Futebol Total #04

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EDIÇÃO 04

outubro 2018

O FUTURO JÁ AQUI Liga das Nações / Seleção Feminina / Girona



#04 outubro2018

Mês de experiências Revista Futebol Total tem vindo a aumentar o número de redatores, leitores e, agora, no número de gostos no Facebook. Depois de criado o projeto que esperamos que nos acompanhe durante muitos meses ou anos, procuramos melhorar a qualidade do nosso conteúdo para que não seja oferecido apenas a cada mês, mas diariamente.

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Para atingir esse fim, os nossos seguidores tem agora acesso aos resultados das várias competições ao longo do Mundo, dos grandes golos e das notícias que vão atualizando o universo futebolístico. A juntar a isso, continuamos a trazer reportagens para que fique a par das competições e dos clubes que merecem o olhar de todos os adeptos. Para a edição de este mês, comece aqui em Portugal, com a paixão dos adeptos da Académica, até ao português falado nos campos do Wolverhampton, de Inglaterra. Até lá, passamos ainda pelo Girona, de Espanha, e por terras gregas, para visitar a história do AEK, adversário do SL Benfica na Liga dos Campeões. Num mês de experiências, trazemos o Futebol Feminino pela primeira vez através da Supertaça Feminina conquistada pelo SC Braga e a Seleção Nacional, que não conseguiu alacançar o apuramento para o Campeonato do Mundo mas voltou a deixar uma boa imagem. Por outro lado, boa imagem vai deixando também a Seleção Nacional masculina na Liga das Nações. A nova competição da UEFA também foi examinada e explicada para a sua melhor compreensão. Os lusos apresentam uma equipa, cada vez mais, jovem, muito devido ao talento que vem aparecendo na Liga NOS. Destacamos um nome de cada emblema do principal campeonato do futebol português que poderão vencer o prémio de revelação em 2018/19. Esta é uma revista composta por jovens jornalistas, grátis e online. Aproveitem e espero que gostem... uma vez mais! André Nogueira Criador da revista Futebol Total

Ficha Técnica Diretor Geral André Nogueira Paginação André Nogueira Tiago Nogueira Redação André Nogueira Daniel Fonseca João Couto Jonathan Pertzborn Jorge Nunes Sérgio Velhote Revisão Daniel Fonseca Contacto aonogueira16@gmail.com Créditos A Bola Bet Football CD Aves CD Feirense CD Nacional GD Chaves Girona FC Guimarães Digital MaisFutebol Notícias Ao Minuto Jornal de Notícias Rádio Renascença Rio Ave FC RTP SC Farense Sul Informação Tor Fabrik zerozero.pt


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Foto do mês Demoraram a aparecer mas aqui estão eles. Cristiano Ronaldo voltou a encontrar o sorriso ao marcar pela Juventus por três vezes, este mês (dois golos frente ao Sassuolo e um frente ao Frosinone). A formação italiana ainda só sabe vencer.


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Reportagem Académica

Seleção Feminina

Wolverhampton em português

20

28

Supertaça Feminina

Promessas Liga NOS


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14 Liga

das nações

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Reportagem Girona

Histórias com História

Grandes Golos

60

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Reportagem AEK Atenas

Estádios: Signal Iduna Park



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Académica

Um clube de primeira no futebol de segunda Já lá vão três temporadas desde a descida da Associação Académica de Coimbra ao segundo escalão do nosso futebol. Um clube histórico que, durante muitos anos, pôs a região centro no mapa futebolístico mas que, ultimamente, tem vivido tempos difíceis...


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Daniel Nunes

sta história fala de amarguras, quedas, falhanços e desilusões… Mas tem uma moral muito nobre, onde estão expressos valores bem importantes como o da persistência de um clube que nunca desiste rumo aos seus objetivos e acima de tudo, o da paixão, demonstrada regularmente por um apoio incansável de uma das massas adeptas mais devotas de Portugal.

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Um passado de glória A Associação Académica de Coimbra, Organização Autónoma de Futebol, foi fundada no dia 3 de novembro de 1887, sendo o clube de futebol mais antigo de Portugal ainda em atividade. E, embora apenas hajam registos de práticas desportivas da equipa a partir de 1912, é inegável que os já mais de 130 anos de história trouxeram momentos de grandes conquistas. A “Briosa” tem um palmarés respeitável, que conta com duas taças de Portugal (uma delas foi na primeira edição da competição, em 1938), quatro campeonatos da Segunda Divisão e dezoito campeonatos de Coimbra, que entre os quais conta com um hexadecacampeonato (dezasseis campeonatos consecutivos). Na Liga Portuguesa é o sétimo clube com mais participações, mais até do que outros históricos como o SC Braga e o Boavista, conseguindo a sua melhor posição há cerca de 50 anos, na temporada de

1966/67, quando ficou posicionada num fantástico segundo lugar, falhando a conquista de um inédito título de campeão nacional às mãos do SL Benfica, que ficou três pontos à frente dos estudantes. No panorama internacional, a Académica participou por três ocasiões na Liga Europa e uma vez Taça das Taças, sendo que, na temporada de 2012/13, venceu o Atlético de Madrid por 2-0, em Coimbra, que, na altura, tal como agora, era o detentor do título. Mas não é só de títulos que se faz um grande clube. A massa adepta, a quantidade de gente que movimenta, bem como a paixão que sentem pela instituição que seguem semana após semana quase religiosamente, são tudo características que pesam na grandeza de uma equipa e a Académica é um dos clubes com os apoiantes mais devotos em Portugal. O lado mais “negro” Estamos na temporada de 2015/16 e a Académica está há catorze temporadas consecutivas na Liga NOS mas, a cada ano que passa, parece mais difícil garantir a permanência na competição máxima do futebol nacional. Esta temporada não começou nada bem para os estudantes, já que, nas primeiras cinco jornadas do campeonato, a equipa não conseguiu somar qualquer ponto, o que fez soar os alarmes


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da descida em Coimbra. O sacrificado foi José Viterbo, que assim foi dispensado do comando técnico da Académica. Filipe Gouveia assumiu o cargo e os resultados começaram quase de imediato a aparecer, já que, num espaço de dois jogos, surgiu logo a primeira vitória da “Briosa” no campeonato, em casa, sobre o Marítimo, pela margem mínima. Estaria lançada a reviravolta de uma temporada que começou com o pé esquerdo? Um Portuense ao salvamento Para combater esta má fase da Académica de Coimbra na Liga Portuguesa, foi chamado ao comando técnico Filipe Gouveia. O ex-jogador de futebol já tinha sido treinador da turma de Coimbra como adjunto e regressou ao clube para tentar contornar esta má fase dos estudantes. E as mudanças foram notórias. No final da primeira volta (17.ª jornada), a Académica já tinha fugido não só à última posição da tabela classificativa como também aos lugares de descida, ocupando a 16.ª posição com uma vantagem de seis pontos para o Boavista, penúltimo classificado. Uma sentença sem golos Chegamos à penúltima jornada do campeonato com a Académica numa posição muito complicada. O clube nunca conseguiu fugir da parte funda da tabela e acabou mesmo por jogar o tudo ou nada

em casa, frente ao SC Braga, que ocupava a quarta posição, apenas atrás dos ditos três grandes. Durante o jogo não faltaram nem oportunidades de golo nem vontade de ganhar por parte dos estudantes, mas a sorte, como aconteceu durante toda a temporada, não quis nada com a turma de Coimbra. O jogo acabaria por ficar empatado a zero e os adeptos da “Briosa” choravam a inevitável descida ao segundo escalão de um histórico do futebol português. Choravam, mas aplaudiam o esforço dos jogadores que, no seu entender, dignificaram o emblema que envergam ao peito. O levantar depois da queda Ainda muito ferida pela péssima temporada transata, a “Briosa” procurava dar um grito de revolta, assumindo a subida como principal objetivo da temporada. Sem essa subida, o ano seria considerado um fracasso. Depois de Filipe Gouveia ter falhado o objetivo manutenção, o testemunho foi passado para Costinha. Importa salientar que a tarefa não seria nada fácil para os “Capas Negras”, visto que a Segunda Liga é uma competição com muitos jogos, contra equipas complicadas, em campos difíceis. Nunca se avizinhou um caminho simples o de regresso à Primeira Liga, mas era o único que se podia tomar. Acontece que, nesse ano, duas equipas se destacaram de todas as outras: Desportivo das


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Aves (atual detentor da Taça de Portugal) e Portimonense (na altura treinado por, como só podia ser, Vítor Oliveira), que acabou por ser o campeão da Segunda Liga. A Académica andou sempre mais ou menos perto desses dois clubes, mas no final acabou por deitar tudo a perder… Falhou a subida de divisão mas, apesar dos maus resultados, os adeptos não viraram costas ao clube. Pelo contrário, prometeram comparecer em força aos jogos da Académica para apoiar o clube de coração e essa promessa foi mesmo cumprida. A verdadeira “Mancha Negra” Liverpool, Dortmund, Celtic, entre outros clubes têm algo em comum: as massas adeptas destas equipas regem-se pelo lema “You’ll never walk alone” (nunca caminharás só), com o objetivo de apoiar o clube de coração independentemente de quaisquer circunstâncias... e a descida da Académica bem pode disso servir de exemplo. Apesar da desastrosa temporada de 2015/16 e da não subida em 2016/17, os adeptos não abandonaram a equipa e caminharam com ela pelas ruas da amargura… tristes mas apaixonados e unidos. Durante toda a temporada de 2017/18, compareceram em massa aos jogos da Segunda Liga, com o grande objetivo de ajudar a reerguer a Académica ao lugar que, no seu entender, ela merece. E tanto assim foi que até já se registaram assistências recorde em jogos da competição, com assistências a superar a marca dos 10 mil espectadores. O homem do leme foi Ivo Vieira, que sucedeu a Costinha no banco de suplentes dos estudantes. Mas, nesta temporada, os resultados custaram a

aparecer… Na décima jornada, a Académica estava já a onze pontos do topo e em posição de descida. Um cenário que assustou mas não afastou os milhares de adeptos do municipal de Coimbra para apoiar o clube de coração. E a verdade é que, esse apoio, acabou por se tornar fundamental para a reviravolta da Académica. Quinze jornadas mais tarde, o cenário foi totalmente o oposto. A “Briosa” entrou num ciclo de vitórias e chegou à tão desejada posição de subida. Posição essa que até ao fim do campeonato esteve numa disputa acesa. E no final… voltou a não ser a Académica a subir… os estudantes foram incapazes de segurar esse tão desejado lugar de promoção, ao perderem, em casa, contra o Cova da Piedade (1-2). Além disso, o Santa Clara, que estava a discutir esse lugar com a Académica, venceu o seu jogo, o que por si só sentenciou a permanência da “Briosa” na Segunda Liga. O fim chegava da pior maneira para um ano que teve tudo para ser de enorme sucesso. E, apesar do objetivo novamente não cumprido, a força que o apoio dos adeptos deram à equipa e a diferença que isso teve nos resultados foi notória. À terceira será de vez ou não há duas sem três? O apoio manteve-se... Os resultados também. Atualmente, o clube ocupa a décima posição da Segunda Liga mas ainda numa fase inicial do campeonato. Muitas são as dúvidas em torno do que conseguirá a Académica fazer esta temporada ou não. Mas uma coisa é certa: o apoio dos adeptos tem sido, é e continuará a ser algo impressionante e uma certeza nos jogos da “Briosa”. Será importante acompanhar onde os comandados por Carlos Pinto e a “Mancha Negra” levarão este histórico, este ano.


