreu em 1995 e através do qual o autor transpôs uma das maiores e mais significativas viagens da sua vida – a viagem que ele havia prometido ao seu avô e que o levou não só pela América Latina, como também por Espanha. Assim, considero esta obra uma crónica de viagens, porque relata o percurso feito pelo escritor ao longo desta aventura, podendo também ser considerada uma autobiografia, por se referir a alguns dos acontecimentos e momentos mais significativos da sua vida. Esta leitura foi para mim uma experiência inesquecível! Levou-me por uma montanha-russa de emoções e por viagens que eu nunca esperei viver, sem ter de sair do sofá!!, para além do facto de ter ficado a saber mais acerca da vida deste autor. Através desta obra descobri peculiaridades sobre, não só o escritor, como também da América do Sul. Por um lado, aprendi que Sepúlveda escrevia as suas anotações para possíveis livros sobre «uma tábua de amassar o pão», suprimindo a necessidade de uma secretária (“Lá recebi a grossa tábua […], e sobre ela amasso as minhas histórias.” , “Com que então uma secretária…para que raio ia eu querer uma secretária?”), para além do facto de ter ficado a saber que o mesmo nutria uma grande estima pelo seu amigo, o autor Bruce Chatwin, como foi possível verificar através do carinho e primor com que Sepúlveda descreveu a sua conversa com ele. Por outro lado, fiquei a saber que “o mais austral dos caminhosde-ferro, o verdadeiro Patagónia Express”, no seu tempo, era o único modo de fazer chegar chilotes às fazendas do gado, transportando, também, ovelhas. Além do mais, tomei conhecimento de um genocídio que ocorreu na Estação de Jaramillo, uma das paragens deste comboio para abastecimento de água, em 1921. Neste mesmo ano, ocorreu a última grande revolução dos jornalistas e dos índios que, juntamente com mais quatro mil pessoas, ocuparam a estação e proclamaram o direito à autogestão. Quando as tropas chegaram para acabar com a desordem, após os revoltosos não terem cumprido as ordens de saída, dispararam as suas armas, sendo que uma das balas acertou no relógio da estação e fê-lo parar às nove e vinte e oito, e assim permanece desde aí, a marcar as horas que deve marcar (“…Varela não respeitou o prazo e às nove e vinte e oito deu ordem de abrir fogo.” , “Nove e vinte e oito. Uma bala deteve o andamento do relógio, e assim permanece.”). Todavia, posteriormente a todas estas peripécias e conhecimentos, por nós, adquiridos, no momento em que pensamos que já não haveria mais nada que nos pudesse surpreender, o autor apresenta-nos o seu último capítulo. Neste, o autor encontra-se em Espanha com o intuito de ficar a saber mais a respeito das suas raízes andaluzas, acabando por ficar a conhecer Angel, o mais novo dos cinco irmãos de Gerardo del Carmen, seu avô , tendo este sido um momento muito ternurento, a meu ver, pois a história não poderia ter acabado de uma melhor forma, de volta à família, tal como começou (“- Não, don Angel, o seu irmão era meu avô.” , “- Mulher, traz vinho, que chegou um parente da América.”). Ainda assim, apesar de tudo isto, houve um final que foi um pouco inesperado, quando o escritor nos deu a conhecer que nunca mais voltou a ver o seu amigo Capitão Palacios e o seu sócio, levando-nos a questionar o que lhes terá acontecido (“Que terá acontecido àqueles dois magníficos aventureiros?”). Para terminar, esta história vai fazer parte das minhas memórias, pois as belas palavras de Sepúlveda despertaram a minha imaginação e fizeram-me viajar através de um universo que eu ainda não conhecia e que verdadeiramente me deslumbrou. Penso que a grandeza deste escritor é convidar-nos a entrar nas suas histórias. Margarida Miguel
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Contos fantásticos
Contos fantásticos, Edgar Allan Poe
C
ontos fantásticos, de Edgar Allan Poe, é um livro de diversos contos que não estão ligados entre si, ou seja, não é necessário ler todos os contos para que se perceba o livro, algo que se provou ser positivo, pois não fui capaz de o acabar. Edgar Allan Poe tem uma grande imaginação, coisa que é claramente evidente através da leitura deste livro. Mesmo que algumas histórias não estejam completamente desenvolvidas, o contexto por detrás de cada uma é realmente impressionante, merecendo o nome de "fantásticos". Algo que reparei como característico de cada conto, foram as descrições muito detalhadas (às vezes demasiado) do espaço e das personagens, tanto físicas como psicológicas. Este fator tornou o livro um pouco mais imersivo, mas, ao mesmo tempo entediante nalguns casos. O autor é capaz de inventar um espaço até ao seu mais pequeno detalhe e de conseguir descrevê-lo duma forma certamente eloquente; no entanto, estas descrições são capazes de ir longe demais e acabam por estragar certos contos, tal como em "Ligeia". Pode-se também usar o argumento oposto, pois pareceu-me a mim que Edgar Allan Poe nunca apresenta a mesma estratégia em contos diferentes, tornando os pontos fracos de uns nos fortes de outros. Por exemplo, o fator descritivo estragou "Ligeia", no caso de "Eleonora" (que tem os seus próprios pontos fracos), as descrições presentes são adequadas à história e não estragam a experiência do leitor. Quanto às descrições das personagens e da sua evolução, tenho a dizer que Edgar Allan Poe fez um bom trabalho (sem falar de certas inconsistências). No caso da maioria das personagens, os seus problemas e a forma como lidam com eles são credíveis e é possível o leitor relacionar-se com elas, e mesmo quando estes fatores não estão completamente presentes, esta ausência é justificada pelo contexto da história, como na descrição da personagem Ligeia no conto "Ligeia". Pelo que percebi, a ação não é exatamente o ponto forte deste autor. A maioria dos contos pode ser considerada uma grande introdução, pois a ação só começa muito perto do final e, às vezes, nem é concluída. Quando acabei de ler certos contos, encontrei-me insatisfeito, pois deixaram-me com muitas perguntas e sem forma de lhes responder. Esta qualidade não está presente em todos os contos, mas quando o autor dá mais atenção à introdução, é difícil acabar o conto e chegar à ação. Mesmo com os seus muitos pontos fracos, desfrutei da minha experiência, pois queria saber como cada história acabava, devido à grande imaginação do autor. Claro que nalguns casos esta resposta não me foi fornecida, portanto pode-se dizer que gostei mais da viagem do que do destino. O facto de cada conto ser totalmente diferente (mas sempre partilhando o fator sobrenatural) foi uma lufada de ar fresco, pois mesmo não tendo gostado de um conto, havia sempre a possibilidade de apreciar o próximo. Dados os prós e contras, não penso que vá voltar a este livro, mas recomendo-o àqueles que gostam do fantástico e de algum mistério.
