Por ALLAN DENIZARD
Introdução ...........................................................4 Microcefalia segundo o Espiritismo ....................7 Microcefalia segundo o espiritismo ..................11 (parte 2 - resposta) .............................................................. 11
Microcefalia segundo o espiritismo .................20 (parte 3 - mensagem de consolo) .......................................20
A contribuição de Nietzsche para o Espiritismo ... 25 Naruto e o Espiritismo ...................................... 29 Dons do Espírito Santo e Mediunidade ............33 Decifrando o filme A VIAGEM ..........................39 Diálogo com um jovem pensando em suicídio .44 Sobre a carta psicografada de Cássia Eller ....... 48 Homossexualidade segundo o diálogo entre dois espíritas..............................................................53
Introdução Há quatro anos eu lançava este blog sob o nome de "Por uma filosofia espírita". Espírita que sou e amante da filosofia como venho sendo, entendi que pudesse contribuir de algum modo para o engrandecimento de quem lesse. O nome é "Por uma..." e não "A...", porque bem entendendo que o que escrevo é <<um>> tipo de pensamento. Tenho alguns propósitos particulares. O maior deles, de onde busquei não me afastar, é tornar a coisa palpável, palatável, próxima do cotidiano das pessoas. Se exagerei em figuras de linguagem é que sempre caio na pobreza do meu verbo para expressar coisas do céu, coisas da terra que sobem ao céu, do céu que beijam a terra. Tanto acertei em apostar no cotidiano, que aqui trago a prova. Os temas que mais foram acessados, mais palpáveis não poderiam ser: o consolo as mães e pais com crianças microcefálicas (+10.000 acessos), algumas relações levianas entre Nietzche e Espiritismo (+1000), algumas relações curiosas entre o anime Naruto e o Espiritismo (+1000). Dois outros temas me foram muito caros escrever: o do
possível diálogo com um jovem pensando em suicídio, uma síntese de falas dispersas reais (+400), e um diálogo que tive com um amigo homossexual (+400). Dessa forma entrego a você o que nunca deixou de ser meu pensamento: - Filosofia não é apenas um aprendizado seco de noções lógicas sobre conceitos abstratos. Ela prima por nos trazer serenidade, uma vida boa, o bom combate contras as angústias que a morte nos traz e uma maior paixão pela vida no que ela tem de apaixonante, uma maior piedade no que ela tem de miserável, uma maior vontade de mudar no que ela traz de liberdade. "Por uma filosofia espírita" é um blog por um mundo melhor, acreditando em pessoas mais conscientes porque mais amorosas, e mais amorosas porque conscientes - do amor. Ao final deste livretinho apresento-lhe o que venho sendo. Por ora, meus pensamentos.
Microcefalia segundo o Espiritismo O momento para o Brasil é de pesar [era, então, 3 de dezembro de 2015]. Um surto de malformações fetais onde se predomina a microcefalia desespera a população e, para piorar a história, o Nordeste é vítima da maior parte dos casos, superpondo esse sofrimento ao da seca. As notícias sobre os agravos aumentam e vazam com a leviandade dos boatos. Venho aqui para tentar pensar qual o motivo dessa tragédia entre nós. Vou elencar algumas correntes de pensamento espírita que provavelmente fundamentarão explicações daqui em diante nos relatos mediúnicos, esperando que algum me surpreenda e fortaleça-nos ainda mais. A tese das expiações evolutivas ou das dores do parto Um surto que acomete populações inteiras pode ter relação com uma leva de Espíritos reencarnantes, cujo tempo para a progressão moral se finda no avançar da hora da maturação do planeta. A humanidade, nestes últimos séculos, se ressente das dores de um parto que custa a acabar, cujos momentos de seu curso se refletem na
eclosão de violências, no escancaramento de vícios e corrupções, e, agora, na materialização de meios propícios para a vivência de dores de resgate e aprendizado. Parteja-se aqui um mundo melhor, entregue em breve às luzes de um descanso de regeneração para o corpo social sofrido. Sobre o caráter dos Espíritos envolvidos Quando carregados de escolhas ruins, estas fragilizam seu perispírito, órgão espiritual que plasma o corpo físico, fazendo com que as malformações emerjam. As limitações extremas do corpo conduzem o Espírito a um aprendizado de seus movimentos interiores, de suas emoções, e mesmo os pais e familiares passam a ler as lições trazidas pelas próprias vulnerabilidades. Acontece de grandes almas escolherem reencarnar em um corpo débil. Almejam mais iluminação ao sofrerem com as ilusões da dor. Pensam também em se engajarem em contexto de aprendizado para os pais, sendo instrumentos para tanto. Ocorre de igual modo que pais abnegados tenham escolhido receber Espíritos em situação de resgate expiatório, e, assim, acolhem aquele sofrimento com devotamento ímpar.
Sobre a "culpa" da natureza O Espiritismo tenta mostrar que a natureza não é nossa inimiga. Uma superficial visão ecológica nos faria entender que os ciclos de vida e morte são inevitáveis, que as doenças são caminhos possíveis. A imortalidade da alma nos deixa estagiários destes processos. É verdade, porém, que viemos, com nossa tecnologia, alargando vários limites da natureza. Algumas dessas nossas tentativas descambam em não menos naturais desequilíbrios que nos convidam a empreender melhores respostas. Não se defende o crescimento zero, mas o crescimento bem guiado pela inteligência e pela ética a fim de tornar o desenvolvimento o mais democrático possível. Somos destinados a fazer imperar o cosmos sobre o caos, mas nunca em benefício de uma oligarquia olímpica. As tentativas que se direcionam para o privilégio são corrupções da nossa missão e sempre tendem a desandar. De outro modo, assim como em pequena escala o Espírito é responsável pelo origami do corpo, em larga escala, nossas ações como humanidade se refletem em tudo que nos é considerado meio de existência. Está perfeitamente conforme à cosmovisão espírita pensar que as catástrofes
naturais possam refletir o estado de espírito dos homens e mulheres, formando bolsões de miasmas que se precipitam sobre nós o que, aos tempos do Egito antigo, foram considerados como pragas, e que, todavia, tinha menos a ver com a ação direta de Deus do que com a repercussão dos nossos atos sobre o mundo. A missão do Brasil Certa corrente do pensamento espírita imagina ser o Brasil um grande acolhedor das práticas do Evangelho. E, como ele tivesse sido destinado por Jesus para acolher os aflitos do mundo, é provável que alguém nos fale que os Espíritos envolvidos em crimes de outras nações estejam sendo destinados para compor nossas novas crianças cujos corpos débeis servem de poderoso cadinho para as transformações viscerais do espírito imortal. O que todas essas teses apontam é que não devemos vestir a túnica dos coitados do mundo, que o desespero deve ser convertido em trabalho, que o amor pelo próximo e o acolhimento dos debilitados deve ser, mais do que nunca, a tônica de nossos corações.
