Alessandra Coelho - Óleo de Peixe e Resposta Inflamatória Entendendo o mecanismo de ação

Page 1

ÓLEO DE PEIXE E RESPOSTA INFLAMATÓRIA

Mirela Douradinho Fernandes Nutricionista

Especialista em Nutrição Humana Aplicada e Terapia Nutricional (IMEN), Integrante da equipe de PréNatal da Casa de saúde da mulher (UNIFESP/EPM), Mestranda em Medicina - Dep. Obstetrícia (UNIFESP/EPM)


INTRODUÇÃO Lipídios  ácidos graxos(AGs): • Saturados • Insaturados: Mono e Poli-insaturados Ácidos graxos essenciais: não são sintetizados em humanos.

Ômega-3

Ômega-6


 Os ácidos graxos insaturados são caracterizados pela presença de duplas ligações em suas cadeias carbônicas.  Existem 4 grandes famílias de ácidos graxos com esse aspecto, sendo duas essenciais para a nutrição humana: – Família ômega-3  ácido alfa-linolênico (ALA) – Família ômega-6 ácido linoléico (AL)

IOM 2005.


FAMÍLIA ÔMEGA 3  Composta pelo ALA e outros ácidos graxos de cadeia muito longa: – Eicosapentaenóico (EPA) – Docosahexaenóico (DHA)

is s a M do a d u est

 15% do ALA  EPA  5% DHA por processo lento em humanos Plourde e Cunnane 2007


 Obtenção na dieta: • Maior fonte direta: Óleo de Pescados (WHELAN 2009).

 O uso de Óleo de Peixe como suplemento dietético pode beneficiar diversas condições de saúde e doença.  Diferença na relação EPA:DHA causa efeitos distintos

Particularidades de suas ações biológicas

Bhattacharya et. al 2007


BENEFÍCIOS E ATUAÇÕES Peculiaridades do DHA e EPA

Kris-Etherton et. al 2002; Okumura et. al 2002; Lima et. al 2004; Bryhn et. al 2006; Bhattacharya 2007


EPA EM FOCO  EPA: • AG de cadeia muito longa • Modificado por processos enzimáticos no organismo humano • Origina outros compostos : Leucotrienos de série 5 e Prostanóides de série 3  geram Tromboxanos de série 3

Substâncias com potencial menos inflamatório equilíbrio da inflamação ingestão de outros AG pró-inflamatório  AL Lee e Lip 2003; Innis 2003


EPA EM FOCO O equilíbrio confere os conhecidos benefícios:  Anti-inflamatório  Antitrombótico  Anti-arrítmico  Anti-aterogênico

Lee e Lip 2003; Innis 2003


EPA EM FOCO  EPA: efeito imunomodulador, ao suprimir a proliferação de células T  induzindo a apoptose celular inibindo interleucinas (IL).  Efeito  explicar o benefício de dietas ricas em EPA Doenças inflamatórias

Terada et. al 2001



OBESIDADE:

Aplicações clínicas

A suplementação por 3 meses com 1,8g/dia de EPA administrada à pacientes obesos, reduziu os níveis de TNF-α em macrófagos do tecido adiposo e aumentou a secreção de adiponectina, citocina anti-inflamatória. Itoh 2007


Mecanismos moleculares:  Administração EPA (1g/kg/dia) ratos: do TA retroperitoneal no grupo controle, possivelmente devido à inibição da expressão do fator de transcrição PPARγ;  Melhora da resistência à insulina no grupo dieta: • Supressão da expressão gênica de TNF-α e normalização da adiponectina sérica.

Pérez-Matute et. al 2007


 avaliando a expressão gênica, a suplementação por 35 dias com EPA foi capaz de a transcrição para IL-6 e para síntese de ácidos graxos • Evidenciando: a relevância desse nutriente no tratamento do quadro inflamatório da obesidade.

