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Capítulo Dois
Capítulo Dois
Vivian acordou e olhou para as telas na frente dela. Os Ke'ters na ponte causaram muitos danos ao equipamento enquanto ela descansava. Eram claramente estúpidos demais para saber que não podiam acessar os motores naquele local.
— Não acontecerá.
— Ela gemeu quando se moveu, seu corpo doendo de dormir na posição vertical.
Olhou para o relógio. Fazia treze horas desde que iniciou o bloqueio. O Comandante Alderson recusou-se a atender suas ligações. Não havia alimentação de segurança que pudesse chamar em seus aposentos. Toda a tripulação tinha privacidade total dentro de suas casas.
Outro fato alarmante que descobriu, foi que as outras três estações de controle na nave não atendiam suas ligações. Deveria ter alguém em cada uma delas o tempo todo. Como em Controle Um, elas pareciam ter sido abandonadas.
Ela também passou horas vasculhando a nave através das câmeras e localizou dezenove dos vinte e dois Ke'ters. Eram os três
desaparecidos com quem se preocupava.
Além dos que estavam na ponte, os outros estavam presos nos corredores, incluindo seis no corredor do lado de fora da sala de
interrogatório, onde atacaram seu pai adotivo. E claro, três permaneciam selados dentro do elevador onde os viu no dia anterior.
O número de membros da tripulação assassinados a desconcertou. Parou de contar depois de trinta. Era muito doloroso. Os Ke'ters atacaram várias áreas da nave em equipes. Aqueles que tinham como alvo médicos com aquela bomba, provavelmente eram os três presos no elevador perto daquela seção.
Ela se levantou, esticando o corpo rígido e se moveu para a pequena sala de descanso. Tinha acesso a muitos alimentos e bebidas, para não morrer de fome ou desidratar. Havia até beliches para dormir, mas se afastou da cadeira enquanto olhava para a ponte.
Vivian comeu uma barra de nutrientes sem gosto e tomou uma bebida energética. Sentia-se mais alerta quando usou o banheiro, jogou um pouco de água no rosto e voltou para mesa de controle.
Ela se sentou, observando os Ke'ter destruírem mais coisas na
ponte, brincando com o interior. Outra tentativa de contatar o Comandante ficou sem resposta.
— Idiota. — Ela murmurou. Então limpou a garganta, ativando os comandos para a nave.
— Talvez vocês estejam trancados em seus aposentos, preocupados com o que está acontecendo e ninguém em nenhuma das áreas gerais atende suas ligações. Elas foram praticamente abandonadas antes do bloqueio. Ela fez uma pausa. — Meu nome é Vivian Goss. Eu sou a filha adotiva de Big M. Também fui eu quem iniciou o bloqueio. Os dispositivos de linguagem estrangeira não têm a capacidade de traduzir palavras escritas, por isso soletrei os comandos. Para confundir os Ke'ters. — Ela respirou fundo novamente. — Os motores estão agora off-line, porque os Ke'ters assumiram o controle da ponte. Eu não entrarei em detalhes, mas esses bastardos não nos levarão para nenhum lugar. Espero que vocês encontrem conforto em saber disso. Estamos sentados no espaço esperando por ajuda. O sinal de emergência está ligado. Apenas esperem aí.
Ela se inclinou para frente, fechou os olhos e tentou pensar no que mais deveria dizer à sua equipe. — Muitos de vocês me conhecem se são membros da tripulação há muito tempo. Mas se forem novos, saibam que estou nesta nave desde que Big M me adotou. Ele é... — A dor a sufocou e ela precisou limpar a garganta. — Ele era o chefe da segurança. Os Ke'ters o assassinaram. Gostaria que fosse ele falando com vocês agora. Estou no Controle Um e prometo que farei o melhor que puder para manter todos seguros e vivos até que chegue ajuda. — Ela fez uma pausa. — Por favor, não ignorem as travas de segurança em seus aposentos ou saiam de onde estão. Há alguns Ke'ters presos em corredores por toda a nave e o laser não funciona neles. Vocês ficarão mais seguros se permanecerem onde estão.
Ela terminou a transmissão e suspirou, fechando os olhos. O peso de cada vida a bordo do Gorison Traveler estava em seus ombros. A pressão era intensa e demais para lidar. Mas não tinha escolha.
