12 minute read

Capítulo Nove

Next Article
Capítulo Oito

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Brassi levou-a para outro nível e saiu do elevador, passando por portas fechadas até que uma no final de outro corredor reto se abriu. Era quartos para a tripulação. Havia dois móveis parecidos com sofás, mas não tinham encosto nem laterais. Algumas almofadas para se sentar. Uma parede de armazenamento ocupava um dos lados e havia duas portas internas. Ele levou-a para um dos sofás e sentou-a. Então se endireitou e recuou alguns metros.

— Eu tenho algo para lhe dizer, Vivian.

Ela manteve o olhar fixo no dele, esperando.

— Não temos espaço para convidados. Precisamos compartilhar este quarto. Mas você está segura comigo, eu juro. Dormirei no chão e você pode ficar com a minha cama. — Ele se virou, caminhando até a parede oposta e bateu em uma seção da área de armazenamento. Ela se abriu para revelar algum tipo de máquina. Seu corpo escondeu a maior parte, mas logo um cheiro tentador atingiu seu nariz.

Era carne cozida.

Ela pensou sobre o que ele disse, sobre sua nave não ter quartos de hóspedes. Isso não era inédito em naves menores. Alguns dos cruzeiros de patrulha usados para a frota eram assim. Dois membros da tripulação eram designados para compartilhar pequenos quartos privados, que continham beliches. Cada um deles vinha com toalete e pia, um banheiro comum era usado por todos.

— Compreendo. Dormirei no seu sofá, no entanto.

Ele se virou, segurando um prato e uma caneca. Ele se aproximou e se agachou na frente dela, entregando-lhe o prato primeiro. Ela aceitou. Havia tiras cozidas de carne e nada mais.

— Coma. Espero que você coma carne. E se não, preparei outra

coisa.

— Carne de verdade? — Isso era uma surpresa.

— Sim. São animais do meu mundo. Não são inteligentes, mas são abundantes e saborosos. Isso é ofensivo para você?

— Não.

— Tente.

Ela cuidadosamente pegou uma tira de carne. Estava quente, como se tivesse acabado de ser cozido. A máquina deveria ser um tipo de replicador de alimentos. Cheirava bem, quase como carne e ela deu mordeu hesitante.

Sabor explodiu em sua língua. Era delicioso, macio o suficiente para morder e mastigar facilmente. Sorriu para ele.

Ele sorriu de volta e ergueu a caneca. — Isso é nee. Cheio de nutrientes e temperado com frutas.

Ela colocou o prato no colo, terminou a tira de carne que estava comendo e aceitou a bebida. Ela sentiu o cheiro. Cheirava um pouco como bagas. Tomando um pequeno gole, percebeu que estava gelado e incrivelmente saboroso. Vivian tomou um gole maior.

— Pedi que Vassi descobrisse tudo sobre sua comida e ele pensará em mais coisas que você gostaria de comer e beber. Este é o meu lanche favorito, ele já viu outros terráqueos comerem antes nas estações que visitamos. Pensamos que esta seria uma escolha segura.

Ela sentia-se tocada e divertida por ele continuar chamando os humanos de terráqueos. Não importava. Ele era um homem prestativo. — Obrigada.

— Você diz isso com frequência. Não há necessidade de mostrar apreço. — Ele ajustou o corpo para se sentar no chão, observando-a. — O que aconteceu depois que saímos?

Isso matou seu bom humor rápido. — Fui presa. Abby me tirou da cela, me fez entrar no traje e aqui estou eu. Aprecio profundamente que você tenha vindo por mim, Brassi. Não precisava. Tenho certeza que foi ruim precisar voltar, para não mencionar perigoso.

— Sem problemas. Foi uma coisa simples ordenar que Yoniv mudasse o rumo. Estávamos a apenas duas horas de sua nave quando Abby nos contatou.

