Revista Alimentação Animal n.º 116

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N.º 116 ABRIL A JUNHO 2021 (TRIMESTRAL) ANO XXXII 3€ (IVA INCLUÍDO)

BIOTECNOLOGIA AGRÍCOLA E SUSTENTABILIDADE A LI ME N TAÇÃO A N I M A L

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A LIMEN TAÇÃO AN IM A L


ALIMENTAÇÃO ANIMAL EDITORIAL

PRODUÇÃO E ÉTICA NÃO SÃO INCOMPATÍVEIS

Avelino Gaspar Diretor da IACA

ÍNDICE 03 EDITORIAL 04 ENTREVISTA 10 BIOTECNOLOGIA 16 INVESTIGAÇÃO 28 SAÚDE ANIMAL 34 SUSTENTABILIDADE 44 SPMA 48 NOTÍCIAS DAS EMPRESAS 50 AGENDA

À medida que a consciência ecológica se tornou mais aguda, nas últimas décadas, cresceu a indignação coletiva contra formas de produção que delapidam os recursos naturais, surgiram posições, umas mais radicais do que outras, que questionam os estilos de vida, incluindo a alimentação dos indivíduos, e foi-se densificando a ideia de que não se consegue compaginar ética com produção alimentar e com alimentação animal. Felizmente, tanto a nível nacional como internacional, são inúmeros os casos, no setor agroalimentar, em que o sucesso do negócio assentou em medidas de responsabilidade social e ambiental, que mostraram que a eficiência produtiva é compatível com a ética e com a responsabilidade para com as gerações futuras. Não podemos esquecer que a responsabilidade ambiental e o compromisso ético nas opções que dizem respeito às opções alimentares, e aos estilos de vida em geral, não estão apenas do lado da produção e da indústria, mas também, e talvez sobretudo, da parte dos consumidores, que, com as suas escolhas, direcionam o mercado, forçam a indústria a fazer os investimentos necessários e dão preferência a produtos que respeitem, em toda a cadeia de produção, os padrões mais exigentes de sustentabilidade, de bem-estar animal, de justiça social, de salvaguarda dos direitos humanos fundamentais, de minimização do impacte ambiental. Estilos de vida mais responsáveis têm, não podemos ignorar, custos, que todos temos de estar dispostos a suportar, para que as gerações vindouras usufruam dum planeta onde possam ter uma vida de qualidade. Inevitavelmente, o setor agroalimentar encontra-se numa encruzilhada ética, que não queremos ver como obstáculo, mas, sim, como desafio. É uma encruzilhada, porque neste setor se cruzam deveres e valores de diferentes direções: a necessidade de alimentar as populações, a obrigação de apresentar produtos de qualidade, a pressão para aumentar a capacidade de produção a fim de responder à crescente procura; e, noutro sentido, o imperativo de poupar os recursos ambientais, a sensibilidade para com o sofrimento animal e o dever de respeitar os direitos humanos e sociais de todos os intervenientes na produção. Estes dois conjuntos de deveres não são antagónicos e, por isso, têm de ser encarados como um desafio. Precisamos de ser imaginativos na procura de soluções que integrem estas duas facetas éticas e, para isso, temos de contar com as possibilidades que as tecnologias nos oferecem. Este é um desafio também para o setor específico dos alimentos compostos para animais: trata- se de aliar a responsabilidade ética aos esforços por assegurar qualidade, eficiência e controlo de custos, na produção de rações. Do bom desempenho deste setor depende a qualidade final da alimentação que chega ao consumidor. Há que ir ao encontro das exigências da sociedade, que não tolera a utilização de aditivos de crescimento ou antibióticos na cadeia alimentar, ainda que saibamos que essa utilização tem o devido acompanhamento médico-veterinário. É missão da indústria de rações fornecer a nutrição mais adequada possível, que responda às necessidades de cada espécie animal e que mantenha os custos finais de produção de carne num patamar acessível a toda a população. Para garantir que isto seja possível a longo prazo é imprescindível rasgarmos horizontes no que diz respeito à procura de matérias-primas alternativas, diversificando as fontes de proteínas, como a farinha de insetos, o girassol, a colza, o tremoço, a fava, a ervilha. Precisamos de reduzir a dependência da soja, que, como é do conhecimento geral, é maioritariamente importada de outros países (EUA, Brasil, Argentina). Um menor consumo de soja levará a uma menor pressão na desflorestação. Estas e outras metas impõem aos produtores de rações a adoção das melhores práticas e devem conduzir a uma atitude ativa de sensibilização dos clientes a não procurar rações medicadas com antibióticos ou aditivos de crescimento. Se tivermos em conta que ao referido sentido de responsabilidade generalizado se associou um crescente desenvolvimento dos estilos vegetarianos e vegans, não podemos deixar de olhar para o futuro sem ter em consideração possibilidades que, de momento, são ainda experimentais, mas que, a médio e longo prazo podem ser alternativas realistas ao consumo alimentar. Refiro-me às possibilidades de produção de proteína animal sem necessidade de abater animais, através da produção laboratorial de carne. Neste momento isto já não é pura ficção e será, provavelmente, um fator decisivo na configuração da palete alimentar das próximas gerações. Enquanto essas possibilidades não se concretizarem ao nível da produção alimentar em larga escala, teremos de continuar a investir em tudo aquilo que reforce a sustentabilidade da produção agroalimentar e, ao mesmo tempo, garanta os meios para assegurar alimento a todas as populações, que, embora vivendo num mundo globalizado, não usufruem de forma equitativa dos recursos alimentares e da matéria-prima que é necessária para os produzir. A crise pandémica que ainda estamos a viver demonstrou isto mesmo. A escassez de matéria-prima nalgumas zonas do planeta deveu-se, em parte, ao armazenamento desigual de alguns países. Isto alertou-nos para a necessidade de prevermos alguma autossuficiência regional. Não é um desiderato fácil de atingir, sobretudo se tivermos em conta o aumento de interesse pela chamada “carne biológica”, que exige áreas mais extensas de produção. Estas são apenas algumas das inúmeras variantes que nos levam a falar de “encruzilhada ética” na produção agroalimentar. Enfrentamo-la não como obstáculo, mas como desafio, na certeza de que ética e produção podem ser compatíveis. A L I ME N TAÇÃO A N I M A L

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL ENTREVISTA

PRESIDENTE DO CENTRO DE INFORMAÇÃO DE BIOTECNOLOGIA JORGE CANHOTO Nesta edição da Revista Alimentação Animal temos em entrevista o líder de uma das entidades cuja atuação é mais determinante para a evolução da agricultura baseada na ciência. Temas tão relevantes como a aprovação da utilização das Novas Técnicas Genómicas na União Europeia (NTG) ou a divulgação da Biotecnologia Verde estão entre as prioridades do CiB e do seu Presidente, o Professor Jorge Canhoto. Conheça-o melhor e saiba o que pensa acerca das questões mais polémicas, atualmente em discussão, no que respeita à aplicação da ciência na agricultura. Professor Jorge Canhoto, tendo em conta o seu

compatíveis com a importância que têm nas

percurso e as suas áreas de interesse, que obje-

sociedades em que vivemos, importância que não

tivos e prioridades vão estar presentes na sua

se limita a assegurar a produção alimentar, mas

liderança do CiB? Tendo em conta a história do

que também é crucial na gestão dos territórios

CiB, quais as conquistas desta entidade que considera mais relevantes? Como está patente no seu nome, o principal objetivo do CiB é a divulgação da

do interior.

“O CiB tem tido um papel bastante relevante na divulgação de Biotecnologia.”

Numa altura em que muito se fala de sustentabilidade e biodiversidade é importante referir que a Biotecnologia e o Melho-

Biotecnologia, em particu-

ramento de Plantas são

lar da chamada Biotecno-

duas áreas fundamentais

logia Verde, ou seja, aquela mais relacionada com aplicações agrícolas. O CiB tem tido um papel bastante relevante na divulgação de Biotecnologia junto do público em geral, da comunidade escolar e dos agricultores e empresas agrícolas ou

“Importa referir que estes objetivos [Green Deal, Estratégias para a Biodiversidade e Do Prado ao Prato] não vão ser atingidos só com conversa e bonitos planos.”

para assegurar que a agricultura se faz cada vez mais de acordo com os objetivos estratégicos da União Europeia para a biodiversidade e para a agricultura espelhados no Green Deal, Estratégia para a Biodiversidade e Estratégia do Prado ao

agroindustriais. Tem tam-

Prato. Importa referir que

bém procurado alertar os governantes, autarcas

estes objetivos não vão

e outros agentes políticos para a importância da

ser atingidos só com conversa e bonitos pla-

biotecnologia e o seu interesse na implementação

nos. É preciso assegurar que os agricultores e

de uma agricultura amiga do ambiente, capaz de

os industriais possam responder aos objetivos

assegurar a segurança alimentar dos cidadãos e

destas estratégias com as ferramentas que têm

de proporcionar aos agricultores rendimentos

disponíveis. E a biotecnologia disponibiliza de

Jorge Canhoto, Presidente do CiB Licenciado em Biologia e Doutorado também em Biologia (Fisiologia). É Professor no Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra. Faz investigação na área da biotecnologia e melhoramento de plantas e leciona as disciplinas de Biotecnologia Vegetal e Desenvolvimento das Plantas na licenciatura em Biologia. No mestrado leciona Biodiversidade e Biotecnologia Florestal e Embriologia Experimental. É Coordenador do Mestrado em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal da Universidade de Coimbra e responsável pela Divisão de Recursos Genéticos e Biotecnologia da International Society for Horticultural Science (ISHS). É editor de várias revistas científicas, tais como In vitro Cellular and Developmental Biology, Frontiers in Plant Science e Forestry.

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facto um conjunto de técnicas que podem e devem ser usadas nesse âmbito. No que respeita às conquistas mais relevantes, parece-me que elas decorrem daquilo que são os objetivos do CiB. Ou seja, é hoje notório que muitos agricultores têm consciência da importância da Biotecnologia na produção de plantas com novas características que as tornam mais produtivas. O CiB permitiu também que a discussão sobre as técnicas de modificação ou edição genética fossem abordadas numa perspetiva científica, trazendo para a discussão todas as entidades interessadas no tema, e ultrapassando a infantilidade de uma discussão baseada no preconceito contra estas novas tecnologias. Para além disso, os agentes políticos têm encontrado no CiB uma entidade capaz de fornecer informação credível e baseada em argumentos racionais que pode ser usada na tomada de decisões políticas.

mente sustentada, no seguimento do que o antigo Presidente, Pedro Fevereiro, e a respetiva direção se empenharam em implementar. Um ponto que merecerá particular atenção será tentar que a edi-

De acordo com o que foi dito, as prioridades do CiB continuarão a

ção genética de plantas, vulgarmente conhecida por “Novas Técni-

ser a disponibilização de uma informação atualizada e cientifica-

cas Genómicas”, possa vir a ser usada em Portugal e nos restantes

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL ENTREVISTA

Os principais opositores aos OGMs têm sido grupos ecologistas urbanos que têm uma agenda política com grande influência em muitos media o que lhes permite facilmente passar as suas ideias conservadoras e anticientíficas. O comum dos mortais não faz a mais pequena ideia do que são OGMs ou de que maneira são produzidos. Como é expectável, estas pessoas, ao ouvirem constantemente na imprensa informações negativas sobre os OGMs ficam com uma ideia negativa sobre eles. Para além disso, como têm a perceção que os supermercados têm tudo aquilo de que necessitam não consideram que a manipulação genética de plantas seja um assunto particularmente relevante. É neste contexto que o CiB e outras organizações têm um papel importante, alertando para o facto de a segurança países da União Europeia, através de uma legislação mais aberta à ciência e à tecnologia. Esta discussão foi recentemente aberta por

alimentar ser uma batalha permanente e de que a Biotecnologia desempenha um papel extremamente importante nessa luta.

um estudo realizado pela Comissão Europeia e o último Conselho de Ministros da Agricultura da União Europeia, mostrou-se favorável

Qual é o estado da arte a nível científico e também das políticas

à implementação das conclusões deste estudo, que vão no sentido

europeias e portuguesas no que toca às NTG? O que podemos

de uma abertura à utilização das referidas técnicas.

esperar no curto e no médio prazo?

O CIB tem-se dedicado bastante à questão dos OGM. O que são e porque têm tido tanta resistência na UE? Que diferenças existem entre OGM e NTG? O CiB tem-se dedicado a todas as questões implicadas no melhoramento de plantas uma vez que elas são decisivas para continuar

As Novas Técnicas Genómicas, embora recentes, estão a fazer o seu caminho. Atualmente, elas são já utilizadas em muitos países para produzir novas variedades de plantas. São muito importantes na agricultura, mas convém referir que terão também um grande impacto em termos de saúde pública, quer seja no combate ao cancro, quer seja na cura de muitas doenças devidas a mutações.

a assegurar uma produção de alimentos adequada ao crescimento

A recente atribuição do Prémio Nobel da Química (2020) a duas

da população e ao aumento do consumo, quer devido ao aumento

das investigadoras que mais se destacaram nesta área, não é mais

da esperança média de vida quer em virtude do aumento dos ren-

do que um reconhecimento do papel que estas técnicas vão ter em

dimentos das populações em muitas partes do globo.

muitas áreas, desde a agricultura à medicina.

Durante alguns anos os OGMs foram a única forma, para além do

Em Portugal, tal como nos restantes países da União Europeia, uma decisão do Tribunal de Justiça Euro-

melhoramento convencional baseado em cruzamentos e seleção, de alterar geneticamente as plantas. Atualmente existem técnicas mais precisas que permitem modificações mais limitadas e de forma mais eficaz. Essas técnicas, baseadas na edição genética, permitem alterações pontuais no DNA semelhantes àquelas que ocorrem naturalmente ou que são induzidas por mutagénese. Importa aqui lembrar que muitas das variedades de plantas que são cultivadas, em particular nos cereais, foram e continuam a ser obtidas por muta-

“A ideia de que as plantas que consumimos, mesmo que cultivadas na nossa horta, são uma coisa natural, que nunca foi modificada, não passa de uma ilusão, infelizmente bastante comum.”

génese química ou através de radiações.

peu (em 2018) colocou as plantas obtidas através das NTG sob alçada da diretiva dos OGMs, o que as sujeita ao mesmo tipo de regulamentação que as plantas transgénicas. Esta situação penaliza bastante estas tecnologias, uma vez que, como já referi, as modificações genéticas induzidas pelas NTG são muito limitadas e não necessitam da inserção de genes de outros organismos nas plantas. As plantas obtidas por estas técnicas são de tal modo idênticas às plantas de origem que os reguladores de alguns países nem sequer as consideram geneticamente modificadas, uma vez

A ideia de que as plantas que consumimos, mesmo que cultivadas

que as alterações são idênticas às que poderiam acontecer por

na nossa horta, são uma coisa natural, que nunca foi modificada,

mutações naturais.

não passa de uma ilusão, infelizmente bastante comum. A razão ou

Apesar desta contrariedade, as coisas parecem estar a mudar em

as razões pelas quais os OGMs tiveram tanta resistência na Europa

consequência de um estudo recente pedido pela Comissão Europeia

não é muito clara. Há talvez um conjunto de razões, mas indepen-

e que aponta no sentido de retirar as plantas obtidas com base nas

dentemente dos argumentos utilizados, há uma coisa que é óbvia:

NTG da legislação vigente. Isso pode passar pela criação de uma

eles não se baseiam no conhecimento científico.

legislação específica ou pela modificação daquela que está em vigor.

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As conclusões desse estudo foram enviadas por carta ao governo português, atualmente na presidência da UE, esperando-se que o processo siga o seu caminho. Numa reunião recente do Conselho de Ministros da Agricultura da UE o assunto foi discutido, tendo os ministros concordado na necessidade de adaptar a legislação existente de maneira a contemplar os progressos técnicos e científicos proporcionados pelas novas tecnologias. Existe, pois, algum otimismo de que as coisas possam mudar para que, finalmente, os agricultores europeus possam competir em pé de igualdade com os agricultores de outros países.