A linha de comunicação interna zumbiu e ela se lançou, ligandoa. — Vivian Goss aqui.
Houve uma pausa. — É Abby Thomas. —Disse uma voz
feminina.
Vivian tentou identificar esse nome, mas ficou em branco. Era
uma grande nave, ela não conhecia todo mundo e esteve fora por dois anos, vivendo na Terra enquanto estava na escola. — Por acaso você sabe os códigos de substituição para usuários de longa distância, Abby?
A mulher fez uma pausa novamente. — Você é o operador do Controle Um, mas não tem acesso? Explique isso para mim.
Vivian suspirou. — Eu não sou o operador. Sou apenas a única aqui. Você tem os códigos de substituição? Obviamente esperava que você tivesse acesso a esse número seguro, talvez você seja um dos oficiais de comunicações.
— Você está me dizendo que não é um operador, mas tem controle dessa estação?
— Sim. Eu preciso desesperadamente enviar uma mensagem para a Estação Branston para que eles saibam o que aconteceu. Receberão nosso sinal de socorro e enviarão ajuda, mas estarão carregando rifles de laser, que são ineficazes contra Ke'ters. Eles precisam ser avisados.
— Não tenho como verificar nada do que aconteceu. Pelo que sei, você pode ser um rebelde que assumiu o controle do Gorison
Traveler.
Vivian franziu a testa. — Qual é seu cargo?
— Eu não estou atribuída a esta nave. Estou pegando uma carona da Estação Espacial Branston até a Colônia Bassius para consertar alguns problemas que tem. Meus pais projetaram a maioria dos sistemas operacionais usados em embarcações da frota. Eu faço upgrades neles. Posso ajudar... mas por que deveria?
— Big M era o chefe de segurança.
— Eu o conheci.
— Então tenho certeza que você sabe que ele me adotou. Big M se gabava constantemente de seus filhos. Meu pai era seu melhor amigo e ele morreu durante a batalha em Yelton quando eles foram atacados pelos Prog. Eu não sou um operador, mas meu pai adotivo insistiu que seu filho, Mikey e eu tivéssemos acesso a todas as quatro estações de controle. Eu estava em um vídeo ao vivo com Mikey quando os Ke'ters atacaram toda a equipe de segurança em uma reunião. Mikey me disse para vir ao Controle Um. Quando ninguém
respondeu na porta, digitei o código de acesso e entrei. O operador
não estava aqui.
— Este não é o protocolo.
— Não, merda! — Vivian gritou, ficando frustrada. — As outras três estações de controle não estão respondendo. Acho que elas também foram abandonadas. Não faz sentido, a menos que estivessem trabalhando com os Ke'ters.
— Isso não pode ser. —Protestou Abby.
Vivian suspirou. — Todas as quatro estações de controle foram deixadas sem monitoramento. Isso nunca aconteceu. — Ela fez uma
pausa. — Os Ke'ters se separaram e atacaram seções da nave ao mesmo tempo. Os líderes de equipes de nossas forças de segurança foram assassinados, enquanto médicos foram bombardeados. Todos se foram, Abby. Totalmente explodido e o pessoal médico junto. Por favor, não me pergunte quantas pessoas estavam lá. Apenas posso adivinhar, a julgar pelos pedaços que vi nas câmeras de segurança. Isso também significa que todas as salas de cirurgia, baias de trauma e máquinas de cirurgia desapareceram. — Lágrimas enchem seus olhos. — Eles também atacaram a tripulação da ponte e assassinaram todos lá em cima. Como você acha que aconteceu isso? Deixe-me
dizer, caso não saiba, a ponte é independente. Eles têm portas e paredes explosivas, é selada em todos os momentos. A única maneira dos Ke'ters entrarem, é alguém deixar.
— Porra. —Murmurou Abby.
Vivian se recompôs. E se a mulher realmente trabalhasse em sistemas operacionais, entenderia o quão ruim a situação era.
— As boas notícias? Bem, se algum dos nossos estava trabalhando com eles, os Ke'ters provavelmente o comeu. Eu localizei dezenove Ke'ters e todos os humanos em que conseguiram colocar suas mãos foram rasgados. Nenhum ser humano está correndo livre nos corredores. Todos seguiram os procedimentos de bloqueio e foram aos seus aposentos. Mas três Ke'ters estão faltando. Espero, por mais horrível que seja, que talvez alguém tenha saído de seus aposentos antes de ouvir o aviso e foi atacado, provavelmente arrastado de volta e é aí que estão os desaparecidos. Preso com suas vítimas mortas. Os quartos privados não possuem câmeras de segurança. Não posso verificar. Realmente ninguém sabe onde estão os Ke'ters desaparecidos.
