EDIÇÃO 06
dezembro 2018
prendas de natal SC Braga / Shanghai SIPG / Al Hilal
#06 dezembro2018
Maus exemplos omo muitos outros apaixonados pelo desporto-rei, era com especial emoção que acompanhava a final (ou finais) da Taça dos Libertadores. Frente a frente estavam os dois grandes rivais argentinos e, depois do belíssimo espetáculo da primeira mão, cafés mudavam o canal das suas televisões para ver a segunda mão. Mas tudo o que conseguiam ver era uma nota a dizer que o início do jogo tinha sido atrasado e, na hora alterada, mudavam a partida para o dia seguinte. Desanimados, lá esperavam pelo dia seguinte sem entender o que havia passado. Quem não tivesse ido à internet, só na manhã seguinte se apercebia da gravidade da situação: adeptos do River Plate atacavam o autocarro do rival, ferindo, felizmente não com gravidade, vários elementos do Boca Juniors. Depois de todo um continente se unir da tragédia da Chapecoense, foi a vez de se afastar e mudar a final argentina para território espanhol... provavelmente. Os adeptos, os verdadeiros apaixonados pelo desporto que vibram dentro de campo, sem ferir ninguém, lá terão de esperar.
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Mas os maus exemplos não se ficam pela América do Sul, podemos também falar dos ataques de fanáticos do SL Benfica a adeptos do Ajax ou, os mesmos adeptos, a serem agredidos em Atenas, com imagens chocantes. Porém, o que nos move é jogo jogado e, nesta edição, corremos o Mundo, sim, mas em busca de equipas que têm encantado os seus países e os seus continentes. Como sempre, começamos em Portugal, pelo SC Braga, descendo algumas divisões para encontrarmos os invictos do Rebordosa e como se estão a “safar” os derrotados pelos três grandes na Taça de Portugal. Da festa da Taça de Portugal passamos para a desilusão da Seleção Nacional de sub-21 e a não-qualificação para o Campeonato da Europa. Espaço ainda para recordar um bom homem do Futebol que nos deixou recentemente, Vichai Srivaddhanaprabha, e tudo o que fez pela cidade e clube de Leicester. Esta é uma revista composta por jovens jornalistas, GRÁTIS e online. Aproveitem e espero que gostem... uma vez mais! André Nogueira Criador da revista Futebol Total
Ficha Técnica Diretor Geral André Nogueira Paginação André Nogueira Tiago Nogueira Redação André Nogueira Daniel Fonseca João Couto Jonathan Pertzborn Jorge Nunes Revisão André Nogueira Contacto aonogueira16@gmail.com Créditos A Bola BeSoccer Daily Star Eurosport FootTheBall Fox Sports Getty Images Globo Esporte Goal.com Lusa MaisFutebol Notícias Num Minuto O Jogo Record Sports On Stage Stadium Astro zerozero
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#06 Dezembro2018
Foto do mês Pela primeira vez na história, Boca Juniors e River Plate encontraram-se na Final da Libertadores. Esta foto do primeiro jogo apresenta toda a paixão e festa que existe neste país onde o futebol é rei. Já o segundo jogo foi adiado devido a atos que nunca deviam ser praticados.
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16
26
Reportagem SC Braga
Portugal sub-21
Leicester de Vichai
14
22
Segunda Linha
Krzysztof Piatek
#06 dezembro2018
40 Reportagem
Shanghai
36
64
76
Giuseppe Bergomi
Fim de Contrato
Olímpico de Berlim
56
74
Reportagem Al Hilal
Histórias com História
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#06 Dezembro2018
SC Braga
ó meu
Braga
dá um gosto
à tua gente Com a precoce eliminação na Liga Europa, o SC Braga aumentou o desejo de lutar pelo título que nunca conquistou: ser campeão nacional. Comandados por Abel Ferreira, já foram líderes do campeonato, até perderem no estádio do Dragão. Porém, as contas fazem-se no final...
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jorge nunes
pedido é claro e é partilhado por todos aqueles que têm um coração que bate pelo Sporting Clube de Braga. Já há vários anos que o clube anda de olhos postos no título de campeão nacional. Desde a temporada de 2009/2010, quando fez a sua melhor campanha de sempre num campeonato português, ficando em segundo lugar a apenas dois pontos do então campeão SL Benfica, que os “Guerreiros do Minho” nunca mais descolaram das posições cimeiras da tabela classificativa. Para além dos três grandes, apenas o Boavista e o CD Os Belenenses atingiram o pináculo do futebol nacional e os “Arsenalistas” pretendem juntar-se ao grupo. A verdade é que não andam nada longe de o conseguir...
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Um presidente apaixonado por um clube vencedor
Já por várias vezes os “Guerreiros do Minho” ameaçaram ser sérios candidatos à conquista da Liga NOS, mas há sempre qualquer coisa que acaba por faltar. Ainda assim, a evolução dos resultados da equipa é notória e não foi só na Primeira Liga que se registou esse “salto de gigante”. No cômputo geral de títulos, o SC Braga não tinha, até ao ano de 2003, qualquer troféu a nível nacional. Foram oitenta e dois anos de história mas sem glória para o clube do Minho. Mas 2003 foi um ano importante, uma vez que se trata do momento
em que aconteceu algo que se veio a tornar chave para este futuro de sucesso no clube: António Salvador assumiu o cargo de presidente do SC Braga. Na altura, tinha apenas 32 anos. Uma vida ainda pequena que contrastava com a vontade desmedida deste empresário em levar o SC Braga a voos que nunca tinha voado. Quinze anos bastaram. Década e meia depois, a história é completamente diferente para os “Guerreiros do Minho”. Para além de terem sido finalistas vencidos da Liga Europa em 2011, da Taça de Portugal em 2015 e da Taça da Liga em 2016, os minhotos conquistaram já uma Taça da Liga em 2013, uma de Taça de Portugal em 2016 e até uma competição europeia, a Taça Intertoto em 2008. A diferença está à vista de todos. E, analisando estes números, quase que apetece dizer que a única coisa que falta ao SC Braga para se afirmar definitivamente como o quarto grande português é mesmo o título de campeão nacional.
Comandante Abel Ferreira
Abel Fernando Moreira Ferreira é penafidelense de gema. Nasceu a 22 de dezembro de 1978, sendo que o 78 era o número com que jogava nas costas. Curiosamente, mede também 1,78m. Abel Ferreira, ou simplesmente Abel, como é conhecido no mundo futebolístico,
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atuava como lateral direito enquanto jogador. Iniciou a sua carreira em 1997 no clube da terra e de formação. Depois seguiram-se o Vitória SC, o Sporting CP e uma temporada de empréstimo ao SC Braga, antes de regressar aos leões. Abel viria a pendurar as botas no final da temporada de 2010/2011. Sim, pendurar as botas, porque a sua carreira futebolística não iria ficar por aí. Familiarizou-se com a ideia de passar a estar no banco a tempo permanente e iniciou a sua carreira de treinador. Passou pelas camadas jovens do Sporting CP, pelo Sporting CP B, pelo SC Braga B e, num curto espaço de tempo, chegou a técnico principal do SC Braga, onde se encontra agora. Abel é uma pessoa à imagem do seu presidente: jovem, ambicioso, sério e profissional. Com apenas 39 anos de idade, é o segundo treinador mais novo da Liga NOS, apenas atrás de Pepa, treinador do CD Tondela. E, apesar da sua curta carreira como técnico, Abel já tem alguns registos impressionantes pelos clubes onde passou. Logo no primeiro ano como treinador, Abel sagrou-se campeão nacional com os júniores A do Sporting CP, levando “à letra” a expressão “chegar, ver e vencer”. Dois anos mais tarde, quando foi “promovido” à equipa B dos leões, ficou apenas a nove pontos do então campeão da Segunda Liga, o Moreirense FC. Depois seguiu-se uma passagem pelo SC Braga B, durante
dois anos, onde não foi além da sétima posição, até chegar ao comando técnico da equipa bracarense. Na temporada passada, o SC Braga ficou em quarto lugar da Liga NOS, apenas atrás dos denominados “três grandes”. Já nesta temporada, os comandados de Abel estão num bom caminho na luta pelo título. Após dez jornadas, o SC Braga ocupa a terceira posição da tabela classificativa, apenas a três pontos do atual líder, o FC Porto. Para além disso, Abel é, até agora, o segundo treinador com maior média de pontos conquistados por jogo, desde que assumiu o comando técnico dos “Arsenalistas”. Juntando-o aos restantes treinadores da Liga NOS, apenas perde para Sérgio Conceição, que é o treinador do campeão nacional e atual líder da Liga NOS. E se António Salvador é uma espécie de imperador, então Abel Ferreira é uma espécie de Gladiador desta equipa de “Guerreiros”.
Será este o melhor plantel da história do SC Braga?
Até se pode ter um excelente presidente e um grande treinador, mas o sucesso só chegará se o plantel tiver (muito) talento e estiver em sintonia com os restantes membros do clube, tanto com a equipa técnica como com o conselho diretivo. Atualmente, o valor total de mercado do plantel dos “Guerreiros do Minho” ronda os oitenta e cinco
Futebol total milhões de euros, o que para a realidade do clube, e até do futebol português, é consideravelmente elevado. O jogador mais caro do plantel atualmente é Ricardo Horta, avaliado em dez milhões de euros. Mas o jogador mais caro comprado pelo clube, esta temporada, foi Bruno Viana, por três milhões de euros, depois de um empréstimo bem sucedido no ano passado. Embora pareçam valores reduzidos quando comparados com a realidade do futebol moderno, a verdade é que para o futebol português, em especial para o SC Braga, estes são valores exorbitantes, alguns até históricos. O defeso do verão de 2018 foi o mercado de transferências em que o SC Braga investiu mais capital. Para além de Bruno Viana (ex-Olympiacos), adiquiriram tanto os passes de João Novais (ex-Rio Ave), Murilo (ex-CD Nacional), Eduardo (ex-Estoril), entre outros, custando, aos cofres bracarenses, um valor recorde de mais de seis milhões de euros. Pode até nem ser a equipa com mais talento, porque o SC Braga já teve excelentes plantéis, mas é, sem dúvida, aquela em que o conselho diretivo do clube deposita mais confiança.
Guerreiros de “alma e coração”
Talvez seja neste aspeto que os “Arsenalistas” pecam mais. Não colocando em causa todo e qualquer amor que a massa adepta do SC Braga tem pelo clube, a verdade é que, na altura de apoiar, grande parte dos adeptos não comparece. Os números falam por si, mas últimas cinco temporadas, as médias de assistência dos minhotos nos jogos em casa para a Liga NOS ficaram sempre abaixo da metade da lotação do estádio, o que é manifestamente pouco para as ambições da instituição. Ainda assim, há uma luz ao fundo do túnel. Desde a temporada de 2013/2014 que as médias de assistência têm subido ininterruptamente, o que pode ser um sinal de que, num futuro próximo, as coisas poderão mudar de cenário e o SC Braga poderá ter o estádio bem composto em todos os jogos e não só em jogos de maior dimensão. E a verdade é que um bom ambiente não é totalmente definido pelo número de adeptos que vai ao estádio. Mesmo com poucos adeptos, desde que todos eles vão ver o jogo com a intuição de apoiar a equipa, consegue-se criar uma atmosfera incrível de apoio, e nisso os adeptos do clube do Minho são irrepreensíveis. Apoiam a equipa durante os noventa minutos. Segundo Abel Ferreira, “no último jogo da equipa, frente ao SC Praiense, para a Taça de Portugal, os adeptos foram importantíssimos para a vitória porque, mesmo nos momentos mais complicados da partida, nunca se viraram contra a própria equipa. Não reclamaram, não assobiaram, nada. Apenas houve apoio e os grandes adeptos veem-se nesses momentos quem são”, afirmou.
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a vida dO imparável Rebordosa joão couto
nze vitórias e três empates em catorze jogos realizados. Este é o desempenho do Rebordosa na Série 2 da Divisão de Elite da Associação de Futebol do Porto. A equipa do concelho de Paredes segue invicta na liderança do campeonato e já leva uma vantagem de sete pontos para o segundo classificado, numa altura em que o campeonato ainda nem chegou a meio.
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É já a terceira temporada consecutiva em que o Rebordosa tem estado na luta pela subida aos campeonatos nacionais, mas sempre sem sucesso. Em 2015/2016, os rebordosenses terminaram na terceira posição da Divisão de Elite da AF Porto, a nove pontos do promovido Aliança de Gandra e com uma vantagem de dezassete pontos para a equipa que terminou na quarta posição. Na temporada seguinte, o Rebordosa ficou ainda mais próximo da subida. Com a separação da Divisão de Elite em duas séries, os três primeiros classificados de cada uma delas garantiam o acesso ao play-off, que apuraria o campeão ao Campeonato de Portugal. Na fase regular do campeonato, o Rebordosa terminou no segundo lugar, garantindo presença no play-off. Na fase decisiva, os rebordosenses ficaram a apenas um ponto do Canelas 2010, equipa que garantiu a subida nesse ano. Em 2017/2018, os rebordosenses foram orientados pelo conhecido Andrés Madrid, antigo jogador do SC Braga, FC Porto e CD Nacional, e, nessa temporada, a possibilidade da subida também lhes escapou “por uma unha negra”. Apenas os dois primeiros lugares de cada uma das séries da Divisão de Elite garantiam presença no play-off de promoção e, à entrada para a última jornada, o Rebordosa estava a apenas um ponto do segundo classificado, o Paredes. Curiosamente, na última jornada, cabia à formação de Andrés Madrid defrontar precisamente o Paredes. No derby concelhio, uma vitória era necessária para os rebordosenses garantirem bilhete para o play-off final, mas o Rebordosa não conseguiu melhor que um empate a duas bolas e ficou-se pelo terceiro lugar.
Na atual temporada, a aposta para orientar a equipa recaiu em Tonanha, um já experiente treinador da Divisão de Elite da Associação de Futebol do Porto e antigo futebolista com passagem pela Primeira Liga, ao serviço do Belenenses e do Chaves. Tonanha remodelou completamente a equipa do Rebordosa, essencialmente com jogadores chegados de outras equipas da Divisão de Elite, mas também com três jogadores que no ano anterior disputaram o Campeonato de Portugal: dois ao serviço do Aliança de Gandra e um com a camisola do Freamunde, ambas equipas despromovidas aos campeonatos distritais. As grandes mudanças no plantel Rebordosa estão a dar frutos e, à décima quarta jornada do campeonato, a equipa de Tonanha segue invicta na liderança da tabela classificativa, com onze vitórias somadas e apenas três empates, diante do forte candidato Freamunde, do Aliados de Lordelo e do Vila Meã. Com isso, os rebordosenses já levam uma vantagem de sete pontos para o segundo classificado, o Lousada, e de nove para o terceiro classificado, o Freamunde, que é a primeira equipa abaixo dos lugares que garantem a presença no play-off de subida. A somar a tudo isto, o Rebordosa tem ainda o melhor ataque do campeonato, com vinte e nove golos marcados (Lousada tem trinta, mas três foram atribuídos na secretaria por vitória administrativa), e também a melhor defesa, com apenas dez tentos sofridos. O campeonato é longo, ainda faltam vinte jornadas, e, depois da fase regular, os dois primeiros classificados de cada série ainda têm que disputar o play-off para apurar um único promovido, mas certamente que o Rebordosa é uma equipa a ter em conta no que toca à luta pela subida ao Campeonato de Portugal.
#06 Dezembro2018
depois da taça contra os ‘grandes’ Vila Real
joão couto
Taça de Portugal é uma competição que, normalmente, na sua fase inicial, leva as grandes equipas do futebol nacional a enfrentarem formações de escalões inferiores. Esta temporada, a história não foi diferente e SL Benfica, FC Porto e Sporting CP deslocaram-se ao reduto (ou reduto “emprestado”) de equipas do Campeonato de Portugal, ou até mesmo dos campeonatos distritais. Antes dos jogos “grandes”, essas equipas têm uma grande atenção por parte dos meios de comunicação mas, agora que já passou mais de um mês depois do confronto com as equipas com maior palmarés no futebol português, como se estão a sair Sertanense, Vila Real e Loures nos seus campeonatos? É isso que a Revista Futebol Total lhe vai contar!
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Sertanense
Juntamente com o SL Benfica, coube ao Sertanense abrir a 3.ª eliminatória da Taça de Portugal 2018/2019. A equipa da Sertã está a disputar a série C do Campeonato de Portugal e, na altura do jogo com os encarnados, colocava-se na oitava posição da tabela classificativa, com três vitórias, três empates e uma derrota em sete jogos disputados. E se antes do jogo com as águias o Sertanense vinha de uma série de resultados positiva, com quatro vitórias em cinco partidas, depois do confronto com o SL Benfica, a formação da Sertã entrou numa fase menos conseguida da temporada. Após o célebre jogo da prova rainha, o Sertanense ainda não conseguiu vencer, saindo derrotado dos duelos com Oleiros e Vilafranquense e empatando as partidas diante de Sintrense, Caldas e Torreense. Na classificação, o Sertanense desceu ao décimo posto, possuindo apenas mais três pontos que a primeira equipa abaixo da linha de água, o Loures, e a onze pontos do líder da tabela, a União de Leiria.