Microcefalia segundo o espiritismo (parte 2 - resposta) O correligionário Erick Machado comentou sobre o texto que eu havia escrito sobre o tema a fim de deixar os posicionamentos mais sãos. Então, vejamos o texto de Erick: (Meus comentários entre parênteses). A tese das expiações evolutivas ou das dores do parto O surto não acomete “populações inteiras”. A prevalência da microcefalia, mesmo em surto 20 vezes maior que o comum, não chega a 1 em 1000 nascimentos no país. Para se ter uma ideia, a Síndrome de Down tem incidência de 1 a cada 800. E não é um surto pontual. Isso para não falar em todas as outras condições que afetam as crianças. A associação desses nascimentos a um suposto tempo que se finda é quimérica, falaciosa. As guerras já foram mais constantes, as corrupções, a violência, a injustiça de leis parciais, tudo já foi pior. Ava n ç a m o s . L e n t a m e n t e , m a s a va n ç a m o s . Conforme diz sabiamente “A Gênese”, não se darão abalos físicos como sinal dos tempos, mas unicamente morais. A microcefalia é uma questão
de ordem física e, portanto, não pode ser vista, sob a ótica espírita, como nenhum tipo de sinal. É apenas o reflexo da nossa falta de cuidado físico com um vetor de transmissão de outras doenças, vetor que não combatemos adequadamente. • (A Vigilância Epidemiológica do Ceará se alarma exatamente porque há um aumento da incidência de microcefalia sem precedentes na coorte histórica dos últimos anos, e, segundo BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO MICROCEFALIA de 30 de novembro de 2015 já existem casos em torno de 14 estados do Brasil, a maioria esmagadora no Nordeste. Acredito que isso justifica a utilização do termo " p o p u l a ç õ e s i n t e i ra s " , a o m e n o s c o m o metonímia). • (Sobre avançarmos lentamente, Kardec também coloca que há abalos súbitos que devastam toda uma forma de pensar, substituindo-a. De qualquer forma, Erick nos lembrou um texto magnífico do codificador presente em seu último livro "A Gênese", cuja profundidade não tenho como discutir aqui, mas que vale a pena ser lido: "São chegados os tempos". De todo modo, gostaria de me afastar da atitude de conceituar o surto da microcefalia em nossos recémnascidos um sinal, mas uma situação de catástrofe que merece a preparação de nossos corações)
Sobre o caráter dos Espíritos envolvidos As condições do corpo nada mais são que as condições melhores para cumprimento de suas necessidades de crescimento na Terra. Como parcialmente levantado no texto, podem ser provas de Espíritos comuns, podem ser expiações de Espíritos maus, podem ser missões de Espíritos elevados, pode ser uma prova para os pais, mais que para o próprio. Notemos que, nessa condição, o Espírito estará privado de muitas escolhas morais que poderiam concorrer para o seu adiantamento, se tivessem maiores possibilidades. São inúmeros os caminhos. Nada se pode dizer quanto ao caráter de um Espírito baseado na dificuldade de sua condição material, de modo que os casos de microcefalia são exatamente iguais a qualquer outro nascimento em qualquer corpo: nada se pode afirmar sobre o Espírito reencarnante. • (Aqui Erick quis enfatizar que não devemos nos preocupar com o que a criança pode ter sido em outras vidas - são infinitas as possibilidades explicativas dessa forma de existir. Essa sua precaução nos ajuda muito a não cair no erro de julgar o ser humano que sofre em corpo malformado como sendo merecedor ou não desse mal. Precisamos, independente de passados, lhe oferecer abrigo e fortes braços que o sustentem agora.)
Ademais, não existe “fragilidade” do perispírito. Existe a fragilidade ou força do Espírito, sobre a qual, insisto, o corpo nada diz. Se o corpo nada diz, dissertar sobre o caráter dos Espíritos e a microcefalia é dissertação vazia de significado. • (Talvez, de fato, não valha a pena insistir na especulação do passado analisando o corpo destas crianças microcefálicas. Mas, creio existir uma arqueologia da imortalidade esculpida em nosso corpo. Não entendo porque isso seria vazio de significado. Nos oferece mil nortes para encararmos a solidariedade das vidas sucessivas). Sobre a "culpa" da natureza Não está conforme a visão espírita pensar que as catástrofes naturais possam refletir o estado de espírito dos homens e mulheres. Não existe base alguma na Doutrina Espírita para falar em “bolsões de miasmas”. O que repercute no mundo físico é a nossa ação física e as leis naturais. Nenhuma delas diz que podemos, por efeito de nossos pensamentos, atrair vírus e mosquitos para infectar populações. A nossa imprevidência no campo físico deu origem a essa possibilidade, e Espíritos reencarnantes que julgaram ou foram julgados como adequados para ocupar esses corpos se aproveitaram da oportunidade ensejada. Nada mais.
• ("Bolsões de miasmas" soou estranho, não é? Deixo essa expressão em suspenso porque participa de um contexto de explicação de uma medicina antiga que a medicina moderna entende ter derrotado, mas que não estou tão certo de ter conseguido. Quando Erick diz que "o que repercute no mundo físico é a nossa ação física e as leis naturais" me parece desconsiderar completamente a ação, por exemplo, da prece que pode chegar até mesmo a curar doenças, acalmar fúrias à distância, enxugar lágrimas escondidas. A prece é uma ação simples cujo poder me faz crer que o mundo físico não é tão imune assim à ação de nossos pensamentos. Não vejo porque a influência de nossos pensamentos sobre a materialidade do mundo não possa ser também uma lei natural.) A missão do Brasil A corrente de pensamento de um Brasil missionário carece de fundamentações mínimas. Suas descrições entram em franco desacordo com o que se conhece acerca de Jesus pela ótica espírita, mostrando um ser eventualmente dolorido e amargurado, distante das descrições dos Espíritos Puros. Mostram um governador do planeta que desconhece o território pelo qual é responsável. O Brasil não é o melhor nem pior país. Não é o mais
adiantado nem o mais atrasado. Não é o mais moralizado, nem o mais deturpado. Tem avanços e atrasos como qualquer outro. Nada há de especial no Brasil que possa distingui-lo como merecedor de qualquer missão mais especial que os demais. Há aqui corrupção moral o suficiente para ocupar nossas crianças, embora os países e os mundos sejam solidários na reencarnação dos Espíritos. Não há nada aqui que possa ser de mais valia a esses espíritos que não haja em outras terras, até mais abundantemente. • (Então, eis um contra-ponto de um estudioso da Doutrina Espírita sobre a questão do Brasil missionário. De todo modo, se o Brasil em si não guarda qualquer missão, nós o fazemos, cada um tendo que contribuir para o melhoramento do mundo e a materialização do amor ao próximo que Jesus nos aconselhou a fim de por término a esses ciclos de sofrimentos em que nos vemos enredados por tanto tempo). CONCLUSÕES QUE TIRO PARA MIM 1 Devemos nos importar menos com as causas íntimas das aflições do que nos fortalecer para saná-las; 2 Insistir menos nas especulações do nosso passado e investir mais nas ações de hoje;
3 Considerar a prece como uma forte aliada para ajudar-nos na materialidade de nossos problemas; 4 Não esquecer que, não importa quem sejamos, viemos sempre à terra com uma missão para o bem. *** Retorno de Erick Machado No mesmo sentido de síntese, aproximação e complementação de ideias, gostaria de deixar apenas pequenos pontos que, me parecem, vem ao encontro do que o amigo ponderou em todas as questões. Dores do parto • Como metonímia, acredito ser aceitável a expressão "populações inteiras". Minha questão era que existem condições comparáveis à microcefalia em bem maior quantidade, diariamente. Isso minimiza episódio do surto como oportunidade reencarnatória extraordinária. De resto, concordo com os apontamentos. Caráter dos Espíritos envolvidos • Aqui acredito que aqui nossa diferença seja mais de foco que de conteúdo. Concordo com você que, individualmente, a condição corporal seja norte
p a ra e n t e n d e r a s o l i d a r i e d a d e d a s v i d a s sucessivas. Perfeito. O que não acredito ser possível é a generalização de que uma condição corporal, como a microcefalia, possa determinar, d e f o r m a g e ra l , o c a r á t e r d o s E s p í r i t o s reencarnantes. Acho que há complementação de pensamentos: ambos acreditamos na mesma relação entre corpo e Espírito; mas eu me referi ao fato de que, dadas as múltiplas condições possíveis do Espírito, não é possível determinar, pelo corpo, qual delas está em questão, e você se referindo ao fato de que, ainda que não possamos apontar que condição é essa, não é sem razão que aquele Espírito vem naquele corpo. Culpa da Natureza • Entendo que apesar de uma divergência sutil, novamente temos mais uma questão de foco. O amigo tem razão quando lembra a prece como forma de interferência do espírito na matéria, via perispírito. Ainda assim, entendo que a interferência tem foco moral, antes de tudo. As lágrimas enxugadas e mesmo as doenças têm essência moral por trás de si. Contudo, embora entenda que, no caso da microcefalia, o pensamento não tenha interferido numa suposta "atração" do surto em si, acredito ter me equivocado ao dar a entender que apenas o físico interfere no físico, já que concordo que o pensamento pode interferir notoriamente na materialidade.