Gonçalo Santos
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Contos fantásticos
C
ontos Fantásticos, de Edgar Allan Poe, um escritor norte americano do século XIX, é um volume composto por onze contos. O que mais me chamou a atenção e cativou foi o sétimo conto. Este conto tem como nome "O Gato Preto", o que me sugeriu alguma ironia, uma vez que o gato preto é associado ao azar, e o número 7 é associado à sorte; mas pode ser apenas uma coincidência. Antes de falar acerca do conto, queria falar também sobre o título da obra. Para mim, talvez "fantásticos" não seja a palavra que melhor se encaixe nesta obra. Quando li o título pensei em imagens e histórias mais fictícias do que verdadeiramente são. Estes contos eram publicados no jornal, na altura, logo o título da obra refere-se aos contos no geral, a esta coletânea de contos. Apenas os títulos dos contos foram dados pelo autor. Talvez se este editado escrito o livro, o título fosse diferente, uma vez que Edgar Allan Poe é conhecido por os seus contos serem macabros e estranhos, e claro, estes não o iam deixar de ser! Quando comecei a ler este conto, pensava que se ia tratar de uma história relacionada com o azar, devido ao famoso “gato preto”. Por sua vez, a história, sempre à volta do gato, desenvolveu-se de uma forma inesperada, mas de certa forma relacionada com o azar, ou não... A história tomou um lado mais obscuro e macabro, o que me cativou logo no momento, porque admiro estes enredos mais sombrios e misteriosos! No início do conto, estava à espera de que a história fosse relacionada com o azar na vida do narrador, uma vez que este se descreve como uma pessoa alegre e amável, positiva também. E, associando o gato preto com a sua natureza, este iria trazer azar, mas não foi propriamente o sucedido. O narrador ficou com o gato como seu animal de estimação, mas este começou a despertar-lhe outros sentimentos e sensações. Ao longo da história o narrador diz sofrer uma alteração de caráter, talvez provocada pelo gato (azar), por isso este acaba por ter comportamentos violentos sobre o gato (entre outros), acabando-o por o tratar muito mal. Pouco depois da morte do seu gato, Plutão, a casa do narrador ardeu com a sua mulher e o mordomo dentro dela. O narrador diz que tal facto não está associado ao gato, mas sim a coincidências catastróficas seguidas. Ao observar as ruínas da casa, o autor vê uma a figura do gato com uma corda no pescoço, tal como ele o tinha deixado. Depois de pensar um pouco, o narrador pensa mesmo que era o seu gato, Plutão, e que este tinha sido mandado por alguém através de uma janela de sua casa. Mais tarde, o narrador acaba por encontrar outro gato, também preto, mas este tinha uma mancha branca no peito. Nesta altura, o ódio do narrador já estava muito mais desenvolvido, e tinha passado também para a mulher. Vou deixar o final desconhecido para os leitores mais curiosos lerem o conto por si mesmos... Um aspeto menos positivo sobre este conto, pelo menos para mim, é o excesso de pormenorização, o que provoca algum desinteresse por ser um texto demasiado extenso, mas este volta rapidamente. Concluindo, recomendo este livro, principalmente para quem gosta de histórias estranhas, como eu, e não o recomendo para quem é mais sensível nestes aspetos, porque se pode tornar um pouco pesado e agressivo de mais para certas pessoas. Aconselho também a lerem outros contos, porque estes se tornam extremamente interessantes e cativam o leitor do início ao fim da história.
Francisco Lima
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Contos fantásticos
“ O poço e o pêndulo” O «Poço e o Pêndulo» foi publicado em 1842 e escrito por Edgar Allan Poe alguns anos antes da sua misteriosa morte, e narra (na primeira pessoa) o tormento de uma personagem (não nomeada pelo narrador) sob a tortura da Inquisição Espanhola, em Toledo. Diante de uma sinestesia, o condenado descreve, através das suas sensações, todo o horror que é estar preso numa masmorra, as presenças dos juízes inquisitórios, os sons misteriosos, as visões dos movimentos das paredes em sua volta, que remetem ao leitor para a verossimilhança de um espaço claustrofóbico. Neste conto, o autor explora temas relacionados com a morte (o narrador descreve a quase perda de consciência enquanto tenta processar o que está prestes a acontecer com ele. Ao longo da história, acaba por desejar que o final chegue depressa, para que não precise de se preocupar com o inevitável, mas a vontade de viver mantém-no a lutar até o fim pela sua vida e liberdade), com o tempo (com uma imagem de um «enorme pêndulo, como os dos relógios antigos», descendo de cima, a experiência do narrador lembra-nos de que estamos todos a lutar contra o relógio, com um fim inevitável.) e com o medo (o narrador é colocado em várias situações de medo. A sua tortura tem como base o seu medo do escuro, do desconhecido, de ratos, claustrofobia, dor e morte, contudo, mas ele é capaz de superar todos esses medos). «O Poço e o Pêndulo» é bastante distinto dos outros contos que li de Edgar Allan Poe, apesar de ter lido todos ao mesmo tempo. Ao contrário das personagens hipersensíveis das outras histórias, como Roderick em «A Queda Da Casa De Usher» ou o narrador de «O Coração Revelador», este narrador afirma perder a capacidade de sentir durante o desmaio no início da história, destacando, assim, a sua própria falta de fiabilidade, contrariamente aos outros narradores, que resistem ou negam isso. Mesmo ao descrever a sua possível perda de sensibilidade, o narrador deste conto prossegue transmitindo os detalhes sensoriais que anteriormente afirma estarem para além dele. O padrão narrativo assemelha-se ao de outras histórias, como «O Coração Revelador», na medida em que o narrador diz e faz o oposto do que originalmente anuncia. Esta história diverge do padrão, contudo, na medida em que as descrições deste narrador são mais objetivamente válidas - isto é, menos preocupadas em provar a própria sanidade do narrador do que em transmitir e prestar contas dos elementos da sua encarceração. A história é também invulgar, entre os contos de Poe, porque é esperançosa. A esperança manifesta-se na história, não só no resgate que resolve o conto, mas também na sua estratégia narrativa. O narrador mantém a capacidade de recontar fiel e racionalmente o que o rodeia, ao mesmo tempo que descreve o seu próprio tumulto emocional. Ao contrário de «O Coração Revelador», por exemplo, o fardo da angústia emocional não impede a narração da história. "O Poço e o Pêndulo" também se destaca como um dos contos historicamente mais específicos de Poe. Este contraria a placidez de uma história como "A Queda da Casa de Usher" com o contexto histórico da Inquisição e da sua política religiosa. Este enquadramento histórico preenche uma história pessoal do narrador. Não conhecemos as circunstâncias específicas da sua detenção, nem nos são dados quaisquer argumentos para a sua inocência ou explicação para a crueldade bárbara dos Inquisidores. A descrição da descida da lâmina do pêndulo em direção ao coração do narrador é extremamente gráfica, mas este usa o retrato da violência explícita para criar uma história de suspense, em vez de condenar diretamente a Inquisição. O conto sugere uma agenda política apenas implícita. Poe não critica a base ideológica do contexto histórico do conto. A narrativa examina as flutuações físicas e emocionais do presente, deixando os julgamentos históricos e morais. Apreciei a forma meticulosa como Edgar Allan Poe descreve os sentimentos da personagem, o que se passa na sua mente e tudo o que ela está a passar, tornando possível imaginar, quase sentir, toda a tortura psicológica imposta ao prisioneiro. Por esse mesmo motivo, o conto prendeu-me a atenção desde o começo ao fim. Penso que o encerramento, no conto, mostra a mensagem que Edgar Allan Poe quis transmitir aos seus leitores. De forma surpreendente, o aparecimento de uma nova figura, naquele tormento sem fim, dissemina a força narrativa desse escritor que até hoje choca e impressiona com seus contos de terror, amor e morte. Em suma, o relato narrado na primeira pessoa causa ao leitor um turbilhão de sentimentos que beiram a agonia e o desespero. A história, no entanto, mantém a esperança ao demonstrar uma verdadeira determinação. Quando ameaçado pelo pêndulo, o narrador não sucumbe ao desmaio dos seus sentidos. Ele recruta as suas capacidades racionais e utiliza os ratos esfomeados para seu benefício. Edgar Allan Poe é um autor que deve – impreterivelmente – ser lido e recomendo este livro a todos os meu colegas, mesmo aqueles que não gostem muito de ler ou que se fartam facilmente dos livros, pois é um conto muito breve e emocionante.