O sorteio da Taça de Portugal ditou uma deslocação do campeão nacional até ao terreno do Vila Real, equipa que disputa os campeonatos distritais. Na altura do jogo com o FC Porto, os vila-realenses apenas tinham disputado quatro partidas para o campeonato, tendo saído vitoriosos de todas elas, sem ter goleado em apenas uma. Com doze pontos conquistados, o Vila Real estava na segunda posição do campeonato, a três pontos do líder Régua, uma vez que o jogo da 2.ª eliminatória da Taça tinha levado ao adiamento de um jogo dos transmontanos. Depois da goleada sofrida diante do FC Porto, os vila-realenses voltaram ao seu percurso vitorioso no campeonato e conseguiram mais seis vitórias em tantas partidas realizadas. Nessa competição, o Vila Real apenas sabe o que é vencer e já leva dez vitórias conseguidas. Quanto à tabela classificativa, o Vila Real continua no segundo posto, consequência do facto de ainda ter um jogo em atraso, mas agora está a apenas um ponto do Régua, que já perdeu pontos num empate diante do Cerva. O mais próximo perseguidor dos vila-realenses é o Santa Marta, equipa que já está a cinco pontos da formação orientada por Patrick Canto.
Loures
Por último, resta falar do Loures, equipa que, tal como o Sertanense, disputa a série C do Campeonato de Portugal. Antes do jogo com o Sporting, a equipa amarela posicionava-se no décimo terceiro lugar, o primeiro acima da linha de água, com sete pontos somados, fruto de duas vitórias, um empate e cinco derrotas sofridas. E, apesar da boa replicada dada frente aos leões, após o jogo da 3.ª eliminatória da Taça de Portugal, a situação do Loures não melhorou muito. Primeiro uma derrota frente ao Peniche, depois um empate na receção ao Benfica de Castelo Branco, de seguida uma goelada ao Mação, e, por último, um nulo diante do Oleiros. Esses resultados levaram os lourenses a cair para a décima quarta posição, já abaixo da linha de água, mas com os mesmos pontos que o Oliveira do Hospital, a última equipa nos lugares de permanência.
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Sub-21
O velho sabor do fracasso Seis anos depois, a Seleção Nacional de sub-21 voltou a falhar o apuramento para um Campeonato da Europa do respetivo escalão. Portugal caiu no playoff de acesso à fase final do torneio às mãos da Polónia, registando um resultado agregado de 3-2 no somatório das duas mãos.
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jorge nunes
ortugal esperava marcar presença na terceira fase final consecutiva de Campeonatos da Europa de sub-21, mas uma noite para esquecer em Chaves deitou por terra esse sonho lusitano. Esta é já a quarta vez em dez anos que a formação das “quinas” não consegue garantir uma presença numa fase final de um Campeonato da Europa de sub-21. Na verdade, os lusos até vinham a fazer um bom trabalho, já que nas edições de 2015 e 2017, Portugal apurou-se ambas as vezes e até foi finalista vencido em 2015, quando perdeu a final contra a Suécia, após desempate através de marcação de grandes penalidades. Mas então quem é o culpado disto? Quer dizer, se Portugal é o atual campeão da Europa no escalão principal, de sub-19 e, há dois anos, foi também campeão da Europa de sub-17, porque razão não consegue brilhar neste escalão? Bem, o melhor mesmo é ir por partes.
Portugal partia como grande favorito à conquista do grupo, não só por ser a seleção teoricamente mais forte, mas também por ser aquela que apresentava o melhor registo recente em fases finais.
Fase de qualificação
No dia 7 de setembro de 2018, no estádio Capital do Móvel, em Paços de Ferreira, Portugal e Roménia defrontavam-se naquele que podia muito bem ser o jogo do apuramento para ambas as seleções. A Seleção Nacional portuguesa entrou forte, pressionante, a procurar o golo e até teve uma mão
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A Seleção Nacional de sub-21 iniciou a caminhada de qualificação rumo a Itália e São Marino 2019, inserido num grupo onde contou com a companhia da Roménia, Bósnia e Herzegovina, País de Gales, Suíça e Liechtenstein. No plano teórico,
Mas a qualificação não começou bem para Portugal. Nos primeiros cinco jogos, a formação das “quinas” registou três vitórias, um empate frente à Roménia e uma derrota, algo surpreendente, frente à Bósnia e Herzegovina. Ainda assim, seria de esperar que, com esse registo, os portugueses estivessem na liderança do grupo, dadas as limitações dos adversários, só que a seleção romena não estava para brincadeiras e fez treze pontos em cinco jogos, ao invés de Portugal, que se ficou pelos dez pontos. Já se conseguia perspetivar que tudo ficaria por decidir na seguinte partida entre estas duas seleções.
Uma “final” em solo português
#06 dezembro2018
cheia de boas oportunidades para fazer abanar as redes de Andrei Radu. Mas o nulo não se alteraria até ao intervalo. No início da segunda parte tudo mudou. A saída de Eustáquio ao minuto 46, promovida pelo técnico Rui Jorge, fez com que Portugal perdesse o meio-campo e ficasse desorientado. Alheia a isso era a Roménia, que num espaço de oito minutos aproveitou para fazer dois golos. Recuperar desta desvantagem era agora uma tarefa muito complicada e tudo graças a um péssimo quarto de hora. Portugal tentou reagir. Ao minuto 70, a Roménia ficou reduzida a dez unidades. Rui Jorge lançou opções de ataque e, já perto do final da partida, João Carvalho reduziu para 1-2. Acreditavam os portugueses que a chegada ao empate era ainda possível. Ao minuto 90, a seleção romena viu novo vermelho. A jogar contra nove, Portugal manteve uma pressão intensa sobre o emblema visitante, até que, já bem dentro dos descontos, João Carvalho é derrubado na área. O árbitro não teve dúvidas e apontou para a marca de grande penalidade. Uma oportunidade de “ouro” para Portugal fazer o empate, só que Andrei Radu decidiu brilhar e impedir João Carvalho de fazer igualar o resultado a duas bolas. O jogo acabaria pouco depois.
Vitória da Roménia por 1-2, que atirava a seleção portuguesa para a segunda posição do grupo. Para regressar à liderança, Portugal tinha agora que ganhar os seus jogos e esperar que a Roménia escorregasse... Ou então fazer o que fez, ser um dos quatro melhores segundos e garantir o acesso ao play-off de qualificação para a fase final.
Passar a Polónia para chegar à Itália
A nível geográfico, talvez não seja tanto assim, mas a nível futebolístico era mesmo o “tudo ou nada” tanto para Portugal como para a Polónia, se quisessem marcar presença no próximo Campeonato da Europa de sub-21. O primeiro de dois jogos levou os portugueses até à cidade polaca de Zabrze, para defrontar uma Polónia que terminou o seu grupo de qualificação na mesma posição e com os mesmos pontos de Portugal (vinte e dois pontos). O jogo começou com um ascendente luso. Portugal queria mostrar que não tinha vindo à Europa central passear e mostrou isso mesmo quando, à passagem da meia hora, Diogo Jota adiantou a Seleção Nacional no marcador. Golo de Portugal, que se justificava face à superioridade demonstrada pela equipa durante todo o primeiro tempo.
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Chegava o descanso e dava a sensação de que a vantagem forasteira era o resultado que mais se ajustava ao que se passou dentro das quatro linhas. Já na segunda parte, a seleção da casa queria recuperar algum do orgulho ferido, por ter sido dominada em casa, perante o seu público. E a verdade é que, por várias vezes, conseguiu pôr os comandados por Rui Jorge em sentido. Mas Portugal manteve-se hirto e aguentou a vantagem mínima até ao final da partida, apesar de queixas sobre, pelo menos, duas grandes penalidades por assinalar. 0-1 e vitória importante para a seleção das “quinas” rumo à conquista dos seus objetivos. Ainda assim, continuava tudo em aberto. A decisão estava agendada para Chaves, quatro dias depois.
Um autêntico dejá-vù e um sonho caído por terra
O estádio Municipal de Chaves estava muito bem composto por adeptos pintados de vermelho, que esperavam ver a sua jovem seleção carimbar a passagem à próxima fase. Portugal trazia uma preciosa vantagem pela margem mínima conseguida em pleno solo polaco, mas nada estava ainda decidido, até porque, mesmo nesta fase de qualificação, Portugal já tinha experienciado perder um jogo decisivo em casa.
Esperavam os portugueses que a história não se repetisse... Mas a verdade é que se repetiu. Cinco minutos bastaram para os adeptos presentes no estádio testemunharem o primeiro golo. Canto batido do lado esquerdo do ataque polaco e Krystian Bielik, nas alturas, cabeceou o esférico para o fundo da baliza de Joel Pereira. A Polónia não só ganhava vantagem na partida como igualava a eliminatória. Portugal precisava de acordar para a vida, se queria passar este play-off. Mas a situação ficou ainda pior para os lusos, apenas três minutos mais tarde. Cruzamento feito. agora do lado direito do ataque polaco, e Dawid Kownacki, também ele, a aproveitar a tremenda passividade da defesa portuguesa e a fazer novamente de cabeça o segundo golo da Polónia. Tal como aconteceu no jogo frente à Roménia, também aqui Portugal a entrar em campo desorganizado, desorientado e a dar uma oportunidade ao adversário de apontar um par de golos. Mas a situação neste jogo ainda havia de piorar. Ao minuto 24, novo cruzamento para a área, sendo que, desta vez, foi rasteiro e, mais uma vez, um jogador da Polónia, desta feita Sebastian Szymanski, a fazer mais um golo, com a bola ainda a passar por debaixo do corpo do guardião português. Aí o ambiente no estádio gelou por completo. Os
#06 dezembro2018
adeptos lusos nem queriam acreditar no que estavam a ver. Depois de Portugal ir à Polónia ganhar, estava agora a perder em casa por 0-3 e ainda nem estavam jogados os primeiros trinta minutos da partida. Aí sim, viu-se uma tentativa de reagir à desvantagem por parte dos jogadores portugueses, mas essa reação chegaria tarde demais. Portugal ainda fez o golo através de Diogo Jota, já no decorrer da segunda parte, mas que se viria a confirmar como insuficiente para levar Portugal ao próximo Campeonato da Europa de sub-21. Ficava, assim, por terra e em terra a seleção nacional.
e de quem é a culpa?
Analisados os jogos de capital importância neste percurso, é possível colecionar um bom número de culpados pelo insucesso português. Ora, evidentemente, o principal deles é Rui Jorge. Os técnicos são sempre os responsáveis pelos insucessos das equipas, por isso, a culpa só pode ser do selecionador nacional. Já para não falar que determinadas opções táticas como retirar Eustáquio no jogo frente à Roménia e não alertar os centrais do perigo inerente ao jogo aéreo polaco, fazem de Rui Jorge o principal culpado pelo afastamento luso do Campeonato da Europa, apesar de, na verdade, ter sido o mesmo Rui Jorge
quem levou a Seleção Nacional de sub-21 a uma final desta mesma competição, há três anos. Mas então e o que dizer de Diogo leite e Jorge Fernandes? A dupla de centrais que permitiu à Polónia fazer três golos à boca da baliza? Servirá de desculpa dizer que foi a mesma dupla de centrais que no jogo da primeira mão anulou toda e qualquer ameaça da formação polaca à baliza de Joel Pereira? Já para não falar de João Carvalho, que falhou a grande penalidade no jogo contra a Roménia que nos daria o empate e, possivelmente, o acesso direto à fase final da competição. Fica desculpado por ter sido o autor do golo português nesse mesmo jogo? Bem, na verdade, a culpa é de todos e ao mesmo tempo não é de ninguém. A imprevisibilidade é o que faz deste desporto “o jogo bonito”. Neste tipo de jogos tem sempre que haver um vencedor e um vencido e, neste caso, a Polónia foi melhor. Simplesmente, este não era o torneio de Portugal. Mas a parte boa do futebol é que, depois das derrotas e das vitórias, tudo começa de novo, da estaca zero. Existirão mais torneios e, com eles, mais oportunidades de ouro para Portugal brilhar. Por agora há que esperar até o árbitro voltar a apitar para o início do jogo.
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Krzysztof Piatek
#06 Dezembro2018
daniel fonseca
No início da temporada de 2018/2019 do futebol italiano, todas as atenções estavam na mais sonante contratação do campeonato italiano das últimas décadas: o incontornável Cristiano Ronaldo. No entanto, quem aterrorizou desde logo as defesas adversárias e fez balançar as redes foi o reforço do Genoa, o até agora desconhecido para todos os amantes do futebol que não sigam de perto o futebol italiano, Krzystof Piątek. Mas de onde veio este novo prolífico avançado do campeonato italiano?
O seu percurso de formação e a chegada aos séniores
Krzystof Piątek deu os primeiros passos no futebol no Lechia Dzierżoniów, de onde saiu em 2013, para transferir-se para o KGHM Zagłębie Lubin. Após jogar praticamente toda a temporada na equipa B e na equipa de júniores do clube, Piątek estreou-se ao serviço do clube na primeira divisão polaca (conhecida como Estraklasa) no final da temporada de 2013/2014, tendo feito três jogos. Nas duas temporadas e meia seguintes, Piątek agarrou, definitivamente, um lugar na equipa titular, ajudando o clube a ser campeão da segunda divisão polaca na temporada 2014/2015 e, no ano seguinte (2015/2016), ajudou o clube de Lubin a conseguir um surpreendente terceiro lugar na sua temporada de estreia no Ekstraklasa e, por consequente, a qualificação para a Liga Europa. Na temporada seguinte, o Zagłębie continuou a sua impressionante ascensão ao conquistar o título do Ekstraklasa. Mas, apesar de ainda ser um titular praticamente indiscutível da equipa, Piątek saiu do clube em janeiro de 2016, rumo ao KS Cracovia. No Zagłębie, Piątek deixou os registos de 85 jogos e 18 golos. Apesar do seu ex-clube ter ganho o título no ano em que se transferiu, foi no Cracovia que Piątek teve a sua primeira explosão de golos: apesar da ausência de títulos coletivos (o melhor que o clube conseguiu foi o segundo lugar no campeonato), o jovem avançado marcou 32 golos em temporada e meia ao serviço do clube. Com esta forma, Piątek despertou a atenção dos olheiros do Genoa, que o levaram para Itália no verão de 2018, onde, apesar do seu excelente rendimento no campeonato polaco, chegou como um autêntico desconhecido.
A chegada a Itália e ao estrelato
Ora, como já foi dito, Piątek chegou ao Stadio Luigi Ferraris como um desconhecido. Mas o polaco não perdeu tempo a conquistar os adeptos rossoblu: logo no seu primeiro jogo pelo clube, frente ao Lecce da Serie B, fez um poker (para quem não conhece esta expressão da
Futebol total gíria futebolísitica, significa quatro golos no mesmo jogo). Apesar da sua exibição magistral, quem não acreditava no pontencial do polaco desvalorizou a sua performance, argumentando que tinha sido contra uma equipa de um escalão inferior e que, contra equipas da Serie A, não teria o mesmo rendimento. Ora, Piątek tratou de silenciar todos aqueles que duvidavam de si ao marcar em cada um dos seus sete primeiros jogos no campeonato italiano. No total, marcou 13 golos nos seus primeiros oito jogos com a camisola do Genoa. Para além de se tornar (pelo menos para já), o melhor marcador da Serie A, o campeonato conhecido por ser o mais duro para os avançados, com as suas “defesas de pedra”, duríssimas para qualquer jogador (nem mesmo Cristiano Ronaldo se conseguiu adaptar tão bem e tão depressa ao futebol italiano), Piątek foi pela primeira vez chamado à selecção principal da Polónia (foi também internacional sub-20 e sub-21, tendo estado presente no Campeonato da Europa de sub-21 em 2017), tendo feito a sua estreia a marcar contra a nossa selecção nacional, onde, inclusive, marcou o primeiro golo da partida. Infelizmente para Piątek, tanto a selecção do seu país (que ficou em último no Grupo 3 da Liga A, o que significa que foi despromovida para a liga B) como o Genoa (está actualmente no décimo quarto lugar da Serie A, a apenas quatro pontos da linha de água) não têm encontrado o rumo que pretendiam, mesmo com a veia goleadora do avançado polaco a fazer tantas vítimas.
O futuro
Independente dos resultados coletivos, este ano terá de ser recordado como a temporada em que Piątek anunciou a sua chegada ao panorama europeu. A sua transferência para um campeonato de topo, logo o italiano (conhecido por destruir a carreira de tantos e tão bons avançados promissores), e a sua facilidade e consistência em fazer golos não pode ser nem ignorada nem menosprezada. Analisando as suas exibições, mesmo que nos últimos jogos Piątek tenha encontrado por menos vezes o fundo das redes, o futuro de um grande clube europeu passará certamente por ter o polaco na frente de ataque. O jovem de 23 anos não deixa dúvidas: é mesmo um matador capaz de ajudar a equipa em mais coisas que não apenas a de encostar a bola em cima da linha de golo. Por mais que o emblema de Génova gostasse de o manter nas suas fileiras, o seu departamento financeiro já deve estar a lamber os lábios com o encaixe financeiro que a saída do polaco trará, enquanto que a federação polaca estará deliciada por finalmente ter encontrado alguém que possa, um dia, fazer frente à sombra de Robert Lewandowski quando este último abandonar a seleção nacional. Por tudo isto, Krzystof Piątek é um nome que iremos ouvir muitas vezes na próxima década do futebol europeu.
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#06 dezembro2018
Futebol total
Daniel Fonseca
a temporada de 2015/2016, o Leicester City entrou no coração de um infindável número de amantes de futebol com a sua conquista do campeonato inglês. Com isso, o mundo conheceu o proprietário do clube, Vichai Srivaddhanaprabha, um homem tailandês que conquistou a pequena cidade inglesa com a sua bondade e altruísmo. Infelizmente, a história acabou em tragédia… Mas agora mais que nunca, importa recordar o que o bilionário tailandês fez em Leicester!
