Revista Ponto & Vírgula - Ano 6 - Edição 38 - Março/Abril 2018

Page 1

Março/Abril Ano 6 | Edição 38 Distribuição Gratuita ISSN: 2317-4331

PONT & VIR ULA

MARLENE BERNARDO CERVIGLIERI

POSSE NA ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE LETRAS


2  Revista Ponto & Vírgula  Março/Abril 2018


ÍNDICE MARÇO/ABRIL

Foto: Heloísa Crosio

Pág. 1 Capa Marlene Bernardo Cerviglieri Pág. 2 Anúncio Pág. 3 Índice, Editorial e Expediente Págs. 4 e 5 Matéria de Capa: Marlene Bernardo Cerviglieri Pág. 6 Poetas em Destaque Pág. 7 Cantinho Literário de Vera Regina Marçallo Gaetani Pág. 8 Livro e Folha de Livro - Sérgio Roxo da Fonseca Págs. 9 Fogo Selvagem - Ely Vieitez Lisboa Pág. 10 Histórias de Irene Págs. 11 Cantinho Literário de Bridon e Arlete Pág. 12 Poetas Inesquecíveis; Anúncios Pág. 13 Poetas em Destaque; Mini crônica - Outono - Heloísa Martins Alves Pág. 14 Poetas Inesquecíveis Pág. 15 Para Ela... - Aline Olic Pág. 16 Todo filho é pai da morte de seu pai - Fabrício Carpinejar Págs. 17 e 18 Sarau de Lançamento 37a. Revista Ponto & Vírgula Pág. 19 Publicidade Págs. 20 Foto em Destaque - Aline Olic

EDITORIAL

E lá se foram março e abril!!! Meses conturbados para a política nacional e de muita reflexão para o povo brasileiro! Longe de toda corrupção que enoja o país, a Ponto & Vírgula é um Oásis para o viajante cansado e sedento; a Flor de Lótus elegante, bela, perfeita, pura e graciosa; o alimento para a alma faminta. Aqui o leitor se deleitará com os artigos de escritores já famosos e consagrados, assim como também com os dos principiantes. Pura beleza e poesia! A cada bimestre, em destaque, alguém que muito tem feito em prol da Educação e Cultura. Neste, é com muita alegria, que homenageamos e destacamos, Marlene Bernardo Cerviglieri, recentemente empossada como membro da Academia Ribeirãopretana de Letras. Educadora e Psicóloga Clínica, hoje aposentada, Marlene sempre foi atuante na área da Educação e Cultura. Atualmente, dedica-se mais a escrever, encantando crianças com suas coletâneas de histórias infantis e jovens e adultos com seus poemas cheios de sensibilidade. É, portanto, merecedora de nossa homenagem e digna de toda admiração e respeito. Aos colunistas, que engrandecem nossa Ponto & Vírgula com seus belíssimos artigos, a certeza que faremos parte da história dos que lutam para tornar esse mundo um pouco melhor. A você, leitor/a, o convite para tornar-se mais um de nossos assinantes e assim também se encantar com a beleza dos artigos da nossa Ponto & Vírgula! Irene Coimbra| Editora

EXPEDIENTE Direção Geral: Irene Coimbra de Oliveira Cláudio – irene.pontoevirgula@gmail.com | Edição: Ponto & Vírgula Editora e Promotora de Eventos | Diagramação: Aline Olic | Impressão: São Francisco Gráfica e Editora. Foto de Capa: Elza Rossato Anuncie na Revista Ponto & Vírgula. Associe sua marca à Educação e Cultura! Mídias: Impressa, Digital e Audiovisual. Publicidade e Venda: Irene – (16) 3626-5573 Tiragem: 3 mil exemplares Os artigos assinados são de responsabilidade do autor. A opinião da revista é expressa em editorial. Março/Abril 2018  Revista Ponto & Vírgula  3


MARLENE BERNARDO CERVIGLIERI POSSE NA ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE LETRAS FOTOS POR Elza Rossato