Leonor Pinheiro
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Contos fantásticos
No âmbito da disciplina de português, foi-nos pedi-
corcel lançou-se pela escadaria oscilante do palácio e desapareceu com o seu cavaleiro no turbilhão daquele fogo caótico.”; e do final de “A Queda da Casa de Usher”: “Não ousava… não ousava falar! Nós metemo -la viva no túmulo!”- dois dos contos que mais me marcaram. Gostei imenso desta organização porque, uma vez que estou habituada a ler livros longos, que têm espaço suficiente para desenvolver bastante a trama principal e concluir a história de forma suave, considero-a bastante original. Penso também que esta organização foi muito vantajosa e é definitivamente uma grande qualidade deste livro, já que me surpreendeu imenso e permitiu-me uma experimentação do acontecimento principal e mais decisivo do conto de uma forma muito intensa e inesperada, acabando a história “em grande” e tornando-a mais impactante. O final de “William Wilson” exemplifica perfeitamente o meu ponto de vista: “[…] e vês na minha morte, vês por esta imagem que é a tua, como te assassinaste radicalmente a ti próprio!”. Ao ler estes contos, notei que Edgar Allan Poe se preocupava em transmitir as ideias principais de cada história de forma discreta e extremamente implícita, raramente revelando quer os sentimentos das personagens, quer os conceitos mais importantes do conto de forma direta. É possível dizer que Contos Fantásticos é uma obra repleta de simbolismos, presentes em maior quantidade nalguns contos do que noutros, onde cada detalhe é relevante e representa algo de importante no enredo. Achei essa característica do livro imensamente curiosa e foi algo que me agradou, pois torna a leitura e interpretação da obra mais divertida, adiciona um certo mistério a cada conto e, sobretudo, revela um grande cuidado da parte do autor e acrescenta qualidade à escrita. O mais notável exemplo situa-se no conto “A Queda da Casa de Usher”, em que o narrador da história visita Roderick Usher e a sua irmã durante alguns dias, permanecendo hospedado na casa dos mesmos. Ao descrevê-la, chama a atenção para a presença de uma minúscula fenda na parede. Embora não esteja explicitamente referido no conto, essa fenda representa a decadência da família Usher, quase invisível no início, indo, porém, aumentando de tamanho ao longo do conto, até que se torna tão extensa que percorre o edifício “[…] desde o telhado até à base.”. Essa fenda acaba por originar, mais tarde, o desmoronamento do edifício, que coincide com a morte de Roderick e da sua irmã, simbolizando, assim, a Queda da Casa de Usher e da família que a habitava. Por fim, uma das características mais notórias dos vários contos presentes no livro é o elevado nível e detalhe de adjetivação e descrição desenvolvido por Edgar Allan Poe ao longo do mesmo. Tenho opiniões contraditórias relativamente a este assunto, uma vez que a inexistência de descrição numa história pode torná-la irrealista e pobre, mas, por outro lado, o excesso da mesma pode resultar numa leitura monótona, logo é necessário um equilíbrio. É possível notar que cada pequena história está repleta de adjetivação e descrição detalhada, tanto de pessoas e seres como de espaços e objetos. De certa forma, admiro essa característica, já que demonstra a dedicação do autor, a sua atenção ao detalhe e transmite-me, no geral, uma ideia de qualidade e rigor do livro. No entanto, foi
do que lêssemos um livro à nossa escolha, para, à medida que o lemos, elaborarmos várias apreciações críticas que demonstrassem a nossa opinião acerca da obra em diferentes momentos da narrativa e como esta evolui ao longo da leitura. O livro que escolhi chama-se Contos Fantásticos, e trata-se de uma compilação de onze pequenos contos escritos por Edgar Allan Poe, cujo os principais temas são o fantástico e o sobrenatural. De forma geral, este livro tem revelado ser bastante agradável e interessante de ler. Para ser franca, as minhas expectativas eram baixas. Pensava que a obra seria entediante, antiquada, e que a leitura seria monótona, uma vez que o objetivo da mesma era realizar um trabalho sobre o livro: Porém, não poderia estar mais enganada. Contos Fantásticos é uma obra que genuinamente me cativou e que me dá prazer de ler, maioritariamente devido à qualidade da escrita e aos assuntos nela abordados, que são de extremo interesse. Como já referi anteriormente, o livro é constituído por onze contos, dos quais já li os primeiros seis: “Metzengerstein, O Mito Húngaro”, “Ligeia”, “Morella”, “Eleonora”, “A Queda da Casa de Usher” e “William Wilson”. Cada uma destas histórias é diferente, variando, por exemplo, a sua extensão ou o tom utilizado. Cada conto aborda um tema em particular, como a obsessão, as tragédias amorosas, a reencarnação, ou doenças e loucura: porém, todos estes assuntos são utilizados como um meio de atingir o tema final, mais importante, e que é comum a todos os contos: a morte. A morte, normalmente da personagem principal ou de alguém próximo, é sempre o parte mais impactante e importante da história, tendo como objetivo, na minha opinião, provocar angústia e choque aos leitores. Apenas uma das histórias foge a esse padrão: “Eleonora”. Nesse conto, em particular, a morte é retratada como algo positivo e natural, e não possui a conotação negativa e perturbadora que é encontrada nos outros contos. Aliás, “Eleanora” tem um final relativamente feliz, no que foi um dos contos que mais se destacou. Algo que achei bastante curioso foi a existência de, pelo menos, uma menção ao ópio em cada conto. Apesar de ter tentado pesquisar um possível motivo que justificasse a fascinação de Poe pelo ópio, não consegui chegar a nenhuma conclusão, devido à existência de informações contraditórias e contestáveis. Uma das características que mais apreciei neste livro foi a forma como cada conto está organizado, bem como o estilo de escrita do autor. Ao longo do enredo, dá-se uma construção gradual do suspense, isto é, os acontecimentos sobrenaturais e fantásticos tornam-se cada vez mais frequentes, bizarros e intrigantes, à medida que a narração avança, atingindo o seu suspense máximo, o “clímax” da história, imediatamente antes do final do conto. Assim, cada conto acaba de uma forma quase repentina, mas que, ao mesmo tempo, conclui adequadamente a história e não a deixa incompleta. Esta organização torna o final do conto, normalmente acompanhado de revelações chocantes, muito intenso, como pode ser exemplificado através do final de “Metzengerstein, o Mito Húngaro”: “[…] o 40