Que relevância têm estas tecnologias para Portugal? Como podem ajudar a cumprir as metas da Estratégia “Do Prado ao Prato”? Para Portugal e para os restantes países da União Europeia, estas

naturalmente, reduzir os impactos da agricultura no meio ambiente, através da utilização de menos fertilizantes, água e produtos quí-

técnicas são essenciais para continuar a assegurar a produção de

micos e, simultaneamente, continuar a assegurar uma disponibiliza-

novas variedades de plantas, cada vez mais produtivas ou capacita-

ção de alimentos que salvaguarde a segurança alimentar europeia.

das para resistir a pragas e doenças ou a stresses ambientais, como

Como é que isto se pode concretizar? Uma maneira, é reduzir a

a salinidade, a falta de água ou temperaturas extremas. O grande

produção de alimentos na União Europeia, disponibilizando áreas

objetivo da Estratégia “Do Prado ao Prato” é assegurar a produ-

para os chamados serviços dos ecossistemas e para a chamada

ção de alimentos de uma maneira mais sustentável. Isto significa,

agricultura biológica. Esta estratégia, se não for acompanhada, por

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL ENTREVISTA

outras medidas, implicará uma diminuição da produção agrícola na Europa e a consequente importação de alimentos de países terceiros, com o aumento da pegada ecológica e uma contribuição para a degradação dos ecossistemas que muitos desses países praticam com a finalidade de aumentar as áreas de cultura. Calculo que o objetivo dos líderes

“(…) [Sem as NTG] duas das principais fileiras agrícolas, o milho e o tomate de indústria estão seriamente ameaçadas (…)”

mento havido nos últimos anos os rendimentos agrícolas teriam sido 20% mais baixos. Isto significa que mais área agrícola teria que ter sido cultivada para atingir os mesmos níveis de produção. Ou seja, mais emissões de CO2, uma maior utilização de fertilizantes e produtos fitofarmacêuticos e, não menos importante, a UE teria sido um importador líquido de alimentos, particularmente de trigo

europeus não seja este. Outra maneira de atingir estas metas é através de medidas que permitam mitigar o

e de outros cereais. No seu conjunto, o que estes estudos mos-

impacto da agricultura no ambiente e que, em simultâneo, permitam

tram, é que sem a utilização de novas técnicas de melhoramento,

ganhos de produtividade. Isto pode ter o contributo de várias áreas,

a agricultura europeia corre sérios riscos de não poder cumprir os

desde a agricultura de precisão, até à utilização de microrganismos

objetivos das diferentes estratégias a que se propôs ou que, cumprindo-as, isso será feito com um impacto

auxiliares do crescimento das plantas, mas há uma área que não pode ser deixada de fora: a biotecnologia de plantas. De facto, tendo em conta as expectáveis modificações climáticas, com o aumento médio da temperatura, a ocorrência mais frequente de eventos climáticos extremos e a redução da disponibilidade de água, que em muitas zonas do Sul da Europa já se verifica, a Biotecnologia e as novas técnicas genómicas serão decisivas na obtenção de variedades mais

“(…) sem a utilização de novas técnicas de melhoramento, a agricultura europeia corre sérios riscos de não poder cumprir os objetivos das diferentes estratégias a que se propôs (…)”

extremamente negativo em termos sociais, económicos e ambientais, certamente ao contrário daquilo que se pretende.

Que mensagem gostaria de deixar para a sociedade e decisores políticos acerca desta questão das Novas Técnicas Genómicas? A mensagem principal, e que a atual situação pandémica comprovou, é que os decisores políticos devem basear as suas decisões em

adaptadas a estas circunstâncias.

factos científicos e não em barulho de fundo. Alguém esperaria, no início da pandemia que, um ano depois estariam disponibilizadas

Que impacto pode ter a não adoção destas tecnologias para a

várias vacinas? Provavelmente não. Isso só foi possível porque a

cadeia alimentar feed & food?

ciência o permitiu e os decisores políticos tomaram as decisões

Dois estudos recentes podem dar uma ideia do que pode ser a não adoção destas tecnologias associada às limitações do uso de produtos fitofarmacêuticos estimulada pela estratégia da União Europeia para a Biodiversidade. Segundo a AGRO.GES, uma empresa de setor da agroeconomia que faz estudos

corretas. A agricultura tem beneficiado muito

“(…) os decisores políticos devem basear as suas decisões em factos científicos e não em barulho de fundo.”

de mercado, estima-se uma perda de 9%, o equivalente a 257 milhões de euros anuais, do valor acrescentado bruto para a economia nacional, tendo apenas em consideração, algumas das espécies mais utilizadas no nosso país, como o milho, o tomateiro, a oliveira e a vinha. O estudo mostra ainda que duas das principais fileiras agrícolas, o milho e o tomate de indústria estão seriamente ameaçadas e que a dependência alimentar do exterior aumentará com a consequente perda de segurança alimentar e um forte impacto negativo na empregabilidade. Por outro lado, um estudo da consultora alemão HFFA Research mostra que o melhoramento de plantas é responsável, na União Europeia, por 66% do aumento da produtividade agrícola anual e que sem o melhora8 |

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do conhecimento científico e estas novas tecnologias são uma ferramenta poderosa de melhoramento. Os agricultores e os cientistas europeus não podem continuar a ser impedidos de dar o seu contributo para o aumento da produtividade devido a uma legislação absurda que se centra mais na técnica utilizada do que no produto final.

A tecnologia deve ser utilizada para melhorar a vida dos cidadãos e as agências reguladoras, como a EFSA na Europa ou a FDA nos USA, devem avaliar, em cada momento, se um produto deve ou não chegar ao mercado, garantindo assim a segurança das pessoas. Um

“(…) agências reguladoras, como a EFSA na Europa ou a FDA nos USA, devem avaliar, em cada momento, se um produto deve ou não chegar ao mercado, garantindo assim a segurança das pessoas (…)”

estado demasiado interventivo e controlador da ciência só pode dar mau resultado. E não faltam exemplos práticos para o demonstrar. Isso leva-me a uma segunda mensagem: talvez não fosse má ideia alguns decisores políticos lerem um pouco sobre T. Lysenko e a forma como as suas políticas, baseadas em pseudociência, afetaram durante décadas a produção agrícola na antiga União Soviética. Quando a ideologia se sobrepõe à ciência, os resultados são sempre catastróficos.


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ALIMENTAÇÃO ANIMAL BIOTECNOLOGIA

APROVAR QUANDO SEGURO OU QUANDO É POPULAR?

Jaime Piçarra Engenheiro agrónomo e Secretário-Geral da IACA

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

Depois da apresentação e de uma primeira discussão no Conselho Agrícola de maio, com resultados encorajadores, os próximos meses irão acentuar o debate sobre as conclusões de um estudo pedido pelo Conselho da UE que, basicamente, demonstra o erro de considerar a edição de genes como uma técnica inserida na legislação aplicável aos OGM. Recorde-se que vários Estados-membros, entre os quais Portugal, solicitaram uma avaliação científica desta decisão tomada em 2018 pelo Tribunal Europeu de Justiça e aguardam, com expectativa, orientações claras sobre uma matéria que poderá permitir aos países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento, uma ferramenta que diminui a necessidade de utilização de pesticidas e a possibilidade de cumprirem as metas das várias estratégias ambientais em curso, tal como a pequenos agricultores, em qualquer parte do mundo, a possibilidade de ganharem o seu sustento. Enquanto não se conhecem as decisões políticas acerca deste dossier perguntamo-nos: será a agricultura a única área na qual a evolução científica não pode entrar? Fará isto sentido quando, simultaneamente, se defende a carne sintética e outros sucedâneos bem menos estudados do que as novas técnicas genómicas (NTG) no melhoramento de plantas? A ciência e a aposta na investigação e na inovação foram os aspetos que mais marcaram o ano de 2020 e marcarão certamente os próximos. Os decisores políticos passaram a ouvir a ciência e integram-na nas suas decisões. Como podemos, então, acreditar na ciência para umas situações e não acreditar nessa mesma ciência para outras? Na agricultura, as NTG protegem as culturas contras vírus, fornecendo trechos de ARN que bloqueiam a síntese de proteínas que são essenciais à multiplicação viral. É esta tecnologia do ARN/ADN recombinante que permite produzir variedades cultivadas que são atualmente utilizadas em quase 15% da área arável do planeta, mas não na UE. O receio pode advir, admite-se, do facto de a biotecnologia agrícola ter surgido num período de crises alimentares (BSE, dioxinas), e certamente devido a uma política de comunicação errática, que permitiu que este dossier assumisse um vínculo mais ideológico do que científico, mas a alimentação, tal como a ciência, não deve ter ideologia. Apesar disso, a perceção é o que tem contado para os decisores políticos que têm, não raras vezes sem

coragem, contribuído para calar a ciência e dar voz a tribos vinculadas a teorias da conspiração, as mesmas que defendem que as vacinas provocam autismo. Os impedimentos à produção e à utilização de plantas geneticamente melhoradas impossibilita a alimentação de animais produtores de géneros alimentícios com a soja ou o milho que, nos principais fornecedores da UE, são maioritariamente geneticamente modificados. O contrassenso é que estas mesmas plantas são aprovadas pelas autoridades científicas, com parecer favorável da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) e, assim sendo, para evitar disrupções no abastecimento da cadeia alimentar, e, sobretudo porque são seguras, a Comissão Europeia autorizou recentemente a importação de oito produções OGM. A nível mundial, segundo o último relatório International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications – ISAAA. org, a biotecnologia na produção agrícola chega já a 26 países, em 11 culturas diferentes, beneficiando mais de 20% da população mundial. Para já, as conclusões do estudo da Comissão (JRC) reconhecem o grande potencial destas técnicas para atingir os objetivos da Estratégia “Do Prado ao Prato” e os desafios colocados pelas alterações climáticas. A Ministra da Agricultura de Portugal e Presidente cessante do Conselho também se manifestou no mesmo sentido, salientando, na intervenção no quadro da Assembleia-Geral da FEFAC, em 11 de junho, a importância da biotecnologia e designadamente das NTG como instrumento de promoção da sustentabilidade, desde que esteja comprovada a segurança e aceitação públicas. O aprofundamento do debate transitará agora para a Presidência da Eslovénia, mas os Estados-membros terão aqui um papel decisivo. Não é de esperar uma unanimidade, até porque Hungria e Polónia, por exemplo, já manifestaram a oposição. No entanto, há que tomar consciência de que a Europa não pode ficar isolada e perder mais esta batalha, em nome dos avanços, do conhecimento científico e do Desenvolvimento Sustentável. Estará o populismo a impedir precisamente aquilo que advoga? Uma sociedade mais justa e mais ecológica e que lute contra a ignorância, pela decisão com base científica? Penso que sim! Devemos estar no lado certo, o da coragem, da ciência, e não continuar a alimentar a hipocrisia do costume.


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ALIMENTAÇÃO ANIMAL BIOTECNOLOGIA

UM SONHO TORNADO REALIDADE GRAÇAS À BIOLOGIA MOLECULAR De entre os principais riscos globais que afligem

gerações, a não ser que se descubra alternativa no

a Humanidade destaco a pobreza extrema – que

domínio da nutrição vegetal.

afeta cerca de mil milhões de pessoas, que vivem com menos de $1,90 por dia e se deitam todos os dias com fome – e a problemática ambiental, que inclui diversos desafios que importa resolver urgenManuel Chaveiro Soares Engenheiro Agrónomo, Ph. D.

temente, com destaque para: (i) o aquecimento global, induzido pelas emissões de gases com efeito de estufa (os combustíveis fósseis são responsáveis por mais de 80% do total das referidas emissões); (ii) a exploração excessiva dos recursos naturais; (iii) a poluição do ar e da água; (iv) a biodiversidade; (v) o crescimento das cidades. Todavia e embora seja difícil prever o futuro crescimento da população mundial, os demógrafos das

esforços para superar. De destacar, entre muitos outros, o Prof. Voigt, do reputado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (com 97 laureados com o Prémio Nobel e, importa anotar, três em cada quatro estudantes recebem uma bolsa de estudo nesta universidade privada), onde Voigt lidera uma equipa, financiada por uma empresa de sementes, que tem em vista desenvolver grãos de cereais – como milho, trigo e arroz, de grande importância na alimentação humana – fixadores de azoto. Também na Natureza, desde há muito tempo que

atuais 7,7 para 9,7 mil milhões em 2050, e estima-

é conhecida a possibilidade das plantas da família

-se que a Humanidade necessite de mais 60% de

das leguminosas – como a ervilha, o grão de bico,

alimentos do que precisa atualmente.

a luzerna, a soja – formarem associações simbió-

de alimentos e ao ambiente, os adubos azotados ocupam um lugar de relevo. Por um lado, 80% são

ticas com bactérias do género Rhizobium, em que a planta fornece à bactéria hidratos de carbono e sais minerais, e a bactéria fixa azoto atmosférico

fabricados com base no amoníaco (NH3), obtido por

que cede à planta.

síntese de Haber-Bosch, a partir do azoto atmos-

Em condições muito favoráveis, quanto à estirpe

férico e do hidrogénio resultante da reação entre a água e o gás natural – o que atualmente consome cerca de 2% da energia produzida no mundo (Pinker, 2018); adicionalmente, a aplicação não judiciosa dos adubos azotados na fertilização das culturas pode dar origem a perdas de azoto nítrico (NO3-) por lixi-

de Rhizobium, espécie de leguminosa e condições ambientais, a fixação simbiótica do azoto atmosférico atinge 500 kg/ha/ano (Quelhas dos Santos, 2015). Entretanto, em artigo publicado em 2020, na presti-

viação e, consequentemente, causar a contaminação

giada revista Nature Communications, o Prof. Voigt

indesejável das massas de água.

apresentou seis produtos obtidos por biologia sin-

Por outro lado, o azoto é, por via de regra, o principal nutriente limitante das produções vegetais, dado que é um constituinte de compostos de interesse vital para a planta (Quelhas dos Santos, 2015); importa recordar que, sem o recurso à adubação azotada das culturas, a insuficiência de alimentos iria provavelmente reduzir a metade a população mundial (Roser & Ritchie, 2013). Nestas circunstâncias não parece prudente condenar de forma ligeira a aplicação de fertilizantes inorgânicos, nomeadamente adubos azotados – sem os quais talvez este modesto autor, o caro leitor e

ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

tistas da área da biotecnologia têm vindo a envidar

Nações Unidas (ONU) admitem que se eleve dos

Em toda esta problemática, inerente à produção

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Trata-se de um grande desafio técnico que os cien-

tética e comercialmente disponíveis. Entre estes anunciou que a empresa Pivot Bio (que iniciou a sua atividade com o apoio de diversos investidores, incluindo Bill Gates) criou o primeiro fertilizante biológico para milho, desenvolvido com intervenção da biologia sintética e que tem como ingrediente ativo uma bactéria que reduz a necessidade de adubos azotados de síntese: de salientar que, ao contrário destes, o azoto do aludido fertilizante biológico não é lixiviado e também o óxido nitroso (N2O) – poderoso gás com efeito de estufa – não é libertado para a atmosfera.

mais cerca de 3,5 mil milhões de seres humanos

Segundo Voigt, em 2020 o fertilizante em apreço

não teríamos sobrevivido à subnutrição; a mesma

foi aplicado em cerca de 100 mil hectares, preven-

carência alimentar iria penalizar também as futuras

do-se uma forte expansão em 2021. Entretanto, a


Pivot Bio comunicou que irá também lançar no

tecnologia; agora, porém, promove o modo

mercado um fertilizante biológico para o trigo.

de produção biológica, conforme decorre do

É conhecida a relutância que a generalidade

Pacto Ecológico Europeu.

dos decisores políticos da UE-27 tem demons-

Diferente, todavia, é a atitude de Bruxelas no

trado relativamente à aplicação da moderna

domínio da farmacologia; de facto, recente-

biotecnologia no âmbito da agricultura. Efetivamente, denotam especial recetividade aos lóbis ideológicos e à opinião pública – que, como também a generalidade dos políticos, não tem uma base de conhecimento no domínio da biologia molecular, revelando-se mais permeável à pseudociência do que aos pareceres emitidos por respeitadas instituições científicas, nomeadamente europeias e nor-

mente assistimos ao entusiasmo e apoio dispensados pelos políticos ao desenvolvimento de vacinas contra a covid-19, com recurso à moderna biotecnologia; também a população se revelou muito interessada nestas vacinas, sem questionar o recurso à biologia molecular, antes certificando-se da sua eficácia e segurança.

te-americanas, especializadas em segurança

No tocante à agricultura, recentemente os

dos alimentos e ambiente (e também em

governos de Itália e de França esboçaram algu-

medicamentos, incluindo a recente aprovação

mas iniciativas reveladoras do interesse dos

da vacina contra a covid-19).

mesmos em debater a questão da aplicação

Curiosamente, há duas décadas, aquando

da moderna biotecnologia ao melhoramento

da Lisbon European Council (2000) e Sto-

genético das plantas. Entretanto, até ao pró-

ckholm European Council (2001), a UE defen-

ximo dia 31 de Abril, a Comissão Europeia irá

dia que fossem desenvolvidos esforços em

apresentar um estudo sobre a aplicação das

novas tecnologias, especialmente na bio-

novas técnicas genómicas, designadamente

em plantas, animais e microrganismos, indicando inclusivamente o seu potencial uso. Presentemente, a UE-27 importa mais de 30 milhões de toneladas de alimentos geneticamente modificados destinados à alimentação animal; a cultura está restrita ao milho geneticamente modificado e apenas em Portugal e Espanha. Mas estou em crer que o estudo aprofundado da moderna biotecnologia e o exemplo da sua crescente aplicação na América do Norte, e em mais 27 países, acabarão por influenciar os políticos da UE-27 (mesmo que não tenham formação na área científica em causa) no sentido de tomarem também decisões racionais, fundamentadas na evidência científica, que evitarão que a UE deixe de acompanhar o progresso científico, indispensável à sustentabilidade dos sistemas de produção agrícola e, concomitantemente, à competitividade da economia.

A L I ME N TAÇÃO A N I M A L

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL BIOTECNOLOGIA

PORQUE SOMOS CONTRA OS OGM? Como mencionado por um conhecido comentador, sem sabermos as causas não poderemos ter as respostas mais apropriadas. Falar dos ditos Organismos Geneticamente Modificados, vulgo OGM, é também falar do poder da Comunicação e do seu impacto mediático. Como se constrói uma narrativa e como ela se tornou voz popular e uma verdade indestrutível. Será verdadeiramente assim? Para falarmos do impacto do tema OGM na opinião pública vamos tentar abordar o tema em três conceitos: o Medo; a Globalização e a Caixa de Pandora.