MARLENE formou-se em magistério aos 18 anos. Fez Faculdade de Pedagogia e Psicologia Clínica. Trabalhou como Educadora até se aposentar. Após a aposentadoria passou a se dedicar mais à Literatura. Escreve para crianças, jovens e adultos. É autora dos seguintes livros: E a alma chorou (poemas); Poemas da Maturidade (poemas); Elf (Conto infantil); 1ª. Coletânea de histórias infantis; Contos, Poemas e Encantos. É membro de várias entidades literárias, entre elas: Casa do Poeta e do Escritor de Ribeirão Preto, Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG; Academia de Letras, Artes e Ciências de Cruz Alta/RS; Academia Ribeirão-pretana de Educação, e hoje, 2 de março de 2018, toma posse como Neo Acadêmica na Academia Ribeirãopretana de Letras. Marlene é dinâmica e empreendedora. Está sempre participando de todos os eventos literários e Geovah Paulo da Cruz, Nelson Jacintho, Antônio Carlos Tórtoro, Leda Pereira, Marlene B. Cerviglieri, Carlos Roberculturais. 4  Revista Ponto & Vírgula  Março/Abril 2018

to Ferriani e Cezar Augusto Batista.


Depoimentos Antônio Carlos Tórtoro Tomar posse em um sodalício é assumir uma nova vida em nova comunidade - formada por personalidades distintas e até mesmo conflitantes - com o compromisso de doar parte de seu precioso tempo a fim de fazer a diferença na história daquele grupo: que só chegou, onde chegou, porque os que o antecederam, entenderam que não deveriam esperar o que a agremiação poderia fazer por eles mas, sim, o que eles poderiam fazer pela agremiação que os acolheu. Nossa amiga e colega de ARE, Marlene Cerviglieri, saberá muito bem honrar o compromisso assumido porque é inteligente, competente, e sabe conviver com as diferenças. Foi uma enorme honra conduzi-la até a mesa diretora tendo como parceira de marcha triunfal, minha amiga de ARL, Rita Mourão. Rita Mourão Falar de Marlene Cerviglieri é repassar momentos de uma vida voltada para a família, amigos e literatura. Marlene chegou ao nosso convívio como quem vem fortalecer a confiança, cultivar amizades e semear palavras. E nós a recebemos conscientes de que seremos mais fortes com tão nobre presença. Foi a sua grandeza literária, sua postura de liderança que encaminharam seus passos para fazer parte das nossas lutas acadêmicas. A ARL ficou mais rica, pois associou-se a ela, um espírito de autêntica formação humanística, de grandes atividades intelectuais, pautadas nos seus escritos poéticos ou em prosa. Marlene Cervigliere tem sensibilidade e cultura. A Academia Ribeirãopretana de Letras está feliz porque, de agora em diante, esse sodalício será também a casa da nossa nobre acadêmica.

Antônio C. Tórtoro, Marlene B. Cerviglieri e Rita Mourão

O Presidente Carlos Roberto Ferriani discursa sobre a posse de Marlene Cerviglieri

Dr. Paulo Rogério Cerviglieri (filho) coloca o broche da ARL em Marlene

Março/Abril 2018  seu Revista Ponto & de Vírgula  5  Marlene B. Cerviglieri exibe diploma membro da Academia Ribeirãopretana de Letras


Poetas em Destaque

1 1

2

Marlene Cerviglieri

3 2

Fernanda Rocha Mesquita

A Praça

Sinto-te Assim

Como antigamente, os passeios na praça, minha mão presa na tua com muita firmeza voltas mil, sem cansaço, os passos largos, pernas firmes nada vendo em volta nem mesmo os pássaros.

De tão sincero o teu amor se tornou o meu abrigo, a tua ternura a minha companheira, a minha luz... A tua paixão é o meu luar ao estar contigo e os teus lábios o carinho que me seduz!

Tínhamos muito a falar... Não era só de amor, mas sim do futuro, de nossos sonhos da vida a dois.