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Liga das Nações Jorge nunes

Arrancou no dia 6 de setembro de 2018 a mais recente competição da UEFA: a Liga das Nações (ou UEFA Nations League). Se não está familiarizado com este torneio não se preocupe. A Revista Futebol Total diz-lhe tudo o que precisa de saber.

o passado dia 10 de setembro, em pleno Estádio da Luz, Portugal venceu a Itália por 1-0, num jogo a contar para a Liga das Nações, a nova competição da UEFA, que tem um formato distinto de qualquer outra atualmente em disputa.

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Como funciona esta competição? Na Liga das Nações participam todas as 55 federações de futebol que estão inseridas nos quadros da UEFA. Estas estão divididas em quatro ligas (de A a D), sendo que na A ficam as equipas melhor posicionadas no ranking europeu de seleções e na D ficam as seleções pior posicionadas. Por sua vez cada liga está dividida por outros quatro grupos, que tanto podem conter três como quatro seleções nacionais cada. As equipas jogarão duas vezes contra todas as outras seleções inseridas no seu grupo (uma em casa e outra fora).


#04 outubro2018 pretende atingir, tais como reduzir o grande diferencial de valores existente entre algumas seleções da europa, já que na UEFA Nations League todas as seleções irão defrontar equipas de um valor aproximado ao seu; dar mais oportunidades de qualificação para fases finais dos europeus de futebol, principalmente para as seleções teoricamente mais fracas e substituir os jogos amigáveis por jogos com um maior nível competitivo, o que é sempre mais interessante de ver para o espectador em geral.

No final, os primeiros classificados dos grupos nas divisões D, C e B serão promovidos às divisões acima e, os últimos classificados dos grupos nas divisões A, B e C, serão despromovidos às divisões abaixo. Já os primeiros classificados dos grupos da liga A jogarão uma fase final, em formato de final four. Aí, jogar-se-ão duas meias-finais, um jogo de 3.º e 4.º lugar e a final, para apurar o primeiro vencedor desta nova competição. Qual a sua periodicidade? Esta competição é bienal e disputa-se nos anos em que não hajam Campeonatos do Mundo ou da Europa. Esta primeira edição decorrerá durante os meses de setembro, outubro e novembro de 2018 e o mês de junho de 2019. Para que serve? A Liga das Nações tem vários objetivos que

As seleções podem-se apurar para o Campeonato da Europa por via desta competição? Sim. Todos os vencedores de cada grupo da Liga das Nações que não se qualificarem para o Campeonato da Europa de futebol por via das fases de qualificação da UEFA, têm agora uma segunda oportunidade de apuramento para a competição. Quem vence o seu grupo na Liga das Nações garante automaticamente um lugar num playoff de acesso ao Campeonato da Europa, mesmo que na fase de qualificação não tenha conseguido ficar numa posição de apuramento. Por exemplo, se Portugal ganhasse o seu grupo da Liga das Nações mas ficasse em último do seu grupo da fase de qualificação, isso não significaria que a seleção das quinas estivesse, imediatamente, afastada do Campeonato da Europa e da possibilidade de defender o seu título. Em vez disso, jogaria um playoff de acesso contra as seleções vencedoras dos restantes grupos da sua liga. Esse playoff totaliza dezasseis equipas (quatro por liga) que tentarão ocupar as últimas quatro vagas (uma por cada liga) para o Campeonato da Europa. No entanto, se Portugal ganhasse ambos os grupos, por exemplo, já não precisaria de ir a esse playoff, pois já estava qualificado. Assim sendo, a vaga deixada por Portugal seria ocupada pela seleção a seguir que tivesse melhor posicionada no seu grupo da Liga das Nações, mas que ainda não tivesse garantido o apuramento para o Campeonato da Europa (que neste caso seria ou a Polónia ou a Itália). E Portugal? Os campeões europeus estão inseridos no grupo 3 da liga A, juntamente com Itália e Polónia. Ao fim de duas jornadas, Portugal lidera o grupo com três pontos e tanto a Itália como a Polónia estão atrás, com um ponto cada. Na próxima jornada, a seleção nacional vai à Polónia jogar com a seleção da casa e, em caso de vitória, dá um passo de gigante rumo à conquista do grupo e consequente apuramento para a primeira fase final do torneio. Esse jogo será disputado no dia 11 de outubro, às 19h45.


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Por enfim, o ouro foi para braga SC Braga conseguiu, finalmente, vingar-se de todas as derrotas frente ao Sporting CP. O primeiro troféu foi para Braga, quebrando a hegemonia leonina. Fica feito o aviso de que os outros emblemas também vencem, no ano em que o SL Benfica se estreou na Segunda Divisão.


#04 outubro2018 sem nunca ter conseguido vencer o Sporting CP. Com a contratação de mais nomes estrangeiros, ao contrário da escolha nacional das últimas temporadas, o SC Braga abdicou da prata da casa para conquistar o ouro das competições. Porém, a estratégia começava por sair furada ao técnico Miguel Santos quando, no minuto seis, Larisa Staub cometeu uma grande penalidade com uma falta sobre Ana Borges. A internacional portuguesa Tatiana Pinto foi chamada a converter e não desperdiçou. Com a desvantagem madrugadora no marcador, a equipa do SC Braga foi atrás do empate. A concentração defensiva do Sporting CP fez com que o resultado chegasse inalterado até ao final da primeira parte. Na segunda parte, mais do mesmo mas com menos intensidade ou qualidade. Foi preciso esperarmos pelo minuto oitenta e um para que, por fim, as tentativas das guerreiras do Minho se traduzissem em golo. Dentro de área, Francisca Cardoso aproveitou o espaço dado para cabeçar para o fundo das redes. Entrávamos no prolongamento com os trinta minutos mais equilibrados de todo encontro, embora com ligeira vantagem ofensiva para o Sporting CP, que dispôs das melhores oportunidades mas sem conseguir acertar na concretização. Ana Capeta, Diana Silva e Ana Borges foram as mais inconformadas mas não foram eficazes na finalização.

André Nogueira

ela primeira vez na sua história, o SC Braga venceu a Supertaça feminina, derrotando o Sporting CP, o grande rival desde a entrada de ambos os emblemas na Primeira Divisão.

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No Estádio Municipal do Fontelo, em Viseu, SC Braga e Sporting CP precisaram de grandes penalidades para encontrar um vencedor, depois da igualdade durante os noventa minutos de tempo regulamentar e os trinta minutos de prolongamento (1-1). Desde a entrada de ambas as equipas, o Sporting CP tem conseguido superiorizar-se ao SC Braga numa questão de pormenores. As leoas sagraramse bicampeãs nacionais, bicampeãs da Taça de Portugal e eram, à partida para este jogo, as detentoras do troféu da Supertaça de Portugal. Por outro lado, as guerreiras do Minho haviam terminado na segunda posição em todas essas competições,

Sem nenhuma alteração durante os cento e vinte minutos, a partida dirigia-se para a lotaria dos penáltis. Na primeira tentativa, a americana Carlyn Baldwin falhou para defesa da guarda-redes da internacional portuguesa Rute Costa. Do outro lado, a habitual guarda-redes da Seleção Nacional portuguesa, Patrícia Morais, teria de defender uma grande penalidade para manter as esperanças leoninas na conquista do troféu. Mas tal não viria a acontecer, nenhuma das nove atletas que se seguiram acabariam por falhar, deixando a grande penalidade decisiva para Francisca Cardoso, que se tornava a protagonista da partida. O SC Braga vencia, assim, o primeiro troféu da temporada. O Sporting CP viu assim quebrada a sua hegemonia e terá de ter o dobro de atenção no SC Braga para o que resta do ano, sabendo que, na Taça de Portugal, também poderá encontrar o SL Benfica, que regressou este ano e apostou forte no plantel para a Segunda Divisão. Até lá, teremos de esperar para ver o que nos trará um campeonato que está melhor a cada ano que passa e que se recomenda.


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Selecão feminina Falhou apuramento para o Mundial, mas deu provas da sua qualidade

joão couto

epois de realizar a sua primeira participação numa grande competição de seleções femininas, o Campeonato da Europa de 2017, na Holanda, onde Portugal conquistou os primeiros três pontos da história do país, na segunda jornada do grupo D, frente à Escócia, com uma vitória por 1-2, a seleção orientada por Francisco Neto começou, em outubro de 2017, a sua qualificação para o Campeonato do Mundo de 2019, que se irá realizar na França.