A Manipulação do Medo Rui Gabriel Médico-Veterinário, Consultor em Saúde Animal

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

O Medo significa poder. Mesmo o ex-Presidente americano Donald Trump o assumia como uma realidade. Medo é Poder. De todas as emoções humanas, o Medo é o mais poderoso motivador do comportamento humano. O Medo é muitas vezes irracional e quem o consegue manipular, consegue obter as vantagens pretendidas. Existem várias formas de gerar Medo. O Medo do desconhecido e o Medo de perdermos o que temos. Curiosamente o medo de perdermos o que temos tem maior impacto sobre o medo de perdermos o que podemos vir a ter. Veem estas reflexões a propósito das campanhas de incutir medo sobre a produção e consumo de produtos com os OGM. Podemos afirmar – quem o afirma é a própria FAO – que com o crescimento da população mundial em 2050 para mais de 9 biliões de pessoas iremos necessitar de mais 60% de alimentos do que os produzidos atualmente, o que constitui claramente um dos maiores desafios da Humanidade. Este é o Medo projetado no Futuro – que riscos corremos para conseguirmos alimentar uma população crescente e, felizmente, com maior poder de compra? O Medo do presente, o que nos preocupa neste momento, para os cidadãos – que riscos representam os OGM? O que representa o risco de manipularmos a natureza? O medo do desconhecido? Esta é a abordagem dos detratores dos OGM – criar a desconfiança e, por consequência, o medo. Como foi dito, o medo do presente sobrepõe-se à dúvida do futuro – como vamos alimentar a população mundial nos próximos anos, se bloquearmos as inovações tecnológicas com base no medo e na incerteza. Curiosamente, uma questão que foi colocada: as mesmas pessoas contra os OGM são as mesmas pessoas que acreditam nas alterações climáticas. Então porque acreditam na ciência, no caso das alterações climáticas, e já duvidam da Ciência quando a mesma valida e certifica a segurança dos OGM? Existe um paradoxo? Aparentemente existe, mas na realidade não, porque a resposta no entendimento dos opositores aos OGM é a mesma: a mão do Homem! Ou seja, para os detratores dos OGM, é a mão do Homem que está na base das alterações climáticas e é essa mesma mão que faz a manipulação genética.

E assim se associa os OGM a uma alimentação manipulada tipo Frankenstein em que os malefícios estão construídos na base do medo, esquecendo propositadamente que a Ciência valida a segurança dos OGM. A mesma ciência que alerta para os perigos das alterações climáticas e, de como os OGM podem ajudar a mitigar e contribuir para a redução da pegada ecológica.

O símbolo da Globalização

As organizações que se opõem aos OGM são, regra geral, as organizações que se manifestam contra os riscos da Globalização. Os OGM são vistos como um símbolo da Globalização. O facto de serem produzidos e comercializados por gigantes multinacionais como a Monsanto, a Bayer, a Syngenta e outras, permite alimentar uma teoria da conspiração em que estas empresas pretendem dominar o mercado mundial da alimentação. Aqui, o problema está nos custos da investigação, de forma a garantir todos os estudos de Segurança, Eficácia e Qualidade, que numa fase inicial da investigação, apenas está ao alcance das grandes empresas. Um evento, segundo o regulador americano FDA, custa cerca de 30 milhões de Euros e demora mais de 5 anos a desenvolver, o que limita o acesso a muitas empresas. Quando e se os OGM deixarem de estar nas mãos de poucas empresas e se expandir a sua produção, a oposição às mesmas tenderá a diminuir e a se diluir. Um bom exemplo é o denominado Arroz Dourado (“Golden Rice“), geneticamente modificado para aportar vitamina A, e que tem merecido forte oposição de algumas ONGs, como o caso da Greenpeace. A falta de vitamina A é diretamente responsável pela cegueira de mais de meio milhão de crianças por ano nos países subdesenvolvidos. Extraordinariamente, algumas ONGs têm feito toda a oposição possível para que este Arroz Dourado (assim designado pela sua coloração mais amarelada) não possa ser cultivado nos países com fortes carências alimentares. A real razão da sua oposição a um evento que é claramente uma evolução civilizacional e uma resposta a um grave problema (a cegueira das crianças por carências alimentares de Vitamina A) tem uma resposta muito significativa assumida por responsáveis dessa ONG: porque veem o Arroz Dourado como o Cavalo de Tróia para os outros OGM. Traduzindo, demonstrando os benefícios do Arroz Dourado nestas populações carenciadas, torna-se mais difícil continuar com a narrativa do medo associado aos OGM! Curiosamente, a oposição à inovação tecnológica não é uma novidade e não é exclusiva no setor alimentar. Exemplo clássico foi o início da produção da insulina sintética que levantou exatamente o mesmo tipo de medos e uma forte oposição inicial. No entanto, as vantagens eram tão óbvias que os medos iniciais infundados e a sua oposição foram ultrapassados e


hoje já nem são comentados. Inúmeros exemplos poderiam ser dados sobre como a oposição à inovação tecnológica foi superada no tempo. Mas existem algumas áreas onde o negacionismo da inovação persiste, o que foi documentado nas campanhas anti-vacinas e na difusão de notícias de conspirações mundiais completamente absurdas. Esquecemos-mos do contributo das vacinas para o aumento da esperança da vida da Humanidade? Do número de mortes por varíola? Do número de mortes por sarampo? Quantos exemplos poderíamos dar do seu extraordinário contributo? No entanto, os detratores continuam, porque para eles a ciência não tem o mesmo valor das crenças. Porque as crenças vivem do medo e o medo impera sobre a ciência.

A Caixa de Pandora

uma biotecnologia que nos dá as respostas que verdadeiramente importam? O que será produzir sem a biotecnologia? Como poderíamos sobreviver? O que seria o nosso futuro sem estes avanços? No fundo, criar o tal medo, mas pela escassez. Sugiro o visionamento do filme Interstellar, de Christopher Nolan, que recebeu vários Óscares em 2014, e que é um excelente exemplo do que pode ser o nosso futuro de escassez alimentar e que nos faz refletir no que realmente podemos fazer. Por outro lado, temos agora uma oportunidade que nos foi aberta infelizmente pela Covid-19 – a importância e a resiliência da agricultura durante a pandemia. Na Europa atual, a voz dos agricultores tem sido menosprezada porque assumimos que

os alimentos são um bem adquirido e estão sempre disponíveis. Nem sempre foi assim e nem sempre é garantido que assim será. No entanto, a fileira agroalimentar deu o exemplo de resiliência face à pandemia e permitiu demonstrar a sua real importância. Se por um lado os agricultores representam uma pequena percentagem de eleitores, face ao eleitorado urbano, também é verdade que a Politica Agrícola Comum (PAC) é historicamente a maior fatia do orçamento europeu. Este é o momento da Agricultura e da Ciência terem a voz devida. A pandemia e as respostas necessárias dão-nos a força de acreditar que é possível acreditar na Inovação. Afinal temos uma população mundial que vai crescer mais nos próximos 30 anos do que cresceu no último século. E que tem que ser alimentada!

A questão neste ponto prende-se com os limites para esta tecnologia. Ou seja, iniciando a manipulação genética dos alimentos onde está o limite do que se pode ou não fazer. Sabemos que os eventos genéticos desenvolvidos estão cientificamente aprovados como seguros face aos conhecimentos atuais. Mas até onde o Homem pode continuar a manipular os genes? E onde está o seu limite? Estaríamos a abrir uma caixa de Pandora? Voltamos ao tema da criação do medo. Ao abordarmos as questões dos limites da ética na Ciência facilmente podemos criar a incerteza, a dúvida e os receios nos Cidadãos, permitindo o clima do medo, e por consequência, da sua oposição. Neste ponto, se queremos ter sucesso na aceitação pública da Inovação Genética nos Alimentos, não poderemos descurar a ética na Ciência e assumi-lo de uma forma absolutamente transparente sobre os seus limites sem tabus.

Uma nota final para o Now What?

Sabemos que os OGM são suportados pela Ciência e pelos cientistas. Sabemos que são uma resposta fundamental aos desafios alimentares da população mundial. Mas como podemos fazer passar essa mensagem face aos que acreditam nas crenças do medo? Como podemos desmistificar esses medos? Pessoalmente creio que uma das soluções passa pela forma como comunicamos com o Público. Historicamente publicamos as boas notícias e as vantagens dos OGM. Como contribuem para reduzir a pegada ecológica, como podem reduzir o uso dos pesticidas, como contribuir para alimentar uma população mundial emergente. Mas, qual o poder real desta comunicação face às crenças e medos criados? E se invertermos a comunicação e focarnos sobre as consequências de não termos OGM? A comunicação pela negativa, sobre o que significa no futuro não contarmos com A L I ME N TAÇÃO A N I M A L

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO

STRESS TÉRMICO EM RUMINANTES – ESTRATÉGIAS E SOLUÇÕES NUTRICIONAIS A exposição às elevadas temperaturas ambientais é mundialmente aceite por afetar negativamente a produção animal e, as vacas leiteiras são muito prejudicadas. Geralmente, as vacas leiteiras sofrem de stress térmico quando o calor acumulado ultrapassa a sua capacidade de o dissipar. O stress térmico pode ser definido como o sintoma de resposta imune inespecífica exibida por animais em condições de calor.

Stress oxidativo Elisabete Carneiro Eng.ª Zootécnica, Gestora de Zona da ADM Portugal S.A.

Esmeralda Curval Eng.ª Zootécnica em colaboração com a empresa ADM Portugal S.A.

Os animais são constantemente sujeitos a várias situações de stress que podem estar relacionadas com a fase fisiológica em que se encontram, com alterações alimentares, ambientais, de maneio e que, quando não controladas, originam desequilíbrios que culminam em stress oxidativo. Nos animais, os radicais livres são constantemente produzidos durante o funcionamento metabólico normal da célula, na maior parte sob a forma de espécies reativas de oxigénio (ROS) como o anião superóxido (O2−), o peróxido de hidrogénio (H2O2), o radical hidroxilo (OH) e outros produtos do metabolismo aeróbio. Uma vez produzidos, a maior parte dos radicais livres são reduzidos pelos mecanismos antioxidantes da célula que incluem enzimas e moléculas não enzimáticas. A manutenção do equilíbrio entre a produção de ROS e as defesas antioxidantes é uma condição essencial para o funcionamento normal do metabolismo celular e logo, do animal. No entanto, há situações em que o equilíbrio entre a produção de ROS e as defesas antioxidantes pode ser destruído devido a uma produção excessiva de ROS, ou porque existe uma redução nos mecanismos antioxidantes da célula. A este desequilíbrio chamamos stress oxidativo e, nestas situações, os ROS em excesso podem oxidar e danificar lípidos celulares, proteínas e DNA, levando à sua modifica-

Ott et al 2007

Legenda: O2 = Superóxido, H2O2 = Peróxido de Hidrogênio, OH = Hidroxilo radical

Figura 1. Stress oxidativo ao nível celular

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

ção e frequentemente à sua inutilização, inibindo e alterando a sua função normal. O envolvimento do stress térmico como um indutor de stress oxidativo em vacas leiteiras está amplamente fundamentado em vários trabalhos científicos. A diminuição do conteúdo de antioxidantes em vacas expostas a condições de calor elevado (superiores a 22 ºC), sugere que o stress térmico participa no aumento da formação de ROS (Flanagan et. al, 1998) (Figura 1). O stress térmico em vacas leiteiras depende das condições ambientais (humidade relativa e temperatura) que podem ser agravadas pela quantidade de calor produzida pelo próprio metabolismo do animal. Quanto maior a produção leiteira do animal, mais necessária e intensa atividade metabólica e maior a quantidade de calor endógeno produzido pela vaca. Assim, alia-se uma maior produção de ROS a uma maior produção de calor por parte do animal, resultando numa maior dificuldade de resistir ao stress térmico ambiental, que, por seu lado, agravará também o stress oxidativo.

Quando ocorre stress térmico nas vacas leiteiras A zona de conforto de uma vaca em termos de temperatura situa-se entre -5 °C a 20 °C . Sendo a temperatura rectal normal em bovinos de 37,9 a 39,5 °C (Wenz et. al, 2011). A intensidade do calor depende também da humidade relativa do ar. O Indice de temperatura e humidade (Temperature and Humidity Index; THI) é o indice usado para prever o nível de stress térmico nas vacas leiteiras, em função da temperatura ambiental e humidade relativa (Figura 2). O valor de THI pode ser calculado através da equação: THI = (1.8 x T° + 32) – {(0.55 – 0.0055 x Humidade) x (1.8 x T° – 26)}. Uma vez calculado esse valor, podem ajustar-se as medidas necessárias ao nível de stress a que os animais estão sujeitos.


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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO

 Alterações do comportamento animal • Redução da ingestão • Redução da produção de saliva (redução do efeito tampão ruminal) • Redução da atividade • Procura de sombra e/ou vento • Recusa em deitar-se • Aglomeração nos bebedouros É essencial encontrar soluções que permitam a redução do stress térmico e como consequência do stress oxidativo!

Figura 2. Variação do Índice de Temperatura e humidade relativa, para avaliação do stress térmico ambiental na vaca de leite. VERDE – Ausência de stress. AMARELO CLARO – Limiar de stress (THI>=68); frequência respiratória >60 BPM; inicia-se a redução de produção de leite; Perdas reprodutivas detetáveis; temperatura retal >38.5 °C. AMARELO ESCURO – Stress ligeiro a moderado (THI>72); frequência respiratória >75 BPM; temperatura retal >39 °C. LARANJA – Stress moderado a intenso (THI>=80); frequência respiratória >85 BPM; temperatura retal >40 °C. VERMELHO – Stress severo (THI>=90); frequência respiratória >120 BPM; temperatura retal >41 °C (Collier et. al, XXXX).

Perturbações fisiológicas e comportamentais devido ao stress térmico:  Respiração • Rápida e intensa  Sistema digestivo e Sistema imunológico • Rúmen: descida do pH • Intestino: inflamação – perda de integridade intestinal • Perda de eficiência das células de defesa

Estratégias de maneio geral A principal estratégia para melhorar a produção durante o stress térmico é o MANEIO geral e alimentar. Se a formulação e execução dos alimentos for de excelência, pode ainda assim ser derrubada por maneio geral deficitário, em particular em períodos de stress térmico ambiental. Assim:   Garantir acesso facilitado /aumentar a disponibilidade de pontos de água (mínimo dois por grupo);   Fácil acesso a água limpa e de qualidade;   Disponibilizar / aumentar áreas de sombra;   Colocação de aspersores e ventilação na sala de espera e linhas de alimentação;   Aumentar o nº de distribuições diárias / aproximar comida nas manjedouras

Estratégias nutricionais

Ramenda Dras et al., Vet. World , 2016

Figura 3. Consequências do stress térmico

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

Apesar de as estratégias de maneio gerais serem imprescindíveis, elas não são suficientes e devem ser conjugadas com estratégias nutricionais, a fim de prevenir e mitigar os efeitos do stress térmico. O efeito imediato mais visível, é a redução da ingestão diária de alimento (redução da ingestão da matéria seca – MS). A redução de consumo de MS resulta no aporte insuficiente não apenas de energia e proteina, mas também de vitaminas e minerais essenciais à produção mas também à resistência ao stress oxidativo. Assim é imperativo ajustar as formulações, promovendo uma maior concentração em energia, em proteína, em particular proteína by-pass e em oligoelementos (vitaminas e minerais). Também importa recordar que a ingestão de alimento e a ingestão de água estão interligadas e o consumo hidrico aumenta drasticamente com o calor. Se o consumo de água (de boa qualidade) não estiver facilitado para todos os animais, a IMS vais ser ainda mais comprometida.


  Boa qualidade e disponibilidade de água (fresca e à sombra !!)   Utilização de proteina by-pass (formulação com base nos aminoácidos essenciais) ;   Utilização de precursores de glucose (monopropilenoglicol – 100 a 200 ml/dia; glicerol; melaços);   Utilização de taninos, adsorventes de micotoxinas, leveduras e extratos de plantas para melhorar a eficiência digestiva no rúmen e intestino, diminuindo a inflamação da mucosa e evitando assim o stress oxidativo;   Uso de aditivos sensoriais que permitam aumentar a ingestão de matéria seca;   Utilização de gordura by-pass permitindo incremento de energia sem risco de acidose;   Reforço vitamínico-mineral com foco na melhoria do sistema imunitário;   Verificar a capacidade tampão do TMR e a diferença Aniões-Catiões da dieta (DCAD)   Compensar as perdas de minerais e prevenir a acidose: • K 1.0% – > 1.3% e • Na 0.18% – > 0.45% (proveniente do sal e do bicarbonato de sódio)

• Mg 0.25% – > 0.35% • Cl 0.35% máximo • DCAD (mEq/kg DM) = [k+ + Na+] – [Cl – + S--] em situações de stress térmico: + 350-400 Meq/kg MS

Conclusão Os avanços tecnológicos atuais permitem em termos nutricionais, conjugar as estratégias mais eficientes num único produto para utilização na formulação dos alimentos concentrados, ou diretamente na exploração, com seguintes vantagens:

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO

ESCLARECIMENTOS SOBRE A QUALIDADE DO BAGAÇO DE SOJA

Diretor de Vendas e Serviços Técnicos EMEA AB Vista

Jae Kim Diretor Técnico ASPAC AB Vista

A deteção tanto de bagaço de soja mal cozido ou cozido em excesso é fundamental para os produtores de rações discriminarem os bagaços de soja de baixa qualidade. A Associação Americana de bagaço de Soja comparou a digestibilidade ileal dos aminoácidos em floco de soja cru, bagaço de soja bem cozido e bagaço de soja cozido em excesso em galos cecotomizados (Figura 2). O estudo demonstrou que a digestibilidade ileal de todos os aminoácidos é comprometida quando os bagaços de soja são mal cozidos ou cozidos em excesso.