Pérez-Echarri 2008; Wortman et. al 2009


DCV:

Evidências consistentes apontam o Óleo de Peixe como fator dietético responsável pela redução da mortalidade, infarto do miocárdio, morte cardíaca súbita e doença arterial coronária, devido ao seu potencial anti-inflamatório, antiarrítmico e antiaterogênico Oh 2005


 A administração de EPA por 5 anos em japoneses hipercolesterolêmicos em uso de estatinas: • a reincidência de derrames em comparação à indivíduos  apenas medicamento  Outro estudo, melhora da função endotelial em homens com hipertrigliceridemia após a suplementação de EPA (1,8g/dia) por 3 meses.

Tanaka et. al 2008; Okumura et. al 2002


SNC

Revisão demonstrou que a suplementação com EPA parece ser mais eficiente em desordens de humor em comparação ao DHA, apesar deste, também, possuir aplicações nessa área.

Ross et. al 2007


BERGER et. al (2008) investigaram o metabolismo cerebral in vivo em epis贸dios de psicose ap贸s 12 semanas de suplementa莽茫o com EPA ou placebo e verificaram que o nutriente modulou o ciclo glutamina/glutamato, melhorando os sintomas negativos da psicose.

Berger et. al 2008


Câncer (CA)  Maior sobrevivênciamelhora de complicações e dos marcadores inflamatórios pacientes CA transplantados medula óssea e nutrição enteral.  A ação anti-inflamatória  modular a sinalização intracelular e a expressão de genes degradação protéica, atrofia muscular Preservando o estado nutricional Elia et. al 2006; Magee 2008; Young e Conquer 2005; Khal e Tisdale 2008


Os suplementos de 贸leo de peixe s茫o todos iguais?

=

?


O que deve ser considerado na escolha do suplemento para prescrever aos pacientes?

=

?


CONCENTRAÇÃO Por que concentrar? Necessidade de altas doses de ingestão, dependendo do objetivo Redução do número de cápsulas – facilitar ADESÃO  Reduzir o fornecimento de outros tipos de gorduras: ALA, DPA, ω-6

Kris-Etherton et. al 2002; Okumura et. al 2002; Lima et. al 2004; Bryhn et al 2006; Bhattacharya 2007


Óleo de Peixe Concentrado - TG Triglicerídeos (TG)

Os pescados fornecem, naturalmente, o Omega-3 na forma de triglicerídeos. Os triglicerídeos compõem a nossa alimentação há milhares de anos, sendo, facilmente, reconhecidos e absorvidos pelo organismo.


Como obter um Óleo de Peixe Concentrado? Os triglicerídeos são hidrolisados em ácidos graxos livres, perdendo o glicerol. Etanol é adicionado nos ácidos graxos para estabilizar a estrutura, criando ácidos graxos Etil Éster (EE) - ETANÓLISE

CH3CH2OH Moura et. al 2006


COMO OBTER UM ÓLEO DE PEIXE CONCENTRADO? Ácidos graxos indesejáveis são removidos e substituídos por DHA e EPA por meio da destilação molecular (separação por evaporação à alto vácuo)

CH3CH2OH

Matéria prima EE: forma mais comercializada


COMO OBTER UM ÓLEO DE PEIXE CONCENTRADO? Reesterificação enzimática em TG: Completa o processo de concentração

 Reconverte o EE em TG 

A matéria-prima na forma EE é bem mais barata em comparação a forma TG, o que permite a venda desses produtos a preços baixos.


% Biodisponibilidade EPA+DHA

* = p<0,0001 entre rTG e EE: doses ajustadas. Dyerberg et. al 2010


RESUMINDO.... Os EE precisam sequestrar glicerol de outro lipídeo para serem absorvidos Esses lipídeos tentarão remover o glicerol de outras moléculas, sucessivamente, gerando ácidos graxos livres e, potencialmente, radicais livres O EE é uma molécula pouco estável durante o armazenamento A hidrólise do EE pela lipase pancreática é lenta e menos efetiva

El Boustani et. al 1987; Lawson e Hughes 1988


SELEÇÃO DOS PEIXES Peixes de águas profundas e geladas são, naturalmente, ricos em EPA e DHA Alimentação rica em fitoplânctons e zooplânctons

BASE DA CADEIA ALIMENTAR MARINHA Sargent 1997; Lavaniegos & López-Cortés 1997; Kang 2011


SELEÇÃO DOS PEIXES Peixes de águas marinhas respondem pouco à administração de ômega-3 pela ração  Gorduras de animais terrestres são mais utilizados - baixo custo  Fontes vegetais de Omega-3 – fonte de baixa conversão em EPA e DHA Óleos obtidos de fontes pobres em EPA e DHA são adicionados de EE para atingir as concentrações mínimas do produto padrão Efeito sobre a biodisponibilidade!