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algo que dificultou a minha leitura, pois tornava-a ligeiramente entediante. Por exemplo, no conto “Ligeia”, a descrição física da amada do narrador, Ligeia, ocupou aproximadamente duas páginas e meia! Para ser sincera, isso aborreceu-me, uma vez que estava interessada na ação, e não considero a aparência da senhora assim tão importante. Mais uma vez, admiro a capacidade de descrição do autor e o seu empenho, mas, infelizmente, foi algo a que não me consegui habituar. “O Poço e o Pêndulo” aborda temas como a tortura, tanto física como psicológica e emocional, passandose no contexto da Inquisição Espanhola. A ação é contada por um narrador que foi sentenciado e condenado pelos inquisidores, sendo colocado num cárcere e submetido a torturas, como a privação de luz, de comida e água e da satisfação de outras necessidades básicas. O narrador, depois de despertar do seu estado febril inicial, tenta entender onde se encontra e qual é o seu destino, ao explorar o espaço em que acordou. Descobre que está numa prisão, continuando a explorá-la, em escuridão, descobrindo entretanto um poço no centro da sala, ao tropeçar perto do mesmo, e escapando à armadilha apenas por pura sorte. É nesse momento que ele se apercebe do seu destino, e, como é constantemente observado pelos inquisidores, rapidamente é sujeito a outro método de tortura, que, eventualmente, resultaria na sua morte. Ele é amarrado à sua “cama”, onde observa um pêndulo no teto, que oscila e muito lentamente se aproxima do seu corpo, com o objetivo de o dilacerar. Ao longo do conto, o narrador relata os seus medos, os seus pensamentos e as suas reflexões, refletindo sobre qual a melhor maneira de morrer, sobre se vale a pena manter a sua esperança em sobreviver, e criando planos para escapar às armadilhas a que é sujeito. Confesso que, antes de ler o conto, pensei que este seria enfadonho devido ao facto de ser ligeiramente mais extenso do que os restantes. Fiquei ainda mais convencida disto assim que o comecei a ler, uma vez que se iniciou com uma longa e complexa reflexão acerca do estado de consciência do narrador, que, sinceramente, tive dificuldade em entender, em parte devido ao estilo de escrita de Edgar Allan Poe, que possui um vocabulário extenso e elaborado, bem como uma organização e estrutura de frases fora do comum, muita vezes dificultando a leitura dos leitores que não estão acostumados a este estilo. Para além disto, não sabia quase nada sobre a ação; quem era o narrador, onde é que ele se encontrava, quem o colocou lá e com que objetivo. Tudo isto causou-me confusão, e esse era, muito provavelmente, o objetivo do autor ao introduzir uma reflexão antes da ação sequer começar: inspirar confusão nos leitores, espelhando a incerteza sentida pelo narrador ao tentar descrever o seu estado de consciência. Mesmo assim, foi algo que não me agradou muito. Apesar da minha ideia inicial, o conto acabou por ser um dos meus preferidos até ao momento, ou até mesmo o meu preferido, revelando ser quase o contrário do que eu julguei anteriormente! Para além de ter um enredo interessante, com uma organização inteligente dos acontecimentos do mesmo, através da construção
gradual do suspense, como já havia mencionado, a forma como esses acontecimentos são descritos e experienciados na primeira pessoa pelo narrador é excecional e extremamente envolvente, o que só é conseguido através de um impressionante equilíbrio entre a ação e a descrição neste conto. Uma das razões pela qual gostei deste conto foi, também, a “viagem” emocional que este me proporcionou, dandome a conhecer o desespero, a esperança, a agonia e a determinação de uma forma excelente. O “Poço e o Pêndulo” trata de temas como a tortura psicológica e emocional, o medo, o desespero e a esperança, sendo baseado em eventos reais, as torturas cometidas pela Inquisição. Ao contrário de muitos dos restantes contos, estes assuntos não têm nada de fantástico ou sobrenatural. Por isso é que a brilhante capacidade de descrição e de transmissão de sentimentos de Edgar Allan Poe é tão importante e tem um impacto tão grande nesta história, porque esta trata de assuntos sensíveis e reais. É muito fácil substituirmonos ao narrador e colocarmo-nos no seu lugar, já que este conto retrata muito bem todos os sentimentos, os pensamentos, as dúvidas e, no geral, as reações mais naturais de um ser humano face à possibilidade de uma morte dolorosa. É, sobretudo, devido à qualidade de escrita do autor e à relevância dos assuntos retratados que é possível experienciarmos a história como se esta fosse vivida por nós, levando-nos numa “viagem” emocional, como já referi anteriormente. Outro aspeto de que gostei bastante foi a figura do narrador. Enquanto que nos restantes contos os narradores (personagens principais) eram-me neutros, este foi, na verdade, agradável de ler e algo acerca da sua construção foi imensamente cativante. Provavelmente foi o facto de este ser inteligente, escapando de duas das armadilhas preparadas pela Inquisição para o matar, e de acabar por recuperar sempre a sua esperança, mesmo quando tudo parecia perdido, como se observa na expressão “Era a esperança que assim me fazia estremecer os nervos […]. Era a esperança […] que cochicha ao ouvido dos condenados à morte, mesmo nos cárceres da Inquisição.”. Uma característica do narrador que me divertiu bastante foi a sua curiosidade natural. Por exemplo, quando finalmente lhe é concedida luz e lhe é permitido ver a sua prisão, ele repara no perímetro da sala, pensando detalhadamente no porquê de não ter conseguido descobrir o valor correto do perímetro anteriormente, apesar de ter a noção de que esta sua curiosidade era “[…] bem pueril, na verdade, porque, no meio das circunstâncias terríveis que me rodeavam, que poderia haver de menos importante do que as dimensões da prisão?”. Apesar de o narrador não ser explicitamente descrito psicologicamente, é possível deduzir a sua personalidade, através dos seus pensamentos e das suas ações, algo que me agradou. Devido a esta minha preferência pelo narrador, fiquei bastante aliviada e contente com o final, por este não ter morrido, o que foi bastante surpreendente, já que claramente foge à norma dos contos de Edgar Allan Poe.
