Futebol Total #07

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EDIÇÃO 07

janeiro 2019

taça dos libertadores Famalicão / Newcastle / eSports



#07 janeiro2019

Feliz 2019! om a passagem de ano, celebramos também oito meses desde o começo da primeira edição que, por ser sido lançada apenas no mês seguinte, faz com que esta seja a sétima edição. Sete edições com muitos artigos com foco nacional e internacional, com histórias do presente e do passado, sempre com um olhar para o futuro. Nem sempre é fácil, mas o feedback bastante positivo que recebemos faz-nos acreditar que, embora o trabalho esteja a ser recompensado, possa ainda crescer mais. Juntos esperamos que o ano de 2019 seja o ano de afirmação, sempre com os nossos grandes leitores desse outro lado!

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Para entrar com o pé direito, olhamos para quatro divisões nacionais. Nos profissionais através do surpreendente Osama Rashid e do histórico Famalicão até ao Canelas, CD Estrela e Belenenses que procuram regressar aos palcos superiores. Este mês, apresentamos histórias de superação ou de barreiras que ainda estão por superar. Nesta segunda condição encontra-se um Newcastle em luta com o seu presidente durante já vários anos, procurando, por fim, resolver os conflitos. Por outro lado, dois espanhóis mostram como foram do céu ao inferno e se conseguiram levantar, através dos exemplos de Santi Cazorla, que jogará contra o Sporting CP na Liga Europa e de Paco Alcácer, que tem sido a grande revelação do líder da Bundesliga, o Borussia Dortmund. No mesmo campeonato, o Werder Bremen quer ser a equipa de Liga dos Campeões que foi num passado recente, fazendo regressar vários antigos atletas, juntando-os a jovens com futuro e um treinador, também ele, jovem. Por fim, “depois da tempestade vem a bonança” e a Taça dos Libertadores foi histórica mas também uma página negra do futebol sul americano. Dois jogos e vários dias depois, mostramos todos os acontecimentos até o CA River Plate saborear o ouro. Esta é uma revista composta por jovens jornalistas, GRÁTIS e online. Aproveitem e espero que gostem... uma vez mais! Que tenham um feliz 2019! André Nogueira Criador da revista Futebol Total

Ficha Técnica Diretor Geral André Nogueira Paginação André Nogueira Tiago Nogueira Redação André Nogueira Daniel Fonseca Francisco Craveiro Hugo Ferreira João Couto Jonathan Pertzborn Jorge Nunes Revisão André Nogueira Contacto aonogueira16@gmail.com Créditos A Bola BeSoccer Bundesliga Daily Star Eurosport Famalicão Fox Sports Getty Images Globo Esporte Goal.com Liga Portugal Lusa MaisFutebol Notícias Num Minuto O Jogo Premier League Rádio Renascença Record Sports On Stage The Independent theScore.com The Sun zerozero


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#07 janeiro2019

Foto do mês O estádio do Real Bétis foi palco de um gesto de enorme caridade. Vários adeptos lançaram peluches para o relvado como doações de Natal para as crianças mais necessitadas. Apesar de não se tratar de algo único no futebol, é sempre um momento especial e simbólico.


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08

18

40

Osama Rashid

Reportagem FamalicĂŁo

Santi Cazorla

14

26

48

Reviravoltas em Portugal

Segunda Linha

Reportagem Werder Bremen


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28 Reportagem

newcastle

56

70

84

Paco Alcรกcer

Taรงa dos Libertadores

Histรณrias com Histรณria

66

80

86

Enzo Francescoli

Reportagem eSports

El Nuevo Gasรณmetro


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#07 janeiro2019

osama rashid

O IRAQUIANO QUE ENCANTA OS AcORES i Fugiu do Iraque e tornou-se uma das esperanças da seleção holandesa. A carreira acabou por dar várias voltas e, quando menos esperava, o seu país natal voltou a chamá-lo. Numa tentativa de chegar ao topo, encontrou Portugal e, apesar de uma saída curta, é no país dos campeões europeus que se vem destacando e despertando a cobiça de vários clubes.


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hugo ferreira

a cidade de Kirkuk, localizada a nordeste do Iraque, até Roterdão, onde nasceu para o futebol, Osama Rashid viveu em campos de refugiados e ainda tirou um curso superior antes de chegar a Portugal, com uma passagem pela Bulgária pelo meio. A Revista Futebol Total foi tentar conhecer a história de um dos capitães do Santa Clara e um dos jogadores que mais tem brilhado na presente temporada da Liga NOS e maravilhado os adeptos do futebol português. Aos 26 anos, o médio centro da formação açoreana tanto se recusa a regressar ao passado, como a esquecê-lo. Apesar de ter representado os escalões inferiores da seleção holandesa, é pelo Iraque que vai realizando as partidas internacionais, sendo já um dos ídolos do país.

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Infância holandesa

Com apenas quatro anos, Osama Rashid deixou o Iraque para trás com a esperança de encontrar um refugio num lugar bem distante daquele onde habitava. Encontrou na Veneza do Norte um espaço que lhe permitia obter, sobretudo, estabilidade familiar. Depois de cinco anos a viver na Holanda, Osama Rashid conseguiu o passaporte holandês, numa altura onde já se encontrava em Roterdão, cidade onde a família conseguiu emprego. Aí, Rashid um clube, o histórico Feyenoord, onde se foi colega, por exemplo, de Bruno Martins Indi, defesa que já representou o Futebol Clube do Porto. Percebeu, rapidamente, que uma carreira futebolística poderia ser uma opção viável. O Feyennord tinha boas infraestruturas, uma boa academia e os dirigentes confiavam no seu talento. A prova disso foi, segundo o próprio, o dia em que assinou o seu primeiro contrato profissional, com apenas tinha 16 anos.

Lesão e estagnação

Em Roterdão, partilhou balneário com jogadores como Stefan de Vrij, Jordy Clasie, Bruno Martins Indi ou Luc Castaignos, sendo internacional pelas seleções jovens da Holanda. Foi a representar a ‘laranja mecânica’ que Rashid sofreu uma lesão no Campeonato da Europa de sub-17, em 2009, realizado na Alemanha. Devido a essa lesão, o médio acredita que esse foi o fator decisivo para não ter conseguido chegar à equipa principal do Feyenoord, num momento em que estava em final de contrato com o clube de Roterdão. Por conseguinte, devido à lesão, o vínculo contratual não foi renovado. Triste, mudou-se para outro emblema holandês, o quase-desconhecido do Den Bosch. Porém, as debilidades físicas subsistiram e a qualidade era escondida, só realizando um total de treze jogos, marcando dois golos.


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Da transferência falhada à mudança para Portugal

Apesar das aparições esporádicas pelo Den Bosch, Rashid chegou a ter pé e meio nos alemães do Wolfsburgo, transferência que caiu por questões burocráticas com o clube que tinha os seus direitos de formação. Mais uma vez, Osama Rashid, desiludido, era afastado da elite do futebol europeu, apesar da reputação que construiu ao longo dos anos de formação. O atual médio do Santa Clara decidiu optar pelos estudos, sendo licenciado em Marketing e mestre em Gestão Desportiva. Porém, o sonho de se tornar profissional sempre foi mais forte e, enquanto estudava, continuou a sua carreira futebolística nas divisões inferiores da Holanda, ao serviço do clube amador Alphense Boys, onde atuou entre os anos de 2013 e 2015 devido à dificuldade em conciliar os estudos com o futebol profissional.

O final dos estudos coincidiu com a chamada à seleção do Iraque para a Taça das Nações Asiáticas, o que despertou Rashid para uma nova possibilidade para o agarrar de vez o sonho de se tornar jogador profissional e, para isso, só havia uma hipótese: teria de jogar a um nível mais elevado. Portugal apareceu como destino de “sonho”, onde nem o próprio pensaria que o futuro seria tão risonho quanto o que tem sido. O Farense abriu-lhe as portas para o “futebol de primeira”... ou segunda. Ao serviço dos algarvios, Osama Rashid fez um total de quarenta e três jogos, marcando sete golos. Apesar do bom nível exibicional ao serviço dos leões de Faro, o Farense desceu de divisão e o iraquiano prosseguiu a sua carreia na Bulgária, país ao qual não se adaptou. Aí, jogou apenas cinco partidas ao serviço do Loko Plovdiv, decidindo rescindir contrato.


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Uma escolha santa

Pronto para novos desafios, surgiu a oportunidade de regressar à Segunda Liga, desta vez com a camisola do Santa Clara. A escolha não poderia ter sido mais acertada. Depois de uma primeira metade de temporada segura, foi nos Açores que Osama Rashid deu um impulso, não só à qualidade de jogo, como às estatísticas. No segundo ano ao serviço do clube açoreano, com um papel de destaque, a temporada passada terminou com o regresso do Santa Clara ao principal escalão do futebol português, após quinze anos. Osama Rashid contribuiu com trinta e um jogos e dez golos marcados. O início da temporada de 2018/2019 da Liga NOS trouxe um Santa Clara renovado: Rashid redobrou a sua preponderância na equipa e foi nomeado capitão da formação insular.

Titular em todos os encontros disputados para a Liga NOS, o médio de 26 anos está a ser uma das figuras centrais da boa primeira metade de temporada realizada pelo emblema açoreano, que ocupa, atualmente, o oitavo lugar com vinte pontos conquistados em quinze jornadas. Além disso, Rashid assume-se como o melhor marcador da equipa, com cinco golos marcados, participação direta em sete golos e uma média de 0.36 golos por jogo, estatísticas que comprovam toda a qualidade do jogador iraquiano e que o tornam como um dos talentos a seguir nesta Liga NOS de 2018/2019. A figura central do Santa Clara renovou recentemente, numa tentativa de o emblema vermelho segurar um dos seus principais ativos. Ainda assim, a qualidade que demonstrou pela várias divisões holandesas e que chegou a atrair vários emblemas europeus, pode ser suficiente para uma tranferência no final da temporada.


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e se a sua equipa estiver a perder ao intervalo? Apenas quatro equipas da Liga NOS conseguiram dar a volta ao resultado no segundo tempo depois de ir para o intervalo em desvantagem, nesta temporada. Podemos dizer que, em caso de derrota ao intervalo, a vitรณria deve sair do pensamento do adepto?


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André Nogueira

Depois da fantástica reviravolta do Sporting CP frente ao CD Nacional com quatro golos na segunda parte (5-2), a Revista Futebol Total começou a pensar quantas vezes, nesta Liga NOS de 2018/2019 (e também Segunda Liga), tal acontecimento foi repetido (não por igual número de golos). Curiosamente, este jogo que serviu de exemplo foi também aquele que desempatou e tornou o Sporting CP como a equipa com mais reviravoltas efetuadas na segunda parte. Mas não pense que isto acontece pelo facto dos chamados ‘Três Grandes’ terem, na teoria e no ponto de vista financeiro, melhores plantéis que os restantes pois, das apenas quatro equipas a conseguirem integrar a lista, FC Porto e SL Benfica não fazem parte da mesma. Jogos de competições que não a Liga NOS e Segunda Liga não estarão aqui inseridos, por esse motivo, não verá aqui o mais recente resultado do FC Porto frente ao Belenenses SAD para a Taça da Liga (1-2). Sobre a Segunda Liga, o equilíbrio da competição nota-se também nos resultados obtidos nesta investigação. Dos dezoito clubes em prova, oito deles já conseguiram virar o resultado no segundo tempo. Porém, tal como na Liga NOS, o clube com maior número de reviravoltas na Segunda Liga também só o conseguiu fazer por duas ocasiões. Para vos apresentarmos a lista total, iremos seguir o dia em que as mesmas partidas foram realizadas.


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liga nos 1. Equipas que conseguiram reviravoltas na segunda parte

2. OS JOGOS 24/08/2018 CS MARÍTIMO 2-1 GD Chaves (0-1 ao intervalo) 25/08/2018 FC Porto 2-3 VITÓRIA SC (2-0 ao intervalo) 02/09/2018 RIO AVE 2-1 Portimonense (0-1 ao intervalo) 04/11/2018 Santa Clara 1-2 SPORTING CP (1-0 ao intervalo) 16/12/2018 SPORTING CP 5-2 GD Chaves (1-2 ao intervalo)

3. registos Jogo com mais golos 7 golos - SPORTING CP 5-2 GD Chaves Mais golos 4 golos (1 3 golos (1 2 golos (3

na segunda parte vez) - SPORTING CP (vs CD Nacional) vez) - VITÓRIA SC (vs FC Porto) vezes) - CS MARÍTIMO (vs GD Chaves), RIO AVE (vs Portimonense) e SPORTING CP (vs Santa Clara)

Maior diferença de golos ao intervalo 2 golos - VITÓRIA SC (vs FC Porto)


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segunda liga 1. Equipas que conseguiram reviravoltas na segunda parte

2. OS JOGOS 19/08/2018 Arouca 1-2 SL BENFICA B (1-0 ao intervalo) 26/08/2018 ACADÉMICO VISEU 3-2 Arouca (0-2 ao intervalo) 01/09/2018 FC PORTO B 2-1 Académico Viseu (0-1 ao intervalo) 02/09/2018 Sporting Covilhã 1-2 VITÓRIA SC B (1-0 ao intervalo) 27/10/2018 FAMALICÃO 4-2 FC Porto B (0-2 ao intervalo) 11/11/2018 FAMALICÃO 2-1 Sporting Covilhã (0-1 ao intervalo) 09/12/2018 Oliveirense 1-2 PAÇOS DE FERREIRA (1-0 ao intervalo) 15/12/2018 Varzim 3-4 PENAFIEL (2-1 ao intervalo) 16/12/2018 COVA DA Piedade 2-1 SC Braga B (0-1 ao intervalo)

3. registos Jogo com mais golos 7 golos - Varzim 3-4 PENAFIEL Mais golos na segunda parte 4 golos (1 vez) - FAMALICÃO (vs FC Porto B) Maior diferença de golos ao intervalo 2 golos - ACADÉMICO VISEU (vs Arouca) e FAMALICÃO (vs FC Porto B)


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Famalicão

desejo de subir Com mais de oitenta anos de existência, o emblema da AF Braga é um dos históricos do futebol português que procura o regresso ao escalão máximo nacional. Com o primeiro lugar na Segunda Liga, os adeptos têm razões para acreditar numa equipa que regressou do fundo distrital para se reerguer nacionalmente.


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joão couto

om uma longa história nos campeonatos do topo do futebol português, o Famalicão também já se viu, por algumas ocasiões, despromovido aos campeonatos distritais. Foi precisamente de lá que saiu no ano de 2009 e, em apenas seis anos, conseguiu chegar à Ledman LigaPro. No final da última temporada, chegou ao clube um novo grupo de investidores e as expectativas são ainda mais altas: colocar o Fama entre os grandes do futebol nacional.

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O início

A 21 de agosto de 1931, seis amigos decidiram criar o Futebol Clube de Famalicão. Foram eles José Alves Marinho, Floriano Portela, Hildebrando Portela, Luis Pinto, Joaquim Mesquita Jr. e Vergílio Pinto de Azevedo. E, desde a fundação do clube até ao seu primeiro jogo oficial, passaram-se pouco menos de cinco meses. A 17 de janeiro de 1932, o Famalicão defrontou o FC Porto naquele que foi também o primeiro jogo realizado no Campo da Barbeira, a primeira casa da equipa famalicense. Neste jogo, o Fama atuou de verde e branco, que foram as cores que o clube adotou no seu início. Nos primeiros meses após o primeiro jogo oficial, o Famalicão realizava apenas alguns jogos amigáveis com equipas das proximidades ou participava

em competições não-oficiais. Foi na temporada de 1932/1933 que inscreveu pela primeira vez uma equipa sénior a competir nas competições organizadas pela Associação de Futebol de Braga. Nesses primeiros anos de competição oficial, o Famalicão participou no Campeonato de Promoção da AF Braga, prova que conseguiu vencer na temporada de 1935/1936, garantindo, assim, a subida à 1ª Divisão da Associação de Futebol daquele distrito.

Do verde para o azul

Até ao ano de 1938, o Famalicão equipou de verde e branco. No entanto, nesse ano, houve uma alteração nas cores do clube. Com o objetivo de se tornar uma filial do FC Porto, o Fama decidiu trocar o verde pelo azul. Apesar de o Famalicão só mais tarde ter conseguido esse objetivo, o azul permaneceu nos equipamentos dos famalicenses até aos dias de hoje, uma vez que a mudança agradou aos adeptos do clube.

O início da verdadeira ascensão

Foi no início da década de 40 que se iniciou verdadeiramente a ascensão do Famalicão para patamares superiores. Em 1940, o clube do distrito de Braga competiu pela primeira vez no Campeonato Nacional da II Divisão, ficando colocado na


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Série Minho. No ano seguinte, chega a Famalicão Jonas Szabo, ele que é uma das figuras mais importantes da história do Fama e que chegou ao clube para desempenhar o papel de treinador-jogador. O húngaro ficou na história dos famalicenses, uma vez que foi ele uma verdadeira alavanca do Famalicão até ao patamar de topo do futebol português.