E tantas vezes em que a tristeza me cerca, o teu abraço vem sem eu pedir, protetor e para que minha alma numa ilha não se perca, sem nada pedir, te ofereces em forma de amor!

Como antigamente caminhando no tempo mãos soltas, não muita firmeza voltas não mil, cansaço, passos curtos, vendo tudo, admirando os pássaros...

Tu és o segredo doce que a vida me deu, tu és o murmurar que o meu sono acalma, tu és o ombro onde a minha certeza nasceu, tu és a paz que vive na minha alma!

Nada a falar, falta de amor, sem sonhos, vida solitária perdendo-se no tempo. Lembranças que estão vivas! Ainda passeio na praça...

A paz que me ofereces é o meu passo seguro e certo. O teu esquecer de ti para seres o meu céu me faz crescer o desejo de te ter por perto sentindo que o teu amor, a minha solidão venceu! ***

*** 3

4

Luzia Madalena Granato

4

Alciony Menegaz

Amor Líquido

Revivendo

Esperei teu beijo no papel de poesia, na boca com batom vermelho. Troquei todas as cores do batom de minha boca, Hoje vejo esse amor líquido, que caiu na pia do banheiro, no rosto que lavo, e no espelho no qual me enxergo. Hoje tua boca e a minha, sem cores de batom, podem se unir, se solidificar no intenso desejo que nos consome...

Por que essas lágrimas teimam em brotar dos meus olhos? Aparentemente está tudo bem, tudo tranquilo, o dia lindo... Ah! São essas lembranças... As recordações deixam marcas tão profundas, como cicatrizes não removíveis, como as marcas de ferro em brasa nos animais. Quando afloram à nossa mente, é um reviver, às vezes, muito doloroso, talvez, pela certeza de que não há volta, quiçá uma nova chance.

6  Revista Ponto & Vírgula  Março/Abril 2018


Cantinho Literário de

Vera Regina Marçallo Gaetani Por que choras, Natureza? - Pra que não cantem mais hinos em louvor à Criação. São falsos, não têm sentido. Os loucos dos inquilinos destroem, sem compaixão, meu mundo tão poluído, as florestas ultrajadas, não mais virgens, defloradas. Os trovões são os arrotos de minhas nuvens nauseadas que vomitam em seus esgotos. A força toda dos ventos vem dos profundos lamentos dos rios correndo afogados nos detritos lá jogados. Os raios brotam da ira de todos os Orixás ao verem Nanã chorar. Nanã chorou tanto, tanto que as águas de seu pranto fizeram o mar transbordar, levando as sujidades de volta para as cidades. As desgraças ocorridas não serão uma advertência? É melhor termos prudência!... Hoje, quem chora é Nanã. nós, com certeza, amanhã.

Foto: Fúlvia Freitas

Março/Abril 2018  Revista Ponto & Vírgula  7


LIVRO E FOLHA DE LIVRO POR SÉRGIO ROXO DA FONSECA

S

uponho que a palavra converteu-se no documento mais antigo da história do homem. Antes do advento da palavra os fatos dissipavam com mais rapidez do que pirão de galinha velha. A língua portuguesa falada no Brasil foi composta por um número muito grande de idiomas. A história de suas palavras quase sempre, mas nem sempre, identifica sua origem. Grandes tropeções sofremos com os “hetero-semânticos” ou, como querem outros, com os “falsos cognatos”. O adjetivo “esquisito” no Brasil significa tudo que é incomum e muito ruim. “Esquisito” era o nome do pior salão de baile da minha terra. Calculem o seu significado! Nos demais idiomas neolatinos, “esquisito” ao contrário significa o que é incomum e muito bom. Na Espanha um vinho esquisito está para lá de bom. Encontrei um perfume francês chamado “esquisito”, ou seja, “esquis”. O adjetivo “roxo” significa “vermelho” nas extensões da latinidade. O sangue do toureiro Ignácio era “rojo”. Na Itália há um vinho chamado “roxo escuro”. O francês universalizou o vocábulo para batizar a tintura usada pelas mulheres para avermelhar o rosto, o “rouge”. Em português diversamente roxo não é vermelho. Perguntei para um espanhol qual é o vocábulo na Espanha que transmite a ideia da cor roxa. Amorado, respondeu, ou seja, a cor da amora. Sérgio Buarque de Hollanda, destacando o nome dos dois mais notáveis tradutores brasileiros da sua época, Mário Quintana e Agenor Soares de Moura, revelou alguns dos seus tropeções, ou seja, tropeções deles Até eles!. De se destacar que o mineiro Agenor escreveu um extraordinário livro sobre a matéria: C.T. Palavras. Tudo por conta dos falsos cognatos. No passado imemorial o conjunto das palavras gerou a necessidade de compor um objeto, levando-o à pia batismal. A composição recebeu o nome de “livro”. E o que transmite a história da palavra “livro”? O notável Deonísio da Silva espanca o mistério: “a palavra “livro” é descendente do latim “liber”, ou 8  Revista Ponto & Vírgula  Março/Abril 2018