Ela percebeu que isso significava que Abby passou horas planejando sua fuga e Brassi estava esperando há algum tempo para que ela saísse de sua cela.

— A carne está muito quente? — Ele se inclinou, franzindo a

testa.

— Não. Está perfeita. Eu gostei.

— Você está fazendo isso. — Ele mordeu o lábio inferior para

demonstrar.

— Eu faço isso quando estou pensando em algo muito problemático.

— Você está segura aqui, Vivian. Ninguém irá machucá-la. Eu dou-lhe minha palavra.

— Não é isso. Você me faz sentir segura.

— Não era uma mentira. Ela tinha coisas muito maiores para se preocupar do que sua situação atual, como seu futuro. E se Abby não pudesse esclarecer as coisas para ela, seria considerada pela Terra Unida uma criminosa e assim o Comandante Alderson venceria. — Você salvou minha vida,

Brassi.

Ele rosnou, raiva transformando suas feições. — Abby disse que seu povo queria matá-la. Eu não entendo porque. Você não fez nada errado, nos chamou para ajudá-los.

— O Comandante Alderson foi quem autorizou que os Ke'ters entrassem a bordo do Gorison Traveler. Ele os levou para nossa nave e eles nos atacaram. Essa confusão toda é culpa dele, mas precisa culpar alguém. Caso contrário, sua carreira acabaria. Abby descobriu que ele queria destruir todas as evidências do que realmente aconteceu e fazer parecer tudo minha culpa.

— Os Ke'ters atacam qualquer um que queiram comer. E isso seria qualquer nave que não fosse deles. Também nunca fazem o que os outros querem. Seu povo é tão estúpido?

Ela assentiu. — Alguns deles são. O Comandante Alderson deve estar bem desesperado agora. Ele não apenas deixou os Ke'ters a bordo, mas também permitiu que quatro centros de controle permanecessem não-tripulados. O regulamento afirma que devem ter operadores o tempo todo. Apenas isso já é motivo suficiente para ser demitido.

— Seu povo morreu, mas ele está preocupado em manter seu

emprego?

Ela gostava de como Brassi cortou para chegar ao ponto. — Sim.

— Qual é a importância dos Centros de Controle?

Não era exatamente informação classificada. Qualquer um poderia procurar essa informação se quisesse. — Os Centros de Controle têm acesso à maioria dos sistemas da nave. O trabalho de

um operador da estação de controle é vigiar tudo na nave. Eles geralmente dividem os níveis, mas todos os usuários podem acessar qualquer câmera independentemente. Também são uma salvaguarda no caso de algo catastrófico acontecer. Por exemplo, se nossa nave

fosse atacada.

— Ela arqueou a sobrancelha para ele. — Eu assumi o Controle Um, coloquei a nave em bloqueio e consegui desligar os

motores mesmo sem estar na ponte.

— Seu pessoal tem medo de ataques assim? Eles acontecem com frequência?

Ela balançou a cabeça. — Não, mas poderiam. Nós temos alguns problemas com os rebeldes de tempos em tempos. Eles não têm como alvo naves da grande frota, por enquanto. A segurança é muito apertada na maioria delas. Mas teme-se que possam começar a usar pequenas naves para atirar em nós, dar um tiro de sorte e derrubar a ponte. Você não pode pilotar o Gorison Traveler de um centro de controle, mas tem acesso a todos os principais sistemas em uma emergência, para ajudar a manter a tripulação viva até que outra nave possa ajudar.

— Por que você tem rebeldes? São de outras raças que odeiam os seus?

— Não. Eles são, na verdade, residentes da Terra Unida. — Ela

comeu outra tira de carne e colocou a bebida no chão, já que não havia uma mesa. — A Terra Unida estabeleceu colônias em muitos planetas e abriu várias estações espaciais. Alguns moradores ficam chateados

com as remessas tardias de suprimentos ou sentem que não recebem recursos suficientes para florescer. Entendo e simpatizo com a situação deles. Não deveria ser assim. Então novamente, não faz

sentido para mim que reclamem sobre um serviço de transporte de alimentos e depois venham a explodi-lo em retaliação quando se aproxima. Os suprimentos são atrasados ainda mais, até que um substituto possa ser enviado. Isso não é útil para ninguém, incluindo as pessoas pelas quais os rebeldes dizem que estão fazendo isso.