A primeira subida à Primeira Divisão

Jogava-se a temporada de 1945/1946 quando o Famalicão garantiu, pela primeira vez na sua história, a subida ao principal escalão do futebol português. A caminhada do clube famalicense começou com a obtenção do primeiro lugar na Série 2 do Campeonato Nacional da II Divisão com o notável registo de dez vitórias em dez jogos realizados e a surpreendente marca de 88 golos marcados e apenas cinco sofridos. Mas, depois de vencer a sua série no segundo escalão, o Famalicão tinha ainda que lutar por um lugar na poul final de acesso à Primeira Divisão. Para conseguir esse objetivo, a formação de Vila Nova de Famalicão venceu o Leixões, por 6-1, e o Salgueiros, por 2-0. Na poul final, o Fama teve como adversários o Estoril, o Portimonense e o União de Leiria, terminando no segundo lugar, posição que

lhe valeu um play-off com o penúltimo classificado da Primeira Divisão, o Boavista, que teria que vencer para garantir a promoção. O jogo decisivo realizou-se a 30 de junho de 1946, na Póvoa de Varzim, e terminou com a vitória por 3-2 para os famalicenses, garantindo a sua primeira subida ao escalão máximo do futebol português. Mas, na temporada de 1945/1946, o Famalicão não teve um desempenho notável (apenas) no seu campeonato. Na Taça de Portugal, o Fama conseguiu chegar às meias-finais, eliminando pelo caminho o Olhanense e o Elvas, duas equipas que, nessa temporada, disputavam a Primeira Liga. Nas meias-finais da prova rainha, o Famalicão foi goleado por 11-0 pelo Sporting e foi eliminado da competição. Apesar da goleada, a campanha dessa temporada na Taça de Portugal ficou na história do clube, uma vez que o feito de chegar às meias-finais da competição jamais voltou a ser repetido pelo emblema do distrito de Braga.

A temporada entre os grandes

Conquistada a subida, em 1946/1947, o Famalicão disputou a Primeira Liga com os grandes do futebol português. Nessa temporada deu-se também a mudança do Fama do Campo da Berbeira para o Campo do Freião, recinto que serviu


Futebol total de casa ao emblema famalicense até 1952. Ao longo da temporada, o Famalicão venceu sete e empatou três dos 26 jogos que realizou, somando 16 derrotas ao longo do campeonato. O resultado foram 17 pontos conquistados e o penúltimo lugar da tabela, a três pontos do antepenúltimo Vitória de Setúbal. Terminando nessa posição, o Famalicão viu-se obrigado lutar pela permanência num play-off diante do Lusitano FC. O Famalicão perdeu o jogo decisivo por 3-2 e voltou assim a cair para o segundo escalão.

De volta ao segundo escalão e período negro

No ano seguinte, o Famalicão estava de volta à Segunda Divisão. A temporada de 1946/1947 ficou marcada pela conquista da Taça do Minho por parte do clube famalicense. Nas temporadas que se seguiram, o Famalicão esteve várias vezes na luta pelo regresso à Primeira Divisão, no entanto, esse feito não foi conseguido e, em 1953/1954, o clube de Vila Nova de Famalicão desceu para a Terceira Divisão, fruto de um reajustamento que foi feito nos quadros competitivos do futebol português. Por esta altura, o Famalicão já jogava no então designado Campo dos Bargos, que foi inaugurado a 21 de setembro de 1952 e que ainda hoje é a casa do Fama, mas agora com o nome de Estádio Municipal de Famalicão. Entre 1954 e 1961, o Famalicão passou um período mais negro da sua história e esteve dividido entre a disputa da Terceira Divisão Nacional e os campeonatos distritais da Associação de Futebol de Braga. Pelo meio, o emblema famalicense sagrou-se por duas vezes campeão da 1ª Divisão da AF Braga, a última delas em 1961/1962, temporada em que o Fama conseguiu o regresso em definitivo aos campeonatos nacionais.

O regresso à Segunda Divisão

Na temporada de 1962/1963 dá-se o regresso de Jonas Szabo ao Famalicão e, com ele, regressam os bons resultados do clube minhoto. Nessa temporada o Fama venceu a sua série na Terceira Divisão Nacional e conquistou a subida à Segunda Divisão depois derrotar o Tirsense num play-off. Nos anos seguintes, o Famalicão disputou sempre o segundo escalão do futebol português, merecendo destaque as prestações de 1968/1969, em que o clube terminou no segundo posto da Zona Norte, e de 1969/1970, em que ficou no terceiro lugar da mesma Zona.

De volta à Primeira Divisão

Depois de quinze temporadas consecutivas a competir na Segunda Divisão, em 1977/1978, o Famalicão conquistou o regresso à Primeira Divisão, mais de trinta anos depois da sua primeira subida ao escalão máximo do futebol português. O Fama começou por vencer a Zona Norte, conseguindo a vitória em 21 dos seus 30 desafios e terminando com um enorme foço de 14 pontos de vantagem para o segundo classificado Aliados de Lordelo. Vencendo a Zona Norte, o Famalicão já tinha garantido a subida à Primeira Divisão, mas foi ainda disputar a fase de apuramento campeão da Segunda Divisão, juntamente com os vencedores das outras duas Zonas: Beira-Mar e Barreirense. Nessa fase, o Famalicão venceu três jogos e perdeu apenas um, terminando no primeiro lugar com mais dois pontos conquistados que o Barreirense, sagrando-se campeão nacional da Segunda Divisão. Na Primeira Divisão, o Famalicão venceu nove dos seus 30 jogos, somando ainda seis empates e 15 derrotas. Esses resultados valeram um 13º posto aos famalicenses, o que significou a sua descida novamente para a Segunda Divisão, uma vez que, nessa temporada, eram quatro as equipas despromovidas ao segundo escalão.

Caso de corrupção e período mais glorioso

Depois da descida, e até à temporada de 1986/1987, o Famalicão foi-se sempre mantendo como um dos clubes de meio da tabela da Zona Norte da Segunda Divisão. Porém, em 1987/1988, depois de vencer a Zona Norte e a fase de apuramento do campeão nacional, todos os pontos conquistados pelos famalicenses durante a fase regular foram-lhe retirados por a equipa do concelho de Vila Nova de Famalicão estar envolvida num caso de corrupção relacionado com um jogo do Macedo de Cavaleiros. Isso significou que o Fama não só perderia o título de campeão, como também seria despromovido à Terceira Divisão. A punição foi aplicada ao Famalicão já muito perto do início das competições, pelo que o emblema minhoto acabou por disputar a Terceira Divisão com uma equipa que estava a ser preparada para participar no primeiro escalão do futebol nacional. Dessa forma, o Fama venceu a sua série e conquistou o regresso à Segunda Divisão. No entanto, não se conseguiu sagrar campeão nacional dessa temporada, uma vez que foi derrotado pelo Mirense, por 4-2, no jogo de atribuição do título.


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Futebol total Na temporada de 1989/1990, de regresso à Segunda Divisão, o Famalicão terminou no segundo posto da Zona Norte, a apenas dois pontos do campeão Gil Vicente. Mesmo terminando no segundo lugar, nessa temporada o Famalicão conseguiu a promoção à Primeira Divisão, fruto de um alargamento que foi feito na temporada de 1990/1991. No primeiro ano após a promoção, o Famalicão terminou o campeonato na primeira posição acima da linha de água, com os mesmos 33 pontos conquistados que o despromovido Tirsense. No total, o Fama venceu 11 jogos, nove deles dentro de portas e apenas dois como visitante. Com isso, garantiu, pela primeira vez, a permanência no escalão máximo do futebol português. Na temporada seguinte, a luta pela permanência voltou a não ser fácil e o Famalicão terminou o campeonato no 14º lugar, com mais um ponto que o melhor dos despromovidos, que foi o Torreense. Em 1992/1993, mais uma luta árdua pela manutenção. O Fama voltou a terminar no 14º posto da tabela, mas desta vez com dois pontos de vantagem para os melhores dos despromovidos, Tirsense e Sp. Espinho. Nesta temporada, destaque para a vitória do Famalicão no Estádio das Antas, frente ao FC Porto, aplicando aos dragões uma das suas quatro derrotas, naquela que foi a sua caminhada até à conquista do segundo campeonato consecutivo. E foi na temporada de 1993/1994 que terminou a série de quatro temporadas consecutivas do Famalicão na Primeira Divisão. Nesse ano, o clube minhoto conquistou apenas 22 pontos e ficou a seis da primeira equipa acima da linha de água, o SC Braga, que somou 28. Os famalicenses caiam, assim, para a Segunda Divisão de Honra.

A decadência

Na primeira temporada após a descida da Primeira Divisão, o Famalicão terminou no 12º lugar. No entanto, na segunda temporada na Segunda Divisão de Honra, os famalicenses não conseguiram melhor que um 17º posto. Terminar nessa posição significou a descida do Famalicão para o terceiro escalão do futebol português. Depois de três anos sem participações de relevo na Segunda Divisão B, na temporada de 1999/2000, o Famalicão ficou muito perto de regressar à Segunda Divisão de Honra. Os famalicenses somaram 60 pontos na Zona Norte e ficaram a nove do primeiro classificado FC Marco, que conseguiu a promoção ao segundo escalão do futebol português nesse ano. No ano seguinte, novamente um segundo lugar.

Dessa vez, a equipa promovida à Segunda Divisão de Honra foi o Moreirense, que conquistou mais quatro pontos que a equipa de Vila Nova de Famalicão. Mas depois de duas boas temporadas no terceiro escalão do futebol português, a situação do Famalicão mudou drasticamente. Houve um desinvestimento no clube e este terminou a temporada de 2001/2002 na última posição da Zona Norte da Segunda Divisão B. Essa campanha dos famalicenses significou a descida dos mesmo à Terceira Divisão, que era o quarto escalão do futebol nacional. No ano de 2004/2005, o Fama conseguiu o regresso à Segunda Divisão B, depois de terminar a Série B da Terceira Divisão no segundo lugar, a apenas um ponto do campeão Aliados de Lordelo. Mas, o período a competir da Segunda Divisão B, foi curto e, em 2006/2007, o Famalicão voltava a descer à Terceira Divisão Nacional, depois de terminar no 12º posto da Série A do escalão. Um ano depois, veio a descida aos distritais, com o Famalicão a terminar na última posição da sua poul de manutenção, depois de ter terminado a fase regular do campeonato da Série B no penúltimo posto.

Dos distritais para a Segunda Liga

De novo a competir nos campeonatos distritais da Associação de Futebol de Braga, o Famalicão queria regressar rapidamente aos campeonatos nacionais. Apesar de tudo, o Fama não se conseguiu sagrar campeão da Divisão de Honra do distrito minhoto. Terminou no segundo posto com 67 pontos conquistados, menos um que o vencedor do troféu, o Santa Maria FC. No entanto, o segundo lugar dos famalicenses foi suficiente para ficar consomado o regresso à Terceira Divisão. No primeiro ano nesse campeonato, o Famalicão terminou no terceiro posto da sua série, a cinco pontos da campeã AD Oliveirense, e não conseguiu a subida. Foi à segunda tentativa. Na temporada de 2010/2011, o Fama terminou no segundo posto da Série B, com os mesmos pontos que o campeão Amarante, e garantiu a promoção à Segunda Divisão B. Na Segunda Divisão B, os famalicenses conseguiram um nono e um sétimo lugares em 2011/2012 e 2012/2013, respetivamente, antes de o terceiro escalão do futebol português passar a designar-se Campeonato Nacional de Seniores. Na primeira temporada dessa nova competição, o Famalicão terminou a fase regular no oitavo lugar da sua série, garantindo depois a permanência ao terminar no terceiro lugar da fase de manutenção.


#07 janeiro2019 E foi na temporada seguinte que o Fama conseguiu o regresso à Segunda Liga. Primeiro venceu a Série B da fase regular, mesmo que em igualdade pontual com Varzim e Vizela, e, depois, venceu a fase de subida da Zona Norte, com mais oito pontos conquistados que o segundo classificado Varzim. Os famalicenses disputaram ainda um jogo de apuramento do campeão nacional frente ao vencedor da fase de subida da Zona Sul, mas saíram derrotados nas grandes penalidades frente ao Mafra. No ano de regresso à Segunda Liga, o Famalicão conseguiu surpreender pela positiva e terminou na sexta posição, a apenas seis pontos do terceiro classificado, que foi o Feirense e que conquistou a promoção à Liga NOS. Em 2016/2017, o campeonato já foi mais difícil para o Fama. A equipa minhota terminou no 15º lugar da Ledman LigaPro, duas posições acima dos lugares que obrigavam a disputar um play-off de manutenção, mas com apenas mais um ponto que o Académico de Viseu, que foi a melhor equipa nessa posição. Na temporada de 2017/2018, o Famalicão voltou a não estar nos lugares cimeiros e terminou o campeonato da Ledman LigaPro na 14ª posição, quatro pontos acima da linha de água. No entanto, a temporada fechou com a novidade de que 51% da SAD do clube famalicense havia sido adquirida pelo Quantum Pacific Group, grupo que também possui uma percentagem do Atlético de Madrid. O objetivo do clube e dos novos investidores é colocar o Famalicão entre os melhores do futebol português, e esse objetivo está a ser perseguido já esta temporada, com o Fama a ocupar, neste momento, o primeiro lugar da Ledman LigaPro, em igualdade pontual com o Paços de Ferreira, apesar de já ter mais um jogo realizado que os pacenses. O Famalicão vai ainda ver o seu estádio melhorado, uma vez que já foi aprovado o projeto que visa requalificar o Estádio Municipal de Famalicão. A lotação vai ser ampliada de 5 500 para 7 000 lugares, mas há ainda a hipóteses de esta ser aumentada para os 10 mil caso no futuro seja desejado. O prazo previsto para a conclusão da obra é o ano de 2021, onde o Famalicão espera estar a disputar na Liga NOS. As bancadas do estádio vão-se enchendo cada vez mais, batendo recordes de assistência a cada jogo. Os adeptos acreditam na equipa e têm acompanhado em grande massa até antes do clube estar nos campeonatos profissionais. Se acompanham até ao topo, depende do clube de lá chegar...


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cd Estrela x Belenenses na última divisão joão couto

oi a 15 de março de 2009 que se disputou o último jogo entre Estrela da Amadora e Belenenses, a contar para a Liga Sagres de 2008/2009. Quase 10 anos depois, Estrela e Belenenses voltam a se defrontar, mas agora num contexto bastante diferente.

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Estrela da Amadora e Belenenses eram duas equipas bem habituadas aos escalões de topo do futebol português. A formação da Amadora somou um total de 16 participações na Primeira Liga, às quais podem também ser somadas cinco disputas da Segunda Liga e oito da extinta Segunda Divisão Nacional. O Estrela da Amadora conta ainda com uma conquista da Taça de Portugal, em 1989/1990, derrotando o Farense na final, com uma conquista da Segunda Liga (1992/93), com uma participação na Taça das Taças, na temporada seguinte, e uma participação na Taça Intertoto, em 1998. No entanto, na última de quatro temporadas consecutivas na Primeira Liga, os tricolores entraram numa crise financeira e, apesar de terem terminado no décimo primeiro posto do principal escalão do futebol português, viram-se despromovidos à II Divisão Nacional, fruto de uma proibição de participarem nos escalões principais. Curiosamente, a equipa que beneficiou da despromoção do Estrela e garantiu a permanência na Primeira Liga mesmo terminando o campeonato nos lugares de despromoção foi o Belenenses. A competir no terceiro escalão o Estrela da Amadora não conseguiu melhor do que um décimo lugar. Mesmo assim, a situação económica do clube não melhorou e este viu-se obrigado a fechar portas no final da temporada 2009/2010. Para suceder ao CF Estrela da Amadora foi criado o Clube Desportivo Estrela. Até à temporada de 2017/2018, a nova equipa da Reboleira apenas inscreveu camadas jovens, mas, pela primeira vez, este ano, o clube inscreveu uma equipa sénior a competir nos campeonatos da Associação de Futebol de Lisboa.

Por sua vez, o Belenenses totaliza 77 participações na Primeira Liga tendo conquistado o título máximo do futebol português em 1945/1946. A equipa do Restelo conta ainda com cinco participações na Segunda Liga, 12 no extinto Campeonato de Portugal e duas na extinta Segunda Divisão Nacional. Para além da conquista da Primeira Liga, o Belenenses conta ainda no seu palmarés com três Taças de Portugal (1941/1942, 1959/1960 e 1988/1989), três Campeonatos de Portugal (1926/1927, 1928/1929 e 1932/1933), uma Segunda Liga (2012/2013), uma Segunda Divisão Nacional (1983/1984) e uma Taça Intertoto (1975). O Belenenses soma também uma participação na Liga Europa, cinco na Taça UEFA, uma na Taça das Taças, quatro na Taça Intertoto e quatro na Taça das Cidades com Feiras. No entanto, fruto de divergências entre a administração do clube e a sua SAD, que foi criada em 1999 e vendida a um investidor em 2012, foi terminado o protocolo que ligava as duas partes. Isto levou a que a SAD começasse a competir de forma autónoma na Liga NOS nesta temporada, disputando os seus jogos caseiros no estádio do Jamor, enquanto que o clube inscreveu uma equipa no terceiro e último escalão da Associação de Futebol de Lisboa, tendo como casa o estádio do Restelo. E o sorteio da Série 2 da Primeira Divisão da AF Lisboa ditou que à 12ª jornada, no dia 6 de janeiro de 2019, se enfrentassem o CD Estrela e o Belenenses, no estádio José Gomes, cinco escalões abaixo daquele em que se disputou o último encontro entre as duas equipas. Por esta altura, o Belenenses lidera a tabela classificativa só com vitórias, possuindo já mais cinco pontos que o segundo classificado, mesmo tendo um jogo em atraso. Nas partidas realizadas para o campeonato, a formação de Belém marcou 51 golos e sofreu apenas quatro(!). Quanto ao Estrela, soma seis vitórias, dois empates e três derrotas em onze partidas e posiciona-se no sétimo lugar.