A produção de bagaço de soja envolve diferentes etapas com uma gama de pressões e temperaturas aplicadas para a extração de óleos, remoção de antinutrientes (por exemplo, inibidores da tripsina) e para aumentar a digestibilidade, com a operação de dessolventização e tostagem (D-T) (Figura 1) a ser o passo mais delicado para o controlo de qualidade.

incluem:

ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

120

Raw flake

Cooked

Over-cooked

100 80 60 40 20 0 Thr

Cys

Val

Met

Ile

Leu

Phe

His

Lys

Arg

Trp

Figura 2: Digestibilidade exclusiva dos aminoácidos de bagaço de soja (floco cru, cozido e cozido em excesso) quando administrado a galos cecotomizados

Métodos tradicionais para verificar o impacto das condições de processamento dos bagaços de soja Produção de bagaço de soja e o na qualidade impacto do processamento no Testes habituais de verificação da qualidade dos desempenho animal bagaços de soja para os produtores de rações

Figura 1: processo tipico de produção de bagaço de soja

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Ileal digestibility, %

William Greenwood,

Face à presente volatilidade dos preços do bagaço de soja e às pressões ambientais, é imprescindível que os produtores de rações tenham um conhecimento profundo da sua composição nutricional para poderem otimizar a sua inclusão na ração e comparar diferentes fornecedores. Tradicionalmente, os produtores de rações focavam-se na determinação do teor de macronutrientes do bagaço de soja (por exemplo, teor de humidade, proteína, gordura, fibra bruta, cinzas), no sentido de aperfeiçoar a fórmula da ração. Mais recentemente, as empresas passaram também a poder verificar parâmetros nutricionais mais avançados, como aminoácidos, teor de polissacarídeo não amiláceos (NSP) e fitato. O processamento de bagaço de soja causa impacto na qualidade do material, sendo agora possível aos produtores de rações verificar indicadores adicionais de qualidade proteica que podem ser utilizados como guia no controlo do impacto do processamento na qualidade do bagaço de soja, incluindo o conteúdo de lisina reativa e a atividade da urease. A análise rápida destes parâmetros adicionais tornou-se disponível graças aos recentes avanços na tecnologia de reflexão de infravermelho próximo (NIR), uma alternativa economicamente mais vantajosa que os testes químicos tradicionais para examinar a composição nutricional dos alimentos para animais.

• Atividade inibidora da tripsina (TIA) – a destruição da TIA durante a operação D-T está estreitamente correlacionada com a destruição da atividade da urease e pode ser utilizada como um método para detetar material não processado. • Atividade da urease (UA) – o método mais comum para detetar bagaço de soja sub-processado, este teste envolve a análise da alteração do pH devido à presença de urease. Se o bagaço de soja for sub-processado, deverá haver maior presença de enzima de urease e verificar-se-á um maior aumento do pH. É um método indireto muito utilizado na indústria para estimar a TIA, atendendo à deteção difícil e dispendiosa da TIA. A UA correlaciona-se com TIA, uma vez que ambas as enzimas são igualmente desativadas numa faixa de tratamento


térmico. Por norma, UA é cotada em unidades de índice de urease (U), e a expetativa da indústria é de 0,05-0,3U. Solubilidade KOH – usada para detetar bagaço de soja cozido em excesso, medindo a solubilidade de azoto em solução de KOH 0,2%. O bagaço de soja cru é 100% solúvel em 0,2% KOH mas a qualidade ideal situa-se entre 78% (cozido em excesso) e 84% (mal cozido). • Índice de dispersão de proteínas (PDI) – A quantidade de proteína de bagaço de soja dispersa em água após a mistura de uma amostra de bagaço de soja em água com um misturador de alta velocidade. A qualidade ideal é o valor PDI de 40-45%. •L isina reativa – o conteúdo total e reativo de aminoácidos e a digestibilidade são reduzidos durante o processo de tostagem. A lisina é um marcador sensível de sobre-processamento, uma vez que o grupo amino livre na sua cadeia lateral é exposto e reage prontamente com açúcares e gorduras se a temperatura e teor de água o permitirem, tornando a lisina indisponível para o animal. O conteúdo reativo de lisina é uma medida dos grupos de amino livres que restam e, portanto, a disponibilidade da lisina para a síntese de proteínas. Os valores ideais estão acima do rácio de 90% de lisina reativa:total de lisina.

PDI

Lisina Reativa: Total

TIA

UA

KOH

Sub-processamento

Muito apropriado

Muito apropriado

Baixa utilização

Apropriado Não apropriado

Sobre-processamento

Não apropriado

Não apropriado

Apropriado

Baixa utilização

Muito apropriado

Valores-alvo

<2,5 ou <5 mg/g

<0.05 ou <0,30 incremento de pH

78 – 84 %

40 – 45 %

>90%

Comentário

Difícil

Mais comum

Mais comum

Método simples

Difícil

Tabela 1: um resumo comparativo dos parâmetros de qualidade dos bagaços de soja

Solubilidade KOH e PDI podem não constituir ferramentas sensíveis para detetar bagaços de soja sobre-processados Embora KOH e PDI tenham diminuído com o tempo de autoclavagem conforme esperado, o desempenho dos frangos de engorda não foi afetado, sugerindo que estes métodos de rastreio da qualidade do bagaço de soja podem não ser ferramentas fiáveis para prever o verdadeiro impacto da qualidade do bagaço de soja no desempenho animal. O conselho de exportação de soja dos EUA também declarou que a solubilidade da proteína KOH não é suficientemente sensível para

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO

medir o nível de processamento térmico a que um produto de bagaço de soja foi submetido, indicando que a solubilidade KOH apenas apresenta informações qualitativas e não quantitativas sobre um grau de sobre-processamento. Estas são as razões que levaram a AB Vista a selecionar a lisina reativa e a UA como indicadores de qualidade do bagaço de soja, que estão disponíveis para os clientes utilizarem no Feed Quality Service, o serviço de previsão NIR da AB Vista disponível na Internet.

A lisina reativa como ferramenta quantitativa para detetar bagaço de soja cozido em excesso Durante o processo D-T na produção de bagaço de soja, o grupo carbonyl dos açúcares (açúcares redutores) pode reagir com o grupo amino da lisina, criando uma mistura de produtos Maillard com caraterísticas deficientes. Além disso, a lisina também pode reagir com outros nutrientes como gorduras, polifenóis, vitaminas e outros aditivos alimentares, criando compostos não especificos (Figura 3). O problema desta reação química é que uma parte da lisina detetada como lisina total na análise por HPLC não está biodisponível para o anabolismo de tecido magro ou para outras funções biológicas, visto que a lisina danificada pelo calor é excretada através da urina, mesmo que seja digerida e absorvida no intestino delgado.

Figura 3: formação de produtos Maillard e compostos não especificos durante o processo de tostagem de bagaço de soja

Com base nos dados da AB Vista recolhidos a nível mundial, a relação lisina reativa:total e UA pode ser demonstrada com base no país de origem da amostra.

Aplicação prática da lisina reativa na formulação de rações Baseado na base de dados global de bagaço de soja da AB Vista, é possível prever que ca. 15% de todas as amostras de bagaço de soja poderiam ser consideradas excessivamente tostadas (rácio lisina reativa:total <90%). Isto significa que os produtores de rações devem considerar complementar as suas rações contendo este material com aminoácidos adicionais, para garantir que as rações contêm os níveis corretos de aminoácidos. Para além do teor de lisina total e reativa, AB Vista também prevê o teor de aminoácidos ileais digeríveis normalizados (SID) no bagaço de soja. Estes resultados podem ser utilizados em conjugação para criar fatores de conversão para ajustar o conteúdo esperado de SID AA no sistema de formulação da ração.

Conclusão As várias etapas na produção de bagaço de soja têm um impacto na qualidade do material. Os métodos tradicionais de verificação do impacto do processamento de bagaço de soja na qualidade podem não ser suficientemente sensíveis para utilização em situações práticas e a atividade de urease e lisina reativa são os métodos mais adequados para detetar, respetivamente, bagaço de soja sub- e sobre-processado. A tecnologia de reflexão de infravermelho próximo (NIR) é uma alternativa rápida, não destrutiva e economicamente mais vantajosa que a tradicional análise química por via húmida. O índice de urease e a lisina reativa são indicadores da qualidade da proteína e estão disponíveis para os clientes AB Vista utilizarem através do serviço de previsão NIR baseado na web, Feed Quality Service. Para mais informações ou referências: emea@abvista.com

Figura 4: Teor lisina reativa: teor total (barras pretas) e variação qualidade dasand rações variation de bagaço de soja Figure 4:deReactive:total lysine (black bars)da content from soybean meal Feed Quality

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL


Figure 4: Reactive:total lysine (black bars) content and variation from soybean meal Feed Quality

Service sample datarecolhidos collected during 2020. values are above 90% reactive:total Dados de amostra de serviço durante o ano 2020. Os Optimum valores ideais estão acima de 90% do rácio lisina reativa:total, comolysine indicadoratio pela linha vermelha horizontal. as. Figura 5: UA e variação dos dados da amostra de Feed Quality Service do bagaço de soja recolhidos durante o ano 2020. AFigure expectativa da indústria situa-se entrefrom 0,05 e soybean 0,3U. 5: UA and variation meal Feed Quality Service sample data collected

during

2020. Industry expectation is between 0.05 and 0.3U.

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO

EFEITO DO SUPLEMENTO CLOSTAT® PARA PORCAS EM GESTAÇÃO E LACTAÇÃO NO DESEMPENHO, ESTADO OXIDATIVO E MICROBIOMA* *A daptado de: Zhang, Q., et al., 2020: Dietary supplementation of Bacillus subtilis PB6 improves sow reproductive performance and reduces piglet birth intervals. Animal Nutrition 6, 278-287.

Conclusões principais • A inclusão de CLOSTAT nas dietas das porcas durante o fim da gestação e lactação resultou num aumento do número de leitões nados vivos, intervalos reduzidos entre o parto dos leitões, melhoria do estado de stress oxidativo no parto e melhoria da performance dos leitões • CLOSTAT teve um impacto positivo significativo no microbioma intestinal, reduzindo as abundâncias relativas dos Filos Proteobactérias e Streptococcus

INTRODUÇÃO

O aumento do tamanho da ninhada nas genéticas modernas representa um desafio para as porcas no fim da gestação e lactação. Nestas etapas, as porcas enfrentam mudanças de maneio, alimentação e alojamento, mas também mudanças fisiológicas ao enfrentarem processos inflamatórios peri-parto. Existem também alterações intestinais que podem levar à proliferação bacteriana indesejável, que pode resultar na produção de endotoxinas. A sua absorção colocará mais desafios ao estado de saúde da porca, pois podem conduzir à inflamação, criando ainda mais pressão no equilíbrio do stress oxidativo. A duração do parto é igualmente um fator de risco, com o aumento da duração do parto a ser associado ao aumento do número de leitões nados mortos ou com hipoxia, assim como complicações pós-parto. O objetivo deste estudo foi investigar os efeitos do suplemento alimentar de porcas dos 90 dias de gestação aos 21 dias após o parto com CLOSTAT® no desempenho reprodutivo, estado de stress oxidativo, desempenho dos leitões durante a lactação e microbioma intestinal das porcas.

PALAVRAS-CHAVE CLOSTAT®, porcas, leitões, lactação, microbioma, performance, stress oxidativo, microbioma

MATERIAL E MÉTODOS O ensaio foi levado a cabo numa exploração comercial na província de Sichuan, China. Um total de 32 porcas (LWxLR) com uma paridade média de 2,47 ± 0,5 foram incluídas no estudo. No dia 90 de gestação, as porcas foram alocadas aleatoriamente a 1 de 2 grupos, com as porcas do grupo de controlo a receberem a dieta basal de gestação e lactação e as porcas do grupo CLOSTAT a receberem as dietas de gestação basal (do dia 90 de gestação ao dia 110 de gestação) ou de lactação (do dia 110 de gestação ao dia 21 de lactação) suplementadas com Bacillus sp. 24 |

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PB6 (CLOSTAT, Kemin) @ 4,0x108 UFC /kg ração. Apresentamos um resumo dos tratamentos no Quadro 1. Seguiu-se uma curva de alimentação durante a lactação e o desmame foi realizado no dia 21 da lactação. Tratamento

Tratamento

Controlo

Dieta basal

Grupo CLOSTAT

Dieta basal + Bacillus sp.PB6 @ 4,0x108 CFU /kg ração

Quadro 1 - Resumo dos tratamentos

Nas primeiras 24 horas após o parto, as ninhadas foram uniformizadas para aproximadamente 12 leitões por porca, as transferências foram realizadas entre animais do mesmo grupo de tratamento. No parto, registou-se o tamanho da ninhada, os nascidos vivos, os nados-mortos, o peso ao parto dos leitões, a duração do parto, o intervalo de tempo entre o nascimento dos leitões e a quantidade de ração utilizada. Recolheram-se amostras de sangue das porcas no dia 0 (parto), dia 14 e dia 21 e dos leitões aos 14 e 21 dias de idade. Recolheram-se fezes frescas (n= 5/tratamento) no dia 110 de gestação. Testaram-se amostras de sangue (n=6 / tratamento) para avaliar a capacidade antioxidante total (T-AOC), o malondialdeído (MDA) que é um marcador de stress oxidativo, as concentrações de endotoxinas (toxinas produzidas por bactérias ou resultantes da morte bacteriana) na porcas e as concentrações de cortisol como marcador de resposta ao stress no soro dos leitões. Extraiu-se o ADN de amostras fecais, tendo sido enviado para sequenciação do amplicon 16S rRNA V4 para análise do microbioma.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Desempenho reprodutivo de porcas no parto A suplementação da dieta de gestação das porcas com CLOSTAT resultou em aumento no tamanho das ninhadas (total de nados) e no número de leitões nados vivos (P <0,01). A duração do parto tendeu a


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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO

ser mais curta com a suplementação de CLOSTAT, como resultado do menor intervalo entre nascimentos de leitões (P = 0,022), um resumo dos resultados do desempenho do parto para os dois tratamentos pode ser visto no Quadro 2. CLOSTAT

Controlo

P – valor

Tamanho médio das ninhadas (n=)

14,94 a ±0,36

13,13 b ±0,53

< 0,01

Leitões nascidos vivos em média (n=)

14,00 a ±0,32

11,63 b ±0,64

< 0,01

Nascidos vivos (%)

93,97 ±1,66

88,29 ±2,89

0,098

Duração do parto (min)

218,8 ±8,54

255,6 ±18,98

0,092

15,03 b ±0,58

21,65 a ±2,55

0,022

Intervalo de nascimentos de leitões (min)

Quadro 2 - Desempenho reprodutivo das porcas no parto

Desempenho na lactação O tamanho médio da ninhada, o peso médio do leitão no desmame, o ganho de peso da ninhada e a mortalidade pré-desmame melhoraram significativamente no grupo CLOSTAT, enquanto no consumo médio de ração por porcas entre os dois grupos não se tenha registado diferença. Um resumo do desempenho das porcas durante a lactação pode ser consultado no Quadro 3.

Tamanho da ninhada na criação cruzada (n=)

CLOSTAT

Controlo

12,31 ±0,22

12,31 ±0,33

P – valor 1,00

Tamanho da ninhada no desmame (n=)

10,88 a ±0,2

9,56 b ±0,39

< 0,01

Mortalidade pré-desmame (%)

11,37 b ±1,99

21,87 a ±3,12

< 0,01

Peso corporal médio do leitão na criação cruzada (kg)

1,40 b ±0,04

1,55 a ±0,05

0,026

Peso corporal médio do leitão no desmame (kg)

6,37 ±0,15

6,03 ±0,30

0,331

Consumo médio de ração por porca (kg/d)

5,76 ±0,10

5,77 ±0,15

0,956

Quadro 3 - Desempenho das porcas durante a lactação

Estado oxidativo A concentração sérica de MDA foi significativamente menor (P = 0,004) no parto no grupo tratado com CLOSTAT do que no grupo Controlo (4,07 ± 0,27 e 7,16 ± 0,77, respetivamente). Não foram observadas diferenças significativas entre os dois grupos, nos outros momentos (dias 14 e 21 de lactação). Também no parto o

Efeito do tratamento no estado oxidativo das porcas ao parto 18 16 14 12 10

8 6 4 2 0

MDA (nmol/ml soro porcas)

Controlo

T-AOC (U/mL)

CLOSTAT

Figura 1 - Efeito dos dois tratamentos no estado oxidativo

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T-AOC foi significativamente aumentado (P = 0,044) nas porcas tratadas com CLOSTAT (15,68 ± 2,65 U / ml) em comparação com as porcas do grupo Controlo (8,65 ± 1,51). Não foram observadas diferenças significativas nos outros momentos (d14 ou d21 de lactação). Um resumo do impacto dos tratamentos no estado oxidativo pode ser visto na Figura 1. Efeito dos tratamentos nos níveis séricos de endotoxina e cortisol As concentrações de endotoxinas séricas foram significativamente menores aos 14 dias de lactação (P = 0,007) e mostraram uma tendência para serem menores aos 21 dias de lactação (P = 0,059) no grupo CLOSTAT do que no grupo Controlo. Os leitões das porcas incluídas no grupo CLOSTAT apresentaram concentrações séricas de cortisol significativamente mais baixas aos 14 dias de idade do que os leitões das porcas incluídas no grupo Controlo (P = 0,042). Nenhuma diferença significativa foi observada aos 21 dias de idade. Efeito dos tratamentos no microbioma da porca A suplementação com CLOSTAT do dia 90 a 110 de gestação resultou num aumento significativo na abundância relativa de Gemmatimonadete (P = 0,001) e Acidobactérias (P = 0,003) e uma redução significativa da abundância relativa de Proteobactérias, que inclui bactérias patogénicas importantes como Escherichia coli, Salmonella enterica, Yersinia enterocolitica (γ-Proteobacteria), Desulfovibrio piger (δ-Proteobacteria) e Campylobacter jejuni ( -Proteobacteria), (P = 0,017), e Actinobactérias (P = 0,004). O grupo CLOSTAT teve um aumento significativo na abundância relativa de Ruminococcaceae (P = 0,040) e reduziu significativamente a abundância relativa de Streptococcus (P = 0,030).

