CLAIRE CONTRERAS
TRADUÇÃO: CLARA TAVEIRA
1ª EDIÇÃO – 2022 RIO DE JANEIROCOPYRIGHT © 2019. THE CONSEQUENCE OF FALLING BY CLAIRE CONTRERAS. COPYRIGHT © 2022. ALLBOOK EDITORA.
Direção editorial BEATRIZ SOARES
Tradução CLARA TAVEIRA
Preparação e revisão
RAPHAEL PELLEGRINIE ALLBOOK EDITORA
Capa original HANG LE
Adaptação de capa FLAVIO FRANCISCO
Projeto gráfico e diagramação CRISTIANE | SAAVEDRA EDIÇÕES
Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram declarados.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Gabriela Faray Ferreira Lopes – Bibliotecária – CRB-7/6643
C782c
Contreras, Claire
As consequências de se apaixonar / Claire Contreras ; tradução Clara Taveira. – 1. ed. –Rio de Janeiro: AllBook, 2022.
244 p.; 16 x 23 cm.
Tradução de: The consequence of falling
ISBN: 978-65-80455-40-9
1. Romance americano. I. Taveira, Clara. II. Título.
22-80299
2022
PRODUZIDO NO BRASIL.
CONTATO@ALLBOOKEDITORA.COM
CDD 813
CDU: 82-31(73)
CAPÍTULO UM
Presley
TALVEZ EU ESTIVESSE SENDO EXCESSIVAMENTE DRAMÁTICA E PATÉTICA, mas estava tendo o pior dia da minha vida. Primeiro perdi o concurso de fotografia para Jamie, o que significava que ela faria uma viagem com todas as despesas pagas à China, enquanto eu passaria o verão em casa fingindo ler minha lista de leitura para o verão. Na verdade, eu compraria um livro de resumos e pagaria a alguém para fazer os trabalhos por mim. Em seguida, meus pais me disseram que estavam se divorciando. Na verdade, a palavra que eles usaram foi separando, mas todo mundo sabe que essa é só uma forma gentil de dizer que eles se odiavam e queriam eventualmente se divorciar — e que eventualmente significava que papai descobriria uma maneira de impedir que mamãe pegasse todo o seu dinheiro. Por último, eu estava ficando encharcada enquanto esperava um dos dois me buscar no treino de líder de torcida. Na real, foi ridículo aquilo. Eles me buscaram depois da escola, e no intervalo entre ser esmerilhada pelos professores e massacrada pelo meu treinador de líder de torcida porque eu tinha faltado um jogo, eles me deram a notícia. E agora meus pais estavam atrasados para me pegar.
É exatamente assim que as crianças acabam traumatizadas por causa de um divórcio. Isso resultava em dividir seu tempo entre duas casas e ser esquecida o tempo todo. Se nossos pais não podiam ser confiáveis para fazer algo tão grande quanto um casamento dar certo, como poderiam descobrir como planejar suas vidas tendo filhos? Eu já estava com raiva, mas esse pensamento me deixou irada. Como eles podiam simplesmente decidir que não ficariam mais juntos? Era maio. Estávamos a apenas um mês de nossa viagem de família anual à Europa. Papai escolheu San Sebastian como destino deste
ano, depois que eu tracei nossa genealogia até os Bascos e fiz a conexão com nossos primos de segundo grau. Não podíamos deixar de ir. Passamos o ano todo ansiosos por isso. Em vez de voltar ou tentar encontrar uma marquise, segui em frente e sentei nos degraus, deixando a tempestade me consumir. Eu queria que eles vissem os efeitos de seu egoísmo. Se eu ficasse doente, seria um bônus. Talvez eu pudesse pular a dança estúpida de final do ano letivo neste fim de semana e a festinha por estar de cama. De repente, ser capitã do time de líderes de torcida pareceu algo estúpido. Tudo isso era estúpido.
O som de um carro se aproximando me fez virar a cabeça de pronto. Era o Mercedes preto de papai. Eu cerrei os dentes enquanto me levantava, puxando minha mochila, agora ensopada, comigo. Eu esperava que tudo lá dentro estivesse danificado pela água. Meu corpo inteiro tremeu quando caminhei em direção ao carro e abri a porta, deixando a mochila cair no assoalho do banco do passageiro e sentando tão pesadamente quanto meu corpo permitia. Foi quando vi que a pessoa no banco do motorista não era meu pai, então minha raiva foi substituída por pânico.
— Quem diabos é você? — Alcancei a maçaneta da porta. Eu tinha visto filmes de suspense suficientes para conhecer um sequestrador quando via um, e mesmo que aquele cara fosse mais jovem do que meu sequestrador imaginário, e muito mais bonitinho, eu pulei do carro e corri de volta para a frente da escola.
— Presley — ele chamou meu nome enquanto eu tentava abrir a porta da frente, que estava trancada. Claro que eles a trancaram.
— Preciso voltar lá para dentro. — Puxei as maçanetas com as duas mãos e balancei a porta.
— Seu pai me mandou vir te pegar.
— Okay, certo. Já ouvi isso antes. — Bati com a mão no vidro enquanto olhava lá para dentro. — Socorro!
Ouvi seus passos atrás de mim e congelei, agarrando as maçanetas com ainda mais força. Eu não iria cair sem lutar, isso era certo.
— Vim a mando do seu pai — disse ele. O cara estava literalmente atrás de mim. O pânico bloqueou minha garganta, contendo o grito que eu queria dar.
— Fique longe de mim, porra.
— Eu não vou te machucar. — Ele riu, então essa risada se transformou em uma gargalhada completa. — Você está parecendo uma louca, sabia?
— Eu não me importo com o que estou parecendo. Já ouvi histórias de sequestro antes, e eu já tive um dia muito ruim hoje, então me recuso a cair nesse seu papinho.