seja, o tecido condutor da seiva elaborada ou orgânica dos vegetais vasculares; “livro”, em sua forma “libru” passando pelo francês “libre” e pelo italiano “libro”, segundo nos ensina em suas Etimologias, Santo Isidoro, arcebispo de Sevilha e doutor da igreja, a humanidade primeiramente escreveu em folhas e cascas de árvores, advindo desse costume vocábulos como “folha” e “livro”. Apesar da origem da escrita perder-se nas brumas do tempo, e os símbolos escritos existirem desde 8500 anos antes de Cristo, tem-se como o livro mais antigo do mundo a “Bíblia” composta por Gutenberg, impressa em Mainz, na Alemanha, por volta de 1454 por Johann Henne Glensfleisch Gutenberg, nascido entre 1394 e 1399, morto em 1468. O primeiro livro brasileiro foi “Música do Parnaso”, poesias de Manoel Botelho de Oliveira, impresso em Lisboa, em 1705”. Esta é uma pequena síntese da extensa história da palavra “livro”. Jorge Luis Borges escreveu que toda a água do Nilo está dentro da palavra “Nilo”. Como todas as rosas do mundo estão contidas nas letras que compõem a palavra “rosa”. Tanto para ele como para mim. Mergulhando nessas águas atrevo-me a concluir que todas as folhas dos livros estão contidas nas letras compostas do vocábulo “livro”. Foto: Portal OAB