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O que é feito do Canelas? e atitudes intimidatórias por parte dos jogadores aos seus oponentes e árbitros, que vinham sendo tornadas públicas através de vídeos publicados nas redes sociais e meios de comunicação. joão couto

epois da polémica subida ao Campeonato de Portugal na temporada 2016/2017, o Canelas voltou a cair para os campeonatos distritais no ano seguinte, onde está a disputar a Divisão de Elite da Associação de Futebol do Porto.

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O Clube Futebol Canelas 2010 foi criado há nove anos para suceder ao Canelas Gaia Futebol Clube, clube que foi fundado em 1966 e extinto em 2006, e que dividiu a sua história pelos escalões secundários do futebol nacional e pelos campeonatos distritais da AF Porto. Apesar de ter sido fundado em 2010, o novo clube do Canelas só começou a competir nos campeonatos da Associação de Futebol do Porto na temporada de 2012/2013. Nesse ano, a equipa do concelho de Vila Nova de Gaia sagrou-se campeã da Série 2 da 2ª Divisão com quinze pontos de vantagem para o segundo classificado, SC Campo. Depois de vencer a sua série, o Canelas sagrou-se campeão distrital da 2ª Divisão batendo o Penamaior, campeão da Série 1, nas grandes penalidades, após um empate a zero no tempo regulamentar. Em 2015/2016, na sua estreia na Divisão de Honra, que é o segundo escalão da Associação de Futebol do Porto, o Canelas não vacilou e conquistou o primeiro lugar, com onze pontos de vantagem para o Gondim-Maia. No ano seguinte foi quando começou verdadeiramente a polémica. O Canelas sagrou-se campeão da Série 1 da Divisão da Elite da AF Porto com 73 pontos, mais 25 que o segundo classificado SC Rio Tinto, mas apenas disputou 10 dos 26 jogos que teria que jogar. A partir da 7ª jornada do campeonato, os adversários do Canelas tomaram a decisão de faltar aos jogos diante da equipa de Vila Nova de Gaia, fruto das agressões

A partir dessa tomada de decisão e até ao final da fase regular do campeonato, o Canelas só realizaria mais três partidas: frente ao Candal, que foi a única equipa que não se recusou a jogar diante dos gaienses, e nas duas últimas jornadas, uma vez que, nessas duas jornadas, uma falta de comparência por parte dos adversários do Canelas, teria consequências muito mais graves que aquelas que estavam a ser aplicadas nas outras jornadas. Na fase de apuramento de subida ao Campeonato de Portugal, o Canelas teve que defrontar os três primeiros classificados de cada uma das duas séries da Divisão de Elite da AF Porto: SC Rio Tinto, Maia Lidador, CD Aves B, Rebordosa e Lixa. Nesse play-off final, o Canelas realizou todos os seus jogos, conquistando seis vitórias e quatro derrotas, acabando com mais um ponto que CD Aves B, Rio Tinto e Rebordosa e a consequente subida aos campeonatos nacionais. Também venceu a Taça da AF Porto depois de derrotar o Paredes na final, através do desempate nas grandes penalidades. Na temporada de 2017/2018 o Canelas fez a sua estreia no Campeonato de Portugal, mas a sua aventura pelos campeonatos nacionais durou apenas um ano. Os gaienses terminaram o campeonato na primeira posição abaixo da linha de água e foram despromovidos. Esta temporada, na Série 1 da Divisão de Elite da AF Porto, o Canelas tem-se assumido como a equipa mais forte do campeonato. Neste momento, terminada a primeira volta, o Canelas lidera com 42 pontos conquistados em 17 jogos, que lhe garante uma vantagem de quatro pontos para o segundo classificado, o Padroense, e de oito para o terceiro, Valadares Gaia. Até aqui, o Canelas apenas perdeu pontos à terceira jornada, numa derrota frente ao Maia Lidador (0-1), e em três empates nos últimos cinco jogos, frente ao Grijó (0-0), Padroense (2-2) e Valadares Gaia (0-0).


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#07 janeiro2019

newcastle

O pesadelo Geordie A história de como um proprietário sem qualquer interesse no bem-estar do clube transformou um dos maiores clubes de Inglaterra num crónico candidato à despromoção, com um futuro repleto de incerteza


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daniel fonseca

Newcastle United FC é um clube com uma longa história. Foi fundado a 9 de dezembro de 1892, após a fusão de dois clubes da cidade de Newcastle Upon Tyne (daí ter o adjetivo “United” no seu nome). Ao longo das décadas, foi conquistando diversos troféus, entre a Primeira Divisão inglesa (por quatro vezes), a Taça de Inglaterra (por seis vezes) e a Taça das Cidades com Feiras, o troféu precursor do que se viria a chamar de Taça UEFA.

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O (relativo) sucesso ao longo do séc.XX

Após a conquista europeia da Taça das Cidades com Feira, o Newcastle passou praticamente todo o resto do século XX a flutuar entre a primeira e a segunda divisão, com as melhores presenças do Newcastle na divisão de elite do futebol inglês a coincidirem com a passagem de jogadores intemporais como Paul Gascoigne e Kevin Keegan pelo clube. Na temporada de 1992/1993, após o clube escapar a aquela que seria a sua primeira despromoção à terceira divisão, Keegan foi contratado por Sir John Hall (o presidente do Newcastle na altura) para ser o novo treinador da equipa.

O por duas vezes vencedor do Ballon d’Or fez no banco o que havia feito durante a sua carreira enquanto jogador e liderou a equipa até à promoção na sua primeira temporada e, mal chegaram à Premier League, Keegan e os magpies anunciaram-se como candidatos recorrentes aos lugares cimeiros da tabela, intrometendo-se várias vezes na luta pelo título inglês, apresentando um futebol ofensivo que deliciava os adeptos. O brilhantismo de Keegan (e, a partir de 1999, de Bobby Robson) no banco, juntamente com a enormíssima qualidade de jogadores como David Ginola, Faustino Asprilla e Alan Shearer, transformaram o Newcastle United num dos maiores clubes de Inglaterra, com os adeptos geordies a lotarem cada encontro da equipa no mítico St. James’ Park.

O início do século XXI e a famigerada venda do clube

Já nos primeiros anos do séc. XXI, o Newcastle continuou a intrometer-se entre os lugares superiores da Premier League, qualificando-se regularmente para as competições europeias, com destaque para as duas temporadas em que os magpies acabaram a temporada no “top four” (a denominação dada pela imprensa inglesa aos quatro primeiros classificados do


#07 janeiro2019 campeonato) e, consequentemente, qualificaram-se para a Liga dos Campeões. No Verão de 2007, o empresário inglês Mike Ashley adquiriu por completo a propriedade do clube por um valor a rondar os 148 milhões de euros. Este negócio fez com que a cidade de Newcastle Upon Tyne se enchesse com a esperança de que, com a entrada em cena de Ashley, um dos homens mais ricos do Reino Unido, o clube conseguiria envolverse, permanentemente, na luta pelos títulos internos e, quem sabe, europeus. No entanto, muitos geordies contiveram o seu entusiasmo pois Ashley era conhecido pela sua reclusão: nunca havia comparecido a qualquer evento das suas empresas e nunca tinha acedido a qualquer contacto por parte da imprensa. Ou seja, Ashley era um autêntico desconhecido do grande público e pouco ou nada se sabia sobre ele e, mais importante nesta situação, se este teria qualquer interesse no futebol e, mais especificamente, no Newcastle United que não fosse um interesse meramente financeiro. O tempo acabaria por validar as preocupações destes adeptos, mesmo que a primeira temporada do Newcastle com Ashley enquanto proprietário tenha dado sinais do oposto: perante o mau começo de temporada do clube e com a equipa a apresentar um estilo de jogo hediondo, Ashley despediu o treinador Sam Allardyce para trazer de volta a lenda do passado recente do clube, Kevin Keegan. O britânico fez, novamente, um bom trabalho e, durante a segunda metade da temporada, guiou os magpies a um tranquilo décimo segundo lugar na Premier League. Com Keegan de volta no comando da equipa toon e com um dos homens mais ricos do país enquanto dono do clube, os adeptos geordies esperavam ansiosamente pela nova temporada. No entanto, ninguém estaria à espera da tempestade que estaria prestes a engolir o clube.

O início do pesadelo

A temporada de 2008/2009 ainda nem tinha começado oficialmente e já o Newcastle estava em tumulto interno. Keegan estava frustradíssimo com a política de transferências usada pelo clube, pois tinha-lhe sido prometido um maior investimento do clube em novas contratações. Ora, isto não se verificou minimamente, com o emblema de Newcastle, inclusive, a registar lucro no mercado de transferências (ganhou mais dinheiro com as vendas do que aquilo que gastou em contratações). Isto, combinado com a descoberta por parte de Keegan de que este não tinha a influência que também lhe havia sido prometida no que toca às entradas e saídas no clube, levou a que a figura história do Newcastle entregasse a sua demissão a 4 de setembro, apenas três jornadas após o início da Premier League.


Futebol total Quando os motivos da demissão de Keegan foram tornados públicos, a ira dos adeptos geordies caiu totalmente sobre Mike Ashley. Este, após sentir o extremo desagrado dos adeptos com a saída de Keegan, anunciou que havia colocado o clube à venda, pois “não queria sustentar um clube onde ele e a sua família não eram bem-vindos”. Após isto, os adeptos do clube rejeitaram completamente a presença do multimilionário em St. James’ Park, após esta tomada de posição pública, pois esperavam que a venda de um clube como o Newcastle United, um dos maiores clubes do país, fosse relativamente rápida e sem grandes obstáculos, dado o número de supostos interessados e a vontade expressa de Ashley em vender rapidamente o clube. Ora, o que aconteceu depois destruiu completamente todos os adeptos do clube: Ashley foi rejeitando todas e quaisquer propostas que lhe foram apresentadas, o que ia contra a sua tomada de posição, em que afirmava que pretendia vender o clube rapidamente. Enquanto o autêntico circo à volta da venda do clube decorria, a equipa derrapava na tabela classificativa. Joe Kinnear, o homem encontrado para liderar o clube até à temporada seguinte, não conseguia manter a equipa afastada da zona de despromoção e, em fevereiro, teve de se afastar do mundo do futebol após ser alvo de uma cirurgia cardíaca. Em desespero, a administração do Newcastle convenceu o melhor marcador de todos os tempos dos magpies, Alan Shearer, a assumir o comando técnico da equipa. Shearer tinha nos seus ombros a missão de tentar evitar a despromoção ao Championship, assim como devolver a tranquilidade ao clube, pois os adeptos entraram em desespero e irromperam em protestos (alguns até violentos) quando, em dezembro e após rejeitar proposta atrás de proposta, Mike Ashley anunciou que o Newcastle já não estaria à venda e que este se iria manter enquanto seu proprietário. Infelizmente para os adeptos geordies, conhecidos pelo seu apoio incansável e por fazerem do St. James’ Park um estádio temido pela sua atmosfera, Shearer falhou a sua missão. O Newcastle acabou na décima oitava posição no campeonato e foi despromovido ao Championship. A tensão e os protestos em redor do clube apenas cresciam, tanto em número como em intensidade, o que levou a que Ashley colocasse novamente o clube à venda, desta feita por um valor muito inferior ao que pretendia na primeira vez em que colocou o clube no mercado (e, segundo inúmeros rumores, por um valor muito inferior do que algumas propostas que tinha recebido antes de dezembro de 2008). Tudo isto deixou a cidade de Newcastle Upon Tyne devastada. Após destruir o estatuto de clube de topo dos magpies é que Ashley parecia disposto

a sair do clube. Mas, nem estas supostas pretensões de saída rápida se viriam a confirmar.

A temporada no Championship e o adensar das promessas quebradas

Após a despromoção, a incerteza em redor do Newcastle apenas se adensou. O treinador do final da temporada passada (e que se esperava que continuasse na seguinte), Alan Shearer, veio a público afirmar que tinha dúvidas da sua continuidade do clube pois ainda não tinha recebido qualquer contacto de qualquer pessoa envolvida no clube. Esta falta de comunicação por parte do clube foi também mencionada pelo consórcio singapurense Profitable Group, que lançou um comunicado público em que explicou que abandonou a sua pretensão de compra do clube após Mike Ashley e os seus representantes não responderem às suas múltiplas tentativas de comunicação entre as duas partes. Até na composição do plantel foi refletido este clima de incerteza, com o clube a ver sair alguns dos seus jogadores mais importantes como Michael Owen, Obafemi Martins e Damien Duff, sem fazer qualquer contratação. As únicas entradas de jogadores no clube foram realizadas após o fecho do mercado de transferências, através de empréstimos vindos de outros clubes ingleses, negócios que a federação inglesa permite que ocorram após o fecho do mercado internacional. Felizmente para o clube, a equipa foi acumulando vitória atrás de vitória e conseguiu facilmente a promoção, tendo sido campeã do Championship com uma diferença de doze pontos para o segundo classificado. No entanto, o problema Mike Ashley continuou a apoquentar os adeptos geordies: em outubro. Ashley afirmou que estava arrependido de ter adquirido o Newcastle United pois sentia que não tinha o conhecimento e a presença pública necessária para liderar um clube desta magnitude. No entanto, apenas uma semana após proferir estas palavras, o multimilionário retirou novamente o clube do mercado e deixou a promessa aos adeptos de que investiria, imediatamente, 20 milhões de euros no clube e de que estaria totalmente focado em liderar o clube até sucessos futuros. Esta notícia caiu como uma bomba no seio dos adeptos, pois estes já não eram capazes em confiar numa única palavra de Ashley após as suas sucessivas promessas não cumpridas no passado.

O regresso à Premier League e a mediocridade constante

O regresso do Newcastle United ao principal escalão do futebol inglês na temporada de 2010/2011 correu de forma relativamente tranquila. O clube reforçou o seu plantel em áreas cruciais, o que permitiu ao treinador Chris Hughton (que tinha


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guiado o clube no ano anterior ao título do Championship) começar a temporada de uma forma positiva, principalmente para uma equipa que tinha acabado de ser promovida. Todavia,e como não podia deixar de ser, Ashley voltou a provocar a ira dos adeptos geordie: com a equipa no mais que respeitável décimo segundo lugar à décima sexta jornada, despediu Chris Hughton. Esta decisão foi intensamente criticada pela imprensa, que insinuou fortemente que Ashley não fazia qualquer ideia do que estaria a fazer à frente de um clube de futebol, e contestada não só pelos adeptos, mas também pelo próprio plantel do Newcastle, que não conseguiam entender a razão do despedimento de Hughton. Para ainda mais incompreensão de todos aqueles ligados ao clube, Ashley contratou Alan Pardew para substituir Hughton. Com um contrato de seis(!) anos. A escolha de Pardew já tinha causado descontentamento entre os adeptos e oferecer um contrato desta duração ao técnico inglês quando, ainda no início da étemporada anterior, o clube nem sequer entrou em contacto com Alan Shearer, aquele que é uma autêntica lenda viva do clube toon e que tem, literalmente, uma estátua

numa das entradas do St. James’ Park, provocou uma onda de indignação que foi sentida em toda a cidade de Newcastle Upon Tyne. Apesar disso, Pardew fez jus à duração do seu contrato. Na temporada de 2010/2011, levou o Newcastle a terminar a Premier League no décimo segundo (curiosamente, a mesma posição em que o clube se encontrava quando Chris Hughton foi despedido), mas foi na temporada seguinte que Pardew conseguiu conquistar os adeptos geordie: liderado pela dupla de ataque formada por Demba Ba e Papiss Cissé (que apenas chegou em janeiro e fez 13 golos em apenas 14 jogos), apoiados pelo meio campo formado por Yohan Cabaye e Cheick Tioté, o clube acabou a temporada 2011/2012 num fantástico quinto lugar (tendo estado na luta pelo quarto lugar até à última jornada), muito acima de todas as previsões. Finalmente, os adeptos podiam respirar com menos sofrimento pois o seu clube estava de volta aos lugares cimeiros da Premier League, ao lugar de onde estes sentem que nunca deveria ter saído. Contudo, na temporada seguinte, com a distração que foi a participação na Liga Europa, os magpies voltaram a ver a sua permanência na Premier


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League ameaçada. Apesar de ter mantido o núcleo da sua equipa intacto (do onze titular apenas Demba Ba saiu e a sua transferência apenas ocorreu no mercado de Inverno), a equipa de Pardew travou uma intensa batalha contra a despromoção ao longo de toda a temporada desportiva, apenas conseguindo a permanência na penúltima jornada. Enquanto que terminou o campeonato inglês de 2012/2013 na décima sexta posição, o Newcastle compensou os seus adeptos com uma caminhada profunda na Liga Europa. O clube permaneceu na competição praticamente toda a temporada, só tendo sido eliminado em abril, nos quartos de final, frente a um fortíssimo SL Benfica. A temporada de 2013/2014 foi o princípio da decadência do estilo de jogo do Newcastle enquanto comandado por Alan Pardew. Enquanto que, até aqui, a equipa era reconhecida por se organizar bem defensivamente e sair a jogar de forma rápida, com a bola a chegar rapidamente a Yohan Cabaye, que tentaria então colocar a bola num dos possantes avançados da equipa, para que esta avançasse no terreno num bloco compacto, nesta temporada, começou a ser visível as primeiras falhas do sistema de Pardew, que foi acusado de não conseguir adaptar a sua equipa aos diferentes adversários.