— Eu não vou te sequestrar. — Ele colocou as mãos nos meus ombros e apertou, não com força, mas também não de uma forma leve. — Vou ligar para o seu pai.
— Você está no carro dele. — Lancei um olhar por cima do ombro. Ele baixou as mãos. — Você poderia ter sequestrado ele primeiro. Chame a polícia e peça para que ela nos escolte até em casa.
— Quê…? Eu… A polícia faz esse tipo de coisa? — Suas sobrancelhas franziram. Sua genuína surpresa me fez afrouxar o aperto nas alças da mochila. Isso e o fato das minhas mãos estarem doendo.
— Chama a polícia logo.
Seus olhos arregalaram. Ele parecia inseguro sobre o que fazer. Eu praticamente podia ver seus pensamentos em confronto — ele ligaria ou não? Depois do que me pareceu uma eternidade, ele tirou um celular do bolso e fez a ligação. Eu sabia pelo jeito que suas costas se endireitaram e pela maneira como estava falando que tinha ligado para o meu pai. Eu não conhecia esse cara, mas eu tinha certeza de para quem ele tinha ligado, porque todos eles ficavam desse jeito quando meu pai estava na linha. Revirei os olhos quando ele deu um passo à frente e pressionou o telefone na minha orelha.
— Sim?
— Presley Carina Rose, eu juro por tudo que é mais sagrado que se você não entrar nesse carro neste segundo, eu vou te deixar de castigo por um mês. — Ele estava fumegando. Senti meus olhos se estreitarem quando soltei a porta da escola e arranquei o telefone da mão do motorista, indo em direção ao carro.
— Quer saber? Me põe de castigo, porra. Me manda para o internato. Me manda morar com a tia…
— Você falou um palavrão para mim?
Parei de andar e coloquei a mão na boca. Eu tinha acabado de falar um palavrão para o meu pai. Eu nunca fiz isso. Abri a boca para me desculpar, para dizer alguma coisa, qualquer coisa. Em vez disso, encerrei a chamada e fechei a porta do carro. O cara que veio me buscar deslizou para o banco do motorista. Eu não me virei para o olhar, mas ouvi o clique de seu cinto de segurança antes que ele colocasse o carro em movimento. Eu odiava — não,
eu detestava com força — quando meus pais contratavam pessoas para me levar de carro ou cuidar de mim quando saíam da cidade, como se eu fosse uma criança. Tecnicamente, aos quinze anos, eu era uma criança, mas odiava ser tratada como tal.
— Ele tem boas intenções… seu pai — disse o motorista. Meus braços, cruzados sobre o peito, se torceram com mais força.
— Como você sabe? Você acabou de conhecê-lo.
— Eu sei muito mais sobre ele do que você pensa — disse o sujeito. — E eu não acabei de conhecer seu pai. Meus olhos se arregalaram quando olhei para ele.
— Você não é tipo meu meio-irmão ou algo assim, é?
— O quê? Não. — Ele fez uma cara como se tivesse um milhão de coisas azedas na boca. — Você está fazendo terapia? Porque deveria. Você tira conclusões malucas para situações perfeitamente normais.
— Eu não preciso de terapia. Eu preciso que as pessoas na minha vida mantenham seus problemas para si. — Eu olhei para a paisagem lá fora. — E só para constar, você não conhece nem a mim nem as conclusões que eu tiro em um dia normal, coisa que não se pode dizer do dia de hoje, então eu agradeceria se você mantivesse seus julgamentos preconcebidos para si mesmo.
— Preconcebidos? Você saltou deste carro dizendo que eu estava tentando te sequestrar. Você queria que eu chamasse a polícia para nos escoltar até sua casa, e ainda não tenho certeza se eles fazem esse tipo de coisa. — Ele me lançou um olhar severo. Olhei para sua boca. Não sei por que fiz isso, mas fiz. Seus lábios eram carnudos e macios. Era difícil não olhar para aquela boca. Ele não percebeu. — Você também estava sentada na chuva quando cheguei. Quem diabos faz isso?
— Alguém que está tentando defender um ponto de vista.
— Pegando pneumonia?
— Talvez. — Inclinei meu queixo para cima como se tivesse dado um grande argumento, mas realmente parecia estúpido agora que eu tinha dito em voz alta. — De qualquer forma, ele não me disse que havia contratado um novo motorista, e você parece jovem demais para trabalhar para ele.
— Eu trabalho para seu pai há anos. Meu rosto se contorceu.
— Quantos anos você tem?
— Dezoito.
— E o que diabos você poderia ter feito para trabalhar “há anos” para ele?
— Lavagem a seco das roupas dele. — O garoto me pegou olhando para ele, eu estava esperando que explicasse melhor, então ele foi adiante: — Meu tio é dono de uma lavanderia de lavagem a seco.
— Ah.
— Será que te mataria ser um pouco mais grata por tudo que você tem? Seus pais trabalham duro para manter seu estilo de vida idílico. Algumas pessoas matariam alguém para trocar de lugar com você.
— Você não sabe do que está falando, e eu agradeceria se mantivéssemos o mínimo diálogo até você me deixar em casa. Não preciso ser repreendida por um dos funcionários do papai, e definitivamente não preciso explicar minha gratidão a você.
— Só estou dizendo que seria bom se você pegasse leve com ele. Ele está passando por um momento difícil.
— Vamos deixar uma coisa clara aqui. — Virei meu olhar para ele. Felizmente, estávamos entrando na minha garagem, e essa pequena conversa logo terminaria. — Você não me conhece, e apesar do que pensa, nunca vai conhecer meu pai. Seja qual for a fachada que ele está mostrando a você, é apenas isso. — Estendi a mão para a maçaneta da porta e peguei minha mochila quando o carro parou completamente. — E da próxima vez que ele te mandar me buscar, ignore-o. Eu volto caminhando para casa com prazer.
Abri a porta e a bati assim que saí. Ignorei a voz da minha mãe quando a ouvi chamando da cozinha e subi as escadas. Eu precisava tomar um banho e me livrar do fedor do dia. O que eu queria fazer era socar algo, quer dizer, alguém. Eu queria socar aquele motorista estúpido. Eu nem sabia o nome dele nem queria saber também. Eu sempre o associaria ao meu dia mais fodido do século.
CAPÍTULO DOIS
Dois anos depois
— AH, CACETE. NÃO. — FIQUEI COMPLETAMENTE IMÓVEL NA FRENTE DO motorista. — Me diz que isso é algum tipo de piada.
Eu não o tinha visto desde que ele me levou para casa naquele dia, anos atrás, mas eu tinha descoberto seu nome e algumas outras coisas: Nathaniel Bradley, o animal de estimação favorito do meu pai. Ele estava atualmente entrando em no curso de Negócios na NYU, o que eu admito ter sido algo impressionante. O que não impressionava era ouvir meu pai falando dele o tempo todo. Isso era insuportavelmente irritante. Foi surpreendente que, quando fui visitar meu pai, Nathaniel não estivesse sentado em seu colo como um cachorro ganhando carinho ou algo do tipo.
Se bem que, analisando bem, percebi que ele não caberia no colo do papai. Nathaniel claramente deixou de lado aquele visual magrelo e ossudo para se transformar em um cara que parecia viver de chuteiras, ombreiras e que fazia parte das fantasias de todas as mulheres. Nathaniel sorriu enquanto eu olhava boquiaberta para ele, o que me fez deixar de lado os pensamentos estúpidos. Sim, ele estava devastadoramente bonito. Não, eu não o desejava, e definitivamente não queria que ele pensasse isso.
— Vim te levar para o baile.
— Prefiro caminhar.
— Nesses saltos? — Seus olhos viajaram lentamente pelo meu corpo até chegarem aos meus sapatos. Lutei contra a vontade de me cobrir. Não era como se ele estivesse olhando para mim de um jeito bizarro, tipo, eu-te-quero ou algo parecido, mas esse cara, por mais irritante que fosse, era realmente muito bonito, o que deixava a coisa toda estranha. Por que meu pai contratava
caras gostosos para me levar para os lugares? Quer dizer, não eram caras no plural, porque eu duvidava que houvesse muitos que se parecessem com Nathaniel. Eu observei a expressão divertida em seu rosto, me lembrando de como ele foi desagradável da última vez, e imediatamente expulsei de mim a atração quando vi seu olhar satisfeito.
— Eu tiro se for preciso.
— Você? — ele zombou. — Você já andou descalça alguma vez na vida, princesa?
— Não me chame assim. — Revirei os olhos e passei por ele, me acomodando no banco traseiro do carro.
Se ele fosse me levar, deveria haver limites claros entre nós dois. Ele era empregado do meu pai, o que significava que era meio que meu empregado também, então eu não tinha que me dirigir a ele. Na verdade, a maioria dos funcionários de papai eram da família, e mesmo aqueles que não eram me tratavam como se eu fosse da família deles, então eu nunca pensei em criar algum tipo de separação entre mim e os funcionários. Eu não ousaria. Mas esse cara trouxe à tona essa parte feia que havia em mim, com seu cabelo escuro indomável, a mandíbula esculpida e aquela arrogância estúpida que fazia seus olhos azuis brilharem.
— Não é costume o cara pegar a garota em casa para irem ao baile? Mordi o lábio para ficar quieta. Eu não ia responder. Eu não ia responder. Eu não ia responder. A verdade era que Ben e eu tínhamos terminado na semana passada, mas decidimos ir juntos de qualquer maneira; além disso, o baile aconteceria bem onde ele morava, então parecia uma perda de tempo ele vir me buscar na minha casa do outro lado da cidade. Ele era um cuzão egocêntrico que achava que nossa relação não estava valendo a pena para ele, então preferia não fazer nenhum esforço. Não que eu fosse dizer isso a Nathaniel Bradley. Ele provavelmente ficaria do lado de Ben.
— O gato comeu sua língua, Presley?
— Por que você não está em alguma festa da faculdade ou algo assim?
Você não tem nada melhor para fazer em um sábado à noite?
— Claro que tenho, mas estou me divertindo muito dirigindo para uma pirralha superprivilegiada por aí. — Seus olhos brilharam quando olhou para mim pelo retrovisor.
Meus punhos se fecharam com tanta força, que minhas unhas afundaram em minhas palmas.
— Sabe o que tornaria esta noite muito melhor? Você não fazer parte dela, então você poderia simplesmente calar a boca pelo restante da noite?
— Vou pensar no assunto.
— Ele não é bom para você.
Essas foram as primeiras palavras que Nathaniel Bradley me disse quando voltei para o carro no final da noite. Eu me sentei no banco da frente desta vez e instantaneamente me arrependi da minha decisão quando ele soltou essa frase.
— Você literalmente só me deixou na festa. Como você poderia saber se ele é bom ou não para mim? — Revirei os olhos e balancei a cabeça enquanto Nathaniel se afastava do Ritz, o prédio onde o baile tinha acontecido e cuja cobertura pertencia aos pais de Ben.
— Ele nem te acompanhou até o carro.
— Porque ele mora no prédio.
— Ainda assim ele deveria ter te acompanhado até o carro.
— Talvez ele quisesse que eu ficasse. Isso o calou por dez segundos. Nathaniel limpou a garganta e continuou:
— Por que você não ficou ? Não é isso que as pessoas fazem na noite do baile?
— De que ano você é? — Eu fiz uma careta. — As pessoas não esperam mais a noite do baile para trepar.
— Acho que nunca esperaram. — Ele olhou para mim. — Quer dizer, por que você não ficou até mais tarde? Não deu nem meia-noite. Dei de ombros.
— Eu estava entediada.
— Entediada na casa do seu namorado? Eu suspirei pesadamente.
— Você pode me levar para casa em silêncio?
Minha noite não tinha saído como planejado. Para começar, Nathaniel não estava errado. Eu ainda deveria estar naquele prédio, de preferência no andar de cima, no quarto de Ben, nua. Em vez disso, eu saí no minuto em que as coisas começaram a ficar quentes e intensas. Tudo parecia errado. Em um minuto eu queria que ele rasgasse meu vestido, como sempre, e no
seguinte eu me sentia fria como um peixe e queria dar o fora de lá o mais rápido que meus saltos permitissem. Ele não tinha feito nada de errado, mas algo estava definitivamente errado comigo. Tinha sido assim desde que meus pais finalizaram o divórcio no ano passado.
Minhas emoções pareciam estar enlouquecidas. Minha terapeuta disse que era normal. Ela disse que eu precisava me dar tempo para me curar. Eu sentia como se tivesse levado um soco com a notícia do divórcio, de modo que tudo o que se seguiu foi um pouco confuso. Eu tinha feito tudo o que podia para lidar de uma forma saudável com a culpa imensa que sentia. No fundo, eu sabia que não era minha culpa que mamãe decidisse abandonar o casamento. Não era minha culpa que ela parecesse estar procurando a felicidade na casa de outra pessoa em vez da nossa. Não era minha culpa, mas eu senti que talvez algo que eu pudesse ter feito fosse a causa de tudo isso. Talvez fosse porque eu a ouvi dizer que as crianças arruinaram tudo em seus relacionamentos. Crianças, no caso, seria eu, já que eu era filha única. Qualquer que fosse a razão para esse sentimento, eu queria permanecer anestesiada. E nesses momentos me meti em situações que faziam com que eu sentisse como se estivesse ausente de mim mesma. Esta noite teria sido mais um desses momentos, se eu não tivesse desistido de Ben. Eu pressionei a nuca no encosto e virei o rosto para olhar pela janela. Foi definitivamente melhor, para mim, ter vindo embora. Eu estava tão perdida em pensamentos, que quase pulei da cadeira quando Nathaniel falou comigo novamente.
— O que você vai fazer agora que está se formando?
— Vou para a faculdade. — Eu dei uma olhada para ele. — Dã.
Um lado de sua boca se contraiu, nesse momento percebi que pagaria um bom dinheiro para ver seu sorriso completo.
— Qual faculdade? Que curso vai fazer?
— Negócios — eu disse lentamente, me perguntando se havia alguma pegadinha no fato de ele estar sendo legal comigo. — NYU, na verdade. Papai disse que é onde você está estudando, mas se nos encontrarmos lá, você pode simplesmente fingir que não me conhece.
Ele riu, um som profundo que fez meu pulso acelerar.
— Não tem problema, princesa. Eu não ia querer ser apedrejado por andar com uma humilde caloura.
— Estou surpresa que você tenha alguma outra pessoa com quem andar.
— Olhei para ele ao mesmo tempo que ele olhou para mim, e nossos olhos
se encontraram. Por um segundo, quando mirei seus olhos, esqueci o que ia dizer. Pisquei e virei a cabeça quando me lembrei de quem Nathaniel era e da razão pela qual ele estava naquele carro para começo de conversa. Limpei a garganta e acrescentei: — E não me chame de princesa.
— Seu namorado também vai para a NYU?
— Columbia.
— Que chique.
— Nem é. — Eu fiz uma careta. A maioria dos nossos colegas ia para a Ivy League. Eu tive um terceiro ano muito ruim, então não tive chance de entrar. Meu último ano não tinha sido dos melhores, para ser honesta, o que eu não seria com Nathaniel. Ele não precisava saber que eu estava matando aula e que saí de potencial oradora para o status de “só tive uma opção de universidade porque meu pai é um grande doador da instituição”.
— Você está planejando trabalhar para o seu pai em algum momento?
— Acho que é isso que eu deveria fazer.
Ele parou no meio-fio do lado de fora do prédio do meu pai e olhou para mim enquanto manobrava, deixando o carro ligado. Eu encontrei seu olhar apenas porque estava confusa a respeito de não ter desligado o carro, e foi nesse momento que o vi olhando para mim. Se eu não estivesse de mau humor o tempo todo, tinha certeza que teria apreciado ter um cara como Nathaniel prestando atenção em mim, ele sendo um empregado ou não, mas eu estava de mau humor o tempo todo, então rebati:
— O que foi?
— O que você quer fazer da vida?
Abri a boca e a fechei em seguida, franzindo a testa. Ninguém nunca tinha me perguntado isso antes. Nem mesmo o orientador da faculdade me perguntou isso. Todos achavam que eu assumiria os negócios do meu pai. Não era como se eu pudesse explicar às pessoas que não queria me envolver com a cervejaria. Por causa da Cervejaria White Oak tive uma vida incrível. As pessoas pensariam que eu era uma completa idiota se não assumisse o lugar do meu pai um dia. Tinha sido do meu avô, passada para meu pai, e supunha-se que seria passada para mim. Nem papai me perguntou se eu queria ou não fazer parte da companhia, porque ele sabia que eu sentia que não tinha escolha, e ele gostava que fosse desse jeito.
Eu sempre tentei dizer a mim mesma que se ele fosse dono de algo mais legal, eu ficaria de boas em trabalhar lá pelo resto da minha vida, mas cerveja? Eu odiava cerveja. Eu nunca diria essas palavras em voz alta, mas odiava. Se eu pudesse escolher, faria algo um pouco mais significativo com a minha vida. Eu disse isso para minha mãe uma vez, e ela me garantiu que eu poderia fazer as duas coisas. Eu sabia que podia, mas realmente não queria ficar presa à cervejaria.
— Presley? — A voz de Nathaniel me trouxe de volta ao momento.
— Quero trabalhar para o meu pai. É o que eu preciso fazer — respondi e sorri. Eu nunca sorri para ele antes, então sabia que Nathaniel ficaria surpreso. Não importava que meu sorriso fosse falso.
Era o único que eu tinha para oferecer. Ninguém se importava que não fosse genuíno, porque ninguém olhava de perto o suficiente para saber a verdade. Por que iriam se importar?
CAPÍTULO TRÊS
Três anos depois
— VOCÊ SABE QUE A REGRA DE QUE HOMENS VÊM E VÃO, MAS AMIZADE É para sempre só funciona se houver caras a se tirar da jogada, né? — Jamie disse do banheiro.
— Fala sério — eu bufei enquanto passava maquiagem. — Você é que está em um relacionamento. Eu tenho tirado caras da jogada como se esse fosse meu trabalho.
Jamie riu. Estávamos nos vestindo para uma festa de Halloween. Nós duas estávamos fantasiadas de Pink Ladies — no caso, a versão bad girl delas, com jeans preto justo, collant preto e saltos de matar. Eu tinha a sensação de que minha mãe, que era uma grande fã de Grease, ficaria orgulhosa. Se eu estivesse falando com ela agora, enviaria uma foto. Não que ela fosse receber a mensagem, já que estava navegando pelo mundo com seu novo namorado. Senti minha excitação diminuir ao pensar nela. Larguei o pincel de maquiagem e caminhei até a cozinha, pegando uma das doses de Jell-O laranja e verde que fizemos. Depois de dois anos festejando muito, Jamie e eu decidimos que este ano iríamos diminuir o ritmo e seríamos boas garotas, do tipo que se concentravam nos estudos. Até agora, tínhamos conseguido, mas esta noite parecia um pouco com os anos anteriores.
— Jamie, você já tomou um dos shots de gelatina? — Contei os copinhos. Havia quinze, mas já tínhamos reduzido a dez. — Ou cinco?
Ela riu, caminhando em minha direção.
— Não consegui sentir o gosto do álcool nos dois primeiros.
— Então você precisou de mais três para ter certeza? — Eu levantei uma sobrancelha e me virei para ela. Ela deu de ombros, pegando outro do balcão e mandado para dentro.
— Esta noite é para a gente se divertir. Eu levantei um pequeno copo no ar.
— Para a gente se divertir.
Duas horas depois, estávamos no Meatpacking District com o namorado de Jamie e alguns de seus amigos com suas respectivas namoradas. Eu estaria segurando vela se não fosse por Adam, que conheci lá e que me fez rir o tempo todo. Ele definitivamente parecia o tipo de cara com quem eu poderia dar uma sossegada. Um homem bom, bonito e com grandes aspirações.
— Por que raios você quer se tornar um político? — eu perguntei. Foi o único ponto que poderia afetar essa coisa em potencial que poderia rolar entre a gente. Adam deu de ombros, sorrindo.
— Eu quero mudar o mundo.
— Conheci muitos políticos — eu disse. — Meu pai inclusive. Embora ele tenha trabalhado com política só por um tempo. A única coisa que muda é sua moral.
— Estou pronto para o desafio.
A maneira como Adam disse isso, com um brilho caloroso nos olhos, me fez sentir que talvez ele sobreviveria à política. Talvez ele fosse o único a mudar o mundo. Quem saberia? Quando ele sorriu para mim, senti vontade de sorrir genuinamente de volta.
— Vou ficar de olho. Talvez eu vote em você se seu nome aparecer na cédula. Se eu achar que você tem um bom perfil para isso, é claro.
— Talvez eu devesse sair com você para provar que sou a escolha perfeita.
— Seus olhos brilharam quando disse isso, e eu sorri mais ainda.
— Talvez você devesse mesmo.
Dois dos caras e suas namoradas se levantaram; um deles se aproximou e deu um tapinha no ombro de Adam.
— Já estamos indo.
Adam assentiu e olhou para mim.
— Você podia me dar seu número para a gente marcar algo no próximo fim de semana.
Adicionei meu número em seu celular e acenei uma despedida enquanto Jamie se sentava no lugar ao meu lado.
— Ora, ora, ora — disse ela. Revirei os olhos.
— Não começa.
— Eu não ia começar. — Ela riu. — Eu sabia que vocês se dariam bem. Ele é dos bons. — Ela se virou para o namorado, Mark. — Tô certa?
Mark assentiu, tomando um gole de sua cerveja.
— Ele é o único cara em quem eu confiaria para sair com a minha irmã.
— Ele saiu? — eu perguntei. — Com a sua irmã?
— Não. — Marco riu. — Eu só quis dizer que ele é bacana a esse ponto.
— Bem, eu nem sei se ele vai ligar, se teremos um encontro… E se tivermos, nem sei se vamos nos dar bem. — Dei de ombros, puxando minha bebida para perto. — Vou seguir vivendo um dia de cada vez.
— Ele vai ligar — disse Mark.
— Você já se deu bem — acrescentou Jamie, levantando uma sobrancelha. Estávamos sentados perto do banheiro, mas tínhamos uma visão clara da porta da frente, que eu ainda estava olhando desde que Adam passou por ela. Quando a porta se abriu novamente e uma nova onda de caras entrou, meu estômago se apertou do jeito que sempre fazia quando dizia respeito a ele: Nathaniel. Era uma chateação internalizada, pelo menos foi o que eu disse a mim mesma sempre que o via pelo campus ou o encontrava nas festas nos últimos dois anos. Ele se graduou no meu primeiro ano, mas agora estava fazendo mestrado, algo que eu sabia que trazia orgulho e uma conta com a metade do valor do curso para meu pai. Papai via Nathaniel como um investimento, como alguém que ele poderia transformar em um homem de negócios astuto e bem-sucedido. Papai não parecia notar as tatuagens e a imagem de bad boy, e se tivesse visto, parecia não se importar.
— Cacete. Ele fica muito gostoso com esse corte de cabelo — Jamie comentou.
Desviei o olhar de Nathaniel para ela.
— Quem?
— Você sabe quem. — Ela me lançou um olhar. — Eu não sei por que você insiste em ser tão cruel com ele.
— Primeiro de tudo, ele foi cruel comigo primeiro, daí em diante eu não consegui evitar. Eu só retribuo.
— Ele gosta de você. É aquela merda clássica de garoto que se apaixona por garota e vira um babaca com ela.
— Não. — Olhei para Nathaniel novamente. Ele parecia ser o centro das atenções aonde quer que fosse. Ele nem era o cara mais bonito do seu grupo de amigos, mas isso não importava. A arrogância e a maneira como ele se portava falavam por si. Nathaniel era do tipo “minta até que se torne verdade”, e ele definitivamente estava fazendo esse papel perfeitamente. Ele conquistou todo o amor que havia em meu pai e que eu só esperava que um dia pudesse ser direcionado a mim. Talvez quando começasse a atender seus telefonemas e a visitá-lo eu tivesse chance. Eu levantei minha bebida e tomei um grande gole, na esperança de lavar a culpa que sentia se infiltrar em mim.
— Eu não acredito que você não enxerga — disse Jamie. — Eu aposto que se você chegasse nele, ele iria ceder e dizer que está apaixonado por você. Eu bufei.
— Ele é muito cheio de si para se apaixonar por alguém que não seja ele mesmo.
Como se ouvisse minhas palavras, o que era impossível, dado que a música tocava alto no bar-barra-restaurante, ele olhou para cima e me viu. Quando nossos olhos se encontraram, senti meu coração bater mais forte. Nathaniel ergueu seu copo para mim, e eu fiz o mesmo como se me despedisse dele antes de tomar um gole e desviar o olhar. Quando o restaurante fechou, e o DJ subiu o som, mais amigos se juntaram a nós; eu estava muito ocupada conversando com Danika sobre sua educação na Rússia para procurar por Nathaniel novamente, embora não possa mentir. Eu definitivamente fiquei me perguntando se ele ainda estava por perto. As palavras de Jamie realmente mexeram comigo. Nunca, em um milhão de anos, eu teria considerado a ideia de Nathaniel se sentir atraído por mim. Ele não se sentia. A última vez em que nos cruzamos, ele me chamou de pirralha superprivilegiada, e sua opinião provavelmente não mudou muito desde então.
Deixei meu segundo drinque de lado e decidi não pedir outro. Somando as doses de Jell-O e esses drinques, eu definitivamente tinha batido minha cota para a noite. Eu normalmente não era fraca para bebida, e mesmo se fosse, nunca admitiria em público. Meu pai era dono de uma cervejaria, pelo amor de Deus. Eu não podia ser fraca com bebida. Ainda assim, conhecia meus limites.
— Vamos dançar — Jamie gritou para ser ouvida mesmo com a música. Danika parou de falar no meio da frase. Eu só pude dar a ela um olhar de desculpas.
— Você pode continuar me contando mais tarde. Eu quero ouvir mais sobre a organização dos bancos da igreja. Ela sorriu. Jamie puxou minha mão e me levou para a pista de dança.
— Ai, meu Deus, essa garota não cala a boca.
— Jamie. — Minha boca se abriu. — Nós deveríamos estar mostrando como tudo funciona aqui. Ela é sua caloura, não é?
— Ela é, mas isso não muda o fato de que ela não para de falar. — Jamie se moveu, balançando os quadris de um lado para o outro. Tínhamos decidido ser Irmãs Mais Velhas em nossa irmandade este ano, e esse foi o preço que pagamos. — Podemos trocar. Você pode ficar com ela e fico com a Morgan.
— Nem pensar. Eu amo a Morgan. — Eu ri. — Cadê o Mark?
— Pegando outra bebida para mim.
— Onde está…? — Olhei ao redor, mas Jamie agarrou meu braço.
— Pare de se preocupar e comece a se mexer.
Fiz o que me foi pedido, deixando a música abafar meus pensamentos e preocupações. Eu pensaria no meu trabalho de macroeconomia inacabado no dia seguinte. Mark voltou com a bebida de Jamie, a qual ela me ofereceu, mas eu recusei. Quando eles começaram a dançar juntos, eu me afastei um pouco e dancei com o cara que estava atrás de mim, depois com um outro. De alguma forma, acabei parando ao lado de Nathaniel. Olhamos um para o outro ao mesmo tempo, e nesse momento ele parou de falar com o amigo no meio da frase. Seus olhos correram pelo meu corpo e voltaram lentamente para cima, um sorriso surgiu quando segurou meu olhar novamente.
— Grease? — ele perguntou. Eu balancei a cabeça, corando, grata pela escuridão do ambiente. — Fica bem em você.
Minhas sobrancelhas se ergueram.
— Você está me elogiando?
— Ah, qual é. — Ele riu. — Eu não sou tão malvado assim.
— É, sim.
Ele estendeu a mão e me puxou para perto. Senti cada terminação nervosa explodir dentro de mim. O que ele estava fazendo?
— Você tem falado com seu pai ultimamente? Revirei os olhos.
— Sério? É sobre isso que você quer conversar?
— Ele está preocupado com você — disse ele. — Eu disse a ele que daria uma conferida, mas eu não queria que isso ficasse… meio assustador.
— Assustador significa…?
— Aparecer no seu apartamento à meia-noite.
— É por isso que você veio para cá? Como você sabia que eu viria?