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A seleção portuguesa foi sorteada no grupo 6, juntamente com Itália, Bélgica, Roménia e Moldávia, e foi frente à equipa belga que as lusas realizaram o seu primeiro jogo da qualificação. Numa partida que se disputou no Municipal 25 de Abril, em Penafiel, as portuguesas saíram derrotadas por 0-1, com um golo sofrido logo ao abrir da segunda parte, apontado por Tine De Caigny. Precisamente um mês mais tarde, Portugal voltava a jogar dentro de portas, desta vez no Estádio

do Bonfim, em Setúbal. A adversária era a frágil Moldávia, que até então tinha sofrido dezassete golos em apenas dois jogos, frente à Itália (5-0) e à Bélgica (12-0). A formação das quinas não teve dificuldades em superiorizar-se às moldavas e goleou por uns claros 8-0, com os seus golos a serem apontados por Carolina Mendes, Carole Costa (2), Diana Silva, Dolores Silva, Vanessa Marques (2) e Olga Cusinova, na própria baliza. Com três pontos conquistados em dois jogos, as pupilas de Francisco Neto iriam enfrentar a favorita seleção italiana no seu terceiro desafio, que à altura do jogo era líder do grupo juntamente com a Bélgica, com ambas as seleções a possuírem três vitórias nas três partidas realizadas até à altura. A equipa portuguesa foi derrotada no António Coimbra da Mota, no Estoril, por 0-1, com o golo da Itália a ser apontado por Daniela Sabatino, aos trinta e sete minutos de jogo. Na sua primeira partida fora de portas, a seleção lusa deslocava-se à Bélgica para defrontar uma seleção que à data do jogo ainda não sabia o que


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era não vencer. No tempo regulamentar, o duelo não contou com qualquer golo, estando toda a emoção reservada para o período de descontos. No primeiro minuto de compensação, a seleção belga colocava-se em vantagem com um golo apontado por Tine De Caigny, precisamente a mesma atleta que havia marcado o golo da equipa da Bélgica diante de Portugal no jogo que se realizou em solo luso. Três minutos mais tarde, e já depois de uma expulsão de Davina Philtjens, a seleção portuguesa chegou ao empate por intermédio de uma grande penalidade convertida por Dolores Silva. Portugal somava assim o seu primeiro empate da fase de qualificação, conquistando quatro pontos em quatro jogos realizados até então. Depois de defrontar a Bélgica, Portugal teria o seu jogo teoricamente mais complicado da fase de qualificação para o Campeonato do Mundo: a deslocação à casa da formação mais forte do grupo, a Itália, que até então somava seis vitórias em seis partidas disputadas, sofrendo apenas dois golos e marcando quinze. A dificuldade de desafio refletiu-se no resultado e Portugal

saiu derrotado do encontro por 3-0, com Cristina Girelli, Cecilia Salvai e Barbara Bonansea a apontarem os golos da seleção italiana. No seu sexto jogo Portugal enfrentava fora de portas a Roménia, seleção que estava em igualdade pontual com a seleção lusa. Foram as romenas que conseguiram inaugurar o marcador, chegando ao 1-0 aos trinta e quatro minutos de jogo, por intermédio de Isabelle Mihail. A resposta portuguesa não demoraria a chegar e, cinco minutos depois, Andreia Norton chegou à igualdade, resultado que se iria manter até final. O empate entre romenas e portuguesas colocava ambas as seleções sem hipóteses de ainda se qualificarem, uma vez que apenas os vencedores dos grupos garantiam apuramento direto para o Campeonato do Mundo e os quatro melhores segundos classificados participariam num play-off que viria a apurar mais duas seleções. A seleção das quinas somava até aqui apenas cinco pontos, podendo chegar aos onze, caso vencesse as duas partidas que lhe restavam, mas a Bélgica, equipa que se posicionava no segundo lugar, já tinha treze pontos conquistados.


Futebol total No penúltimo jogo da qualificação portuguesa, a equipa orientada por Francisco Neto deslocavase à Moldávia para defrontar a seleção local, que no primeiro encontro entre as duas formações havia sido derrotado por 8-0, em Portugal. Neste jogo a história não foi muito diferente. A seleção lusa venceu as moldavas por 0-7. Carolina Mendes, Andreia Norton, Vanessa Marques (por duas vezes), Diana Silva (por duas vezes) e Fátima Pinto apontaram os golos da equipa das quinas. Por fim, restava apenas a Portugal defrontar a Roménia, num jogo que se realizou no Estádio Dr. Machado de Matos, em Felgueiras. A seleção portuguesa sofreu um golo aos três minutos de jogo, por intermédio de Mara Bâtea, mas, antes do intervalo, a formação das quinas conseguiu dar a voltar ao marcador e, com golos de Ana Leite e de Melinda Nagy na própria baliza, foi para o descanso a vencer por 2-1. No segundo tempo, Ana Leite voltou a marcar para Portugal e Diana Silva fez também o gosto ao pé por duas vezes, colocando o marcador final a apresentar uma vitória por 5-1 para as comandadas por Francisco Neto. Portugal terminou o grupo 6 da qualificação para o Campeonato do Mundo de 2019 no terceiro posto, com um total de onze pontos conquistados, atrás da Itália, que somou vinte e um e se qualificou diretamente para o Campeonato do Mundo, e da Bélgica, que fez dezanove pontos e irá disputar o play-off, juntamente com mais três segundos classificados. Os dois últimos lugares do grupo ficaram para a Roménia (cinco pontos) e para a Moldávia (um ponto). Para além da Itália, qualificaram-se diretamente para o Campeonato do Mundo a Inglaterra, a Escócia, a Noruega, a Suécia, a Alemanha e a Espanha. No play-off, a Holanda irá enfrentar a Dinamarca e a Bélgica encontra a Suíça, na luta pelas últimas duas vagas para o Campeonato do Mundo. De referir ainda que a França se qualificou diretamente para a fase final da prova por ser o país organizador.


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Talento em Portugal aNDRÉ nOGUEIRA Jonathan Pertzborn

Seleção Nacional, orientada por Fernando Santos, tem vindo a apresentar convocatórias com atletas bastantes jovens. Na última convocatória, para os jogos frente a Croácia e Itália, podíamos contar, com menos de 25 anos, catorze nomes: Rúben Dias, João Cancelo, Ricardo Pereira, Gedson Fernandes, Bruma, Renato Sanches, Raphäel Guerreiro, Rúben Neves, Bruno Fernandes, Rony Lopes, Gelson Martins, Gonçalo Guedes, Bernardo Silva e André Silva, razões mais que suficientes para acreditar no futuro dos nossos jovens portugueses. Desses atletas, muitas atuaram ou ainda atuam no nosso principal campeonato nacional. Portugal é um país reconhecido pela formação de grandes talentos, com três melhores jogadores do Mundo no seu historial: Eusébio em 1965, Figo em 2001 e Cristiano Ronaldo em 2008, 2013, 2014, 2016 e 2017, além de um Golden Boy: Renato Sanches em 2016, prémio atribuído anualmente ao melhor jogador jovem. Por outro lado, o campeonato português é composto por clubes vendedores, ou seja, que

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encontram talentos no país ou no estrangeiro, normalmente na América do Sul, e conseguem vender por quantias elevadas a gigantes europeus. Nas maiores vendas já registadas, temos Hulk para o Zenit (60 milhões), James Rodríguez para o Mónaco (45 milhões) ou Falcao para o Atlético de Madrid (40 milhões), Witsel para o Zenit (40 milhões), João Mário para o Inter (40 milhões), Mangala para o Manchester City (40 milhões), Ederson para o Manchester City (40 milhões), André Silva para o AC Milan (38 milhões) ou Victor Lindelöf para o Manchester United (35 milhões). Por esse motivo, não fique surpreendido se encontrar nesta lista a próxima transferência milionária de um clube português. Para esta edição, decidimos destacar um jogador por cada emblema a participar na Liga NOS 2018/19, com idades entre os 17 anos e os 23 anos. Para a escolha, não nos restringimos apenas a atletas portugueses, mas a todos aqueles que acreditamos que mais potencial tem de ser uma revelação esta temporada, independemente da sua nacionalidade.


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Francisco Trincão

Sc bRAGA

18 anos

Com 17 anos era convocado para um compromisso europeu do plantel principal e precisava da autorização por escrita dos pais para conseguir sair do país, algo que surpreendeu até o presidente do clube bracarense: “Vem o Trincão connosco. Pensava que ele tinha 19 anos, pela maturidade que demonstra em campo, e, ontem, fiquei a saber que precisava da autorização dos pais para viajar. São estas coisas que nos alegram”, declarava a 6 de dezembro de 2017. Dotado de uma qualidade técnica muito apurada e uma facilidade de drible e finalização invejável, esteve, recentemente, em destaque no Campeonato da Europa de sub-19, onde se sagrou melhor marcador da competição, juntamente com Jota, do SL Benfica. Como extremo, pode alinhar em ambos os lados, embora procure constantemente o seu pé esquerdo, o seu melhor pé. Vai alinhando pela equipa B do SC Braga e pela seleção nacional sub-20, mas a sua integração no plantel principal poderá estar para breve. É uma aposta para o futuro e um jogador a ter em conta para esta temporada. A sua cláusula de rescisão está fixada nos 30 milhões de euros.


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gEDSON fERNANDES sl bENFICA

19 anos

Desde a saída de Renato Sanches que nenhum outro médio tinha atraído tanto mediatismo como Gedson Fernandes. Numa temporada onde também poderíamos destacar João Félix, foi Gedson o primeiro a reservar o seu lugar no onze inicial do clube encarnado. Uma das grandes ausências da seleção nacional de sub-19 no Campeonato da Europa conquistado este ano, fez a pré-temporada com o plantel principal e convenceu o técnico Rui Vitória. Desde os 250 euros e 25 bolas de futebol até à cláusula de rescisão de 60 milhões, Gedson saltou vários obstáculos até se afirmar rapidamente junto a Fejsa e Pizzi no centro da equipa. Com a concorrência de Gabriel, a transferência mais cara do SL Benfica neste mercado, a rotatividade entre os dois jogadores poderá ser uma realidade, mas o jovem português não deverá perder o seu espaço. Desequilibrador e detentor de uma facilidade de remate, apontou o seu primeiro golo contra o Fenerbahçe (1-1), no jogo que garantiu a presença do SL Benfica nas competições europeias. Mais tarde, a 6 de setembro de 2018, entrava no último minuto da partida da Seleção Nacional, frente à Croácia, cumprindo mais um sonho. Com dez anos de carreira ao serviço do clube da capital, terá a sua terceira experiência como profissional, depois do título de júniores conquistado na temporada passada.


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joVANE cABRAL SPORTING cp

20 anos

Para se pensar na próxima promessa leonina, neste momento, terá de se pensar em Jovane Cabral. Aos 20 anos, o jovem continua a rejeitar representar a seleção de Cabo Verde, com a esperança de, um dia, conseguir chegar à Seleção Nacional portuguesa. Apesar de já ter alinhado uma vez pela seleção cabo-verdiana, o encontro foi de caráter amigável, o que poderá levar a um pedido de autorização à FIFA para o atleta representar as cores lusas, à imagem do sucedido com Diego Costa e as seleções do Brasil e, hoje em dia, da Espanha. Com claro destaque para a sua força, Jovane não passou despercebido aos olhos do antigo técnico Jorge Jesus, dando-lhe os primeiros minutos pelo plantel principal na temporada passada, na vitória frente ao ARC Oleiros (2-4). Mais uma vez chamado para uma pré-temporada, Jovane Cabral convenceu José Peseiro, treinador do Sporting CP, e tem sido aposta habitual nos jogos dos ‘leões’. O seu primeiro golo com a camisola principal verde e branca foi na importante vitória frente ao Feirense (1-0), marcando, mais tarde, para a Liga Europa, frente ao Karabakh (2-0). O extremo tem aproveitado os poucos minutos em campo mas deverá chegar à titularidade habitual num futuro próximo, apesar da concorrência de jogadores como Nani ou Raphinha.