Estas falhas acentuaram-se exponencialmente quando Cabaye abandonou o clube rumo ao Paris Saint-Germain, no mercado de inverno. Após a saída do médio internacional francês, o Newcastle acabou a temporada de uma forma muito sofrível, a consentir onze derrotas nas últimas quinze jornadas, tendo terminado no décimo lugar na Premier League.

O segundo descalabro da era Ashley

A temporada 2014/2015 começou com Alan Pardew (e, evidentemente, Mike Ashley) a ser intensamente contestado, pois o Newcastle não conquistou nenhuma vitória na Premier League até ao dia 18 de outubro, quando venceu o Leicester City na oitava jornada. Até aqui, a equipa apresentou exatamente o mesmo estilo de jogo paupérrimo que tinha apresentado no final da temporada anterior. Contudo, mesmo sem qualquer tipo de alteração tática, o Newcastle de Pardew conseguiu embalar no campeonato e conquistou seis vitórias em nove jornadas. Esta suposta boa forma do clube levou ao interesse do Crystal Palace em Pardew, que aproveitou a oportunidade para abandonar o clube de Newcastle Upon Tyne após mais de quatro anos de ligação. Após a saída de Pardew do clube, John Carver, o até agora treinador adjunto,


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foi nomeado treinador até ao final da temporada. O período em que Carver esteve ao comando da equipa foi incrivelmente mau para o clube, pois averbou doze derrotas em dezoito jornadas da Premier League, conseguindo apenas três vitórias. Esta sequência de resultados fez com que Carver fosse descartado no final da temporada por Mike Ashley.

Carver e não apresentava resultados melhores. Muito pelo contrário, ocupou durante praticamente toda a temporada de 2015/2016 um dos lugares de despromoção. Por isto, não foi surpresa para ninguém que, à vigésima oitava jornada, McClaren tenha sido despedido.

No final da temporada, Mike Ashley deu a sua primeira entrevista à imprensa desportiva. Este afirmou que estaria disposto a vender o clube mas apenas após conquistar um troféu, sendo que a qualificação para a Liga dos Campeões seria como um troféu para ele. O magnata das lojas desportivas contratou Steve McClaren para ser o novo treinador do Newcastle United. A chegada de Steve McClaren foi recebida com muita indignação pelos adeptos geordies, pois McClaren havia conseguido falhar a qualificação para o Campeonato da Europa de 2008 com a seleção, com a denominada geração de ouro (de Lampard, Gerrard e Rooney) no seu auge e tinha-se afastado do futebol inglês a partir desse momento. A indignação dos adeptos foi totalmente justificada pois, com McClaren, o Newcastle apresentou um futebol ainda pior do que aquele que tinha praticado com Pardew e

Após o despedimento do flop que foi Steve McClaren, Mike Ashley surpreendeu (pela primeira vez, pela positiva) os adeptos da equipa toon ao contratar um treinador conceituado e conhecedor do futebol inglês como Rafa Benítez. Para anunciar a contratação do espanhol, Ashley deu a segunda entrevista de toda a sua carreira, em que afirmou em frente às câmeras televisivas que estava arrependido de ter adquirido o Newcastle United, mas que ele e o clube estavam agora unidos um ao outro e que já não se consegue separar do clube.

A chegada do “milagreiro”

Apesar do seu currículo e de ter conseguido três vitória e três empates nas últimas seis jornadas, Benítez não conseguiu salvar o Newcastle da despromoção, a segunda desde que Ashley adquiriu o clube. Desta feita, Ashley não se tentou livrar do clube e conseguiu, para surpresa do mundo do futebol, que Benítez se mantivesse


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no comando da equipa no Championship. O que consta é que, se Benítez conseguisse promover o Newcastle na temporada 2016/2017, Ashley prometeu que iria investir boa parte da sua fortuna no clube para que Benítez construísse uma equipa à sua imagem, capaz de lutar por títulos. Sejam estes rumores verdadeiros ou não, a verdade é que o Newcastle de Benítez conquistou o título do Championship em 2016/2017 e o clube voltou novamente a figurar na Premier League. Mas, mesmo após Benítez cumprir a sua parte do acordo, Ashley foi igual a si mesmo: não investiu um único cêntimo no mercado de transferências e deixou Benítez com um plantel em que, pelo menos muitos dos seus integrantes, estão mais perto do nível do Championship do que da Premier League. E, pior que isso, causou ainda mais tensão e incerteza no clube ao anunciar que tinha posto o Newcastle à venda (pela terceira vez). Porém, foi aqui, na temporada 2017/2018, que o técnico espanhol provou o seu amor ao clube e aos seus adeptos: perante a situação (não era descabido que pedisse a demissão, afinal de contas, uma lenda do Newcastle como Kevin Keegan fê-lo praticamente na mesma situação), Benítez manteve-se no clube e levou uma equipa repleta de jogadores com nível de segunda divisão até ao décimo lugar da Premier

League, numa temporada tranquila e longe dos lugares de despromoção. No final da temporada, Benítez era já visto como um autêntico deus em Newcastle Upon Tyne e, mesmo que abandonasse o clube no Verão, iria ocupar para sempre um lugar na história do clube da região de Tyne and Wear.

O presente e o futuro novamente incerto

Apesar de Rafa Benítez se manter no clube, o espanhol não conseguiu evitar o péssimo arranque da equipa no campeonato: apenas somou a primeira vitória à decima primeira jornada. Mike Ashley continuou a não investir no clube e apenas se limitou a esclarecer que continua à procura de comprador e a provocar ainda mais a ira dos adeptos. Adeptos estes que não têm qualquer responsabilidade no que aconteceu ao clube na última década. Estes viram o seu clube, que estava perfeitamente estável na metade superior da Premier League, ser tornado num fardo para um proprietário que não tem qualquer interesse nele e que faz promessas a adeptos, treinadores e jogadores que não tem quaisquer intenções de as cumprir. É, de facto, uma pena o que tem vindo a acontecer ao Newcastle United.


Futebol total É o décimo sétimo clube com mais receitas do mundo do futebol, sendo que, em Inglaterra, apenas o Manchester United está à sua frente. Isto é extraordinário pois, para além de ter sido despromovido duas vezes nos últimos dez anos (o que normalmente leva a uma queda abrupta nas receitas), a cidade de Newcastle Upon Tyne não é das maiores cidades do Reino Unido. Isto mostra o quão dedicados são os adeptos geordies: mesmo após verem o seu clube no estado em que está há quase uma década, continuam a apoiar incessantemente o seu clube. O estádio St. James’ Park é reconhecido em praticamente todas as sondagens sobre o assunto como a melhor atmosfera num estádio de futebol inglês. É por isso que é incrivelmente triste constatarmos o estado em que se encontra o clube. É, portanto, urgente para o bem do futebol que Ashley venda o Newcastle United o mais depressa possível. Uma história destas não pertence ao mundo do futebol. Um proprietário desinteressado que mantém o clube refém das suas exigências negociais absurdas não deve fazer parte do futebol ou de qualquer outro desporto. Pois, no meio de tudo isto, quem mais sofre são os seus adeptos. E nenhum adepto merece passar pelo que os adeptos do Newcastle têm passado.


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Santi Cazorla

a história do Pequeno mágico Apareceu para o futebol ao serviço do Villareal CF e aí brilhou a nível nacional. Aumentou a sua reputação com a conquista de dois Campeonatos da Europa pela seleção espanhol mas, apesar de uma mudança para o Arsenal, as lesões nunca o deixaram atingir todo o seu pontecial. De regresso aos relvados e ao seu clube, Cazorla é um exemplo de superação.


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jorge nunes

antiago Cazorla González, mais conhecido por Santi Cazorla, nasceu em Lugo de Llanera, na província das Astúrias, a 13 de dezembro de 1984 (34 anos). Santi sempre levou uma vida devota ao desporto rei e decidiu, desde cedo, fazer dele a sua vida. A sua propensão para jogar com ambos os pés fizeram deste futebolista um dos melhores médios da sua época. Destacam-se características como a sua baixa estatura, medindo apenas 1,65 metros de altura, o que lhe permite ter um drible e um controlo de bola mais rápidos e precisos. Para além disso, destacam-se ainda outros atributos como a precisão de passe, a visão de jogo e a cobrança de bolas paradas. Embora virtuoso, Santi Cazorla teve uma carreira fustigada por graves lesões que faziam dele um autêntico vaivém aos relvados. Não fossem essas paragens e podia muito bem ter entrado no livro dos melhores de sempre. Ainda assim, conseguiu ter uma carreira recheada de feitos notáveis.

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O pequeno que sonhava em grande

Santi Cazorla começou a dar os primeiros passos no futebol com apenas treze anos de idade, no modesto Real Oviedo CF, um clube sediado a 20 quilómetros de Lugo de Llanera, onde vivia. Na altura, o emblema Oviedín militava no primeiro escalão do futebol espanhol, o que permitia outros clubes do mesmo campeonato repararem neste jovem talento com maior facilidade. Embora atuasse nos escalões de formação, a sua qualidade chamou a atenção de muitas equipas e, na temporada de 2002/2003, Santi Cazorla rumou ao Villareal CF, clube que se haveria por se revelar um porto seguro para o atleta e onde haveria de ficar as próximas dez temporadas, excetuando o ano de 2006, onde atuou no Recreativo de Huelva a título de empréstimo e acabou por conquistar o título de campeão da Segunda Divisão espanhola.

Sucesso quase imediato

Santiago não chegou logo a Villareal CF para atuar na equipa principal. Antes disso, teve de fazer por merecer o seu lugar. Mas nem duas temporadas ao serviço do ‘submarino amarelo’ foram necessárias para que o clube entendesse que Santi era uma mais-valia na equipa principal. Desde então pegou de estaca no meio campo amarelo, de onde não mais saiu. Logo nesse ano, o Villareal CF terminou o campeonato na oitava posição, sendo que, nas provas internacionais, chegou às meias-finais da Taça UEFA, onde caiu às mãos do então “todo-poderoso” Valência, epal margem mínima (0-0 e 1-0), que acabou por vencer a competição frente ao Marselha (2-0).


#07 janeiro2019


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Os anos seguintes de Villareal CF ao peito seriam sinónimo de sucesso, onde arrecadou uma Taça Intertoto, em 2004, foi semifinalista da Liga dos Campeões, em 2005/2006, onde apenas caiu diante o Arsenal, semifinalista da Liga Europa em 2010/2011, perdendo para o FC Porto, que viria a ganhar a competição e conquistou o prémio de Futebolista do Ano da La Liga, no ano de 2007, o que são destaques demonstrativos, não só da sua qualidade enquanto jogador, mas também do sucesso que estava a viver.

Chamada à ‘La Roja’

Os números falam por si. Ao longo das suas temporadas no Villareal CF, Santi Cazorla apontava um número bastante regular tanto de golos como de assistências. Essa regularidade valeu-lhe, em maio de 2008 (apenas um mês antes do Campeonato da Europa de futebol), a primeira chamada à seleção espanhola, então comandada pelo selecionador Luís Aragonés. O jogador foi mais um importante elemento para o meio campo espanhol, junto de jogadores como Iniesta, Xavi ou Marcos Senna, merecendo elogios de toda a comunicação social e equipa técnica.

Um mês mais tarde, rumou com os companheiros de seleção para o Campeonato da Europa de 2008, que foi disputado na Áustria e na Suíça, competição essa que a Espanha viria a vencer, derrotando a Alemanha na final, em Viena, por uma bola a zero. Cazorla jogou todas as partidas dessa fase final, embora poucas como titular e mais como suplente utilizado.

Mudança de ares

Ao fim de nove temporadas a espalhar magia no Madrigal, muitos eram os clubes que cobiçavam este “pequeno génio”. Em 2011, despediu-se do ‘submarino amarelo’ e integrou a equipa do novo clube rico (por pouco tempo, diga-se) do Málaga CF, onde esteve durante uma só temporada, mas que se veio a confirmar de muito sucesso tanto para a equipa como para o jogador. Quer tenha sido por sua influência direta ou não, a verdade é que o Málaga CF fez história nessa temporada, ao garantir a quarta posição da tabela classificativa, o que assegurou a primeira presença do clube numa edição da Liga dos Campeões, quis o destino que essa equipa, já guiada por Isco, fosse o carrasco do FC Porto na competição.


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Além do registo histórico da equipa, também o médio atingiu nessa temporada uma marca única: a dos nove golos marcados num só ano. Satisfeito com a temporada realizada em Málaga e aliciado pelos grandes clubes europeus, Santi Cazorla fez a maior mudança da sua carreira até então e juntou-se ao Arsenal de Wenger, em agosto de 2012, para alguns dos melhores e piores momentos de toda a sua carreira/vida.

Peça chave na Espanha imbatível

Como supracitado, este foi um jogador fustigado por lesões e a primeira delas surgiu em 2010. Uma hérnia discal contraída ainda no decorrer do ano de 2009 impediu Santi Cazorla quer de jogar grande parte da temporada no Villareal CF, quer de levantar a taça de Campeão do Mundo com a seleção espanhola, na África do Sul, na final frente à Holanda (1-0). Ainda assim, este tornou-se um jogador indispensável em todos os meios-campos onde atuava e, por isso, em 2012, já recuperado, voltou a ser um dos selecionados (desta feita pelo selecionador Vicente Del Bosque) para a representar a seleção espanhola na fase final de uma grande competição internacional.

A Espanha era detentora do troféu, conquistado há quatro anos e procurava revalidar o título de campeã europeia. Pese embora Santi Cazorla não tenha sido utilizado tantas vezes quantas foi em 2008, contribuiu para que esse objetivo se tornasse uma realidade. A ‘La Roja’ haveria de se sagrar bicampeã europeia após vencer a seleção italiana por uns expressivos 4-0, numa final disputada no estádio Olímpico de Kiev, na Ucrânia. Parecia que este rapaz da humilde localidade Lugo de Llanera estava mesmo destinado para grandes feitos.

O seu maior adversário

Numa altura em que muito se esperava deste futebolista, foi quando o azar lhe bateu à porta. Depois de em 2012/2013 ter feito a sua melhor temporada desportiva, em Inglaterra, Santi Cazorla já se preparava para tentar fazer uma temporada ainda melhor. Durante o verão de 2013, num amigável pela seleção espanhola, frente ao Chile, o jogador levou uma pancada no tornozelo direito que lhe causou uma fissura no osso. Seis semanas de recuperação depois e estava de volta aos relvados, embora sem nunca recuperar totalmente.


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Conseguiu aguentar o resto da temporada de 2013/2014 e ainda foi com a seleção espanhola ao Campeonato do Mundo de 2014, no Brasil, mas as dores com que jogava tornaram-se “insuportáveis” e o esforço exercido pelo futebolista nesse resto de temporada trouxeram mazelas bem mais graves. Já no decorrer da temporada de 2014/2015, Santi Cazorla foi informado que teria de ser submetido a uma nova intervenção cirúrgica. Posteriormente, numa consulta de rotina onde iria retirar os pontos, a ferida reabriu e o jogador teve de voltar a ser operado. Este processo repetiu-se um total de oito vezes durante dois anos e, para complicar ainda mais a situação do atleta, este desenvolveu uma infeção na zona do tornozelo que, se não fosse tratada devidamente, poderia ter que o obrigar a amputar o pé. Transfusões de pele foram necessárias para tapar a ferida de uma vez por todas, que deixaram o jogador num calvário de operações. Foram dois anos sem qualquer minuto de futebol, dois anos sem qualquer tipo de treino que o deixaram numa condição física debilitada.

Já eram excelentes notícias para o futebolista saber que, no final deste pesadelo, iria poder voltar aos relvados, mas a batalha ainda não tinha terminado. Faltava agora recuperar a forma física sem exercer demasiados esforços no tornozelo. E assim foi. A mentalidade competitiva dos atletas pode ser benéfica em várias situações e esta é um excelente exemplo disso mesmo. A perseverança de Santi Cazorla no combate a este gravíssimo problema é uma prova de que o adversário que se tem pela frente pouco ou nada importa, porque há sempre hipóteses de vencer. E, mais importante que o futebol, está a vida. Durante estes largos meses afastado das quatro linhas, vários foram os adeptos, treinadores, jogadores e outros elementos ligados ao desporto-rei que foram deixando palavras de apoio a um espanhol nascido para vencer e superar todas as adversidades que lhe pudessem aparecer ao longo da sua vida. Cazorla era agora um exemplo para vários atletas que quase foram obrigados a abandonar os seus desportos devido a lesões e que se superaram.