Fogo Selvagem

(*) Ely Vieitez Lisboa

T

odas as fêmeas foram aprisionadas, separadamente, na grande choupana. Eram virgens, belas, sadias e seriam entregues em sacrifício, uma a uma, nos próximos treze dias. Só assim a tribo teria colheita farta, estaria livre das tempestades e raios e não faltaria a carne tenra dos animais, para a caça. Assim era o costume. LUNA olha as companheiras adormecidas e se revolta; não quer morrer, não acredita na Lei. À noite, tentará fugir. Quando a Lua está alta no céu, ela força, com as mãos, uma brecha na palha da cabana e seu corpo esguio passa pela fenda. Os pés sentem a terra dura, ela se afasta lentamente, entre os arbustos. Quando está mais longe, corre. Sente nas coxas, nas pernas nuas, as chibatadas dos ramos, sua pequena tanga branca se rasga nos espinhos que arranham sua pele macia. Durante horas ela corre, ofegante, rumo ao nada, para longe da cabana do sacrifício. Muitas horas depois, ela ouve o barulho das águas. Estava salva. Após a cachoeira, ficavam as cabanas dos liberados, dos que se acasalavam e procriavam para que a tribo não desaparecesse. Para. Na escuridão, só ouve o barulho da cachoeira e o pio de aves noturnas. À sua frente, uma choupana. Ela abaixa-se e entra. O chão é forrado de peles macias. É agradável sentir as peles junto ao corpo cheio de escoriações. Cansada, LUNA adormece. Hora depois, ainda na escuridão total, sente que não está só. Há um cheiro forte de macho ao seu lado. Ela tenta erguer-se, mas mãos fortes obrigam-na a ficar deitada. As grandes mãos alisam seu rosto, os seios, o ventre, o sexo. Mesmo assustada, ela gosta do apalpar firme, dos dedos que tateiam seu corpo. Ela espera e se entrega docemente. O macho enorme cobre-a, sem brutalidade, penetra-a, estremece sobre ela, de prazer. Durante a noite, várias vezes, o ritual se repete. LUNA começa a sentir alegria naquele acasalamento com o animal forte que resfolga sobre ela. De manhã o sol entra na choupana, iluminando-a. Ela é espaçosa e agradável. No canto, frutas frescas e água. Ela come algumas, muito doces, com o caldo açucarado escorrendo-lhe da boca, entre os dedos. Saciada a fome, ela sai da choupana. Vê então que não é o outro lado da aldeia, o dos liberados para o acasalamento. A choupana solitária fica em uma pequena clareira. E aí ela vê chegando o macho com que cruzara, à noite. Grita horrorizada! Ele é jovem ainda, escuro, muito alto e forte. Sua pele é toda ulcerada de feridas abertas, quase em carne viva. É a peste maldita, dos que são expulsos da tribo. À simples aproximação, contamina-se e não há cura. Enlouquecida, ela foge por entre as árvores, até a cachoeira. Lança-se nas águas, tentando depurar-se, limpar a pele, livrar-se da doença. Cansada, sai e deita-se sob uma árvore de copa cerrada. Dorme todo o dia e uma noite, como anestesiada pelo medo e pelo horror. Quanto tempo fica ali, sem saber o que fazer? Alguns dias depois, olha as mãos, os braços, os seios. Por todo o corpo aparecem manchas roxas, meio escuras. Nos pés, as úlceras já começam a surgir, deixando ver a carne viva, de um vermelho turvo, úmido, queimando como fogo. (*)Ely Vieitez Lisboa é escritora, poetisa e crítica literária. Tem 14 livros publicados e escreve em vários jornais. Março/Abril 2018  Revista Ponto & Vírgula  9


Histórias de Irene

É

Susto no ônibus

noite. Rose está voltando do trabalho para casa. Desce do metrô na Estação Paddington, no centro de Londres, sobe as escadas, atravessa a rua em direção ao ponto de ônibus. Caminha rapidamente com olhar desconfiado. O atentado terrorista perto do Parlamento é manchete em todos os jornais. Londres está em estado de alerta. No ponto de ônibus o assunto é o mesmo. Calada, ouve os comentários. Dois homens discutem em voz alta. Outros saem do bar próximo e entram na discussão. O medo impera em seu olhar. Felizmente seu ônibus chega. Ela entra rapidamente e se senta ao lado de um velhinho. O ônibus segue. Silêncio profundo. De repente um estrondo. Fica paralisada. Meu Deus, uma bomba bem ali dentro, naquele momento? Não, apenas a bengala de metal, do velhinho, que caiu no corredor. Respira aliviada. Desce do ônibus e segue para casa rindo sem parar.

CHORO CONTIDO

Irene Coimbra

Quando vi aquele desenho estampado ali na tela, vi nele o choro contido e quis saber quem era ela. Aquela mão enrugada que sobre a boca estava, parecia conter o grito de quem há muito não chorava. Aquele rosto sofrido transmitia tanta dor e eu me interrogava: Por que tanto dissabor? E, depois de muito tempo, hipnotizada pela tela, chorei meu choro contido. Sem saber, eu era ela. *** Inspirado no desenho de JB Xavier 10  Revista Ponto & Vírgula  Março/Abril 2018


Cantinho Literário de

Bridon e Arlete O EU E A VIDA JC Bridon

Ontem era passado, hoje é presente, e amanhã representa o próprio hoje novamente. O que penso que fiz, nos dias que se foram, nada mais são que lembranças perdidas. O que devo fazer hoje são as pegadas para um futuro melhor. Por isso devo caminhar certo e ser firme e determinado em tudo. Se para a vida sou uma continuidade do que devo aprender agora, sinto-me preenchido por uma força incrível que tenta me ensinar a viver.