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dIOGO lEITE fc pORTO

19 anos

Todos os anos, na Liga NOS, surgem surpresas nos onzes iniciais de cada formação, na primeira jornada, (muitas vezes) jogadores da formação que realizaram a pré-temporada ao serviço do plantel principal e mereceram a confiança do treinador. Este foi o caso de Diogo Leite. O central português de 19 anos formou-se durante, praticamente, toda a sua vida desportiva no Futebol Clube do Porto, e no início da temporada de 2018/2019, foi titular nos primeiros jogos da equipa orientada por Sérgio Conceição. O jovem central destaca-se, sobretudo, nos duelos aéreos, não teme em sair a jogar com a bola no pé e antecipa-se bem aos adversários. Consequentemente, vai ganhando cada vez mais confiança à medida que vai ocupando o centro da defesa portista. Com um nível elevado em termos de concorrência no plantel, com Felipe, Éder Militão, Mbemba e Chidozie, Diogo Leite vai justificando a sua oportunidade. Como internacional pelos escalões de formação da seleção portuguesa a partir de sub-15, o jovem portuense pode vir a ser o futuro titular indiscutível no centro da defesa do FC Porto.


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dIOGO aLMEIDA “dIGA” fEIRENSE

20 anos

É visto pelos fãs do Feirense como a próxima promessa dos escalões de formação do clube. O lateral direito Diga, que também pode atuar como médio defensivo, fez a sua estreia pelo plantel principal na temporada de 2015/16. Num encontro a contar para a Taça da Liga, alinhou a titular frente ao FC Porto, num jogo onde os fogaceiros até acabaram por vencer (2-0). Na temporada seguinte, fez a sua estreia na primeira divisão, mais uma vez a titular, em Braga, numa derrota por 3-1. Depois disso, alinhou em mais cinco jornadas do campeonato, além de uma jornada da Taça da Liga, frente ao Moreirense (2-1). Esta temporada, tem alinhado no plantel sub-23, apesar de já ter jogado os primeiros minutos na Liga NOS 2018/19 na primeira jornada, na vitória frente ao Rio Ave (2-0).


#04 outubro2018

LUCAS áFRICO mARÍTIMO

23 anos

Proveniente do Londrina, emblema da segunda divisão brasileira, Lucas Áfrico chegou este verão ao Marítimo para ocupar um lugar no centro da defesa maritimista. Assumiu, rapidamente, a titularidade da formação insular, tendo sido totalista nos primeiros seis jogos oficiais. Tratando-se de um jogador forte no jogo aéreo e na marcação, Lucas Áfrico contribuiu para a equipa não sofrer golos em três dos seis jogos, mostrando segurança, tranquilidade e todas as características que justificam a aposta do técnico Cláudio Braga. A dupla formada com Zainadine tem mostrado resultados e oferecido segurança, com Lucas a apresentar características que o tornam num central para o futuro verde-rubro.


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KIKAS bELENENSES sad

20 anos

A sua estreia frente ao Moreirense foi bastante aplaudida pelos adeptos presentes devido às esperanças depositadas neste jovem avançado. Natural de Castelo Branco, foi lá que fez a sua estreia como sénior na temporada passada, não sem antes realizar a sua formação em clubes como o Sporting CP ou o Vitória SC. No seu primeiro ano enquanto sénior, deu nas vistas com vinte golos apontados em trinta jogos, o que levou os representantes do Belenenses SAD a confirmarem a sua contratação antes do final da temporada passada. Este ano, tem alterado entre o plantel principal e a formação de sub-23, mas ainda procura a sua veia goleadora de outrora. Joga como ponta de lança mas também fez a sua formação na linha enquanto extremo. Com uma técnica incomum, é capaz de resolver ações ofensivas sozinho com alguma facilidade, juntando à sua boa qualidade de finalização. É um dos principais nomes a ter atenção para esta temporada, caso o técnico Silas continue a dar-lhe as oportunidades no plantel principal.


#04 outubro2018

jAIME pINTO rIO AVE

21 anos

Com a maior parte da sua formação passada nos quadros do Rio Ave, Jaime Pinto, ou Jaiminho, teve, até esta temporada, poucas oportunidades para se mostrar no escalão principal do futebol português ao serviço dos vila-condenses. No entanto, a criação da Liga Revelação tem ajudado vários jovens dos clubes portugueses a ter tempo de jogo, incluindo o jovem de 21 anos, natural de Vila do Conde. Jaime é irmão de Yazalde, antigo avançado de vários clubes da Liga Portuguesa. Mas, ao contrário do irmão, é um extremo com características diferentes, sendo um jogador veloz e criativo. O jovem já marcou na Liga sub-23, frente à formação do Estoril de Praia. Foi titular em três dos seis jogos já disputados até à data e pode ainda ocupar um lugar no plantel principal esta temporada, entusiasmando bastante os adeptos rioavistas... como já o fez anteriormente. Isto porque, Jaime Pinto, já se estreou pelo plantel principal a 24 de janeiro de 2018, frente ao SC Braga. Na altura, ainda com idade de júnior, alinhou em duas partidas da Liga NOS. Na temporada seguinte, mais uma partida, em Alvalade, frente ao Sporting CP.


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gONCALO cARDOSO i

bOAVISTA

17 anos

Com apenas 17 anos, Gonçalo Cardoso faz, oficialmente, parte do plantel principal do Boavista para a temporada de 2018/2019, tendo alinhado em alguns jogos de pré-temporada dos axadrezados. Proveniente da formação do Penafiel, o central rapidamente começou a integrar os treinos do plantel sénior, depois de alguns meses a treinar com a formação. Com um 1,89 metros de altura, destaca-se no jogo aéreo e vai ganhando experiência a treinar ao lado de centrais como Sparagna, Raphael Silva e Neris. Com o decorrer da atual temporada e, possivelmente, algumas oportunidades dadas por Jorge Simão, trata-se de um jogador para o futuro axadrezado e quem sabe, nacional. De todos os jogadores desta lista, afigura-se como o atleta mais improvável de ser opção regular no onze inicial, mas não impossível.


#04 outubro2018

hERIBERTO tAVARES mOREIRENSE

21 anos

Um dos reforços mais sonantes do Moreirense para esta temporada foi Heriberto Tavares, ou simplesmente Heri. Ao contrário de Pedro Nuno ou Chiquinho, o SL Benfica não permitiu que a sua transferência fosse a título definitivo pois vê nele um grande potencial para o clube encarnado. Na temporada passada, alinhando no SL Benfica B, Heriberto Tavares tornou-se o melhor marcador de sempre de equipas B, com mais dezasseis golos, acumulados aos treze da temporada anterior. (o melhor marcador da equipa B do SL Benfica era Ivan Cavaleiro com vinte e dois golos). Podendo alinhar nos dois lados, prefere o lado esquerdo, onde utiliza com mais frequência o seu pé mais predominante, o pé esquerdo. Na zona central, também já jogou como ponta de lança e como médio ofensivo. Destaca-se pela sua velocidade, capacidade de drible e, principalmente, pela facilidade de finalização. Esta temporada, o jovem já encontrou o fundo das redes por duas ocasiões. Nas duas primeiras jornadas, frente ao Sporting CP e ao CD Nacional, os dois golos tornam-no o melhor marcador da equipa. Aposta regular na seleção nacional portuguesa de sub-21, orientados por Rui Jorge, o extremo parece ter um futuro brilhante à sua frente, com esta temporada a poder ser a sua de revelação.


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aNDRÉ pEDROSA

vITÓRIA fc

21 anos

André Pedrosa não é um nome totalmente desconhecido para todos os adeptos da Liga NOS. O médio defensivo do Vitória FC chegou até a ser associado ao Sporting CP, porém, a transferência nunca se chegou a consumar. Inteligente nas ações e possuidor de um invejável controlo de bola, o jovem formado nos leões e nos vitorianos, procura tornar esta temporada a sua de afirmação. Até ao momento, não tem sido aposta de Lito Vidigal, depois de vinte e três partidas realizadas na temporada transata. O médio defensivo não se deverá manter em Setúbal durante muito mais tempo e será uma questão de oportunidades até reconquistar o seu espaço no onze inicial.


#04 outubro2018

dODÔ vITÓRIA sc

19 anos

O lateral direito brasileiro despertou a atenção de vários clubes europeus com as suas atuações ao serviço do Coritiba FC, clube onde se formou a nível futebolístico. No entanto, foi o atual campeão ucraniano Shakhtar Donetsk que ganhou a luta pelo jovem de 19 anos. Sem espaço no plantel orientado pelo português Paulo Fonseca, Dodô foi emprestado ao Vitória SC, onde completou os noventa minutos nos seus primeiros dois jogos ao serviço do clube vitoriano antes de sofrer uma lesão muscular que não aparenta ser grave. Trata-se de um lateral veloz que usa a sua rapidez e a sua boa qualidade de drible para partir para o ataque e desequilibrar o lado esquerdo das defesas adversárias. Uma das outras características do jogo de Dodô com a qual Luís Castro pode contar para a nova temporada é o cruzamento, que no passado encontrou, por diversas ocasiões, os companheiros de equipa em zonas de finalização, principalmente nos tempos do Coritiba FC. O brasileiro conta também com presenças na seleção brasileira de sub-17 e de sub-20 e, com apenas 19 anos, é certamente um talento a observar para o futuro.


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jOÃO pAREDES dESP. cHAVES

22 anos

João Paredes é mais um nome de atletas que se destacaram no Campeonato Nacional de Séniores, na temporada passsada. Ao serviço do Vizela, apontou dezasseis golos em vinte e sete jogos, depois dos treze golos pelo Anadia na temporada anterior. Atualmente joga pelo Chaves Satélite, uma espécie de equipa B do Desportivo de Chaves, no Campeonato Nacional de Séniores. O jovem avançado tem marcado em, praticamente, todos os jogos, tendo, até ao momento, sete golos em oito partidas. Podendo alinhar em qualquer posição do ataque, o seu nome é sinal de golos ou assistências. Oportuno a descobrir onde a bola irá parar para se desmarcar, também gosta de jogar com a linha de fora de jogo, aproveitando a capacidade de finalização com ambos os pés. A altura e força fazem-no ter uma presença marcante entre os centrais. Sem dúvida, é um jogador a ter em conta para o futuro, devendo alinhar no plantel principal do Desportivo de Chaves muito em breve.


#04 outubro2018

aRTHUR hENRIQUE cd nACIONAL

19 anos

Com uma Taça do Brasil no palmarés, Arthur Henrique chegou ao CD Nacional com rótulo de empréstimo, uma vez que o Cruzeiro não deverá largar a mão do jovem de defesa com grande facilidade. O defesa central, de apenas 19 anos, faz uso da sua altura (190 cm) para controlar o jogo aéreo e saber guardar a bola. A maturidade com que se apresenta em campo e a rapidez de movimentos faz os adeptos madeirenses sorrirem por ter garantido o reforço para esta temporada. Muito ligado ao pai, vê-o como o seu principal treinador e o motivo pelo qual chegou tão rapidamente ao plantel principal e ao sucesso no Cruzeiro, do Brasil, clube que já representava desde os doze anos, na altura como médio ofensivo. Foi para fugir ao banco de suplentes que, quando testado a defesa central, cumpriu e jamais largou a posição. A humildade e o talento podem levar este brasileiro a chegar ao topo do futebol europeu e, quem sabe, se um dia não se irá falar da sua passagem pelo modesto CD Nacional. Por agora, não tivemos duvidas em colocá-lo como uma promessa para a Liga NOS de 2018/19.