Sofia Duarte
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Fractais
Os fractais consistem em formas geométricas
abstratas com padrões complexos, que se repetem infinitamente numa área limitada, e com características comuns, o que os torna semelhantes entre si. Existem duas categorias de fractais, os geométricos e os aleatórios. Os fractais geométricos repetem continuamente um modelo padrão, enquanto que os aleatórios são gerados em computadores. No século XVII, Euclides dedicou-se ao estudo da relação entre os fractais e a natureza, assemelhando as formas da natureza a formas geométricas simples; no entanto, escapou-lhe um elemento importante, a dimensão. Anos mais tarde, em 1958, o matemático Benoît Mandelbrot focou-se precisamente na introdução desta variável à teoria de Euclides e, assim, surgiu a geometria dos fractais. Manderlbrot nasceu na Polónia em 1924, tendo sido educado pelo seu tio Szolem Manderlbrot que lhe induziu um gosto pela área da matemática. A sua carreira académia desenvolveu-se maioritariamente em França e nos Estados Unidos, tornando-se, em 1987, professor na universidade de Yale. A certa altura, Benoît Mandelbrot, começou a ficar indignado com os paramentros da geometria clássica, pois dizia que as figuras geométricas (pontos, linhas retas, círculos…) não eram suficientes para compreender a complexidade da natureza. Posto isto, Mandelbrot, dedicou-se à formulação de diversas teorias sobre o fenómeno da probabilidade errática, e métodos de auto-semelhança em probabilidades, tendo-se também dedicado ao estudo da termodinâmica, astronomia, gráficos e arte (com a ajuda do computador), etc, desenvolvendo a geometria fractal. Este matemático contemporâneo desenvolveu diversas obras sobre a geometria fractal, criada e desenvolvida por ele, sendo considerado o maior responsável pelo desenvolvimento dos fractais. A matemática fractal descreve fenómenos não lineares, impossíveis de prever e controlar, que resultam da infinita complexidade da natureza, sendo estes fenómenos os objetos de estudo da teoria do caos. Esta diz que pequenas mudanças, no início de certos eventos, podem trazer consequências enormes, sendo que as equações que explicam o comportamento dos mesmos dão origem a gráficos conhecidos como fractais. A equação simples em que se baseia a geometria fractal de Mandelbrot é: Sendo W um número original e constante. A geometria fractal pode ter diversas aplicações no nosso quotidiano, na engenharia, nas comunicações telefónicas, na medicina, na metalurgia, etc. Na medicina, por exemplo, descobriu-se que um coração saudável bate a um ritmo fractal, e que um batimento quase periódico é um sintoma de insuficiência cardíaca. Para além disto, a geometria fractal tem também uma aplicação interessante no tratamento de doenças, como o stress pós-traumático e a depressão, pois as pessoas com estes distúrbios consomem uma droga chamada psylocibina, que provoca alucinações e distúrbios sensoriais que são visualmente semelhantes a padrões complexos de fractais. Beatriz Borrego, Mariana Campino, Mariana Santos, Maria Inês Tavares
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matemática
Leibnitz
Gottfried
Wilhelm Leibniz, também conhecido como von Leibniz, foi um proeminente matemático, filósofo, físico e estadista, bem como um dos maiores e mais influentes metafísicos, pensadores e lógicos de toda a história. O mesmo nasceu a 1 de julho de 1646, na cidade de Leipzig, Alemanha, e morreu a 14 de novembro de 1716, em Hanover, Alemanha, devido a gota. Era filho de um professor universitário de Filosofia Moral, que morreu cedo, deixando-lhe, quando apenas tinha com seis anos, uma vasta biblioteca. Aparentemente, foi com recurso a estes livros que Leibniz aprendeu, aos 12 anos, Latim e Grego a um nível superior ao que era lecionado na escola. Aos quinze anos entrou na Universidade de Leipzig e concluiu o seu doutoramento em Direito na Universidade de Nuremberga. Estudou também Teologia, Filosofia e Matemática na Universidade. Para muitos historiadores, Leibniz é tido como o último erudito que possuía conhecimento universal. Após os estudos, começou por exercer cargos de advocacia e diplomacia ao serviço da mais alta nobreza alemã. Durante duas viagens a Londres em 1673 e 1676, Huygens e Boyle despertaram o seu interesse para os temas matemáticos mais relevantes da época. A partir desse momento, começou a desenvolver diversos temas relacionados com o Cálculo e a Lógica: antecipou o desenvolvimento da Lógica Simbólica; estabeleceu os fundamentos do Cálculo Integral (integrais), que consiste na determinação de áreas sob curvas no plano cartesiano, e do Cálculo Diferencial (derivadas), que consiste na determinação da
tangente de uma curva no plano cartesiano; inventou o cálculo com uma notação superior, incluindo os símbolos para integração e diferenciação e generalizou o teorema do binómio no Teorema do Polinómio. Para além disso, Leibniz aperfeiçoou a máquina de calcular inventada por Blaise Pascal, tornando-a capaz de multiplicar e dividir. O título da descoberta do Cálculo foi disputado entre Newton e Leibniz, visto que Leibniz foi acusado de ter visto o trabalho de Newton, durante a sua visita a Londres, que por sua vez o teria influenciado na descoberta do mesmo. Tudo isso colocou em causa a legitimidade das suas descobertas relacionadas com o assunto. Sabemos hoje que isto não teria sido possível, dado que Leibniz, durante a tal visita a Londres, não possuía conhecimentos de geometria e análise suficientes para compreender o trabalho de Newton. Leibniz foi também autor de diversos trabalhos sobre de Matemática, das quais destacamos: Nova methodus pro maximis et minimis, itemque tangentibus, qua nec irrationales quantitates moratur. No entanto, as obras mais importantes da sua autoria estão mais relacionadas com a área da Filosofia, como o caso de Essais Theodicee (1710) e Monadology (1714). Em suma, Gottfried Leibniz foi um grande fundador da Ciência Moderna, pelas suas inovações nos domínios do Cálculo, da Matemática e da Filosofia, sendo que o peso das suas descobertas e contribuições como um todo é fundamental. Não obstante, é também considerado um dos sete filósofos modernos mais importantes. Danilo Tachy , David Rodrigues, João Conde, Lourenço
Johann Carl Friedrich Gauss
J
ohann Gauss nasceu a 30 de abril de 1777 em Brunswick, na Alemanha. Morreu devido à doença artrite gotosa em 23 de fevereiro de 1855 em Gottingen, Alemanha. Dedicou--se principalmente à astronomia, física, matemática, tendo também estudado a geodesia e geometria. Gauss era filho único, de origem pobre (o pai era pedreiro) e um prodígio de matemática desde cedo. Um dos episódios mais famosos da sua infância, foi a forma como ele calculou em pouco tempo a soma de todos os números de 1 a 100, quando tinha apenas 7 anos. Notando o seu talento, o duque de Brunswick financiou a sua educação até à sua ida para a Universidade de Gottingen, onde estudou entre 1795 e 1798. De 1798 a 1807, financiado pelo duque de Brunswick, publicou o livro Disquisitiones Arithmeticae (1801). Em 1804 casou-se com Johanna Elisabeth Rosina Osthoff (1780-1809), com quem teve 3 filhos. Após a morte do Duque, em 1807, tornou-se professor de Astronomia e diretor do observatório na universidade de Gottingen. Em 1809 publicou o livro Teoria do movimento dos corpos celestiais a girar à volta do Sol. Em 1810, casou-se pela segunda vez com Minna Waldeck, com quem teve mais 3 filhos. Em 1828, publicou um novo livro sobre geometria: Investigações gerais de superfícies curvas. Em 1831, uniu-se ao físico Wilhem Weber e juntos escreveram o livro A intensidade da força magnética terrestre reduzida à medida absoluta (1833). Além destes livros, Gauss escreveu inúmeros papers sobre Matemática, Astronomia, Cartografia, etc. Gauss era também um impressionante poliglota: sabia falar dinamarquês, inglês, francês, grego, latim, russo e alemão. Pelo seu trabalho ganhou imensos prémios, entre eles o prémio da Academia Dinamarquesa das Ciências em 1823 e a medalha de Copley (atribuída também a Einstein, Hawking, Pasteur e Benjamin Franklin) em 1838. 43
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Na Astronomia, desenvolveu em 1801 o método da aproximação dos mínimos quadrados, útil para determinar a órbita de um corpo celestial com base em algumas observações. Foi usado, por exemplo, na determinação da posição do planeta anão Ceres. Na Matemática, comprovou a lei da reciprocidade; demonstrou o método para a construção de um polígono regular de 17 lados (heptadecágono) com apenas régua e compasso; demonstrou indubitavelmente o teorema fundamental da álgebra (um polinómio de grau n tem n raízes, simples ou complexas); descobriu as funções elíticas e descobriu a propriedade de simetria das progressões aritméticas (numa progressão aritmética, a soma de termos equidistantes de um termo central é sempre igual) Ex: Na progressão aritmética: 2 4 6 8 10 12 14 16 , 2+16=18; 4+14=18; 6+12=18; 8+10=18. Com base nesta propriedade, Gauss formulou a fórmula da soma de termos numa progressão aritmética: San= [(a1+an):2] *n Na Física, inventou o heliotrópio; inventou a lei de Gauss, de tal forma reconhecida que o seu nome está associado a uma unidade de indução magnética (1 Tesla = 10000 Gauss).