Missão do Brasil • Concordo plenamente. Mesmo advogando contra a tese do Brasil missionário, não podemos perder de vista que a cada um de nós foram confiadas missões de acordo com nosso conhecimento e capacidade.
Microcefalia segundo o espiritismo (parte 3 - mensagem de consolo) Por Erick Machado “O que dizer para uma mãe que descobre que seu filho tem microcefalia e se pergunta o porquê de tudo isso?” Antes de tudo, importa esclarecer para qual mãe eu diria o que diria. Uma mãe que se pergunta pode procurar as respostas em muitos lugares... Então, de princípio, eu jamais me dirigiria a uma ou várias mães para falar do Espiritismo a menos que elas se mostrassem dispostas a tal; seria uma ofensa, num momento de fragilidade, despejar crenças estranhas a elas. Portanto, apenas diria qualquer coisa diretamente ligada ao Espiritismo caso fosse uma vontade da mãe conhecer mais sobre o assunto, por respeito a ela e sua dor. Com um último adendo: incluo o pai também. Resquícios infelizes ainda nos prendem a uma responsabilidade diminuída do sexo masculino, a qual acho importante refutar e recolocar. O pai responsável ama e sofre como a mãe; junto com ela. Nesse caso, antes de tudo eu lembraria Deus. Traço comum das religiões, a simples lembrança
que temos um Pai amoroso que nunca se descuida de nós tem potencial altamente consolador. A certeza de que alguém olha por nós, velando por todos os nossos passos e cuidando de nossas dores mais ocultas oferece a promessa de uma tranquilidade segura. Não esquecer nem se distanciar de Deus é o primeiro passo. Contudo, alguém que procura o Espiritismo sabe que isso não basta... Sua alma anseia por mais. Por uma fé com embasamento. Por que eu? Por que meu filho? A Justiça Divina, para ser efetiva, precisa abarcar mais que essa vida. Logo, recorremos a reencarnação. A ciência de que vivemos inúmeras vezes, colhendo e plantando, sucessivamente, abre caminho para novas reflexões. Não sabemos e x a t a m e n t e a ra z ã o, m a s e n t e n d e m o s o s mecanismos. Mas ainda não é o suficiente saber da sucessão das vidas. Milênios da Lei de Talião impregnados em nossas sociedades dirigem imediatamente o pensamento à culpa do erro castigado. Sinônimo de punição? Não. Não é o que consolará uma mãe, um pai. Será necessário participa-los da grandeza Divina. Deus não é mero punidor, que nos faz “pagar” os erros em moeda de sofrimento. Reencarnação, provas e expiações são apenas os meios de um fim: o aprendizado, o alcance da perfeição, o conhecimento de si mesmo e a ação regida pelas Leis Naturais. Sob esse novo panorama, não sabemos se punição, se
consequência, se missão; sabemos apenas que, seja o que tenha sido, o véu nos foi estendido para que nos concentremos no que há a fazer, em vez de estarmos atados improdutivamente ao que foi. É a melhor oportunidade que nos cabe, oferecida segundo a misericórdia do Pai. Novo recomeço. Chance renovada de se fazer melhor que o ontem. Redenção pelo amor. Eis a tarefa. E... o que fazer, de fato, de posse desse novo olhar? Amar. As dificuldades que se apresentarem, que oferecerem resistência à ideia do amor são exatamente o que deve ser combatido em nós mesmos. Como todo véu, sob a luz adequada é possível ver vultos por trás do ocultamento; cada mancha que se revele contra a luz é sinal de luta passada ainda por vencer. Orgulho, vergonha da sociedade, medo de falhar, dificuldades materiais... Tudo aponta para o que já fomos e o que precisamos vir a ser. Conscientes da verdade de que o Senhor da Vida olha por nós, que não nos desampara, que oferece a redenção pela justiça através das melhores oportunidades, segundo a nossa semeadura, o caminho está traçado. Não poupará levianamente das dores nem das lutas. Mas provará, diariamente, que o alcance da felicidade só depende de nós. Na perseverança por agir no bem e na sabedoria do olhar consciente que lançamos à nossa própria condição. Munidos da fé raciocinada,
da esperanรงa no futuro e tendo a caridade como forรงa motriz, inevitavelmente venceremos, em paz.
A contribuição de Nietzsche para o Espiritismo Este assunto é extremamente polêmico. Nunca vi abordagem nenhuma a respeito. Pelo contrário, só vejo ataques contra o filósofo do martelo. Nietzsche mesmo se considerava o imoralista, mas o Espiritismo tem um fim eminentemente moral; se considerava o anticristo, mas o Espiritismo se considera filho do Cristianismo. Então, em que lamaçal eu vou querer entrar? A maior contribuição que Nietzsche legou ao pensamento humano foi a desconstrução dos ídolos. Para ele, ídolos eram todas as ideologias que colocavam esse mundo daqui como inferior ao “mundo de lá”, as coisas de agora como inferiores a de outrora. Incluía nessa iconoclastia as doutrinas de promessas de um mundo melhor, haja vista, comunismo e anarquismo. Todas as profecias levavam a se querer mais do que se tem, e a amar menos o que se é. Eis a denúncia mais importante e norteadora de toda a filosofia nietzscheana: a relativização da nossa vida de agora por qualquer coisa do além.