— Por que Big M lhe deu os códigos do Centro de Controle?
— Você sabe o que aconteceu com o transporte Hail Nine?
Abby amaldiçoou suavemente. — Sim. Um grupo rebelde detonou uma bomba na ponte e levou toda a tripulação de seis pessoas, incluindo o computador do piloto automático. Mais de noventa passageiros foram deixados sem suporte de vida e sem acesso aos sistemas de backup, já que não tinham códigos de autorização. Nem conseguiram enviar um sinal de socorro. E se o transporte não tivesse chegado tarde ao seu destino, se a Colônia Rainer não tivesse naves para checar, essas pessoas teriam morrido
com certeza.
— Houve revoltas em algumas das colônias. Tenho certeza que você está ciente disso também. Disse que estava a caminho da Colônia Bassius. Ela é nova e ainda está fechada para os visitantes enquanto se certificam de que esteja totalmente operacional. Isso também é parcialmente para evitar que os rebeldes ataquem enquanto ainda está vulnerável e a equipe é limitada.
—Big M me deu códigos de substituição para todos os quatro Centros de Controle, caso algo acontecesse com a segurança nesta nave. Ele queria ter certeza de que nosso pessoal não acabasse como os passageiros do Hail Nine. Mas além de saber como ligar o farol de auto aflição e desativar os canhões automatizados para evitar a explosão de qualquer nave de resgate, não posso fazer muito mais do
que ver o que está acontecendo nas áreas comuns. Gostaria de ter acesso a comunicações de longo alcance para enviar uma mensagem para a Estação Espacial Branston, para que saibam quão terrível é nossa situação e o que enfrentarão quando puderem nos ajudar. Eu vi os Ke'ters atacarem nossos rifles laser apenas estragam seus uniformes. Sequer danificaram suas escamas.
Abby permaneceu em silêncio por longos segundos. — Você disse que os motores estão off-line. Por quê?
Vivian lutou para manter sua paciência. Embora frustrada, entendia a desconfiança da mulher. — Os Ke'ters controlam a ponte. Eles querem nos levar ao seu planeta natal como comida. Isso foi o que ouvi um deles dizer quando estava no link de vídeo. Entrei em contato com o chefe de engenharia, que é um amigo e ele falou comigo sobre abrir as partes externas para puxar o oxigênio dos motores. Isso os parou. É temporário. Em três dias e meio, os sistemas de backup serão desativados, incluindo o suporte de voz. Terei que permitir que os motores voltem a funcionar para manter todos vivos. E isso significa...
— Os Ke'ters podem voar para onde quiserem. —Completou
Abby.
— Sim.
— Porra!
Vivian mordeu o lábio. — Você quer a verdade? A ajuda não será capaz de nos alcançar a tempo. Na melhor das hipóteses, se você me der acesso a comunicações de longo alcance, posso enviar uma mensagem para a estação espacial para que saibam o que aconteceu e quem é o responsável. Os Ke’ters acham podem voar com o Gorison Traveler para onde quiserem. Eu estraguei o plano deles, mas isso pode significar que suas naves estão vindo para cá agora. E se estiverem, poderão direcionar nossos transmissores e retirá-los facilmente.
— Sim, mas você tem a nave no bloqueio. Será muito difícil para um grupo de pessoas alcançar todos em seus alojamentos.
— Estou ciente. Isso nos dará mais tempo, mas ainda preciso contar a alguém sobre os Ke'ters, especialmente a parte sobre os rifles laser sem nenhum impacto. É o que toda força de segurança carrega. Caso contrário, as equipes de resgate se tornarão mais comida para esses bastardos.
Abby permaneceu em silêncio.
Vivian estava começando a ficar desesperada. — Eu preciso de sua ajuda, Abby Thomas. Não sou um rebelde. Sou especialista em cultura.
— Especialista em cultura?
— Sim. Acabei de me formar. Este é o meu primeiro trabalho. Sorte minha.
— Acho que você não viu esse ataque chegando, certo?