CONCLUSÃO Em conclusão, nas condições deste ensaio, o CLOSTAT demonstrou ser uma ferramenta valiosa no apoio ao desempenho das porcas quando suplementado durante o fim da gestação e lactação. A suplementação da dieta de gestação de porcas e da dieta de lactação resultou em melhoria no desempenho no parto e lactação. As porcas suplementadas com CLOSTAT apresentaram um melhor estado de stress oxidativo do que as do grupo Controlo, com menor concentração de MDA (um marcador de stress oxidativo) e maior T-AOC. A suplementação com CLOSTAT também resultou em menos endotoxinas no soro das porcas e menos cortisol nos leitões, indicando um menor nível de stress dos leitões durante a lactação. O CLOSTAT também teve um impacto positivo no microbioma das porcas, com uma redução da abundância relativa de Proteobactérias (que inclui muitas bactérias patogénicas) ao nível de filo e Streptococcus ao nível de género (membros deste género são comumente associados a meningite) e um aumento na abundância relativa de Ruminococcaceae, uma família que inclui espécies benéficas produtoras de butirato. Este estudo demonstra que o CLOSTAT é uma ferramenta valiosa para apoiar o desempenho das porcas durante o parto e a lactação, mas também para melhorar a sobrevivência e o peso dos leitões no início da vida, com benefícios para toda a vida.


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ALIMENTAÇÃO ANIMAL SUSTENTABILIDADE

VALORIZAÇÃO DOS PRODUTOS DOS RUMINANTES PELA SUA COMPOSIÇÃO EM ÁCIDOS GORDOS PROJETO VAL+ALENTEJO Eliana Jerónimo CEBAL – Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Alentejo MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento José Santos-Silva Polo de Investigação da Fonte Boa, Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária CIISA – Centro Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal Rui J. B. Bessa Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa CIISA – Centro Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal

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Os produtos dos ruminantes – carne, leite e derivados, são uma importante fonte de proteína de elevada qualidade, vitaminas, minerais e de ácidos gordos bioativos na alimentação humana. Embora estes alimentos assumam um importante papel na evolução humana, na atualidade são muitas vezes conotados de uma forma negativa, devido não só a questões relativas aos impactos ambientais da produção de ruminantes, mas também ao risco de desenvolvimento de doenças crónicas a que tem sido associado o seu consumo. Esta má imagem do ponto de vista nutricional dos produtos dos ruminantes deve-se, em grande parte, ao seu perfil de ácidos gordos, apresentando uma elevada quantidade de ácidos gordos saturados, quantidade variável de ácidos gordos trans e baixos níveis de ácidos gordos polinsaturados. A composição em ácidos gordos da carne de borrego e cabrito e de leite de ovelha e cabra é apresentada na Tabela 1. As recomendações nutricionais apontam para a redução do consumo de gordura e de ácidos gordos saturados e trans e para o aumento do consumo de ácidos gordos polinsaturados como medida para prevenção de doenças crónicas [1], o que tem sido favorável à redução, eliminação ou substituição dos produtos dos ruminantes por outros alimentos considerados mais saudáveis na dieta humana. Apesar de ser já claro que os vários ácidos gordos saturados diferem grandemente quanto ao seu impacto na saúde, as mais recentes recomendações nutricionais ainda não o considera, mantendo-se a indicação para redução do consumo de gorduras saturadas independentemente da sua composição [1]. Os diferentes ácidos gordos trans também podem apresentar atividades biológicas distintas. Relativamente aos ácidos gordos trans de origem industrial, que se encontram presentes em margarinas, bolachas ou produtos de pastelaria, existem consistentes evidências dos seus efeitos adversos para a saúde, nomeadamente no aumento do risco de doenças cardiovasculares, de cancro e diabetes [2]. Neste tipo de produtos, os ácidos gordos trans podem atingir até 60% da gordura, enquanto que nos produtos dos ruminantes a proporção ácidos gordos trans varia entre 2 e 5% da gordura [2]. Os ácidos 18:1 trans-11 (ácido vacénico) e 18:1 trans-10 são os que predominam nos produtos dos ruminantes, sendo que a quantidade de cada um deles no produto depende da dieta a que o animal está sujeito [3,4]. O 18:1 trans-11,

que ocorre em maior abundância na carne e leite de animais alimentados com dietas ricas em pastagens e forragens, está associado a vários efeitos benéficos para a saúde, tendo sido demonstrado o seu efeito anti-inflamatório, anticancerígeno, antiaterogénico e antidiabético em modelos celulares e animais [4–6]. Pelo contrário, o 18:1 trans-10, que é encontrado em maior quantidade nos produtos dos ruminantes alimentados com dietas ricas em cereais [7], está associado a efeitos adversos para a saúde [4,6]. Por outro lado, as recomendações nutricionais que promovem a redução/eliminação do consumo de produtos com origem nos ruminantes negligenciam o papel que estes produtos podem ter no fornecimento de ácidos gordos com potenciais efeitos benéficos para a saúde, particularmente em ácidos gordos polinsaturados da série n-3 (ómega-3) e em ácidos gordos resultantes do processo de bioidrogenação ruminal, como o 18:1 trans-11 e os isómeros conjugados do ácido linoleico (CLA). Os efeitos benéficos dos ácidos gordos ómega-3 estão particularmente associados aos ómega-3 de cadeia longa, aos ácidos eicosapentanóico (20:5 n-3, EPA), docosapentaenóico (22:5 n-3, DPA) e docosahexanóico (22:6 n-3, DHA), que têm um importante papel na prevenção de doenças crónicas, com efeitos antiaterogénico, antitrombótico, anti-inflamatório e anticancerígeno [8]. O consumo de ácidos gordos ómega-3 de cadeia longa está também associado a um menor risco de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas [8]. Estes ácidos gordos encontram-se em elevadas quantidades nos produtos de origem marinha, no entanto os produtos dos ruminantes produzidos em determinadas condições também podem ter um importante contributo para a satisfação das necessidades diárias destes ácidos gordos. Os CLA também têm demostrado importantes atividades biológicas em diversos modelos celulares e animais, como redução da gordura corporal, efeitos anticancerígeno, antiaterogénico e anti-inflamatório [9,10].

Metabolismo Lipídico em Ruminantes O perfil de ácidos gordos dos produtos dos ruminantes resulta da intensa metabolização que os lípidos da dieta sofrem durante o processo digestivo, especificamente no rúmen por ação da população microbiana. Os lípidos presentes


nas dietas dos ruminantes contêm principalmente ácidos gordos polinsaturados, com destaque para o ácido linolénico (18:3 n-3) nas forragens e pastagens e o ácido linoleico (18:2 n-6) nos cereais e bagaços de oleaginosas. Chegados ao rúmen, os lípidos da dieta são rapidamente hidrolisados e os ácidos gordos insaturados libertados são sujeitos a um processo designado por bioidrogenação, pelo qual os ácidos gordos insaturados são isomerizados, hidratados ou hidrogenados [3,11]. Por este processo os ácidos gordos insaturados da dieta são maioritariamente transformados em ácidos gordos saturados (principalmente 18:0), e numa quantidade variável de ácidos gordos incompletamente hidrogenados, muito deles com duplas ligações trans [11,12]. É o processo de bioidrogenação ruminal que determina os elevados níveis de ácidos gordos saturados e baixos níveis de ácidos gordos polinsaturados que os produtos dos ruminantes apresentam. No entanto, a presença de CLA nos produtos dos ruminantes também decorre do processo de bioidrogenação ruminal, sendo por isso, estes produtos naturalmente ricos em CLA contrariamente ao que acontece com os produtos dos monogástricos (como suínos e aves). Os CLA são um grupo de isómeros geométricos e posicionais do ácido 18:2 n-6 que contêm duplas ligações conjugadas, sendo reportada a ocorrência de mais de 16 diferentes CLA na gordura de ruminantes [13], sendo o ácido ruménico (18:2 cis-9, trans-11) o predominante, representando cerca de 70-80% do CLA total [10]. O ácido 18:2 cis-9, trans-11 é formado durante o processo de bioidrogenação ruminal do ácido 18:2 n-6 [12], mas a sua principal via de síntese é por conversão de ácido 18:1 trans-11 pela ação da enzima estearoil-CoA dessaturase (SCD) nos tecidos animais incluindo a glândula mamária [14]. O ácido 18:1 trans-11 é um outro produto intermediário da bioidrogenação dos ácidos 18:2 n-6 e 18:3 n-3 [12]. Estima-se que cerca de 80% do 18:2 cis-9, trans-11 presente no leite e nos tecidos dos ruminantes resulte da síntese endógena [15,16], pelo que a quantidade de 18:2 cis-9, trans-11 presente nos produtos depende da produção ruminal de 18:1 trans-11 e da sua conversação endógena em 18:2 cis-9, trans-11 [3].

focado na redução da bioidrogenação ruminal dos ácidos gordos insaturados da dieta e/ou no aumento da síntese de 18:1 trans-11 e de 18:2 cis-9, trans-11. A utilização de recursos alimentares ricos em 18:3 n-3, como pastagens e forragens verdes e de suplementos alimentares como o óleo e sementes de linho resulta em níveis mais elevados de 18:3 n-3 nos tecidos animais [8,17,18]. Os mamíferos têm a capacidade de sintetizar os ácidos gordos ómega-3 de cadeia longa a partir do 18:3 n-3 da dieta, embora com baixa eficiência, e os níveis de ácidos gordos ómega n-3 de cadeia longa aumentam quando as dietas incluem fontes de 18:3 n-3 [18]. Os óleos de peixe e as algas, que são ricos em ácidos gordos ómega n-3 de cadeia longa, também têm sido testados como forma de aumentar os níveis de ómega-3 de cadeia longa na gordura dos ruminantes. Apesar da metabolização ruminal a que os ácidos gordos insaturados sofrem no rúmen, a inclusão destas fontes lipídicas nas dietas apresenta resultados positivos [3,18]. Contudo, o enriquecimento da carne com estes ácidos gordos ómega-3 de cadeia longa será também limitado pela pouca capacidade que os

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Melhoria da composição em ácidos gordos dos produtos dos ruminantes através da dieta Estratégias nutricionais que possam reduzir o teor em ácidos gordos saturados e incrementar a quantidade de ácidos gordos considerados benéficos, principalmente em ácidos gordos ómega-3, em 18:1 trans-11 e em CLA na carne e leite dos ruminantes tem sido amplamente exploradas. Estas estratégias têm-se

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ruminantes apresentam de os incorporar nos seus lípidos de reserva [3]. A utilização de lípidos protegidos pode ser uma estratégia para contornar a lipolise e a bioidrogenação ruminal, e assim incrementar a quantidade de ácidos gordos insaturados da dieta que atravessa o rúmen sem serem alterados. Os resultados também mostram que é possível modular o processo de bioidrogenação ruminal e incrementar o teor de 18:1 trans-11 e de CLA nos produtos dos ruminantes através da dieta. A utilização de dietas ricas em forragens proporciona elevados níveis de 18:1 trans-11 e de 18:2 cis-9, trans-11 comparativamente com a utilização de alimentos concentrados ricos em cereais [3]. Quando são utilizadas dietas ricas em cereais, como acontece frequentemente na fase de acabamento ou em períodos de escassez de pastagens e forragens, é favorecida a produção do isómero 18:1 trans-10 [7]. A suplementação de forragens com fontes lipídicas ricas em 18:2 n-6, como óleo de soja ou de girassol é uma estratégia eficaz para aumentar a concentração dos ácidos 18:1 trans-11 e de 18:2 cis-9, trans-11 nos tecidos dos ruminantes [3,19]. Pelo contrário a suplementação lipídica de dietas ricas em cereais estimula a produção ruminal de 18:1 trans-10, o que tem por consequência baixos níveis de 18:2 cis-9, trans-11 nos produtos uma vez que a produção deste ou de outros CLAs a partir de 18:1 trans-10 não é possível [3]. A utilização de fontes lipídicas de origem marinha (algas e óleo de peixe) em exclusivo ou em associação com óleos vegetais ricos em 18:2 n-6 pode ser também uma estratégia eficaz para aumentar o conteúdo de 18:2 cis-9, trans-11 na gordura [18]. A incorporação nas dietas de fontes de metabolitos secundários das plantas, como taninos condensados tem sido explorada como forma de aumentar a síntese ruminal de 18:1 trans-11, e desta forma aumentar a disponibilidade de precursor para a síntese endógena de 18:2 cis-9, trans-11. A efetividade dos taninos condensados como modeladores da bioidrogenação ruminal e aumentar a produção ruminal de 18:1 trans-11 é ainda inconsistente, dependendo de vários fatores como a concentração e estrutura química dos taninos, mas também da dieta base. No entanto, vários trabalhos demonstram o potencial da utilização de fontes de taninos para incrementar os níveis de 18:1 trans-11 e 18:2 cis-9, trans-11 nos produtos edíveis dos ruminantes [20],

como observado quando Esteva, um arbusto rico em taninos condensados, foi adicionada a uma dieta à base de forragem suplementada com 6% de óleos vegetais [21].

Projeto Val+Alentejo O conhecimento sobre o metabolismo lipídico em ruminantes faz-nos crer que existe oportunidade para melhorar o perfil de ácidos gordos dos produtos edíveis dos ovinos e caprinos produzidos no Alentejo, devendo o conhecimento científico subjacente a essa melhoria ser transferido para o tecido produtivo. Foi nesta perspetiva que nasceu o projeto Val+Alentejo – Valorização dos produtos de pequenos ruminantes do Alentejo, que tem como objetivo transferir conhecimento científico e tecnológico gerado no âmbito de atividades de investigação para os diversos agentes económicos que intervêm na produção de pequenos ruminantes e comercialização/transformação dos seus produtos, quanto ao valor nutricional da fração lipídica dos produtos dos pequenos ruminantes e sobre estratégias nutricionais com vista à melhoria do perfil de ácidos gordos desses produtos. Este projeto consiste: i) na realização de um diagnóstico quanto ao valor nutricional da fração lipídica da carne, leite e queijo de ovinos e caprinos produzidos no Alentejo, através de uma ampla amostragem destes produtos e caracterização da sua composição em ácidos gordos; ii) num conjunto de ações de disseminação de conhecimento científico direcionadas ao tecido produtivo, à transformação, distribuição e comercialização, mas também aos consumidores com vista à sua sensibilização e esclarecimento quanto ao valor nutricional da fração lipídica dos produtos dos ruminantes; iii) e na realização de ações de experimentação em explorações comerciais de soluções nutricionais mais promissoras. Com estas ações pretende-se promover a valorização dos produtos dos pequenos ruminantes produzidos no Alentejo tendo por base o seu perfil lipídico, e contribuir para a incorporação de inovação no setor da produção de ovinos e caprinos e para a criação de produtos alimentares de melhor valor nutricional, e com características distintivas, como forma de incrementar a rentabilidade e competitividade do setor no Alentejo.

Tabela 1. Composição em ácidos gordos da gordura intramuscular e leite de ovinos e caprinos (g/100 g ácidos gordos totais) Ovinos

Caprinos

Gordura Intramuscular1

Leite2

Gordura Intramuscular3

Leite4

14:0 (ácido mirístico)

3,21

16:0 (ácido palmítico)

23,3

7,68

7,26

8,09

22,5

24,4

18:0 (ácido esteárico)

20,2

14,0

13,4

14,3

18:1 cis-9 (ácido oleico)

10,3

33-37,1

22,0

36,6

1,83

2,88

18:1 trans-11 (ácido vacénico)

0,64-1,51

2,49

18:2 cis-9, trans-11 (ácido ruménico)

0,41-0,85

1,26

0,51

18:2 n-6 (ácido linoleico)

6,15

4,32

2,92

1,87

18:3 n-3 (ácido linolénico)

0,53-1,14

0,44

0,34

0,36

18:1 trans-10

20:5 n-3 (ácido eicosapentanóico) 22:5 n-3 (ácido docosapentaenóico) 22:6 n-3 (ácido docosahexanóico)

2,155

199 0,82 2,91 1,70

0,31

0,029

0,18

0,30

0,39-0,62

0,069

0,41

0,025

0,18

0,038

0,14

0,16

Gordura intramuscular de borrego produzido em Portugal em 3 épocas do ano – Natal, Páscoa e final do verão/início do outono (dados não publicados); 2Leite de ovelha raça Serra da Estrela alimentada com dieta composta por silagem de milho e concentrado (45:55) [22]; 3Gordura intramuscular de cabrito raça serpentina [23]; 4Leite de cabra raça Serpentina alimentada com dieta composta por luzerna desidratada e concentrado (25:75) e feno ad libitum (Dados não publicados); 5Total de 18:1 trans. 1

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O projeto Val+Alentejo, financiado pelo Programa Operacional Alentejo 2020, através do FEDER (ALT20-03-0246-FEDER-000049), é desenvolvido pelo Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Alentejo (CEBAL) e pelo Polo de Santarém do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV, IP), com a colaboração da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa.