Mas, o Espiritismo é tudo isso: doutrina do amanhã, do futuro, da vida do além! O martelo de Nietzsche acertaria a nossa doutrina em cheio. Não. Aí é que está! Dentro da nossa doutrina há as promessas, mas há também os chamados para viver a vida em abundância desde já. Pululam de mensagens dos Espíritos o convite para admirar a obra do Criador que nos cerca desde o presente momento. Viver as pequenas felicidades desse mundo, mas vivê-las de tal modo que possamos santificá-las. Não é nos exortar para uma vida de sacrifício, mas para um deleitamento da riqueza de nosso pai: somos os herdeiros da Terra. A vida transborda em todos os cantos do universo. Espuma o cosmos em arrebatadora imponência! Até a própria reencarnação pode ser vista como parte desse projeto de viver tudo aqui em baixo em plenitude. A morte nos arremessa para o lado de lá? O renascimento nos devolve para o lado de cá! E, no vaivém desse mar existencial, nos revoltamos contra as ondas em que espiralamos, até que possamos estar entregues a graça de pairar sobre o fluxo da vida. Serenidade! Então, Nietzsche faz uma denúncia para as doutrinas do amanhã que é importante estarmos atentos, sob pena de estarmos deixando manifestar a doença de nossa alma, a decrepitude do nosso espírito, em uma palavra, a falta de vontade de viver. Mas, o que acontece com as mil dores que nos circundam nos seres que amamos? Como amar os nossos
próximos, não os distante, mas aqueles mais íntimos, sem sentir o peso do sofrimento que os perturba? E mesmo os próximos desconhecidos: como não se inquietar com a fome dos africanos, com a ossada de crianças famintas, com a ferida aberta de países em guerra? Se entregar perpetuamente a fruição do prazer do momento presente não seria cinismo, indiferença mórbida diante dos semelhantes que são consumidos nas injustiças sociais? Eis o outro lado da moeda para cuja efígie Nietzsche olhava com sincero nojo. Mas que nós, os trabalhadores por um mundo novo, olhamos com desejo do melhor: - Não podemos amar plenamente, enquanto não amarmos todos unidos, de uma vez só!
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Naruto e o Espiritismo Naruto é um desenho japonês que conta a história de um garoto em cujo corpo está selado o espírito de uma raposa de nove caudas, uma entidade extremamente destruidora. Pela influência da raposa, ou não, sua personalidade é muito impulsiva e irritadiça. É aluno de uma escola ninja e tem o sonho de ocupar, um dia, o mais alto posto da aldeia, relacionado a essa arte marcial. Para isso, precisa seguir uma ascese espiritual que tem como uma das lições aprender a controlar o "chakra" da raposa dentro de si. Segundo o desenho, chakra seria a energia espiritual que mantém o corpo vivo e batalhador. Geralmente temos essa energia fluindo em nós de forma inconsciente, mas quando aprendemos a dominá-la podemos realizar grandes feitos. Aqui começa a profanação, digo, a comparação. Para o espiritismo somos dotados de uma força vital que nos mantém vivos. E essa força pode ser instrumentalizada para muitos prodígios. Ela descende do universo e é utilizada pelo Espírito reencarnante para dirigir a embriogênese e o metabolismo do corpo. O seu desequilíbrio é a causa da maior parte das doenças. Sua harmonia, da saúde. Contudo, podemos nos valer dela para curar outras pessoas, fazer os ditos milagres.
Por exemplo, uma das explicações possíveis para as curas que acontecem nos cultos das igrejas cristãs reformadas é o grande influxo de energia vital que é trocado entre os sãos e os doentes mediatizado pela fé. Assim como em Naruto, a utilização dessa energia requer um aprendizado árduo, diria mesmo, ninja! A facilidade está diretamente relacionada com (1) a quantidade de energia disponível, o que pode ser em virtude de uma multidão com pensamento devotado a isso; (2) ao esforço próprio de uma vida disciplinada, o que explica, em parte, o milagre dos santos; (3) à influência de uma entidade infinitamente superior que nos utiliza como meio, é o caso da raposa de nove caudas presa em Naruto, é o caso de Jesus que liberta o ego de Paulo de Tarso a tal ponto de um dia - após muito exercício ninja-apostólico - o convertido de Damasco dizer "não sou eu quem vivo, mas o Cristo que vive em mim." A questão é que Naruto nos dá uma excelente ideia de como deve ser a coisa para aquele que enxerga o mundo como o espiritismo ensina: nós podemos atuar energeticamente sobre os outros, ou Grandes Espíritos através de nós, contanto que nos dediquemos ao exercício do nosso próprio controle.
Ă&#x2030; assim que um passe meu vale menos que de uma pedra (fui correndo hoje de madrugada pegar o ibuprofeno pra baixar a febre do meu filho porque jĂĄ chegava aos quarenta e nada de ceder com meu "chakra"), mas o de Chico Xavier, Francisco de Assis, Madre Tereza, etc...
Dons do Espírito Santo e Mediunidade Entrevista de Pedro Siqueira com Gabi (Parte I) Adoro quando encontro fora do Espiritismo o que Allan Kardec encontrou para codificar o mesmo. Afinal, os fenômenos espíritas são de toda a história da humanidade, mas a doutrina tem data de nascimento, haja vista, 18 de abril de 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos. Inaugurava-se, assim, no vocabulário mundial, as palavras Espiritismo, para designar a doutrina, e Espírita, para seus seguidores-estudiosos, entre outras tantas que completam nosso jargão. Nascia, junto com elas, uma forma completamente diferente de encarar o fenômeno. Minha esposa me apresentou a entrevista de Pedro Siqueira, médium católico que prefere dizer ser agraciado com os “dons do Espírito Santo” ou, no máximo, paranormal, termo “mais neutro”. Seu discurso endossa em vários pontos o que o Espiritismo fala sobre o fenômeno mediúnico. Citei algumas ideias, transcrevi algumas falas e tomei a liberdade com algumas respostas para esclarecer vários pontos sobre o assunto. Claro que estamos lidando aqui com um exemplo isolado, mas Kardec estudou vários casos no intuito de tentar chegar a conclusões gerais, ou melhor, universais,
que pudessem ser extrapoladas para todos os casos, como pretende todo exercício científico. Então, vejamos: 1. “Pedro conta isso com uma enorme simplicidade”, diz Gabi. “Pra mim era normal, era uma coisa que acontecia todo dia...”, ratifica Pedro. •
A mediunidade é algo natural. Como um relâmpago que cai ou como o Sol que nasce e morre dia após dia. Algumas pessoas tem o contato com o mundo espiritual de forma mais intensa, outras menos, mas todos temos uma ligação com este mundo que nos circunda. A concepção espírita do homem é que ele é um ser interexistencial, isto é, nossa consciência navega entre as percepções extra-sensoriais, próprias do corpo espiritual, e as sensoriais, próprias do corpo físico, como um marinheiro que ora está atento ao leme do barco, ora às ondas do mar. Demos, por convenção, para chamar médium apenas aqueles que tem a percepção mais intensa do mundo espiritual.