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jOÃO lUCAS

SANTA cLARA

22 anos

Chegado esta temporada ao Santa Clara, o lateral esquerdo tem saltado vários patamares em poucos anos. Produto das escolas de formação de clubes como o Sporting CP, Belenenses e SL Benfica, foi um das revelações do Campeonato Nacional de Séniores no seu primeiro ano como jogador sénior, ao serviço do Benfica de Castelo Branco. Trinta e cinco jogos de grande qualidade e um golo serviram para que o Leixões se anticipasse à concorrência na sua contratação. Ao serviço da turma de Matosinhos, duas temporadas com uma titularidade indiscutível levaram os representados do recém-promovido Santa Clara a definirem-no como um dos alvos chave para esta nova temporada. Até ao momento, no seu reencontro com o técnico João Henriques, que o orientou na segunda temporada no Leixões, o lateral português tem sido aposta regular no onze titular e, a continuar assim, deverá estar para breve a mudança para um clube com objetivos europeus.


#04 outubro2018

sERGIO pEÑA tONDELA

23 anos

Provavelmente uma das maiores promessas da lista. Sergio Peña tem apenas 23 anos de idade e já conta com sete internacionalizações ao serviço da seleção A do Peru, tendo falhado o Campeonato do Mundo de 2018 após ser substituído na convocatória pelo tio e o maior goleador da história do Peru, Paolo Guerrero. Após vários anos no Granada e vários empréstimos, o peruano chegou à equipa orientada por Pepa e causou impacto de forma imediata. O médio ofensivo já marcou por uma vez e assistiu duas ao serviço dos auriverdes. É capaz de reproduzir momentos com a bola no pé que obrigam os adeptos de futebol a ver repetição após repetição e já foi autor de golos de levantar o estádio, tanto pelo Granada, seleções jovens ou mesmo o Tondela. Acrescentando ainda uma grande qualidade de passe, combinando muito bem com os extremos e avançados, Peña poderá vir a ser a peça do puzzle que faltava ao técnico Pepa.


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rÚBEN oLIVEIRA

dESP. aVES

23 anos

Falar de Rúben Oliveira é falar de uma das maiores promessas do Vitória SC a curto prazo. Com a formação feita entre AD Sanjoanense, Sporting CP, Feirense e Rio Ave, foi nos vila-condenses que assinou o seu primeiro contrato profissional, embora não tenha jogado um único minuto com o plantel principal. Isso atraiu os responsáveis do CD Feirense, que procuraram o seu regresso logo na temporada seguinte... e com sucesso. Aí, passou três temporadas de alto nível até chegar ao Vitória SC, na temporada passada. Com pouco espaço no plantel principal, por quem só jogou por uma ocasião, foi na equipa B que manteve a forma. Porém, a Segunda Liga mostrava-se insuficiente para um atleta com o talento de Rúben Oliveira. Como tal, apareceu o Desportivo das Aves que avançou para a sua contatação a título de empréstimo. O jovem convenceu o treinador José Mota e tem sido um titular habitual no onze avense, falhando apenas a partida no Estádio da Luz, na derrota contra o SL Benfica (2-0). Este será o ano do médio centro mostrar que consegue jogar ao principal nível nacional e, se cumprir as nossas expetativas, será um caso sério para o futuro.


#04 outubro2018

rAFAEL bARBOSA pORTIMONENSE

22 anos

Uma das grandes surpressas do Sporting CP B na temporada passada chegou a Portimão pronto a mostrar a sua qualidade na Primeira Divisão nacional e a “agarrar a oportunidade” dada pelo Portimonense. Orientado por António Folha, o médio ofensivo tem jogado alguns minutos ao serviço da formação de Portimão, mas ainda não conseguiu conquistar o seu lugar no onze inicial. No ano passado, os seus oito golos em trinta e quatro partidas foram uma revelação para um atleta que ia mostrando ser apenas “mais um” na equipa B leonina. Com este empréstimo ao Portimonense, o jovem de 22 anos, internacional sub-21 português, tem agora a melhor oportunidade de se afirmar e provar a sua qualidade a José Peseiro. Com apenas um empréstimo (não muito bem sucedido) na sua carreira, ao União da Madeira, Rafael Barbosa terá de sair da sua zona de conforto e manter o ritmo que ia apresentando em Lisboa, que o levou a ser convocado para algumas partidas da equipa principal dos leões, com Jorge Jesus ao leme. Destaca-se pela sua visão de jogo e pela qualidade nos momentos de finalização.


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#04 outubro2018

Wolverhampton

O Capítulo Luso da História dos Lobos Em Inglaterra também se fala português, não só graças aos milhares de emigrantes que vivem na terra de Nossa Majestade, mas também pelo futebol. Na cidade de Wolverhampton, a bola é tratada com sotaque luso, desde os jogadores à equipa técnica. Campeões do segundo escalão do futebol inglês, os wolves atacam agora a Premier League com caras que conhecemos muito bem.


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Sérgio Velhote

arece que foi ontem que começou a enchente de jogadores portugueses no Wolverhampton. Desde a chegada do magnata Jorge Mendes, foram vários os lusos que vestiram o laranja no Molineux, que fizeram com que a marca lusa ainda se mantenha (e de que maneira!). Os antigos campeões ingleses passavam um mau bocado na segunda liga inglesa, não conseguindo alcançar os lugares cimeiros da tabela classificativa. No entanto, houve uma notícia que alegrou os adeptos do Wolves: take over financeiro. Desde esse momento, os responsáveis do clube foram preparando e formando um plantel capaz de lutar pela subida à Premier League. Com a ajuda de Jorge Mendes, o Wolverhampton foi crescendo, tornando-se mais forte a cada mercado de transferências. Hélder Costa e Ivan Cavaleiro chegaram, provenientes do SL Benfica, mas foi preciso um toque português no balneário para mudar o rumo da história do Wolverhampton.

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“Espírito” de Rúben criou espetáculo No topo da hierarquia de um balneário é necessário alguém que comande um grupo, que perceba os jogadores e os acompanhe na sua evolução, tanto individual como em coletivo. Este era, talvez, o detalhe que sempre faltou a Nuno Espírito Santo. O sucesso no Rio Ave e no Valência como técnico

principal não facilitou o seu reinado no Dragão, uma vez que o FC Porto ficou aquém das expetativas no final da temporada 2016/17. O segundo lugar e o mau final de ano não ajudou o antigo guardião, que perdeu a “cadeira de sonho” para Sérgio Conceição. Sorriem, agora, os dois… Mas sem clube e a querer provar as suas qualidades, Nuno viu no Wolverhampton um verdadeiro desafio: devolver ao histórico inglês a alegria de vencer. Permita-me esta analogia, caro leitor: para garantir um bom prato é necessário que todas as partes estejam boas, mas é aquele condimento que o faz sobressair. E, no prato que são os Wolves, precisava-se do condimento Rúben Neves. O jovem médio via o seu lugar tapado por Danilo Pereira e percebeu que, para continuar a evoluir, necessitava de mudar de ares. Do fogo quente do Dragão, o centrocampista decidiu levar a sua carreira para a fria Inglaterra. A mando de Nuno Espírito Santo, com quem tinha trabalhado na temporada anterior, o agora internacional luso subiu para a ribalta e nunca mais olhou para trás. Mas já lá chegaremos, porque para um bom prato não se precisa, apenas, do condimento, mas também dos ingredientes. À experiência dos jogadores britânicos, que já conheciam o futebol inglês como a palma das suas mãos, foi adicionada juventude, como Diogo Jota e Rúben Vinagre, bem como o poço de força que é Boly.


#04 outubro2018 Plantel completado, focado no primeiro lugar, o prato estava feito. O caminho para a mesa seria (teoricamente) complicado, mas quando chegou… Delicioso! Como foi bonito vê-los jogar! Futebol rápido e de posse, mesmo que adaptado ao estilo inglês, o Wolverhampton foi sumando vitória atrás de vitória, garantindo o primeiro lugar e a subida tão desejada à Premier League. Mais de dois terços dos encontros foram vitoriosos, tamanha era a confiança como os jogadores jogavam, liderados por um “Espírito” guerreiro e campeão. Viu-se, talvez, o Nuno que todos os portistas queriam no banco, mas que não tiveram. Roderick Miranda e Boly ajudavam na coesão defensiva, Vinagre libertava pelas alas a sua velocidade astronómica, enquanto Jota, Hélder Costa e, menos vezes, Ivan Cavaleiro despertavam o ataque dos Wolves. Mas era no miolo que residia a chave, o tal condimento… A temporada de topo de Rúben Neves possibilitou todo este sucesso, não só pelos (grandes) golos, mas também pela visão de jogo e capacidade de liderança. Apesar de não ter sido o melhor jogador do ano (esteve entre os candidatos), o jogador formado no FC Porto explodiu no radar mundial. Agora, todo o mundo também olha para ele. Fechado o desafio de chegar à Premier League, o Wolverhampton preparava-se para um escaldante e novo desafio. Como prepará-lo? Como atacá-lo? O prato já está perfeito. A não ser… Novos Artigos (conhecidos) no Menu A Premier League é uma, se não a maior, liga de futebol do mundo. A tarefa do Wolverhampton seria certamente complicada, mas as decisões dos responsáveis do clube, com o apoio de Jorge Mendes, fizeram com que o plantel fosse reforçado, apimentando um prato que, já de si, era bom, mas que precisava de algo mais “forte”. Para não fugir à norma, os adeptos dos Wolves aplaudiram as chegadas de dois internacionais portugueses: Rui Patrício e João Moutinho. O primeiro, libertou-se dos leões depois do ataque a Alcochete; o segundo, procurava um novo desafio em Inglaterra, depois de já ter sido campeão em França (AS Mónaco) e em Portugal (FC Porto). Com eles chegou, por empréstimo, o internacional mexicano Raúl Jiménez, jogador do SL Benfica, para dar mais potência e experiência ao ataque do Wolverhampton. Os ingredientes de Nuno Espírito Santo estavam prontos para atacar os pratos mais experientes do principal escalão do futebol inglês. E foi isso que fizeram. À data da elaboração desta revista, o Wolverhampton vê-se no 8.º lugar da classificação, à frente de clubes como o Everton de Marco

Silva ou o Manchester United de José Mourinho. A rápida ascensão na liga não é muito surpreendente, uma vez que este plantel tem qualidade para alcançar, pelo menos, a primeira metade da tabela classificativa. Continua delicioso o prato alaranjado dos Wolves, mas ainda tem de se destacar nas línguas dos provadores mais famosos do mundo. Talvez chegue à Europa para o ano mas, por agora, vai surpreendendo Inglaterra e os portugueses. A bandeira lusa está desfraldada nos ventos frios britânicos. Façam de nós orgulhosos.