Ribeiro et al 2007


ESTABILIDADE - ANTIOXIDANTES NO ÓLEO  Primordial para a preservação do Omega-3 Vitamina E livre natural (d-alfatocoferol) capaz de estabilizar o produto por meio da doação de H e atuar no organismo

Fonte: Ramalho e Jorge 2005

Cosgrove et. al 1987; Batista et. al 2007


CONTAMINAÇÃO POR METAIS TÓXICOS Contaminação dos peixes por metais pesados: sério problema ambiental Mercúrio: alta toxicidade e capacidade de acumulação na cadeia alimentar  Exposição ao mercúrio (aproximadamente 50ng/kg/dia): advém, principalmente, dos pescados  Fabricantes devem fornecer laudos técnicos que comprovem a inocuidade do suplemento

ATSDR 1999; Goyer et. al 2000; UNEP/WHO 2008; Mieiro et. al 2011


RESUMINDO... O que considerar? Procedência da matéria prima: seleção dos peixes Contaminação por metais pesados Presença de antioxidantes na cápsula: qual? Concentração dos componentes por cápsula Estrutura química do produto: taxa de aproveitamento • Permite a obtenção do mesmo efeito com menores doses


Referências 1-Institute of Medicine (IOM). Dietary reference intakes for energy, carbohydrates, fiber, fat, fatty acids, cholesterol, protein and amino acids (macronutrients). Washington (DC): National Academy Press; 2005. 2Plourde M, Cunnane SC. Extremely limited synthesis of long chain polyunsaturates in adults: implications for their dietary essentiality and use as supplements. Appl Physiol Nutr Metab 2007; 32(4): 619-34. 3Bhattacharya A, Sun D, Rahman M, Fernandes G. Different ratios of eicosapentaenoic and docosahexaenoic omega-3 fatty acids in commercial fish oils differentially alter pro-inflammatory cytokines in peritoneal macrophages from C57BL/6 female mice. J Nutr Biochem 2007; 18(1): 23-30. 4- Okumura T, Fujioka Y, Morimoto S, Tsuboi S, Masai M, Tsuiino T, et al. Am J Med Sci 2002; 324(5):247-53. 5- Bryhn M,Hansteen H, Schanche T, Aakre SE. Prostaglandins Leukot Essent Fatty Acids 2006; 75(1): 19-24. 6- Lee KW, LIP GYH. The role of omega-3 fatty acids in the secondary prevention of cardiovascular disease. Q J Med 2003; 96: 465–80. 7- Innis SH. Perinatal biochemistry and physiology of long-chain polyunsaturated fatty acids. J Pediatr 2003; 143(4): 1-8. 8- Terada S, Takizawa M, Yamamoto S, Ezaki O, Itakura H, Akagawa KS. Suppressive mechanisms of EPA on human T cell proliferation. Microbiol Immunol 2001; 45(6): 473-81. 9- Itoh M, Suganami T, Satoh N, Tanimoto-Koyama K, Yuan X, Tanaka M, et. al. Increased adiponectin secretion by highly purified eicosapentaenoic acid in rodent models of obesity and human obese subjects. Arterioscler Thromb Vasc Biol 2007; 27(9): 1918-25. 10- Pérez-Matute P, Pérez-Echarri N, Martínez JA, Marti A, Moreno-Aliaga MJ. Eicosapentaenoic acid actions on adiposity and insulin resistance in control and high-fat-fed rats: role of apoptosis, adiponectin and tumour necrosis factor-alpha. Br J Nutr 2007; 97(2):389-98. 11- Pérez-Echarri N, Pérez-Matute P, Marcos-Gómez B, Baena MJ, Marti A, Martínez JA, et. al. Differential inflammatory status in rats susceptible or resistant to diet-induced obesity: effects of EPA ethyl ester treatment. Eur J Nutr 2008; 47(7): 380-6. 12- Wortman P, Miyazaki Y, Kalupahana NS, Kim S, Hansen-Petrik M, Saxton AM, et. al. n3 and n6 polyunsaturated fatty acids differentially modulate prostaglandin E secretion but not markers of lipogenesis in adipocytes. Nutr Metab (Lond) 2009; 6:5. 13- Oh R. Practical Applications of Fish Oil (Ω-3 Fatty Acids) in Primary Care. J Am Board Fam Pract 2005, 18:28–36.