2. Pedro via seres angelicais que o protegiam e seres demoníacos que o faziam chorar desde a infância. Um deles, um homem de traços finos e rosto angulado, vestido de túnica verde, face iluminada, era o seu anjo da guarda. • O mundo espiritual e o material são um só e o mesmo mundo. Não são dimensões paralelas, mas imbricadas. É como reconhecer que a Terra
e a Via-Láctea fazem parte do mesmo espaço. Nesse mundo único há milhares de habitantes, entre encarnados (que residem na carne) e desencarnados (que dela estão livres, ainda que temporariamente). Alguns bons, angelicais até, outros nem tanto, demoníacos, se muito cruéis. Nada muito diferente do que vemos por aqui. 3. A mãe do Pedrinho o proibia de ficar revelando os dons para as pessoas, porque começou a ver um aproveitamento constrangedor por parte delas. • Moisés, o primeiro libertador dos hebreus, também proibiu seu povo de lidar prosaicamente com a mediunidade. Não era uma condenação perpétua, era uma prudência justificável. Não é pecado o fenômeno em si, mas o uso que se faz dele. 4. No início ia para médicos para se tratar das visões, dos terrores noturnos, nada encontrando. • Não há nada, até hoje, que culpe o fenômeno mediúnico com evidência científica. Os portadores de transtorno mental médiuns são tão numerosos quanto os que não são. Dizia certa anedota inscrita em um hospício à antiga: “Nem todos os que são aqui estão!”. E, nos
alerta o movimento anti-manicomial, nem todos os que estão aqui são. 5. Deus é pai de todos e Nossa Senhora é mãe da humanidade, independente da crença. “Se a pessoa tem uma vida que tem essa adoração por Deus (...), que tem atos de amor e caridade, é uma pessoa correta, é uma pessoa que se esforça pelo próximo, que se esforça em evoluir espiritualmente, eu acredito que essa pessoa vá para o céu, independente da religião dela.” • A opinião de Pedro Siqueira é lei para o Espiritismo. Nem a igreja, essa ou aquela, nem a ciência são caminhos exclusivos de salvação, só a caridade! Salvar-se de que? Essa é uma pergunta ótima e que não dá para falar aqui em rápidas palavras. Ainda abordarei esse assunto (ver o marcador Soteriologia). 6. “Minha missão é difundir essa amizade com Deus.” • Sempre buscando deixar acessível a quem não crê em Deus essas ideias, eu reforço que a “amizade com Deus” está ligada a questão da espiritualidade. Ao contrário do que muitos pensam, espiritualidade não é igual a religião, mas a religião é uma das formas de espiritualidade. Particularmente na
espiritualidade católica, segundo Pedro Siqueira, e também na espiritualidade espírita, a intimidade com Deus, ou com a ideia de Deus, nos faz ter menos pressa, menos apego ao que passa, mais paciência, mais sapiência de esperar, isto é, mais confiança na providência divina, que se manifesta com uma visão sempre otimista da história, sem, contudo, deixar de buscar, de tentar resolver, de trabalhar. Não é preciso ver, ouvir, sentir a pressão na pele para se dizer médium. Praticamente toda intuição é mediúnica. A oração é um ato mediúnico. Falo aqui de uma mediunidade natural, que é aquela que nos permite entrar em conexão a qualquer momento com o que nos eleva acima da matéria. Estes indivíduos de mediunidade mais aguçada têm a divina missão de nos mostrar aquilo que deixamos passar despercebido pelo embotamento diário da correria infinda das coisas que nos tocam o sentido de forma mais imediata. Isso é revelação. Se parássemos para prestar atenção nas forças ocultas que movimentam nossa vida, dentro e fora de nós, teríamos mais consciência dessa realidade que transcende o óbvio cotidiano. Comento os outros blocos da entrevista aqui e aqui.
Decifrando o filme A VIAGEM Acredito que possuo algumas chaves para compartilhar rumo a decifração do filme A Viagem dos irmãos Wachowski. A primeira delas é a concepção de reencarnação nela passada. É uma que, definitivamente, mantém a individualidade e a aspiração dos Espíritos entre uma vida e outra, bem como seus medos, seus entraves, suas necessidades de superação. A segunda é uma dica aos espíritas que forem assistir. Favor, não ir esperando que os erros de uma vida passada devem ser "pagos" na outra vida, como uma Lei de Talião universal. O que parece se desenrolar em todos aqueles tempos, e que podemos concluir que deve ser assim para todos os tempos sucessivos, são grandes dramas da condição humana, isto é, vontade de liberdade, vontade de saber, vontade de amar, vontade de ser feliz. Todos temas que conduzem a transcendência da "ordem natural". Existe a repetição do padrão aprisionamento-libertação em todas as épocas. Uma mensagem que corre os mares e os ares, saindo de um tempo a outro. Não me surpreenderia se houvesse uma simbologia importante presente na água do mar que
acolhe o navio que inicia o filme, na água que quase afoga a repórter investigativa fazendo perder certos documentos importantes, e no fluido cósmico que transmite a "verdadeira verdade"para o espaço infinito. De qualquer forma, o tempo é um imenso mar composto por mil gotas. Não é a toa que os fluxos daquelas vidas se misturam como ondas revoltas desrespeitando o tempo e o espaço convencionais. Não é no tempo que devemos nos concentrar muito, mas nos dramas, os mesmos dramas humanos de libertação. Existe uma clássica metáfora filosófica de como seria a visão de Deus. Claro que é algo pretensioso querer explicar "a visão de Deus", mas houve quem ousou fazer. E, de forma simples, é como se fosse uma partitura. Na folha de papel está toda a música em um só instante. Quando eu a entrego a um músico, entrego-a de forma integral, pronta, fechada. E os dedos do instrumentista a vai deslindar no instrumento que quiser tocar. Mas, ela, no papel, está toda, inteira, incólume. Em certo momento do filme, quando um dos ciclos está se fechando, a partitura é terminada. A grande metáfora do filme está na partitura! Não é a toa que, em inglês, seu nome é Cloud Atlas, assim como o do concerto escrito pelo jovem músico. Eis o motivo de a estética do filme se passar misturando, como em um grande concerto, o tempo, o espaço, as pessoas. Tudo é uma coisa só.
Por fim, veja que coisa!, há uma revolução sem precedentes na forma de encarar as profecias expelidas pela boca da sacerdotisa. Em uma das histórias, a que finaliza, o personagem do Tom Hanks, que até então vem seguindo direitinho todo o combinado pelo vaticínio, desobedece em prol da vida de uma criança. Ele se utiliza da sua liberdade, quebrando a ordem pretensamente divina, a fim de dar lugar ao que o seu coração diz sobre como melhor salvar a pessoa que ele ama. Ele já tinha feito isso antes com o Espírito maligno que o acompanhava. Repete o feito. E não se arrepende. Por que revolucionário? Porque não é mais seguindo a mensagem do Deus (ou do Diabo) exterior que o homem constrói sua vida, mas seguindo a que vem do seu peito. É como se deixássemos de acreditar que é o Sol que gira em torno da Terra. Isso contrasta completamente com a mentalidade do povo primitivo a que pertencia. Isso o entrega a u m a n o va f o r m a d e t ra n s c e n d ê n c i a . U m a transcendência que nasce dentro de si, da sua imanência. Isso lhe coloca no controle da sua própria vida. É assustador, e apaixonante. Eu tinha falado sobre o fim, mas o fim mesmo é quando tudo acaba. Quando sua vida acabar, para onde você pensa ir? Para o paraíso, para o inferno? Assistam ao filme e vocês verão que a resposta que ele propõe não se distancia muito da que Ulisses de Homero daria. E há quanto tempo Odisséia foi escrita? Não parece, certamente, ser o tempo que importa!
O que o Espiritismo tem a falar sobre tudo isso, falo depois. Haverรก tempos...