— Isso os prejudica.

Ela assentiu e terminou sua comida. — Obrigada.

Ele se levantou, pegando o prato dela. — Pare de dizer isso.

Ela mordeu o lábio. — Eu fui criada para ser educada. Pelo menos não estou chamando você de senhor.

Ele voltou para ela e sentou no chão. — Senhor?

— É uma forma de respeito por alguém no comando. Você é o Capitão de sua nave. O protocolo diz que devo somente falar quando você me fizer uma pergunta e terminar minha resposta com senhor.

Ele apenas a observou.

— Assim, senhor. Obrigada, senhor. Nenhum problema, senhor.

— Isso soa bobo.

Ela riu. — É bom que eu não tenha decidido me tornar um membro da frota. Aceitei um trabalho civil, mas o senhor ainda é

exigido em uma nave da frota quando se está de plantão ou conversando com um oficial de alta patente. A frota não é exatamente como as forças armadas da Terra, mas é modelada como.

— A frota não é militar?

— Mais ou menos..., mas não. A Terra Unida está no comando

de ambos, mas são dois ramos diferentes. Eu sei o quão complicado isso soa. A frota lida com as colônias, estações e alienígenas, se houver um conflito. Os militares protegem a Terra, esse sistema solar apenas e as pessoas que vivem lá.

— Eu entendo. Nós temos algo assim. Combatentes que escolhem defender apenas nosso povo e planeta, alguns que lutam contratando seus serviços por boas causas.

— Mas você é um comerciante, certo? Lutou contra os Ke'ters

como se fosse militar.

— A maioria dos Veslor são treinados para lutar. Alguns fazem isso por pagamento. Eu prefiro trocar para ganhar a vida.

— O que você troca? Bem, se puder perguntar.

— Você pode me perguntar qualquer coisa, Vivian. Mencionei as colônias de cultivo de alimentos. Nós fornecemos principalmente alimentos e medicamentos para outras pessoas. Os planetas do nosso sistema são bons para cultivar coisas. Nosso povo nunca passa fome, mas não é o mesmo para outras raças. — Ele sorriu. — Nosso transporte de suprimentos nunca chega atrasado. É uma questão de grande orgulho.

— Tenho certeza de que meu pessoal poderia aprender muito

com o seu.

Ele assentiu. — Você precisa descansar, Vivian.

Ela estava cansada. — Eu não quero tirar sua cama.

— Eu insisto.

Ela relutantemente assentiu. — Obrigada.

Ele levantou-se e ofereceu sua mão. Sua pele parecia veludo envolvendo ossos fortes. Ele a colocou de pé e levou-a até a porta à esquerda. Automaticamente se abriu.

— Sensores de movimento?

— Sim.

O quarto não era grande e a maior parte do espaço era ocupada por uma cama enorme. O tamanho a chocou um pouco. Deveria ter quase três metros de comprimento e diâmetro. Havia um armário embutido em uma das paredes.

— Fique confortável. O banheiro fica ao lado. Sinto muito que os quartos não estejam conectados.

Ela se virou, olhando para ele. — Eu não tenho nenhuma roupa.

Ele avançou ao redor dela e tocou um painel. Uma gaveta deslizou para fora. — Pode procurar algo aqui. Use o que você acha que funcionará. O que é meu, podemos compartilhar. Pararemos em uma colônia em onze dias, ficaria feliz em comprar roupas que se encaixam lá.

— Isso é demais, Brassi.