Newton
Isaac Newton foi um matemático e físico inglês e uma impor-
tante figura na revolução científica do século XVII. Newton nasceu no dia 4 de janeiro de 1643 em Woolsthorpe, Lincolnshire, Inglaterra. Nasceu prematuro e órfão de pai, tendo passado a maior parte da sua infância com a sua avó, visto que a sua mãe voltou a casar. A certo ponto, a sua educação foi interrompida por uma tentativa falhada por parte da sua mãe para o tornar num agricultor. No entanto, estudou na King’s School, em Grantham e, em 1661, entrou na Universidade de Cambridge. Foi durante a pandemia da peste bubónica, enquanto esteve em quarentena, que realizou os seus feitos mais importantes: a lei fundamental da gravitação, as leis básicas da física mecânica, que aplicou aos corpos celestes, o desenvolvimento dos métodos de cálculo diferencial e integral e a formulação de teorias sobre a luz e a cor. Publicou várias obras ao longo da sua vida, incluindo Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, em 1687, considerado o livro mais influente na história da física, onde enuncia a importante lei da gravitação universal e as leis da dinâmica. Outras das suas obras são: Métodos das Fluxões, 1671; Óptica, 1704; Aritmética Universal, 1707. A força gravitacional é uma das interações fundamentais da Natureza e baseia-se na atração entre as massas, sendo que, apesar de não desempenhar nenhum papel fundamental na disposição da matéria a nível microscópico, tem um longo alcance e é responsável pela organização do universo e das suas estruturas. Enquanto estudava o movimento da Lua, Newton concluiu que a força que a mantém constantemente em órbita é do mesmo tipo que a força que a Terra exerce sobre um corpo próximo de si. A partir desta inferência, o físico formulou a Lei da Gravitação Universal: "Dois corpos atraem-se com força diretamente proporcional ao produto das suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que separa seus centros de gravidade." Matematicamente, a força que o corpo de massa m1 exerce sobre o corpo de massa m2 é dada por:
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A Lei da Gravitação Universal esclarece a força atrativa existente entre dois corpos devido ao facto de possuírem massa, no entanto nada diz sobre a sua origem, o que só foi explicado, mais tarde, pela Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein. Para além disso, apesar da validade desta lei para a maioria dos sistemas gravitacionais observados, há vários fenómenos que só são explicados utilizando a relatividade geral, como é o caso da precessão da órbita de Mercúrio e da deflexão de raios de luz por efeitos gravitacionais. A Lei da Gravitação é, por isso, rejeitada quando é requerida uma extrema precisão nos resultados ou quando os sistemas envolvem corpos muito massivos ou densos. Visivelmente, Newton dedicou grande parte da sua vida à física mecânica. Desta forma, a “Mecânica Newtoniana” desenvolveu-se chegando ao ponto de poder predizer a trajetória de corpos celestes e explicar a origem das marés. As famosas leis de Newton, ou leis da dinâmica, são um conjunto de três leis capazes de explicar a dinâmica que envolve o movimento dos corpos, sendo a base da mecânica clássica. A primeira lei de Newton, conhecida como lei da Inércia, afirma que, se a força resultante aplicada num corpo for nula, este deverá manter a sua velocidade, continuando em repouso ou movendo-se ao longo de uma linha reta com velocidade constante: “Qualquer corpo continua em estado de repouso ou de movimento uniforme em linha reta, a menos que seja forçado a alterar esse estado por forças aplicadas sobre ele.” A segunda lei de Newton, também conhecida como Princípio Fundamental da Dinâmica: “A mudança de movimento é proporcional à força motora imprimida e é produzida na direção da linha reta na qual a força é aplicada.” Esta lei afirma que uma força é sempre diretamente proporcional ao produto da aceleração de um corpo pela sua massa. Por fim, a terceira lei de Newton recebe o nome de Lei da Ação e Reação e afirma que todas as forças surgem aos pares, isto é, quando aplicamos uma força sobre um corpo (ação), recebemos desse corpo a mesma força (reação), com mesmo módulo e mesma direção, porém sentido oposto: “Para cada ação, há sempre uma reação oposta e de igual intensidade: as ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas em sentidos opostos.” No campo da Matemática, Newton deixou-nos o conhecido binómio de Newton. Este trata-se de um método prático para o desenvolvimento de binómios elevados a expoentes racionais ou inteiros negativos. No entanto, um dos seus legados mais importantes é o seu estudo acerca de “fluxões” (derivadas) e “fluentes” (integrais), hoje designado por Cálculo Diferencial e Integral, devido à influência de Leibniz. Acontece que ambos Isaac Newton e Gottfried Leibniz trabalharam este assunto independentemente, o que levou a uma disputa sobre a autoria do desenvolvimento do cálculo, apesar de os dois estudiosos terem usado métodos bastante distintos. Inicialmente, Newton estaria interessado em determinar a velocidade instantânea, para suportar os seus estudos relativos à física mecânica. Assim, para calcular a velocidade num instante considerou intervalos de tempo cada vez menores, nos quais o valor de velocidade obtido se aproximava cada vez mais de um valor, sem nunca o alcançar, um limite. À velocidade instantânea no momento considerado é, então, atribuído o valor desse limite, ao qual, em matemática, podemos chamar derivada. Newton concluiu também que as integrais são operações inversas das derivadas. As integrais têm como função original determinar a área sob a curva de uma função no plano cartesiano. Todas estas contribuições de Newton para a matemática são, ainda hoje, fundamentais nas ciências, nomeadamente na física. Isaac Newton acabou por falecer em Londres, no dia 20 de março de 1727. Contudo, deixou para a humanidade um património intelectual imortal, que marcou várias áreas do conhecimento. . Beatriz Ferreira, Beatriz Varela, Camila Cruz, Yasmin Swerak
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O mar dá bom clima
Projeto: “O mar dá bom clima!” Uma experiência interdisciplinar… N