Studio Cine Foto Mary

VOARAM AS POESIAS

Arlete Trentini dos Santos Voaram as poesias. Voaram os pensamentos. Voaram os sentimentos. Foi uma ventania insana. Aqui ficaram coisas sem sentido... Eu pergunto, onde estão os pensamentos? Será que foram todos perdidos? Sei lá, pouco importa... Fiquei com os bons sentimentos, com tudo que borboleteia minha mente, que me deixa mais contente, que afaga meu coração. Só quero os sentimentos bons. E eu flutuo nesta emoção... Sei que muitos bons dias virão!

Sou apenas um pedacinho do próprio eu cercado por diversos pensamentos que me ensinam que trilhar o caminho da luz é viver plenamente o dia de hoje.

Março/Abril 2018  Revista Ponto & Vírgula  11


POETAS INESQUECÍVEIS Nel mezzo del camim... Olavo Bilac

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada E triste, e triste e fatigado eu vinha. Tinhas a alma de sonhos povoada, E alma de sonhos povoada eu tinha... E paramos de súbito na estrada Da vida: longos anos, presa à minha A tua mão, a vista deslumbrada Tive da luz que teu olhar continha. Hoje segues de novo... Na partida Nem o pranto os teus olhos umedece, Nem te comove a dor da despedida. E eu, solitário, volto a face, e tremo, Vendo o teu vulto que desaparece Na extrema curva do caminho extremo.

Visita à casa paterna Guimarães Jr.

Como a ave que volta ao ninho antigo, depois de um longo e tenebroso inverno, eu quis também rever o lar paterno, o meu primeiro e virginal abrigo. Entrei. Um gênio carinhoso e amigo, o fantasma talvez do amor materno, tomou-me as mãos, – olhou-me grave e terno, e, passo a passo, caminhou comigo. Era esta a sala… (Oh! se me lembro! e quanto!) em que da luz noturna à claridade, minhas irmãs e minha mãe… O pranto jorrou-me em ondas… Resistir quem há-de? Uma ilusão gemia em cada canto, chorava em cada canto uma saudade.

12  Revista Ponto & Vírgula  Março/Abril 2018


Poetas em Destaque Neusa Bridon dos Santos Garcia Melhor Idade Começou? Já cheguei lá. Abraço meu travesseiro com carinho aconchego meu corpo rezo... agradeço hoje fui feliz! Meu corpo não tem mais a mesma juventude. O tempo passou! Cada ruga que em meu rosto aparece são marcas de uma vida bem vivida frutos que colhi em plena primavera. Sou feliz... relembrando cada dia. Abraço mais uma vez meu travesseiro que noite benfazeja! Quanta felicidade sinto... Compromissos... quais? Cumpri com todos eles... Deixei o calendário de lado há tempo é meu direito adquirido! Abraço meu travesseiro, me aconchego. Deus me abençoa e de presente me dá a PAZ!

1

cecília figueiredo A leveza da dor A poesia sobrevive às crudelezas da vida. se houve melancolia, a poesia suplantou; não com a frívola alegria, mas com a leveza da dor.

mini Crônica Outono Heloísa Martins Cabelos brancos, coque alto e muito bem arrumado, carmim nos lábios, face rosada e olhos brilhantes. Essa é Nina! Nos seus oitenta e cinco anos continua linda e vigorosa! Usa sua bengala de madeira, com desenhos em arabescos incrustados em prata de lei, com muito charme e elegância. Fredo, noventa anos, é seu companheiro e amante de uma vida inteira. Aquece seus pés e também sua alma. À noite leem, um para o outro, romances diversos que mostram a essência e a beleza da vida. Usam o mesmo óculos para a leitura. São parceiros. Quando chega a vez da leitura de Nina, ele passa, com suavidade, os óculos para as suas alvas mãos e a acaricia. Vivem uma rotina harmônica e saudável. Até que um dia o céu escureceu, a luz apagou e Fredo partiu... Nina esmorece... Mas, como é forte, mesmo fragilizada segue sua jornada. Hoje usa sapatinhos de lã que esquentam sua pele, sua carcaça por fora, mas, seu íntimo está gelado. Lê só e se entristece. Interrompe a leitura, tira os óculos e, em devaneio, a lembrança e a saudade de Fredo vem agasalhar o seu outono na passagem de sua vida. Março/Abril 2018  Revista Ponto & Vírgula  13