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O estado do Leicester
No inicio do séc. XXI, o Leicester City Football Club era um clube da divisão de topo do futebol inglês já há vários anos, tendo-se estabelecido de tal forma na Premier League que, ao virar do século, o clube estava nas competições europeias, mais precisamente em duas ocasiões: 1997/1998 e 2000/2001, ambas na Taça UEFA. Com o sucesso sustentado do clube, as multidões no Filbert Street, a casa do Leicester durante 111 anos, continuavam a crescer, o que levou a direcção do clube à construção de um novo estádio, o que, na altura da inauguração e até 2010, era o Walkers Stadium. No entanto, este novo estádio acabou por ser edificado no pior momento possível para o Leicester, pois, no momento da sua inauguração a
23 de julho de 2002, o clube ia começar a nova temporada no Championship, nome da segunda divisão inglesa. Ora, um clube que joga no Championship não recebe pelas transmissões televisivas dos seus encontros valores que possam sequer ser considerados próximos daqueles que são pagos aos clubes da Premier League. Valores esses com que a direcção do Leicester estaria, com toda a certeza, a contar pois, após a edificação do Walkers Stadium, o clube mergulhou numa crise financeira de tal forma profunda que o clube chegou mesmo a declarar falência técnica e a entrar num processo de administração. Nem mesmo o regresso, embora o mais curto possível, pois foi só de uma temporada, em 2003/2004, à Premier League, conseguiu inverter o colapso financeiro dos foxes. Apesar da situação dramática que as finanças do clube atravessavam, a equipa conseguia-se aguentar no Championship, embora com resultados cada vez piores: em 2004/2005 ficou em na décima quinta posição, em 2005/2006 ficou-se pelo décimo sétimo lugar e em 2006/2007 acabou na décima nona posição, até que, na temporada de 2007/2008, o clube não conseguiu manter-se na segunda divisão inglesa, depois de terminar a temporada no vigésimo segundo posto e, em 2008/2009, pela primeira vez na história do clube fundado no ano de 1884, o Leicester ia descer abaixo do segundo escalão do futebol inglês.
#06 Dezembro2018
Futebol total O ponto mais baixo
Aquele que foi o ponto mais baixo da história do clube acabou por ser o momento em que o emblema se começou a renascer das cinzas. A temporada de 2008/2009 foi apenas o início do conto de fadas que teria o seu clímax poucos anos mais tarde: na única temporada do clube na League One (2008/2009), o Leicester foi facilmente campeão e, consequentemente, foi promovido de volta ao Championship. Em 2009/2010, na primeira temporada de volta à segunda divisão inglesa, o Leicester conseguiu um surpreendente quinto lugar, lugar de acesso ao play-off de promoção à Premier League, tendo sido eliminado pelo Cardiff City nas meias-finais. Foi então no Verão entre esta temporada e a próxima (2010/2011) que, em agosto, ocorreu o momento decisivo para as perspetivas financeiras futuras do clube: o consórcio Asia Football Investments, liderado por Vichai Srivaddhanaprabha, adquiriu o clube e, a 10 de fevereiro de 2011, Vichai foi nomeado como o novo presidente do clube. Vichai e o AFI estabilizaram financeiramente o Leicester e o clube passou as temporadas de 2010/2011 e 2011/2012 de uma forma tranquila no meio da tabela do Championship (décimo lugar em 2010/2011 e nono em 2011/2012). Na temporada de 2012/2013, o Leicester deu um passo em frente na evolução do clube e conseguiu o apuramento para o play-off de promoção, tendo acabado o campeonato no sexto lugar. No play-off, acabou novamente eliminado nas meias-finais, frente ao Watford. Na temporada seguinte, o Leicester deu um salto qualitativo e foi facilmente campeão do Championship, com nove pontos de distância para o segundo classificado e com dezassete para o terceiro! Nesta equipa que foi campeã da segunda divisão já figuravam vários jogadores que iriam figurar no futuro glorioso dos foxes. Nomes como Kasper Schmeichel, Wes Morgan, Danny Drinkwater, Andy King, Jeffrey Schlupp, Riyad Mahrez ou Jamie Vardy levaram o Leicester até à Premier League com relativa facilidade. Mas nenhum deles imaginaria sequer o que iriam alcançar nas próximas temporadas…
A chegada à Premier League
No verão de 2014, após conseguir a promoção à Premier League, o Leicester City investiu em força na contratação de jogadores com vista a conseguir a permanência, que era o grande objetivo da temporada dos foxes. Jogadores que viriam a ser importantes na equipa como Marc Albrighton, Leonardo Ulloa, Danny Simpson e Robert Huth chegaram a Leicester durante este ano. No entanto, apesar de ter um plantel que aparentava estar capacitado para conseguir a permanência, o Leicester teve, até abril, uma
#06 dezembro2018 temporada desastrosa para o clube e para os seus adeptos: em vinte e nove jornadas, os foxes com contavam apenas quatro vitórias. O clube parecia condenado à despromoção, tendo passado mais de quatro meses consecutivos no último lugar da tabela classificativa. Os adeptos já se começavam a resignar ao mais que provável regresso ao Championship…
O primeiro sinal do que estava para vir
Em 2014/2015, Vichai já era o proprietário do clube há mais de quatro anos e, à medida que o tempo passou, Vichai foi deixando a sua marca, tanto no clube como na cidade de Leicester. Vichai é descrito por todos que o conheceram como um homem bondoso e caridoso. Tanto o era que, ao longo dos anos, doou largos milhões ao hospital e à universidade de Leicester, assim como as várias outras instituições da cidade inglesa. Era uma presença constante nos jogos da equipa e aproximou-se bastante dos jogadores e da equipa técnica, nunca tendo abandonado e deixado de apoiar a equipa, mesmo quando esta passou quatro meses no último lugar da Premier League. Vichai é mesmo creditado por vários jogadores como um dos maiores factores que levou a equipa a conseguir o que conseguiu na ponta final da temporada. De facto, nas últimas nove jornadas, o Leicester deu completamente a volta à, até então, horrenda temporada: nove jogos, sete vitórias, um empate e apenas uma derrota. O clube acabou então a temporada no décimo quarto lugar, longe da despromoção que, no início de abril, parecia anunciar-se. Alguns comentadores e adeptos disseram, num claro tom jocoso, que, se o Leicester tivesse tido a forma que teve na reta final da temporada durante todo o ano, teriam sido campeões. Mal sabiam eles o quão certas se tornariam as suas palavras…
O título impossível
Após terminar a temporada de 2014/2015 de forma sensacional, o Leicester decidiu prescindir do seu treinador Nigel Pearson, para o substituir pelo italiano Claudio Ranieri, um treinador já com vasta experiência na Premier League. Com o italiano chegaram também Christian Fuchs, Shinji Okazaki, N’Golo Kanté, Gokhan Inler, Demarai Gray e Daniel Amartey, sendo que todos estes jogadores seriam importantes na temporada que se seguiria. O Leicester começou a temporada de 2015/2016 da mesma forma forma com que terminou a temporada anterior, isto é, com muito bons resultados para uma equipa que se previa que lutasse pela permanência na Premier League. Esta sequência de bons resultados iniciais foi desvalorizada pelos especialistas, que atribuíam grande parte de razão deste início fabuloso de temporada à
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#06 dezembro2018 fantástica série de jogos consecutivos a marcar de Jamie Vardy (treze golos em onze jogos), que se tornou mesmo num recorde da liga inglesa. Só que, mesmo quando Vardy deixou de faturar em todos os jogos, o Leicester continuou a ter os mesmos resultados. Tanto continuou que o clube passou mesmo o Natal no topo do campeonato, quando apenas doze meses antes estava na ponta oposta da tabela classificativa, no último lugar. Mesmo assim, o mundo do futebol esperava que, com o desgaste da temporada a começar a fazer as primeiras vítimas, o Leicester eventualmente começasse a tropeçar e acabasse o ano longe do título... Mas enquanto todos os crónicos candidatos ao título, como o Manchester City, o Chelsea ou o Arsenal, e até a outra equipa surpresa do ano, o Tottenham, perdiam pontos frequentemente, o Leicester continuou a sua caminhada triunfal. Quando chegou o final da temporada, o Leicester que todos esperavam que lutasse pela permanência ou que até acabasse despromovido, tinha apenas três derrotas! O clube, que nunca tinha sido campeão inglês nos seus 132 anos de história, conquistou finalmente o título! Um autêntico conto de fadas, potenciado pelo facto de, na temporada anterior ter estado perto da despromoção e de há apenas sete anos atrás estar na League One! Esta conquista parecia impensável de acontecer apenas nove meses antes, quando a temporada começou. No início do ano, ninguém dava grande valor ao plantel do Leicester, que eram agora celebrados como campeões ingleses e com alguns a tornarem-se estrelas do desporto-rei. Jogadores como Jamie Vardy, que venceu o prémio de melhor jogador da Premier League e passou a ser membro habitual da selecção inglesa, Riyad Mahrez, venceu o prémio de jogador do ano da PFA, e N’Golo Kanté, tornou-se num membro essencial da selecção francesa que se tornaria Campeã do Mundo em 2018, atingiram o estrelato nesta temporada que é, de longe, a melhor temporada da história do Leicester City Football Club. E claro, grande parte deste sucesso foi, justamente, atribuído a Vichai Srivaddhanaprabha.
Apenas com a estabilidade e proximidade que o tailandês trouxe é que o clube atingiu o nível que conseguiu atingir.
Regresso à realidade com um desvio europeu
Para a temporada de 2016/2017, o ano da defesa do título de campeão, o Leicester tentou manter o núcleo duro da equipa intacto e conseguiu-o, pelo menos em termos de número de saídas. Do seu onze titular habitual, apenas N’Golo Kanté saiu. O clube tentou substituí-lo com Nampalys Mendy (e mais tarde com Wilfred Ndidi), mas a equipa ressentiu-se imenso da perda de Kanté. De facto, apenas após a saída do francês é que se pôde constatar que Kanté era de facto o elemento mais importante da equipa dos foxes. A temporada teve altos e baixos. De longe e a uma larga distância, os altos concentraram-se nas competições europeias. O Leicester participou pela primeira vez na Liga dos Campeões, tendo ganho o seu grupo (onde se encontrou com o FC Porto) e eliminado o Sevilha nos oitavos de final. Os foxes apenas sucumbiram ao poderoso Atlético de Madrid nos quartos de final, tendo mantido a invencibilidade em casa ao longo de toda a participação na principal prova europeia de clubes. Os baixos encontram-se nas campanhas nas provas nacionais. O Leicester cedo foi eliminado da Taça de Inglaterra e da Taça da Liga, tendo passado praticamente toda a temporada na metade inferior da Premier League. O ano foi tão desapontante a nível interno que Claudio Ranieri, agora uma lenda do clube, foi despedido em fevereiro, com o clube a apenas um ponto da linha de água. A temporada de 2016/2017 foi, de facto, uma temporada de regresso à realidade normal do clube, apenas com a caminhada europeia até aos quartos-de-final a ser o motivo que continua a merecer ser relembrado. A temporada de 2017/2018 foi mais do mesmo para os foxes, até no mercado de transferências: continuaram a tentar manter o núcleo da equipa
Futebol total que tinha sido campeã, enquanto procuravam por um substituto à altura de N’Golo Kanté, que na temporada anterior venceu o prémio de melhor jogador do ano da Premier League quando levou o Chelsea de Conte ao título. Contrataram Vicente Iborra e Adrien Silva mas, novamente, nenhuma das contratações do Leicester conseguiu ocupar o lugar vago deixado por Kanté. No entanto, a temporada foi francamente mais positiva do que a anterior, com o clube a ficar em nono lugar no campeonato e a manter-se por mais tempo nas competições a eliminar (foi eliminado nos quartos de final em ambas). A temporada de 2018/2019 ficou desde logo marcada pela alteração na política de transferências e na filosofia de jogo do clube: o novo treinador, Claude Puel, decidiu implementar um modelo de jogo um pouco mais positivo e de mais posse do que até então, um modelo que não dependa tanto do contra-ataque para criar a manobra ofensiva da equipa. Como tal, o mercado de transferências não foi passado a tentar encontrar o novo N’Golo Kanté, mas antes a contratar jogadores que encaixassem no novo modelo de jogo do clube, como Ricardo Pereira, James Maddison ou Rachid Ghezzal. A temporada começou de uma forma mais positiva que negativa, com os adeptos a gostarem do novo estilo de jogo da equipa.
A tragédia que deixa o Leicester “órfão”
A 27 de outubro de 2018, após ver o jogo do Leicester frente ao West Ham, Vichai e mais quatro passageiros iriam abandonar o King Power Stadium (o novo nome do Walkers Stadium, desde 2010) no seu helicóptero privado, algo habitual e que já havia acontecido centenas de vezes. Mas, desta vez, aconteceu o impensável. Mal levantou voo, e ainda a sobrevoar o estádio, o helicóptero entrou numa espiral e despenhou-se ainda no parque de estacionamento do estádio. Os cinco passageiros da aeronave faleceram no acidente. No dia seguinte, o estádio do Leicester tornou-se num local de tributo a Vichai Srivaddhanaprabha, com toda a cidade a chorar o seu desaparecimento. Todos os que estão ligados ao estádio foram rápidos a recordar Vichai, tanto pelo que ele fez pelo clube, como por tudo o que fez na cidade de Leicester. De facto, sem Vichai, ninguém é capaz de saber o que teria acontecido ao clube e é inegável o seu papel no título conquistado pelo Leicester em 2016 e pelo contributo que deixou na cidade. Por tudo o que fez ao longo da vida, todos na Revista Futebol Total juntam-se ao resto do mundo do futebol ao deixar os mais sentidos pêsames à família de Vichai Srivaddhanaprabha e a todos os que o conheceram em vida.
#06 dezembro2018
Futebol total
#06 dezembro2018
André Nogueira
ense num defesa que tenha representado o Inter de Milão durante toda a sua carreira e ainda hoje seja recordado por todos os adeptos do clube como um dos maiores ídolos da sua história. Já está? Pois, não estamos a falar de Javier Zanetti, embora também pudesse estar aqui. Guiseppe Bergomi, carinhosamente conhecido por “O Tio” por parte dos adeptos do Inter, supostamente devido ao seu bigode e as suas famosas sobrancelhas, é um desconhecido para a maioria do resto do Mundo, mas tal não o torna apenas mais um, mais sim, um especial. Nascido a 22 de dezembro de 1963, Giuseppe ‘Lo Zio’ Bergomi encheu o museu do Inter de Milão com as conquistas de duas Ligas Italianas, uma Coppa de Itália, uma Supertaça Italiana e três Taças UEFA. Para além, pela seleção italiana, ainda conquistou um Campeonato do Mundo. Razões mais que suficientes para conhecer um pouco mais da história deste jogador.
P
O início precoce
Entrou nas camadas jovens do Inter de Milão em 1979 e, em apenas dois anos, ainda com 16 anos, chegou ao plantel principal. A carreira deste defesa central podia ter sido bastante diferente, não tivesse ele sido rejeitado pelos rivais do AC Milan antes de tentar a sorte na formação nerazzura. Na primeira temporada venceu a Coppa de Itália e, no ano seguinte, chegou às meias-finais da Taça UEFA, muito graças às suas exibições de grande qualidade, onde se destacava por se adiantar às movimentações dos avançados adversários.
Giuseppe
Bergomi A lealdade
italiana
Se a entrada na equipa principal foi particularmente rápida, o que falar da chamada, então com apenas 18 anos completados, para o Campeonato do Mundo de 1982. Como um veterano, realizou exibições de “encher o olho”, segurando vitórias importantíssimas e anulando os avançados adversários em jogos como contra o todo poderoso Brasil (para muitos, a melhor equipa de sempre) e a Alemanha, na final. Um facto curioso foi ter conseguido anular o goleador alemão Rummenigge, vencedor do prémio de segundo melhor marcador da competição.
Pela seleção
Desta vez iremos fazer diferente e não seguir a ordem cronológica. Por esse motivo, continuaremos a falar dos Campeonatos de Mundo e dos quatro em que participação. Um número elevado mas que se entende pela estreia numa idade tão jovem e pela presença sempre garantida da seleção italiana na prova (falharem o Campeonato do Mundo de 2018 foi um choque para todos os amantes do futebol e a sua ausência foi sentida). Após o brilharete de 1982, resistiu às grandes mudanças para o Campeonato do Mundo de 1986 e, com Bergomi como um dos principais talentos da equipa, a Itália alcançou os oitavos de final, onde caiu aos pés da França (0-2), que viria a terminar a prova na terceira posição. No Campeonato do Mundo de 1990, com a braçadeira de capitão no braço e a jogar no seu país, quase voltou a ter a taça nas suas mãos, mas, para tristeza das bancadas, a seleção italiana foi derrotada pela Argentina, que era a detentora do troféu, nas grandes penalidades, após um empate no tempo regulamentar (1-1; 3-4). As meias finais perdidas davam acesso ao jogo de terceiro e quarto lugar que a Itália venceu, frente à Inglaterra, por 2-1.
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Depois de derrotado pela seleção que tinha como estrela o astro Diego Armando Maradona, que até marcou a grande penalidade decisiva, e que foi bastante aplaudido durante todo o encontro pois, na altura, alinhava no emblema italiano do Nápoles. Quatro anos depois, no Campeonato do Mundo de 1994, nos EUA, o selecionador italiano Arrigo Sacchi sentiu que Bergomi já não era necessário e não convocou o defesa para uma equipa que só perdeu na final, frente ao poderoso Brasil, no desempate de grandes penalidades, devido ao famoso “balão” de Roberto Baggio. Porém, no Campeonato do Mundo de 1998, e então com 35 anos, o novo selecionador e antiga lenda do AC Milan, Cesare Maldini, deu um voto de confiança ao central. Ainda assim, a Itália manteve-se afastada do ambicionado título, caindo, sem surpresa, em novas grandes penalidades. Nos quartos de final, a Itália defrontou a seleção organizadora da França onde, após um empate sem golos, di Biagio (não confundir com Roberto Baggio, que marcou a primeira penalidade) falhava o quinto e último penálti. A França seguia em frente e só parava a festejar com a conquista do Campeonato do Mundo, frente ao Brasil, por uns expressivos 3-0.
