A tartaruguinha de Pedro

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Foi numa molhada noite Quando despencava o céu Numa tempestade louca Que Pedro a encontra ao léu Uma tartaruga linda Casco verde, jeito lento Pedro que andava apressado Estacionou ao relento Cheio de rugas na face De tanta preocupação Ia todo dia ao mar A fim de ganhar o pão Alimentar a família De peixe, que é o pão do mar Ter a cabeça tranquila Mas no outro dia ralar E quando faltava peixe Apertavam seu pulmão De volta, as redes vazias, Os filhos sem refeição Mas aquela tartaruga Não tinha pressa nem ruga Deus a nutria com lodo O mar era sua fuga


Quando a terra estava seca Entrava naquele fundo E quando chegava a chuva Saía de volta ao mundo Que lições Pedro aprendia! Ser paciente e esperar Após passada a tormenta De novo partir pro mar Se Deus dá lodo pros bichos Peixe não deve faltar Mas se faltar por um dia Deve saber esperar Mas, houve um tempo difícil Que custou muito a passar O mar, pequena lagoa A vida, grande penar Nunca mais vira a amiguinha - Será que a morte a levou? Pensava triste e aflito Pedia ajuda ao Senhor Foi quando um moço bonito Veio e a ele exclamou: - Solta essa rede, ó Pedro! O que precisa eu te dou!


Três coisas aconteceram: Primeiro, a chuva voltou Segundo, voltou o mar Terceiro, o barco singrou Cortando o mar que sangrava Pedro temia os trovões Mas aquele Nazareno Ninava até furacões Beijou no rosto da nuvem Sorriu-lhe ela com o sol Estendeu-lhe um arco-íris Puxando-lhe num anzol - Meu Deus, sumiu o rapaz! Névoas surgem de inopino E qual cortinas de palco Somem ao som de um hino Suave voz se apresenta Cantando em cima das águas Convidando o pescador A caminhar sobre as mágoas Mas, Pedro de tanta dor Pedras pesadas no peito Não chega a dar meio passo E afunda como um rejeito


Pensa que Deus não o ama Que sempre foi dura a vida E ao achar que mudaria Afoga em triste partida A rede dos pensamentos Enlaça-lhe braço a braço Mas, sente fina mordida No seu dorido espinhaço Oh! É a tartaruguinha Que vem salvar seu amigo Diz-lhe numa calma bolha: - Quero que nade comigo! Ele não pensa duas vezes Segue com gosto a doidinha Que rodopia feliz No mar que é sua casinha - Graças, oh Deus, eu Te dou! Voltarei à superfície Já vejo os raios do sol Que tornam verde a planície Não percebia que o nado Não lhe conduzia pro alto Mas, sim, pro mais fundo abismo Onde ele se afoita incauto


Estafado e sem mais fôlego Perde de vista a amiguinha Não acredita em seus olhos Onde ela estava, adivinha?! Naquele lugar sombrio Havia peixes-estrela E um sol lá no horizonte Onde se podia vê-la Mas não era dela o brilho Era do moço de luz A quem chamavam de mestre Que se chamava Jesus - Então, era ele o meu sol! Verde planície pisava Um lodo bem cintilante Em que a cascuda pastava - Pedro, repleto de pedra Teu coração afundou Só que do fundo da morte A minha igreja eu te dou - Não uma igreja de mortos Mas, de filhos de Deus-Pai Cuja tormenta de lágrimas Acalmá-la você vai


- Eu te trouxe bem aqui Ao lado da cascudinha Pra que se entregue às lições Do Reino que se avizinha - Aos homens que tu pescares Mergulha-os sempre em fé Pois peixe e pão é pro corpo Como a crença pra alma é - Nunca deixe que se afoguem Sem ter Deus no coração Pois foi feita a fé pro peito Como os ares pro pulmão Pedro em paz se entrega ao mar Cheio de leveza e graça Renovado o ar no peito Sua vida ele repassa Seus problemas se dissolvem O sal do mar os corrói O lugar onde doía Não existe, não mais dói


Deita o mar, na praia, Pedro O pescador olha o cĂŠu O azul, as nuvens e o sol Percebe que tudo ĂŠ seu Nunca nada lhe faltou Agradece o hoje e o ontem Decidido passa a ser Simples pescador de homem

FIM


Palavras do Autor Pedro era um velho, diferente de tantos jovens que seguiam Jesus. Já há mais sabedoria e menos futilidade numa homem assim. O peso de todos os dias que passaram deve ter lhe ensinado a buscar pisar solo firme. Nesta poesia, Pedro, que é a pedra da futura igreja de Cristo, é colocado em plena água, incapaz de salvar a si mesmo. É uma lição de Jesus que nos leva, por vezes, ao fundo do poço, para lá enxergarmos nossas verdadeiras necessidades, nossa mais íntima identidade. Outros trabalhos meus estão presentes neste blog, fique à vontade para visitar: Por uma filosofia espírita



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