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Rua Aurora

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Pesquisa de campo (quase uma etnografia da deriva e vice-versa)

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AURORA no meu olhar de estrangeiro, ainda era espaço. Hotel San Juan, Edífico Arecê, Sr. Silvestre, Praça da República.

Certa vez, em uma aula, a Professora Maria Izabel Branco Ribeiro disse: “– Assuma sua subjetividade na cidade”. Após a orientação recebida decidi, assumir a construção de um projeto totalmente embasado na minha perspectiva experiencial como sujeito num espaço que me era desconhecido e tornou-se um lugar de afeto. A academia muitas vezes nos coloca numa posição de escolher recortes temáticos que estão imersos em acontecimentos de grande relevância histórica, obras literárias ou plásticas outorgadas pelo cânone e, logo, optar por uma rua cuja simbologia e fatos são narrados e filtrados por meio da experiência subjetiva de um único sujeito é se colocar num terreno perigoso. Há cerca de dois anos conheci a rua Aurora, e o fato é que a partir dessa descoberta São Paulo inteira descortinou-se de uma só vez. Apesar de ter cursado a graduação no Mackenzie, na rua da Consolação, eu não vivenciei a cidade, os encontros, as atividades noturnas, as manifestações, as paixões, São Paulo e eu não dançamos naquela época. O interesse por Aurora deu-se, inicialmente, no campo das afetações amorosas. Comecei a frequentar a rua, e a paisagem visível e a invisível, tanto daquele espaço quanto as que se forjaram no meu interior, eram novas e instigantes. A frequência na visitação da rua começou a incitar a reflexão sobre as relações do sujeito com o espaço; a potência do corpo na cidade; a própria potência da cidade como um local de intensos e variados estímulos; a transformação ininterrupta da paisagem; a paisagem invisível que encoberta o espaço, trama de memórias afetivas de tantos citadinos. Um bombardeio de

caminhos teóricos que até então eu nunca havia posto em discussão ou estudo. O primeiro exercício foi classificar com palavras-chaves áreas que eu gostaria de alcançar no desenvolvimento do projeto. Pontuei um conjunto de palavras:

• Espaço • Lugar • Paisagem • Afeto • Memória • Caminhar • Subjetividade • Narrativa • Cotidiano

Após essa separação de palavras, o entendimento do objetivo do projeto e da função da pesquisa de campo e da metodologia utilizada para a construção do escopo argumentativo e visual desse trabalho tornou-se claro. Teria de desenvolver uma peça gráfica, um fanzine, que transpusesse o percurso de deriva na rua Aurora com imagens, registradas pelo processo fotográfico pinhole, e por discursos verbais de transeuntes e moradores da rua editados e transcritos a partir da minha interpretação, somados também às descobertas e experiências vivenciadas durante o campo. As perguntas que me nortearam nas saídas para trabalho de estão listadas abaixo. Entretanto, não houve uma abordagem direta com o entrevistado na estrutura pergunta/resposta. Conforme havia abertura para o diálogo e a troca de experiências, tentava-se por caminhos outros chegar em colocações que abrangessem as questões norteadoras do projeto.

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