As três do clube
Se Bergomi conquistou três Taças UEFA, o Inter de Milão não conquistou muito mais. Nas temporadas de 1990/1991 (2-1 vs AS Roma), 1993/1994 (2-0 vs Casino Salzburg) e 1997/1998 (3-0 vs Lazio), o Inter venceu as finais só sofrendo golos numa delas. Porém, Bergomi já não fez parte do onze inicial que venceu o segundo adversário de Roma e trouxe a terceira taça para casa.
O ídolo da nerazzura
São vinte temporadas de fidelidade a um dos grandes emblemas italianos. Apesar dos vários e longos anos na Liga Italiana, o único título conquistado surgiu na temporada de 1988/1989, sob o comando de um treinador conhecido pelos portugueses, Giovanni Trapattoni. A presença em Campeonatos da Europa foi curta. Só em 1988, perdendo nas meias finais (0-2). No total, foram 759 jogos oficiais pelo Inter de Milão, mais que Javier Zanetti ou Giuseppe Meazza, com vinte e nove golos marcados. Junte-se também as 81 presenças pela seleção italiana com seis golos. Retirou-se no final da temporada de 1998/1999, um ano após o seu último e inesperado Campeonato do Mundo.
#06 dezembro2018
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#06 Dezembro2018
SHANGHAI SIPG
O FINAL PERFEITO DE UM LIVRO DE 13 CAPÍTULOS No início do mês de Novembro o Shanghai SIPG sagrou-se campeão chinês pela primeira vez na história do clube, quebrando o domínio de 7 anos seguidos do Guangzhou Evergrande, dando um final perfeito a 13 anos de desenvolvimento e investimento.
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Jonathan Pertzborn
oje em dia, quando se fala em futebol asiático, existe a tendência de mencionar, muitas vezes, o investimento financeiro que as equipas têm feito para atrair alguns dos grandes nomes do futebol mundial. Esse investimento tira, por vezes, o mérito do projeto que se tem vindo a verificar no futebol chinês que, desde muito cedo, procurou apostar no desenvolvimento e propagação, não só do futebol, como também dos jogadores do país asiático. Apesar dos grandes investimentos monetários dos quais quase todas as equipas do campeonato foram alvos nestes últimos cinco a sete anos, a ideia de apostar na formação e no talento local residiu sempre dentro da cultura chinesa, com este ponto a verificar-se no limite rigoroso de estrangeiros por equipa (cinco estrangeiros por plantel e convocatórias obrigatórias de jogadores sub-23 chineses).
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Capítulo 1: Genbao Football Base – Desde pequenino...
Quando chega a altura de atribuir mérito pelo sucesso alcançado, a tendência é falar nos membros atuais do clube. Pode-se falar no técnico Vítor Pereira, nas estrelas Óscar e Hulk ou mesmo no atual presidente Chen Xuyuan. Mas a verdade é que tudo começou com o projeto de um homem: Xu Genbao. Na viragem do milénio, Xu Genbao, que na altura já tinha sido selecionador da Seleção Chinesa de futebol, fundou a Genbao Football Base, uma academia para jovens futebolistas chineses. Noventa e seis jovens foram inscritos inicialmente, todos com idades entre os oito e os doze anos, pois Genbao pensava que seria a idade apropriada para começar a introduzir a paixão pelo futebol à comunidade jovem do país. Com o passar dos anos a quantidade de jovens interessados em entrar na academia aumentou substancialmente e a média de idades foi aumentando ligeiramente. Xu Genbao chegou então à conclusão que seria bom para o futebol chinês criar um clube de futebol para dar experiência profissional aos jovens da sua academia. Em 2005, criou-se, então, o Shanghai Dongya Football Club.
Capítulo 2: Rumo à subida com “teenagers”
Quando se fala em “apostar em jovens”, a norma é haver entre um ou dois jovens da formação a jogar no plantel principal, isto falando globalmente nos dias que correm. Quando se verifica a presença de mais de três jogadores da formação no onze inicial de uma equipa de um dos grandes campeonatos europeus, é motivo de notícia e destacado pela imprensa e fãs. É difícil de imaginar o reboliço que causaria na imprensa dos
#06 dezembro2018 países nos quais se localizam os grandes campeonatos de futebol, se uma equipa disputasse um campeonato profissional apenas com jogadores entre os catorze e os dezassete anos. Foi o que o Shanghai fez na sua primeira temporada. A edição de 2006 da China League Two, terceira divisão do futebol chinês, contou com a participação do Shanghai Dongya Football Club. O sétimo lugar na competição e os catorze pontos alcançados surpreenderam os fãs do futebol chinês mas, o mais importante para Genbao, foi o desenvolvimento dos jogadores jovens, nomeadamente de um rapaz chinês que será abordado no decorrer da reportagem, Wu Lei. Com catorze anos de idade, tornou-se no jogador mais jovem de sempre do futebol profissional chinês. Depois de uma temporada de muita aprendizagem e experiência adquirida por parte dos jovens futebolistas, muitos olhavam para o ano seguinte como uma oportunidade de provar o sucesso do projeto e causar um impacto no futebol chinês. E foi isso que aconteceu. Na segunda temporada como profissionais, com um plantel que apresentava uma média de idades inferior aos dezanove anos, o Shanghai conquistou o título, em 2007, e garantiu a subida para a China League One, correspondente ao segundo escalão principal do futebol chinês. Sempre com os pés assentes na terra mas com um olhar para o futuro, era, até mesmo por parte dos dirigentes do Shanghai, difícil prever o futuro do clube num patamar superior do futebol chinês. Como é de imaginar, manter a média de idades com a qual o clube se contemplava na altura e, ao mesmo tempo, manter a competitividade perante jogadores mais experientes não seria tarefa fácil. Consequentemente, a possibilidade de haver um maior investimento no clube foi seriamente ponderada por Xu Genbao.
Capítulo 3: Alcançar o topo confiando no sistema
Os anos que se seguiram ficarão para sempre na história do clube como os tempos de mudança para um emblema que, desde cedo, ambicionou muito mais do que competir nas divisões inferiores. Tal como em qualquer clube de futebol nos dias de hoje, para ser uma grande equipa é necessário agir como uma grande equipa, começando pela construção de um novo estádio. O ano de 2008 foi de estreias para o conjunto de Shanghai. Não só se estrearam numa divisão superior como também num novo estádio: Jinshan Sports Centre, em Jinshan, com capacidade para 30 000 espetadores. Naturalmente, essa mudança ajudou ao crescimento do clube e possibilitou uma maior aderência dos adeptos. Neste ciclo de estreias, a equipa terminou numa sólida sexta posição, com vinte e oito pontos, mantendo fidelidade ao seu sistema inicial.
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Para tal, fez alinhar, apenas, jogadores jovens formados na academia e a média de idades rondava os dezanove anos, algo que hoje em dia não se vê nos principais campeonatos do futebol mundial. O início da mudança Já 2009 foi mais um importante ano para o currículo do emblema de Shanghai, começando por uma nova mudança de estádio, após permanecer apenas um ano no Jinshan Sports Centre. Com a ambição de alcançar patamares maiores e com um projeto em mente, o diretor do clube achou que o novo estádio denominado por “Estádio de Shanghai” iria elevar o clube ao nível desejado. Com o maior estádio da segunda divisão chinesa, com capacidade para 56 000 lugares, a equipa não conseguiu nada para além do quarto lugar no campeonato, falhando a subida por apenas três pontos. No entanto, existiam mais pontos positivos do que negativos a retirar desta temporada. A nova subida de divisão estava cada mais perto e o otimismo residia dentro do clube, com um projeto ambicioso que consistia na aposta nos jovens jogadores chineses, para contribuir de forma positiva para o desenvolvimento do futebol asiático. No entanto, e como já foi mencionado anteriormente, o nível de dificuldade em manter um plantel tão ‘novo e inexperiente’ a competir com plantéis com experiência de Primeira Liga e competições internacionais é bastante elevado. Mais tarde ou mais cedo, a ideologia teria de ser mudada.
Capítulo 4: uma pedra no sapato novo
De olhos postos na subida, os responsáveis do Shanghai Dongya Football Club sabiam que seria necessário reforçar o plantel para acrescentar alguma experiência ao conjunto de jovens, sem nunca abdicar completamente do investimento na academia. Foi no início da temporada de 2010 que se verificaram as primeiras grandes mudanças na equipa desde a sua criação. Foi a primeira vez que o clube já não era conhecido pela exclusividade de jogadores jovens e chineses. As alterações não se verificaram apenas nos jogadores, como também no comando técnico, com um ex-internacional pela seleção chinesa, Fan Zhivi, a assumir o papel de treinador. No plantel, assistiu-se à contratação dos dois primeiros jogadores estrangeiros da história do clube: Nikola Karcev (macedónio) e Fabrice Noël (haitiano). Karcev, formado no Partizan Belgrado, tinha contado com passagens por equipas na Macedónia e Rússia (breve passagem pelo Terek Grozny), sem nunca se ter conseguido afirmar nas equipas onde esteve. O segundo jogador estrangeiro a chegar a Shanghai foi Fabrice Noël. O avançado de 25 anos, na altura, tinha no currículo uma passagem pelos Colorado Rapids, dos Estados Unidos da América, e entusiasmou, com isso, os adeptos da equipa que veste de vermelho. Apesar destas contratações que atraíam muitos adeptos ao Estádio de Shanghai, a subida de divisão
#06 dezembro2018
não foi alcançada, com o clube a repetir o quarto lugar do ano anterior, desta vez com mais aspetos negativos do que positivos, ao contrário de 2009. O projeto da direção circulava à volta da subida na temporada de 2010 e investimentos foram feitos para tal, com as contratações de jogadores estrangeiros e a mudança de estádio. O clube encontrava-se, consequentemente, com graves dificuldades financeiras e mudanças tiveram de ser feitas. Mudanças estas que prejudicaram bastante o ‘projeto’ que temos vindo a mencionar ao longo desta reportagem. Alguns dos jovens jogadores que eram considerados as “estrelas em ascensão” da equipa, tiveram de ser vendidos por razões relacionadas com a crise financeira pela qual o clube estava a passar. O capitão Wang Jiayu, o internacional chinês Zhang Linpeng e os internacionais pelas camadas jovens da seleção chinesa Cao Yunding, Jiang Zhipeng e Gu Chao abandonaram o clube onde cresceram como jogadores e pessoas. Ajustes tiveram de ser feitos no arranque da temporada seguinte. Sem querer deixar a aposta forte nas camadas jovens, Genbao certificou-se de que vários jogadores fossem promovidos para a equipa principal. A média de idades continuava perto dos vinte anos, apesar da presença de Karcev no plantel (Noël deixou o clube no final da temporada). O maior nível de experiência por parte das outras equipas no campeonato ditou o rumo da temporada de 2011, com a formação treinada
por Fan Zhivi a terminar na nona posição da segunda divisão chinesa, com trinta e dois pontos. Ainda com problemas financeiros, Genbao foi forçado a vender os direitos do nome do clube para o Zobon Group. A equipa passou, oficialmente, a ter o nome de Shanghai Tellace, apesar de continuar a ser reconhecido nos registos como Shanghai Dongya FC. Com os 30 milhões de yens adquiridos por este negócio e um ambiente diferente em volta do clube, o Shanghai sagrouse campeão da China League One e conseguiu, finalmente, o tão ambicionado prémio perseguido por Genbao durante os últimos anos: a subida para o principal escalão do futebol chinês.
Capitulo 5: Fim da era Genbao, início do Manchester chinês
Depois de carimbar a subida para a Super Liga Chinesa, Genbao vendeu mais uma vez o nome da sua equipa para o grupo Shanghai International Porto Group (SIPG), nome pelo qual é conhecido até aos dias de hoje. No primeiro ano a atuar na Super Liga Chinesa, o Shanghai SIPG registou uma temporada tranquila e sem receios perante uma potencial descida, acabando a meio da tabela num sólido nono lugar. No ano de 2014 chegou ao fim um ciclo importantíssimo do clube: a era Xu Genbao. Um homem que começou um projeto com a simples e arrojada ideia de dar uma oportunidade aos jovens jogadores chineses de provar o valor do futebol chinês.
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Apesar de já se encontrar no escalão máximo e a descida de divisão não parecer estar em questão, Genbao queria mais para o clube e ambicionava algo grande que envolvesse conquistas. Com a intenção de dedicar o resto da sua vida à academia de formação de jogadores, o emblemático presidente vendeu o seu clube ao SIPG por 500 milhões de yens (67 milhões de euros). Alguns dizem que a essência do clube em si perdeuse um pouco, com muito dinheiro a ser injetado no emblema chinês. Muitos adeptos e analistas começaram a apelidar a equipa de Xangai de “Manchester Chinês”, devido aos investimentos feitos. No final da temporada de 2014 o Shanghai SIPG terminou a campanha na quinta posição, antevendo as alterações que o clube iria sofrer após a grande mudança a nível financeiro.
Capitulo 6: ventos internacionais chegam a Shanghai
Com grandes ambições por parte dos novos líderes do Shanghai SIPG, a intenção era acrescentar algo à equipa que a aproximasse do nível que era pretendido: competir pelo título e obter sucesso na Champions asiática. Para isso, era pouco provável que algo do género seria possível atingir seguindo à regra o projeto de Xu Genbao. Para garantir sucesso, é importante ter na equipa pessoas que já saborearam tal sabor... E quem melhor do que alguém que já o tinha feito nas principais competições a nível de futebol mundial?
Sven-Göran Eriksson Se os responsáveis do Shanghai SIPG procuravam experiência a nível internacional, dificilmente teriam encontrado melhor. Sven-Göran Eriksson contava, na altura, com passagens por emblemas como SL Benfica, Roma, Fiorentina, Manchester City, ..., tal como experiências como selecionador nacional pelo México, Costa de Marfim e Inglaterra, seleção pela qual esteve presente nos Campeonatos do Mundo de 2002 e de 2006. Para além disso, o treinador sueco também já tinha passado pelo principal escalão do futebol chinês, ao serviço do Guangzhou Rich & Force Football Club. Para os responsáveis e os adeptos do Shanghai SIPG, não havia melhor nome para lançar o clube na corrida para o título. No mesmo ano, em 2015, foi anunciada a até então maior contratação da história do clube: Dario Conca. O argentino que, naquele tempo, era um dos favoritos entre os adeptos do Fluminense, custando cerca de 3 milhões de euros ao clube de Xangai, acrescentando uma qualidade inegável ao meio-campo. Para além de Conca foram ainda contratados o médio Yu Hai (internacional chinês) e Asamoah Gyan. O internacional ganês, que disputou dois mundiais ao serviço da seleção do seu país, já tinha provado ao longo da sua carreira que tinha veia de goleador. A sua chegada a Xangai caiu muito bem entre os adeptos, que sentiam o fervor e ânimo que
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circulava as ruas da cidade com o investimento a ser feito para melhorar o plantel e competir pelo título. Investimento nem sempre traz felicidade Apesar do grande investimento do qual já se falou, o sucesso não surgiu de imediato. O objetivo era claro: destronar o até então tetra campeão Guangzhou Evergrande. A equipa atingiu um nível de consistência ambicionado por muitas equipas e as estrelas já faziam ecoar o seu nome, não só pelos lados de Xangai, como também em toda a China. Gyan e Conca faziam a diferença numa equipa que ainda continha vários jogadores da academia. Apesar disso, o Shanghai perdeu o título na última jornada, com o Guangzhou Evergrande a tornarse pentacampeão chinês. Apesar da amargura de “morrer na praia” depois da grande mudança no início de 2015, o segundo lugar do Shanghai confirmou algo que era um dos principais objetivos tanto da direção como do ex-dono desde o início do projeto: qualificação para a Liga dos Campeões Asiática em apenas dez anos de existência, um feito histórico entre equipas asiáticas.
Capítulo 7: Wu Lei - o wonderkid da china
Não foi mencionado muitas vezes durante a reportagem para lhe poder ser atribuído o devido mérito depois do feito histórico do clube no que toca à qualificação da equipa para a Liga dos Campeões. Um dia, nos primórdios da Genbao
Football Academy, poucos anos depois da formação do Shanghai Dongya, muitos jovens futebolistas corriam atrás da bola com um objetivo em mente: um dia tornarem-se jogadores profissionais de futebol. Um desses jovens jogadores chamava-se Wu Lei e tinha doze anos de idade. Quando a equipa atingiu o nível profissional foi-lhe dado uma oportunidade que poucos têm: pisar o relvado de um campeonato oficial... com apenas catorze anos. Depois da estreia frente ao Yunnan Dongba, partida que o Shanghai perdeu por 5-3, o jovem chinês nunca mais olhou para trás e, na temporada a seguir, contribuiu para a conquista do título e consequente subida de divisão, isto tudo com apenas quinze anos, é importante destacar. Com o passar dos anos, Wu Lei foi ganhando experiência e espaço no plantel. Em 2008, marcou o seu primeiro golo como profissional, tornando-se no segundo jogador chinês mais jovem de sempre a fazer balançar as redes a nível competitivo. Mostrando uma veia goleadora e uma grande mobilidade no ataque, foi fundamental na conquista do título na China League One e até mesmo os jogadores estrangeiros do plantel não conseguiam roubar a atenção de um nome: o jovem jogador formado na Genbao Football Academy, Wu Lei. A atuar ao lado de jogadores como Conca e Gyan, foi o melhor marcador da equipa na temporada de 2015, sob o comando de Sven-Göran Eriksson, sendo também eleito melhor jogador do clube. A consistência é a chave para o sucesso de Wu Lei.