— Eu não tinha permissão para me aproximar dos Ke'ters ou pedir qualquer informação ao Comandante Alderson. Você já o conheceu?
— Infelizmente.
— Então sabe como ele é. Ele não me deu esse emprego. Big M falou com um dos Almirantes que conhece, provavelmente pediu um favor para que eu fosse designada para o Gorison Traveler para manter nossa família unida. Apenas recentemente fui designada aqui. O Comandante ficou irritado. Ele tinha um velho amigo escolhido a dedo para esse trabalho, mas quando perguntei a professora Regal sobre ele, ela nunca ouviu falar dele antes.
— Professora Regal?
— Ela é responsável por todas as informações coletadas em corridas alienígenas. Envia atualizações de especialistas culturais para nos manter atualizados. Esse cara nem estava no radar dela, o que significa...
— Ele não sabe muito sobre alienígenas.
— Interrompeu Abby. Conheço o tipo. Teimoso e não se importa em aprender nada de novo. — Ela fez uma pausa. — É um código de trinta e dois dígitos. É melhor que você seja real, Vivian Goss. Estou arriscando minha bunda confiando em você. Mantenha-me atualizada. É tudo o que peço.
— Certo.
— Vivian virou na cadeira, indo para o comunicador externo e colocou a mão no bloco digital. — Estou pronta.
Ela seguiu as instruções de Abby, batendo com cuidado em cada número. A estação de transmissão de longo alcance ficou totalmente on-line, dando-lhe acesso. — Estou dentro. Agora o que?
Um granizo soou alto. Vivian pulou assustada.
— Responda. —Insistiu Abby.
Ela o fez. — Aqui é o Gorison Traveler.
— Terráquea, aqui é Brassi Korack. Eu sou do planeta Veslor. Minha nave é a Brar. Recebemos o seu sinal de socorro e tentámos
numerosas vezes contatá-la. Estamos a quatro horas de sua localização. Qual é a sua emergência?
Ela estava chocada. Os Veslor eram alienígenas de um mundo sem personalidade jurídica. Pouco se sabia sobre eles, mas leu tudo sobre eles. A voz era masculina, com um som muito gutural e soltava um leve rosnado.
— Quem? — Abby sussurrou, lembrando-a de que elas não se desconectaram.
Vivian engoliu e silenciou para falar com Abby. — Eles são uma raça shifter que negocia com uma das estações espaciais no nono quadrante. Pelo que li, vivem de um sistema de honra. Sabe, a palavra deles é seu compromisso. Eles têm uma grande reputação por serem honestos. Estão a quatro horas de distância. Talvez possam nos ajudar.
— O homem parece perigoso. Somos aliados deles?
— Não.
— Droga.
O Veslor começou a falar novamente. — Terráquea? Você está aí? — O homem fez uma pausa. — Nós os perdemos? Pensei que estivessem finalmente recebendo o chamado.
Alguém rosnou palavras que o tradutor não entendeu.
— Vou falar com eles para senti-los.
—Decidiu Vivian. — Eu ligo de volta. — Ela terminou a ligação com Abby, silenciando a chamada de entrada da nave e ativou seu microfone mais uma vez para o comunicador exterior.
— Aqui é Brassi Korack. —A voz gutural repetiu.
— Você está com problemas de comunicação? Qual é sua emergência? Seus sistemas estão falhando?
Ela se inclinou para frente, colocando os cotovelos na estação na frente dela. — Meu nome é Vivian Goss. Estou no Gorison Traveler.
Acabei de ter acesso a comunicações externas e ainda estou
aprendendo a usá-los. Sinto muito pelo atraso. Também estou surpresa por conversar com um Veslor. Disseram-me que ficam no quadrante nove.
— É verdade, mas temos negócios nesta seção do espaço e ouvimos seu sinal de socorro. Fizemos varreduras de longo alcance, apenas para descobrir que nenhuma outra embarcação está por perto.
Hesitei em responder. Terráqueos normalmente nos esnobam, mas seria insensato não oferecer ajuda se necessário. Temos compaixão.
— Você é comerciante, certo? O que pediria em troca de assistência?
Ele hesitou. — Gratidão seria bom, mas não necessária. —Disse
ele rispidamente. Estamos buscando alianças. Gostaríamos de expandir os negócios para outros quadrantes. Os terráqueos expandiram consideravelmente. Um ato gentil pode abrir portas para nós.