Diálogo com um jovem pensando em suicídio Sinto-me deslocado. Essa sua sensação de já não estar entre nós, ver tudo passando como um filme chato, seus sentimentos ilesos ao que acontece conosco, é parte dessa verdade de que você é um Espírito para além deste corpo. Seu Espírito parece estar deslocado. O corpo emite sinais ao Espírito distante. Se isso fosse apenas um vôo, te pouparia da minha fala. Mas, se anda gerando vontade de morte, não posso me abster de tentar te convencer do contrário. Toda vontade de morte é doença. Precisamos ir em busca do que te devolve vida, potência de existir. Por que insistir em mim? Conheço seus familiares. Estão aflitos. A aflição em perder alguém é uma das formas de amor. Um amor que se acalma com a presença do ser amado. Sofre com a distância. Há, de outro modo, nas nossas crenças (e na comunicação dos Espíritos), a ideia de que não é boa coisa tirar deliberadamente a vida. O estado de alma depressivo se perpetua depois da morte. Esse inferno na consciência
permanece e queima na pele do Espírito como se estivesse em carne viva. Por que Deus fez um universo com sofrimento? Não sei. Sério. Não sei. Ainda não consegui entender completamente a cabeça de Deus. E, sinceramente, não sei se conseguirei nos próximos dias. O universo que Deus fez é este aí que estamos vendo. Há belezas estonteantes que a sua visão cinza atual não enxerga. E há a feiúra que sua visão acizenta mais do que deveria. Queria te convidar a pintar os olhos. Não se pode colorir a feiúra, mas há quem peleje por saná-la. Agora não. Mas, podemos vir a ser destes últimos, um dia. Diálogo com o Espírito que o induz ao suicídio Vo c ê n ã o a p a r e c e . E s e m i s t u r a n o s pensamentos do rapaz como se fosse os dele. No início até poderia se distinguir, mas hoje a relação que você conseguiu construir é tão emaranhada que o pobre pensa serem uma só e a mesma pessoa. Não posso te censurar. Sinto que vocês dois se amaram muito em outra vida. Um amor traído, não foi? Hoje virou vingança. Ainda é amor, não é? Mas, adoecido. Se ao menos ele acreditasse em reencarnação e que os Espíritos podem atuar em nossa vida, eu
poderia convencê-lo a lutar contra você ou te perdoar e pedir que se pacifique. Mas, não acredita, e pensa que tudo o que chega no coração vem dele mesmo. Sente-se mau por pensar em se matar, em se cortar, em se intoxicar. E ser alguém mau o fere ainda mais do que a faca. Por que Deus permitiu que nós nos reencontrássemos e déssemos seguimento a essa simbiose de morte? Suponho que Ele queira ver os filhos se entenderem. Que os nós sejam desatados por nós. Vê. Você não é um demônio. É apenas alguém precisando ser amado. E será. (Continua)1
1Texto
baseado em um conjunto de diálogos com pessoas em sofrimento atendidas ao Lar Espírita Chico Xavier.
Sobre a carta psicografada de Cássia Eller Suposta carta psicografada de Cássia Eller é divulgada na web. Leia a matéria aqui
Mexer com a atividade de Correio do Além é como mexer em uma casa de maribondo. Ainda mais quando se trata de um personagem famoso. Primeiro de tudo porque o médium terá que lidar com o luto das famílias, as fortes emoções que podem advir das revelações sobre a vida após esta vida. Depois, porque o quesito da identidade de uma comunicação é recheado de sutilezas que vão muito além de deixar transparecer particularidades da relação que unia o remetente e o destinatário. Eu mesmo já tive um momento eufórico de intensa vontade de psicografia sobre a morte de um colega de trabalho. Assaltou-me a vontade de correr à sua família e contar minhas visões. Mas, como estava envolvido emocionalmente demais com o ocorrido, busquei ajudar de outra forma que não através dessa revelação intervencionista. Tão importante quanto deixar passar, é saber calar. Eis uma lição que Chico Xavier aprendeu em seu mediunato. Por que muitos médiuns, de todas as c u l t u ra s , f a l a m p o r p a r á b o l a s , m e t á f o ra s , provérbios? Porque a revelação sem intermediação
do simbólico poderia chocar as mentes mais do que esclarecer, perturbar mais do que ajudar. As parábolas tem o mérito do exercício da interpretação que, quando bem conduzida, oferece lições para além do simples recado. É bem melhor que as comunicações mediúnicas não sejam enquadradas no binômio verdade-falsidade, mas de verossímeis ou não. Verossímel é aquilo que guarda relação de possibilidade com a realidade, já que não podemos firmemente afirmar que seja de fato. E, se pensarmos bem, toda história, qualquer que seja ela, que não está sendo presenciada e vivida pela própria pessoa, que está apenas sendo narrada, transcrita, só pode ser analisada nos termos da verossimilhança. Se quisermos ser rigorosos, mesmo a história narrada por alguém que acabou de chegar do evento, só pode ser no máximo verossímel, já que toda narração é intensamente construída pelo narrador, com seu ponto de vista bem particular. A relação mediúnica SEMPRE é uma interação entre o Espírito comunicante e o Espírito do médium. A mensagem SEMPRE tem participação das duas mentes. É um ajudando a contar a história do outro. Vede, então, a reserva que tem de se ter para com "a verdade" daquilo.
No mais, acho a carta de Cássia Eller bem verossímel. As descrições do ambiente do "inferno" muito semelhante a de vários Espíritos que já se comunicaram em situações semelhantes, embora haja essa estranha presença destes "dragões" cuja descrição já se apresentou em psicografias de Chico Xavier pelo Espírito André Luís, salvo engano, no romance Libertação, mas que não configura princípio de doutrina. A existência de insetos e anfíbios como figuras asquerosas a piorar o ambiente das zonas de sofrimento também é de levantar estranhamento, mas também estão presentes em vários outros relatos. A cena do reencontro com Cazuza não surpreende, ligados que os dois deviam ser pelas afinidades artísticas e comportamentais. E, por fim, a transmutação do discurso de Cássia Eller para um que valoriza a misericórdia divina não tem nada de anormal, já que, vemos isso constantemente, os sofrimentos atrozes, e a o véu que se rasga na consciência após a morte, tem o poder de reconduzir as pessoas para o pensamento em Deus. O que Kardec sempre buscava fazer era se afastar dos detalhes e buscar a essência das mensagens: 1 Há zonas de sofrimentos enormes, mas nunca eles são perpétuos; 2 O abuso do próprio corpo, e não apenas o insulto contra o vizinho, é também motivo de sofrimento;
3 A não existência de um lugar para onde vamos, mas onde já estamos, reflexo de nossa consciência viciada ("Com o fenômeno da morte, nós não vamos para o umbral, nós já estamos no umbral...); 4 O resgate chega em momento oportuno, depois que o próprio Espírito está preparado para o mesmo; 5 A união dos seres afins em lugares que são o reflexo do seu estado de espírito; 6 O esclarecimento espiritual, objetivo de todos nós que labutamos nestes círculos de luz e sombra. Sobre alguma particularidade que revelasse, sem sombra de dúvidas, a identidade do Espírito, não as enxerguei, mas nem conheço a intimidade de Cássia Eller tanto assim. Contudo, já não é suficientemente reconfortante saber que não há sofrimento eterno e tudo se encaminha para desfechos de grandes aprendizados em uma ascese espiritual interior? Aconselho a leitura desta matéria aqui também.