Futebol total Independentemente de todas as mudanças pelas quais o clube passou, houve sempre um variador comum no meio do processo, que era precisamente o jovem chinês. Sempre com prestações positivas e um dos favoritos entre adeptos, Lei parecia entender-se bem com todos os colegas com quem atuava dentro de campo. Ainda nesse ano, foi convocado para a Taça da Ásia e, no ano seguinte, marcou o golo que classificou a China para a terceira fase das eliminatórias do Campeonato do Mundial deste ano, algo que não tinha acontecido em quinze anos. Ainda muito jovem, Wu Lei provava o sucesso do projeto de Xu Genbao.
Capitulo 8: Hulk esmaga!
O investimento feito no início do ano de 2015 foi monumental em termos financeiros e dificilmente seria ultrapassado de uma temporada para a outra. No entanto, foi exatamente isso que aconteceu. Foram investidos 74 milhões de euros em contratações para reforçar o plantel. Os objetivos, desta vez, eram claros como a água: Conquistar a Superliga Chinesa e chegar o mais longe possível na Liga dos Campeões Asiática, sem nunca descartar a possibilidade de também vencer a competição. Para o ataque chegaram dois nomes que já tinham causado estragos no futebol mundial: Elkeson e Hulk. Elkeson destacou-se como ponta-de-lança no Botafogo, onde foi um dos melhores marcadores da Liga Brasileira. Mais tarde passou pelos rivais do Shanghai SIPG e detentores do troféu, Guangzhou Evergrande. Depois de conseguir contratar uma das peças fundamentais para o sucesso do campeão chinês, o otimismo residia dentro do clube de Xangai. Mas a principal contratação foi mesmo Givanildo Vieira de Souza, mais conhecido por Hulk. Destacou-se pelo FC Porto, onde marcou 78 golos em 170 jogos pelos azuis e brancos. Depois de uma passagem pelo Zenit St. Petersburgo, Hulk chegava a Shanghai com rótulo de craque e colocava pressão nos ombros dos dirigentes do Shanghai para a equipa se tornar campeã nesse mesmo ano.
Capítulo 9: Fracasso com pontos positivos
A campanha na Liga dos Campeões não poderia ter corrido melhor na fase inicial, com a liderança do grupo a ser confirmada desde cedo com quatro vitórias. O ataque da turma de Xangai prometia causar muitas dificuldades às defesas contrárias, com Elkeson e Wu Lei na frente e Hulk a poder variar nos flancos. Tudo estava a correr de forma planeada até à lesão de Conca que o tirou dos relvados durante oito meses. A ausência do argentino tirou ritmo ao meio-campo do Shanghai e comprometeu a restante temporada. Apesar de derrotar o FC Tokyo nos oitavos de
final a equipa sentiu a falta de criatividade no meio-campo frente ao Jeonbuk Motors, uma das principais equipas da Coreia do Sul, e perdeu a eliminatória num vergonhoso agregado de 5-0. Apesar do balanço geral ainda ser positivo, a pressão por parte da direção aumentava cada vez mais. Com o investimento feito era importante conquistar um título e atingir sucesso na Liga dos Campeões. O Shanghai não conseguiu mais do que um terceiro lugar no campeonato, terminando com cinquenta e dois pontos. O papel desempenhado pelo treinador sueco foi posto em causa, tendo em conta que, mais uma vez, o emblema chinês perdeu o título para os rivais de Guangzhou. O objetivo passaria por montar uma equipa mais consistente, tendo como base o trio de ataque que foi de longe a melhor arma da temporada do Shanghai SIPG em 2016. Wu Lei marcou vinte e dois golos e foi bem acompanhado pelos quinze golos de Elkeson. Com Hulk a dar os primeiros ares da sua graça ao fazer quatro golos em sete jogos, a temporada de 2017 foi vista com otimismo e esperança pelos adeptos do Shanghai.
Capítulo 10: Descobrimentos portugueses EM busca do ouro
Após o objetivo da conquista do título não ser alcançado, a direção não teve outra solução senão despedir o treinador Sven-Göran Eriksson do comando técnico da equipa de Shanghai. Para o lugar de treinador principal, os diretores de futebol do Shanghai SIPG elegeram André Villas-Boas. Ex-treinador de clubes como FC Porto, Chelsea, Tottenham e Zenit, o técnico português já tinha conquistado vários títulos ao longo da sua carreira, incluindo uma Liga Europa ao serviço do FC Porto. Villas-Boas assinou um contrato de dois anos para ganhar doze milhões em apenas uma temporada. À partida para a temporada de 2017, à semelhança das duas últimas temporadas, as expectativas eram altas para os lados de Shanghai. André Villas-Boas tinha perante si a tarefa complicada de destronar os campeões Guangzhou Evergrande, que tinham somado no ano anterior o seu sexto título consecutivo. O mercado começou da melhor forma com uma transferência que correu o mundo do futebol: Oscar foi oficializado no Shanghai SIPG proveniente do Chelsea. Depois de quatro temporadas no emblema azul de Londres, Oscar transferiu-se para o emblema de Shanghai, sob fortes críticas internacionais, por um valor a rondar os 40 milhões de euros. Com um plantel que já contava com nomes sonantes, o treinador português pôde contar ainda com dois novos reforços. Odil Akhmedov e o português Ricardo Carvalho. O primeiro, internacional pelo Uzbequistão, iria acrescentar qualidade ao
#06 Dezembro2018 meio-campo, motivando a mudança de sistema por parte de André Villas-Boas para promover uma dupla no meio, com Ahmedov e Oscar. Ao contrário de Oscar e Ahmedov (sete milhões de euros), o internacional português Ricardo Carvalho chegou a Shanghai a custo zero, vindo acrescentar o talento e a experiência necessários para a defesa do Shanghai. Com estas contratações, o plantel contava com Hulk, Elkeson, Akhmedov, Ricardo Carvalho e Wu Lei, jogadores fundamentais no plantel e que colocavam, automaticamente, a equipa de Villas-Boas na corrida para o título. No entanto, o técnico luso iria confrontar um obstáculo com o qual muitos treinadores não se têm de preocupar: o limite de estrangeiros imposto pela Super Liga Chinesa. Com as atualizações das regras, Villas-Boas só poderia colocar em campo três jogadores estrangeiros e era também obrigatório colocar um jogador sub-23 de nacionalidade chinesa em campo. Com isto, havia uma impossibilidade de fazer alinhar Oscar, Hulk, Elkeson e Akhmedov ao mesmo tempo. Muitas vezes era necessário abdicar de Akhmedov para poder fazer alinhar Elkeson ao lado de Wu Lei e, outras vezes, era o avançado brasileiro a ficar no banco para permitir que a dupla mencionada acima alinhasse de início no meio-campo. Este limite não abalou muito a forma do Shanghai de André Villas-Boas. Desde cedo a rivalidade com o campeão Guangzhou era evidente e os pontos que cada um somava a meio da campanha mostravam uma supremacia clara em relação às outras equipas da Super Liga.
Capítulo 11: Dificuldades em fazer tombar o gigante de Guangzhou
Tal como foi mencionado a certo ponto na reportagem, uma das razões pela qual o Shanghai não se tornou campeão mais cedo foi a lesão de Conca, o médio argentino cujas exibições brindavam os adeptos do clube de Xangai e causavam dores de cabeça aos adversários. Depois de quase dois anos, a equipa finalmente podia contar com outro elemento fulcral no meiocampo. Com experiência de Liga dos Campeões, Oscar parecia ser o homem certo para fazer a diferença e, juntamente com Hulk e companhia, levar a equipa ao tão desejado título. Mas nem tudo é um mar de rosas e Villas-Boas que o diga. A estrela brasileira que até ao momento se afirmava como um dos melhores médios da liga, envolveu-se numa briga que correu o mundo através da internet, com agressões a um adversário no decorrer de uma partida a contar para o campeonato. Oscar foi punido pela federação durante oito jogos, nos quais a equipa sentiu a falta da criatividade do médio. Foram cinco jogos sem vencer enquanto Oscar esteve ausente. Era portanto a segunda
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#06 dezembro2018 vez que a ausência de um médio criativo parecia custar o campeonato à turma de Shanghai. Em termos de confronto direto com os rivais de Guangzhou, os campeões bateram o SIPG por 3-1 em casa, mas foi a equipa com dois portugueses que levou a melhor em sua casa, com uma vitória confortável por 3-0, dando esperança aos adeptos e à direção do clube de Shanghai. Mas, no final das contas, foi a equipa de Ricardo Goulart, Alan e Paulinho, orientados por Scolari, que conquistou o título pela sétima vez consecutiva, ao terminar com seis pontos de distância do Shanghai SIPG. Desgostos na Champions e na Taça Relativamente à Champions asiática, tudo parecia estar a correr como planeado. Passando sem dificuldades pela fase de qualificação frente ao Sukhothai da Tailândia (vitória por 3-0), os vermelhos passaram em segundo lugar na fase de grupos, atrás dos japoneses do Urawa Red Diamonds. Depois de eliminar o Jiangsu Suning, a equipa parecia estar bem encaminhada para a conquista do título com duas vitórias em ambas as mãos (2-1 e 2-3). Por vezes no futebol, existem rivalidades que estão destinadas a prolongar-se para sempre e esta aparentava ser uma delas: o sorteio dos quartos de final da Liga dos Campeões asiática ditou mais um confronto entre o Guangzhou Evergrande e o Shanghai SIPG. A primeira mão não podia ter corrido melhor para a equipa de Villas-Boas com uma vitória de 4-0, em casa, com golos de Wu Lei (2), Hulk e Wang, numa exibição de gala. Contudo, André avisou que o jogo em Guangzhou não seria fácil e o resultado confortável em casa não garantia a passagem para a próxima fase. E o treinador não poderia estar mais certo. O Guangzhou venceu o Shanghai por 4-0, igualando a eliminatória de forma dramática e inesperada, levando o jogo para prolongamento. O incrível Hulk reduziu a desvantagem e colocou a sua equipa novamente numa posição vantajosa. A dois minutos do fim, Goulart fez o 5-1 para delírio de Scolari. Na ausência da regra do golo fora, o jogo foi para grandes penalidades, que terminaram num resultado de 5-4 a favor da equipa de Hulk e Villas-Boas, para a alegria da cidade de Shanghai e dos dirigentes do clube que sonhavam cada vez mais com a tão ambicionada conquista do troféu. Nas meias-finais, a equipa voltava a encontrar-se com os Urawa Red Diamonds. Após um empate em Shanghai, a vitória japonesa, por 1-0, na segunda mão adiava o sonho do Shanghai para, pelo menos, mais um ano. Era visível o desgosto de todos os amantes do clube e, principalmente, dos donos, que viam o objetivo tão querido de vencer a grandiosa competição a não ser alcançado pelo segundo ano consecutivo.
Futebol total Com a Liga e a Liga dos Campeões a ficarem a uma escassa distância, a Taça parecia ser a única competição que poderia salvar de certa forma a temporada de Villas-Boas e do Shanghai SIPG. Depois de conseguir alcançar a final da Taça, um dérbi de Shanghai ditava o fecho da competição: com o SIPG a defrontar o Shanghai Shenhua. Para a surpresa de muitos, um golo solitário de Obafemi Martins virou o resultado de 3-2 conseguido pelo SIPG no Estádio de Shanghai. Com desfechos desapontantes nas três competições, o projeto do Shanghai SIPG teria de ser repensado mais uma vez e, tanto os dirigentes como a equipa, começavam a ser postos em causa devido à falta de conquistas.
Capítulo 12: ‘Trust the process and speak the truth’
A situação na qual o clube se encontrava não era a ideal. Com toda a pressão nos ombros, a conquista de um troféu era quase obrigatória. Os sete campeonatos seguidos do Guangzhou Evergrande diziam o contrário quando se falava da ascensão em poucos anos do Shanghai SIPG ao topo do futebol chinês. O futebol praticado por parte da equipa de André Villas-Boas foi elogiado pelos analistas do futebol chinês e, mais uma vez, os jogadores-chave do plantel eram considerados como candidatos a melhores jogadores da liga numa perspetiva geral: Hulk, Oscar e Wu Lei, contando ainda com as boas prestações de Akhmedov e Elkeson. No final da temporada, André Villas-Boas deixou o clube, apesar da insistência por parte da direção para o português ficar ao comando da equipa. Para o lugar do treinador português ex-FC Porto entrou.... um treinador português ex-FC Porto: Vítor Pereira. Com dois campeonatos e duas supertaças portuguesas, juntamente com uma Liga e uma Taça gregas, o treinador apresentava as conquistas e o currículo que a direção ambicionava. Ao contrário dos ex-treinadores do Shanghai SIPG, Vítor Pereira não contou com reforços para a temporada de 2018 e teve de se adaptar às características dos jogadores que já faziam parte do plantel, bem como às novas regras da Super Liga Chinesa. Alterações na primeira parte Com a regra de colocar um jogador sub-23 no onze inicial a formação no início de cada jogo pode não corresponder à vontade de todos os treinadores na Super Liga Chinesa. Vitor Pereira fazia algo que não se via todos os treinadores a fazer: substituir os jogadores jovens na primeira parte. Apesar de ser uma opção polémica e pouco comum, a verdade é que o início do campeonato do Shanghai SIPG não dava razões para ninguém duvidar das capacidades do treinador português e da equipa. Sete vitórias
nos oito primeiros jogos davam mais razões para os adeptos da equipa de Sanghai voltar a sonhar com algo maior. A vitória por 8-0 no primeiro jogo do campeonato, frente ao Dalian de Gaitan, José Fonte e Carrasco, foi uma espécie de confirmação de uma potencial supremacia deste ‘novo’ Shanghai. Com um bom futebol que levava as pessoas ao estádio, o Shanghai conseguiu, desde cedo, no campeonato, vitórias frente a equipas que lutam pelas posições superiores da tabela classificativa, como os vizinhos Shanghai Shenhua ou o Hebei Fortune de Lavezzi, Mascherano e Gervinho. O problema, porém, estava na defesa. Poucos foram os jogos durante a temporada que o Shanghai SIPG conseguiu chegar ao final dos noventa minutos com zero golos sofridos. Muitas vitórias mas muito mais suor do que seria suposto na maior parte das vezes, algo difícil de trabalhar por parte do técnico Vítor Pereira, em apenas uma temporada. Maio e junho foram meses complicados para a turma de Shanghai. Por diversos motivos, a equipa não pôde contar na maior parte dos jogos com jogadores importantes. Por vezes era Oscar, outras vezes era Elkeson, com problemas musculares. Este período de tempo coincidiu com três jogos a contar para a fase de grupos da Champeions asiática, na qual somaram duas derrotas e uma vitória. Para o campeonato, o Shanghai esteve quatro jogos consecutivos sem sentir o sabor da vitória e perdeu a liderança para o Guangzhou Evergrande, que tentava garantir o seu oitavo título consecutivo. Apesar da vitória frente aos Kashima Antlers no último jogo da fase de grupos da Champions asiática, o facto de depender do resultado do outro jogo do grupo acabou de vez com as esperanças da equipa de conquistar a edição de 2018. O afastamento na fase de grupos do Shanghai SIPG levantou várias dúvidas entre adeptos e dirigentes. Apesar do balde de água fria causado pela eliminação, a equipa orientada por Vitor Pereira encontrava-se com uma agenda mais flexível, com vista a concentrar-se a totalmente na conquista da Super Liga Chinesa pela primeira vez na história do clube. Nos quartos de final da Taça, o Shanghai foi eliminado pelo Beijing Guoan, de Renato Augusto, Jonathan Viera e Jonathan Soriano, após grandes penalidades. A três meses do fim do campeonato, a Super Liga Chinesa era a única competição com a qual as águias vermelhas tinham de se preocupar. Alguns viam isso como uma janela de oportunidade, outros viam como mais uma carga de responsabilidade nos ombros dos jogadores e equipa técnica do Shanghai SIPG. Após treze anos de existência, o campeonato nunca esteve tão perto mas, até alcançá-lo, era necessário fazer uma campanha a roçar a perfeição, tendo em conta a fraca prestação da equipa a meio do campeonato e os consequentes pontos perdidos para o rival Guangzhou.