— Eu não sou uma pessoa de influência que possa ajudá-lo dessa maneira. Sinto muito. Tudo o que posso fazer é prometer que tentarei o meu melhor para conversar com alguém sobre isso na frota.
— Entendido. Ainda gostaríamos de ajudá-la. Alguns dos meus machos são bons com reparos. Sua posição não mudou. Seus motores falharam? Temos algumas peças sobressalentes a bordo, se necessário. Nenhum pagamento é necessário.
— Eu coloquei os motores off-line.
— Ela hesita brevemente antes de continuar. — Vinte e dois Ke'ters embarcaram em nossa
nave, mas dez dias depois de nossa jornada com eles, atacaram e
assumiram o controle da ponte. Desligar os motores foi a única maneira de impedi-los de nos levar para onde queriam.
Ele rosnou ferozmente. — Ke'ters?
Ele cuspiu a palavra como se fosse vil e sua raiva era clara. Eles tinham algo em comum, se os Veslor não gostavam dos lagartos. — Sim.
— Eles comem outras raças. Por que confiaram neles? — Ele fez uma pausa. — Eles os levarão para seus postos avançados, escravizarão seu povo e os usarão como fonte de alimento.
Ela se encolheu. — Estamos cientes disso agora. Eu não tomei a decisão de deixá-los a bordo. Estou lidando com as consequências.
— Consequências? Eu não conheço essa palavra.
— Sim. Seu inglês é muito bom.
— Eu baixei sua linguagem da chamada de socorro. Era simples decifrar.
— Uau. Seus computadores são incríveis, então. Pensei que estivesse falando diretamente com você.
— Você está, Vivian Goss. Nós temos implantes. Baixei sua linguagem em segundos com um download instantâneo em minha
mente.
Isso a surpreendeu, era algo que não sabia que sua raça era capaz. Implicava que parte de sua tecnologia era melhor do que a que a que a Terra Unida tinha acesso.
Essa parte não era uma surpresa.
— Nossos rifles de laser são inúteis contra eles.
— A pele deles é dura.
Ela assentiu, então percebeu que ele não podia vê-la. — Você se importa se conectarmos um vídeo? Eu gostaria de ver com quem estou falando.
— Não me importo.
Ela tocou no painel, localizou a câmera e esperou. Em segundos, ele aceitou a transmissão e sua imagem ao vivo apareceu no monitor na frente dela.
A visão dele a deixou sem fôlego. Ela leu sobre os Veslor, mas nunca viu como eles eram.
Brassi Korack tinha um rosto muito viril. Não era humano,
embora tivesse características semelhantes: dois olhos, um nariz e
uma boca. Mas tinha traços levemente animalescos. Seus olhos
dourados eram como nada que já viu. Ele tinha grossos cílios negros para combinar com o longo cabelo que podia ver. Os lados de sua cabeça estavam raspados ou ele não tinha cabelo ali. Suas orelhas eram pontudas, sua pele escura. A coisa mais brilhante e mais leve sobre ele eram os olhos.
Ele a observou atentamente. — Olá, Vivian.
Lembrou que ela provavelmente parecia uma porcaria. Dormiu na cadeira por talvez uma hora ou duas, nem mesmo penteou o cabelo depois. Ela olhou para baixo, percebendo que estava no macacão confortável que usava em seus aposentos. Era azul-claro e a cobria displicentemente do pescoço ao pulso e tornozelo, era tão pouco atraente quanto uma roupa poderia ser. — Olá, Brassi. É bom vê-lo. — Ela sorriu brevemente.
Ele se inclinou para mais perto. — Seus dentes.
Ela passou a língua sobre eles, esperando que algo não estivesse nada preso. — O que tem eles?
— Eles são pequenos e não afiados. Sinto muito. Eu fiquei surpreso. Você é a primeira fêmea terráquea que vejo. — O olhar percorre seu rosto. — Parece frágil e pequena.
— Obrigada? — Ela não tinha certeza de como responder a isso. Ele a estava insultando ou apenas fazendo uma avaliação geral de sua aparência? Lembrou o que seus professores frequentemente advertiam sobre o primeiro contato com raças alienígenas. Malentendidos aconteceriam e nunca deveriam se ofender. Todo ego deveria ser separado para aprender apropriadamente seus costumes.