Homossexualidade segundo o diálogo entre dois espíritas Um colega me perguntou sobre a abordagem espírita do homossexual. Esse é um dos temas que não vejo explícita a explicação nas obras básicas que Kardec escreveu. E, como o assunto está cheio de lutas e mortes (!) ao seu redor, decidi, em vez de formular uma resposta teórica, procurar alguém que vive isso em nosso meio. Essa pessoa que entrevistei participa ativamente do nosso movimento espírita. Um sorriso bem aberto habitual sempre a acolher os amigos. Vive a vida sem se perturbar sobremaneira com o que os outros pensam, prestando culto apenas às leis que palpitam em seu coração, que são, desde há muito, adocicadas pelo Espiritismo. A conversa foi agradável. No início eu estava um tanto nervoso, porque receava usar palavras que a ofendesse e desrespeitasse o movimento contra a homofobia que cresce neste último século, entendendo que há todo um esforço intelectual da parte deles para deixar as terminologias claras. Depois fui encontrando meu lugar de conforto para falar.
Perceba que não coloquei no título a Homossexualidade segundo O ESPIRITISMO. Dizer que nossa visão é a que deve ser de todo e qualquer espírita é se exceder. A preciosidade deste diálogo está em duas almas conversando sobre assuntos da ordem da intimidade com a caridade que devemos uns para com os outros. *** Allan Denizard: Deixa eu começar perguntando algo bem prático. Alguma vez você foi recepcionado de forma hostil em algum centro espírita que soubesse da sua opção sexual? Entrevistado: Não. Mesmo porque eu chego e só depois as pessoas tomam conhecimento da minha ORIENTAÇÃO sexual (cuidado com isso). E também não é algo que eu precise falar, as pessoas percebem, porque eu sempre estou com meu parceiro. Só algumas pessoas é que demoram a entender isso Allan Denizard: (Pois é, tenho que saber quais os termos mais "politicamente corretos" para tratar do assunto) Entrevistado: Acho que porque não faz parte da realidade de algumas pessoas, elas acham que eu e meu parceiro somos só amigos ou algo assim; mesmo depois de saberem que moramos juntos,
parece que a ficha não cai. (mais que politicamente correto, é científico... hehehe) Allan Denizard: (segura o científico, a gente volta pra ele) Quando as pessoas descobrem há choques frontais ou velados? Entrevistado: As impressões que eu percebi foram de surpresa, mas não negativa, só surpresa. Se houve reações negativas, foram veladas. Eu nunca as percebi. Allan Denizard: Estou querendo ver até onde pode ter chegado a reação, por isso, insisto. Alguma vez houve tentativa de sabotagem da sua atuação no centro? Entrevistado: De certa forma, houve, mas não tenho como dar certeza de que foi uma atitude homofóbica, porque foi com relação a um trabalho que eu estava desenvolvendo com um grupo de jovens trabalhadores. Allan Denizard: Me parece mesmo complicado discernir, né, uma questão dessas. Por que a nossa percepção pode ser manchada pelo nosso estado de espírito, e se em certo dia não se está tão bem, podemos associar as causas dos insucessos de nossas atividades com fatores que, em outro dia, podem não fazer tanto sentido.
Entrevistado: Verdade, e na época houve, por parte de quem nos impediu o trabalho, uma preocupação com possíveis intervenções obsessivas* [sobre o tema obsessão acesse aqui] que estavam afetando o trabalho do grupo em questão. Allan Denizard: Um jovem me abordou perguntando se para ser "iniciado" no Espiritismo propúnhamos algum tipo de cura. O que você responderia para ele? Entrevistado: Cura da homossexualidade? Me diga como médico: Homossexualidade é doença? O Espiritismo é uma doutrina científica, filosófica e religiosa. Se a ciência humana, materialista, comprova que a homossexualidade não é uma doença, porque os centros espíritas que professam a doutrina codificada por Kardec deveriam contrariála? Não se busca, em centro espírita algum, "curar" a homossexualidade, porque não é doença, tampouco opção, é apenas uma característica a mais. Allan Denizard: (Sou um médico tão excêntrico. Dou tão pouco valor ao que a medicina diz sobre qualquer fato social que vale muito mais o que eu digo como eu. Mas, te falo já sobre minha resposta a fim de submeter a sua crítica.) Daí você ter-me corrigido sobre a expressão "orientação"!
Entrevistado: Justamente. Porque a homossexualidade é a orientação do desejo sexual para pessoas com a mesma identidade de gênero, ou, para facilitar, pessoas do mesmo sexo. Allan Denizard: Você substituiu gênero por sexo como se essas palavras se equivalessem. Mas, até onde entendo, toma-se gênero pela manifestação social do que o sexo apenas sinaliza a priori, não? Sexo seria uma realidade mais biológica. À la XX ou XY. Entrevistado: De fato. Eu utilizei uma coisa pela outra pra facilitar o entendimento, porque é tão mais complexo que isso, que eu levaria muito tempo pra explicar todas as nuances (mas posso fazê-lo se quiser) Allan Denizard: Acho importante ter essas definições explicadas. Entrevistado: Vou meio que parafrasear o Dr. Andrei Moreira (à época presidente da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais) que publicou há poucos anos, pela AME (Associação Médica Espírita Brasileira), um livro em que trata de forma muito sóbria a questão da homossexualidade ("Homossexualidade sob a ótica do espírito imortal"). Existem quatro conceitos básicos para caracterizar todas as sexualidades existentes: Sexo biológico, identidade sexual, orientação sexual e papéis sexuais. Sexo, nessa perspectiva estrita que
você falou, é a ideia de sexo biológico, porque é a definição cromossômica do seu corpo. Quem nasce homem é XY e quem nasce mulher é XX. Quando se pensa em gênero, está-se falando em identidade sexual (que eu chamei anteriormente de identidade de gênero, mas agora utilizo a nomenclatura dada por Andrei Moreira). Nesse caso, o homem (XY) pode se ver como um homem ou uma mulher; e uma mulher (XX) pode se ver como uma mulher ou um homem. É a impressão que a pessoa tem quando se olha no espelho. O detalhe é que essa identidade fica clara muito cedo, mesmo na infância. A orientação sexual é a direção do desejo e do afeto para um determinado sexo, que pode ser o do indivíduo ou o oposto. Os papéis sexuais dizem respeito ao comportamento - ativo ou passivo, masculino ou feminino -, independentemente do sexo, do gênero e da orientação sexual. Por isso que há casais heterossexuais em que se percebem características tipicamente masculinas na mulher (como ser ativa, objetiva, determinada) e características tipicamente femininas no homem (como ser passivo, sensível, afetivo). (Acrescenta que a orientação sexual é às vezes chamada de sexualidade) Com base nesses quatro conceitos básicos é que a gente pode definir a heterossexualidade, a homossexualidade, a bissexualidade e a transexualidade Por exemplo: uma pessoa com o sexo biológico masculino que se identifica como homem e tem atração por mulheres é heterossexual; mas uma pessoa com o sexo biológico feminino, que se identifica como mulher e
tem a orientação do desejo para mulheres é homossexual. A coisa complica um pouco quando se fala no transexual. Allan Denizard: Entendi. Entendo também que as classificações deixam a realidade estanque. Tentando precisar as diferenças e semelhanças, acabam sufocando o movimento da coisas. Uma categoria dessa invade a outra e no final das contas o indivíduo é o que é. O que eu queria saber é se essas literaturas te ajudaram de alguma forma a se aceitar, a se entender, a se amar e amar da forma como você acha que deve amar sem culpa? Entrevistado: Desde muito novo eu me aceito muito bem, sem traumas, sem medos, sem culpa. A minha imersão no estudo do Espiritismo certamente ajudou nisso, tanto pela leitura das obras básicas da codificação quanto pelas obras "complementares", p o r a s s i m d i z e r, p r i n c i p a l m e n t e a q u e l a s psicografadas pelo Chico Xavier (a exemplo de "Vida e Sexo" de Emmanuel). Mas é claro que, como eu s e m p r e t i v e a c e i t a ç ã o f a m i l i a r, a m i n h a autoaceitação pode ter sido por isso facilitada. Allan Denizard: Toda uma literatura se construiu em análise e em defesa da homossexualidade vivida sem culpa. Por que a literatura espírita lhe encantou mais? Entrevistado: Eu já pesquisei muito sobre homossexualidade, mas, na verdade,
principalmente em fontes não espíritas. Há muito pouco material na Doutrina sobre isso. Eu diria que Andrei Moreira é pioneiro em falar tão abertamente sobre o assunto. Ainda é um tabu muito grande dentro da casa espírita. As poucas pessoas espíritas que escreveram sobre o assunto, o fizeram de forma muito limitada. Mesmo a leitura de Emmanuel é complicada hoje em dia, porque ele utiliza termos que estão em desuso nessa matéria, mas que valiam na época; por isso há quem diga que "Vida e Sexo" é preconceituoso quando fala de homossexualidade. Allan Denizard: Mas, você não achou. Entrevistado: Não, porque entendi que era a nomenclatura vigente. Allan Denizard: Há sempre muita briga no reino dos nomes para conseguir passar as ideias da melhor forma possível. Se lembra que têm nomes que Kardec pergunta aos Espíritos se ele pode usar em "O Livro dos Espíritos" e eles dizem que sim, já que não tem outra palavra melhor? Entrevistado: Pois é. Porque nossas línguas terrenas são limitadas. Allan Denizard: Kardec deve ter ficado louco com essa resposta porque ele era todo certinho com as palavras, professor de francês pra pequenos, e tal.