o dia 28 de novembro de 2019, a turma C do 8º ano da nossa escola realizou uma saída de campo às pradarias marinhas de Troia. Esta visita inseriu-se num projeto desenvolvido em parceria com a organização Ocean Alive. Pretende-se que os alunos compreendam a necessidade de proteção dos oceanos, com foco na divulgação e proteção das pradarias marinhas do estuário do Sado, destacando-se, deste modo, o papel do oceano no combate às alterações climáticas. O ensino das ciências tem de ser obrigatoriamente prático/experimental, se quisermos aumentar os níveis de motivação e sucesso dos nossos alunos. Assim sendo, passámos da teoria à prática e, numa manhã de chuva, que ultrapassou as piores previsões do estado do tempo, partimos para Troia. Na maré baixa, fizemos uma recolha de seres vivos. Posteriormente, com a ajuda das biólogas marinhas Raquel Gaspar e Sílvia Tavares, identificámo-los e, em seguida, voltámos a devolvê-los ao seu habitat. Estudámos assim um ecossistema com “água até aos joelhos”. Sentimos os fatores abióticos e observámos os fatores bióticos… Afinal, o conceito de ecossistema da aula teórica estava a ser observado em “direto ao vivo e a cores”. Por último, convém dizer que este tipo de projeto só faz sentido numa perspetiva interdisciplinar. Nesse sentido, desafiei os professores do Conselho de Turma a “navegar nesta aventura”. Na disciplina de Inglês os alunos elaboraram cartazes, tendo por base vídeos em inglês sobre a temática; na disciplina de Geografia elaboraram sínteses escritas sobre a localização geográfica das pradarias marinhas e assistiram a uma aula dada por uma pescadora; na disciplina de F. Químicas mediram o pH da água do mar; na disciplina de Educação Visual elaboraram o vídeo da saída e um logotipo; na disciplina de C. Naturais - fizeram pesquisas, apresentações orais; saída de campo; exposição na escola; assistiram a aula dada por uma pescadora; questionaram os stakeholders participantes no projeto; participarão na sessão de encerramento por vídeo conferência; na disciplina de Português elaboraram textos de escrita criativa. Por tudo isto, um agradecimento especial ao professor Miguel Boullosa que, desde a primeira hora, como diretor da turma, acarinhou o projeto, aos restantes professores: Fátima Diogo, Pedro Henriques, Teresa Hiêu, Paula Agostinho e, por último, aos pais que nos confiaram os seus filhos para participarem numa saída de campo, em pleno Outono, bem diferente de uma simples ida a um Museu. As competências a desenvolver neste projeto são: o “pensamento Crítico”, a “Criatividade”, a “Colaboração no trabalho em grupo” e a “Comunicação”, os quatro C’s que “preparam” os jovens para o século XXI. O coordenador do projeto na Escola Secundária de Bocage
Carlos Bico
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O mar dá bom clima
Uma saída de campo em pleno estado de emergência? A turma C do 8º ano tinha agendada uma saída de campo à Carrasqueira e Herdade da Comporta (Museu do arroz), no dia 25 de março, no âmbito do projeto: “O mar dá bom clima.” Devido ao estado de emergência decretado pelo governo esta não se pôde realizar.
Como ultrapassar esta situação? Os alunos fizeram pesquisas sobre estes dois locais e, cada um, elaborou uma questão para os pescadores da Carrasqueira e uma questão para a Herdade da Comporta. Surgiram assim 56 questões. Na impossibilidade de estarem presentes fisicamente, um casal de pescadores da Carrasqueira Cidália e Candinho, com a ajuda da bióloga Sílvia Tavares, gravaram um vídeo, em que responderam à totalidade das questões apresentadas pelos alunos. Pelo mesmo processo, a bióloga Beatriz Pina da Herdade da Comporta respondeu às questões formuladas. Os links dos referidos vídeos são os seguintes: https://www.youtube.com/watch?v=eKnirTLVjfw https://youtu.be/b3d1HuJJE1g Não foi o desejável, mas… o possível, dada a conjuntura atual!
Por último, resta agradecer aos intervenientes nos vídeos e à Ocean alive que, mais uma vez, tornou possível a “realização desta saída de campo ainda que, de forma virtual.
O coordenador do projeto na Escola Secundária de Bocage Carlos Bico
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Física e poesia
Olimpíadas da Física No dia 6 de junho de 2020 participaram nas Olimpíadas da Física — Fase Regional, escalão B — em representação da nossa escola os alunos do 11º ano Diogo Folião, Gustavo Sousa e Ricardo Carvalho. Parabéns ao Diogo e ao Ricardo, pois foram selecionados para a Olimpíada Nacional.
No Momento Que as Estrelas Começaram a Brilhar Os planetas estão alinhados, As estrelas aparecem. Encontros sonhados, Segredos que desconhecem.
A TABELA PERIÓDICA Chamo-me tabela periódica Provoco-te dúvidas teóricas Fica atenta às pistas
O universo parece solitário, Mas as constelações aparecem. É um momento lendário, Onde sozinhos prevalecem.
Com 3 cores diferentes As letras vais ter que juntar E os números somar
O sítio deles é o planetário, Ele é o primeiro a falar. Um segredo ele quer compartilhar. Diz ele ser solitário.
Se me queres encontrar Para o lado podes olhar Mas se me quiseres decorar Para o livro tens de olhar E a vida criar .....
Ela olha para a estrela polar, Diz que é bonita, Ele diz que acredita, Mas quando ela vai olhar Não é da estrela que ele está a falar.
Mariana Martins
Ela começa a corar Foi a melhor noite da sua vida. Ele diz que a sua missão foi cumprida, No momento em que as estrelas começaram a brilhar. Laura Grosso
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Física e poesia
Esta é a tabela periódica E um pouco dela vou falar Mas a quem não se dedica Pode se por já daqui a andar Tem todos os elementos Desde os naturais aos artificiais Este é o meu entretenimento Um pouco antes dos exames finais A tabela é dividida Em grupos e períodos Dá a certa medida Aos pequenos e aos graúdos
Físico-química é uma ciência Em que se estuda, interpreta e compreende, Mas infelizmente, não agrada toda a gente. Em física, tudo é ou não é. O que é tem de ser, E o que não é, Alguma lei tem de o dizer. Com a 1ª, 2ª e 3ª lei de Newton O movimento conseguimos explicar, Até como a Terra consegue girar, Porque enfim, A física tudo consegue desvendar.
Por exemplo vou falar De um que já deves ouvir Tenta não bocejar Porque á noite vais ter de o redigir
Em química, tudo é diferente. Não há leis nem normas, Apenas átomos e novas formas Porque conhecer, explorar e criar É o que esta disciplina nos que dar.
O enxofre é um não metal E tentando não dizer mal Para os seus expectadores Há imenso nos açores Mas cheira muito muito mal
É associada à tabela periódica E pode ser considerada metódica. Mas não se deixem enganar Porque a química está em todo o lugar.