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#04 outubro2018

Girona fc

O prรณximo grande A histรณria de como um pequeno clube catalรฃo se tornou num dos clubes mais estรกveis e perigosos em Espanha e, presumivelmente no futuro, na Europa.


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Girona Fútbol Club Daniel Fonseca

undado em 23 de julho de 1930, num café da cidade de Girona, na região espanhola da Catalunha, o Girona Fútbol Club nasceu da dissolução do Unió Esportiva Girona, clube que terminou devido a razões económicas. O Girona FC estreou-se nas competições federadas através dos campeonatos catalães e por ali esteve até 1933, ano em que se estreou nos campeonatos nacionais espanhóis, na terceira divisão. Nesse mesmo ano, conseguiu a promoção à segunda divisão espanhola. Na sua primeira temporada neste escalão, o Girona surpreendeu, tendo-se qualificado para o play-off de promoção, não conseguindo, no entanto, o acesso à divisão da elite do futebol espanhol.

F

No período posterior à temporada de 1935/36, o Girona não mais voltou a a atingir os lugares de acesso ao play-off de promoção à primeira divisão espanhola, tendo mesmo passado várias décadas a flutuar entre a segunda e a terceira divisão até 1980, ano em que o clube desceu à quarta divisão. O resto do séc. XX e o início do séc. XXI foram, de facto, o pior período da história do clube catalão, com o clube a chegar mesmo a militar no quinto escalão do futebol espanhol, também conhecido como as “regionais”. Após o período mais negro da história deste pequeno clube catalão, a trajetória do emblema mudou quando este conseguiu a promoção em duas temporadas consecutivas: em 2006/07 (da 3.ª divisão para a 2.ªB) e em 2007/08 (da 2.ªB para a 2.ª). A partir daí, o clube manteve-se estável na segunda divisão durante quatro temporadas, em que terminou sempre na segunda metade da tabela classificativa. Mas, a partir da quinta temporada consecutiva nesta divisão, no ano de 2012/13, o Girona iniciou um ciclo de quatro idas aos playoffs de promoção em cinco anos. Apesar da consistência classificativa, nunca conseguiram vencer o play-off e subir à primeira divisão espanhola. Porém, em 2016/17, os Blanquivermell viveram o momento mais alto da sua história, ao conseguirem a promoção à La Liga, em virtude do seu segundo lugar na segunda divisão. Ora, se a primeira participação na principal divisão espanhola nos 87 anos de história do clube não fosse o suficiente para mudar o rumo do, até aqui, pequeno clube catalão (até porque o seu

estádio de sempre desde 1970, o Estadi Montilivi, foi expandido aquando da promoção à La Liga, passando a ter a lotação de 13 450 espetadores), a 23 de agosto de 2017, a grande maioria (88,6%) do clube foi vendido, em partes iguais, a duas entidades: ao City Football Group (CFG), o grupo que é proprietário de vários clubes de futebol, incluindo o gigante inglês Manchester City e ao Girona Football Group, grupo liderado por Pere Guardiola, o irmão de… Pep Guardiola, o famoso e muito titulado ex-treinador do Barcelona e Bayern Munchen e atual treinador do Manchester City. Este negócio iria permitir ao Girona ter um plantel muito acima do que poderia ter imaginado para atacar a sua primeira temporada na La Liga. O clube catalão conseguiu contratar jogadores como Marc Muniesa (por empréstimo), Bernardo Espinosa, Christian Stuani e Gorka Iraizoz, jogadores consolidados cuja experiência se esperava que fizesse a diferença entre a permanência e a despromoção. Mas, mais importante ainda, pelo menos no que toca ao que podemos esperar na composição dos plantéis futuros do Girona, o clube recebeu, por empréstimo, várias jovens promessas vindas do Manchester City: Douglas Luiz, Aleix García, Olarenwaju Kayode, Pablo Maffeo e Marlos Moreno. Ao juntar todo este talento jovem à experiência de Stuani, Muniesa e Iraizoz, o Girona superou todas as expetativas, conseguindo acabar a sua primeira temporada na elite do futebol espanhol na metade superior da tabela, na décima posição, tendo mesmo conquistado pontos frente aos clubes espanhóis que, nos últimos anos, têm acumulado troféus europeus, como o Atlético e o (na altura) bicampeão europeu Real Madrid. Este ano, o Girona manteve no seu plantel alguns dos jovens pertencentes ao clube azul-bebé de Manchester (Douglas Luiz e Aleix García) para além de receber mais um: Patrick Roberts. Concretizou também a transferência permanente de jogadores que fizeram parte do seu plantel na temporada passada, como Marc Muniesa e Johan Mojica. A temporada principiou bem para os Blanquivermells, conquistando oito pontos nas cinco primeiras jornadas, tendo consentido apenas uma derrota, frente ao Real Madrid, e arrancando a ferros um empate a duas bolas em Camp Nou, frente ao grande gigante da Catalunha, o Barcelona. Com este início promissor, sendo que já defrontou aqueles que


#04 outubro2018


Futebol total são, na teoria, os seus dois adversários mais fortes no campeonato, os analistas prevêem mais uma campanha tranquila do Girona na La Liga, com boas hipóteses de se conseguir apurar para as competições europeias, se mantiver o ritmo pontual. Olhando para o futuro, o Girona FC será, com toda a certeza, um dos clubes a manter debaixo de olho. A sua relação com o City Football Group e, especialmente, com o Manchester City garantirá a este pequeno clube da região da Catalunha uma corrente constante de jovens talentos vindos do gigante inglês, assim como a disponibilidade financeira que lhe permitirá contratar jogadores já consolidados no futebol europeu como, por exemplo, Stuani, que foi fundamental na temporada de 2017/18 ao apontar vinte e um golos(!). De facto, o Girona é o protótipo do que pode ser chamado de “clube-satélite moderno”: anteriormente, os grandes clubes colocavam os seus jovens nas divisões inferiores, com a expetativa de que estes desenvolvessem o seu futebol. No entanto, e apesar das boas intenções de todos os envolvidos, estes empréstimos acabavam apenas por estagnar o desenvolvimento dos jovens, fazendo com que, na maioria dos casos, estes caíssem completamente no esquecimento do mundo do futebol ao fim de apenas alguns anos. Hoje em dia, clubes como o Girona são usados para fazer o oposto: ao invés de serem colocados num patamar de futebol inferior (e muitas vezes num futebol muito menos tático e muito mais físico), os jovens são agora emprestados a clubes em ligas de topo do futebol mundial, onde tenham garantidamente largos minutos e onde certamente se desenvolverão, longe da pressão constante de que seriam alvo caso jogassem no seu clube-mãe, onde lhes seria exigido o máximo sem qualquer possibilidade de erro, o que já provocou a perda de muitos jovens recheados de potencial mas que, por terem cometido um erro fundamental, nunca mais voltaram a ter a mesma oportunidade de se mostrarem e desenvolverem num campeonato de topo. De facto, o Girona é um dos clubes a seguir de perto nos próximos anos. O seu modelo de clube-satélite só poderá trazer alegrias aos adeptos Blanquivermell e, olhando para a sua trajetória atual, é perfeitamente expectável que cheguem às competições europeias nas próximas temporadas, o que tornará o Girona um clube ainda mais apetecível para o Manchester City colocar lá os seus jovens, pois terá a certeza que estes jogarão futebol de topo, o que ajudará no seu desenvolvimento futebolístico. Com isto, o City Football Group certamente fornecerá ao pequeno clube catalão ainda mais fundos financeiros, para que as contratações do Girona acompanhem cabalmente o talento do plantel, que provavelmente será um plantel que competirá na Liga Europa. Por todos estes motivos, o Girona é um clube a ter em atenção quando se falar em futebol espanhol daqui para a frente.


#04 outubro2018


Futebol total

ATHLITKI ENOSIS KONSTANTINOUPOLEOS Um dos maiores clubes da Grécia, com uma legião de adeptos incansável, atravessou uma crise sem precedentes e teve de se tornar num clube amador para evitar a sua extinção. Como é que então, num espaço de cinco anos, passou de clube amador a competir na fase de grupos da Liga dos Campeões? Esta é a história.


#04 outubro2018

Daniel Fonseca

undado em 13 de abril de 1924, o Athlitki Enosis Konstantinoupoeleos, ou como é mais conhecido (e de muito mais fácil compreensão), AEK de Atenas, encontra nos seus fundadores um grupo de refugiados de Constantinopla (sendo que, entre eles, encontravam-se vários ex-atletas de vários clubes da cidade que é agora conhecida por Istambul), refugiados esses que fugiam da guerra Greco-Turca. Ao criar um clube, os seus fundadores pretendiam que o AEK fosse um meio tanto de diversão e distração dos seus simpatizantes e adeptos, mas também de integração na sociedade grega dos milhares de refugiados turcos que encontraram refúgio nos subúrbios de Atenas.

