Magdala era miúda Uma cidade pequena E a mulher que lá morasse Se chamava Madalena Lá morava uma Maria É a Maria Madalena Maria de Magdala Depende da cantilena Ela era jovem e faceira Andava sempre cheirosa Era fogosa e fagueira Vivia de prosa em prosa Gostava de namorar Possuía uns paqueras Não aceitava casar E seus pais viravam feras Queria só diversão Era paixão, nada mais Quando seus pais reclamavam Dizia: “Me deixe em paz!” Nas ruas de Magdala Encontrou ela uma gatinha Que os gatos muito adoravam De tão charmosa a bichinha
Quando as duas se encontraram Foi bem no meio da pista Não tem outra explicação: Amor a primeira vista A gatinha se lambia E Maria se arrumava A gatinha se exibia E Maria rebolava Eram feito mão e luva Pareciam uma miragem As duas eram tão lindas Nem faz falta maquiagem Cidade pequena é fogo Maria ficou falada Nem casar, nem estudar Era uma filha mal criada Respeitador dos costumes Seu pai, homem rigoroso Vendo que não melhorava Foi ficando furioso Falou pra mãe de Maria: - Isso tudo é culpa sua Onde já se viu na vida Passar o dia na rua
- Ficam ela e aquela gata Uma mia, a outra gaita De paquera essa mulata Sem vergonha, aquela ingrata! A mãezinha quis falar Mas não deu, pois foi cortada: - Não aceito uma resposta Escute isso bem calada! Seguiu ele ao fariseu Que era padre e juiz Contou toda aquela história Vamos ver o que ele diz: - Isso é coisa do animal Que Maria encontrou Se ela se desse ao espírito Resolveria, senhor. - Façamos disso, eu lhe peço No meio daquela praça Joguemos a tal da gata Acabando sua raça Sentado estava na praça Aquele moço Jesus Que rabiscava na areia Desenhos de paz e luz
Com seu cachorro fiel Que o desenho completava Cavando com sua patinha Onde o seu dono parava O fariseu não gostava De cachorro, nem de gato Nem gostava de Jesus Nem de seu messianato Queria sempre uma brecha Pra desmerecer Jesus Desacreditar o Mestre Levá-lo mesmo pra cruz - Onde já se viu aquilo Um cachorro com um rabi? Um rapaz sujo e franzino Querer ser mestre dali - É hoje que eu o derroto! Trouxe a gatinha e a Maria E o povo todo pra ver Aquilo que Ele diria: - Rabi, saiba que essa gata Perverteu moça Maria E segundo a nossa lei Seu fim eu decretaria
A gatinha amedrontada Estava ali se tremendo Maria se joga ao chão Com lágrimas escorrendo E enquanto o Rabi riscava As leis do seu céu na terra Pessoas pegavam pedras E o cãozinho os dentes cerra Estava armado o conflito Mas Jesus age com paz Asserena seu cãozinho E um convite a todos faz: - Atire a primeira pedra Quem não gosta de animais E se caso não gostar Quem nunca pecou jamais Cada um olhou seus erros E perceberam a ruma Deixaram cair as pedras Quietas no chão, uma a uma O cão foi lamber o rosto De Maria Madalena Pois ainda estava trêmula Junto a gatinha pequena
E ao olhar aqueles olhos De doçura nazarena De candura bem profunda Se apaixona Madalena Palavra alguma do mundo Ensinara tanto amor E um estranho sentimento Lhe dava um outro calor A partir daquele dia Sem pedras ou julgamento Nunca mais lhe sairia O Mestre do pensamento - Maria ama os excluídos Os renegados do povo Até o dia abençoado Que aqui eu voltar de novo Com sua gata no colo Foi fazendo caridade Era assim que Madalena Vivia aquela saudade De Jesus de Nazaré O menino do cãozinho De Maria e de José De amor e de carinho.
Fim
Palavras do Autor Maria Madalena é uma figura misteriosa. Traz a beleza da mulher e a sedução da conquista. Em Madalena aparecem os símbolos de uma personagem que não teme a sociedade, suas normas, seus entraves, e por isso pode ir além dela. Mas, se não vai no rumo certo, se perde no mundo vasto. Todos nós temos Madalena no peito. A conversão de todo o poder que ela traz para Jesus fala ao nosso íntimo como deveríamos nortear nossas mais caras paixões. Elas não são más em si, faltalhes o governo certo. Outros trabalhos meus estão presentes neste blog, fique à vontade para visitar: Por uma filosofia espírita