#07 janeiro2019

O bom filho à casa torna

Depois de seis temporadas conturbadas ao serviço dos londrinos do Arsenal (sempre treinado por Wenger), onde conquistou duas FA Cups, nome da Taça de Inglaterra, e duas Community Shields, nome atribuído à Supertaça inglesa, Santi Cazorla regressou ao clube que lhe serviu de casa durante mais anos no futebol: o Villareal CF. O clube espanhol recebeu de braços abertos um dos meninos que trouxeram ao mundo do futebol e que tanto ajudou o seu clube e o seu país. Mais do que as condições físicas que pudesse apresentar, era a paixão pelo clube e o desejo de “regressar a casa” que levavam Cazorla de regresso ao emblema da província de Castellón. Na presente temporada, o jogador leva já vinte jogos disputados, onde apontou dois golos e apontou, ainda, cinco assistências. Tem sido adaptado a várias posições, desde médio defensivo a extremo esquerdo, mediante as necessidades da equipa. Atualmente, o “submarino amarelo” está em todas as frentes, com ‘sortes’ diferentes.

Na Liga Europa está nos dezasseis avos-de final, onde irá jogar frente ao Sporting CP, depois de vencer o seu grupo, composto também com Rapid de Viena, Glasgow Rangers e Spartak de Moscovo, com apenas duas(!) vitórias e quatro empates em seis jogos. Porém, importa também reparar que não perderam nenhum jogo europeu. Na Copa del Rey, venceu o Almería por uns expressivos 11-3 no agregado das duas mãos, na eliminatória anterior e ainda está em competição. Pela frente terá um clube da La Liga que tem vindo a ser uma das surpresas da temporada: o Espanyol. No campeonato é que o cenário não está assim tão positivo. Em dezasseis jornadas já disputadas, o Villareal CF encontra-se na décima oitava posição da tabela classificativa, sendo que ocupa o primeiro lugar de descida, o que não é de todo o lugar desejado pelo clube. Nem é mesmo um lugar representativo da qualidade e da história do clube. Conseguirá, uma vez mais, Santi Cazorla chegar ao sucesso? Só o futuro o dirá. Mas uma coisa é certa, vontade de vencer não lhe faltará.


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#07 janeiro2019

werder bremen

recuperar um histórico Venceu competições nacionais e internacionais, esteve perto da extinção e, hoje em dia, é visto como apenas mais um na Bundesliga. O jovem treinador Florian Kohfeldt procura reconstruir o emblema de Bremen e trazê-lo de regresso à elite europeia, um projeto a longo prazo que já começa a dar frutos no presente.


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francisco craveiro

Sportverein Werder Bremen, também conhecido como SV Werder Bremen, é um clube fundado a 4 de fevereiro de 1899 e das associações mais antigas da Alemanha. Sediada em Bremen, no norte da Alemanha, este clube tem uma história muito forte e é das equipas, atualmente na Bundesliga, com mais títulos internos, registando dezassete títulos nacionais e dois troféus europeus de menor prestígio.

O

O ponto mais alto na história do Werder Bremen foi quando, na temporada de 2003/2004, venceu o título da Bundesliga, com seis pontos de vantagem para o poderoso Bayern Munique e registando o melhor ataque da competição, com setenta e nove golos.

povo que jogas no rio...

Como referido acima, o SV Werder Bremen é dos clubes com mais história em toda a Alemanha. O clube foi fundado através de um grupo de jovens que jogavam juntos e, após vencerem um campeonato local, um dos prémios foi uma bola de futebol. Estes jovens, a partir desse momento, jogaram sempre juntos junto a um rio, daí o seu nome. A palavra ‘werder’ significa ilha fluvial. Anos mais tarde, por volta de 1914, no início da Primeira Guerra Mundial, muitos clubes

extinguiram-se durante esse período, mas o Werder Bremen conseguiu subsistir, mesmo com todas as dificuldades daquele tempo. Entre elas, dívidas contraídas na construção do estádio e, claro, a perda da maioria dos seus membros fundadores na guerra. Uma das figuras que permitiu que o Werder Bremen resistisse a este período foi Hans Jarburg, treinador que assumiu a equipa após o fim da Primeira Guerra Mundial.

Mais que um clube de futebol

Em 1920, o clube mudou o seu nome para Sport Club Werder Bremenm graças a uma restruturação da massa associativa que deu força para o futuro desta instituição. Com isto, o emblema de Bremen deixou de ser apenas um clube de futebol e passou a ser uma agremiação desportiva. Durante o regime nazi e a Segunda Guerra Mundial, o clube prosperou. Com o fim desta era, o clube esteve, mais uma vez, próximo da extinção, já que o novo governo alemão proibiu a reestruturação de agremiações que estivessem em ativo durante o período nazista. Anos mais tarde,mais propriamente em 1961, o Werder Bremen deu a volta por cima e voltou a encontrar o rumo das vitórias. Nesse ano, derrotou o Kaiserslautern (2-0)


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e sagrou-se campeão nacional pela primeira vez, na altura vencendo a actual DFB-Pokal. Em 1964/1965, a equipa conseguiu vencer a Bundesliga, que havia sido estabelecida na temporada anterior. Depois disso, o clube teria o seu momento mais marcante e negativo na temporada de 1979/1980, quando o Werder Bremen desceu para a 2. Bundesliga. No entanto, não demorou muito para que a equipa voltasse à elite do futebol alemão. Na temporada de 1982/1983, o Werder Bremen já estava de volta à primeira divisão nacional e acabou como vice-campeão da Bundesliga. Depois de uma boa sequência na década de 1980, inclusive sendo campeão alemão em 1987/1988, a maior glória veio no início dos anos 90.

Sucesso europeu e nacional

Em 1992, a equipa derrotou o Mónaco (2-0), com golos de Klaus Allofs e Wynton Rufer na final da Taça das Taças conquistando o seu primeiro título europeu. O jogo foi disputado em Lisboa, no estádio da Luz. Na temporada seguinte, veio mais um título interno com a conquista da terceira Bundesliga.

A próxima conquista só iria acontecer na temporada de 1998/1999, quando o Werder Bremen ganhou a Taça da Alemanha uma vez mais. E como já referido no início do artigo, na temporada de 2003/2004, o Bremen venceu novamente a Bundesliga, a única vez em pleno século XXI. Para além disto, é importante destacar que a partir de meados dos anos 2000, conquistaram ainda mais duas Taças da Alemanha (em 2004 e 2009) bem como a sua primeira e única Taça da Liga Alemã, em 2006. Esta competição viria a terminar no ano seguinte. Além disso, na temporada de 2008/2009, foi finalista da Taça UEFA, perdendo o título na final para o Shakhtar Donestk, após prolongamento (2-1). Na ressaca, conquistou mais uma DFB Pokal.

Rivalidade e Adeptos

É importante denotar, que o Werder Bremen, tem como maior rival o Hamburgo SV, no qual disputam o chamado Dérbi do Norte (Nordderby). Bremen e Hamburgo são cidades muito próximas, com cerca de 100 km de distância entre as duas. Juntamente com Berlim, são as três maiores cidades do Norte da Alemanha. De destacar que o Werder Bremen, leva a melhor neste dérbi com 58 vitórias contra 53 do Hamburgo.


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Para além disto, o Werder Bremen tem rivalidades também com o Bayern Munique e o Schalke 04, muito por causa de jogadores e membros do staff do Bremen terem sido adquiridos para Gelsenkirchen no século XXI. Sabe-se que as claques e os grupos ultras na Alemanha são muito fortes e muito intensas. Nesse aspeto, o Werder Bremen regista, atualmente, sete grupos de ultras: Wanderers-Bremen, The Infamous Youth, Caillera, L’Intesa Verde, HB Crew, Ultra Boys e UltrA-Team Bremen. O hino oficial da equipa, intitulado “Lebenslang Grün-Weiß” é de uma banda original alemã. O ambiente no Weserstadion, estádio do Werder Bremen com lotação para 42 mil pessoas, após cada golo, soa uma buzina e a música dos The Proclaimers “I’m Gonna Be (500 miles)” começa a tocar, enquanto todo o estádio acompanha o cântico. Um dos ambientes mais festivos em toda a Bundesliga. Para além disto, a massa ultra do Werder Bremen, desloca-se sempre em peso nos jogos fora do seu estádio. Para terminar, uma curiosidade: o Werder Bremen tem alguns rivais mas também tem dois chamados clubes satélites, com relações de amizade entre as suas claques e os adeptos do Rot-Weib Essen, que se encontra nas divisões distritais alemãs, e, ainda,

o Hapoel Katamon Jerusalem, clube que disputa a segunda divisão israelita, algo no mínimo peculiar...

Atualidade

Esta temporada, a equipa do Werder Bremen encontra-se na décima posição da Bundesliga, com seis vitórias, quatro empates e sete derrotas. Um campeonato com muitos altos e baixos até ao momento, sendo que ainda não conseguiu destacar-se nem no seu estádio, nem fora de portas. Regista também, vinte e oito golos marcados e vinte e nove sofridos. Marca bastante mas a sua defesa também é das mais batidas. De destacar que ainda se mantém em prova na Taça da Alemanha, onde irão enfrentar a equipa do Borussia Dortmund nos oitavos final da prova. O seu treinador Florian Kohfeldt, de apenas 36 anos, assumiu a equipa técnica em outubro de 2017, após a saída de Alexander Nouri. Até ao momento, o jovem treinador já renovou contrato até ao final da temporada de 2020/2021. Depois de ter sido o técnico principal do Werder Bremen II por duas temporadas, Kohfeldt regista, até ao momento, um saldo positivo como treinador principal dos verdes e brancos, com dezanove vitórias, onze empates e quinze derrotas em quarenta e cinco partidas.


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Equipa Base

Muitas novas caras e muitas saídas para esta temporada de 2018/2019 do Werder Bremen. Porém, ainda muitas caras conhecidas permaneceram no clube. Entre elas, o médio Philipp Bargfrede que cumpre a sua décima temporada como jogador do Werder Bremen, um retorno em Martin Harnik ao clube, local onde iniciou a sua carreira e, após ter saído na temporada de 2009, o avançado austríaco de 31 anos decidiu regressar. Para além destes dois casos, podemos falar do capitão Max Kruse. Está a cumprir o seu terceiro ano consecutivo na equipa do Werder Bremen, onde também iniciou a sua carreira e, nas últimas três temporadas, tem sido um dos grandes destaque desta formação, com vinte e cinco golos num total de sessenta e nove jogos. Por fim, com 40 anos, a cumprir a sua última temporada futebolística, o peruano Claudio Pizarro também regressou onde já tinha sido feliz de 2008 a 2011 e, mais recentemente, na temporada de 2015/2016 contribuiu com catorze golos num total de vinte e oito jogos. Aliado a isto, os verdes e brancos contam com jovens promessas como os jovens irmãos Eggestein, o kosovar Milot Rashica, proveniente do Vitesse, e o avançado norte-americano Joshua Sargent que já apontou dois golos nos últimos três jogos.

De destacar, ainda, jogadores com muita qualidade e experiência como Pavlenka na baliza, o experiente lateral-direito checo Gebre Selassie, jogadores como Davy Klaassen e Nuri Sahin, que pretendem relançar a sua carreira nesta equipa, e, na frente, o japonês Yuya Osako, que se destacou ao serviço do Colónia.

Como joga

O ADN táctico de Kohfeldt, esta temporada, tem variado entre o tradicional 4x3x3 e o 4x3x1x2, sendo que Max Kruse, o capitão, é a principal arma, jogando tanto a ponta de lança como no papel de falso 9. O meio campo a três, com o holandês Klaassen, o jovem Eggestein e ainda Mohwald, que tem sido uma surpresa até ao momento. O médio de 25 anos entrou na formação devido à lesão de Phillipp Bargfrede e, até ao momento, tem-se mantido a titular com as suas exibições a grande nível. Na defesa, Gebre Selassie, Langkamp, Veljkovic e o sueco Augustinsson. Dono e senhor da baliza é o checo Jiri Pavlenka, que veio do Slavia de Praga na temporada passada. Kohfeldt gosta de apostar num futebol muito ofensivo em que projeta os seus laterais, que tem


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bastante qualidade ofensiva, mas que, por outro lado, expõe a sua defesa e a prova disso mesmo é o elevadíssimo número de golos sofridos esta temporada, que já custaram pontos importantes. Na frente, Kruse é a peça essencial e vários jogadores desse sector vão rodando, como o japonês Osako, o jovem Johannes Eggestein, Pizarro, Harnik e o explosivo Milot Rashica. O trabalho ofensivo passa todo por Max Kruse. O jogador alemão gosta de distribuir e é por ele que é feita toda a manobra ofensiva. A equipa do Werder Bremen carateriza-se, também, pela sua forte meia distância, com muitos golos fora de área e, igualmente forte, nas bolas paradas. Nesse ponto, destacam-se as qualidades de remate do central sérvio Veljkovic. De destacar que, dos vinte e oito golos no campeonato, seis dos avançados do Werder Bremen já faturaram, pelo menos, um golo esta temporada. Mas os golos também passam pelo meio-campo, com quatro golos de Maximilian Eggestein e ainda dois de Klaassen, ex-jogador de Ajax e Everton. Uma equipa com bastante potencial e que, a manter a sua espinha dorsal, poderá sonhar com um lugar europeu num futuro próximo, até voltar aos grandes palcos que já estava habituado a pisar.


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#07 janeiro2019

Paco Alcácer

o

surpreendente

pacogol Perdeu-se no Barcelona, renasceu em Dortmund. O ponta de lança espanhol tem sido das principais figuras da Bundesliga, tendo conquistado rapidamente os corações dos adeptos do Borussia Dortmund. O clube alemão foi rápido a accionar a compra do espanhol que reencontrou a sua veia goleadora.


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jonathan pertzborn

oooooooor für unseren BVB! Torschützer der Spieler mit der Nummer 9, PACO! ALCÁCER! Este seguimento tem sido habitual no Signal Iduna Park. O speaker do estádio, Norbert Dickel, figura icónica do Borussia Dortmund, já está habituado a proferir estas palavras após um golo marcado em casa. Traduzido para português: “Goooooloooo para o nosso BVB! Marcador do golo com o número 9, PACO!”, seguido de um rugir dos adeptos: “ALCÁCER”. Antes de ser um ídolo do atual líder da Bundesliga, foi de promessa a dispensado, até ser recrutado para a Alemanha e para a seleção espanhola.

T

Francisco “Paco” Alcácer García nasceu em Torrent, Espanha, e formou-se como futebolista nas camadas jovens do Valência. Desde cedo se afirmou como uma das maiores promessas do futebol espanhol, fazendo a sua estreia no escalão sénior aos 16 anos de idade, na temporada de 2009/2010, vestindo a camisola do Valência pela equipa de reservas, na Segunda División B. Com três golos em quinze jogos pelas reservas, Paco ia ganhando experiência a jogar contra profissionais e ao treinar com a equipa principal do Valência. No início da sua segunda temporada como profissional, Paco fez a sua estreia pela equipa principal, jogando os noventa minutos contra o UD Logroñés, numa partida a contar para a Copa Del Rey. Apesar de não ter sido uma opção para Unai Emery, técnico do Valência na altura, o avançado espanhol marcou 27 golos pela equipa B na temporada de 2010/2011 e ajudou os “Los Ché” a subirem para o terceiro escalão do futebol espanhol. Na temporada seguinte, estreou-se na La Liga, no dia 14 de Janeiro de 2012, substituindo Sofiane Feghouli nos últimos vinte minutos de uma derrota frente ao Real Sociedad (1-0). Com apenas 18 anos, ia sendo convocado para a equipa principal, continuando, porém, a ser a principal opção para o ataque da equipa B, onde registava uma média de um golo em cada dois jogos, mostrando desde cedo uma veia goleadora fora do normal.

Empréstimo ao Getafe

Na temporada de 2012/2013, o Valência contava com opções fortes para o ataque, com Jonas, Nélson Valdez, Pablo Piatti ou Roberto Soldado. Paco continuava a crescer na equipa B mas, com o passar dos anos, ia surgindo a necessidade do jovem avançado ganhar experiência num patamar mais elevado, como a La Liga. Com pouco espaço no plantel mas com uma margem de crescimento que entusiasmava os adeptos do Valência, o clube resolveu emprestar o jovem de 19 anos ao Getafe.


#07 janeiro2019 Paco estreou-se frente ao Deportivo La Coruña, jogando apenas vinte minutos num empate (1-1). Desde aí, ia aproveitando as suas oportunidades, apesar de nunca ter assumido a titularidade pelos ‘azulones’. A frente de ataque contava com nomes como o ex-internacional espanhol Daniel Güiza, Álvaro Vázquez ou o venezuelano Miku, dificultando a tarefa do jovem. No entanto, este período permitiu a Alcacer contabilizar minutos preciosos na La Liga, tendo feito, inclusive, balançar as redes por quatro vezes no escalão máximo do futebol espanhol, com o seu primeiro golo a surgir numa derrota por 3-1 frente ao Rayo Vallecano, em janeiro de 2013. Acabando a temporada com vinte e quatro jogos disputados, o avançado voltava a Valência no final do ano, depois de ajudar o Getafe a segurar o confortável sétimo lugar na La Liga.