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Futebol total Capítulo 13: o final perfeito
Após uma derrota com o Dalian, equipa que o Shanghai tinha derrotado por 8-0 na primeira volta do campeonato, Vitor Pereira reagrupou os jogadores e chamou à atenção para o facto do próximo deslize poder comprometer de vez aquilo pelo qual a equipa trabalhou, não só no ano de 2018, como também durante as últimas temporadas. Com um pouco de sorte à mistura, o onze inicial voltou a ser semelhante ao que se verificava no início da temporada, com Elkeson, Oscar, Akhmedov e Wang Shenchao a recuperarem das lesões definitivamente. Depois de uma exibição convincente numa vitória por 2-0 frente ao Shanghai Shenhua, o triunfo no dérbi deu confiança à turma de Vitor Pereira. Com grandes exibições de Hulk e Oscar, juntamente com a pontaria afinada de Wu Lei, as vitórias foram surgindo jogo após jogo. A confiança foi aumentando, fator que ajudou a equipa a vencer jogos quando tudo indicava que seriam pontos perdidos, tal como a deslocação ao terreno do Chongqing Lifan, onde venceu por 3-2, com um golo de Wu Lei nos últimos minutos de jogo. Após quatro vitórias seguidas, a equipa perdeu pontos em Hebei, num empate a uma bola com mais um golo de Wu Lei. Após esse deslize, o bom momento do SIPG não parou e a vitória por 2-1 frente ao Guangzhou Evergrande trouxe otimismo para Vitor Pereira e companhia. Wu Lei e Elkeson aproveitaram as assistências de Oscar para colocar a equipa a apenas dois pontos do líder Guangzhou. Com o título cada vez mais perto, era importante continuar a boa forma e, depois de oito jogos seguidos sem perder, o verdadeiro teste chegou no dia 29 de setembro de 2018, na deslocação a Beijing, para defrontar o terceiro classificado. Num jogo muito disputado e com um forte apoio dos adeptos da casa, a equipa de Vitor Pereira venceu com um golo de Hulk aos sessenta e seis minutos de jogo, dando uma vantagem de um ponto relativamente ao concorrente direto, que tinha perdido na mesma jornada. Continuando a dominar o campeonato, com apenas dois pontos perdidos desde a vitória frente ao terceiro classificado, num empate a zero frente ao Jiangsu Suning, o Shanghai deparava-se com o derradeiro teste na visita à casa do detentor em título, Guangzhou Evergrande, equipa de Paulinho e Talisca treinada por Fabio Cannavaro. Loucura em Guangzhou Num jogo impróprio para cardíacos que, praticamente, iria decidir o campeão da Super Liga Chinesa, de uma forma quase poética, o Shanghai SIPG derrotou o Guangzhou Evergrande por 5-4 e ficou a um passo de quebrar o domínio que durou sete anos. Com muita intensidade, vários erros de parte a parte e com a qualidade individual a
#06 dezembro2018 emergir em determinados momentos, Wenjun Lu adiantou os visitantes no marcador aos 14 minutos de jogo. Paulinho empatou a partida ainda na primeira parte mas, dez minutos depois, Cai voltou a colocar a equipa de Vitor Pereira em vantagem no marcador, para o delírio dos adeptos visitantes. Ainda antes do apito para o intervalo, Alan empatou a partida a duas bolas e, quando já toda a gente pensava em recolher para os balneários, Paulinho bisou na partida e colocou os campeões na frente, para desespero das águias vermelhas. Num jogo que, ao intervalo, já era considerado um clássico na luta pelo título, Wu Lei empatou cinco minutos depois do recomeço, empatando a partida a três bolas. Zhang introduziu a bola na própria baliza depois de um excelente trabalho de Hulk. Aos minuto 89, depois de uma falta na grande área, o “incrível” converteu a grande penalidade que confirmou o triunfo da equipa de Sanghai. Depois de treze anos de espera, o caminho percorrido estava prestes a ser recompensado. Tudo dependeria dos próximos jogos. Alan ainda reduziu aos 93 minutos para 5-4, mas nada mudou até ao apito final. Com dois jogos para o fim e quatro pontos de vantagem sobre o Guangzhou Evergrande, vencer o Beijing Renhe significaria a conquista do título, pela primeira vez na história do clube. Com golos de Akhmedov e Wu Lei, o Shanghai venceu por 2-1 e sagrou-se campeão nacional, terminando a série de sete anos seguidos de triunfos do Guangzhou. Consistência como chave principal Uma das características que fez de símbolo para a campanha do Shanghai SIPG na temporada de 2018 foi a consistência que a equipa apresentou na reta final do campeonato, contando com o contributo de todos. O projeto planeado por Xu Genbao no começo, certamente não passou por vencer a Super Liga Chinesa ou competir na Liga dos Campeões asiática. O projeto consistia em evoluir o futebol chinês, apostando nos jovens e dando-lhes uma oportunidade de competir num nível elevado a nível futebolístico. Com o passar dos anos, o projeto foi sofrendo alterações. As exigências foram aumentando, acompanhando os investimentos que os diretores iam fazendo para garantir o sucesso do clube. Mas algo que viveu sempre com o clube ao longo do seu desenvolvimento foi a aposta de Xu Genbao na geração de 2005/2006. Além da defesa titular da temporada de 2018, os suplentes e a estrela Wu Lei faziam parte da equipa de 2005, e a conquista do título torna a história do Shanghai SIPG como um conto de “cinderela” que muita gente não reconhece, por culpa da injeção de dinheiro que houve no clube ao longo dos anos. Envolvidos nesse projeto de treze anos (20052018): Yan Junling (GR), Shenchao Wang (DE), Huan Fu (DD), Wu Lei (EE) e Wenjun Lu (EE).
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#06 Dezembro2018
al hilal
Passeando nas Arábias ao estilo de Jesus Depois de vinte e nove anos como treinador de equipas portuguesas, a temporada de 2018/2019 irá para sempre ser reconhecida como a primeira experiência de Jorge Jesus fora de território nacional. E este, por sua vez, procura causar impacto de forma imediata.
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Jonathan Pertzborn
o verão deste ano, Jorge Fernando Pinheiro de Jesus surpreendeu os adeptos do futebol português ao rumar ao Al Hilal, depois de três anos ao comando técnico do Sporting CP, onde venceu uma Supertaça e uma Taça da Liga. Após o sucesso conquistado como treinador em Portugal, com três Ligas NOS, uma Taça de Portugal, seis Taças da Liga, duas Supertaças e uma Segunda Liga, o técnico natural da Amadora procura provar que também consegue ter sucesso em território estrangeiro, ao serviço do Al Hilal.
N
Objetivo Champions
Fundado em 1957, o Al Hilal é o atual bicampeão da Premier League, o principal escalão
na Arábia Saudita. Com quinze títulos de campeão alcançados na sua história, o Al Hilal já é uma das maiores potências do futebol árabe. No entanto, é a conquista de troféus internacionais que é ambicionada pelos donos do clube. Apesar do domínio em competições nacionais, o Al Hilal venceu a sua última competição em 2000, ao conquistar a Liga dos Campeões Asiática. Relativamente à Taça dos Campeões Árabe, levantou o troféu pela última vez em 1995, estando agora nos ombros do treinador português a responsabilidade de voltar a dar essa alegria aos adeptos do clube. As temporadas de 2013/2014 e de 2014/2015 deram esperança, tendo sido estas as duas temporadas nas quais o Al Hilal mais perto esteve
#06 dezembro2018 Se resulta.. não mexe!
A equipa técnica que acompanhou Jorge Jesus para a Arábia Saudita apresenta poucas mudanças relativamente às últimas temporadas do treinador português, facto que contribuiu certamente para uma adaptação mais fácil ao território saudita. Os adjuntos Raul José e Miguel Quaresma, juntamente com o preparador físico Mário Monteiro, já se encontram na equipa técnica de Jesus há um número alargado de anos, com Raul José a ser o elemento mais “antigo”, sendo que acompanhou o treinador português desde a temporada de 2004/2005, ao serviço do Moreirense. Desde então, ambos passaram pelo União de Leiria, SC Braga, SL Benfica, Sporting CP e agora o Al Hilal. O preparador físico Márcio Sampaio e o observador Gil Henriques auxiliaram o treinador nos tempos do Sporting CP, quanto que o coordenador técnico João Gonçalves conta com passagens nos últimos anos por equipas no Campeonato de Portugal, tornando o treinador de guarda-redes Daniel Zdranca no único elemento da equipa técnica que permaneceu na equipa relativamente ao ano anterior, simbolizando uma grande mudança para os jogadores que, no entanto, já estavam habituados a receber instruções com ajuda de tradutores, com a passagem do técnico argentino Ramón Diaz.
Quatro Reforços, quatro posições e quatro nacionalidades
de conquistar a Liga dos Campeões Asiática. Em 2014/2015 a equipa foi eliminada nas meias-finais da competição, mas foi na temporada anterior que o desgosto foi maior, com a derrota na final frente ao Western Sydney Wanderers FC. O treinador anterior, Ramón Diaz, cumpriu os objetivos internos na temporada de 2017/2018 ao conquistar a Premier League e a King Cup, mas o afastamento da equipa nos oitavos de final da Taça e a campanha desapontante na Liga dos Campeões Asiática (afastamento na fase de grupos) levou os responsáveis do clube a procurar um substituto que, com troféus no currículo, pudesse ajudar o Al Hilal a dar o próximo passo rumo à conquista do sucesso internacional. Jorge Jesus foi o homem de eleição por parte do presidente Nawaf Bin Saad.
No início da sua primeira temporada no Al Hilal, Jorge Jesus pôde contar com quatro reforços para o seu plantel, cada um para uma posição distinta, adicionando profundidade e um sabor internacional, sendo que os quatro têm nacionalidades e experiências diferentes. Alberto Botía, defesa central de 188 cm, veio reforçar o setor defensivo. Botía conta com passagens pelas camadas jovens e equipa principal do Barcelona, Sporting de Gijón, Sevilha, Elche e Olympiacos, onde esteve quatro temporadas como titular no centro da defesa. Com 29 anos, veio acrescentar a experiência necessária à defesa da equipa, com um papel que será analisado no decorrer do texto. Para o meio-campo chegou a sensação do Youtube, Omar Abdulrahman. Para quem ainda não viu o que este médio criativo natural dos Emirados Árabes Unidos consegue fazer com a bola nos pés, já tem algo para fazer depois de terminar de ler a revista. Peça fundamental nos bons resultados do clube do seu país natal, o Al Ain, o jogador de 27 anos chega por via de empréstimo, para ocupar um lugar no meio-campo no 4-2-3-1 de Jorge Jesus. Na frente de ataque, os adeptos do Al Hilal já se habituaram à forte presença do francês Bafétimbi Gomis.
Futebol total Depois de destacar-se a nível internacional pelo Lyon, onde marcou perto de uma centena de golos em todas as competições, Gomis passou ainda pelo Swansea, Marselha e Galatasaray, antes de rumar para Riyadh. Mas a maior surpresa foi André Carrillo. Depois de um bom mundial ao serviço do Peru, Carrillo continuou a não constar nas contas de Rui Vitória para a temporada de 2018/2019 no SL Benfica, sendo, por sua vez, emprestado ao clube saudita depois de passagens pelo Sporting CP, SL Benfica e Watford, por empréstimo dos encarnados.
Primeiros testes com nota 20
A temporada não poderia ter começado melhor para o Al Hilal. Depois de uma vitória por 1-0 frente ao Al-Shabab Seeb, da Omã, a contar para a Taça dos Campeões Árabe, a equipa deparavase com um teste de fogo frente ao grande rival Al Ittihad, de Ramón Diaz, para a Supertaça saudita. Com Carrillo como uma adesão bastante recente ao plantel, o Al Hilal venceu por 2-1, com golos de Carlos Eduardo e Rivas, carimbando assim o primeiro título de Jorge Jesus na Arábia Saudita, após apenas dois jogos. Seguiram-se dez jogos a contar para a Liga e dois para a Taça dos Campeões Árabe, dos quais o Al Hilal não saiu vitorioso em apenas um, no empate na casa do Al-Faisaly, por 1-1. Sem derrotas, as expectativas altas que a direção tinha de Jorge Jesus estão a ser superadas e, com uma vitória por 6-0 no total das duas mãos da segunda eliminatória da Taça dos Campeões, frente ao Al-Naft do Iraque (4-0 e 0-2), o sonho está cada vez mais perto.
Jogadores-chave
O sucesso do Al-Hilal na primeira metade do campeonato é difícil de negar. Nove vitórias e um empate em dez jogos na liga é uma estatística difícil de igualar. Porém, quais é que são as peças principais para o sucesso do atual líder do campeonato? Al-Habsi O guarda-redes natural da Omã é um dos totalistas, até ao momento, da equipa. Com experiência de Premier League Inglesa e Liga Europa ao serviço do Wigan, Al-Habsi acrescenta experiência no setor defensivo. Com 36 anos, é, de longe, o jogador mais experiente do plantel, oferecendo uma grande segurança aos seus companheiros na defesa. Tem apenas oito golos sofridos em catorze jogos oficiais, números que, caso se mantenham constantes até ao final da temporada, podem vir a traduzir-se num grande sucesso para o clube. Alberto Botía e Ali Al Bulayhi O defesa proveniente do Olympiacos veio acrescentar qualidade ao setor defensivo da equipa. Com 29 anos, faz dupla no centro da defesa com o central da Arábia Saudita, de 29 anos, Ali Al Bulayhi. O central que jogou no Campeonato do Mundo deste ano, acrescenta velocidade e versatilidade, complementando na perfeição com a noção de posicionamento e tática que Botía possui. A dupla é indispensável para o sucesso da equipa, facto que se reflete nos minutos jogados, com Bulayhi a ser mais um dos totalistas até ao momento e Botía a contar com apenas menos um jogo, devido a castigo.
#06 dezembro2018 Salman Mohammed Al Faraj e Mohamed Kanno No clube desde 2008, Al Faraj é o capitão da equipa e o elemento importante na dupla mais recuada do meio-campo, onde joga ao lado Kanno. Tal como Botía e Bulayhi, ambos se complementam na perfeição. Faraj distribui o jogo e ajuda na transição ofensiva da defesa para o ataque através de uma boa qualidade de passe, enquanto que Kanno funciona como um “sweeper”, desempenhando um papel mais defensivo no centro do meio-campo, à semelhança de N´Golo Kanté nos tempos do Leicester, por exemplo. Juntos formam uma dupla consistente no meio do terreno. Salem Al Dawsari Titular indiscutível no Al Hilal e na seleção da Arábia Saudita, Al Dawsari esteve emprestado ao Villarreal no início do ano 2018, mostrando a sua qualidade e potencial. Apesar de não ter dado certo, o extremo continua a ser considerado como um dos melhores jogadores sauditas atualmente. Dawsari já conta com três golos e três assistências e forma um dos trios de ataque mais temidos na Liga, juntamente com Gomis e Carrillo. Carlos Eduardo Um dos motores mais importantes do estilo de jogo de Jorge Jesus. O ex-jogador do FC Porto, que se destacou no Estoril como médio ofensivo, é um elemento crucial nas transições ofensivas da equipa, vindo muitas vezes atrás buscar jogo quando há impossibilidade de jogar nas alas com Dawsari e Carrillo. Com cinco golos até à data, Eduardo atua atrás no ponta-de-lança Gomis, assistindo várias vezes o francês para ficar cara a cara com os guarda-redes. Tendo em conta as opções de luxo que tem à frente no terreno, o jogador brasileiro é, muitas vezes, imprevisível e daí indispensável na equipa comandada por Jorge Jesus. André Carrillo O peruano é, sem dúvida, dos jogadores que tem criado mais oportunidades na equipa de Riyadh. Tal como já foi mencionado anteriormente, Carrillo provou a sua qualidade com exibições de alto nível ao serviço da seleção peruana no Campeonato do Mundo de 2018. Para a surpresa de muitos e a alegria de Jesus, foi emprestado ao Al Hilal, onde tem correspondido às expectativas, ao criar oportunidades de golo, assistindo por várias vezes Gomis, Carlos Eduardo e outros para oportunidades flagrantes de golo e arrancadas pelo flanco direito do ataque. Bafétimbi Gomis A presença no ataque do Al Hilal por parte de Gomis causa medo nos defesas adversários. Sendo um jogador forte e sem medo de meter o corpo, Gomis ganha, por muitas vezes, vantagem
em termos de força, perante alguns dos centrais que enfrenta na Premier League saudita. Estando muito bem acompanhado por Dawsari, Carrillo e Carlos Eduardo na frente de ataque, o ex-Galatasaray já leva sete golos em dez jogos e não aparenta que vá deixar de marcar tão cedo, tendo já habituado os adeptos do Al Hilal ao seu tradicional festejo a rastejar em frente à câmara.
Exigência ao mais alto nível
O facto de estar longe parece não ter muito significado para o ex-técnico leonino, pois quando se olha para o estilo de jogo do Al-Hilal, vê-se logo o estilo que Jorge Jesus tem adaptado nos clubes pelos quais tem passado, com um futebol eficaz e ofensivo. As alas são sempre muito procuradas, explorando arrancadas rápidas de Dawsari e Carrillo. Com a presença de Gomis na área, muitas vezes controlada por ambos os defesas centrais, cabe a Carlos Eduardo aparecer muitas vezes solto em zona de finalização. Quando existem ajudas defensivas, já aconteceu por várias vezes durante a temporada, há uma mudança de lado de jogo já no último terço do meio-campo adversário, onde tende a aparecer o extremo de um dos lados em posição de finalização ou cruzamento. Um dos lados negativos da avalanche ofensiva que o Al Hilal proporciona às defesas contrárias é o potencial contra-ataque à qual a equipa se sujeita e que, muitas vezes, colocou a equipa em maus lençóis. É possível identificar melhorias nesse aspeto desde o primeiro jogo da temporada até atualmente e, em todos os jogos, nota-se um grande nível de intervenção por parte de Jorge Jesus, que já tinha habituado os adeptos do futebol português ao seu rigor e exigência, algo que não deixou de lado nesta sua nova aventura na Arábia Saudita.
Futebol total Próximos testes importantes
A primeira metade da temporada, tal como é possível concluir, correu bem a Jorge Jesus e companhia. No entanto, a equipa ainda não enfrentou os maiores testes, com ambos os jogos contra a equipa concorrente para o título, Al Nassr, ainda por disputar. As partidas irão ser realizadas nos dias 8 de dezembro, em casa do Al Hilal, e no dia 30 de março, a contar para a segunda volta do campeonato. No dia 27 de dezembro, haverá ainda a receção ao melhor marcador da liga, Léandre Tawamba, avançado do Al Taawon. Relativamente às competições internacionais, existe a possibilidade de confrontos de grande nível nos quartos de final, sorteio que, até à data, ainda não foi realizado. No entanto, entre os possíveis adversários, destacam-se equipas como o MC Alger, Zamalek e Raja Casablanca para dificultar a tarefa e o sonho do Al Hilal. Com muitos jogos ainda pela frente, Jorge Jesus tem a tarefa complicada de melhorar o desempenho do clube nos últimos anos e, finalmente, conquistar a tão desejada Taça dos Campeões Árabe.
#06 Dezembro2018
Futebol total
#06 dezembro2018
fim de contrato
as desejadas prendas de natal... para julho Como em todas as temporadas, existem jogadores em final de contrato e, já em janeiro, poderão começar a negociar um saída para outro clube a custo zero. Aqui apresentamos alguns dos principais nomes que veem o contrato a terminar. Porém, tal não significa que não renovem com o atual clube até ao final do mês de junho do próximo ano.