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Devido ao seu grande contingente de refugiados e a esta ideologia de integração de todos, que esteve presente na fundação do clube, o AEK teve, desde o início, uma grande popularidade, com essa a eclipsar rapidamente os restantes clubes criados por refugiados baseados na capital grega. Isto está relacionado com as ligações políticas e económicas de vários membros da sua direção, para além do significado que a palavra “Konstantinoupeleos” (em português, Constantinopla) carregava para muitos refugiados, que assim se aproximavam do clube. Nos seus primeiros anos, o AEK jogou as suas partidas em casa em vários locais de Atenas, não

possuindo uma casa própria. Em 1926, o primeiro presidente do clube, Konstantinos Spanoudis, devido à sua proximidade para com o primeiro ministro grego da altura, peticionou ao governo grego a adjudicação de terrenos para a construção de um estádio para o AEK. Em 1930, o governo doou então uma parcela de terrenos ao AEK, nos quais se transformariam no estádio Nikos Goumas, inaugurado em novembro de 1930, com um empate a duas bolas frente ao Olympiakos. Este estádio seria a casa eterna do AEK e marcaria para sempre a história do clube, tendo mesmo sido expandido em 1970 e renovado em 1997. Na década de 30, o AEK encontrou algum sucesso, tendo ganho por duas vezes a taça da Grécia e o seu primeiro campeonato grego em 1939. Começou os anos 40 da mesma forma com que terminou a década anterior, ao ser campeão. No entanto, e para infortúnio do AEK, pois era o clube grego mais forte na altura, as competições futebolísticas gregas foram interrompidas entre 1940 e 1945, devido à Segunda Guerra Mundial, o que provocaria uma seca de títulos prolongada ao AEK. Apesar da subsequente falta de títulos posterior à Guerra, o AEK consolidou a sua posição no topo do futebol grego, mantendo-se sempre perto dos primeiros lugares, sendo presença assídua no playoff


Futebol total que decidia o campeão nacional (até 1959, o título nacional era decidido num playoff que envolvia as melhores equipas de cada região grega). Até chegar à década de 60, apenas venceu por três vezes a taça da Grécia (em 1949, 1950 e 1956). Esta década do clube ficaria marcada por dois avançados: Kostas Nestoridis e Mimis Papaioannou (este último é mesmo o recordista do clube em golos marcados e em jogos realizados). Entre ambos, contam-se seis títulos de melhor marcador do campeonato grego, e estes dois avançados levariam o AEK ao seu terceiro campeonato grego em 1962/63. A década de 60 foi, de facto, uma época de glória do AEK, com a conquista de dois campeonatos nacionais (para além do já referido campeonato de 1962/63, também foi campeão na época de 1967/68) e duas taças da Grécia (1964 e 1966). A década é também recordada pela presença do clube nos quartos de final da Taça dos Campeões Europeus, sendo que foi o primeiro clube grego a conseguir tal feito. Na década de 70, o clube continuou a figurar no topo do futebol helénico, com três campeonatos nacionais (em 1970/71, 1977/78 e 1978/79), uma taça da Grécia (em 1978) e uma supertaça grega (em 1971). Esta década é carinhosamente recordada pelos adeptos do AEK, não só pela quantidade de títulos conquistados, mas também pela presença nas meias-finais da Taça UEFA, em 1976/77, quando foi o primeiro clube grego a atingir as meias-finais de uma competição europeia. Esta década ficaria também marcada por dois avançados: Thomas Mavros (o recordista total de golos no campeonato grego), e Dušan Bajević, figura que viria a tornar-se importantíssima no futuro do AEK. Após o bicampeonato em 1979, o AEK atravessou um período parco em títulos na década de 80, pois apenas venceu uma taça da Grécia (em 1983) e um campeonato (em 1989). Este campeonato foi conquistado já com Dušan Bajević, estrela dos anos 70, ao comando da equipa. Esta temporada de 1988/89 é considerada como o primeiro capítulo de uma equipa que é vista como uma das melhores equipas da história do futebol grego, pois a base deste plantel veio a conquistar um tricampeonato grego (entre 1992 e 1994), feito que até aqui o clube nunca tinha alcançado e que não mais voltou a repetir desde então. Em termos de palmarés, para além do tricampeonato, o AEK venceu por duas vezes a taça da Grécia (em 1996 e 1997), venceu por uma vez a Supertaça grega (em 1996) e venceu também a taça da liga grega na única vez em que a competição foi organizada (em 1990). Apesar de todo este sucesso na década de 90, dentro do clube estavam semeadas as raízes para uma crise profunda, que começou a revelar-se ao mundo como consequência do sismo

de Atenas, em 1999. O estádio Nikos Goumas ficou gravemente danificado e a necessitar de obras profundas. Mesmo no estado em que estava, o AEK continuou a jogar no estádio, com um dos setores a nunca mais ser aberto ao público, tal era a sua degradação. Ora, o clube entrou no século XXI com graves problemas. O seu estado financeiro era praticamente ruinoso no início do século e estes problemas iriamse exponenciar em 2003, quando o presidente da altura do AEK, Giannis Granitsas, decidiu demolir o estádio Nikos Goumas. Este planeava construir um novo estádio no mesmo local, mas como consequência dos graves problemas financeiros do clube (como também da corrupção existente no emblema nesta fase, que apresentou um projeto de construção do estádio com gravíssimos problemas jurídicos), esse projeto foi completamente abandonado. Assim, o AEK ficou desalojado e teve de se mudar para o estádio Olímpico de Atenas, mudança que enfureceu e magoou os apoiantes do AEK, que contestaram a decisão de Granitsas de demolir o estádio que era a sua casa há mais de 70 anos... Após perder o seu estádio e ter de se mudar para o estádio Olímpico, os problemas do clube apenas cresceram, ao ponto do presidente que sucedeu a Granitsas, Makis Psomiadis, ter agredido uma das figuras históricas do clube e o então capitão de equipa do AEK, Demis Nikolaidis. Esta situação levou à saída de Nikolaidis do clube a custo zero no final da temporada de 2002/03. Nesta altura, foram revelados publicamente os problemas financeiros gravíssimos que o clube atravessava.


#04 outubro2018 Ora então, o clube fundado por refugiados que pretendia integrar todos no mesmo local, estava a caminhar a passos largos para a ruína devido à má gestão e corrupção de sucessivas administrações. Tudo parecia indicar que o AEK iria continuar na sua trajetória até à extinção, até que, em 2004, Demis Nikolaidis retira-se do futebol para liderar um consórcio de empresários que comprou o clube e que nomeia o próprio Nikolaidis para presidente. O seu objetivo era salvar o clube da bancarrota e devolvê-lo aos seus tempos de glória. O inicio desta nova era era promissor, com Nikolaidis a trazer de volta Fernando Santos para orientar a equipa e com os seus planos para a recuperação financeira a serem postos em marcha (conseguiu negociar com os tribunais gregos o perdão de parte da dívida do clube e o pagamento da dívida restante em parcelas perfeitamente razoáveis para o clube). Isto entusiasmou os adeptos, com estes a baterem recordes na aquisição de lugares anuais, com cerca de 17 mil lugares anuais a serem vendidos na primeira época de Nikolaidis na presidência do clube. No entanto, apesar das boas intenções de Nikolaidis, os seus planos não tiveram o rendimento desportivo desejado. O clube não conquistou qualquer título durante a sua presidência, com este a abandonar o clube em face dos maus resultados desportivos e após ver a fúria dos adeptos quando apresentou o seu projeto para um novo estádio para o AEK, que era longe do local onde existiu o estádio Nikos Goumas. Os adeptos rejeitaram completamente o projeto pois, para eles, o único local onde o AEK poderá ter o seu estádio é o mesmo local onde o estádio anterior existiu. A partir daqui, o clube entrou numa espiral descendente, que nem os regressos de várias lendas do clube como Papaioannou, Mavros ou Bajević conseguiram travar. Na temporada de 2012/13, o AEK foi despromovido para o segundo escalão do futebol grego pela primeira vez na sua história e, em junho de 2013, o concelho do AEK decidiu que o clube tornar-se-ia amador, para impedir a sua completa extinção. Esta decisão levou a que o AEK começasse a temporada de 2013/14 na terceira divisão grega. Este era, de longe, o ponto mais negro da história do clube. Neste ponto da história do clube, houve um regresso de um ex-presidente: Dimitris Melissanidis voltou ao clube (já tinha sido presidente nos anos 90) para assumir, novamente, a presidência e fundou a “União Independente dos amigos do AEK”, união dos simpatizantes do AEK, que adquiriu e assumiu uma posição maioritária no clube, para tentar recuperar a equipa e fazê-la voltar ao topo do futebol grego.


Futebol total


#04 outubro2018 tendo apenas uma derrota, consentida perante o PAOK, o vice-campeão da temporada passada. Portanto, podemos então concluir que a direção liderada por Melissanidis está a fazer um grande trabalho a recuperar o rapidamente o AEK do estado de ruína em que se encontrava há apenas cinco anos, em 2013. Mas o projeto de Melissanidis ainda não chegou à sua conclusão: está a ser construído no exato local onde existiu outrora o estádio Nikos Goumas, um novo estádio. O estádio Agia Sophia vai ser a nova casa do AEK, no local onde todos os adeptos concordam ser a verdadeira casa do clube. Será um estádio de categoria 4 da UEFA e terá capacidade para mais de 30 mil espetadores. É um regresso à tradição e à história do AEK, não só pelo local onde está situado, mas também pelo seu design, pois este fará lembrar as raízes do clube, tendo a sua inspiração nas famosas “muralhas de Constantinopla”, o local de origem dos fundadores do clube e cidade que está presente no nome do clube. Após bater no fundo, o AEK demorou o mínimo de tempo possível a regressar à Superliga grega: duas temporadas, duas promoções consecutivas. E, na sua primeira temporada de volta ao principal escalão do futebol grego, o AEK qualificou-se para as competições europeias e conquistou a taça da Grécia. Logo, a temporada foi considerada como um sucesso estrondoso. O ano seguinte foi um pouco mais conturbado, pois o AEK passou por três treinadores nessa temporada, sendo que só conseguiu atingir resultados positivos e com consistência com Manolo Jiménez. No final, os resultados foram bastante similares aos da temporada anterior: qualificação para a Liga Europa e presença na final da Taça, perdida para o PAOK. Já a temporada de 2017/18 confirmou o regresso permanente do AEK à elite do futebol europeu. Na Liga Europa teve uma participação sem derrotas, mesmo defrontando na fase de grupos o AC Milan, equipa que obrigou a dois empates sem golos. O AEK foi eliminado pelo Dynamo Kyiv, apenas pelo critério de golos fora. Mas, o verdadeiro ponto alto da temporada e o que confirmou o regresso em definitivo do AEK à elite do futebol, foi a conquista do título grego após 24 anos e consequente qualificação para o playoff de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões. Na presente temporada, o AEK conseguiu atingir a fase de grupos da Liga dos Campeões, ficando no grupo E, com o Ajax, o SL Benfica e o Bayern München, tendo já perdido o primeiro jogo da fase de grupos frente ao Ajax, por 3-0, em Amesterdão. Já no campeonato, tem quatro vitórias nas cinco primeiras jornadas,

A história do AEK é uma história maravilhosa de se conhecer. Desde a sua fundação com princípios e valores que estava a décadas de distância de estarem instituídas na sociedade em termos globais, a tempos de glória internacional até ao bater no fundo do poço e à verdadeira ressurreição do clube pelas mãos de Melissanidis. De facto, o Athlitki Enosis Konstantinoupeleos não é um clube como outro qualquer e tem um futuro risonho à sua espera. Um futuro que os valores que estavam presentes na fundação merecem ter.


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Histórias da História Estrela Vermelha 0-0 Marselha (1991)

André Nogueira

á jogos que nos ficam na memória, quando se vê no estádio ou na televisão. Hoje em dia, há outros que nos ficam na memória graças às novas tecnologias, que nos trouxeram espaços como o Youtube ou outras plataformas online de Futebol, que permitem rever jogos completos ou resumos de vários clubes e seleções, de várias temporadas. Neste caso, este jogo, embora não tenha visto em direto, é um muito marcante na minha vida. É importante pensar no que poderia ter-se tornado o emblema do Estrela Vermelha, caso a maioria dos jogadores não tivesse “fugido” após a grande conquista: a Liga dos Campeões. Mas já lá vamos... Deixando para trás o Grasshopper, o Rangers, o Dynamo Dresden e o Bayern München, a 29 de maio de 1991, 51 mil pessoas estão nas bancadas presenciando uma das mais bonitas páginas do futebol mundial.