Referências 14- Tanaka K, Ishikawa Y, Yokoyama M, Origasa H, Matsuzaki M, Sasaki J, et. al. Reduction in the recurrence of stroke by eicosapentaenoic acid for hypercholesterolemic patients: subanalysis of the JELIS trial. Stroke 2008; 39(7): 2052-8. 15- Ross BM, Seguin J, Sieswerda LE. Omega-3 fatty acids as treatments for mental illness: which disorder and which fatty acid? Lipids Health Dis 2007; 6:21. 16- Berger GE, Wood SJ, Wellard RM, Proffitt TM, McConchie M, Amminger GP, et. al. Ethyl-eicosapentaenoic acid in first-episode psychosis. A 1H-MRS study. Neuropsychopharmacology 2008; 33(10): 2467-73. 17- Elia M, Van Bokhorst-de van der Schueren MA, Garvey J, Goedhart A, Lundholm K, Nitenberg G, et. al. Enteral (oral or tube administration) nutritional support and eicosapentaenoic acid in patients with cancer: a systematic review. Int J Oncol 2006; 28(1): 5-23. 18- Magee P, Pearson S, Allen J. The omega-3 fatty acid, eicosapentaenoic acid (EPA), prevents the damaging effects of tumour necrosis factor (TNF)-alpha during murine skeletal muscle cell differentiation. Lipids Health Dis 2008; 7: 24. 19- Young G, Conquer J. Omega-3 fatty acids and neuropsychiatric disorders. Reprod Nutr Dev 2005; 45(1): 1-28. 20- Khal J, Tisdale MJ. Downregulation of muscle protein degradation in sepsis by eicosapentaenoic acid (EPA). Biochem Biophys Res Commun 2008; 375(2): 238-40. 21- Kris-Etherton PM, Harris WS, Appel LJ. Circulation 2002; 106: 2747–57. 22 – Dyerberg J, Madsen P, Moller JK, Aardestrup I, Schmidt EB. Prostaglandins LeuKot Essent Fatty Acids 2010; 83(3): 137-41. 23- el Boustani S, Colette C, Monnier L, Descomos B,Crastes de Paulet A, Mendy F. Lipds. 1987; 22(10): 7114. 24- Lawson LD, Hughes BG. Biochem Biophys Res Commun 1988; 152(1): 328-35. 25- Sargent JR. Br J Nutr 1997; 78(1): 5-13. 25- Kang JX. Biotechnol Adv 2011; 29(4): 388-90. 26- Kang JX. Biotechnol Adv 2011; 29(4): 388-90. 27- Cosgrove JP, Church DF, Pryor WA. Lipids 1987; 22(5): 299-304. 28- UNEP/WHO. Issued by UNEP DTIE Chemicals Branch and WHO Department of Food Safety, Zoonoses and Foodborne Diseases. Geneva, Switzerland; 2008. 29- Agency for Toxic Substances, Disease Registry (ATSDR). Department of health and human services, Public Health Service, 1999. 30- Mieiro CL, Pacheco M, Duarte AC, Pereira ME. Mar Pollut Bull 2011; 62(12): 2850-3.


OBRIGADA!!!

Mirela Douradinho Fernandes midfernandes@yahoo.com.br Tel. (11) 97180-1213


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.