15. Palmquist, D.L., et al., 2004. Tissue fatty acid profiles can be used to quantify endogenous rumenic acid synthesis in lambs. J Nutr, 134, 2407–2414. 16. Corl, B.A., et al., 2003. Cis-9, trans-11 CLA derived endogenously from trans11 18:1 reduces cancer risk in rats. J Nutr, 133, 2893–2900. 17. Chikwanha, O.C., et al., 2018. Nutritional enhancement of sheep meat fatty acid profile for Human health and wellbeing. Food Res Int, 104, 25–38. 18. Shingfield, K.J., et al., 2013. Recent developments in altering the fatty acid composition of ruminant-derived foods. Animal, 7, 132–162. 19. Vahmani, P., et al., 2020. Bioactivity and health effects of ruminant meat lipids. Meat Sci, 165, 108114.

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5. Field, C.J., et al., 2009. Human health benefits of vaccenic acid. Appl Physiol Nutr Metab, 34, 979–991. 6. Wang, Y., et al., 2012. The role of ruminant trans fat as a potential nutraceutical in the prevention of cardiovascular disease. Food Res Int, 46, 460–468. 7. Aldai, N., et al., 2013. What are the trans fatty acids issues in foods after discontinuation of industrially produced trans fats? Ruminant products, vegetable oils, and synthetic supplements. Eur J Lipid Sci Technol, 115, 1378–1401. 8. Nguyen, Q.V., et al., 2019. Enhancing omega-3 long-chain polyunsaturated fatty acid content of dairy-derived foods for Human consumption. Nutrients, 11, 743. 9. Shokryazdan, P., et al., 2017. Conjugated linoleic acid: A potent fatty acid linked to animal and Human health. Crit Rev Food Sci Nutr, 57, 2737–2748. 10. Kuhnt, K., et al., 2016. Evaluation of the impact of ruminant trans fatty acids on Human health: Important aspects to consider. Crit Rev Food Sci Nutr, 56, 1964–1980. 11. Bessa, R.J.B., et al., 2000. Reticulo-rumen biohydrogenation and the enrichment of ruminant edible products with linoleic acid conjugated isomers. Livest Prod Sci, 63, 201–211.

Logística • Comercial • Imobiliário • Renováveis

Farinha de soja extrusada - Fullfat

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Trigolac

60 anos ao serviço do sector agroalimentar

12. Harfoot, C. e Hazelwood, G., 1997. Lipid metabolism in the rumen. In. The rumen microbial ecosystem; Elsevier: London (UK), 1997; pp. 382–426. 13. Parodi, P.W., 2013. Conjugated linoleic acid in food. In: Advances in Conjugated Linoleic Acid Research; AOCS Press: Champaign (USA), 2003; pp. 101–122. 14. Griinari, J.M., et al., 2000. Conjugated linoleic acid is synthesized endogenously in lactating dairy cows by ∆9-desaturase. J Nutr, 130, 2285–2291.

Marín | Vilagarcía | Cee | A Coruña | Ferrol | Ribadeo | Cartagena | Madrid | Viana do Castelo | São Paulo | Paracas

A L I ME N TAÇÃO A N I M A L

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL SUSTENTABILIDADE

COMBATE AO DESPERDÍCIO ALIMENTAR ATRAVÉS DA ALIMENTAÇÃO ANIMAL – IMPACTO E FUTURO I - Introdução

Francisco Júdice Halpern Estagiário de Laboratório De Heus Nutrição Animal, SA

Na atualidade, a União Europeia (UE) produz cerca 2,5 mil milhões de toneladas de resíduos por ano (Pereira, 2019), segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), prevê-se até 2050 um grande crescimento demográfico da população mundial, atingindo o nosso planeta 9/10 biliões de habitantes, provocando um aumento das necessidades alimentares atuais estimado em 60%. Estes preocupantes números vão obrigar a uma resposta na produção mundial de alimentos, numa altura em que muitos recursos naturais (terra, água, entre outros) já são escassos. Esta foi uma das razões por que o Parlamento Europeu destacou recentemente o tema da Economia Circular como fundamental para a política europeia. Neste sentido, a legislação comunitária está a ser atualizada relativamente à gestão de resíduos, nomeadamente com a introdução de medidas para o seu aproveitamento alimentar, que podem significar poupanças no valor de 600 mil milhões de euros, o que representará 8 % do volume de negócios atual das empresas da UE e a redução das emissões anuais totais de gases com efeito de estufa entre 2 a 4% (Forum Estudante, 2019). Deste modo, consegue-se também dar um passo importante no combate à poluição ambiental e reforçar a economia social do nosso planeta. A indústria de alimentação animal tem sido a principal recicladora da maioria dos coprodutos produzidos pelas Indústrias Agroalimentares (IAAs), através da utilização de milhões de toneladas como matérias- primas e contribuindo assim para a sustentabilidade ambiental e económica de várias empresas.

II – Coprodutos das Indústrias Agroalimentares Anualmente as IAAs (e agora também nos biocombustíveis) são geradoras de impressionantes quantidades de alimentos com vários fins, produzindo géneros alimentícios com origem em múltiplas indústrias como as do açúcar, dos óleos alimentares, dos lacticínios, do amido, do malte, das massas alimentícias e dos sumos, entre outras, a maioria secos ou desidratados, mas também na forma húmida ou líquida destinados ao setor da alimentação humana. Todas estas atividades utilizam matérias-primas alimentares que são transformadas através de processos industriais. Tendo em conta o seu objetivo, são produzidas frações dos alimentos originais nutricionalmente valorizáveis. No entanto, não são normalmente destinados à alimentação humana. Estas frações (subprodutos ou resíduos dos processos de fabrico) são atualmente denominadas de coprodutos ou produtos derivados. Na forma sólida ou na forma líquida, são exemplos de utilização corrente em fábricas de alimentos para animais (Quadro 1). Outros produtos derivados, menos comuns e quase sempre na forma líquida ou húmida, são normalmente utilizados diretamente nas explorações pecuárias (Quadro 2). Embora a (re)utilização destes produtos derivados possa ser em processos como a combustão ou fertilização de solos, é na alimentação animal (feed) que reside o principal reaproveitamento dos mesmos como matérias-primas, contribuindo diretamente para a nutrição de diferentes animais e indiretamente para a alimentação humana (food) por uma política de Economia Circular. Deste modo, valorizam-se “resíduos” e diminuem – se as “pressões

Grupos de Coprodutos

Exemplos de Coprodutos

Derivados de Cereais

Glúten Feed, Farinha Forrageira, DDGS e Glúten Meal, Sêmeas de Milho, Trigo e Cevada;

Derivados de Oleaginosas

Bagaços de Soja, Girassol, Colza e Palmiste. Cascas de Soja

Derivados de Frutos ou Tubérculos

Polpas de Citrinos, Beterraba e Alfarroba;

Gorduras Vegetais

Óleos, Oleínas e Lecitinas de Girassol, Soja, Colza, Palma e Coco;

Gorduras Animais

Banha de Porco, Sebo de Vaca, Gordura de Aves e Óleo de Peixe;

Concentrados de Açúcares

Melaço de Beterraba, Melaço de Cana-de-Açúcar, Vinhaças e Glicerol.

Quadro 1 – Coprodutos de utilização corrente em alimentação animal.

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL


Grupos de Coprodutos

Exemplos de Coprodutos

Coprodutos da Batata

Polpa, Cascas e Batata Frita

Produtos Derivados da Panificação ou Pastelaria

Pão Ralado, Bolos, Biscoitos e Bolachas

Produtos Lácteos

Soro de Leite, Leitelho, Permeato, Iogurte e Leite UHT

Coprodutos da Cerveja

Bagaço e Levedura

Outros

Bagaço de Uvas, Polpa de Tomate, Okara, e Ovos Líquidos.

Quadro 2 – Coprodutos utilizados diretamente nas explorações pecuárias.

sociais e políticas” à qual a produção animal atualmente está sujeita, no que diz respeito à sustentabilidade ambiental, neutralidade carbónica e diminuição de recursos naturais (Folque, 2013). Em termos globais, podemos considerar que as IAAs produzem coprodutos de 1ª transformação e 2ª transformação (INRA, 2018) (Fig.1):

em alimentação animal. Tal como os anteriores podem estar na forma seca (batatas fritas, bolachas, biscoitos, snacks, ...), mas também na forma líquida (iogurtes, sumos, produtos de ovos), pelo que são normalmente utilizados nas explorações pecuárias (Folque, 2013). Além destas matérias-primas alimentares, existe ainda um grupo de coprodutos emergentes designados de former foodstuffs – produtos de 2ª transformação que não resultam de processos industriais, mas sim de desperdícios da alimentação humana provenientes de restaurantes, casas particulares, lojas e distribuição alimentar. Nos últimos anos a UE tem dado especial atenção aos desperdícios alimentares, incentivando à criação de empresas especializadas na recolha e reciclagem, de forma a serem utilizados em alimentação animal. Um exemplo em Portugal é o grupo ETSA – Empresa de Transformação de Subprodutos Animais, através da empresa ABAPOR – Comércio e Indústria de Carnes, que se dedica à prestação de serviços de recolha, transporte, desembalamento e triagem de vários géneros alimentícios (animais e vegetais), provenientes da Grande Distribuição e Mercados Municipais (Fig. 2).

a) Os coprodutos de 1ª transformação são gerados durante o manuseamento primário de uma matéria-prima nas IAAs. O objetivo desta transformação é extrair os constituintes mais “nobres”, em geral açúcares, óleos ou amidos, para valorizá-los principalmente na alimentação humana.

Podem também ter outras finalidades (energéticas, fermentações, entre outras). Estes alimentos são utilizados na indústria de alimentação animal, diretamente ou após operações para melhorar a sua conservação ou manuseamento (ex.: desidratação ou secagem).

b) Os coprodutos de 2ª transformação resultam de um processamento secundário dos coprodutos de 1ª transformação. Por exemplo, o melaço de beterraba (coproduto de 1ª transformação) pode ser utilizado como substrato de fermentação para a produção de álcool, de leveduras ou de aminoácidos, gerando outros tipos de coprodutos (ex.: vinhaças).

Figura 1 – Coprodutos agroindustriais de 1ª e 2ª transformação (INRA, 2018).

Os coprodutos de 1ª transformação são os mais utilizados em alimentação animal, devido à sua apresentação na forma seca (ex.: sêmea de cereais, bagaços de oleaginosas, polpas de frutos desidratadas...) e, normalmente consumidos em fábricas de alimentos compostos para animais. Os coprodutos de 2ª transformação são geralmente restos de alimentos destinados ao consumo humano (restos de processo de fabricos, produtos não conformes ou em fim de validade), também utilizados

Figura 2 – Esquema das empresas de recolha, tratamento e comercialização de coprodutos

III – Enquadramento Legislativo As definições de ”produto”, “subproduto”, “produto derivado” e “coprodutos” encontram-se distribuídas por vários regulamentos da UE, sem estarem harmonizadas. O Reg.(CE) n.º 767/2009, de 13 de Julho – “Colocação no mercado e utilização de alimentos para animais “ preconiza no Artigo 26.º a criação de um Catálogo de Matérias-Primas para Alimentação Animal, o que veio a acontecer com a publicação do Reg.(EU) n.º 242/2010, de 19 de Março. Na altura esta legislação limitou-se a reunir uma lista das principais matérias-primas que constam nas Diretivas 96/25/CE e 82/471/CE e adotar um Glossário de termos que consta na primeira Diretiva (Folque, 2013). Embora o Catálogo referido fosse considerado como uma “lista não exaustiva de matérias-primas e de uso voluntário”, revelou-se na prática completamente desenquadrado da realidade do setor, pelo que a UE em colaboração com várias organizações (FEFAC, FEFANA, ENFEMA, FEDIOL/COCERAL...) rapidamente procedeu à sua revisão. O novo Catálogo, criado pelo Reg. (UE) n.º 575/2011, de 16 Junho, trouxe variadas novidades: • Manteve o princípio de ser uma “lista não exaustiva, de uso voluntário”, mas criou a necessidade de um alimento simples que não esteja listado no Catálogo, ter de ser registado pelo 1.º colocador do mercado, junto das respetivas autoridades; A L I ME N TAÇÃO A N I M A L

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL SUSTENTABILIDADE

• Apresentou um novo Glossário de processos industriais (Parte B);

IV – Economia Circular e Reciclagem

• Passou a distinguir “Matérias-Primas” de “Aditivos”;

A Economia Circular consiste num modelo de produção e de consumo que tem presente a partilha, a reutilização, a reparação e a reciclagem dos produtos existentes, alargando/ modificando o prazo de vida dos mesmos (Pereira, 2019). Este modelo incorpora uma componente económica, ambiental e uma social associada ao comportamento da sociedade nos seus hábitos de consumo de bens e serviços. Na sua essência, o modelo de Economia Circular representa uma alternativa fundamental ao modelo da Economia Linear (extrair, produzir, consumir e rejeitar), atualmente predominante e, que assenta no pressuposto de que os recursos naturais estão disponíveis, são abundantes, fáceis de obter e a rejeição dos produtos barata, o que se tem revelado como não sustentável, considerando-se o rápido esgotamento das reservas naturais e os impactos ambientais decorrentes das práticas de produção e gestão de resíduos (Arroja, 2017). A Economia Circular (Fig.3) contribui para a desmaterialização e descarbonização do sistema produtivo e para o uso eficiente dos recursos. É uma parte integrante do conceito alargado de Economia Verde, e um instrumento fundamental para a implementação efetiva do conceito do Desenvolvimento Sustentável, tal como definido e adotado pelas Nações Unidas, na Conferência do Rio em 1992.

• Cada matéria-prima passou a ser caraterizada por um número de registo, designação, respetiva discrição e declaração obrigatória quanto à sua composição; • Criou 13 grupos de matérias-primas para a alimentação animal (Parte C), com um número de produtos muito superior e com a novidade da criação do grupo “Produtos de fermentação de microrganismos cujas células foram inativas ou mortas”; • No grupo “Diversos” introduziu de uma forma generalizada, um conjunto de produtos derivados das IAAs e do setor da restauração; • Validou a entrada no setor da alimentação animal, de matérias-primas derivadas da Indústria de Biocombustíveis. O número de produtos provenientes das IAAs foi aumentado aquando da criação do novo Catálogo. Passaram a ser melhor caraterizados em função do processo industrial que os originam e respetivas designações. A merecer especial atenção temos a Disposição Geral 8, no Anexo do Catálogo, Parte A, que refere: « Na descrição das matériasprimas para alimentação animal presentes na lista de matérias-primas para alimentação animal da parte C (…), o termo “produto” é utilizado em vez do termo “subproduto”, para refletir a situação do mercado e a linguagem utilizada na prática pelos operadores de empresa do sector de alimentos para animais para destacar o seu valor comercial». Contudo, olhando para os títulos dos Grupos de matérias-primas do Catálogo, considera-se mais correto utilizar “produtos derivados” – que resultam da simples transformação ou transformação física limitada tal como a trituração, a moagem, ou secagem (Recomendação da Comissão 2011/25/UE) e não simplesmente “produto”. Cai assim oficialmente o termo tradicional de “subproduto” (byproducts), que segundo determinados operadores era interpretado por alguns mercados como de qualidade inferior. A maior parte dos países passa a utilizar o termo “coprodutos”, (coproducts) (Folque, 2013). Ainda em relação ao Catálogo de matérias-primas europeu, dadas as implicações que pode vir a ter nestes produtos, deve-se contar com o ponto 3, das Disposições Gerais, Parte A, do Anexo, do Reg.(EU) n.º 575/2011: “Em conformidade com as boas práticas referidas no Art.4 do Reg.(CE) n.º 1837/2005, as matérias-primas para a alimentação animal devem ser livres de impurezas químicas resultantes do processo de fabrico e dos adjuvantes tecnológicos, a não ser que seja fixado um teor máximo específico no Catálogo”. Diversos produtos derivados das IAAs ficam com resíduos resultantes do seu fabrico ou da utilização de substâncias auxiliares no processo, pelo que a UE considerou ser necessário regulamentar estas situações (Folque, 2013). Um novo Catálogo é publicado através do Reg (UE) N.º 68/2013, com limites para estas impurezas (e com a entrada de novas matérias-primas e eliminação de outras consideradas repetidas), o que reflete o receio da entrada na cadeia alimentar de derivados de indústrias não alimentares como os biocombustíveis, devendo estes produtos ter um maior controlo devido ao potencial risco de presença de contaminantes químicos, como por exemplo dioxinas ou metais pesados (Fradinho, comunicação pessoal, 2019). 40 |

ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

Figura 3 – Representação esquemática do modelo de Economia Circular (Arroja, 2017).

