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Caderno de campo
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Imagens do caderno utilizado na pesquisa de campo. Anotações sobre as impressões da rua Aurora, percursos realizados, trechos de conversas e tempo de exposição dos registros fotográficos.
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Rua Aurora - Luz Um rapaz de bicicleta pegou no meu pescoço, arrancou minha corrente, não era ouro.
Rua Aurora - Sta. Ifigênia Do semáforo dá para ver Jesus ao fundo, no alto, iluminado. Muitas portas de comércio, um e outro prédios com rococó, gente torcendo.
Rua Aurora - Rio Branco Hotel Lar Estacionamentos Prédios Bandeiras Rua suja
Rua Aurora - Guaianazes Gente na rua, gente torcendo, buzina, corneta, migrantes, outros idiomas. Hotel Cachorro Cinema cabine
Rua Aurora - Conselheiro Nébias Mais pessoas brancas Rua menos suja Crianças Prédios mais conservados Fachadas menos roupas expostas Drogaria Viagra 21,99 Rua Aurora - São João Academia Brancos Negros Bares Outras línguas Bicicleta Lixo amontoado em pontos específicos campo aberto Automóveis Árvores
Ponto afetivo Sol Africano restaurante Perfume de mulher Estacionamento moto Teatro Orion Apartamentos.
O espaço vai se diluindo para dar vez ao lugar.
Rua Aurora - V. de Carvalho Já mais próximo do centro, pessoas brancas, óculos escuro, lugar, mulher de roupa de academia, negros, rua menos suja, hotel Bourbon, prédio, mais prédios para morar, perfume, boa viagem, lugar.
- São Paulo antes era bom, agora muita maldade. Estou indo para Timbiras visitar meu filho. Experimento Pinhole Dia ensolarado, vento gelado, frio, cheiro de incenso, começo do trajeto primeira foto. Girei antes e depois quase 5 segundos em duas alturas
Foto educação, sete segundos, subi numa pilastra, um degrau.
Aurora/Andradas-Bar do Leo 7 ou 8 segundos, apoiei a máquina numa mesa na calçada mirei para as bandeirolas da rua Andrada, Brasil suspenso em fitilho. Branco. Faz tempo que eu não via uma dessas
Olha os carros aí Neuza, do que é a pesquisa?, curiosidades, a caixa é um dispositivo.
Rua Aurora, 166 Primeiro box “Haja Luz”. Valdivino sempre estou aqui. Tempo de exposição de 8 a 10 segundos. Abacaxi, melancia, cheiro de churrasco. Apoiei na mão.
Canteiro Central da Rico Branco com vista para “Aurora” Nunca feche o cruzamento. Aurora nela mesma, frio, sombra, um corredor de prédios altos. Aqui é o lugar mais frio e escuro do percurso.
Inverti a câmera, tentei fazer em mais tempo doze segundos, tinha estática e movimento e o desespero de um garoto R$ 7,00 para comprar uma lata de tinta.
Henrique Aurora 488 com a Guaianazes Muitos colares, tempo de exposição 10 segundos, barba grande.
Se a Aurora fosse uma mulher seria uma cachorra feia, uma mulher trucada, uma mulher travesti.
Fotografei os pés de três moças que trabalham numa casa de prostituição. Simpáticas, inseguras com as pessoas, mas com bom humor. Perguntaram se eu tinha como me identificar, elas têm medo e precisam ter mesmo.
Nessa primeira saída eu não me preocupei com os enquadramentos, tentei me guiar pela altura dos meus olhos, usando minha mão de apoio, ando com receio das pessoas. A pior pessoa do mundo, podre, não por ela, mas por quem a frequenta, ajuda no meu trabalho e daqui que eu tiro o meu sustento.
Nosso espaço. O amor é um sentimento dado aos mortais para eles brincarem. 16 luas é um filme, eu sempre quis dizer essa frase.
Não acredite em tudo que ler, apenas o que sentir é real.
Uma mulher desprezada pela sociedade.
Onde eu criei meus filhos, hoje são pais de família.
A melhor mulher do mundo, porque tem tudo que a gente quer aqui.
Cada cabeça é um mundo. Eu a levaria.
Já pensa que é prostituta.
cap 5 peça gráfi ca
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