A avezinha de Maria

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Maria, mãe de Jesus Cantava ao amanhecer E as aves a imitavam Até o entardecer A uma ela cativou Sem caça, medo ou prisão Sem ferro, gaiola ou grade Só com o amor do coração - A avezinha de Maria! Dizia o povo inteiro Dizia José feliz Num sorriso prazenteiro Bordava roupas e meias Pra aquecer o Salvador E a amiguinha lhe ajudava Desalinhando o tricô Olhava a ave de longe Enquanto Jesus mamava Era o instante de ouro Que a mãezinha mais amava Trazia no bico água Pra misturar com o sabão Maria a estimulava Nenhuma ajuda era em vão


A ave teve seus filhos Ensinou-os a voar Entendeu quando encontrou A Santa Mãe a chorar Jesus, como lindo pássaro Abriu asas e voou Disse a ela com um beijo: - A minha hora chegou Maria nunca deixou De cuidar de seu Jesus De proteger com suas asas O seu Menino de Luz Enquanto à carpintaria Ajudava ele a José Cuidavam, ave e Maria De preparar o café Mas ao final do rojão Todos sentavam à mesa - Mãe, qual o prato do dia? Ela escondia: é surpresa! Era bolo e tapioca Jesus tudo repartia Era um tal de pão-de-queijo Receita da mãe Maria


No final dava pra todos Todo mundo se enfartava Com o levedo de Maria Que Jesus multiplicava Mas o Mestre foi pro mundo Enfrentou até deserto Ficou magro e franzino Sem Maria ali por perto Foi numa tarde comprida Que a ave soube da Cruz Buscou Maria apressada Pra lhe avisar de Jesus! Ave e Maria voaram Pousando em Jerusalém Pra verem se era verdade O martírio do seu bem Viram-no todo sangrando Carregando duas madeiras Bem pior do que as feridas Das infantes brincadeiras À mente vinham as quedas Que Jesus levou na vida Brincando de pega-pega Nenhuma foi tão doída


Maria não se aguentava Nem o peito da avezinha As duas pediam a Deus Um fim pra morte vizinha Maria tentou passar Pelo cerco dos soldados Mas os guardas lhe jogaram À terra com machucados A ave rumou à cruz Onde estava o seu menino Se pôs a bicar as cordas Que amarravam o divino Uma pedra lhe acertou Estabacou-se no chão Eis que se sente acolhida Pelo afeto de João Ao discípulo querido Jesus falou com calma - Meu amigo, toma conta Dos afetos de minh’alma Toma minha mãe como a tua Sem se esquecer da avezinha Que esta foi meu bem querer E a outra, minha mãe rainha.


FIM


Palavras do Autor A cristandade aprendeu a chamar Maria pelo Ave. Não teria a própria Maria uma ave do lado? Uma Maria que canta quando o sol nasce, que tem pelo filho o amor de ninho, rápida para voar em seu socorro. As boas mães sempre tiveram para mim aquela imagem de alguém que voa ao mundo em busca de alimento para colocar na boca de seus passarinhos que deixou em casa. Nesta poesia busquei desenhar Maria em um cotidiano tão perto do nosso que quase deitei em seu colo. Por que não, em oração? Outros trabalhos meus estão presentes neste blog, fique à vontade para visitar: Por uma filosofia espírita



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