Futebol total
#06 Dezembro2018
André Nogueira
omo todas as temporadas, contratos são assinados com prazos e alguns desses terminam este ano. Nesta primeira lista apresentamos alguns dos principais nomes a acompanhar para sabermos se a novela termina com a saída a custo zero ou com uma nova renovação.
C
Iker Casillas (FC Porto)
Como começar a lista com outro nome que não com um dos guarda-redes mais titulados do Mundo. No currículo conta com cinco Ligas Espanholas, duas Copa Del Rey, quatro Supertaças de Espanha, uma Liga NOS, uma Supertaça Portuguesa, três Ligas dos Campeões, duas Supertaças Europeias, um Campeonato do Mundo de Clubes, uma Taça Intercontinental, um Campeonato do Mundo, dois Campeonatos da Europa e um Campeonato do Mundo de sub-20. São vinte e quatro troféus coletivos, sem adicionar os nove individuais. Dispensa apresentações e o FC Porto deverá estar interessado na sua renovação, uma vez que continua a ser o titular indiscutível da baliza portista.
Maxi Pereira (FC Porto)
Depois da polémica saída de Maxi Pereira do SL Benfica para um dos grandes rivais na temporada de 2015/2016, o lateral direito uruguaio e um dos mais internacionais pelo seu país, poderá deixar o nosso país. Após quatro Liga NOS, uma Taça de Portugal, seis Taças da Liga e duas Supertaças, o experiente lateral poderá despedir-se do campeonato onde jogou nas últimas onze temporadas.
Ricardo Ferreira (SC Braga)
Foi à cerca de um ano que Ricardo Ferreira fez a sua estreia, e até ao momento o único jogo, pela Seleção Nacional, num empate frente aos EUA (1-1). O defesa central que iniciou a sua carreira entre FC Porto e AC Milan, teve dificuldade em encontrar estabilidade no topo, conseguindo, na temporada de 2015/2016, uma mudança para Braga, onde se afirmou como um defesa de qualidade. Apesar disso, tem sido afetado pelas lesões que o fazem estar ausente em mais jogos dos os que joga. O seu contrato termina este ano e o SC Braga ainda não oficializou uma renovação.
nélson monte (rio ave)
A carreira de Nélson Monte esteve a minutos de mudar radicalmente. Num minuto estava no FC Porto, no minuto continuava no Rio Ave e, até hoje, de lá não saiu. O mercado de janeiro de 2016 abria e a notícia circulava ‘Nélson Monte no FC Porto’. O internacional português de sub-20, com uma presença num Campeonato do Mundo do mesmo escalão, viu a
transferência a ser bloqueada por desentendimentos nas negociações. Segundo consta, o Rio Ave queria o jovem avançado (e ainda desconhecido) André Silva e o FC Porto não autorizava a sua saída. Assim sendo, as negociações foram terminadas e o Rio Ave optou pela contratação de Hélder Postiga, deixando o país a pensar como teria sido se a troca se tivesse confirmado... Três temporadas depois, Nélson Monte só conseguiu acumular muitos minutos no ano passado, embora continua a ser uma esperança do emblema vila-condense. Por esse motivo, deverão procurar renovar o seu contrato.
fábio coentrão (rio ave)
E, mais uma vez, aparece o Rio Ave em cena. A história de Fábio Coentrão é mais conhecida, uma vez que só ocorreu no final do último mercado de transferências. Depois de um empréstimo bem sucedido ao Sporting CP, o lateral esquerdo internacional português procurava rescindir com o Real Madrid e transferir-se em definitivo para o clube do seu coração. Tal não era desejo do então treinador José Peseiro, que via em Jefferson qualidades suficientes para o que pretendia no corredor esquerdo dos leões. Triste e desesperado, Coentrão seguiu o seu coração para o local onde nasceu e já havia sido feliz, o Rio Ave, numa que foi das maiores surpresas do último mercado de transferências. As qualidades já eram conhecidas e, embora jogando numa posição mais avançado, como quando jogava na Segunda Liga com o Rio Ave, tem-se revelado uma aposta de sucesso. acumulando várias boas exibições. Porém, o contrato assinado tem de duração apenas uma temporada e, segundo as últimas notícias, o Sporting CP volta a estar de olho no atleta, uma vez que os leões continuam a apresentar bastantes fragilidades nas laterais defensivas.
andreas samaris (sl benfica)
A polémica está instalada. Samaris, internacional grego contratado pelo SL Benfica na temporada de 2014/2015, não deverá renovar com as águias mas já afirmou não querer sair do país, mostrando-se disponível para alinhar pelos rivais FC Porto e Sporting CP. Pouco utilizado esta temporada, e presença regular nos quatro anos anteriores, o médio defensivo não vê esforços por parte dos encarnados para a sua renovação e a saída a custo zero deve ser iminente. Após três Liga NOS, uma Taça de Portugal, duas Taças da Liga e uma Supertaça, os minutos somados pelo grego têm sido escassos, mas continua a ser convocado para a sua seleção, onde alinhou numa partida da Liga das Nações.
Futebol total héctor herrera (FC Porto)
Capitão dos azuis e brancos e titular indiscutível na seleção mexicana, Herrera traz segurança e estabilidade à equipa mas instabilidade no mercado. O médio aceita renovar mas deseja um elevado aumento salário, algo não ao alcance da intenção do clube. Por esse motivo, as negociações não vão avançando e, com muitos clubes interessados, o médio pode ameaçar uma saída a custo zero já a partir do próximo mês.
osama rashid (santa clara)
O internacional iraquiano chegou a Portugal na temporada de 2015/2016 para representar o Farense. Destacando-se no centro do terreno, transferiu-se para os Açores após uma breve passagem pela Bulgária. Nesse regresso, após dois anos, fez parte do plantel que garantiu o regresso do Santa Clara à Liga NOS. Já esta temporada, o médio centro continua a colecionar as boas exibições, assistências e a sua veia goleadora. Com o contrato a chegar ao fim neste temporada, vários são os clubes atentos e interessados a avançar para uma possível contratação. Para o espetáculo da nossa Liga NOS, esperamos que o iraquiano não abandone o país dos campeões europeus.
eduardo salvio (sl benfica)
Toto Salvio é, provavelmente, dos melhores jogadores da Liga NOS mas, muito afetado por lesões, raramente consegue transportar essa qualidade para dentro das quatro linhas. Ainda assim, a polivalência do internacional argentino, que no Campeonato do Mundo até atuou a lateral direito, é mais um ponto útil para o interesse encarnado na sua renovação. Com oito temporadas, não consecutivas, na Liga NOS ao serviço do SL Benfica, é um dos nomes em cima da mesa para uma futura renovação. Até este momento, o extremo continua a um mês de poder negociar com outro clube.
yacine brahimi (FC Porto)
Polémico e talentoso. Brahimi conta com quase meia centena de internacionalizações pela seleção da Argélia e a sua qualidade não poderá ser negada. Basta entender que a cláusula de rescisão do extremo está fixada nos sessenta milhões de euros. Tal como Herrera, é um atleta com bastante mercado e que o FC Porto está interessado na renovação, embora sem existir ainda qualquer consenso em relação aos valores envolvidos. Os clubes interessados no argelino passam por toda a Europa, onde Portugal está incluído, com o SL Benfica a tentar resgatar um extremo do clube rival, tal como o sucedido com André Carrillo e a sua saída do Sporting CP a custo zero. Para já, o contrato termina já em junho de 2019.
jonas (sl benfica)
Muitos estarão a pensar, “mas o Jonas não renovou este ano?”. Apesar das várias informações que iam chegando nesse sentido, o goleador brasileiro continua com o mesmo contrato assinado em 2017, que termina no final desta temporada. Por esse motivo, são vários os clubes atentos às movimentações nesse sentido, com destaque para os clubes brasileiros, que ainda esperam o regresso do avançado ao seu campeonato, de onde saiu em 2011, quando alinhava no Grémio. Vencedor do prémio de melhor marcador e de melhor jogador da Liga NOS por duas ocasiões, a novela em torno da sua renovação tem sido longa mas a intenção do clube deverá ser de manter o avançado por, pelo menos, mais uma temporada.
Marafona (sc braga)
Entramos nos “suplentes” com um internacional português. O guarda-redes do SC Braga perdeu o seu lugar no onze titular devido a uma lesão grave. Atualmente, é alternativa a Matheus e Tiago Sá, fazendo com que a saída a custo zero possa ser uma realidade num futuro próximo.
Caio Secco (cd feirense)
Com a saída de Vaná para o FC Porto, o antigo guarda-redes brasileiro recomendou ao CD Feirense a contratação de um ex-colega quando ainda jogava no seu país. O nome apresentado foi Caio Secco e o guardião das redes do CD Feirense tem sido um titular indiscutível. Por esse motivo, a direção deverá estar atenta a movimentações no sentido de renovar o seu contrato.
Jhonatan (moreirense)
Tem-se assumido como um dos elementos indispensáveis da formação de Ivo Vieira e tem colecionado boas exibições ao longo desta temporada. Confiante nas sáidas fase a uma defesa avançada, é um jogador que o Moreirense não deverá querer perder de vista. Até agora, o seu contrato termina em junho e continua a poder negociar com outros clubes a partir do próximo mês.
Antonio Briseño (cd feirense)
A chegada de Briseño ao CD Feirense no ano passado foi uma das boas surpresas do mercado de transferências da temporada de 2017/2018. Campeão Mundial na categoria de sub-17, ao serviço do México, Briseño é um dos melhores defesas a atuar em Portugal, fora as equipas que lutam pelo título. Como tal, o CD Feirense está claramente interessado em manter o atleta, mas outros clubes estarão de olho no defesa central. Além da conquista do Campeonato do Mundo de sub-17, foi também presença habitual em todos os torneios dos escalões de formação.
#06 Dezembro2018 Vincent Sasso (belenenses sad)
Passamos agora para um francês que já vive como um português. Chegou ao nosso país na temporada de 2012/2013 e precisou apenas de meio ano para se tranferir do Beira-Mar para o SC Braga. Aí foi utilizado em algumas partidas, sem nunca se destacar, mudando-se para o Sheffield Wednesday. Apesar de algumas boas exibições em Inglaterra, a mudança para o Belenenses SAD foi outra boa surpresa da temporada passada.
João Afonso (vitória sc)
Natural de Castelo Branco, foi lá que passou grande parte da sua carreira, até alcançar uma mudança de sonho para o Vitória SC na temporada 2015/2016. Apesar de uma primeira temporada bastante positiva, o defesa central nunca mais foi uma opção indiscutível, passando por dois empréstimo até ser chamado de volta no ano passado. Esta temporada, voltou a ser opção para Luís Castro mas o seu futuro continua por se resolver.
Mohamed Abarhoun (moreirense)
Chegou a Portugal na temporada passada, já com o currículo de internacional por Marrocos. Facilmente, garantiu o seu lugar no onze inicial e raramente o abandonou. Apesar da mudança de treinador, continua a ser uma escolha habitual e a renovação do contrato deverá ser a intenção da direção.
Edson Farias (cd feirense)
Também conhecido por Paraíba, Edson Farias é um extremo com qualidade reconhecida, apesar de nunca ter alcançado clubes de reputação maior. Aos 26 anos, o seu futuro até poderá não passar pela Liga NOS mas não seria surpreendente um regresso no futuro.
Danny (cs marítimo)
Uma das grandes surpresas do mercado de transferências deste ano, Danny aumentou a qualidade do plantel marítimista e, com a braçadeira de capitão, tem sido um elemento desequilibrador na ofensiva do CS Marítimo. Tal como Fábio Coentrão, assinou apenas contrato de uma temporada, não sendo surpresa caso volte a sair do nosso país.
Fredy (belenenses sad)
Vários outros jogadores como Ukra, Edgar Costa ou Wellington Carvalho poderiam estar aqui nesta lista, mas optamos pelo internacional angolano. A sua ligação ao Belenenses SAD é já de longa data e, apesar de algumas passagens pelo Recreativo do Libolo e uma pelo emblema holandês do Excelsior, seria uma sensação estranho ver Fredy mudar-se de Belém. Por isso, acreditamos numa renovação.
Hernâni (fc porto)
Diogo Viana (belenenses sad)
Hernâni brilhou no Vitória SC e, apesar da grande lista de clubes interessados, o FC Porto bateu a concorrência e garantiu a sua contratação. Tal como Marega, não se conseguiu afirmar num primeio momento, sendo emprestado nos dois anos seguintes. Com o regresso na temporada passada, festejou o título de campeão mas as suas exibições continuam a não convencer o treinador e os adeptos. Para já. o seu contrato termina em junho mas o extremo já realizou quase metade do número de jogos na temporada passada.
Tozé (vitória sc)
Um dos importantes titulares do Atlético de Madrid mudava-se para o FC Porto por onze milhões de euros, para choque de vários adeptos. A verdade é que acabou por se tornar num dos piores negócios da história do clube, com o avançado espanhol a não conseguir demonstrar a qualidade de outrém. O seu contrato também termina este ano e é um possível dispensado do clube.
David Bruno (cd tondela)
Esta lista estava a precisar de defesas laterais e aqui está ele. Formado no FC Porto, David Bruno já não é uma promessa e a experiência acumulada ao serviço do CD Tondela faz-nos pensar que a renovação é um cenário altamente provável. É, provavelmente, um dos jogadores mais completos do conjunto dos Azuis do Restelo (ou Jamor). Com formação de FC Porto e Sporting CP, Diogo Viana nunca conseguiu provar todo o estatuto de promessa que trazia, abraçando-se a uma realidade de luta pela permanência. Uma vez que é um dos homens mais utilizados por Silas, é possível que exista renovação. Depois de uma temporada ao serviço do Moreirense que excedeu todas as expetativas, regressou ao clube que o recrutou do FC Porto e tem sido uma opção cada vez mais frequente para Luís Castro. Caso o clube não avance rapidamente para uma renovação do contrato, é possível que vários emblemas comecem a entrar em contacto com o médio ofensivo e internacional português em camadas jovens, já a partir do próximo mês de janeiro.
Adrián López (fc porto)
Fredy Montero (sporting cp)
Quando o Sporting CP precisava de um avançado para acompanhar ou ser alternativa a Bas Dost, o regresso de Montero foi anunciado e aplaudido pelos adeptos leoninos.Ainda assim, o colombiano nunca conseguiu igualar uma temporada como a primeira e a ausência de golos é preocupante. Apesar disso, o cenário mais provável deverá ser o da renovação do contrato.
Futebol total
#06 Dezembro2018
André Nogueira
epois de analisados atletas que poderão deixar a Liga NOS e ser notícia em Portugal, passamos para os nomes que poderão fazer manchetes em torno do globo, dada a dimensão do clube que representam e do valor/qualidade que possuem. Para efeitos desta lista, iremos considerar todos os atletas a terminar o contrato em junho de 2019, independentemente do país onde atuavam e do clube que representam, desde que seja fora do nosso país.
D
David de gea (manchester united)
É difícil duvidar da qualidade desta lista quando começamos com um nome que é considerado por muitos como o melhor guarda-redes a atuar em Inglaterra que, por si só, também é considerado o melhor campeonato do Mundo. Depois de substituir Iker Casillas nas redes da seleção espanhola, De Gea passou a ser um titular indiscutível tanto no clube como na La Roja. Depois do conhecido e velho interesse do Real Madrid, o Manchester United não quererá perder uma das suas estrelas, muito menos a custo zero. A verdade é que, até ao momento, uma renovação ainda não foi acertada.
David Luiz (chelsea)
Um nome conhecido do nosso campeonato é David Luiz. Depois de brilhar ao serviço do SL Benfica, mudou-se para o Chelsea onde, rapidamente, ganhou o carinho dos adeptos. Apesar de ter sido realizada uma transferência para o Paris Saint-Germain, onde foi o causador da eliminação dos Blues aos pés do emblema francês, decidiu regressar ao clube onde o seu coração estava. Um jogador que está na história do clube e que deverá ter bastante interesse em renovar, o destino está nas mãos do emblema londrino.
jan vertonghen (tottenham hotspur)
É o primeiro elemento belga do Tottenham a figurar esta lista e o único no nosso “onze titular”. Desde a sua chegada a Londres, tem sido o patrão da defesa e a sua importância na equipa é indiscutível, tanto no clube como na seleção belga. Apesar da equipa londrina costumar renovar contratos ao fim de todas as temporadas, o facto de não terem negociado com Vertonghen poderá ser um indicador para uma eventual saída.