Ele fechou a gaveta e se aproximou dela, parando apenas com alguns centímetros de espaço entre eles. Seu olhar era gentil. — Não, não é, Vivian. Eu lhe daria tudo. Estarei aqui quando você acordar.

Ele saiu e a porta se fechou, deixando-a sozinha.

Vivian tirou os sapatos e as meias, depois tirou o uniforme de tamanho grande. Manteve o sutiã esportivo e a calcinha, deitando sob as cobertas grossas até encontrar lençóis macios à espera. A cama era enorme e muito confortável, ela estava exausta. O pequeno descanso que tomou desde o ataque não foi o suficiente.

Brassi ligou para seu irmão. — Ela está dormindo. Diga-me a verdade. Ela está bem?

— Eu examinei as varreduras dela. A fêmea está bem. Níveis

elevados de estresse apareceram, mas isso é normal.

— Bom.

— Eu não posso dizer se ela é compatível para reprodução com a nossa espécie. Eu teria que fazer mais testes.

Ele franziu o cenho. — Eu não perguntei isso.

— Eu não sou cego, irmão. Você está atraído pela fêmea. Arriscou nossas vidas para ajudá-la.

— Nosso rei quer um melhor comércio com os terráqueos.

— Isso desculpa a primeira vez que ajudamos..., mas você voltou por ela.

— Era a coisa certa a se fazer.

Vassi fez uma pausa antes de continuar. — Você quer a fêmea.

Brassi suspirou, decidindo que não havia razão para mentir. —

Sim.

— Ela pode não ser capaz de suportar seus filhotes. O que então?

Brassi considerou isso. — Tudo nela me atrai, é diferente de

qualquer outra fêmea. Seu perfume. Sua voz. Quero tocá-la.

— Talvez seja temporário.

— Duvido. —Ele admitiu. — Ambos os lados estão atraídos por

ela.

— Você tem certeza?

— Eu me sinto calmo quando estou perto dela.

— E se ela não puder carregar seus filhotes?

— Não importa.

— Ele não queria pensar sobre isso. — Ficarei triste, mas não o suficiente para me arrepender se ela for minha.

— Ela é pequena e estranha.

Brassi rosnou em advertência.

— Eu não estou insultando sua fêmea, irmão. Estou afirmando

os fatos. Pode até não ser possível para você copular com ela. Deve descobrir se é compatível antes de entregar seu coração. Imagine se prender a uma fêmea sem esse tipo de conexão. Isso destruiria seus dois lados. Não quero matá-lo se você ficar feroz.

Brassi olhou para a porta do quarto fechada. — Ela precisa de

mais tempo.

— Mas não é assim que somos. Conexões são feitas rapidamente. Descubra agora ou coloque-a na ala médica para se distanciar dela. Ela pode ficar confortável lá até chegarmos a algum lugar onde estaria

segura.

— Seu próprio povo quer matá-la, Vassi.

— Será a sua morte se você se prender à fêmea e não for possível copular. Eu conto com você, irmão. Nós todos dependemos de você. Somos um grupo unido. Sua perda devastaria a todos. Vá para a fêmea, explique e descubra se são compatíveis. Nosso futuro está na balança se considerar tudo o que você faz.

Brassi terminou a ligação e voltou para o quarto.

Ele era um Veslor. Vivian não era. Seu povo não tomava companheiros. Faziam contratos.

Ele fez uma careta, enojado com o conceito. Soava frio e impessoal. Seria demais para a mulher? Muito intenso? E se ela não pudesse lidar com ele?

Ele rosnou baixo e esfregou o peito quando sentiu sua fera interior arranhando-o. — Calma, vamos esperar mais um dia. Eu também a quero. Concordamos com isso.

Ele parou de andar, olhando para as portas do quarto.

— Precisamos correr o risco.

Ele decidiu comer antes de acordar Vivian. Ela precisava de descanso. Poderia dar a ela pelo menos algumas horas.

This article is from: