DESENVOLVIMENTO URBANO DE BAIXO IMPACTO Ainda dentro da discussão de saúde e cidade, é inevitável não abordar as questões de infraestrutura verde e azul como suporte no aumento da qualidade de vida e saúde de seus habitantes. Nesse sentido, a expansão da mancha urbana colabora não apenas na impermeabilização do solo e poluição atmosférica, como também na formação de ilhas de calor devido à ausência de grandes áreas verdes na cidade (RUBIRA, 2015). Assim, conforme já exposto, essa realidade diminui de forma significativa a saúde de seus habitantes, colabora no surgimento de infecções e doenças respiratórias, e cria um ambiente favorável ao surgimento de novas epidemias. No século XIX, com o aumento das aglomerações urbanas e o início das discussões epidemiológicas, preconizou-se que os fluidos - especialmente as águas urbanas - eram os principais responsáveis pela transmissão de doenças. Nesse momento, houve uma importante mudança de paradigma sanitário, que conduziu ao conceito higienista (e majoritariamente insustentável de drenagem desse período (SOUZA et. al, 2012). A prática caracterizava-se pela evacuação rápida das águas pluviais, e impermeabilização de áreas urbanas que deram lugar, posteriormente, a grandes avenidas e sistemas de condutos artificiais. Ao fim do século XIX, o engenheiro Saturnino de Brito surge nesse debate com sugestões que contrariavam em partes esses preceitos, e em defesa da conservação do sistema natural de drenagem (ANDRADE, 1996). Após isso, os sistemas de drenagem tornaram-se cada vez mais comuns nas cidades brasileiras, mas Souza et al (2012) ressalta que frequentemente a forma como são realizadas as drenagens além de provocarem alterações no ciclo hidrológico, também aceleram e ampliam o pico de descarga superficial, aumentando, assim, o volume do escoamento superficial e a duração das inundações.
Frente às problemáticas expostas desde a introdução, a busca por técnicas e dispositivos de manejo mais sustentável tornaram-se cada vez mais comuns devido ao aumento das ameaças aos corpos hídricos de interesse ambiental urbano e regional. É neste contexto que surgem as discussões de Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto - ou LID do inglês Low Impact Development - e por meio do emprego de conhecimentos e planejamento multidisciplinar integrado. Os princípios do LID consistem em: 1. conservação e preservação vegetal, minimizando a impermeabilização do solo 2. projetos únicos que respeitem as particularidades locais naturais 3. direcionar o escoamento para as áreas vegetadas, encorajando a infiltração ao invés do escoamento superficial 4. controles de inundação distribuídos em pequenas escalas 5. prevenção à poluição e educação ambiental Outro importante manual é o SuDS (Sustainable Drainage Systems), que também defende a conservação, e reconhece o papel do solo e da vegetação no controle de águas pluviais e ciclos naturais que promovem a renovação do ar (SOUZA et. al, 2012). É evidente que o processo de construção da cidade não considerou muitos aspectos naturais determinantes para promover qualidade de vida. Conforme discutido na questão anterior, vimos que o espaço da cidade não é estimulante para uma vida saudável, e agora percorremos trajetos que mostram que o espaço das cidades também não foi construído respeitando as sensibilidades ambientais, seja pela impermeabilização do solo, seja pelo esquecimento dos rios. É diante desse percurso histórico e discussão crítica sobre formas e técnicas de desenvolvimento urbano resiliente que o trabalho pretende se apoiar nas etapas projetuais. A partir dos princípios e dispositivos apresentados pelos manuais, pretende-se, portanto, identificar e valorizar as características naturais essenciais para a manutenção de um equilíbrio.
“Com esta abordagem, o que acaba por ocorrer é (Baptista et al. 2005): (a) a transferência do problema para áreas de jusante, implicando em novas obras de ampliação do sistema com custos incrementais crescentes; (b) a falsa sensação de segurança na população com respeito às inundações, culminando em grandes prejuízos à sociedade, e; (c) a limitação de outros usos presentes ou futuros da água em meio urbano.” (Souza et al, 2012, p.10)
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