— Não. — Ele franziu a testa. — Ryan me arrastou pra cá.
— Certo, você não gosta de ir a festas.
— Eu tenho muita coisa a provar — disse ele. — Eu não tenho tempo para ir a festas.
— Alguns diriam que você está desperdiçando os melhores anos de sua vida trabalhando. Você costuma sair com alguém ao menos?
— Você está preocupada com minha vida amorosa, princesa?
— Foi só uma pergunta. — Gemi, era por isso que não nos dávamos bem.
— Bem, não precisa se preocupar. Eu com certeza saio com pessoas.
— Ei, a gente tá indo para a festa de Erica. Você ainda quer pular a festa e voltar para casa? Podemos te dar uma carona se você… — Danika parou de falar quando viu que eu estava com um cara, ou talvez fosse o cara com quem eu estava que fez suas palavras sumirem. De qualquer forma, seus olhos verde-claros pareciam prestes a saltar das órbitas.
— Tudo bem. Eu pego um táxi para casa. — Eu sorri.
Danika assentiu, ainda olhando para Nathaniel. Revirei os olhos e me movi, a fim de impedi-la de continuar fazendo papel de boba. Nathaniel parecia confuso, mas se divertindo com a cena.
— Você não gosta que suas amigas me olhem?
— Eu não gosto que minhas amigas façam papel de boba — eu disse.
— E não há muito o que ver. Sua boca se contraiu.
— É por isso que você estava me encarando quando cheguei?
Nathaniel não tinha me visto quando chegou, mas ele estava certo, eu estava o observando. Como ele sabia disso, era um mistério para mim. Eu não ia admitir, então dei de ombros.
— Eu estava só tentando descobrir a maneira mais fácil de sair daqui sem ter de falar com você.
— No entanto, aqui está você. — Seu sorriso quase imperceptível se transformou em um sorriso completo, que o fez parecer estupidamente bonito.
Eu queria me dar um tapa por pensar isso. Era o álcool, eu disse a mim mesma, não que eu estivesse bêbada, mas tinha de ser efeito da bebida no cérebro. Era isso.
— Você gosta de mim? — Eu soltei. Definitivamente era o álcool. Sua expressão ficou séria.
— Quê?
— Você gosta de mim, tipo, acha que eu sou bonita e gosta de mim, tipo, gosta mesmo?
— Nunca pensei nisso.
— Nunca? — Havia uma pitada de descrença na minha voz, porque eu realmente não podia acreditar que Nathaniel nunca tivesse pensado se me achava atraente ou não. Eu era atraente.
— Nem uma vez.
Meus olhos se estreitaram.
— Eu não acredito em você.
— Você se acha muito, princesa. — Ele riu.
— Não me chame dessa maneira.
— Então pare de agir como uma pirralha que pode ter o que quiser.
— Não estou agindo assim, só estou fazendo uma pergunta.
— Que eu já respondi. Duas vezes. — Ele levou o copo aos lábios e tomou um gole, seus olhos nunca deixando os meus. Nathaniel abaixou o copo lentamente, ainda me observando. — Não é culpa minha que você não consiga acreditar que alguém neste mundo não te ache atraente.
— Tanto faz. — Eu me afastei e comecei a caminhar em direção à porta. Eu não ia continuar fazendo papel de boba na frente dele. Se Nathaniel disse que não gosta de mim, ele não gosta de mim. Doeu, mas o que eu poderia fazer? Suspirei enquanto pegava meu telefone para mandar uma mensagem para Jamie. Talvez eu devesse ir para a outra festa. Depois de enviar a mensagem, comecei a acenar para um táxi. Como Nathaniel poderia não me achar atraente? Deus, eu estava começando a soar como uma idiota narcisista, o que provavelmente era o primeiro motivo pelo qual ele não gostava de mim. Como eu pude ser estúpida a ponto de acreditar que havia uma chance de me entender com ele? O cara me chamava de princesa e pirralha sempre que podia.
— Quer uma carona?
Sua voz me assustou. Olhei para Nathaniel brevemente.
— Não, não preciso.
— Eu estou indo embora mesmo. Posso te levar. Olhei para ele novamente.
— Meu pai deixou que você ficasse com um dos carros dele? O que você está dirigindo é um deles? — Agora eu estava realmente sendo uma pirralha mimada, mas eu de fato não me importava.
— Não, na verdade eu recusei o carro de gratificação. Lógico. Revirei os olhos. Não me surpreendeu nem um pouco que meu pai se oferecesse para comprar um carro para Nathaniel. Mesmo gastando um valor ridiculamente alto com a pensão de mamãe, papai ainda tinha uma quantidade de dinheiro com o qual não sabia o que fazer. Ele não era ostensivo, mas definitivamente gostava de ter certeza de que as pessoas próximas estavam vivendo confortavelmente, e ninguém era mais próximo dele do que Nathaniel.
— Vamos. Me deixa te levar para casa, princesa.
A maneira como ele disse essas palavras fez meu rosto queimar. Me deixa te levar para casa, princesa. Ele fez isso soar como uma promessa explícita. Estremeci, por causa do vento, não das palavras. Eu levantei a mão novamente para chamar o próximo táxi, mas não rápido o suficiente. O veículo passou sem nem diminuir a velocidade.
— Você vai ficar aqui a noite toda — disse Nathaniel. — Eles não têm mais permissão para parar aqui. Você terá que caminhar até a esquina e tentar pegar um lá.
Comecei a caminhar na direção que Nathaniel havia indicado.
— Eu parei bem ali na esquina, sabe?
— Dane-se.
— Presley, para de ser tão teimosa por um segundo e aceita a carona.
Quando dobramos a esquina, fiquei perplexa ao ver uma grande massa de pessoas fantasiadas. Eu sabia que teria de esperar por pelo menos mais uma hora se não aceitasse a carona de Nathaniel.
