15_03 AF miolo
8/10/06
ARTIGO
9:25 AM
Page 163
O DIREITO DE NÃO MENTIR Washington Novaes
Neste sábado de Natal, deixo de ser editor geral do Diário de Manhã. Uma espécie de presente às avessas, neste Brasil abastardo e humilhado. Sempre disse à redação que, quando chegasse esse dia, gostaria de sair metade do meu rosto triste, por esgotar-se uma história fascinante, na qual me atirei de corpo e alma, 24 horas ao dia (nesses 19 meses de Goiás, só vivi, respirei, sonhei Diário da Manhã, sem tempo para mais nada, nem para fazer amigos fora do jornal). Mas com a outra metade tranqüila, pela certeza de haver feito tudo que era possível para ajudar a crescer esse extraordinário projeto de construir um jornal só comprometido com os fatos, com o leitor e com a comunidade. Nenhum caminho leva a lugar algum, dizia uma personagem de livros que andou em voga em passado recente. A diferença única é que alguns caminhos têm coração, outros não têm. O caminho do Diário da Manhã, para mim, foi todo coração, como diria o poeta Maiakovski. Agora, por circunstâncias, as duas trajetórias se separam, a minha e a do jornal (embora, à convite de Batista Custódio, continue aqui com meus artigos). O Diário da Manhã, cercado por forças terríveis, terá de reajustar sua estratégia, repensar seus gas. Sem mágoas. Nada disso cabe. Não me arrependo um segundo de ter vindo, de ter feito tudo que fiz. Faria de novo. O Diário da Manhã foi um reencontro comigo mesmo, com os valores mais fundos e mais antigos, herdados de meu pai, minha mãe, meus avós, e temperados ao longo de uma vida pessoal acidentada. Foi, ao mesmo tempo, como que uma retomada da cidadania plena, com a possibilidade de discutir os problemas do país, do Estado, da cidade, sem nenhuma restrição, sem nenhum compromisso com interesses de grupos ou ideologias.
| VOZES DA DEMOCRACIA | O DIREITO DE NÃO MENTIR
meios, reorientar seus caminhos. Vamos nos separar, por isso. Sem rusgas. Sem bri-
163