Poetas em Destaque

1 1

2

Adriano Pelá

4

3 2

Sabiá

A Luz que procuro

Lá no alto da colina, onde o sabiá canta, seu ninho em lugar perfeito, escolha certeira, de muita sabedoria. Onde tem os últimos fulgores do sol, em seguida a romântica lua. Sitio de privilégios! Local inspirador! Vislumbra-se o vale, banhado de luar. Surge o poeta! Respira o encanto, vibra na sintonia da natureza, transmigra do humano para sentir-se na atmosfera dos anjos.

Estou vagando num túnel escuro. A luz que procuro, minha doce amada. Apalpando a esmo no interior do mesmo, tentando acender a luz apagada. Com ela eu tinha luz de vida acesa. Meu Deus, que tristeza esta escuridão! Ao vê-la com outro dá curto circuito, choques malditos em meu coração.

***

3

Alceu Bigato

Isolino Coimbra de Oliveira

*** 4

Waldomiro Waldevino Peixoto

O jogo das sete vidas

A semente

No jogo das sete vidas seis partidas já venci, mas a sétima continua, são décadas que já vivi.

Tentáculos a rasgar e engravidar a terra consumindo a seiva e perdendo a guerra.

As seis, que já se passaram, as dividi em três tempos. Vinte anos cada uma, dentro de seus movimentos. Duas décadas de adolescência, duas de consciência e duas de amadurecimento. A sétima década , porém, só a esperança no além ocupa meus pensamentos! 14  Revista Ponto & Vírgula  Março/Abril 2018

O tronco, soberbo, à vida dos escombros reconduz, ignorando a morte, uma explosão de luz. Sobre o ventre aberto da terra fálico ostenta até o orgulho másculo de crescer de pé. O recôndito mistério de fender a terra joga ainda com a probabilidade de comer da seiva e vencer a guerra. Seca, aparentando a morte, plena de mistérios, contida, a semente traz, em seu ventre forte, uma explosão de vida.


PARA ELA... por Aline Olic

E

la se emociona ao ver uma árvore caída, escreve poemas para buracos, conversa sozinha com seu Anjo e se auto-denomina "louca". Alguns a criticam, mas vejam bem, para cada crítico, há outros três fãs que enxergam a verdadeira essência dessa pequenina mulher, que desde muito cedo sempre lutou pelos seus ideais. Desde sempre a vi se posicionar a favor de suas crenças, sem medo, sem receio. Aprendi a tratar a todos bem, sempre iguais, independente da conta bancária ou do título social. Aprendi que ter fé, e trabalhar duro (e com inteligência), me levará sempre além. De sorriso fácil e sempre com uma palavra de incentivo em seu discurso, todas as vezes que o medo invadiu meu coração, ela, com suas garras de águia, arrancou as angústias e deixou somente paz e amor. Não é perfeita, mas sempre tenta ser uma pessoa melhor, sempre melhor para com todos ao seu redor. "Na minha vida, nada foi fácil, filha." Se eu pudesse, se tivesse um pedido, pediria para estar junto ao seu lado, desde que você nasceu. Para poder dizer "Vai ficar tudo bem, mãe!" quando você saiu daquela cidadezinha do interior, carregando um mundo em suas costas, as noites que dormiu sem jantar porque não havia comida, quando você, ainda adolescente, debaixo de sol forte, ia com sua mãezinha, trabalhar naquelas lavouras, adubando pés de café ou despendoando o milho, quando andava horas debaixo do mesmo sol quente, com um único par de sapatos, o ano inteiro, furado, para chegar à escola. Quem a vê agora, sempre tão sorridente, de maquiagem feita, cabelos arrumados, roupas alegres e elegantes, não imagina o quanto você sofreu e lutou. Queria poder ter estado ao seu lado, para poder voar para cima daquele chefe que tirou sarro do seu dedão. Afinal, quem ele pensava que era para falar do dedão da minha MÃE? Ele ficou no passado, assim como tantos outros que não acreditaram em você e assim como sonhos que não se realizaram, mas que foram apenas (mais) um degrau para que continuasse subindo a escada de seu sucesso. Hoje, quando olho para trás e vejo todas as vezes que você me disse "não" e todas as vezes que me disse "sim", sei que foram decisões tomadas e respostas dadas com muito amor e carinho. Nós estamos a um oceano de distância, mas para o nosso amor, nem a Via Láctea nos tornaria distantes. Você é a minha vida e eu te amo, de um tamanho que a Física ainda não conseguiu medir. Obrigada por todos os puxões de orelha, todas as risadas e todos os colos. Meu porto seguro, minha amiga, minha MÃE! Feliz aniversário, minha guerreira! Te amo, Izinha!