Diego godín (atlético madrid)
Nomeado como um dos melhores jogadores do Mundo, a sua ausência desta lista não era permitida. Um defesa central com longo historial na Liga Espanhola e na seleção uruguaia, não deverá sair no final desta temporada... provavelmente.
antonio valencia (manchester united) Provavelmente o nome mais polémico desta lista mas com razões para estar aqui presente. O internacional equatoriano chegou a Manchester na temporada de 2009/2010 e, apesar de umas primeiras temporadas bastante positivas, a sua forma tem vindo a cair à medida que foi descendo posicionalmente, apesar de continuar a ser uma aposta habitual. Devido aos seus 33 anos, não seria surpreendente se o Manchester United optasse por ficar apenas com alternativas mais novas, como é o caso de Diogo Dalot.
filipe luís (atlético madrid)
Não devemos voltar ao local onde já fomos felizes ou não sair da nossa zona de conforto? Quando, na temporada de 2014/2015, o internacional brasileiro trocou o Atlético de Madrid pelo Chelsea, a decisão seria, rapidamente, concluída como um erro, fazendo o lateral regressar à capital espanhola logo no ano seguinte. Aí voltou a conquistar o seu lugar no onze titular mas também foi afetado por novas lesões, o que o impediram de regressar à forma que apresentava anteriormente. Para já, continua lesionado e com o contrato a expirar e o futuro de Filipe Luís não é fácil de se prever.
adrien rabiot (psg)
Qual foi o maior erro que cometeu na sua vida? Pois, Rabiot ficou furioso por ter sido convocado como reserva aos vinte e três selecionados para a França, na sua participação no Campeonato do Mundo. Como resultado disso, deixou de ser opção e a França só terminou a competição com a taça nas suas mãos. Um final trágico para aquele que é considerada como uma promessa francesa. Veremos se não ficará também de fora das escolhas do Paris Saint-Germain e o seu contrato termine, sem nunca alcançar o futuro que todos idealizaram para alguém com as suas capacidades.
aaron ramsey (arsenal)
Ramsey tornou-se globalmente famoso por jogar no Arsenal mas, principalmente, por marcar pelo clube londrino. Durante uns tempos, uma personalidade famosa falecia no dia seguinte a Ramsey marcar pelo Arsenal, mas a coincidência terminou eventualmente. Já a sua qualidade nunca parou e continua a ser um dos melhores jogadores que o País de Gales já produziu, tornando famosa a notícia da transferência para o Manchester United no site oficial do clube... poucos dias antes de assinar pelo Arsenal. Com o estatuto de titular indiscutível, será cometido um erro grave, caso o Arsenal não renove contrato.
Futebol total arjen robben (bayern munique)
É difícil explicar o porquê de um dos grandes jogadores deste século estar presente no nosso “onze titular”. A sua famosa jogada de correr na lateral, fintar para o centro e chutar já gerou dezenas e dezenas de golos, apesar de ser já mundialmente conhecida. A verdade é que, o talento do holandês, que renunciou à seleção, consegue criar imprevisibilidade no previsível. Com tanta história de Bundesliga, o Mundo está atento a uma possível mundança para outro clube.
anthony martial (manchester united)
Como é que um dos talentos mais promissores do Manchester United continua em final de contrato? É complicado conseguir responder. O extremo francês tem sido um elemento importante, muitas vezes quando saído do banco de suplentes, garantindo vários pontos e vitórias ao conjunto comandado por José Mourinho. A sua saída na próxima temporada seria um erro, impensável quando pensado que poderá ser a custo zero.
mario balotelli (nice)
Porquê sempre ele? Polémico e talentoso. Balotelli já foi um dos avançados mais desejados mas, após parecer que a sua carreira estava em declínio, encontrou a forma no Nice, levando o emblema francês à Liga dos Campeões e à Liga Europa. Com a sua qualidade a ser recuperada, o Nice já parece pouco para tudo aquilo que o internacional italiano ainda poderá conquistar. Caso não renove com o clube francês, não será por falta de interesse dos dirigentes.
alphonse areola (psg)
Começamos a nossa lista de “suplentes” que vai rodando na baliza do campeão francês com, ninguém outro que, Gigi Buffon. Apesar de ser conhecido a intenção do Paris Saint-Germain de contar apenas com os jogadores mais cotados no mercado, seria um desperdício deixar Areola sair a custo zero, principalmente com o Buffon a poder retirar-se num futuro próximo.
vincent kompany (manchester city)
O Manchester City está vários passos à frente de todos os outros clubes da Premier League mas, para vencer, ajuda sempre não sofrer. Kompany já não é um titular indiscutível do campeão inglês nem da seleção belga mas o seu currículo fala por si só. Visto o passado que o defesa central tem com o clube, o mais certo será esta história terminar com a renovação do contrato, caso contrário, poderemos estar perante um caso semelhante ao de John Terry e o seu futuro clube será uma surpresa e uma inquietação para milhões de adeptos a redor de todo o globo.
phil jones (manchester united)
A equipa mais representada no “onze titular”, é também a que possui mais nomes nesta segunda parte. Phil Jones perdeu o seu lugar para Victor Lindelöf e continua na sombra de um inglês que ainda está para chegar. Toby Alderweireld (Tottenham Hotspur) Já foi referenciado para o Real Madrid e é o segundo central belga do Tottenham a aparecer na lista. Apesar de não ser uma escolha habitual, é uma grande perda caso saia a custo zero.
chris smalling (manchester united)
Decidimos colocar alguém no meio. Smalling é o defesa central titular e deverá ser a prioridade do Manchester United na renovação.
nacho monreal (arsenal)
Foi, durante várias temporadas, um dos jogadores que mais se destacava no Arsenal. Hoje isso já mudou mas uma saída a custo zero continuava a ser uma grande surpresa, uma vez que o lateral esquerdo continua a provar o seu talento.
moussa dembélé (Tottenham Hotspur)
Como não há duas sem três, apresentamos o terceiro jogador belga a representar o Tottenham. O médio centro foi, durante uns meses, um dos melhores jogadores da equipa na temporada passada, mas tem estado a decair na qualidade, passado um ano. Caso o emblema londrino não avance para a renovação, não faltarão interessados em avançar para o internacional belga.
cesc fàbregas (chelsea)
Uma das maiores promessas do inicío do século, colecionou vários títulos durante a sua carreira e, ao serviço dos rivais, parece estar perto do fim da carreira. Renovação poderá não ser opção.
Ander Herrera (Manchester United)
Foi, em tempos, uma grande promessa espanhola e, apesar do seu talento ser reconhecido, nunca atingiu o seu potencial. Tem tido mais oportunidades na equipa e a renovação deve estar em vista.
manuel fernandes (lokomotiv)
O único português a aparecer nesta segunda parte é um dos ídolos do Lokomotiv de Moscovo. O médio, que fez parte dos convocados para o Campeonato do Mundo, ainda não acertou uma renovação e um regresso à Liga NOS era sempre bem-vindo.
olivier giroud (chelsea)
Surpreendentemente, mudou-se para o rival mas, apesar disso, nunca se conseguiu destacar no onze e a sua presença no plantel é questionável.
#06 Dezembro2018
Futebol total
Histórias da História Real Madrid 6-1 Real Madrid (1980)
André Nogueira
á jogos que nos ficam na memória quando se vê no estádio ou na televisão. Hoje em dia, há outros que nos ficam na memória graças às novas tecnologias, que nos trouxeram espaços como o Youtube ou outras plataformas online de Futebol, que permitem rever jogos completos ou resumos de vários clubes e seleções, de várias temporadas. E não há nenhum erro no título. Antes de assistirmos a todas as finais que o Real Madrid vem vencendo sempre que as joga, principalmente a Liga dos Campeões, há uma final da Copa del Rey que já se sabia que a taça ia seguir para o museu merengue. Os madridistas deslocaram-se ao estádio e juntos festejavam todos os golos que iam assistindo. Remontamos ao ano de 1980 para avaliar tal acontecimento. É importante ver que se tratou de um jogo que, nos dias de hoje, seria completamente impossível de acontecer.
H
Mas vamos começar pelo princípio. Em primeiro lugar, como é que o Real Madrid jogou ‘sozinho’? Não jogou. Para ser exato, a formação derrotada (por goleada) era a equipa B, conhecida por Real Madrid Castilla. Em segundo lugar, como é que se encontraram na final? O motivo pelo qual hoje era impossível de se repetir uma final assim é porque, tal como em Portugal, as equipas B não podem participar na Taça de Portugal, pois se trata de uma segunda linha de apenas um mesmo clube. Porém, naté 1991, as equipas B ainda podiam participar e o Castilla chegou à final por mérito próprio, eliminando emblemas como Athletic Bilbao, Real Sociedad (que tinha vindo de uma reviravolta frente ao Barcelona) e, na meia final, Sporting de Gijón. Em terceiro lugar, onde foi disputada a final? Em casa, no estádio Santiago Bernabéu, pois claro.
#06 Dezembro2018 Em quarto lugar, houve mais jogos entre equipas A e B? Não. Se no sorteio o mesmo clube tivesse as duas equipas a jogarem entre si, esse jogo voltaria a ser sorteado. A única maneira de tal acontecer seria se se encontrassem na final, algo que nunca pensariam ser possível, visto as equipas B não costumarem chegar muito longe na competição... Em quinto lugar, como eram compostas as equipas? Começando pelo Castilla, apresentavam um plantel com uma média de 21 anos. Nessa equipa, destacavam-se o guarda-redes Agustín, o médio Ricardo Gallego (que viria a ser internacional) e o avançado Pineda, que, mais tarde, acumularam várias taças nacionais e internacionais pelo Real Madrid. Já a equipa principal do Real Madrid, tinha nomes como Pirri, José Antonio Camacho, Uli Stielike, Vicente del Bosque, Juanito ou Santillana, que dispensavam qualquer tipo de apresentações.
Por fim, em sexto lugar, como foi o jogo? Deve ser complicado aceitar esta frase, mas diria ‘sem história’. Ao intervalo, o Real Madrid já vencia confortavelmente por 2-0. Na segunda parte, o Castilla só conseguiu reduzir para o 4-1, mas sem sofrer mais dois golos até final. O apito suava e o 6-1 era o resultado apresentado no placar. Sem fazer grande sentido, jogadores trocavam a camisolas dentro de campo e, juntos, levantavam o troféu conquistado pelo Real Madrid... contra o Real Madrid. Mas as curiosidades não terminam aqui. Como finalista vencido, o Castilla ainda segurou um lugar na 1.ª eliminatória da extinta Taça das Taças. Pela frente tiveram o West Ham. Depois da vitória por 3-1, em casa, seriam derrotados pelo mesmo resultado em Inglaterra, sofrendo mais dois golos no prolongamento. Diziam adeus à competição.
Futebol total
Olympiastadion Berlin jonathan pertzborn
or vezes vemos jogos na televisão, outras vezes jogamos na consola, mas existe apenas um número limitado de estádios que são reconhecidos em menos de três segundos por adeptos do futebol, à primeira vista, tanto na vida real como na consola. O Estádio Olímpico de Berlim (Olympiastadium Berlin) é um desses estádios.
P
Propagação Nazi ajudou o desenvolvimento
Em 1912, a cidade de Berlim foi nomeada pelo Comité Olímpico para receber os Jogos Olímpicos de Verão de 1916. Depois de alguns anos de discussão, o governo alemão decidiu construir um recinto propositadamente para a ocasião, não querendo renovar edifícios já existentes. Por essa razão, contratou Otto March, que por sua vez, decidiu organizar o projeto de construção do estádio “na terra”. Ao contrário da maioria dos estádios, o Olympiastadion estaria construído de uma maneira que colocasse o campo de jogos inferior ao nível das pessoas fora do recinto. Devido à primeira Guerra Mundial, os jogos Olímpicos foram cancelados e a construção do estádio ficou parada durante vários anos, até que, em 1931, o Comité Olímpico voltou a escolher Berlim para receber os Jogos Olímpicos de Verão de 1936.
#06 dezembro2018 O Governo Nazi utilizou o evento e a construção de um estádio com capacidade para 110 mil pessoas para efeitos de propaganda e, no ano de realização do evento, os alemães deparavam-se com o estádio mais completo de toda a Alemanha, equipado para receber eventos de futebol, natação, hóquei de campo, críquete e muitos mais.
1945–1994: Pós-Guerra e a nova casa do Hertha BSC
Após a Guerra, as regiões na qual se localiza o estádio encontravam-se ocupadas pelos militares ingleses. As forças britânicas renovaram os edifícios em volta do estádio e algumas partes (embora poucas) da própria infraestrutura, que tenham sido danificadas durante a Guerra. Alguns pavilhões construídos para eventos olímpicos foram renovados e passaram a servir de salões para eventos sociais e garagens. O estádio continuava a ser utilizado para inúmeros eventos desportivos, com a introdução do rugby e, mais tarde, o futebol americano, com a ocupação dos militares americanos nos anos 60. Entre 1951 e 2005, uma antena gigante servia de ponto de transmissão para todas as rádios portáveis em Berlim. O Estádio Olímpico passaria a ser um ponto de referência em todos os aspetos: desportivo, social, informativo, entre muitos outros. Desde 1963, o Olympiastadion passa a ser a casa do Hertha BSC, que abandonava o “Plumpe”.
Campeonato do Mundo de 2006 relança o velho “Olympia”
Com ambições para uma possível renovação do estádio, a nomeação para ser uma das cidades a receber o Campeonato do Mundo de 2006 catapultou as construções de novas instalações dentro do Estádio Olímpico. Apesar de diversas mudanças a nível estrutural, a renovação mais celebrada entre adeptos do Hertha BSC foi a adaptação das cores do clube, pela primeira vez, com o vermelho a ser eliminado e o azul a passar a ser a cor predominante no interior do estádio. O estádio possui o maior número de lugares sentados em toda a Alemanha, com capacidade para 76 197 pessoas sentadas, contando com uma extensão usada para jogos mais importantes, como as finais da Taça da Alemanha. Relativamente à capacidade total de espetadores, o Olympiastadium é apenas ultrapassado pelo Signal Iduna Park, em Dortmund, e o Allianz Arena, em Munique.
Hertha BSC
Desde 1963 que o Hertha BSC ocupa o Estádio Olímpico para os jogos em casa a contar para a Bundesliga. Curiosamente, a competição foi inaugurada no mesmo ano, com o Hertha a participar de forma direta, sem ter de subir de divisão.
Entre 1965 e 1968, o Hertha foi obrigado a abandonar o estádio após ser punido pela Federação por manipulação de resultados, voltando, temporariamente, ao “Plumpe”. Os anos 70 foram anos de sucesso para o Hertha BSC, ao alcançar as meias finais da Taça UEFA frente ao Estrela Vermelha e a final da DFB Pokal, em 1977 e 1979. Com algumas descidas de divisão mas contando com a lealdade dos adeptos, o Hertha BSC vai-se reerguendo, estando, atualmente, a lutar por um lugar no pódio do futebol alemão.
Jogos Olímpicos de Verão de 1936
Adolpf Hitler inaugurou o estádio e os Jogos Olímpicos de 1936. Um total de quatro milhões de bilhetes foram vendidos no decorrer do evento, que foi visto como o início de uma nova era cultural na Alemanha Ocidental.
CAMPEONATO DO MundO DE 1974
O Estádio recebeu três jogos do grupo A, que incluía a Alemanha Ocidental (organizador), Chile, Alemanha do Leste e Austrália. Apesar de, na altura, o estádio já ser reconhecido como uma referência do desporto mundial, o histórico confronto entre “Alemanhas” foi disputado em Hamburgo.
CAMPEONATO DO MundO DE 2006
Tal como já foi referido, o Olympiastadium foi alvo de várias alterações e foi visto como um dos estádios principais do Campeonato do Mundo. Recebeu quatro jogos de fase de grupos, um a contar para os quartos de final (Alemanha contra Argentina) e a final entre a França e a Itália.
CAMPEONATO DO MundO Feminino 2011
A Alemanha recebeu o Campeonato do Mundo Feminino de 2011. No entanto, o estádio Olímpico de Berlim apenas recebeu o jogo de abertura, com as anfitriãs a derrotar a seleção do Canadá por 2-1.
Final da UEFA Champions League 2015
Em Maio de 2013, a final da Champions League foi organizada em Berlim, com a Juventus a defrontar o Barcelona, que, por sua vez, venceu por 3-1 e conquistou o triplete.
“Estádio da Música”
Até à data, o estádio já recebeu inúmeros eventos desportivos. No entanto, a cidade de Berlim orgulha-se pelo multiculturalismo e diversidade. Por sua vez, também o estádio já recebeu diversos eventos sociais, com destaque para a música, com um histórico de bandas e músicos a atuar no Olympiastadium bastante invejável, com ícones como The Rolling Stones, Guns N´Roses, Michael Jackson, Madonna, U2, AC/ DC, Bruce Springsteen e muitos mais.
Futebol total
Grandes Golos
Dennis Bergkamp vs Newcastle (2002) André Nogueira
ennis Bergkamp. Só o nome do holandês já cheira a golo. Pé direito ou pé esquerdo, dentro ou fora de área. Bergkamp colocava a bola onde queria e quando queria, graças à sua técnica apuradíssima. De tantos golos, só pelo Arsenal foram mais de uma centena, num total de mais de trezentos ao longo de toda a carreira, escolhemos um especial. Regressamos a 2002. Falamos com um adepto inglês e apenas conseguimos dizer: “Bergkamp contra o Newcastle”... “Esse golo!”. Não era preciso dizer mais. Foi um golo raramente repetido e nunca nas grandes competições. Num jogo a contar para a FA Cup, nome atribuído à Taça Inglesa, o Arsenal recebia o Newcastle depois do empate fora (1-1). Ao minuto dois, Pirès abria o marcador. Apenas sete minutos depois, o mesmo Pirès faz o passe para a entrada da área, Bergkamp recebe com o pé esquerdo, de costas para a baliza, e faz a bola rodopiar em torno do defesa Nikos Dabizas, deixando o holandês frente-a-frente com o guarda-redes Shay Given, não desperdiçando como habitualmente. Até final, Sol Campbell ainda colocaria o resultado num 3-0 final, fazendo o Arsenal avançar para a meia-final da competição. Aí
D
eliminariam o Middlesbrough (0-1) para depois derrotar o Chelsea na grande final (2-0). O ano fica ainda marcado pela conquista da Premier League, fazendo a dobradinha.
Melhor dA pREMIER lEAGUE
Em 2017, para comemorar os vinte e anos da Premier League, a BBC deu oportunidade aos adeptos para votarem naquele que seria o melhor golo de sempre, ao longo desses anos. Com mais de meio milhão de votos, Bergkamp superiorizava-se aos golos de Tony Yeboah contra Wimbledon (1995), Thierry Henry contra Tottenham (2002), Wayne Rooney contra Manchester City (2011) e Jack Wilshere contra Norwich (2013).
#06 Dezembro2018
O meu 11 por: Jorge Baptista (Ex-Jogador e Treinador de Guarda-Redes do Rio Ave)