H

O Marselha, com um plantel que contava com Carlos Mozer, Jean Tigana, Abedi Pelé, Eric Cantona e Jean-Pierre Papin, além de campeões franceses, eram os favoritos à conquista do título. Do outro lado, um plantel composto pela grande maioria dos jogadores que alinharam no Campeonato do Mundo de 1990, pela Jugoslavia. Pelo Estrela Vermelha destacamos Stevan Stojanovic, Ilija Najoski, Miodrag Belodedici, Sinisa Mihajlovic (que chegou a ser treinador do Sporting CP, esta temporada), Vladimir Jugovic, Robert Prosinecki, Dejan Savicevic ou Darko Pancev. Enfim, um plantel repleto de estrelas que o Mundo ainda estava por conhecer. Depois de empate a zero durante os noventa minutos, seriam as grandes penalidades a decidirem quem iria levantar a ‘orelhuda’. Nas grandes penalidades, a sorte sorriu para o lado do Estrela Vermelha, vencendo por 5-3,


#04 outubro2018 com uma grande penalidade defendida. Mas, enquanto dentro de campo os jogadores maravilhavam os adeptos do futebol, fora dos relvados a história era outra. Em plena Guerra Civil, vários países iam procurando a sua independência fora da Jugoslávia, o que criava um clima difícil de habitar. Uma equipa ia-se tornando uma das melhores do Mundo enquanto o país ia caindo em termos políticos. Devido ao clima de violência que se ia criando nos campos de futebol, principalmente no encontro de 13 de maio de 1990 frente ao Dinamo Zagreb, os emblemas croatas abandonavam o campeonato jugoslavo, enfraquecendo-o. “Nós temíamos pela nossa vida”, declarava, anos mais tarde, o defesa Miodrag Belodedici, “aquele jogo ainda me assombra a memória, todos os dias”. Este jogo é visto como o grande impulsionador

da violenta rivalidade existente entre os dois clubes, até aos dias de hoje, mesmo já não atuando no mesmo campeonato. O Estrela Vermelha ia vencendo todas as competições internas mas, com a conquista da Liga dos Campeões e a agitação social e política que os envolvia, grande parte do plantel abandonou o clube e mudou-se para outros países. A grande maioria tranferia-se para grandes clubes europeus, mas poucos voltariam a ter sucesso sem o espírito de equipa que se fazia sentir anteriormente. A temporada de 1991/92 foi a última do campeonato jugoslavo. Com a separação da Jugoslávia e a independência de outros países, como a Croácia, a Eslovénia, a Macedónia ou Bósnia e Herzegovina, o campeonato deixava agora de fazer sentido, passando assim a existirem mais campeonatos nacionais.


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Signal Iduna Park jonathan pertzborn

Signal Iduna Park é um dos estádios mais conceituados do mundo do futebol. São conhecido por todos os amantes da modalidade devido aos adeptos apaixonados pelo clube e pelo ambiente que estes trazem todas as semanas nas quais o Borussia

O

joga em casa. A simples presença neste estádio causa arrepios pois, mal se coloca o pé no relvado, pensa-se, não só no ambiente avassalador que lá reside, como também na história que se encontra por detrás deste ambiente. Quanto mais se aprende sobre a história do Ballspiel-Verein Borussia 1909 e. V. Dortmund, maior é este dito arrepio, pois pensa-se na evolução do Dortmund: desde um campo municipal rodeado por árvores até um estádio cuja capacidade total ronda as 81 360 pessoas. (3.º maior da Europa e 12.º a nível mundial). Weisse Wiese: balizas de madeira e caminhadas para o jogo O campo “Weisse Wiese” (relva branca, em português) foi o primeiro estádio dos Borussen em 1909, ano de fundação do clube. Um campo municipal cujo


#04 outubro2018 relvado era constantemente coberto pelas pétalas brancas das flores que cresciam nas árvores que se localizavam à volta do terreno de jogo, daí o nome “Weisse Wiese”. Pode-se mesmo dizer que o Borussia Dortmund começou como qualquer criança que aspirava um dia ser jogador profissional. Balizas compostas por postes de madeira, tiradas no final de cada jogo para não serem roubadas, num campo que, hoje em dia, é bom para fazer piqueniques em família. Com a necessidade de um estádio mais estruturado para entrar na Bezirksliga, foram construídos muros, uma bilheteira e uma bancada com capacidade para receber 18 mil pessoas. O campo era localizado nas proximidades da fábrica da Hoesch AG e da Borsigplatz, no norte de Dortmund, e foi casa do clube entre 1924 e 1937. Uma caminhada de dez minutos separava o balneário do estádio. Na temporada de 1936/1937, o Dortmund terminou em terceiro na Gauliga e essa foi a última temporada que o estádio Weiße Wiese assistiu. Devido às preparações para a Guerra, o governo nazi desapropriou a área em favor da Hoesch AG, uma empresa de mineiros que fornecia matéria prima para a expansão do regime. Foi aí que aconteceu a relocalização para o Estádio Rote Erde, no sul de Dortmund. Atualmente, o Weisse Wiese é um parque público desportivo que inclui piscinas, campos e lugares apropriados para efetuar caminhadas. Die Rote Erde – Da terra se ergue o gigante alemão Tal como foi dito anteriormente, as preparações para a guerra obrigaram o Dortmund a mudar-se para o estádio Rote Erde (Terra Vermelha, em português), nome este que surge devido à cor do terreno de jogo. Em tempos dominados pelo domínio nazi, tudo foi inicialmente construído e gerido à volta destas ideologias, havendo uma pequena estagnação no clube, em tempos de crise, tanto a nível económico como a nível social. No entanto, os tempos de glória chegaram entre as década de 50 e 60, quando venceram três Campeonatos da Oberliga Oeste, em 1956, 1957 e 1963, seguidos pela Taça da Alemanha, em 1965, e a Taça dos Campeões Europeus, no ano a seguir. Duelo histórico com o SL Benfica Quando se visita o Boruseum, museu oficial do Borussia Dortmund, existe um espaço reservado, com o símbolo do clube português SL Benfica. Isto porque o jogo com os encarnados disputado no Rote Erde em 1963 ficou marcado na história do clube como sendo o “jogo do século”. Contra o detentor em título, depois de perder a primeira mão em Lisboa por 2-1, o Dortmund goleou as águias por 5-0. Numa entrevista, uma das maiores lendas do BVB Alfred ‘Aki’ Schmidt afirmou: “Os adeptos estiveram sempre perto do campo, apesar das pistas de terra que se encontravam à volta, mas, nessa noite, o clube teve de colocar bancos na terra. Cheguei a ter pessoas a meio metro de mim quando ia bater um canto. Estavam-me sempre a dizer como eu devia jogar e colocar a bola”. Consoante o sucesso do clube, tornou-se óbvio que o Borussia Dortmund estava a atingir dimensões talvez grandes demais para o estádio Rote Erde, tornando uma possível mudança cada vez mais iminente. Hoje em dia, o estádio tem capacidade para 10 mil pessoas e recebe os jogos do Borussia Dortmund II, mas, as pessoas que cresceram a apoiar o Borussia, nunca se esquecerão dos grandes momentos e alegrias que esse estádio trouxe com o passar dos anos. Westfalenstadion / Signal Iduna Park No ano de 1961 já se falava na expansão do Rote Erde. No entanto, vários problemas, onde se inclui a crise do carvão e ferro que se viveu na zona, adiaram o início da construção do novo estádio para 1971, apesar de uma crise financeira que preocupava os responsáveis do clube. Com o Campeonato do Mundo à porta e com poucos recursos financeiros, Erich Rüttel sugeriu a construção através de métodos pré-fabricados, o que diminuiu o custo para quase metade. A partir daí assistiu-se a uma evolução crescente do Westfalenstadion em termos de estruturas, capacidade e de média de adeptos que se deslocavam aos jogos, sendo que, atualmente, é considerado invulgar quando não se regista uma lotação esgotada. Os oito pilares de 62 metros de altura tornaram-se num dos ícones da cidade de Dortmund, sendo reconhecidos à distância. A capacidade atual do estádio é de 81 365 espetadores. BVB Stadion Dortmund? O Estádio é conhecido entre adeptos como sendo o Westfalenstadion. No entanto, a empresa Signal Iduna comprou os direitos de mudar o nome do estádio para o nome da empresa. Porém, e de acordo com os regulamentos da FIFA, este nome não pode ser utilizado nos jogos a contar para competições europeias. Por esse motivo, o nome do estádio, nas noites europeias, passa para “BVB Stadion Dortmund”.


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Grandes Golos

Joe Thompson vs Charlton (2018) André Nogueira

nome Joe Thompson, e mesmo o seu clube Rochdale AFC, que atua na League One (terceira divisão inglesa), poderá não parecer familiar para a maioria dos leitores, mas a história que aqui contamos merece ser reconhecida. A 5 de maio de 2018, na partida entre o modesto Rochdale AFC e o Charlton Athletic, a formação da casa lutava pela sobrevivência no campeonato, numa luta direta com o Oldham pela permanência na League One. Decorria o minuto 69 quando o nosso herói recolhe a bola no centro da área, após vários ressaltos, simula o remate com o pé direito, puxa para o meio e remata colocado junto ao poste esquerdo da baliza adversária. O Rochdale garantia a permanência com esta vitória, mas existia muito mais história para lá do golo... Recuamos a 2013, jogava Thompson no Tranmere Rovers quando foi diagnosticado com um linfoma de Hodgkin com esclerose nodular. Com sete jogos e dois golos, o médio abandonou o futebol e começou as sessões de quimioterapia. Vários meses de tratamento depois, venceu o cancro e regressou ao desporto-rei, até ao ano passado. Em março, já ao serviço do Rochdale AFC, voltou a ser diagnosticado com a mesma

O

doença. Foram mais nove meses de tratamento para, no início do ano, estar de volta aos relvados, para salvar o seu clube, depois de salvar a sua vida.

Tão belo como... o filme do Titanic A Internet chegou como forma de trabalho e de entretenimento e, na rede social do Youtube, é possível encontrar este golo... ao som de ‘My Heart Will Go On’ de Céline Dion, a famosa canção do filme Titanic, do ano de 1997. É, realmente, uma maneira diferente de apreciar o golo de Joe Thompson, principalmente depois de já se conhecer a sua história. Recomendamos que também veja.


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O meu 11 por: Roberto Rivelino (Dono da página ‘O Mundo dos Guarda-Redes’)



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