Diariamente são destruídos e eliminados milhares de toneladas de alimentos derivados da alimentação humana. A contabilidade dos desperdícios alimentares mostra custos elevados, pois são vários os recursos naturais não aproveitados: como a água, solo, energia e mão-de-obra. Segundo as Nações Unidas 1/3 (+1,3 mil milhões de toneladas) dos alimentos produzidos são desperdiçados todos os anos, a nível mundial. A UE-28 produz cerca de 88 milhões de resíduos alimentares por ano (FAO, 2013). Na sua generalidade, quando os produtos alimentares não são vendidos, vão para a alimentação animal ou são eliminados. Um estudo recente da UE revela que os setores que mais contribuem para os desperdícios alimentares são o consumo doméstico das famílias (47 ± 4 milhões de toneladas) e as IAAs (17 ± 13 milhões de toneladas). Estes dois setores representam 72% do desperdício alimentar da UE (existe uma incerteza considerável em torno da estimativa para o setor de processamento, em comparação com


os restantes setores considerados, dado que apenas quatro estados membros da UE forneceram informações fiáveis). Os restantes 28% de desperdícios de alimentos, 11 milhões de toneladas (12%) são provenientes do setor da restauração, 9 milhões de toneladas (10%) da produção agrícola e 5 milhões de toneladas (5%) dos supermercados. Na Europa, a Grande Distribuição é responsável pelo setor da restauração e dos supermercados (Stenmark, Jensen, Quested & Moates, 2016) (Fig.4). Figura 6 – Organizações mundiais e nacionais que combatem o desperdício alimentar.

V – Conclusão Em síntese, podemos concluir que uma maior utilização de coprodutos em alimentação animal permitirá reduzir o défice alimentar face ao crescimento populacional. Obrigando ao incremento da produção global de alimentos que pode seguir várias vias tais como: • Aumentar a eficiência digestiva (tecnologia, aditivos, etc.) e possibilitar a redução, da quantidade de produtos alimentares utilizados em alimentação animal; • Utilizar novas matérias-primas alimentares (algas, insetos, etc.); Figura 4 – Divisão dos resíduos alimentares na UE-28 por setores em 2012 (Stenmark et al., 2016).

• Aumentar a utilização de vários coprodutos, reduzindo os desperdícios alimentares (p.e. leveduras de cerveja, iogurte, lactosoro, okara, sumos e também alimentos provenientes da distribuição, restauração e casas particulares).

Em Portugal, estima-se anualmente que cerca de 17% dos alimentos produzidos para o consumo humano são perdidos ou desperdiçados, correspondendo a cerca de 1 milhão de toneladas de alimentos (Baptista, Campos, Pires, & Vaz, 2012) (Fig.5).

A escolha desta última via permite a transição do modelo produtivo de Economia Linear para Economia Circular, o que irá permitir a valorização e reaproveitamento destes coprodutos e, desta forma, diminuir o enorme volume dos desperdícios alimentares.

VI – Referências Bibliográficas

Figura 5 – Perdas alimentares anuais na cadeia de aprovisionamento em Portugal (Baptista, Campos, Pires, & Vaz, 2012)

O desperdício alimentar mundial tem uma pegada de carbono de cerca de 8% e Portugal encontra-se abaixo desta média (3,94%). A situação a nível global é considerada preocupante, pelo que as Nações Unidas se comprometeram reduzir para metade os desperdícios alimentares até 2030 (Tribunal de Contas Europeu, 2016). Muitas organizações mundiais (Feeding 5 Thousand (UE), African Biodiversity Network (Africa), Fusions (UE), Feedback (England) , Food Waste Reduction Alliance (Colombia), Caritas (Italy)) e nacionais (Refood, Cooperativa Fruta Feia, Banco Alimentar, Zero Desperdício, GoodAfter) têm desempenhado um papel relevante neste combate, conseguindo colocar o tema dos desperdícios alimentares na comunicação social e na preocupação dos consumidores (Fig. 6). O objetivo é desenvolver nos próximos anos à escala mundial, o conceito de Economia Circular, reduzindo e reciclando os desperdícios alimentares da alimentação humana.

Arroja, L. (2017). Economia Circular e Ambiente. Em O. d. Engenheiros (Ed.), XXI Congresso Nacional da Ordem dos Engenheiros (p. 85). revitsa Ingenium. Baptista, P., Campos, I., Pires, I., & Vaz, S. (2012). Do campo ao garfo. Lisboa: Cestras. Obtido de www.cienciaviva.pt/img/upload/do_campo_ao_garfo.pdf FAO. (2013). Food wastage footprint impacts on natural resouces. p. 11. Obtido de http://www.fao.org/3/i3347e/i3347e.pdf Folque, P. (2013). Utilização dos Produtos Derivados das Industrias Agro-alimentares em Alimentação Animal. (82), 18-24. Forum Estudante. (2019). O que é a Economia Circular. Alimentação Animal – comeração dos 50 anos da IACA(108). Obtido de https:// issuu.com/alimentacao_animal/docs/aa_108 INRA. (janeiro de 2018). Coprodutos da indústria agroalimentar: recursos alimentares de qualidade a perder de vista. Obtido em 05 de 2019, de INRA: https://productions – animales.org/article/view/2353 Pereira. (2019). Aproveitamento de subprodutos da indústria agroalimentar para alimentação animal. Obtido de https://acientistaagricola.pt/economia-circular-alimentacao – animal/?fbclid=IwAR0E_Y8_ vdoaEkv0YdFpOr69XDsQoQjIzCTvtFAwFNMXqIe – RBxV7UWpjho Tribunal de Contas Europeu. (2016). Luta contra o desperdício alimentar: uma oportunidade para a UE melhorar a eficiência dos recursos na cadeia de abastecimento alimentar. Obtido de https://www.eca. europa.eu/Lists/ECADocuments/SR16_34/SR_FOOD_WASTE_PT.pdf A L I ME N TAÇÃO A N I M A L

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL SUSTENTABILIDADE

INVESTIMENTOS SUSTENTÁVEIS HOJE CONSTROEM UM AMANHÃ MAIS PRÓSPERO*

Jim Sutter CEO, U.S. Soybean Export Council

Sabia que, desde 1980, os produtores de soja dos Estados Unidos diminuíram a erosão do solo em 66%, reduziram as emissões em 41% e aumentaram a eficiência do uso do solo em 35%, ao mesmo tempo que aumentaram a produção em 96%?1 O Dia da Terra recorda-me que os agricultores que produzem os nossos alimentos também realizam ações notáveis para promover a saúde do solo, restaurando o seu carbono orgânico e protegendo o ar e a água para garantir a sustentabilidade das suas terras e do nosso planeta. O tema do Dia da Terra de 2021, “Restaurar A Nossa Terra”, inclui um forte enfoque nos alimentos e na agricultura. São necessários recursos substanciais para cultivar os alimentos dos quais todos dependemos para sobreviver e prosperar. É uma equação assustadora para o setor alimentar e para a agricultura, incluindo os agricultores familiares: fornecer alimentos nutritivos e abundantes enquanto gerem e mitigam o impacto da mudança climática – tudo isso usando menos recursos e minimizando a pegada ambiental da indústria de alimentação. Sem pressão, certo?

A cada ano, os produtores de soja dos EUA administram de forma responsável os seus recursos naturais (solo, água, energia), por meio de melhorias contínuas nas práticas agrícolas e da inovação, para garantir a produção de alimentos positivos para a natureza. Curiosamente, esses investimentos também economizam combustível, reduzem a compactação do solo, ajudam a vida selvagem e os habitats de polinizadores e evitam a sobreposição de produtos químicos – tudo isso enquanto os agricultores preservam as suas terras para a geração seguinte. Os investimentos que os agricultores fazem nos respetivos terrenos superam hoje em muito o que eles receberão em troca, provavelmente ao longo de toda a sua vida. Os agricultores fazem-no porque é a coisa certa a fazer, porque se importam.

Sustentabilidade Verificada para uma Nutrição de Base Os agricultores familiares foram sempre zeladores comprometidos com o seu solo, pretendendo transmitir as suas terras de geração em

O planeta celebrou, em abril, o Dia da Terra e o

geração. O Conselho de Exportação de Soja dos

mês da Soy Foods em Abril. No “meu trabalho” de criar uma preferência por soja americana de alta qualidade e produzida de forma sustentável, sinto-me sempre grato pelo impacto dos seus sistemas no aperfeiçoamento da nutrição e segurança alimentar globais e da sustentabilidade ambiental.

EUA (USSEC) identificou uma oportunidade ini-

A agricultura traduz a gestão da terra e dos recursos naturais, deixando-os melhor do que quando se começou e podendo repassá-los para a próxima geração, com a esperança de que continuem a sua jornada de melhoria contínua.

cial para formalizar e confirmar o compromisso mais amplo dos produtores de soja dos EUA com a sustentabilidade ambiental, trabalhando com um grupo de múltiplas partes interessadas para criar um processo para que compradores internacionais verifiquem essas práticas sustentáveis. O resultado desse esforço foi o Protocolo de Sustentabilidade da Soja dos EUA, que está em vigor desde 2013. O Protocolo de Sustentabilidade de Soja dos EUA fornece opções de soja documentadas e verificadas para empresas alimentares, rações,

* Este artigo foi escrito para comemoração do Dia da Terra de 2021 por Jim Sutter, CEO, U.S. Soybean Export Council

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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL

bens de consumo e produtos industriais em todo o mundo. Com cerca de 40% das exportações de


soja dos EUA verificadas à luz do Protocolo

fornecer novas oportunidades económicas,

de Sustentabilidade de Soja dos EUA, é

como os mercados de compensação de car-

atualmente o maior programa de verificação

bono em evolução. No futuro, os agricultores

de sustentabilidade do mundo.

podem ajudar a mitigar o impacto do carbono

Como os nossos clientes da indústria da alimentação e bens de consumo em todo o mundo priorizam cada vez mais a sustentabilidade, esta verificação é um dife-

de outras indústrias. Há, seguramente, muitos outros elementos e desafios a serem superados após o

Dia da Terra de 2021. No entanto, os produtores de soja dos EUA estão gratos por fornecer hoje soluções altamente sustentáveis ​​e permanecem comprometidos com a inovação e colaboração contínuas para apoiar a prosperidade das pessoas e do nosso planeta para as gerações vindouras. O amanhã começa hoje!

rencial importante para a soja dos EUA, especialmente nos últimos anos, à medida que as preocupações dos consumidores globais aumentam com a desflorestação e a falta de proteção do nosso ecossistema natural.

Ir mais além para manter o carbono sob controlo Além de maximizar a sustentabilidade dos alimentos e produtos de consumo que ajudam a produzir, muitos produtores de soja dos EUA vão mais além para mitigar de forma mais ampla as emissões de carbono e o seu impacto ambiental. Práticas regenerativas como a plantação

ENDOFEED DC

Melhora a digestibilidade dos nutrientes Complexo Multienzimático

direta e cultivo de cobertura são amplamente utilizadas entre os produtores de soja dos EUA. A cultura de cobertura é outra forma através da qual muitos produtores de soja dos EUA preservam a camada superficial do solo, enquanto capturam ainda mais carbono da atmosfera. Essas plantações fora de estação, geralmente de leguminosas como trevo, feijão ou ervilha,

ic cn é t o

o

não são colhidas para alimentação, mas plantadas para proteger e rejuvenescer o

o oZ v i it Ad

solo. As mesmas ajudam a prevenir a erosão, adicionam azoto e matéria orgânica benéfica ao solo e atraem polinizadores e outros insetos benéficos. Além disso, essas plantações – assim como as plantações em épocas de pico – ajudam também a capturar o carbono no solo. Estas práticas agrícolas positivas para a natu-

Decompõe os Polissacáridos Não Amiláceos (PNA)

reza beneficiam tanto as pessoas como o

Liberta os nutrientes dos PNA e diminui a viscosidade intestinal

planeta. Os agricultores mantêm e constroem

Melhora a digestibilidade dos nutrientes e o desempenho produtivo

a saúde dos seus campos para produzir plantações fortes ano após ano. Pessoas em todo

Otimiza a formulação da ração, reduzindo os custos com a alimentação

o mundo beneficiam do acesso a alimentos saudáveis, nutritivos e acessíveis. A terra é literalmente restaurada, ajudando-se a cumprir a promessa do Dia da Terra. Podem até

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SECÇÃO DE PRÉ-MISTURAS E ADITIVOS

DESAFIOS ATUAIS NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL. Fazemos uma breve revisão sobre alguns dos principais desafios regulamentares que o setor irá enfrentar nos próximos anos, o qual acresce à escassez das matérias-primas e a sua contínua tendência altista.

I – I mplementação do Green Deal e o seu enquadramento nos objetivos definidos pela FEFAC na sua "Carta de Sustentabilidade 2030". 1. Redução dos Gases Efeito Estufa em 55% com redução do Metano em 35% até 2030. Sendo Portugal um dos países com mais baixa industrialização na Europa Comunitária, com um alto défice em matérias-primas e com um setor pecuário com apenas 75% de autoaprovisionamento no consumo de carne (no caso da carne de bovino em cerca de apenas 55%), coloca-se este desafio de uma forma aspiracional e com uma meta seguramente diferente de muitos outros países. A alimentação de precisão, a biotecnologia e a sua aceitação e implementação, o uso de aditivos específicos, e a capacidade de liderança do setor, serão seguramente respostas que importam para responder positivamente a este desígnio. 2. Redução aspiracional de 50% no Uso de Antibióticos para 2030, para responder ao combate da Resistência Antimicrobiana. O grande desafio para Portugal está também em atingir o target dos 5 mg/ PCU em Colistina e prepararmos o Phasing Out do uso de Óxido de Zinco em posologias elevadas. 3. G reen Feed Labeling – o desafio encontra-se nas novas regras da rotulagem com informação da avaliação ambiental nos alimentos com base no PEF/PEFCR, com quadro legislativo proposto para 2023.

II – REFIT – revisão da legislação dos Aditivos (Feed Additives) – Reg. 1831 / 2003. 1. Roadmap: proposta legislativa para Q1 2022 . 2. Tema Principal: Renovação dos Aditivos Órfãos e o risco de serem excluídos. Discussão do sistema de Cross – Sharing (consórcio), suas limitações legais face á proteção de dados e plano de contingência da FEFAC.

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3. Critérios das renovações, incluindo a frequência das mesmas, com custos acrescidos para as empresas e o setor, baseados no perfil de risco / segurança dos Aditivos. 4. Incentivos para registo nas espécies menores via critérios proporcionados para justificação da eficácia e suporte público nos estudos de segurança. 5. Incentivo à Inovação para novas categorias de aditivos / classes funcionais em 3 áreas: Ambiente, Bem-Estar Animal e Sustentabilidade.

III – Outros Temas. • I mplementação da legislação dos Alimentos Medicamentosos e níveis de tolerância em contaminações cruzadas – janeiro 2022.

•A tualização do catálogo das matérias-primas. •F utura legislação sobre Micotoxinas e a alteração de valores de referência para Limites Máximos nas principais micotoxinas do Fusarium – decisão esperada nos próximos meses. • Impacto da revisão do Feed Ban. •N otificação aos Centro Antivenenos (CIAV) – o quê e como notificar – timing 2024. • P otencial aplicação de Limites Máximos de oligoelementos no Alimento Composto quando os mesmos não foram incluídos como aditivos (caso do lodo que poderia servir de precedente para outros casos).

SAVE THE DATE – 23 SETEMBRO 2 0 2 1 – X J O R N A DAS D E ALIMENTAÇAO ANIMAL. Iremos ter dia 23 Setembro as nossas Jornadas de Alimentação Animal em forma presencial, de acordo com as normas definidas para o momento pela DGS e em função do estado epidemiológico do pais face à COVID-19. As Jornadas serão centradas em dois temas base com participação de reconhecidos especialistas do setor: 1. Atualização das Tabelas FEDNA. 2. Desafios da Granulação para uma maior eficiência alimentar. Oportunamente daremos informações mais concretas sobre logística e a agenda definitiva do evento.