Veslor normalmente ficavam distantes no nono quadrante. Não era de surpreender que ele não tivesse visto nenhuma mulher humana. As naves da frota humana apenas enviavam machos ao espaço. Algumas raças alienígenas naquela área eram conhecidas por roubar e vender mulheres para escravidão sexual. A frota não estava disposta a arriscar uma guerra se algum membro fosse capturado e a Terra Unida pareceria fraca se não tentasse recuperar membros femininos perdidos. Apenas evitaram o risco completamente.
Os Veslor não estavam na lista de espécies evitáveis a todos os custos, conhecidas por estar fazendo algo tão hediondo. Ela olhou para os lábios dele. Eram largos e pareciam um pouco achatados
devido ao seu tamanho maior. Ele abriu a boca e ela tentou esconder
sua reação.
— Você definitivamente não tem dentes pequenos ou lisos. Parecem perigosos e afiados.
Ele riu e sorriu, revelando mais deles. — Você parece assustada, Vivian. Não há necessidade. Veslor nunca prejudicam as mulheres. — Seu humor desapareceu tão rapidamente quanto apareceu. — É covarde ferir alguém que é incapaz de se defender igualmente. — Seus olhos queimavam com uma emoção que parecia semelhante à raiva. — Covardes não têm honra. Veslor não toleram essas espécies. Os terráqueos?
— Minha raça tem pessoas honradas e desonrosas. Isso varia de pessoa para pessoa. Mas eu tenho honra.
— Você tem pessoas boas e más?
— Sim.
Ele inclinou a cabeça, estudando-a com aqueles olhos dourados. Então sorriu novamente. — Você é muito honesta. A maioria das
raças não admitiria que alguns dos seus são falhos.
— Os humanos podem ser muito falhos. — Ela pensou no
Comandante. Ele era um idiota total.
— Há muito tempo, em um passado muito distante, meu povo era o mesmo. Nós lutamos um contra o outro por razões estúpidas e gananciosas. — Ele piscou algumas vezes. — Então vieram outras raças e aprendemos a trabalhar juntos para salvar nosso planeta e nosso povo. Reconhecemos as falhas e modos enganosos de outras raças, aprendemos a detestar essas características. Isso nos fez melhor como um todo. Nós nos orgulhamos da honra e da verdade agora. Os desonrosos são rapidamente removidos de nossas fileiras.
Ela entendeu o que ele dizia. Eles evoluíram a um ponto que provavelmente era extremamente vergonhoso ser um idiota em sua cultura, não obedeciam a isso.
— Você precisa da nossa ajuda, Vivian? Oferecemos isso com compaixão e sem necessidade de pagamento. Nenhuma raça deve ser comida pelos Ke'ters. São criaturas cruéis e insensíveis.
Ele parecia sincero e ela tomou a decisão de confiar nele. — Eu serei honesta com você novamente, Brassi. Sou apenas uma mulher cujo trabalho é aprender e fazer perfis de raças alienígenas para as pessoas que tomam decisões. — Ela levantou a mão, apontando para
o lugar ao seu redor. — Não é meu trabalho dirigir estações ou enviar sinais de socorro. Acabei aqui quando os Ke'ters mataram minha equipe. Eu não sou uma lutadora, apesar fui treinada para me defender contra os ataques. Mas não sei como salvar meu povo dos Ke'ters.
Ela se inclinou para perto da tela. — Não sei se devo ligar os motores de volta e arriscar os Ke'ters nos transportarem para o mundo deles. Nem se todos nós eventualmente morreremos
enquanto esperamos a ajuda de nosso próprio povo. Eles estão muito longe para nos alcançar antes que nosso sistema de backup seja desativado. Quero confiar em você porque estou desesperada. Minha equipe depende de mim para salvá-los e tomar as decisões certas. Eu não posso lhe oferecer nada de valor. Sabendo disso, você ajudará a matar os Ke'ters? E também promete não machucar os humanos ou assumir esta nave se deixá-lo a bordo?
Ele pareceu chocado, desde que seus olhos se arregalaram. Ele piscou algumas vezes antes de mascarar toda a emoção de seu rosto. — Nós não roubamos naves ou escravizamos outras raças, Vivian. — Ele fez uma careta. — E somos bastante excepcionais em matar Ke'ters. Eles atacaram alguns dos planetas do nosso sistema no passado, tentando capturar nosso povo. Nós abatemos os invasores.