Entrevistado: (risos) Verdade... Talvez em Júpiter seja mais fácil de se comunicar, porque é mais a nível de pensamento, né? Allan Denizard: Total! E nesse quesito que a gente mais briga. Na questão dos desentendimentos por palavras bobas. Vou dizer o que penso: É extremamente complicado usar o termo doença. Aprendi que muitas vezes o termo doença na medicina é uma valoração social, por vezes com vieses políticos, e alguma pitada de ciência para se dar alguma autoridade a esse ou aquele nome. Por isso que torço o nariz quando alguém quer defender sua posição porque "foi provado cientificamente". Nada é! Porque eu acredito profundamente na singularidade das coisas. A ciência serve para nos dar nortes. Ela funciona à base de padrões. Mas, sempre quando se chega no nível do indivíduo ela se esfumaça. Doenças, ao meu ver, são nomes por nós utilizados para certos tipos de padrões de comportamento do corpo humano que o fazem sofrer para os quais a gente conseguiu formular condutas a fim de tentar melhorar aquele sofrimento. Mais ou menos isso. Entrevistado: Tô entendendo. Allan Denizard: Visão biologicista do Allan médico. Entrevistado: (risos)
Allan Denizard: Minha visão espírita é que somos seres em constante construção e que o que somos hoje é construto de milênios que nos antecedem. E cada momento do espírito é mais uma forma de aprendizado para aprender a melhor amar ao próximo e a Deus. Entrevistado: De fato... Allan Denizard: Continuando: Acho que no imaginário do preconceito social existe sempre o medo de que essa ou aquela conduta fora do padrão venha a demolir toda a moral que temos como mais certa para a vida em comunidade. Daí, acredito, as pessoas associarem a imagem do homossexual a do pervertido, destruidor de lares, perversor dos costumes. O que você tem a dizer sobre isso? Entrevistado: É uma imagem construída de uma forma muito interessante. Acredito que a não aceitação social do homossexual tenha feito muitas pessoas homossexuais acreditarem e aceitarem que não nasceram para ter relações concretas, felizes, duradouras. Essa crença levou muitos a engajarem relacionamentos efêmeros, baseados principalmente no sexo. Além disso, como as pessoas homossexuais dificilmente tinham (ou mesmo têm) relacionamentos duradouros, isso fica visível (embora os homossexuais tenham vivido muito tempo escondidos). A sociedade faz parecer que só trai, só é promíscuo quem é homossexual. Porque os heterossexuais que traem seus cônjuges o fazem
de forma velada. Mas, os homossexuais raramente tinham alguém para trair. Allan Denizard: (Velada, mas socialmente aceita, como o eram os prostíbulos) Entrevistado: Justamente Allan Denizard: De certa forma, olhando por esse aspecto, a sociedade nega de tal forma os direitos ao homossexuais, que nega até o direito de ele ser promíscuo. Entrevistado: É a impressão que eu tenho. Allan Denizard: É como a mãe que diz que o filho homem pode "pegar todas", mas a mulher "tem que ser certinha". Entrevistado: Isso é tão grave, Allan, que até recentemente se dizia que os homossexuais são um GRUPO DE RISCO para o HIV, sem pensar que o que existe de fato são COMPORTAMENTOS DE RISCO. E ainda há quem entenda assim. Allan Denizard: Paradoxal [manipulador]! Ela diz que o homossexual é promíscuo e por isso mau. E assim faz com que ele caia sobre o peso desse julgamento e se culpe e queira se curar e ser modelo da moral mais sã que idealizam.
Entrevistado: Como se fosse possível tornar todo mundo igualzinho. Allan Denizard: Pois é. Por outro lado, embora entendendo esse lado manipulador da sociedade sobre "o mais certo", acho que nós temos visões sobre o que é o mais certo da vivência de nosso amor. E vamos idealizando nossos futuros, talvez mais ou menos condicionados pela cultura, talvez mais ou menos condicionados pela educação familiar, mas também acolhidos pelo nosso coração como bom, o que deve ser respeitado e não tachado de alienado. Por isso, queria saber o que vc idealiza como um amor bom entre você e a pessoa que você ama? Entrevistado: Nossa relação é bastante saudável. Temos planos de oficializar judicialmente a união, adotar crianças etc. Acredito que o fato de trabalharmos juntos na seara espírita, nos dedicarmos juntos ao trabalho no bem ajuda muito a nossa relação. Tem um trechinho de uma música do Tarcísio Lima que traduz bem o que penso e sinto dessa nossa união, a letra é assim: "Você, com suavidade, é a luta que me imponho, o tom em que componho nossa posteridade, o avanço no meu sonho de amar a humanidade". Penso que a relação ideal é essa em que a gente ama tão naturalmente que esse amor se expanda pra tudo o que a gente faz.
Allan Denizard: Massa, querido! Acho que me senti contemplado. Meu objetivo era mais ver como você vivia o espiritismo, se com obstáculos ou com facilidades ou com naturalidade, sendo homossexual. Acho que deu pra ter uma ideia bacana sobre isso. Antes de postar no blog te mando nosso diálogo com uma introduçãozinha rápida que farei e correções de erros bobos de digitação. Ok?! Entrevistado: Ok! Boa noite!
Quem sou eu Allan Denizard A medicina me alimenta, mas é a arte que me nutre. A filosofia me mantém vivo, mas é a espiritualidade que me arrebata. Médico de família e comunidade, orientador artístico-filosófico do Projeto Y de palhaçoterapia da Universidade Federal do Ceará, professor de saúde comunitária da Universidade de Fortaleza. Espírita. Para ler mais reflexões como estas acompanhe meu blog:
Por uma filosofia espírita @filosofiaespirita2