RESUMOS DOS COMITÉS DA FEFAC 121º Comité de Nutrição Animal No dia 14 de junho foi realizado, por videoconferência, o 121º Comité de Nutrição Animal, presidido por Peter Radewahn. Um dos temas de maior destaque neste encontro virtual foi o papel da nutrição animal na implementação do Pacto Ecológico Europeu e de que forma as iniciativas estipuladas no âmbito da Estratégia do Prado ao Prato poderão impactar na indústria dos alimentos para animais. De entre estas iniciativas, abordou-se a Lei Europeia do Clima – que propõe que a Europa se torne no primeiro Continente com impacto neutro no clima até 2050 – ; a implementação do mecanismo de ajustamento das emissões de carbono nas fronteiras; a luta contra o desperdício alimentar, reduzindo-o para metade, per capita, a nível do retalho e do consumidor, até 2030; e o plano de ação de economia circular direcionado para a recuperação de nutrientes. Este último ponto mereceu especial enfoque por colocar pressão acrescida no setor dos alimentos para animais, não só devido ao facto destes "alimentos circulares" poderem afetar o perfil de risco dos alimentos compostos – quer devido ao aparecimento de novos perigos, quer devido a alterações na exposição a perigos conhecidos – , mas também porque a grande maioria dos coprodutos autorizados na alimentação animal já são utilizados. Contudo, foi reforçado o papel importante da FEFAC em passar uma mensagem positiva sobre o tema, e encorajar o desenvolvimento de tecnologias que removam o risco da utilização destes nutrientes tão valiosos na alimentação animal. De facto, a indústria de alimentação animal desempenha um papel importante no fecho do ciclo da bioeconomia, tendo-se relembrado que a eficiência dos nutrientes está listada entre os temas cobertos pela Carta da Sustentabilidade da FEFAC. Nesta sequência, abordou-se também a aprovação da utilização de proteínas animais processadas de aves para alimentação de suínos 46 |

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e de PAP de suínos para alimentação de aves, as quais constituem uma fonte importante de proteína animal rica em fósforo e altamente digestível. A FEFAC defende os requisitos que suportam linhas específicas de produção de alimentos para animais para uma única espécie – a fim de evitar riscos de contaminações cruzadas – , o que também se verifica nos produtores que utilizam PAP de não ruminantes em alimentos para aquicultura. Foram partilhadas, igualmente, as preocupações da indústria sobre as discussões em curso no SCoPAFF relativas à gestão do risco de níveis elevados de iodo nas algas Asparagopsis. No âmbito da revisão do Catálogo de matérias-primas, certas autoridades nacionais solicitaram a inclusão de farinha de Asparagopsis, graças à sua capacidade de reduzir as emissões de metano proveniente da fermentação entérica. Contudo, os alimentos que contêm esta farinha na sua composição, correm o risco de excederem o limite máximo de iodo, estabelecido ao abrigo da legislação dos aditivos. A fim de ultrapassar esta questão, a CE pondera alterar a regulamentação relativa à colocação no mercado e à utilização de alimentos para animais, passando a especificar limites máximos de iodo em alimentos completos para animais, independentemente de serem ou não suplementados por compostos de iodo. A FEFAC opõe-se firmemente à tentativa de tornar os atuais limites máximos de iodo aplicáveis às dietas, quando nenhum composto de iodo é adicionado enquanto aditivo alimentar. Esta abordagem poderá abrir um precedente perigoso se aplicada a todas as substâncias autorizadas como aditivos alimentares e presentes naturalmente nas matérias-primas para alimentação animal. Ainda a propósito da revisão da legislação, o Comité reforçou a necessidade de aliviar significativamente os encargos de autorização para os requerentes nesta matéria, para que se possa

investir e contribuir para melhorar a sustentabilidade da cadeia pecuária. Houve ainda tempo para congratular os objetivos e a agenda da Task Force referente ao Green Labelling, e para cada Estado-membro dar o seu contributo no que diz respeito à eliminação dos alimentos medicamentosos excedentes. Verificou-se que alguns países não iniciaram ainda discussões sobre a conceção de um esquema de recolha e eliminação deste tipo de produtos. Portugal deu o seu contributo, sendo o procedimento já adotado semelhante ao da Dinamarca e ao do Reino Unido, na medida em que existem empresas certificadas contratualizadas para este efeito.

41º Comité de Pré-Misturas e Alimentos Minerais

No dia 18 de junho foi realizado, por videoconferência, o 41º Comité de Pré-Misturas e Alimentos Minerais, sob a presidência de Reinder Sijtsma. A moldura ambiciosa do Pacto Ecológico Europeu definida pela Comissão Europeia (CE) contempla a Estratégia do Prado ao Prato com o objetivo principal de assegurar um sistema alimentar europeu mais saudável e sustentável. Para tal, será necessário assegurar alimentos saudáveis, acessíveis e sustentáveis; combater as alterações climáticas; proteger o ambiente e preservar a biodiversidade; proporcionar um rendimento económico justo na cadeia alimentar; e expandir a agricultura biológica. A revisão da legislação dos aditivos para a alimentação animal (REFIT) ambiciona reduzir o impacto da pecuária ao nível das alterações climáticas e da perda da biodiversidade e pretende proporcionar novas oportunidades neste setor. Como parte integrante do roteiro REFIT – cuja proposta legislativa deverá estar disponível no primeiro quadrimestre de 2022 – , a CE abriu uma consulta pública, baseada num questionário, com o objetivo de recolher a opinião dos intervenientes na cadeia e dos cidadãos no geral, sobre os pontos fortes e fracos da legislação dos aditivos em vigor, e de que forma podem contribuir para a sustentabilidade do setor pecuário.


Na Task Force realizada a 21 de maio de 2021, foram debatidos os seguintes tópicos por forma a completar a resposta por parte da FEFAC: – Embora seja indubitavelmente desejável que os aditivos tenham um efeito positivo, tanto no ambiente, como no bem-estar, saúde e produtividade animal, o facto de essas substâncias terem, por exemplo, um efeito positivo sobre o ambiente, mas não contribuírem para melhorar o desempenho ou bem-estar animal, não deverá ser motivo para recusar a sua autorização; – A transição para um sistema alimentar mais sustentável e a utilização de soluções inovadoras de nutrição animal irá induzir custos produtivos extra que terão de ser compensados em parte pelo consumidor, o que pressupõe uma identificação adequada dos produtos ao longo de uma cadeia de valor de confiança; – O processo de autorização dos aditivos é complexo e longo, pelo que o potencial destas substâncias para a alimentação animal não é explorado na sua totalidade. A frequência da renovação da autorização deve estar relacionada com o perfil de risco da substância e, embora a sua contribuição para a sustentabilidade possa ser interessante, será um desafio aplicar este processo;

– Os candidatos devem ser incentivados a solicitar autorização de utilização de aditivos para espécies menores através de provas de conceito e apoios públicos a estudos sobre a segurança dos mesmos. Foram várias as Associações-Membro da FEFAC que responderam também ao inquérito da CE em total alinhamento com o representante europeu do setor dos alimentos para animais. Alguns membros do Comité reforçaram que, nas próximas fases de consulta, a FEFAC deveria opor-se mais abertamente ao princípio da renovação das autorizações de aditivos para alimentação animal, argumentando não existirem razões para ser exigido um dossier de renovação aos operadores nos casos em que a monitorização pós-comercialização e a revisão da literatura não realcem a necessidade de reconsiderar as condições de autorização desse aditivo já existente. Foi comentada também a transferência do aditivo vermiculite do Anexo I – lista de modificações e autorizações correntes – , para o Anexo II – lista dos aditivos que irão cair em pouco tempo e os que não estão autorizados – , na sequência da decisão do requerente de retirar o seu pedido.

Um outro tema abordado foi o ponto de situação relativo à vitamina B2, produzida pelo microrganismo não geneticamente modificado Eremothecium ashbyi CCTCCM 2019833, utilizada como aditivo nutricional. O painel FEEDAP não conseguiu concluir sobre o perfil toxicológico do aditivo e, consequentemente, sobre a segurança deste para as espécies-alvo, consumidores e utilizadores, pelo que a sua autorização não está permitida. O próximo passo será o candidato indicar se pretende ou não fornecer informação adicional para que se consiga chegar a uma conclusão. No seguimento deste tema, os membros da Task Force de Agricultura Biológica expressaram a sua preocupação de que o parecer inconclusivo da EFSA poderá deixar este setor sem alternativas para garantir alimentos com o equilíbrio de B2 que suprima as necessidades dos animais. Reconheceram ainda que, em prol da equidade de mercado e da preservação das normas de segurança dos alimentos para animais na UE, devem ser respeitadas as mesmas condições para a autorização de aditivos para alimentação animal, quer o produto se destine a ser utilizado ou não na agricultura biológica.

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL NOTÍCIAS DAS EMPRESAS

50 ANOS DE DEDICAÇÃO…

50 ANOS DE INSPIRAÇÃO…

A Raporal comemora neste ano de 2021 os 50 Anos da sua funda-

“Na Raporal, a vida faz-se do campo para a mesa, desde o primeiro

ção… quisemos saber junto dos responsáveis da empresa, qual o sentimento ao alcançar esta marca histórica…

dia. Apostamos numa estrutura de produção verticalizada, para a

“A Raporal é uma empresa do setor Agroalimentar, que foi fundada em 1971. Na sua génese tem a Fábrica de Alimentos Compostos para Animais e ao

é esse o rumo mais adequado para o sucesso da nossa empresa. A

longo da sua evolução tem diversificado as suas áreas de negócio, desde a Agricultura, Produção Animal, Abate e Transformação de Carne até à Loja

fileira da carne de suíno e bovino, e sempre estivemos certos de que total rastreabilidade dos produtos e a garantia da segurança alimentar são e sempre foram o nosso objetivo.”

da Carne onde temos o real contacto com o Consumidor Final. Hoje somos uma empresa com um modelo de produção completamente verticalizado, garantindo a Qualidade e a Autenticidade dos nossos produtos. Este processo evolutivo foi acontecendo ao longo destes 50 anos. Atualmente, a Raporal é uma empresa Global, capaz de satisfazer as necessidades dos seus clientes em qualquer parte do Mundo. A aposta na exportação é o principal objetivo dos últimos anos, concretizado através de investimentos em infraestruturas, melhorias dos Processos Operacionais e de Sistemas de Gestão. Mas, para além de tudo isso, ao longo destes 50 anos tivemos a sorte de ter ao nosso lado profissionais competentes e motivados, que nos transmitem a confiança necessária para continuarmos a fazer história e a construir o futuro."

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FICHA TÉCNICA ALIMENTAÇÃO ANIMAL Revista da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais – IACA NIPC­‑ 500835411

TRIMESTRAL ­‑ ANO XXXII Nº 116 Abril / Maio / Junho 2021

DIRETOR José Romão Braz

CONSELHO EDITORIAL E TÉCNICO Ana Monteiro Jaime Piçarra Pedro Folque Manuel Chaveiro Soares Rui Gabriel

COORDENAÇÃO Jaime Piçarra Amália Silva Serviços IACA

ADMINISTRAÇÃO, SEDE DE REDAÇÃO E PUBLICIDADE (incluindo receção de publicidade, assinaturas, textos e fotos) IACA ­‑ Av. 5 de Outubro, 21 ­‑ 2º E 1050­‑047 LISBOA Tel. 21 351 17 70

EMAIL iaca@iaca.pt iaca.revista@iaca.pt

SITE www.iaca.pt

EDITOR Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais – IACA

EXECUÇÃO DA CAPA Salomé Esteves

EXECUÇÃO GRÁFICA Sersilito ­‑ Empresa Gráfica, Lda. Travessa Sá e Melo, 209 4471­‑909 Gueifães ­‑ Maia

PROPRIETÁRIO Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais ­‑ IACA Av. 5 de Outubro, 21 ­‑ 2º E 1050­‑047 Lisboa

DEPÓSITO LEGAL Nº 26599/89

AGENDA DE REUNIÕES DA IACA Data

ABRIL

6

• Audição Pública na Assembleia da República sobre a PAC pós-2020 (virtual)

7

• Task Force FEFAC sobre COVID-19 (virtual)

15

• Reunião da Direção IACA (virtual) • Assembleia-Geral da IACA (virtual)

19

• Conselho de Acompanhamento da revisão da PAC

20 e 23

• Reunião do Projeto SANAS (virtual)

21

• Comité de Alimentos para Peixes da FEFAC (virtual)

23

• Reunião do Fórum “Mundo Rural, Agropecuária e Agroindústria” (virtual)

28

• Assembleia-Geral da FILPORC (virtual)

Data 4

MAIO • Reunião PEPAC sobre a Produção Sustentável de Bovinos (virtual) • Reunião da Direção IACA (virtual)

5

• Reunião CT 37 (virtual) • Reunião da Direção da FIPA (virtual)

7

• Grupo de Diálogo Civil da Comissão Europeia/DG AGRI sobre os Aspetos Internacionais da Agricultura (virtual)

7e8

• V Jornadas de Equinicultura APEZ e IAAS-UTAD (virtual)

18

• Reunião da Direção do FeedInov (virtual)

19

• Workshop FEFANA/FEFAC Saúde e Bem-estar Animal: Qual o Papel da Nutrição Animal? (virtual) • Task Force da FEFAC COVID-19 (virtual) • Assembleia-Geral Eleitoral da FIPA (virtual)

21

• Grupo de Trabalho FEFAC sobre a revisão dos aditivos (virtual)

24

• Reunião do Conselho Consultivo do FeedInov (virtual) • Reunião do Fórum “Mundo Rural, Agropecuária e Agroindústria” (virtual)

26

• Fórum para o Futuro da Agricultura

25 e 27

• Webinar USDA/USSEC/CESFAC/IACA “Construir uma Cadeia de Abastecimento mais Sustentável: O exemplo da Soja dos EUA” (virtual)

28

• XIII Jornadas para Responsáveis de Qualidade da Fábricas –AGAFAC (virtual)

31

• Reunião com o FeedInov, EZN, Vale de Santarém

Data 3 7e8

JUNHO • Reunião da Task Force da FEFAC sobre “Rotulagem verde” • Workshop da Comissão Europeia sobre “Perspetivas Agrícolas”

9

• “Los Retos del Sector de la Alimentación Animal en el Marco del Desarrollo Sostenible“– CESFAC (virtual)

10

• Reunião conjunta do “Board” e do Colégio de Diretores-Gerais da FEFAC e AssembleiaGeral da FEFAC (virtual)

11

• Conferência da FEFAC integrada na Assembleia-Geral (virtual)

10 e 15 14 15 18 21, 23 e 24 22

• Seminário “Óleo de Soja na Formulação de Alimentos para Animais“ – USSEC/CESFAC/ IACA (virtual) • Comité Nutrição Animal da FEFAC (virtual) • Grupo de Diálogo Civil da Comissão Europeia/DG AGRI sobre a PAC (virtual) • Comité Alimentos Compostos da FEFAC (virtual) • Comité Pré-Misturas e Alimentos Minerais da FEFAC (virtual) • Reunião PEPAC (virtual) • Reunião do Fórum “Mundo Rural, Agropecuária e Agroindústria” (virtual) • Curso “Os últimos desenvolvimentos na alimentação de aves e suínos” – USSEC/FEDNA/ CESFAC/IACA (virtual) • Reunião da Direção da SPMA

REGISTO EXCLUÍDA DE REGISTO NOS TERMOS DO DISPOSTO NA ALÍNEA A) DO N.º 1 DO ART.º 12.º DO DECRETO REGULAMENTAR N.º 8/99, DE 9 DE JUNHO, REPUBLICADO PELO DECRETO REGULAMENTAR N.º 2/2009, DE 27 DE JANEIRO

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De acordo com o RGPD, de 25/05/2018, a IACA reconhece e valoriza o direito à privacidade e proteção dos dados pessoais, pelo que conserva esses dados (nome e morada) exclusivamente para o envio da Revista “Alimentação Animal”, que nunca serão transmitidos ou utilizados para outros fins. A qualquer momento, poderá exercer o direito de retirar esse consentimento enviando-nos um e-mail para privacidade@iaca.pt


Hemicell HT Mais energia para sua saúde e seus lucros

Hemicell HT (β-mananase) é uma enzima focada na saúde e poupadora de nutrientes. Pequenas quantidades de β-mananos nas dietas de frangos de carne e de porcos podem causar uma resposta imune inata que pode desperdiçar energia valiosa do alimento e afetar negativamente o crescimento e desempenho.1-2 Hemicell HT decompõe esses β-mananos e minimiza a resposta imune induzida pelo alimento (RIIA), resultando em redução dos custos de alimentação e aumento do lucro:3-7 Também existem benefícios à saúde. Hemicell HT melhora a integridade intestinal (I2) e reduz lesões de pododermatites graves em frangos.7 Em leitões, melhora o ganho medio de peso (GMD) e Índice de conversão (IC) em até 4%.8

Hemicell HT. Para animais saudáveis e lucros em saúde 1. Geniec N.O., Alei F., and Klasing K. 2015. “Effect of Hemicell HT enzyme on the immune system of chickens and their performance.” International Poultry Scientifi c Forum Georgia World Congress Center, Atlanta, Georgia January 26-27 2015; n/a: 54. 2. Saki A.A., Matzugi M.T., and Kamyab A. 2005. “Effect of Mannanase on Broiler Performance, Illeal and In-vitro Protein Digestibility, Uric Acid, and Litter Moisture in Broiler Feeding.” International Journal of Poultry Science 2005; 4: 21-26. 3. D M Anderson & Hsiao H.-Y. “New Feed Enzyme Development.” ChemGen Corp. 2009. 1: 1-30. 4. Trial PPG-53. E. van Eerden et al, 2014. “Effect of Hemicell on Production Performance and Clinical Scores in Broiler Chickens.” Report no. 1366. 5. Qiao, Y., Zhu, X., Zhai, L., Payne, R., and Li, T. 2017. Dietary soybean meal level and β-mannanase supplementation affected immunioproteins in carotid artery and morphology and aquaporin water channels in small intestine of nursery pigs. Journal of Animal Science Vol. 96, suppl. S3. PSIII-36. 6. Elanco DoF Dietary soybean meal level and β-mannanase supplementation affected immunoproteins. 2017. 7. Poulsen, K., Baker, K.T., Kwiatkowski, T. Evaluation on the Effects of β-mannanase on Intestinal Health in Broilers, Based on 31 Trials. Presented as poster IN-1 at 3rd International Symposium on Alternatives to Antibiotics Challenges and Solutions in Animal Health and Production. 16-18 December 2019 The Berkeley Hotel, Bangkok, Thailand. 8. Pettey, L., Carter, S., Senne, B. and Shriver, J. 2002. Effects of ß-mannanase addition to corn-soybean meal diets on growth performance, carcass traits, and nutrient digestibility of weanling and growing/fi nishing pigs. J. Anim. Sci. 80: 1012-1019. Hemicell HT, Elanco e a barra diagonal são marcas registadas da Elanco ou das suas filiais. © 2020 Elanco Animal Health, Inc. ou suas filiais. PM-PT-21-0099

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