Do cobre também já ouviste falar E este é um metal Só o encontra quem minerar Pois é um mineral monumental Com isto resta nos os semimetais Tem calma que não é complexo Haverás de encontrar muitos mais Porem vou falar deste perplexo
O ar que respiramos, A comida que comemos, A roupa que usamos, Ou os objetos em que tocamos. Tudo envolve química. A física e a Química permitem-nos achar para tudo uma solução, E no futuro serão a nossa salvação. Joana Matos
O arsénio até é vulgar Comparando com os ouros Pode usar se em veneno Que matam os pobres besouros E com este pequeno poema Quero te ensinar Que a tabela periódica Não é fácil de estudar Tens de estar atento e perceber Para que a matéria seja mel Mais fácil será de aprender Com a professora Isabel
Será a chama do fogo uma reação química? Ou apenas um jogo de mímica? É uma reação chamada combustão também associada à paixão mas isso tem a ver com o coração. Laura Santos
Salomé Trovão
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Física e poesia
O Alumínio e a perda da sua memória Este poema é incomum não fala do amor não fala da vitória fala de um átomo e a perda da sua memória
tornar-me-ia positivo queria ser um dos catiões" e com ar conclusivo decidiu acrescentar "tenho 3 eletrões de valência e o meu número atómico por coincidência é o mesmo do meu grupo"
Decidiu sair à rua o átomo Alumínio deixando a Tabela Periódica o seu condomínio Venderia três eletrões tornar-se-ia positivo mas por seu fascínio no meio do caminho perdera parte da memória não se lembrava ser o Alumínio
A memória tinha voltado tudo o que esquecera fora lembrado Voltou a bater à porta e uma voz disse "Outra vez este miúdo? Quem és tu ?" "Sou Alumínio, terceiro período grupo treze" respondeu e a Tabela Periódica o acolheu
Regressou à tabela o Alumínio e sem esperanças falou " Não me lembro que período sou muito menos a que grupo pertenço sei apenas o meu numero atómico desse nunca me esqueço" uma voz respondeu "O número atómico, aquele que não esqueceu, é o suficiente, para saber o resto"
Este poema foi incomum não falou do amor não falou da vitória falou de átomo e a perda sua memória Margarida Severino Vargas
O Alumínio começou a raciocinar "queria vender três eletrões
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Poesia e opinião
Vale a pena? Já pensaram se vale a pena? Se vale a pena nascer? Se vale a pena viver? Se vale a pena morrer? Se vale a pena sonhar? Se vale a pena lutar? Se vale a pena tudo isto? Pensem bem nisto. Só vale a pena, Quando queremos mais. Só vale a pena, Se não olharmos para traz. Então, será que vale a pena? Laura Grosso
A minha teoria de vida A
o longo da nossa vida vamos definindo princípios que nos orientam e que sustentam a nossa teoria de vida. A minha teoria baseia-se essencialmente em três princípios. O primeiro princípio consiste no respeito pelos outros. Para mim, este deveria ser comum a todas as teorias de vida, sendo que, é importantíssimo, enquanto sociedade, existir respeito. Aceitar as diferenças do próximo e compreender que todos merecemos os mesmos direitos é essencial. A segunda base da minha teoria é o otimismo. Tento sempre encontrar o lado positivo, evitando o negativismo. Encarar a vida desta forma é a chave para a felicidade. O último consiste na contribuição para um mundo melhor. Sempre que tenho possibilidade, utilizo a minha voz ou as minhas plataformas online para defender causas como a igualdade, o ambiente e os direitos humanos. Penso que este é o princípio mais relevante e que todos devemos contribuir para uma sociedade mais justa e por um mundo melhor. Concluindo, a minha teoria de vida baseia-se na progressão e no melhoramento pessoal e, consequentemente, da sociedade.
Alice Ferreira
N
o último capítulo, durante o Passeio Final, Carlos da Maia e João da Ega expõem a teoria de vida que haviam desenvolvido nos últimos anos. Esta filosofia baseia-se no “fatalismo muçulmano”, que consiste na crença de que tudo o que acontece estava destinado a acontecer. Devido a uma força superior (destino, fado) que rege implacavelmente o curso das nossas vidas, deixa de haver lugar para a inteligência, iniciativa e vontade humanas. Assim, a única solução passa pela aceitação resignada dos acontecimentos da vida, não tendo nem esperanças, nem ambições ou receios, mas sim consciência da impossibilidade de qualquer controlo sobre a nossa própria existência. Desistindo da ideia de livre arbítrio, Carlos e Ega concordam na “inutilidade de todo o esforço”, nunca valendo a pena “correr com ânsia para coisa alguma”. Também no trailer do filme A Juventude de Paolo Sorrentino vemos uma filosofia parecida. A falta de vontade de realizar certos objetivos ,tendo em conta a aproximação da morte, é uma ideia salientada no vídeo. Ficamos com a impressão de que não vale a pena fazer esforços, mas dar apenas ouvido às emoções. Visto que nada poderemos controlar através da razão, poderemos apenas ser responsáveis em relação à satisfação das necessidades biológicas. Vemos esta ideia presente em Carlos e Ega, tendo este último chegado a afirmar, em tom de brincadeira, que a vontade de viver “depende inteiramente do estômago”. Ambas as teorias de vida se regem pela aceitação da inexistência de controlo sobre a vida e pela preferência pela falta de objetivos e desejos, escolhendo apenas satisfazer as necessidades mais básicas e inconscientes.
Maria do Ó
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opinião
Maria do Ó
Teorias de vida D
epois de ler Os Maias, e ainda com o excerto final bem presente, encontrei, ao ver o trailer do filme «A Juventude» de Paolo Sorrentino (2015), aspetos em comum, na medida em que, quer na obra, quer no filme, há dois amigos que refletem acerca da sua vida, fazendo um balanço do seu passado. No romance, a teoria de vida apresentada por Carlos e Ega relaciona-se com o fatalismo muçulmano, que nos mostra que não devemos desejar nada para nada recear, aceitando assim o que a vida nos dá, quer seja bom ou mau. Consideravam as personagens que não valia a pena dar um passo para alcançar fosse o que fosse na Terra e que os sentimentos só serviam para enfraquecer as pessoas. Por oposição a esta teoria de vida, as personagens do filme valorizam os sentimentos, afirmam que as emoções são a essência da nossa vida, por isso sentem saudades do seu passado, que consideram o melhor momento da sua vida, e angústia por não poderem voltar atrás e já não conseguirem partilhar a vida com os seus familiares que partiram. Em suma, valorizar só a razão ou só o sentimento na vida pode conduzir ao desequilíbrio, o que leva à falta de respostas em algumas situações que, deste modo, ficam por resolver. O equilíbrio na vida só se consegue, portanto, através de uma boa gestão entre razão e emoção, porque, se existem situações em que devemos agir pela razão, também há momentos em que devemos deixar-nos guiar pelos sentimentos. Gonçalo Bento
D
iversão, despreocupação e até inconsciência são palavras que atualmente caracterizam a vida da maioria das pessoas. É urgente mudar estas mentalidades, o que não implica necessariamente acabar de vez com o divertimento. Implica, sim, adotar valores de modo a que quem vive assim a sua vida possa também fazer algo importante com ela e deixar o seu legado neste mundo que um dia abandonará. Na vida, a meu ver, devemos refletir acerca das consequências dos nossos atos, para que deixemos a nossa melhor marca neste lugar. Assim, temos a obrigação de olhar para o nosso próximo e de ver o que podemos fazer por ele, bem como de contribuir para uma sociedade mais justa e mais agradável para todos. Sempre me ensinaram que, se fizermos o bem, recebemo-lo de volta; logo, se praticarmos boas ações, a nossa vida valerá a pena e deixaremos algo de bom neste mundo. Até porque não é preciso ser-se um génio da Física ou da Matemática para sermos lembrados no futuro. Um gesto tão simples como dar comida a quem não a tem pode tornar-nos “imortais”. Concluindo, devemos viver alegremente, mas sem nunca esquecer que os nossos atos permanecerão, ou não, na história da sociedade.
Vlad Melo
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