(Dia 17 de Março é comemorado o aniversário de Irene Coimbra. E esse espaço, esse bimestre, não poderia deixar de comemorar em palavras, a cada ano vivido por essa mulher que traz alegria a tantas pessoas! E eu, como filha, gostaria de agradecer a cada um de vocês que sempre a prestigia. Meu muito obrigada por estarem sempre ao seu lado. E obrigada, Criador, por ter me entregue nas mãos dessa mulher, meu anjo, minha mãe!) Março/Abril 2018  Revista Ponto & Vírgula  15


TODO FILHO É PAI DA MORTE DE SEU PAI Por Fabrício Carpinejar

“H

á uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai. É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso. É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar. É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela – tudo é corredor, tudo é longe. É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios. E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz. Todo filho é pai da morte de seu pai. Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta. E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais. Uma das primeiras transformações acontece no banheiro. Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro. A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas. Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes. A casa de quem cuida dos pais tem braços dos fi16  Revista Ponto & Vírgula  Março/Abril 2018

lhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões. Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus. Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente? Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete. E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia. Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos. No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira: e - Deixa que eu ajudo. Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo. Colocou o rosto de seu pai contra seu peito. Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo. Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável. Embalou o pai de um lado para o outro. Aninhou o pai. Acalmou o pai. E apenas dizia, sussurrado: - Estou aqui, estou aqui, pai! O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali.” Fabrício Carpinejar é poeta, cronista, jornalista e apresentador brasileiro. É considerado um dos principais nomes da poesia contemporânea.


SARAU DE LANÇAMENTO

37a. REVISTA PONTO & VÍRGULA FOTOS POR

NATAN FERRARO

Rosa e Ithamar Vugman, Jugurta Lisboa e Ely Vieitez Lisboa, Prof. Duarte e Marisa, Paula e Alexandre Duarte

Paula Duarte e Alexandre de C. Moura Duarte

Alexandre de C. M. Duarte e Francine Rodrigues

Alice Valadares

Helena Agostinho Março/Abril 2018  Revista Ponto & Vírgula  17


Alceu Bigato

Irene Coimbra e Anamaria Silveira

Marisa Lemos e Ed Lemos

Gustavo Molinari, Irene Coimbra e Cris V. Sant'Ana

Nely Cyrino de Mello e Leonor Barros

Jannes Mello, Irene Coimbra e Nely C. de Mello

18  Revista Ponto & Vírgula  Março/Abril 2018


Março/Abril 2018  Revista Ponto & Vírgula  19


E ST AQ U DE EM FO TO 20  Revista Ponto & Vírgula  Março/Abril 2018

"A chegada da Primavera em Londres" - Foto: Aline Olic


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.