El regreso del niño prodigio

Depois do seu regresso aos ‘Los Ché’, Paco não demorou muito a se estrear a marcar pela equipa principal, frente ao Krasnodar, a contar para a Liga Europa. Com mais espaço no plantel e, apesar da presença de avançados como Hélder Postiga, Pablo Piatti, Eduardo Vargas, Jonas ou Vinícius Araújo, Paco finalmente ganhava o seu espaço na frente de ataque do Valência. A 25 de janeiro de 2014, estreou-se a marcar na La Liga pelo clube onde foi formado, no empate a duas bolas frente ao Espanyol. Mas foi em pleno Camp Nou que os holofotes caíram em cima do jovem avançado, marcando por duas vezes, incluindo o golo que deu a vitória por 3-2 no território do Barcelona. Ainda na mesma temporada, Paco tinha acabado de fazer 20 anos de idade quando marcou o seu primeiro hat-trick na La Liga. Ainda foi a tempo de ajudar o Valência a dar a volta à eliminatória na Liga Europa, frente ao Basileia (vitória por 5-0 no Mestalla depois de sair derrotado por 3-0 em Basileia). Paco estava “on fire” e era considerado um dos avançados mais promissores a nível europeu, marcando presença em todas as listas de “jovens promessas do futebol mundial”. Uma das razões era o seu estatuto de segundo melhor marcador (sete golos) da edição de 2014/2015 da Liga Europa, atrás de Jonathan Soriano (Red Bull Salzburg), que por sua vez contabilizou oito golos.

Renovação e convocatória para a seleção

No dia 27 de janeiro de 2015, Paco foi recompensado pelo trabalho e a boa temporada efetuada ao serviço do Valência, com a renovação de contrato até 2020, aumentando a sua cláusula de rescisão para os 80 milhões de euros. Com isto, Paco ia-se tornando um dos elementos mais importantes do plantel apesar da tenra idade.


Futebol total Em 2014, Paco Alcácer foi chamado por Vicente del Bosque para os jogos frente à França e Macedónia, no mês de Setembro, estreando-se a marcar frente aos macedónios, numa vitória por 5-1. Ao estrear-se pela seleção espanhola, Paco concluiu um ciclo de jogar ao serviço de todos os escalões da “La Roja” desde os sub-16. Marcou vinte e nove golos na totalidade ao serviço da seleção nas camadas jovens, alcançando a final do Campeonato da Europa de 2010 pelos sub-17, sagrando-se o melhor marcador da competição com seis golos. Mas foi pelos sub-19 que aprendeu o sabor do ouro europeu, ao conquistar o Campeonato da Europa por duas vezes consecutivas, nos anos 2011 e 2012.

Saída de Valência pela porta pequena

Apesar de continuar a ser uma sensação na frente de ataque dos ‘Los Ché’, o último período de Paco Alcácer com a camisola branca não foi dos melhores. Com a chegada de Gary Neville ao comando técnico da equipa do Valência, o avançado não só perdeu a titularidade na frente de ataque como também o estatuto de capitão, depois de uma série de resultados negativos.

Depois de três meses sem fazer balançar as redes adversárias, Paco vingou-se frente ao Eibar, em abril de 2016, marcando um hat-trick e mostrando que ainda tinha muito para dar à equipa. Com a fraca prestação do treinador inglês, foi o português Nuno Espírito Santo quem assumiu o papel de treinador principal e apostou, desde início, no número 9 de 22 anos. Com quinze golos em todas as competições até ao fim da temporada, Paco contribuiu para um fraco décimo segundo lugar alcançado na tabela classificativa, algo que, a meio da temporada, parecia improvável, tendo em conta os maus resultados e a presença nos lugares de despromoção. Paco foi sempre visto como um “miúdo da casa” em Valência. Um ponta de lança móvel, cujos movimentos sem bola e constante pressão sobre a defesa causa dores de cabeça na defensiva adversária. Essas características, juntamente com a veia goleadora demonstrada ao longo da sua ainda jovem carreira, despertaram o interesse de alguns dos tubarões europeus, incluindo o Barcelona, que acabou por oferecer 30 milhões de euros ao Valência pelo jovem ponta de lança. Como era de esperar, a mudança foi recebida com emoções misturadas pelos adeptos dos ‘Los Ché’. Depois de 124 jogos, 43 golos e 17 assistências ao serviço do emblema de Valência, Paco tinha-se tornado um dos ‘fan favourites’. Por isso, a saída depois de uma temporada menos conseguida da formação para um dos rivais na La Liga, não foi bem encarada por alguns adeptos mais “fanáticos”.

Vida complicada em Barcelona

Com a ida para Barcelona, Paco deparava-se com concorrência de classe mundial no trio de ataque orientado por Luis Enrique. É verdade que Paco conseguiu superar o mesmo problema nos tempos do Valência, no início da sua carreira, no entanto, o cenário era significativamente diferente em Barcelona, com o trio de ataque dos blaugrana a ser composto por Luis Suárez, Neymar e Lionel Messi, jogadores de classe mundial. Luis Enrique teceu fortes elogios ao avançado quando este começou a treinar pela primeira vez com os novos colegas de equipa: “é uma grande influência. Está a atingir um nível que muitos jogadores raramente atingem. É um milagre o que ele está a fazer neste momento”. Paco foi aproveitando as suas oportunidades, jogando sempre a sair do banco ou ocupando um lugar no ataque quando um dos jogadores mencionados apresentava uma lesão ou necessitava de descanso. Sendo este um cenário longe do ideal para um ponta de lança acostumado à titularidade indiscutível e com fome de golo, o ano a seguir não tornou as coisas mais fáceis para Paco. Com a saída de Neymar para o Paris Saint-Germain, o Barcelona contratou Arda Turan ao Atlético de Madrid, Ousmane Dembélé ao Borussia Dortmund e Gerard Deulofeu ao Everton. Juntando ainda Luis Suárez, um dos melhores pontas-de-lança do mundo, e Lionel Messi, um dos melhores jogadores do planeta, Paco nunca atingiu a consistência que desejaria no que toca à presença no onze inicial dos Culé. Com a suspensão de Luis Suárez na final da Copa del Rey, Alcácer teve a oportunidade de jogar os noventa minutos frente ao Alavés, marcando o terceiro golo e carimbando a conquista do troféu. Apesar desse momento positivo, os adeptos e a imprensa criticavam o treinador Ernesto Valverde, por não colocar Paco a jogar com maior regularidade. Uma saída por via de empréstimo era não só o cenário mais provável, como também o mais falado nos meios de comunicação social. Paco somou meia centena de jogos ao serviço do Barcelona, marcando por quinze ocasiões, além de outros oito passes decisivos para golo.

Super Paco

Uma das muitas alcunhas que os adeptos do Borussia Dortmund deram ao avançado espanhol foi a de Super Paco e parece ser a mais utilizada. Depois de uma temporada bem conseguida de Michy Batshuayi com a camisola do Borussia, o Chelsea não aceitou vender o avançado belga, apesar do desejo da formação alemã.


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Com a saída de Pierre-Emerick Aubameyang para o Arsenal, foi no último dia do mercado de inverno que o Borussia Dortmund conseguiu garantir os serviços do belga, mostrando dificuldades em encontrar o homem certo para a frente de ataque. Com o fim da temporada de 2017/2018 e o fim do empréstimo de Batshuayi, Paco Alcácer foi o homem escolhido pelos diretores da formação de Dortmund. Paco rumava, assim, para a cidade alemã a título de empréstimo... mas não demorou muito tempo a causar impacto em campo e nas finanças do clube.

Estreia no Signal Iduna Park

O primeiro jogo com o símbolo preto e amarelo ao peito é sempre especial, sabendo a história do clube e o que o futebol significa para os adeptos da cidade de Dortmund e arredores. Estrear-se em frente à “Gelbe Wand”, composta por 25 mil adeptos efusivos, é algo para mais tarde contar aos netos e bisnetos. Na partida frente ao Eintracht de Frankfurt, a contar para a terceira jornada da Bundesliga, Paco viveu esse momento, entrando aos sessenta e sete minutos. A única maneira de poder superar a sensação de estreia é marcar na mesma, causando impacto imediato. Foi isso que Paco Alcácer, o novo número 9 do Borussia Dortmund, fez.

Aos 88 minutos, na sequência de um pontapé de canto marcado à maneira curta, Sancho perdeu a bola, sobrando para Paco que, ao primeiro toque, com o pé esquerdo, rematou com efeito para o fundo das redes de Kevin Trapp, fazendo os 80 mil adeptos no estádio e os milhares à volta do mundo cantar o seu nome. Foi apenas o início do excelente momento de forma de Alcácer, nome que os alemães tiveram de aprender a saber pronunciar.

O suplente de ouro

Depois de ser suplente não utilizado frente ao Nürnberg, numa vitória confortável por 7-0, o Dortmund deslocava-se à sempre complicada casa do Bayer Leverkusen. À semelhança do jogo frente ao Frankfurt, Paco era uma das opções de Lucien Favre vindas do banco, entrando ao minuto 63. Aos 85, colocou o Dortmund em vantagem no marcador, ampliando a mesma aos 90+4, fazendo vibrar os adeptos vestidos de amarelo e preto, e captando a atenção de todos os jornalistas, críticos e fãs de futebol, inclusive da imprensa espanhola, que ridicularizava o Barcelona pelo empréstimo do avançado goleador. Na sua estreia pelo novo clube na prova milionária, a história foi diferente mas com um final igual.


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Com a sua primeira presença no onze inicial, Paco marcou aos 72 minutos, após assistência de Marco Reus, algo ao qual os adeptos ‘Borusse’ já se habituaram com o passar do tempo. Apesar de uma grande penalidade falhada, nada apagou os noventa minutos de qualidade de Paco Alcácer e, com mais um golo na conta pessoal, a confiança encontrava-se mais alta do que nunca. Com um forte plantel do lado do Borussia Dortmund, o papel de Paco ainda não é definitivo, tal como no caso de quase todos os outros jogadores. A chave do sucesso do Borussia tem sido a possibilidade de apresentar um onze inicial diferente em todos os jogos. Na frente de ataque, Reus, Gotze e Paco têm rodado de forma frequente, com Paco a começar muitas vezes o jogo no banco e, consequentemente, trazer velocidade, eficácia e mobilidade ao ataque numa fase terminal do jogo.

Sudtribune na escala de Richter

Os habitantes de Dortmund não estão habituados a sismos na sua cidade, daí o grande choque quando, frente ao Augsburgo, em casa, a ‘Gelbe Wande’ fez tremer a cidade inteira ao celebrar o milagre de Alcácer. O Borussia perdia por 1-0 ao intervalo, com um golo de Finnbogason. Favre não demorou muito tempo a colocar o espanhol em

campo. Três minutos depois de entrar, Paco fez balançar as redes da baliza que se localiza mesmo em frente ao muro amarelo composto pelos adeptos do Dortmund. Num jogo onde o Dortmund nunca soube tomar controlo do jogo, Max voltou a adiantar os forasteiros. Aos 80 minutos, Raphael Guerreiro assistiu o fenómeno espanhol, que voltou a marcar e devolver a igualdade ao Borussia. Num jogo de loucos, Götze adiantou a equipa da casa no marcador, antes de Gregoritsch igualar de novo a partida três minutos depois, aos 87. Depois de inúmeras tentativas do Borussia em voltar a alcançar a vantagem no marcador, Cordova fez falta sobre Paco à entrada da área e foi o mesmo a assumir a responsabilidade de bater o livre, que seria o último pontapé na bola da partida, aos 90+6 minutos. Com um remate colocado, Paco fez tremer o Signal Iduna Park, batendo Luthe e colocando o mundo inteiro a dizer o mesmo nome: Paco Alcácer. Depois desse jogo, a confiança dos jogadores em campo em outros jogos aumentou drasticamente, seguindo num ritmo sem igual. Com algumas exibições de gala, o Dortmund esteve até dezembro sem perder um único jogo, jogando um futebol de alta qualidade e procurando sempre os golos e as corridas de Paco.


Futebol total Apesar de começar muitos jogos no banco, Paco é uma peça fundamental na máquina bem oleada de Lucien Favre. Paco marcou ainda frente ao Stuttgart, começando o jogo no onze inicial e abrindo o marcador aos 25 minutos de jogo. Seguiram-se dois jogos (Wolfsburg e Atlético de Madrid), onde o avançado espanhol começou no onze inicial, mas não conseguiu marcar.

Vitória no “Der Klassiker”

O “Der Klassiker” é um dos jogos mais antecipados por todos os adeptos da Bundesliga e, juntamente com o Revierderby, é dos jogos mais importantes para cada adepto do Borussia Dortmund. Num jogo com cambalhotas no marcador, inúmeras oportunidades e emoções, Paco entrou aos 59 minutos e mostrou que entendia o significado que o jogo tinha para os adeptos. Aproveitando um passe em profundidade de Mario Götze, Paco chapelou Neuer aos 73 minutos de jogo, carimbando uma reviravolta no marcador e fazendo, novamente, os adeptos cantar o seu nome. Desde então, Paco já marcou frente ao Mainz, Freiburg, Werder Bremen e Düsseldorf, com três desses quatro golos a acontecerem depois do avançado começar o jogo no banco. Uma autêntica arma secreta para Favre. Paco é, neste momento, o melhor marcador da Bundesliga com doze golos, apresentando uma média impressionante de 1,25 golos e de um golo a cada meia hora jogada, algo nunca antes feito por um avançado no seu primeiro ano na Bundesliga. É também o jogador do principal escalão do futebol alemão com mais golos como suplente, com nove golos marcados depois de começar o jogo no banco. Quando perguntaram a Paco qual o segredo destas estatísticas fora do comum, Paco limitou-se a responder: “é um pouco de tudo… sorte, confiança, confiança do treinador e trabalhar todos os dias para me tornar um jogador melhor”. Encaixando que nem uma luva no sistema de Lucien Favre, Paco procura agora continuar com a mesma veia goleadora que o lançou à ribalta no futebol mundial com a camisola do Valência e que o coloca nas bocas do mundo usando a camisola preta e amarela do Borussia Dortmund ou vermelha da seleção espanhola.


#07 janeiro2019


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#07 janeiro2019

André Nogueira

o mês em que o CA River Plate venceu a Taça dos Libertadores frente ao seu eterno rival Boca Juniors, fomos atrás de um dos ídolos dos adeptos do clube argentino. Considerado um dos melhores jogadores uruguaios da história do Futebol, é possível que seja um desconhecido para muitos portugueses. Mas... e se dizermos que Enzo Francescoli é o ídolo de Zinadine Zidane? Foi considerado o Rei da América por duas ocasiões e ainda venceu três Copas América com o seu país. Hoje apresentamos a história de Francescoli, desde desconhecido até ser ídolo.

N

O Começo no uruguai

Enzo Francescoli Uriarte nasceu a 12 de novembro de 1961, em Montevideu. Foi na sua cidade natal que se lançou no futebol. Com apenas 18 anos, estreava-se a muito bom nível pelo Montevideo Wanderers. Porém, a carreira podia ter começado de maneira diferente. Adepto do Peñarol, chegou a treinar no clube e a encantar os treinadores mas, por passar mais tempo sentado a ver os outros treinar, desistiu da ideia de jogar no seu clube de coração. No primeiro ano, guiou o Montevideo Wanderers ao melhor resultado de sempre: o segundo lugar, atrás do campeão Nacional, também vencedor da Taça dos Libertadores e a extinta Taça Intercontinental, nesse ano. Na temporada seguinte, voltavam a surpreender e só terminarem atrás de Nacional e Peñarol, porém, ainda sem conseguir uma qualificação para a Taça dos Libertadores por perderem a ‘liguilha’ do segundo ao sétimo lugar.

enzo francescoli príncipe

do uruguai

No início do ano de 1982, com apenas 21 anos, faz a estreia pela seleção uruguaia. E, para completar um ótimo ano, depois de um quinto lugar na liga, o Montevideo Wanderers venceu a ‘liguilha’ e classificou-se para a Taça dos Libertadores, por fim.

ídolo na argentina

Três temporadas e uma Copa América serviram para convencer os argentinos do CA River Plate a quererem o jovem médio ofensivo.

Enzo atravessava a fronteira para a sua primeira de duas experiências por um dos principais emblemas de Buenos Aires, deixando a sua marca desde cedo. No primeiro ano, os resultados era desastrosos e o CA River Plate quase foi despromovido, não fossem algumas mudanças nos estatutos que ajudavam as equipas mais conhecidas a terem mais dificuldades em descer. Na temporada seguinte, com o campeonato dividido em duas fases, a primeira, em eliminatórias, viu o River perder a final frente o Ferro Carril Oeste. Na segunda fase, num campeonato como os atuais, a equipa ficouse pela quarta posição. Porém, as exibições de Enzo eram cada vez melhor e, em 1984, recebia o prémio de Rei da América, que consagra o melhor futebolista sul-americano. No começo do ano seguinte, sem grandes surpresas, tornava-se, também, o primeiro estrangeiro a vencer o prémio de melhor jogador a atuar na Argentina.


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No campeonato de 1985/1986, o único com apenas uma fase, como eram realizadas a maioria das ligas europeias, o CA River Plate sagrou-se campeão e confirmou o estatuto de equipa com melhor plantel, muito com a base da seleção uruguaia.

