As ovelhinhas de José

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No meio da Galiléia No povo de Nazaré Havia certo homem bom Que se chamava José Seu pai lhe deu uma herança Saber mexer com madeira E pastorear ovelhas De segunda a sexta-feira No Sábado descansava Lendo a Torá em oração Domingo era família Reza assim a tradição As ovelhas lhe adoravam Aquele jeito calado Muito pouco ele falava Mas trabalhava um bocado Lá no fundo do quintal Ficava na serraria Mas se lá não se encontrasse Estava junto a Maria Foi numa noite bonita Lhe falou um anjo divino Que já dormia em Maria Doce e bonito menino


José acorda num salto Teme a notícia um pouco Pois quase nada ganhava Raras moedas e um troco Porque era um homem devoto Cria em Deus-Pai sobretudo Calou seu peito apertado Rezou com seu jeito mudo Num pulo vai ao quintal Cada ovelhinha ele abraça Tão logo vai ser natal Tudo se encherá de graça Vai correndo pra Maria Dizendo tudo saber A mulher estava em pranto Sem saber o que dizer O mesmo anjo de José Lhe apareceu, não em sonho Mas no meio da manhã Dizendo: - Eu lhe proponho... - Que sejas mãe da criança Do povo seu Salvador. Maria nem titubeia: - Sou tua serva, meu Senhor!


Seu José ao som das ovelhas Prepara muitos brinquedos Cortando cada madeira Como se fossem segredos São chocalhos e fantoches São carroças e cavalos São bonecos e piões Criados nos intervalos As ovelhas assistiam Àquela felicidade Do seu dono carpinteiro Cheio de criatividade Mas eis que num certo dia Quem governa quis saber Quantas pessoas haviam E o que poderiam ter Parecia que José Lá nas terras de Belém Tinha alguns familiares E uma terrinha também Precisavam viajar Pra longe de Nazaré Maria com barrigão E o marido andando a pé


Foram José e Maria Assim com toda inocência Enfrentar uma viagem Repleta de penitência - Onde deixar as ovelhas? Pergunta José cabreiro - Vou lhes deixar com meu primo Que é meu fiel companheiro Afaga cada uma delas Prossegue quase sem medo Vai ele com um jumentinho E um solitário brinquedo Chegando lá não tem casa Não consegue hospedaria Seu peito fica apertado Contrai o ventre Maria - Meu Deus, lá vem o menino! Proíba que esse pequeno Nasça no meio da rua Debaixo desse sereno


Abre uma porta adiante Lhes oferece um abrigo Um homem com barbas de lã Mais parecia um mendigo - Não liguem muito pra casa Eu vivo com os animais Eu só me cubro com palha Mas, aqui me sinto em paz - A paz que eu peço eu vos dou Pois hoje é dia de festa A mesma estrela do céu Cintila na tua testa Falava o velho a Maria Que já não se punha em pé Com força apertava a mão Do seu amado José Veio o menino ao mundo Chorando feito um bezerro Cuidava dele o velhinho Com todo zelo e sem erro


- Que homem bom era aquele Que em meio ao vendaval Da indiferença dos outros Facilitava o natal? No meio daquelas trevas Do seu menino Jesus Surgindo feito um milagre Na porta estreita de luz Não lhe parecia estranho Lá com o pensamento seu E em sonho José relembra O anjo que lhe apareceu De novo acorda num salto Olha pros lados em pranto Mas já não há mais ninguém Só um animalzinho santo *** O tempo passa ligeiro Nas terras de Nazaré Jesus brinca entre as ovelhas Do seu paizinho José


Aprende a cortar madeira Com a presteza de José E apascentar as ovelhas Enquanto passeia a pé Passa o tempo ainda mais rápido E José já está velhinho Com a barba em novelos brancos Com a pele só o courinho Jesus grande, lindo e forte Carrega seu pai nos braços Pois o velho sente uma dor No peito, um descompasso José, então, desfalece Mas antes diz ao menino Que tem os olhos brilhando Face a face com o destino - Jesus, você me ensinou Mais do que eu pude ensinar Você acabou com o meu medo E com todo o meu penar


- Eu entendo que as ovelhas Que deves apascentar São muito mais numerosas Do que as que temos no lar - Sei que deves trabalhar Com a madeira mais pesada Que é a do coração dos homens Que encontrares na estrada - Eu só tenho a agradecer Por Deus ter me dado a graça De nos braços eu te ter Salvador da nossa raça De Jesus desce uma lágrima Junto dela um dizer: - Oh! José, meu pai querido, Eu que agradeço a você - Por ter me aceito nos braços Quando eu pequeno chorava Por ter me dado carinho Com os brinquedos que criava


- Não te preocupes, meu velho, Com a tua raça bendita Quero que tu saibas hoje Quanto ela é tão infinita - Cada vivente do mundo São, assim, familiares teus Eu vim ensinar a todos Santas verdades de Deus Abre-se o céu ao velhinho Cheio de luzes e estrelas Descansa ele bem quietinho Quando parou para vê-las Vai ao seu encontro o anjo Toma nos braços José Sobe aos espaços mais lindos Lá onde mora Iavé Jesus enxuga uma lágrima Que cai de Nossa Senhora As ovelhinhas se acordam Contemplam a nova aurora.

FIM


Palavras do Autor Devo lhes contar que esta é a poesia que mais me comove. Coloquei meu pai em José. Ele é um homem bom, justo, trabalhador, protetor da família. As casas de hoje sentem falta de um pai assim. Busco sê-lo todos os dias, mancando mas perseverando. Papai quase morreu em meus braços, peito apertado de infarto. Tão logo entregueilhe ao médico, descansou. Deixou-me toda nossa história de amor que forjou meu caráter para sempre. Essa poesia quase fala de José, se não falasse tanto de meu pai. Sinto que é assim que temos de ler o evangelho: como se quase falasse da gente. Outros trabalhos meus estão presentes neste blog, fique à vontade para visitar: Por uma filosofia espírita



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