— Ok. Você pode, por favor, me levar para casa? Ele sorriu.
— Com prazer.
— Eu nem sei por que você dirige nessa cidade. É completamente impossível arranjar uma vaga, isso se você encontrar um estacionamento decente.
— Caminhei em direção ao seu carro. — Um amigo meu encontrou o Maserati dele todo arranhado em um desses estacionamentos.
— Eu não tenho dinheiro nem para olhar para um Maserati, Presley, muito menos para ser estúpido o suficiente de estacionar um aqui. — Ele olhou para mim.
Uma parte de mim se sentiu mal por falar sobre dinheiro com ele, mas a outra não se importou. O mundo é desse jeito, o que eu poderia fazer se nascemos em classes sociais distintas? O cara tinha me superado, provavelmente valeria muito mais do que eu algum dia, e não ia demorar. Olhei para frente e continuei andando e imaginando qual carro Nathaniel escolheria dirigir. Eu podia imaginá-lo em qualquer carro, mas tentei pensar em modelos mais antigos. Meu primeiro carro foi um Honda Accord usado. Papai achou que seria melhor não me mimar mais do que já tinha mimado. Eu usava esse Honda na maior parte do tempo, mas de vez em quando pegava emprestado um de seus carros na garagem. Porém eu não tinha esquecido a lição. Eu sabia que tinha muito mais sorte do que meus primos, e geralmente não assumia isso como garantido. No entanto, assumi ter meus pais juntos como algo garantido. Eu sabia que fazia aquilo, mesmo assim não mudei minha maneira de pensar. Eu estava tão confusa. Provavelmente era outra razão para Nathaniel não me achar atraente. Ele tinha visto quem eu era de verdade. Minha parte feia. Ele viu além da minha pele sardenta e de porcelana e meu cabelo ruivo voluptuoso. Ele viu além de curvas sedutoras e roupas de grife justas. Eu não saberia dizer o que Nathaniel viu quando passei por essas coisas, porque eu não sabia quem eu era por trás de tantas camadas, e o pensamento de o perguntar me assustou pra diabo.
— Qual é o seu carro? — eu perguntei depois de um momento. Ele parou em frente a uma motocicleta e me entregou um capacete. Eu só consegui murmurar:
— Ah. Ah.
Tirei o capacete de suas mãos e o coloquei na cabeça. Ficou um pouco grande, mas serviria.
— O que você acha que meu pai faria se soubesse que você vai me levar para casa em sua moto?
— Não faço ideia, princesa. Talvez me trancar na masmorra? Você realmente quer descobrir? — Seus olhos brilharam, divertidos, e foi difícil lutar contra um sorriso.
— Não, preferiria não.
— Ok, então. — Ele se virou e passou uma perna por cima da moto, em seguida olhou para mim por cima do ombro. — Você vem?
— Você não vai colocar o capacete? — Eu estava gritando para que ele pudesse me ouvir apesar do barulho da moto e do barulho que minha cabeça estava fazendo.
— Você está com ele, princesa.
— Você consegue parar de me chamar assim por uma noite? — Eu me aproximei, segurei em seus ombros e passei minha perna assim como ele tinha feito. — Onde devo colocar os pés?
— Logo atrás dos meus. — Ele botou as mãos nas minhas panturrilhas e posicionou meus pés, e então subiu para minhas coxas e as apertou em ambos os lados da moto. — Aproxime-se de mim o mais humanamente possível. Meu pulso acelerou enquanto eu seguia suas instruções, passando os braços ao redor do seu corpo. Eu não deveria ter ficado surpresa com quão musculoso ele era por baixo das roupas, mas eu fiquei. Eu me agarrei a ele como se disso dependesse minha preciosa vida enquanto ele pilotava pelas ruas. Nathaniel não estava indo tão rápido quanto eu imaginava que iríamos, mas foi rápido o suficiente para que eu gritasse algumas vezes; cada vez que eu gritava, ele ria. Eu não podia ouvir, mas podia sentir as vibrações em seu estômago. Nathaniel diminuiu a velocidade quando chegamos ao meu prédio e parou em uma vaga bem em frente. Tirei o capacete quando saltei da moto e cambaleei de uma maneira instável por um momento. Nathaniel estendeu a mão e agarrou meu braço.
— Você está bem?
Eu pisquei para ele, assustada com quão perto seu rosto estava do meu. Ainda mais assustada com o quanto eu queria que ele me beijasse naquele momento. Eu culpei Jamie e suas palavras estúpidas por fazer eu me sentir assim perto dele. Sua mandíbula se apertou, e ele ficou sentado, capacete em uma mão, meu braço na outra. Meu coração batia cada vez mais forte quando me inclinei para frente.
— Presley. — Sua voz era baixa e grave, sua mão apertava meu braço, me impedindo de vencer completamente a distância entre nós. Em vez de me beijar, ele apoiou a testa contra a minha. — Você precisa ter ciência de que não é isso que você quer.
— Como você poderia saber o que eu quero ou não? — Eu afastei o rosto.
— Porque eu te conheço. Você pode pensar que não, você pode andar por aí e gritar e berrar que eu não te conheço, mas eu conheço, e você não quer fazer isso.
— Porque você não sente atração por mim e iria embora e fingiria que nunca aconteceu? — eu sussurrei.
Seus olhos brilharam, e ele engoliu em seco. Achei que Nathaniel fosse dizer algo para refutar minha afirmação, mas em vez disso, ele assentiu.
— Exatamente.
— Ok. — Senti um peso no peito e dei um passo para trás, puxando meu braço. — Obrigada pela carona.
— Se cuida, princesa.
Eu me virei e entrei no meu prédio sem olhar para trás. Por que diabos eu me joguei nele de novo? Aprenda, Presley. Nathaniel Bradley não quer você, e nunca vai querer.