Campeonato do Mundo e mudança para França

Convocado para o Campeonato do Mundo de 1986, Enzo e a sua seleção não maravilharam os adeptos. Depois de passarem o grupo com um dos melhores terceiros, foram eliminados, nos oitavos de final, pela Argentina de Maradona, que viria a vencer a competição. Já conhecendo as várias propostas, optou pela mudança para o recém promovido à Ligue 1: o Racing Paris, um novo rico que sonhava voltar a ganhar títulos e, até, vencer a Liga dos Campeões. Apesar da contratação de várias estrelas, foi Enzo o melhor marcador (com o dobro dos golos do segundo melhor) e a ajudar a equipa a evitar a despromoção. Graças a tal feito, tornou-se, também, o melhor jogador estrangeiro a atuar em França. A chegada de Artur Jorge trouxe uma nova cara à equipa mas, sem vencer nenhum dos últimos doze jogos, ficou-se pela sétima posição.

Mas os resultados não apareciam e o Racing Paris voltava a conseguir a permanência por pouco. Neste caso, apenas a diferença de golos safou o clube. Enzo Francescoli, melhor marcador da equipa pelo terceiro ano consecutivo, desistiu do projeto e transferiu-se para o Marselha, que tinha feito a dobradinha nesse ano.

Um ano especial

Bastou uma temporada no Marselha para Enzo conquistar os adeptos e, como já referido, tornar-se o ídolo de Zidane, que o tentava imitar em campo e ainda o homenagearia dando o seu nome a um dos filhos (Enzo Zidane). Numa equipa ao nível da sua qualidade, ajudava o Marselha a renovar o título da Ligue 1. Na Liga dos Campeões, o SL Benfica eliminava os franceses, por golos fora, retirando a possibilidade de Enzo conquistar o título que tanto lhe faltou. Essa partida ainda hoje é recordada pelo golo irregular que os portugueses marcaram com a mãode Vata, perto do fim, algo que os franceses nunca esqueceram ou perdoaram. Na taça, também foram eliminados nas meias finais... contra o Racing Paris. Ainda assim, a equipa parisiense sentiu a falta do astro uruguaio e não evitou a despromoção, nessa temporada.


#07 janeiro2019 Finalmente, Itália

Depois de viajar para Itália para disputar mais um fraco Campeonato do Mundo por parte do Uruguai, Enzo decidiu aceitar uma proposta para o campeonato italiano, algo que já vinha recebendo desde a saída de Platini da Juventus. A escolha foi surpreendente, mudando-se para o pequeno Cagliari. Voltava às situação da luta pela permanência, embora com menos golos marcados. No terceiro e último ano, levaria o clube ao sexto lugar e um lugar na Taça UEFA. Transferia-se para o Torino, vencedor da taça nesse ano, em busca de mais títulos mas a escolhia mostrou-se errada. Não venceu nenhuma competição e ainda lutaram pela permanência, e não os lugares europeus que sonhavam. Como tal, Enzo abandonou o país.

Regressar onde foi feliz... e fazer melhor

Já numa fase final da carreira e sem brilhar em Itália, Enzo sorri ao convite do CA River Plate para regressar à Argentina. Aí, conseguiu o título de campeão tal como quando saiu, embora agora com o campeonato dividido nas atuais Apertura e Clausura. No Apertura, a formação de Buenos Aires foi campeã invicta pela primeira vez. Já em 1995, a equipa ficou-se pelo meio da tabela nos campeonatos nacionais e, na Taça das Libertadores, caiu nas meias finais, aos pés do Atlético Nacional, nas grandes penalidades. Retirando-se da seleção (após vencer mais uma Copa América) para se concentrar em definitivo no CA River Plate e em vencer a Taça dos Libertadores, Enzo conquistou o título que não celebrou por ter saído em 1986. Também frente ao América de Cali, o River deu a volta à eliminatória (0-1 e 2-0), em casa, e levantou o seu segundo troféu, tantos quando o rival Boca Juniors. O ano não foi mais saboroso porque os argentinos caíram na final da Taça Intercontinental, frente à Juventus... de Zidane. A temporada de 1997 seria a última de Enzo Francescoli. Saiu pela porta grande, com mais uma vitória no Apertura e, desta vez, também no Clausura. Num dos últimos jogos, o River venceu o título que nunca tinha conseguido: Supertaça Sul-Americana, contra o São Paulo (2-1). O seu país falhava a qualificação para o Campeonato do Mundo de 1998, mas Enzo sorria. A sua carreira tinha sido demasiado boa e ficava como um ídolo de vários clubes e jogadores.


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#07 janeiro2019

Taça dos libertadores

no final foi... histórico! Numa final inesquecível por mil e uma razões distintas, o CA River Plate conquistou a quarta CONMEBOL Libertadores da sua história, após vencer na final os rivais de Buenos Aires, o CA Boca Juniors, por cinco a três, no agregado das duas mãos.


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jorge nunes

uis o destino que a última final da Taça Libertadores da América do Sul disputada a dois jogos pusesse, frente a frente, dois dos maiores rivais do mundo do futebol. De um lado, o CA Boca Juniors, que já venceu esta competição por seis vezes e procurava acrescentar mais uma à coleção, principalmente frente ao rival que, durante tanto tempo, foi alvo que ataques aquando à descida à Segunda Divisão em 2011. Do outro estavam os ‘milionários’ do CA River Plate, um clube que, apesar de ser o mais titulado da Argentina, contava “apenas” com três Libertadores no seu palmarés. Com Marcelo Gallardo ao leme da equipa, a equipa recuperou o prestígio e troféus. Ganhasse quem ganhasse, esta seria, sem margem para dúvidas, a conquista mais saborosa da história desse clube.

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Já com um clima bem mais adequado à prática desportiva, o primeiro jogo desta “superfinal” realizou-se finalmente. Tanto os jogadores como as equipas técnicas de ambos os clubes olhavam para esta eliminatória como uma oportunidade de ouro para entrar na eternidade do futebol, mas também sabiam que, em caso de derrota, seriam conduzidos a um estado de desilusão sem precedentes. Por essa razão, era de esperar que “cautela” fosse a palavra de ordem da partida. Em 2018, as equipas já se haviam defrontado por três vezes antes de chegarem a esta final, sendo que todos esses encontros foram ganhos pelos ‘milionários’. Esta era uma estatística que o CA Boca Juniors procurava quebrar, ainda para mais jogando em casa, diante do seu público.

Primeira mão: Muita emoção, pouca decisão

O ambiente no estádio estava fiel ao que sempre é: impressionante. Enquanto no estádio estavam centenas de jornalistas de todos os cantos do Mundo, independentemente das horas a que o jogo passasse nos seus países, e outros representantes de topo, como Gianni Infantino, presidente da FIFA, fora de campo estavam milhões de adeptos presos às televisões à espera de um espetáculo argentino. Até o Zenit acusava Leandro Paredes de forçar uma expulsão num jogo para viajar para Argentina e apoiar o seu Boca Juniors. Apesar do adiamento do dia do jogo e do tempo que se fez sentir na tarde anterior, foi em clima de grande festa (e loucura), com as bancadas pintadas, na sua maioria de azul, que arrancou a tão esperada final da CONMEBOL Libertadores.

10 de novembro de 2018. Esta seria uma data de grande importância para qualquer adepto de futebol da América latina, em especial para os argentinos. Todos queriam estar presentes para testemunhar este acontecimento ao vivo e nem a chuva quis faltar à festa, aliás, esta foi o centro das atenções nesse dia. Um dilúvio tornou a cidade de Buenos Aires num autêntico lago e nem a grande vontade dos adeptos em ver o jogo conseguiu fazer com que este se realizasse nesse dia. Os xeneizes já enchiam as bancadas do La Bombonera três horas antes do pontapé de saída, mas tiveram que esperar pelo dia seguinte para ver a bola rolar.


#07 janeiro2019


Futebol total O CA River Plate começou o jogo mais atrevido e perigoso, criando várias situações de ataque em que testou a atenção do guardião Rossi. Mas seria o CA Boca Juniors a primeira equipa a adiantar-se no marcador. Aos 34 minutos de jogo, num ataque pelo lado esquerdo do ataque Azul y Oro, Ramón Ábila rematou forte para defesa de Franco Armani mas, na recarga, o próprio avançado decidiu que, desta vez, a bola só parava no fundo das redes. Um a zero para o Boca e o ambiente no estádio era apoteótico. Os xeneizes tocaram o céu, longe de esperar que apenas um minuto depois, precisamente na jogada seguinte, os ‘milionários’ respondessem na mesma moeda, com um golo do goleador Lucas Pratto, após um remate cruzado que entrou junto ao poste esquerdo da baliza de Rossi. Estava restabelecido o empate no marcador e tudo voltava à estaca zero. Se a reação ao golo sofrido por parte do CA River Plate foi perfeita, a do CA Boca Juniors não ficou muito atrás. A equipa da casa, empurrada pela sua “afición”, começou a criar mais situações de perigo, encostando os rivais de Buenos Aires às cordas. E mesmo ao cair do pano da primeira parte, após um livre cobrado na zona central do terreno de jogo, Dário Benedetto desviou de cabeça e voltou a adiantar a equipa de La Boca no marcador! Desta vez o estádio veio quase a baixo e não deu tempo para o River tentar qualquer resposta, visto que o intervalo chegaria no momento seguinte. Na segunda parte, a “chuva de oportunidades e de golos” abrandou. As equipas passaram a jogar mais com a cabeça do que com o coração. Ainda assim, houve tempo suficiente para os ‘milionários’ nivelarem mais uma vez o placar, com um golo apontado por Carlos Izquierdoz na própria baliza, a estabelecer o resultado final de dois igual. Um infortúnio que apareceu de muito bom grado para o CA River Plate, que assim levaria para o seu reduto todas as decisões. A segunda mão desta “superfinal” jogar-se-ia no estádio Monumental de Nuñez, a 24 de novembro. Era importante relembrar que, na final da Libertadores, os golos fora não são contabilizados para desempatar a segunda volta.

Quando o ‘jogo bonito’ se tornou feio

Chegava o dia de todas as decisões. O dia mais esperado por muitos adeptos de futebol nesta temporada desportiva. O dia em que descobriríamos qual seria o novo campeão sul americano de futebol: River ou Boca. O mundo estava de olhos postos num jogo de bairro em palco continental. Este tinha tudo para ser um dia memorável, mais uma página dourada do livro do futebol. Sim, tinha… porque nada disto aconteceu, fazendo com que o jogo voltasse a não ser disputado no dia planeado.


#07 janeiro2019 A caminho do estádio Monumental, terreno dos ‘milionários’, alguns adeptos do CA River Plate deixaram o ódio pelo rival ultrapassar a paixão pelo desporto e, na altura em que o autocarro do Boca passava nas ruas circundantes do recinto, atacaram a viatura, arremessando vários objetos como pedras ou garrafas em direção do mesmo. O resultado desse triste incidente fez com que alguns jogadores do CA Boca Juniors ficassem com mazelas notórias e, consequentemente, incapacitados de jogar. Mesmo o motorista do autocarro afirmou ter ficado temporáriamente cego e que foi um elemento da equipa técnica do clube a terminar o percurso. Em causa estava o gás pimenta lançado pela polícia para acalmar e afastar os adeptos da equipa visitante que, devido às janelas partidas, entrou, também, pelo autocarro. A CONMEBOL queria que o jogo não voltasse a ser realizado noutra data, o CA Boca Juniors recusava-se a entrar em campo, afirmando não ter condições para tal. A hora de início era adiada para o horas mais tarde e, mais tarde, novamente atrasada. O presidente da FIFA já abandonava o estádio, apesar de adeptos e jornalistas ainda não terem qualquer informação. Com a constante recusa do CA Boca Juniors de entrar em campo, a CONMEBOL foi forçada a adiar a decisão final desta competição. Até o presidente do CA River Plate apoiava a decisão e colocava-se do lado dos grandes rivais. Porém, criava agora uma nova polémica. O CA Boca Juniors recusava jogar à porta fechada, o CA River Plate pedia para jogarem, uma vez mais, no terreno do adversário. Sem querer que o segundo jogo fosse cancelado, a CONMEBOL voltou a tomar uma decisão polémica e anunciou a data de 9 de dezembro como o novo dia da final, a ser realizada em campo neutro. Aliás, tão neutro que até nesse ponto a final se tornou histórica: o recinto elegido para receber esta partida foi o estádio Santiago Bernabéu, em Madrid. Ambos clubes protestavam. O CA River Plate até ameaçou não viajar para a capital espanhola. O motivo era simples: as viagens eram demasiado caras para os seus adeptos viajarem, vários adeptos com bilhete perderiam a oportunidade de ver o seu clube, ao vivo, a disputar uma das finais mais importantes de toda a história do futebol. Ainda sem a decisão final dos ‘milionários’, centenas de adeptos do CA Boca Juniors recebiam a equipa em grande festa, em Madrid. A famosa Gran Vía era pintada de azul e dourado enquanto os vermelhos e brancos ainda estavam na Argentina, na sua grande maioria, sem saber se a equipa ia ou não viajar nos próximos dias e disputar a segunda volta.


Futebol total Enfim, a segunda mão

Continentes diferentes, a mesma competição. Já sem incidentes e com o público misto nas bancadas, CA River Plate e CA Boca Juniors entravam em campo naquele que era, para muitos, o jogo mais importante das suas carreiras. A partida começou com um Boca mais forte, mais atrevido e mais perigoso. Parecia que os incidentes ocorridos junto ao Monumental tinham fortalecido o espírito de equipa do Boca, a quem a opinião pública apontou como o “único justo vencedor possível” da competição, uma vez que os jogadores foram vítimas de ataques que em nada representam os princípios desportivos. A um minuto do intervalo, apareceu a primeira explosão de alegria em Madrid e para os ‘xeneizes’. Darío Benedetto apareceu isolado e, cara a cara com Franco Armani, não perdoou, inaugurando o marcador, resultado a esse que não se alteraria até ao intervalo. As equipas recolhiam para o balneário com ânimos contrastantes e ideias também elas muito distintas da atitude que deviam tomar quando a partida retomasse, para os últimos 45 minutos desta épica final. Para já, era o Boca que estava mais perto de fazer e celebrar história. Recomeça a partida no Santiago Bernabéu e foi clara a vontade do CA River Plate em reverter a situação negativa em que se encontrava. Arriscaram mais, adotando um estilo de jogo mais ofensivo, que assustou e obrigou o CA Boca Juniors a recuar as suas linhas. O tempo ia passando lentamente e, ao mesmo tempo, rapidamente, sem alterar a velocidade. Os adeptos dos ‘milionários’ mostravam o ar de frustração por não conseguirem quebrar este enguiço... Até que apareceu. Ao minuto 58, assistiam ao momento chave desta final, pese embora ninguém o soubesse na altura. A entrada para jogo de Juan Quintero, velho conhecido do futebol português, com vários anos de ligação contratual com o FC Porto, fez a diferença na partida, com a sua criatividade e técnica, deixando a defesa do Boca impotente para travar as investidas de ataque dos rivais. Desde essa altura, o River ficou bem mais perigoso e dez minutos bastaram desde a entrada do colombiano para essa pressão se transformar em golos. Uma jogada brilhante construída com passes ao primeiro toque pelos atacantes do River, que sobrou para os pés de Lucas Pratto. O lance só terminou com um remate colocado para o fundo da baliza de Estebán Andrada. O empate no jogo e na eliminatória estava estabelecido e, assim, se iria manter até ao final dos noventa minutos. Dois golos não foram suficientes para encontrar um vencedor para esta competição, por isso ter-se-ia de recorrer a um tempo extra de mais meia hora de futebol.


#07 janeiro2019


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Como o jogo estava a ser (tão bem) disputado, os adeptos até agradeciam esse prolongamento. Pronto, todos menos os do Boca Juniors. Na primeira parte pouco aconteceu, parecia que o cansaço estava a tomar conta dos atletas. Mas, aos 109 minutos de jogo, na segunda parte do prolongamento, chegaria o momento de maior inspiração da final, produzido, claro está, por Quintero. O colombiano fez um remate sensacional de fora da área, sem quaisquer hipóteses de defesa para o guardião do Boca. A remontada estava consomada e agora era o CA River Plate que estava com mão e meia na taça.

de meio campo sem qualquer oposição, onde no final encontrou a baliza adversária completamente à sua mercê. O jogador não se fez rogado, não pediu permissão e atirou impiedosamente para o fundo da baliza, fazendo um dos golos mais fáceis da sua carreira e fechando, assim, o jogo e a final da CONMEBOL Libertadores 2018. A partida terminaria pouco depois. 3-1 no final do jogo (5-3 no agregado das duas mãos). O CA River Plate é o novo campeão sul americano de futebol.

A cada minuto que passava, mais se sofria no Bernabéu. Os ‘milionários’ ansiando o final da partida e os ‘xeneizes’ rezavam por um golo. Já no período de compensação, o CA Boca Juniors beneficia de um canto do lado esquerdo. Até Andrada subiu à área neste momento de maior desespero, onde já se jogava totalmente com o coração. O lance iria mesmo acabar em golo... mas na baliza contrária. Um contra ataque rápido produzido pela equipa do River fez com que Pity Martínez corresse mais

!River campeón!

Já se sabia de antemão que as ruas de Buenos Aires seriam o epicentro da festa e da loucura mal soasse o apito final. A única coisa que se desconhecia eram as cores com que se iriam pintar as principais artérias da capital


#07 janeiro2019

argentina: se de azul e dourado ou vermelho e branco. Quis o destino que ganhassem os vermelhos e brancos. Foi uma explosão de alegria na festa que durou largas horas e contou com a presença de centenas de milhares de pessoas. Esta é a quarta vez que o CA River Plate conquista a Taça Libertadores da América do Sul, mas é, certamente, a conquista mais saborosa dos ‘milionários’, por ter sido conseguida precisamente contra o maior rival.