Ele ergueu a mão e ela observou garras longas e afiadas crescerem das pontas de cada um dos quatro dedos e do polegar.
— Somos capazes de rasgar suas peles duras. Suas maiores fraquezas são seus pescoços e também temos armas que farão buracos neles. Eu lhe dou minha promessa, embarcaremos em sua nave, resolveremos seu problema com os Ke'ter e depois partiremos. Nenhum dano virá ao seu povo. Não quero que você morra nas mãos deles. É um caminho agonizante para morrer.
Lágrimas encheram seus olhos. — Obrigada. Por favor, venha.
Ele virou a cabeça, rosnando para alguém. Então voltou para a tela. — Estamos nos aproximando, Vivian. Você está segura? Posso dar dicas de luta, se necessário.
— Estou trancada em uma sala segura. Eles não podem chegar até mim.
— Bom. Enviarei meu piloto até você o mais rápido possível.
— Obrigada, Brassi. Colocarei nossas defesas automáticas offline para permitir que você se junte a nós, posso substituir manualmente cada seção para permitir que sua tripulação acesse onde os Ke'ters estão presos. — Ela fez uma pausa, tentando se
lembrar do primeiro contato. Procedimentos para reuniões cara a cara. Não havia nada normal sobre o que estava prestes a acontecer. — Nós respiramos oxigênio. Isso será um problema para você?
— Nós estivemos em suas estações terrestres e não tivemos
dificuldades. Usaremos armadura para nos proteger contra os Ke'ters. Eles protegem a vida em caso de ataques químicos. Nós ficaremos bem.
Ela sentiu alívio pela primeira vez desde que os ataques
começaram.
— Estou pedindo a todos os meus homens que baixem seu idioma para ajudá-los a se comunicar com seus sobreviventes. Por favor, peça-lhes que não nos ataquem.
— Claro. Ag... obrigada, Brassi.
— Entrarei em contato com você quando fizermos a abordagem final para perguntar onde podemos atracar.
— Ok.
Ele olhou para ela com aqueles olhos dourados, deu-lhe um aceno de cabeça e um leve sorriso. — Nós chegaremos em breve,
Vivian. Fique segura.
Ele desconectou e ela se inclinou em sua cadeira. E se cometeu
um erro ao confiar no Veslor? Realmente tinha alguma outra opção?
A resposta veio rapidamente. Não.
Ela ligou o som para as chamadas recebidas. Ele imediatamente zumbiu. Imaginava que Abby quisesse uma atualização e respondeu.
— Sua puta do caralho. —Uma voz familiar arrastada ecoou.
— Eu a verei na corte marcial! — O Comandante Alderson riu. — Você
arruinou tudo e para quê? Porque não a deixei falar com a porra dos Ke'ters? Big Mike não conseguirá mais proteger você, garotinha. Fodeu essa tarefa. Roubou minha nave e arruinou nossas chances com
os Ke'ters!
— Eles nos atacaram, senhor. Pessoas estão mortas. Os Ke'ters
estão comendo pessoas, Comandante. Eu não estou brincando. Isso não é eu sendo uma adolescente tola. Sou uma adulta. Não mentiria
sobre algo assim.
— Você e suas malditas brincadeiras!
Ela respirou fundo. — Admito que quando adolescente, fiz algumas coisas das quais não me orgulho. Mas é uma coisa instalar sensores de movimento nos corredores para fazer sons de peido
quando as pessoas passam ou colocar corante rosa nas lavadoras de roupa. Nunca mentiria sobre pessoas mortas ou alienígenas nos atacando.
— Besteira! Você sempre foi problema. Não seria a primeira vez. Trajes cor-de-rosa nos nossos agentes de segurança... você não esquece de algo assim.
Ela apertou os dentes, frustrada. — Você está bêbado, senhor.
— Aposte sua bunda que sim. Isso porque estou trancado em
meus aposentos e não posso sair!
— Fique sóbrio. Com sorte, voltará ao Comando em breve, se as coisas funcionarem. — Ela desligou e chamou Abby em seus aposentos. Era hora de atualizá-la, então teria que fazer outro anúncio em toda a nave.
Eles logo seriam abordados pelos Veslor.