De olhos postos nos Emirados Árabes Unidos

Como é já tradição, em dezembro de cada ano joga-se o Campeonato do Mundo de Clubes, onde participam, entre outras equipas, os campeões de continentes como a Europa, neste caso o Real Madrid, e da América do Sul, com o CA River Plate.

Evidentemente, o representante da América Latina procurava ganhar a segunda taça de Campeão do Mundo do seu palmarés. Mas, para isso, precisava de vencer a modesta equipa do Al-Ain, anfitriã do torneio, em primeiro lugar. Perante a única única não campeã de um torneio continental, o que não parecia tarefa difícil, acabou por ser. A equipa árabe surpreendeu tudo e todos e conseguiu levar o jogo empatado para lá tanto dos noventa como dos cento e vinte minutos de jogo. Na lotaria dos penáltis, a formação da Arábia Saudita foi mais eficaz, vencendo por 5-4. O Al Ain avançaria para a final onde acabaria derrotado por um todo-poderoso Real Madrid, depois de também ter derrotado o Kashima Antlers na partida anterior (1-3). O CA River Plate regressaria à Argentina sem esse troféu mas com a certeza de que, independentemente da campanha que fez nesta competição, regressariam tal e qual como partiram, como campeões da América do Sul, para fúria dos adeptos do Boca Juniors que jamais acreditaram na derrota.


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francisco craveiro

Revista Futebol Total decidiu sair da sua zona de conforto e abordar este tema terá interesse para os leitores e, sendo que faço parte deste meio, creio ser a pessoa indicada para trazer uma abordagem um pouco mais informada sobre esta matéria.

A

O que é o eSports?

Cada vez mais, fica difícil não associar jogos ou o conhecido gaming aos eSports. Para os mais leigos, eSports é o chamado desporto eletrónico, no qual existem competições organizadas de vários jogos, com equipas e jogadores profissionais envolvidos. A isso, aliam-se grandes eventos com transmissões ao vivo e prémios monetários para os participantes. Normalmente, associa-se o conceito de eSports a outro tipos de jogos, como jogos de estratégia, entre eles League of Legends ou DOTA(MOBA’s), bem como jogos FPS de First Person Shooter (CS:GO), entre outros... Mas para além destes jogos, os famosos PES e FIFA surgem na frente daqueles que são os simuladores de Futebol virados para o eSports. É disso que vamos falar aqui e que será interessante para os leitores da Revista Futebol Total. Hoje em dia, os eSports em Portugal ainda não conseguem ter o alcance que existe noutros países

da Europa ou nos Estados Unidos, no entanto, o interesse tem vindo a aumentar ao longo dos anos. Para oferecer um exemplo forte e fundamentado, a Federação Portuguesa de Futebol está associada ao FIFA e a EA Sports, criando a FPF eSports que, atualmente, organiza competições de FIFA 19 em dois modos: o FIFA 1v1 (torneios) e ainda o FIFA Pro Clubs (simulador 11v11). Sem entrar, em grandes detalhes (porque existe uma grande complexidade em torno disto tudo), inúmeras multigamings estão envolvidas, incluindo clubes reais da nossa Liga NOS e não só, que tem, neste momento, e-Sports. Entre elas, Sporting CP, Vitória SC, Vitória FC, CS Marítimo, SC Braga, entre outros. Todas estas multigamings e clubes estão-se a associar, cada vez mais, aos eSports e vêm, igualmente, dar uma oportunidade de visibilidade e de mercado.

A nossa liga

Aprofundando a criação da FPF eSports, esta secção foi criada de maneira a apoiar os talentos nacionais em torno do FIFA e, de alguma forma, conseguir criar condições para que os melhores jogadores nacionais compitam ao mais alto nível nas competições internas e internacionais. A divulgação de todas estas plataformas tem sido cada vez maior, através das redes sociais e de eventos como a Lisboa Games Week, Allianz Challenges, Comicon, entre outros.


#07 janeiro2019

Abordando apenas o eSports futebolístico, por assim dizer, o FIFA é predominante neste mercado. Na FPF eSports, três plataformas estão no ativo: a PS4, a XBOX e o PC. Ultimamente, todas as provas tem sido direccionadas para a plataforma de PS4, no entanto, todas elas estão presentes nos modos já referidos (FIFA 1v1 e FIFA Pro Clubs). Existem cada vez mais, jogadores profissionais de FIFA 1v1, entre eles, um dos nomes mais conhecidos da scene nacional é Rastartur, jogador profissional Sporting CP eSports. Jogador que, inclusive, está a disputar torneios estrangeiros ao representar os leões. No caso do FIFA Pro Clubs, na PS4 existem até quatro divisões com mais de 16 equipas por cada divisão e as competições são iguais às da FPF, com Campeonatos, Supertaça, Taça de Portugal e Taça da Liga. É sempre complicado explicar aos mais duvidosos do que se trata o eSports e o FIFA eSports. Mas existe muito potencial em Portugal e, cada vez mais, este modo de vida se está a expandir. As possibilidades em Portugal não se esgotam. É importante pensar num futuro já aqui ao lado, em que as potencialidades em acolher equipas e jogadores serão cada vez maiores, não só no FIFA e PES, mas como noutros jogos eletrónicos, de maneira a fornecer-lhes as condições necessárias de competição e os prémios

a existirem em mais quantidade e número. No que toca ao PES 2019, os modos não são assim tão simples e a única participação portuguesa é a existência de uma equipa do Boavista e-Sports, a participar em competições de Pro Evolution Soccer. Equipa que está a competir, internacionalmente, contra Barcelona, Mónaco, entre outras equipas. Gostaria de finalizar, dizendo que os eSports são o presente e futuro. É importante ver que isto transcende e deixa apenas de ser um “joguinho” e um hobby para começar a ser um emprego, uma maneira de estar (e cada vez mais forte nas atuais gerações). Este fenómeno social e modalidade desportiva apresenta muitos desafios, muitos problemas, muitas soluções e muitos pontos positivos para os fãs de videojogos. O futuro passa por aqui. Falo por experiência. Sempre fui um apaixonado por videojogos e, atualmente, jogo numa equipa de eSports. Para além de ser um hobby e diversão, trazem responsabilidades aliadas. Existem rotinas de treino e todo um mundo em redor. Os eSports em Portugal, progressivamente, vão movendo cada vez mais multidões, mais jovens e graúdos. Veremos até onde pode chegar o eSports em Portugal... Uma coisa é certa, está num bom caminho e recomenda-se. Jogas?


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Histórias da História Liverpool 5-4 Alavés (2001)

André Nogueira

á jogos que nos ficam na memória quando se veem no estádio ou na televisão. Hoje em dia, há outros que nos ficam na memória graças às novas tecnologias, que nos trouxeram espaços como o Youtube ou outras plataformas online de Futebol, que permitem rever jogos completos ou resumos de vários clubes e seleções, de várias temporadas. O jogo desta edição foi realizado a 16 de maio de 2001, no Westfalenstadion, casa do Borussia Dortmund, atual líder da Bundesliga, e pode não ser a final mais emocionante ou mais recordada do Liverpool, essa será, com certeza, a final frente ao AC Milan na Liga dos Campeões de 2005, mas trata-se de um jogo com uma chuva de golos e um finalista surpreendente. O trajeto do Alavés até à final foi bastante mais acessível que o Liverpool, embora isso não retire o mérito ao emblema espanhol.

H

Pelo caminho defrontaram o Gaziantepspor (4-3), o Lillestrom (3-5), o Rosenborg (4-2), o Inter de Milão (5-3), o Rayo Vallecano (4-2) e o Kaiserslautern (9-2). Com exceção do Inter de Milão, não se tratam de adversários que, hoje em dia, costumamos encontrar nas grandes competições internacionais. Já os ingleses, tiveram pela frente o Rapid de Bucareste (0-1), o Slovan Liberec (4-2), o Olympiacos (2-4), a AS Roma (1-2), o FC Porto (0-2) e o Barcelona (0-1). Com resultados mais equilibrados no final das duas voltas de cada eliminatória, o Liverpool era o grande favorito a vencer a competição. E esse favoritismo veio ao de cima desde cedo na partida. Decorriam apenas quatro minutos quando, num livre junto à lateral, Markus Babbel marcou. O Alavés tentou reagir mas acabou por dar liberdade a Michael Owen e a Steven Gerrard e os génios dos dois ingleses aumentavam o marcador para 2-0, em apenas 16 minutos.


#07 janeiro2019 Onze minutos depois, Iván Alonso reduz, depois de ter entrado quatro minutos antes. Uma substituição feita cedo que resultava. Porém, tarde aparecia mais um golo para o Liverpool. Em mais um contra ataque rápido, Owen finta o guarda-redes Martin Herrera, que se vê obrigado a travar-lo em falta, dentro da grande área. 3-1, marca Gary McAllister nos onze metros. A segunda parte foi de loucos, com o Alavés a correr atrás do prejuízo. Em poucos minutos, o emblema espanhol empatava. Primeiro, Cosmin Contra procurou o momento certo para fazer o cruzamento para a cabeça de Javi Moreno. O mesmo, que receberia o prémio de melhor marcador da competição, bisava três minutos depois com um potente livre direto por baixo da barreira inglesa. Mas, o poderio ofensivo inglês voltava a

colocar o Liverpool em vantagem, com uma jogada individual de Robbie Fowler. Quando tudo parecia decidido, Jordi Cruijff, filho da lenda holandesa Johan Cruijff, aproveitou a má saída dos postes de Westerveld e colocou o placar em 4-4, no último minuto. Perante tamanha emoção, o prolongamento mostrou duas equipas muito partidas, sempre em busca da machadada final. Magno, que tinha sido aposta ao intervalo, recebe ordem de expulsão por uma entrada fora do tempo, sendo o primeiro elemento do Alavés a ser expulso na partida. O segundo viria mais tarde, aos 116 minutos. O capitão Antonio Karmona também vê o segundo cartão amarelo, por falta sobre Smicer. Livre batido e auto-golo de Geli. Jogo terminado por golo de ouro. Desta vez, o Golias vencia o David... por 5-4.


Futebol total

el nuevo gasómetro André Nogueira

O Estádio Pedro Bidegain, conhecido pelos adeptos argentinos como ‘El Nuevo Gasómetro’, é o atual estádio do San Lorenzo de Almagro. A origem desta alcunha é proveniente do anterior (e único até então) estádio oficial do clube, Viejo Gasometro, ativo de 1916 até 1979. Mas já lá iremos. Hoje apresentamos o estádio de um clube com uma das mais fervorosas claques da América do Sul.

Viejo Gasómetro

Inaugurado em 1916, na vitória contra o Estudiantes de La Plata (2-1), o antigo estádio do San Lorenzo era tão antiquado que nem a lotação máxima era exata: segundo os relatos de então, dizia-se que podia ‘aguentar’ cerca de 75 000 adeptos, embora existam provas de jogos com maior número de pessoas presentes, tornando-o, na época, o maior campo deportivo de toda a Argentina, até à contrução do estádio El Cilindro do Racing Club, a 3 de setembro de 1950. O nome ‘Gasómetro’ provém do seu formato da construção que, supostamente, se assemelhava a um grande depósito de gás. O estádio nunca teve um nome oficial. Por esse motivo era conhecido pelas alcunhas que os adeptos iam dando, como acontecia com outros estádios argentinos com os famosos El Monumental do River Plate, La Bombonera do Boca Juniors ou La Doble Visera do Independiente.


#07 janeiro2019 Em 1929, apesar das obras no Gasómetro ainda não estarem concluídas, o estádio foi o palco de uma Copa América conquistada pelo país anfitrião. Numa fase de grupos com quatro equipas e as vitórias a valerem dois pontos, a Argentina goleou todos os adversários: Peru (3-0), Paraguai (4-1) e Uruguai (2-0). Outros tempos em que foram marcados vinte e três golos em apenas seis partidas, o que equivale a uma média de mais de três golos por jogo. Com esta conquista, a Argentina vencia o seu quarto troféu na competição, mais dois que os rivais do Brasil e menos dois que o Uruguai, a terceira equipa a também a vencer a Copa América até aqui.

Novos terrenos

Durante as décadas de 40 e 50, o número de adeptos do San Lorenzo aumentou de forma repentina, fazendo com que o estádio não conseguisse acompanhar essa evolução, juntando-se a isso o pobre estado em que se encontravam as estruturas. Como tal, a direção do clube começa a busca para uma mudança de local, desde La Plata até Buenos Aires. Com mais de trinta anos de existência, as instalações do San Lorenzo precisavam de renovações urgentes devido ao desgaste forçado a cada jogo. Tendo em conta o ano em que foi construído, trata-se já de uma construção que não trazia segurança para os adeptos, tornando mais barato mudar de localização que renovar e solucionar os problemas. As renovações anuais estavam a causar grandes dificuldades aos cofres do clube e tornar a economia do clube instável, podendo afetar a equipa. Como tal, em 1960, o San Lorenzo consegue a licença de um novo terreno durante vinte e cinco anos. Além disso, o município ficaria a cargo de todas as despesas com as obras, facilitando as finanças do San Lorenzo durante largos anos. Em contrapartida, o clube ficaria obrigado a instalar parques infantis com capacidade para mil crianças e ainda espaços de lazer.

Uma última dança

Num estádio com capacidade para 140 mil espetadores, a 2 de dezembro de 1979, o San Lorenzo despediu-se do seu estádio num empate frente ao Boca Juniors (0-0). Porém, tratou-se de uma despedida forçada, uma vez que o terreno foi retirado ao clube por dívidas à empresa de construção. Segundo os estatutos da cidade de Buenos Aires, o estádio ficava agora a cargo da ditadura cívico-militar, que procederam para a demolição da construção e inauguração de novos espaços urbanísticos. Pedaços do estádio foram vendidos ou leiloados. Sem estádio, o clube regressou às origens e a condições não recomendadas, até criarem um novo projeto de construção, em 1993.

Estádio Pedro Bidegain

O ‘Nuevo Gasómetro’ foi já apresentado, desta vez, com um nome em homenagem ao presidente do San Lorenzo nos anos de 1929 e 1930. Depois de 52 semanas de construção, o primeiro jogo particular realizou-se a 16 de dezembro de 1993, numa vitória frente ao Universidad de Chile (2-1). A formação chilena vinha de uma derrota na final da Taça dos Libertadores desse ano. Já os jogos oficiais chegaram mais tarde, com o San Lorenzo a voltar a vencer, desta feita contra o Belgrano (1-0). Até aos dias de hoje, já várias alterações foram feitas: em 1997, ampliou-se a bancada sul e instalou-se uma cobertura sobre a bancada norte. Dez anos depois, aumentou-se a capacidade do estádio com uma bancada numa curva entre bancadas sul, bem como a mudança de praticamente todas as cadeiras. Em 2014, foram instaladas luzes LED de forma a melhorar a visibilidade e qualidade nas transmissões. Por fim, construíram o camarote presidencial e renovaram os balneários.


Futebol total

Grandes Golos

Nakamura vs Celtic (2008) André Nogueira

s jogos entre Celtic e Glasgow Rangers são um dos grandes motivos pelo qual adeptos internacionais decidem ver a Liga Escocesa. A descida do Rangers aos escalões secundárias baixou, significativamente, a qualidade do campeonato e levou a uma série de títulos consecutivos por parte do Celtic. Porém, esta temporada, o Rangers de Daniel Candeias já esteve na primeira posição recentemente e podemos estar de encontro com o regresso de alguns dos grandes jogos da história da Escócia. Podíamos recordar vários golos ou jogadores, principalmente Henrik Larsson, mas vou optar por seguir o meu coração e escolher um jogador que marcou muito a minha paixão pelo futebol e pela seleção japonesa: Shunsuke Nakamura. Foram apenas quatro anos na Escócia e sete temporadas e meia na Europa mas, o atual jogador do Júbilo Iwata, agora com 40 anos, tinha um dos melhores pontapés que a Europa já viu nos últimos anos. Hoje recordamos um dos mais históricos... que não foi um livre direto, uma das suas especialidades. Remontamos ao dia 16 de abril de 2008, separados por um ponto mas com muito campeonato pela frente, o Rangers visitiva

O

o terreno do rival na vigéssima jornada. O jogo terminou com uma vitória por 2-1 do Celtic, só alcançada ao minuto 93. Porém, o primeiro grande momento do jogo decorreu nos primeiros vinte minutos. Um passe do lateral para a zona central faz Nakamura esticar-se para conseguir controlar a bola. Com o mesmo pé esquerdo, não precisa de mais toques ou de avançar no terreno. Foi dali. Um ‘trivela’ que entra junto ao poste do lado direito da baliza de Allan McGregor, enquanto o comentador grita “NAKAMURAAA”. O clássico conhecido por Old Firm tinha agora um novo nome na lista dos marcadores. E que belo foi este golo! O guarda-redes mexe-se para a esquerda, a bola faz efeito para a direita. O japonês habituaria os adeptos do Celtic a grandes golos e a qualidade dessa equipa deixa agora saudade.


#07 janeiro2019

O meu 11 por: AndrĂŠ Ceitil (Jogador do LeixĂľes SC)



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